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Série de mensagens:

Cinco Solas
Sola Gratia

“Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou,
e estando nós mortos em nossas transgressões, nos deu vida juntamente com Cristo —
pela graça vocês são salvos —” Ef 2.4-5

Chegamos ao terceiro fundamento da Reforma protestante. Sola Gratia significa


“somente a graça”. Estes cinco fundamentos são o resumo do que Martinho Lutero
escreveu em suas 95 teses. Não foi ele mesmo quem organizou estas ideias em cinco
pontos, então precisamos entender o que exatamente ele estava atacando em seu tratado
original. Afinal, a igreja não acreditava que somos salvos pela graça de Deus? Eles de
fato criam que pela graça somos salvos, o problema é que para eles não era APENAS A
GRAÇA. Assim como eles criam que as Escrituras eram regra de fé e prática para suas
vidas, mas não a ÚNICA regra de fé e prática. Também contavam com a tradição da
igreja. Significa que a luta de Lutero não é simplesmente ensinar uma velha doutrina à
igreja, mas remover tudo aquilo que nunca deveria ter contaminado essa doutrina. Para
a igreja, Deus salvava por graça, mas o homem ajudava a Deus através das suas obras.
A isso damos o nome na teologia de SINERGISMO. Quando Deus e o Homem
trabalham em cooperação em favor da salvação deste mesmo Homem. O problema
disso, como perceberemos hoje, é que este Homem não foi apenas ferido pelo pecado,
ele morreu. Ele não foi apenas sujo com gotas de pecado, ele está submerso em um
lamaçal de pecado. Não apenas desviou-se de um caminho, ele está completamente
perdido.
Vejamos a definição de graça segundo o dicionário:
Por definição graça não pode ser merecida, pois se há mérito, logo deixa de ser “favor”
e passa a ser “salário”. A única forma de Deus agir com graça para conosco é que nós
sejamos indignos de tal dádiva. Porque se somos merecedores do dom de Deus Ele nada
mais é que um bom pagador. Agora, se não somos merecedores Ele é um Pai de amor e
misericórdia sem fim.
1
A obra do Homem contra Deus
“Ele lhes deu vida, quando vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados, nos
quais vocês andaram noutro tempo, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe
da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência. Entre eles
também nós todos andamos no passado, segundo as inclinações da nossa carne,
fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira,
como também os demais.” (Ef 2.1-3)

Se há uma coisa que o Homem contribui na obra da salvação é em ter criado a


necessidade de ser salvo. Em Adão todos nós temos a nossa natureza caída e inclinada
ao pecado. O texto que lemos mostra claramente o nosso estado antes de sermos
resgatados. Não apenas pecávamos, como tudo o que pensávamos era pecado. Não
tínhamos a nossa vida como um altar de honra a Deus, nem visávamos a glória do Pai.
Pelo contrário, éramos alimentados pelo interesse de satisfazer ao nosso próprio ego,
conquistar os próprios objetivos e acumular momentos de prazer.
Nos versículos 1 e 2 Paulo se direciona diretamente para os leitores: “vocês
estavam mortos”, “vocês andaram em pecados e transgressões”, “vocês andaram
segundo o curso deste mundo”, “foram vocês que seguiram o príncipe da potestade do
ar”. Querendo deixar claro que a obra salvífica de Cristo era em favor deles apesar de
terem feito tudo isso. Em seguida no versículo 3 Paulo se insere dentro do grupo e passa
a usar “nós” e diz: “Nós todos andamos no passado, segundo as inclinações da nossa
carne”. Ele se coloca neste mesmo grupo de transgressores da lei, mesmo sendo alguém
que, segundo a lei, era tido como irrepreensível: “quanto ao zelo, perseguidor da
igreja; quanto à justiça que há na lei, irrepreensível.” (Fp 3.6). Está sendo exposta aqui
da maneira mais crua e verdadeira o quanto a pecaminosidade do pecado foi cruel
conosco. Quão graves foram as consequências dos nossos atos. É preciso lembrar que:
esse estado de total depravação que o ímpio se encontra não significa que ele não fará
bem nenhum e muitas vezes encontramos pessoas que afirmam: “Creio em Deus e faço
o bem. Então eu mereço o céu”. Agir eticamente, seguir os princípios morais vigentes
na sociedade, ser caridoso, - enfim, o bem natural - tudo isso é bom e deve ser seguido
por alguém que se diz regenerado, PORÉM, você pode realizar todas estas obras e não
ter nascido de novo. Nossas ações, por melhores que possam ser, nunca serão
suficientes para nos dar mérito pela salvação porque já nascemos da desobediência: “Eu
nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu a minha mãe.” (Sl 51.5).
O que conduziu o Homem a este estado de morte em transgressões e pecados foi
o erro de no passado seguir a três conselhos: (1) segundo o curso deste mundo: exortado
por Paulo em Rm 12.2: “Não for conformeis com este século”. Mundo e Século tem o
mesmo sentido aqui; (2) segundo o príncipe da potestade do ar: os poderes desta era; (3)
segundo o espírito que agora atua nos filhos da desobediência.
Veja o que a Bíblia diz sobre os nossos atos:
“Porque bem sabemos que a lei é espiritual. Eu, porém, sou carnal,
vendido à escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu
próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se
faço o que não quero, concordo com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isso
já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto
é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim,
mas não o realizá-lo. Porque não faço o bem que eu quero, mas o mal que não
quero, esse faço.” (Rm 7.14-19).

Deste modo, meus irmãos, somos colocados diante da verdade mais brutal: não
há nada em nós que minimamente aponte para redenção. Se recebermos 1000 chances
para acertar o alvo usando como guia os desejos do nosso coração erraríamos todas as
flechas.
Sabe por que Paulo antes de falar da graça falou do pecado? Porque quanto mais
consciência temos da nossa situação sem Deus mais valorizamos a nossa vida com Ele.
Quem é muito perdoado muito ama (Lc 7.36-50).
2
A obra de Deus em favor do Homem
“Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou,
e estando nós mortos em nossas transgressões, nos deu vida juntamente com Cristo —
pela graça vocês são salvos —” (Ef 2.4-5)

Após mencionar uma situação tão terrível iniciamos o versículo 4 de maneira


animadora com um “Mas...”. Eu me alegro em Deus porque diante de todas as
expectativas para nos afastarmos dEle cada vez mais, diante do juízo que certamente
nos condenaria e apesar de merecermos esse pesado e justo julgamento Ele intervém
com um “Mas...”. “Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor
com que nos amou [...] nos deu vida juntamente com Cristo”. Merecemos o castigo,
MAS Deus é misericórdia; merecemos a morte, MAS Deus é vida; merecemos a
rejeição, MAS Deus é amor; merecemos o inferno; MAS Deus nos preparou o céu. É
pela graça de Deus, instrumentalizada pela fé, não de obras para que eu e você não nos
gloriemos, não achemos que há méritos em nós, mas que toda honra e glória seja dada
ao único que é digno de receber.
No início fizemos menção sobre SINERGISMO E MONERGISMO e gostaria
de ampliar esse entendimento aqui.
Monergismo (Mon: um, Ergon: obra): Somente uma pessoa faz a obra;
Sinergismo (Mon: com, Ergon: obra): Obra em cooperação.

A pergunta é simples: Deus muda sozinho o coração do pecador ou a


mudança de coração depende da vontade do pecador para ser mudado?
Ora, lemos em Ef 2.1: “Ele vos deu vida, estando vós mortos”. Acaso morto tem
vontade? Morto coopera? Morto realiza alguma obra? Como então o pecador, morto em
seus pecados, poderia cooperar com Deus na obra da salvação?
Só depois de sermos vivificados por Deus temos fé para aceitar Jesus em nosso
coração. Então pergunto, a obra de Deus em salvar é monergista ou sinergista? (Ef 2.8-
10).

Não poderíamos falar sobre a obra de Deus por nós sem lermos o texto mais
famoso da Bíblia que diz: “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho
Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo
3.16). Misericórdia, graça e amor, três atributos sublimes do nosso Deus, mas dos três o
maior é o amor.
Questionamentos
1. Por que Deus te ama?
“Oh! por que Jesus me ama
Eu não posso t'explicar
Mas, a ti também te chama
Pois deseja te salvar”
2. Por que você peca?
3. Por que Deus deveria te salvar?

Aplicações
1. Deus não nos ama por quem somos, mas apesar do que somos;
2. Graça é diferente de hiper graça. Liberdade é diferente de libertinagem;
3. Em nós não há um mérito sequer para salvação, todos os méritos estão em
Cristo.

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