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Solus Christus

Vamos dar continuidade a nossa série sobre a carta da Reforma. Hoje iremos falar do Solus Christus, somente Cristo.
Portanto, abra sua bíblia em Romanos capítulo 5 e vamos ler os versos 8 e 9.

Mas Deus nos prova seu grande amor ao enviar Cristo para morrer por nós quando ainda éramos pecadores.

E, uma vez que fomos declarados justos por seu sangue, certamente seremos salvos da ira de Deus por meio dele.
Romanos 5.8,9

Na época da Reforma, havia uma ênfase enorme nas obras de penitências, bem como na mediação dos santos e
também de Maria. Práticas estranhas as Escrituras também eram estimuladas como a venda das famosas relíquias
sagradas.

O que era uma relíquia? Era algo que supostamente pertenceu a algum santo como pedaço de roupas, cabelo,
unha, dente. Quem já não ouviu falar das lascas da cruz de Cristo? Na época mesmo falavam que vendiam se tantas
lascas da cruz de Cristo que juntando todos os pedacinhos dava para construir a arca de Noé!

Essas coisas, assim como a própria devoção aos santos e a Maria se tornavam mediação entre as pessoas e Deus.
Quem nunca ouviu a frase: pede a mãe que o filho atende?

Mas as Escrituras dizem que “não há nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos
salvos” At 4.12.

Só Jesus é o único mediador entre Deus e os homens. Em Cristo, todas as coisas foram criadas, não apenas por Ele,
mas também para ele.

Quando pensamos na criação, devemos pensar no propósito para o qual todas as coisas foram criadas, no propósito
para o qual eu e você fomos criados. Geralmente quando pergunto: qual o propósito de termos sido criados?

Muitas vezes nossa resposta é: para adorar a glorificar a Deus. E sim, esta resposta é certa, mas não dá uma
sensação de que Deus tava entediado e nos criou para nos ter ali como seres que tirassem o tedio, ou então
bajulassem, ou algo parecido?

E claro, sabemos que não é isso. Deus é autossuficiente e independente. Ele não precisa de nós, nem mesmo para
glorificar e o adorar. A Trindade em si mesma, cada pessoa já glorifica uma à outra. Não precisa da criação, nem
mesmo dos anjos para isso.

Portanto, nossa adoração e glorificação a Deus não é a causa, mas o resultado do propósito pelo qual fomos
criados.

Lembre-se: tudo foi feito por Jesus e também para Jesus. Nós fomos feitos para Jesus e por isso o glorificamos. Nós
somos um presente do Pai para o Filho.

Essas imagens de pais olhando para seus filhos, esse olhar de amor de um pelo outro. Esse é o olhar do Pai para
Jesus e de Jesus para o Pai. Agora imagine você sendo perpassado por esse olhar de amor um pelo outro. Você está
entre os dois e o amor de um pelo outro passa através de você.

Isso significa que você é a expressão do amor do Pai pelo Filho. E como você expressa isso em sua vida? Imitando a
Jesus, agindo como ele agiu, deixando Cristo governar sua vida, tendo somente Cristo e não outra coisa para ser os
óculos pelo qual você enxerga a existência.

Paulo diz que Deus provou seu amor para conosco. É desse amor que ele está falando. O amor a Deus não é aquela
coisa romantizada, alienada, que fala de Deus como se Deus fosse um namorado.

O amor de Deus por nós só é possível por causa de Cristo. Em Cristo nós fomos inseridos nessa relação de amor
que existe eternamente. Cristo é a causa da criação e Cristo é a causa da redenção da criação.

Nós e o universo todo só não fomos destruídos por causa do pecado porque Cristo se entregou por nós.
Se um dia, por causa de alguma situação que você viva, vier uma dúvida sobre o amor de Deus por você, lembre-se
da cruz! A cruz é a maior prova de amor que Deus poderia te dar.

Mas é claro que pensar que a cruz é apenas um ato que nos consola em nossas particularidades é pouco diante da
sua grandeza e do amor de Deus.

Cristo morreu por nós quando ainda éramos pecadores, segue o texto.

Imagina você dando um presente caro para uma pessoa com todo seu carinho e todo o seu amor e essa pessoa pega
seu presente, desdenha dele e joga fora. Certamente você seria acometido de sentimentos não tão agradáveis, não
é mesmo?

Mas com Deus foi diferente. Toda compaixão e todo amor de Deus por nós, apesar de nossa rebeldia contra ele, se
expressaram nesse ato dele enviar Cristo para morrer por nós.

Este capítulo 5 começa dizendo que tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor
Jesus Cristo. O pecado nos colocou em inimizade contra Deus. Mas não pense em uma inimizade do tipo: belém,
belém, nunca mais tô de bem. Não! A coisa foi séria.

A gente mede o estrago pelo custo para consertar. O estrago foi tão grande que o Filho de Deus teve que vir e
morrer por nós. E só ele poderia pagar o preço. Só Deus pode pagar a dívida a Deus.

A queda foi tão grande que se compararmos, quando um anjo cai, ele vira um demônio, certo? E quando a imagem
de Deus cai, ela vira o que? É por isso que só vai para o inferno que nasceu para ser filho e habitação de Deus e
caiu.

Portanto, há em nós uma rebeldia imensa contra Deus. As vezes a gente fica confuso, porque, apesar da queda, o
nosso senso religioso permaneceu.

Só que sem Cristo, há apenas duas formas de relacionar com Deus: ou a gente quer se livrar Dele, ignorá-lo; ou a
gente quer controla-lo, manipulá-lo.

E quando a gente entra na igreja, o risco é trazer essa segunda opção na bagagem. É daí que surgem expressões
nas nossas orações, mas que são estranhas às Escrituras, como “eu determino”, “eu declaro”, “eu decreto”.

Quando Jesus diz que quando orarmos não é para usar de vãs repetições, ele não está criticando quem repete as
mesmas palavras tipo: Jesus me abençoe, Jesus me abençoe, Jesus me abençoe.

Ele está criticando quem pensa que dizer determinadas palavras de poder irá conseguir dobrar a vontade de Deus a
sua, irá conseguir manipular a Deus. Deus ficarem refém porque você disse aquela palavra poderosa.

Paulo foi claro ao dizer no capítulo 3 que não há ninguém que busque a Deus. Pelo menos que o busque com a
intenção correta.

Buscar a Deus com a intenção correta só é possível em Cristo. Só por causa Cristo nossa busca por Deus é
realinhada, não da nossa forma, não tentando manipular, mas em submissão a Ele e pelos critérios Dele.

Cristo foi o remédio para curar nossa doença terminal que é o pecado.

Talvez você pense: tá, mas é meio injusto Cristo morrer por nós. Mas me deixe dar um exemplo em que a morte de
Jesus satisfaz a justiça sem tornar Deus injusto. Imagine que você é um delegado e você tem um filho. E seu filho foi
pego cometendo um crime. Você como pai, pode perdoar a ofensa de seu filho. Mas como delegado, você não pode
simplesmente deixa-lo ir. A fiança precisa ser paga para satisfazer a justiça. Seu filho não tem condições de pagar a
fiança e então você, como pai, paga. Agora, com a justiça satisfeita, seu filho pode ser liberado.

Foi isso que aconteceu conosco. Deus, em Cristo, pagou nossa fiança. Fomos declarados justos por seu sangue, diz
o texto.

No final do capítulo 4 Paulo diz: Ele foi entregue à morte por causa de nossos pecados e foi ressuscitado para que
fôssemos declarados justos diante de Deus. Romanos 4.25
E a imagem aqui remete ao Antigo Testamento. Na verdade, o Antigo Testamento aponta para este evento da
ressurreição de Jesus.

Todo ano, o sumo-sacerdote deveria seguir uma série de preparativos ritualísticos para poder se apresentar no
Santo dos Santos com o sacrifício de expiação por todo o povo de Israel. Esse é o Yom Kippur, o dia da expiação
descrito em Levítico 16.

Havia certa tensão neste dia uma vez que se o sumo-sacerdote falhasse em alguma das instruções, ele morreria.
Assim, quando o sumo-sacerdote finalizava sua intercessão por si e pelo povo e saia vivo do Santo dos Santos,
significava que seu ritual foi aceito por Deus.

Da mesma forma, quando Jesus ressuscita, Deus aceitou seu sacrifício em nosso favor. Como diz John Piper:
“Quando Jesus morreu pelas nossas transgressões, um pagamento total e suficiente foi realizado para o nosso
perdão e justificação. Portanto, seria injusto ter deixado Jesus na sepultura, visto que ele pagou totalmente por
nossos pecados. Assim, Deus o ressuscitou dentre os mortos para vindicar a expiação e a obediência de Cristo. A
ressurreição de Jesus foi uma declaração do que ele realizou em sua morte e foi perfeitamente bem-sucedido, a
compra de nossa justificação”.

A diferença é que enquanto o sumo-sacerdote no Antigo Testamento se apresentava todo ano, Cristo, o nosso
sumo-sacerdote se apresentou de uma vez por todas. Enquanto no Antigo Testamento o povo tinha que ser
justificado uma vez por ano, em Cristo fomos justificados de uma vez por todas.

Isso significa que quando Deus olha para nós ele não enxerga nossos pecados, mas a justiça de Jesus transferida a
nós.

E neste verso 9, Paulo usa a lógica do maior para o menor, ou seja, do mais difícil para o mais fácil. O que era o
mais difícil: Cristo morrer por nós quando ainda éramos pecadores e seu sangue nos justificar ou sermos salvos da
ira de Deus?

Ou seja, precisávamos de um salvador, quem poderia ser? E não é o Chapolim.

Portanto, o que era mais difícil de acontecer Deus providenciou em Cristo. Deus providenciou o Salvador. Cristo, o
Filho de Deus morrer por nós e seu sacrifício ser aceito era a tarefa mais difícil.

E como Ele cumpriu por nós a parte mais difícil, certamente cumprirá também a parte mais fácil.

Ou seja, se Cristo fez o mais difícil que era morrer e ressuscitar por nós, podemos confiar que a ira de Deus não vai
cair sobre nós.

Paulo diz no capítulo 1 de Romanos que: A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos
homens. Romanos 1.18

O que é a ira de Deus? J. I. Packer define: “A ira divina é a santa reação de Deus contra aquilo que é contrário à sua
santidade, expressando-se por meio de uma manifestação positiva do desprazer divino. Esta é a justa ira, a reação
reta da perfeição moral do Criador contra a perversidade moral da criatura”.

Hoje nós já temos por antecipação o veredito que será promulgado a nós no dia do juízo. Todo aquele que confia
no sacrifício de Jesus em seu favor está justificado, ou seja, os méritos de Cristo foram transferidos para quem
assim crê.

Isso significa que no dia do juízo, você não receberá uma sentença de condenação, claro, se você vive a partir desta
verdade de confiar somente em Cristo.

No dia do juízo será o dia em que você será convidado ao banquete do Rei.

Você já parou para pensar que na mesa de Jesus na santa ceia, tinha todo tipo de pessoa? Tinha rico, tinha pobre,
tinha revolucionário, tinha funcionário do império, tinha intelectual, tinha ladrão, tinha traidor.

Imagina, você na mesa de Jesus, na eternidade, conversando com seu irmão que é de esquerda, ou de direita. Mas
o assunto de vocês não será política não pois essas coisas já terão passado. Mas entenda, se hoje você não
consegue fazer isso, você precisa dar uma olhada no Evangelho de novo e ver que lá era assim, porque Jesus é
quem era o centro da mesa e não os ideais políticos de cada um.

Se Jesus não for maior que qualquer outra ideia nossa, há outra coisa no lugar Dele. Como disse Robert Traill,
teólogo irlandês: “A sabedoria fora de Cristo é insensatez que condena; a retidão fora de Cristo é culpa e
condenação; a santificação fora de Cristo é imundícia e pecado; a redenção fora de Cristo é servidão e
escravatura”.

Nós fomos criados por Cristo e para Cristo, nós fomos resgatados por Cristo, nós nos reunimos em torno do nome de
Cristo, nós vivemos por Cristo, Cristo é tudo para nós.

Fecho com a fala de Ambrósio de Milão, que influenciou Santo Agostinho: "Cristo é tudo para nós: se desejares
curar as tuas feridas, Ele é médico; se estás angustiado pelo ardor da febre, Ele é fonte; se estás oprimido pela
culpa, Ele é justiça; se precisas de ajuda, Ele é poder; se tens medo da morte, Ele é vida; se desejas o paraíso, Ele é
o caminho; se tens horror às trevas, Ele é luz; se estás em busca de comida, Ele é alimento".

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