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Sobre os Mandamentos da Lei de Deus

O que é pecado?

Segundo o Novo Manual do Catecismo, o pecado é uma ofensa feita à Deus, desobedecendo
à sua lei, ou seja, aos seus mandamentos ou aos preceitos de Sua Santa Igreja.

O pecado é cometido pela vontade.

Explicação:

1) O homem é uma criatura de Deus que possui inteligência e vontade: foi criado à
imagem e semelhança do Criador1. Por isso, tem a faculdade de se submeter à vontade
de Deus, assim como a faculdade (embora não o direito) de se não submeter. Se se
não submete, desobedece a Deus e, por conseguinte, ofende-O, negando-Lhe a
submissão que Lhe deve como a seu Supremo Senhor (o homem deve tudo ao seu
Criador: vida, bens, etc.)
2) O pecado é uma desobediência à lei de Deus, mesmo quando se transgridem os
preceitos da Igreja, porque a Igreja foi fundada por Jesus Cristo e recebeu d’Ele o
poder de instituir preceitos; e, por isso, quem desobedece à Igreja desobedece a Deus.
No quarto mandamento, Nosso Senhor e Pai nos preceitua a submissão e à obediência
aos nossos superiores que têm autoridade sobre nós. Quem desobedece a esses
superiores desobedece a Deus, de onde provém todo o poder (autoridade), e, por isso,
peca contra o quarto mandamento.
3) O único verdadeiro mal do mundo é o pecado. Pois, por si mesmo, como ofensa a
Deus, é mal.

Questão do Livre Arbítrio:

EM DESENVOLVIMENTO

1
“Diz-se que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus porque a alma humana é
espiritual e racional, livre na sua ação, capaz de conhecer e de amar a Deus, e de gozá-Lo
eternamente, perfeições que refletem em nós um raio da infinita grandeza de Deus.”
(Catecismo Maior de São Pio X)
Questão da existência do Mal

EM DESENVOLVIMENTO
INTRODUÇÃO:
O conteúdo aqui expresso foi tirado do Santo Doutor Tomás de Aquino, em seu livro Os Dez
Mandamentos.

Sobre os tipos de leis2, segundo Santo Tomás de Aquino (“Os Dez Mandamentos”)

1) Lei natural: é a luz do entendimento infundida em nós por Deus, pela qual
conhecemos o que é preciso fazer e evitar.

Essa lei foi ofuscada devido ao pecado original e ao demônio. Enquanto o homem esteve
submisso à Deus, sua vontade esteve submissa a sua razão (e seus afetos estavam submissos a
sua vontade). Mas, depois que o diabo, pela tentação, tirou o homem da observância dos
preceitos divinos, também os a carne tornou-se desobediente à razão. Essa inclinação ao mal é
chamada de concupiscência.

Por isso diz o Profeta: “Muitos dizem: Quem nos fará ver o bem?” (Salmo 4, 7), como se
ignorassem o que se deve fazer. Porém o mesmo profeta responde: “Levanta sobre nós a luz
do teu rosto, ó Senhor!” Por luz se entende a luz do entendimento, pela qual são conhecidas
por nós as coisas que devemos fazer.

2) Lei das Escrituras: é aquela que reconduz o homem às obras de virtude e os afasta dos
vícios.

A Lei Natural foi obscurecida pela concupiscência e, portanto, foi necessário que Nosso Pai
nos desse a Lei das Escrituras (denominada de 10 mandamentos) por intermédio de Moisés,
no Monte Sinai.

Essa lei como que se subdivide em outras duas:

a) A Lei do Temor
b) A Lei do Amor

Lei do Temor: Diz a Sagrada Escritura: “o princípio da Sabedoria é o temor do Senhor” (Ecle
1,27), e mais adiante “O temor do Senhor expulsa o pecado” (Ecle 1, 27). Entretanto, aquele
que segue a lei do Temor ainda não é justo, mas começa a se justificar.

Diz Santo Tomás: “É deste modo que o homem é afastado do mal e induzido ao bem pela Lei
de Moisés. Porém, como esse modo é insuficiente, também a lei dada por Moisés, que afastava
dos males pelo temor, era insuficiente: ainda que obrigasse a mão, não obrigava a alma.”

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Lei trata daquilo que devemos fazer.
Lei do Amor: Comenta Santo Tomás: “Há outro modo de afastar do mal e induzir ao bem, que
é o amor. Assim foi dada a Lei de Cristo, isto é, a Lei do Evangelho, que é a lei do amor.”

Observa-se diferenças muito grandes entre a lei do temor e a lei do amor:

1) A primeira diferença é que a lei do temor reduz a escravos os que a observam,


enquanto a lei do amor os faz livres. Por isso diz o apóstolo: “Onde está o Espírito do
Senhor, aí está a liberdade” (2Cor 3, 17), pois esses, por causa do amor, procedem
como filhos.
2) A segunda diferença é que aqueles que observavam a primeira lei entravam na posse
dos bens temporais: “Se quiserdes, se fordes dóceis, comereis os bens da terra” (Is 1,
19). Contudo, aqueles que observam a segunda lei (a lei do amor), entram na posse
dos bens celestes: “Se queres entrar na vida (eterna), guarda os mandamentos” (Mt
19, 17) e “Arrependei-vos, por que está próximo o reino dos céus” (Mt 3, 2).
3) A terceira diferença é que a primeira lei era pesada: “Por que tentais agora a Deus,
impondo um jugo sobre as cervizes dos discípulos, que nem nossos pais, nem nós
podemos suportar?” (At 15, 10). A segunda lei, porém, é leve: “porque o meu jugo é
suave, e o meu fardo leve” (Mt 11, 30). Diz o Apóstolo: “Porque vós não recebestes o
espírito de escravidão para estares novamente com temor, mas recebestes o espírito
de adoção de filhos” (Rom 8, 15).

O Santo Doutor observa que Deus deu uma lei abreviada, para que todos a conhecessem, e
ninguém se julgasse escusado de observá-la por ignorância (nem todos podem dedicar-se à
ciência). “Deus terá uma palavra breve sobre a terra” (Rom 9, 28).

Esta lei deve ser a regra de todos os atos humanos. Toda obra humana é reta e virtuosa à
medida que concorda com a lei do divino amor; ao contrário, quando se afasta desta lei, não é
nem boa, nem reta, nem perfeita. Para que os atos humanos se digam bons, importa que
concordem com a lei do divino amor.
Efeitos da lei do divino amor

Essa lei produz 4 efeitos:

1) Primeiro causa no homem a vida espiritual. “Quem permanece na caridade,


permanece em Deus, e Deus nele” (1Jo 4,16). Se amamos coisas vis e caducas,
tornamo-nos vis e instáveis: “Tornaram-se abomináveis como as coisas que amaram”
(Os 9, 10). Se amamos a Deus, tornamo-nos divinos, pois, como diz o apóstolo “O que
está unido ao Senhor é um só espírito com ele” (1Cor 6,17).

Diz o doutor angélico: “Deve-se considerar que, se alguém tivesse todos os carismas, mas não
tivesse a caridade, não teria vida.” Por carismas entende-se coisas extraordinárias, como o
dom de línguas, dom da profecia... Não podemos confundir esses carismas com os sete dons
do Espírito Santo. Para receber os sete dons do Espírito Santo, conseguidos na Crisma, deve-se
antes possuir a graça santificante, ou seja, a caridade. Já esses carismas extraordinários, Deus
pode os dar sem necessariamente quem recebe estar em estado de graça (embora nenhum
valor tenha por si mesmos). Ora, considera Santo Tomás: “Se o corpo morto fosse revestido de
ouro e pedras preciosas, de todo modo permaneceria morto.” Assim é, se alguém for revestido
com carismas extraordinários e não estiver em estado de graça, permanece morto e
condenado ao inferno até recuperar a graça santificante.

2) O segundo efeito é a observância dos preceitos divinos. “Se alguém me ama, guardará
a minha palavra” (Jo 14,23). É sinal claro de caridade a prontidão em cumprir os
Mandamentos divinos.

3) O terceiro é efeito é a fortaleza contra as adversidades. Ao que possui, nenhuma


adversidade prejudica, antes converte-se em coisa útil: “Todas as coisas concorrem
para o bem daqueles que amam a Deus” (Rom 8, 28).

4) O quarto efeito da caridade é conduzir-nos à felicidade; a bem-aventurança eterna é


prometida tão somente aos que a possuem. Sem a caridade, tudo o mais é
insuficiente.

Convém saber que a beatitude será proporcionada apenas ao grau de caridade, e não ao de
qualquer outra virtude.
Contudo, produz mais outros efeitos que não podemos deixar de mencionar.

5) A caridade produz a remissão dos pecados. Se alguém ofende a outro e, em seguida,


manifesta-lhe afetuoso amor, por causa desse amor ser-lhe-ão perdoadas as ofensas
cometidas. “A caridade cobre a multidão dos pecados” (1Pd 4,8). Salomão precisa: “A
caridade cobre todas as faltas” (Pr 10, 12). O exemplo de Madalena manifesta-o
maximamente: “São-lhe perdoados muitos pecados” (Lc 7,47); e acrescenta o
Evangelho a causa do perdão: “Porque muito amou”.

Deve-se considerar, no entanto, que quem não se confessa com o padre (no Sacramento
da Penitência), não ama verdadeiramente. Pois quanto mais amamos a alguém, tanto mais
sentimos por tê-lo ofendido.

Se não confessados com o padre, os pecados mortais não são perdoados.

6) A caridade ilumina os corações. “vós, os que temeis o Senhor, amai-O, e os vossos


corações serão alumiados” (Ecle 2, 10), para conhecer o que é necessário à salvação.

7) A caridade dá ao homem uma alegria perfeita. Ninguém é verdadeiramente alegre fora


da caridade.

8) A caridade produz a paz perfeita. “Os ímpios, porém, são como o mar agitado, que não
pode acalmar” (Is 57, 20). Por isso diz Santo Agostinho nas Confissões: “Fizeste-nos, ó
Senhor, para vós, inquieto é nosso coração até descansar em vós; ‘É ele quem sacia de
bens a tua vida’ (Sl 102,5).

9) A caridade reveste o homem de grande dignidade. Diz o doutor angélico: “Assim como
as coisas feitas pela arte humana servem ao artífice, assim todas as criaturas servem a
Divina Majestade (todas as coisas, com efeito, foram feitas por Ele); porém, a caridade
faz do servo um liberto e amigo. De onde diz o Senhor aos Apóstolos: ‘Não mais vos
chamarei servos (...), mas amigos’ (Jo 15, 12).”

Diz o apóstolo: “Vós não recebestes o espírito de escravidão para estardes novamente com
temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos” (Rom 8, 15).

A caridade nos torna não apenas livres, mas ainda filhos, de modo que somos chamados
filhos de Deus e o somos na realidade, como dizem as Escrituras (1Jo 3).
Da posse da caridade

Deve-se saber, contudo, que ninguém a pode possuir por si mesmo; ao contrário, a caridade
é dom de Deus apenas; por isso, escreve São João: “A caridade consiste nisto: não termos sido
nós os que amamos a Deus, mas em que Ele foi o primeiro que nos amou” (1Jo 4, 10). Pois Ele
nos ama não porque o amamos primeiro; mas o próprio fato de o amarmos foi causado em
nós pelo amor dele.

Conquanto seja a caridade um dom divino, para possuí-la, é preciso certa disposição da nossa
parte. Por isso, deve-se saber que duas coisas são especialmente necessárias para adquirir a
caridade, e duas para o aumento da caridade adquirida.

 Coisas necessárias para adquirir a caridade

Primeiro é necessária a diligente audição do Verbo Divino.

A segunda coisa necessária é a contínua cogitação dos bens.

 Coisas necessárias para aumentar a caridade

A primeira consiste em separar o coração das coisas do mundo. Por isso, diz Santo Agostinho:
“Veneno para a caridade é a esperança de adquirir ou reter bens temporais, a diminuição da
cobiça alimenta a caridade, a ausência de cobiça a aperfeiçoa, pois a raiz de todos os males é a
cobiça” (Liv. 83., Quaest.)

A segunda é a firme paciência nas contrariedades.

Do Amor a Deus

Quando os doutores da Lei interrogaram a Cristo, antes da sua paixão, sobre qual seria o
primeiro e maior dos mandamentos, respondeu Ele: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu
coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito. Este é o máximo e o primeiro
mandamento” (Mt 22, 37).

Para que este Mandamento do amor possa ser perfeitamente observado, requerem-se
quatro coisas:

1) A recordação dos benefícios divinos.


2) A consideração da excelência divina.
3) A renúncia das coisas mundanas e terrenas.
4) A fuga completa dos pecados.

Homem deve dar de si a Deus 4 coisas: coração, alma, mente e força. Por isso, diz o
Evangelho: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o
teu espírito, com toda a tua força” (Mt 22,37).

 “de todo o teu coração...”: por coração, entende-se a intenção. Ora, a intenção possui
tamanha virtude que traz para si todas as obras, ou seja, todo o bem feito com má
intenção, torna-se um mal. “Se o te olho (isto é, a intenção) for mau, também o teu
corpo será tenebroso” (Lc 11, 34); ou seja, o conjunto das tuas boas obras será
tenebroso. Por isso, em todas as nossas obras, devemos colocar a intenção em Deus.
“Logo, ou comais, ou bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de
Deus.” (1Cor 10, 31)

 “de toda a tua alma...”: no entanto, não basta a boa intenção: é preciso que se
acrescente a ela uma vontade reta, o que é expresso pela palavra alma. Amiúde,
alguém age com boa intenção, mas é inútil, pois não possui a retidão de vontade;
assim, se alguém rouba para dar de comer a um pobre, possui boa intenção, mas lhe
falta a devida retidão de vontade. Essa é a razão de não se poder escusar um mal por
ter sido feito com boa intenção: “E porque é que (como dizem caluniosamente de nós,
e como alguns afirmam que nós dizemos) não havemos de fazer o mal para que
venham bens? Destes é justa a condenação” (Rom 3, 8).

 “de todo o teu espírito”: Mas, por vezes, há boa intenção e reta vontade, mas o pecado
ronda no intelecto. Por isso, todo o intelecto deve ser dado a Deus. Com efeito, muitos
não pecam em obras, mas querem cogitar frequentemente os próprios pecados.
Contra esses, diz Isaías: “Tirai diante dos meus olhos a malícia de vossas cogitações” (Is
1, 16). Existem muitos que confiados na própria sabedoria, recusam dar assentimento
à fé, e esses não dão o espírito a Deus. Contra tais pessoas, dizem as escrituras: “Não
te estribes na tua prudência” (Pr 3,5).

 “com toda a tua força”: Porém, ainda não é suficiente: precisa-se dar a Deus todas as
forças. Existem alguns que destinam a sua fortaleza ao pecado. Contra esses, está dito:
“Ai de vós os que sois valentes para beber vinho, e fortes para misturar licores” (Is 5,
22). Alguns demonstram o seu poder ou sua força ao maltratar os próximos; deveriam
demonstrá-los auxiliando-os.

Do amor do próximo

Ao ser interrogado sobre qual seria o grande mandamento da lei, deu Cristo duas respostas. A
primeira foi: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração”, sobre o qual já falamos. A
segunda foi: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Quem observa isso, cumpre toda lei:
“O amor é o cumprimento da lei” (Rom 13, 10).

Quatro coisas nos movem ao amor do próximo:

1) O amor de Deus.
2) O Mandamento de Deus.
3) A identidade de natureza. Uma vez que os homens sejam semelhantes pela natureza,
devem amar-se mutuamente.
4) Nossa própria utilidade. A caridade faz com que tudo que é de um seja útil a todos. É
isso o que une a Igreja e torna comuns todas as coisas: “Sou amigo de todos os que te
temem e dos que guardam os teus mandamentos” (Sl 118, 63).

Características do amor do próximo:

1) Devemos amar o próximo realmente como amamos a nós mesmos. Fazemos isso se
amamos o próximo por causa dele mesmo, e não por causa de nós.
2) Devemos amar o próximo de modo ordenado, a fim de não o amarmos acima ou tanto
quanto a Deus, mas precisamente como devemos amar-nos a nós mesmos.
3) Devemos amar o próximo de modo eficaz. “Não amemos somente de palavra e com a
língua, mas por obra e em verdade” (1Jo 3, 18)
4) Devemos amá-lo com perseverança. “Aquele que é amigo é o em tempo; torna-se
irmão no tempo da desventura” (Pr 17, 17). Duas coisas contribuem para conservar a
amizade: a paciência e a humildade.
5) Devemos amá-lo de modo justo e santo, ou seja, de modo que não o amemos até o
pecado, uma vez que perderíamos a Deus.

Da universalidade do amor ao próximo


Os fariseus pensavam que o mandamento de amar o próximo como a si mesmo não ordenava
estender esse amor também aos inimigos.

Mas Cristo diz, repreendendo essa visão: “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos
odeiam” (Mt 5, 44).

Contudo é preciso distinguir certos aspectos. Os santos odiaram a alguns: “Com ódio
implacável eu os odeio” (Sl 138, 22). Ora, em todas as nossas ações, a vida de Cristo nos deve
servir de exemplo. Deus ama e odeia, pois, em todo homem, duas coisas devem ser
consideradas: a natureza e o vício. A natureza deve ser amada nos homens, e o vício odiado.
Daí, quem desejasse que outrem fosse para o inferno, odiaria a sua natureza; mas, ao
contrário, desejar a conversão de alguém é odiar nele o pecado, que sempre deve ser odiado:
“aborreces todos os que praticam a iniquidade” (Sl 5, 6). “tu amas tudo o que existe, e não
aborreces nada do que fizeste” (Sab 11, 25). Eis, então, que Deus ama e odeia: ama a natureza
e odeia o pecado.

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