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Calvino:

“Ele [Paulo] faz isso aqui [reprova a falsa opinião dos judeus sobre a lei], mostrando que os que
buscam justificar-se por meio de suas próprias obras não passam de falsos intérpretes da lei,
visto que a lei fora promulgada para guiar-nos pela mão a outra justiça. Aliás, cada doutrina da
lei, cada mandamento, cada promessa, sempre aponta para Cristo. Portanto, devemos aplicar a
Ele todas suas partes. Mas não podemos fazer isso, a menos que sejamos despidos de toda e
qualquer justiça, sejamos totalmente dominados pelo conhecimento do nosso pecado e
busquemos aquela justiça imerecida que só Dele procede. Aquele grosseiro abuso que os judeus
praticam contra a lei, que em seus feitos perversos transformam em pedra de tropeço aquilo
que deveria ser seu próprio auxílio, é consequentemente e com justa razão censurado. Aliás, é
evidente que vergonhosamente haviam mutilado a lei de Deus, ao rejeitarem seu espírito e
apegarem-se ao corpo morto da letra. A lei promete recompensar àqueles que a observam. Não
obstante, ao encerrar todos debaixo da maldição de culpa eterna, ela nos conduz a uma nova
justiça, em Cristo, a qual não pode ser adquirida através dos méritos procedentes de nossas
obras, senão que deve ser gratuitamente recebida por meio da fé. Assim, a justiça da fé é
testemunhada pela lei. Esta notável passagem declara que a lei, em todas as suas partes,
aponta para Cristo; e portanto ninguém será capaz de entende-la corretamente, a não ser que
se esforce constantemente para atingir esse alvo”.
Calvino. Romanos. 2. ed. São Paulo: Edições Parakletos, 2001, p. 370.

John Murray:
“... o ponto de vista mais em consonância com o contexto é que, no vs. 4, o apóstolo falava da
lei como meio de justiça perante Deus e também afirmava o vínculo entre Cristo e este conceito,
ou seja, Cristo põe fim à lei como justiça”.
“Esta qualificação [de todo aquele que crê] subentende que somente no caso do crente Cristo é
o fim da lei para a justiça [infelizmente o conceito errôneo continuava sendo crido e praticado
pelos judeus cf. vs. 3]... Paulo declara ser Cristo o término da lei para todo aquele que crê, e
toda a sua declaração visa apenas confirmar que todo o crente rompe definitivamente com a
lei, como um meio de alcançar a justiça”.
Comentando sobre o entendimento de alguns comentaristas de que o vs. 4 indicaria que, antes,
a lei era o meio de justiça e, agora, Cristo o é, Murray diz: “Devemos estranhar que tal noção
seja fomentada diante dos frequentes apelos do apóstolo ao Antigo Testamento e, ainda, a
Moisés e à lei mosaica, em apoio à doutrina da justificação pela graça, mediante a fé (cf. Rm
3.21-22; 4.6-8, 13; 9.15-16; 10.6-8; 15.8-9; Gl 3.10-11, 17-22; 4.21-31). Não há qualquer
sugestão de que, na teocracia, as obras da lei haviam sido apresentadas como base da
salvação, mas que agora, em virtude da morte de Cristo, esse método foi substituído pela
justiça baseada na fé”.
Murray, John. Romanos. São José dos Campos: Editora Fiel, 2003, p. 412-413.

John Stott:
“Todos os seres humanos, cientes de que Deus é justo e eles não (já que "não há nenhum justo,
nem um sequer", 3.10), vivem naturalmente em busca de uma justiça que lhes possa dar
condições de apresentar-se diante de Deus. Existem, diante de nós, apenas duas opções
possíveis. A primeira é tentar (estabelecer a nossa própria justiça através de nossas boas obras
e observando os preceitos religiosos. Isso, porém, já está fadado ao fracasso, uma vez que aos
olhos de Deus ‘todas as nossas justiças são como trapos de imundícia’ (Is 64.6). A outra é
submeter-nos à justiça de Deus, aceitando-a como uma dádiva de graça de Deus mediante a fé
em Jesus Cristo (). Nos versículos 5-6 Paulo chama a primeira de ‘a justiça que vem da lei’ e a
segunda de ‘a justiça que vem da fé’. O erro fundamental daqueles que procuram estabelecer a
sua própria justiça é que eles não entenderam o que Paulo afirma logo a seguir: o fim (telos) da
lei é Cristo, para justificação de lodo o que crê (4). Telos pode significar "fim" no sentido de
"terminalidade" ou "conclusão", indicando que Cristo aboliu a lei. Paulo com certeza se refere a
este sentido. Porém a abolição da lei não confere qualquer legitimidade, seja aos antinomianos,
que afirmam que podem pecar à vontade porque não se encontram debaixo da lei, mas sim da
graça (6.1, 15), seja àqueles que sustentam que a própria categoria da ‘lei’ já foi abolida por
isto e que o único absoluto que resta é a lei do amor. Quando Paulo escreveu que nós
‘morremos’ para a lei e fomos ‘libertados’ dela (7.4, 6) e que, portanto, já não estamos ‘debaixo
da lei’ (6.15), ele estava se referindo à lei como a forma de sermos justificados com Deus. Daí a
segunda parte do versículo 4. A razão pela qual Cristo aboliu a lei é para que haja justiça para
todo o que crê. Quando se trata de salvação, Cristo e a lei são alternativas incompatíveis. Se a
justiça é decorrente da lei, então ela não vem através de Cristo; e se ela se dá através de Cristo,
então não é decorrente da lei. Cristo e a lei são, os dois, realidades objetivas, são tanto
revelações como dádivas de Deus. Mas agora, que Cristo consumou a nossa salvação por meio
da sua morte e ressurreição, ele aniquilou a lei que tinha essa função. ‘Tão logo se compreenda
a natureza decisiva da obra salvadora de Cristo’, escreve Leon Morris, ‘se vê quão irrelevante é
todo tipo de legalismo.’”.
Stott, John. A Mensagem de Romanos. São Paulo: ABU, 2000, p. 179-180

Franklin Ferreira:
“10.4 esclarece bem acerca do erro cometido por aqueles que procuram estabelecer a sua
própria justiça. Paulo disse: ‘Porque o fim (telos) da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que
crê’. A palavra grega utilizada para ‘fim’ (telos) possui dois significados: alvo ou término. O
primeiro significado nos ensina que Cristo é a meta visada pela lei, no sentido de que Ele é a
encarnação da perfeita justiça (o homem perfeito), pois ele veio para ‘engrandecer a lei e fazê-
la gloriosa’ (Is 42.21). Foi o próprio Senhor Jesus quem disse: ‘Não penseis que vim revogar a lei
ou os profetas; não vim para revogar, vim para cumprir’ (Mt 5.17). E assim, a lei é cumprida
também na vida daqueles que estão ‘em Cristo Jesus’ (8.3-4). O segundo significado de telos,
que é a ênfase principal destas palavras de Paulo, é que Cristo é o ‘término da lei’, no sentido de
que, com Ele, a velha ordem (da qual a lei fazia parte), foi eliminada, para ser substituída pela
nova ordem do Espírito. Nesta nova ordem, a vida e a justiça são acessíveis mediante a fé em
Cristo; portanto, ninguém precisa (nem pode) tentar obter essas bênçãos por meio da lei.
Entretanto, devemos entender bem o significado deste sentido da palavra telos. Quando Paulo
escreveu que nós ‘morremos’ para a lei e fomos ‘libertados’ dela (7.4, 6), e que, portanto, já não
estamos ‘debaixo da lei, e sim da graça’ (6.15), ele estava se referindo à lei como a forma de
sermos justificados com Deus. Por este motivo é que Paulo acrescenta em 10.4b, ‘para justiça
de todo aquele que crê’, ou seja, para que haja salvação para todo aquele que crê em Jesus.
Assim, quando se trata de salvação, Cristo e a lei são alternativas incompatíveis. Se a justiça é
decorrente da lei, então ela não vem através de Cristo; entretanto, se ela se dá através de
Cristo, então não é decorrente da lei. A lei foi é a revelação da vontade de Deus para o homem;
Cristo é a revelação da sua graça soberana, na forma de uma dádiva que foi a vida do seu
próprio filho...”
Ferreira, Franklin. A Epístola de Paulo aos Romanos, p. 77. Disponível em
www.monergismo.com

Charles Cranfield:
“... nesta passagem Paulo está interessado em mostrar que Israel entendeu mal a lei. Neste
ponto, a declaração segundo a qual Cristo é o alvo para o qual a lei sempre se orientou, o
propósito e o significado verdadeiros dela, é inteiramente apropriada. Israel entendeu mal a lei,
porque deixou de reconhecer a respeito do qual tudo tendia... Portanto, concluímos que o
substantivo grego [telos] deveria ser entendido no sentido (2) [alvo, em contraponto a (1)
cumprimento e (3) término]: Cristo é o fim da lei, no sentido de que ele é o seu alvo, o seu
objetivo, o seu propósito, o significado e a substância verdadeiros — fora dele, ela não pode
absolutamente ser corretamente entendida. As palavras ‘de modo que a justiça é acessível para
todo aquele que crê’ assinalam a consequência. Consideramos, portanto, que o significado do
versículo, como um todo, é: Porque Cristo é o alvo da lei, e segue-se que um status de justiça é
acessível para todo aquele que crê. O ‘Porque’ inicial do versículo indica ser explanação do
versículo 3 — especialmente de ‘eles não se sujeitaram à justiça de Deus’. Os judeus, na sua
busca legalista de status justo do seu próprio merecimento, deixaram de reconhecer e de
aceitar o status justo que Deus procurava conceder-lhes; pois que sempre, bastava que o
tivessem sabido, Cristo foi o alvo, o significado e a substância daquela lei que eles tão
sinceramente procuravam, e a justiça a que a lei os intimava foi, sempre, nenhuma outra coisa
diferentemente daquela justiça que Deus oferece ao homem em Cristo”
Cranfield, Charles E. B. Comentário de Romanos. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2005, p. 233-234

Hernandes Dias Lopes


“Os judeus acusavam Cristo de ser transgressor da lei e, por isso, o levaram à cruz. Todavia, eles
não discerniram qual era a real relação entre Cristo e a lei. Pensavam que podiam ser salvos
mediante a lei, porém a finalidade da lei não era lhes dar a salvação, mas evidenciar seus
pecados, tomá-los pela mão e levá-los ao Salvador, que é Cristo. Geoffrey Wilson está certo
quando diz que os não crentes esperam conseguir justiça pelas obras da lei, mas esta relação
com a lei foi
extinta por Cristo para todos os crentes, que, portanto, não mais a consideram o instrumento
de sua justificação... Cristo é o fim da lei, pois por meio de sua morte e ressurreição ele encerrou
o ministério da lei para os que creem. A justiça da lei, agora, se cumpre na vida do cristão por
meio do poder do Espírito... Ao abolir a lei, Cristo não nos desobrigou de suas exigências morais,
mas
nos justificou diante de Deus. Cristo é o fim da lei para a justiça de todo aquele que crê (10.4).
Quando se trata de salvação, Cristo e a lei são alternativas incompatíveis... Precisamos deixar
claro que, ao escrever que “morremos” para a lei e fomos “libertados” dela (7.4,6) e já não
estamos mais “debaixo dela” (6.15), Paulo estava referindo-se à lei como a forma de sermos
justificados com Deus”
Lopes, Hernandes D. Romanos. São Paulo: Hagnos, 2010, p. 349-350.

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