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Inveja e ira

Boa noite Happy Hour!

Vamos dar continuidade a série sobre os sete pecados capitais. Na semana passada meu xará
falou sobre o pai de todos os pecados: o orgulho.

Hoje optei por falar sobre dois pecados que, ao que me parece, estão mais estreitamente
relacionados. A inveja e a ira. Na verdade, todos os pecados de uma maneira geral estão
sempre relacionados.

Internamente, todos os pecados que cometemos possuem uma ligação. Geralmente,


simplesmente categorizamos os pecados e os tratamos apenas por categorias. Dessa forma,
os pecados de ira são uma coisa, os de inveja são outra e os de questões sexuais, outra.

Contudo, em essência, “pecado” é uma coisa só e, mesmo em categorias diferentes,


internamente, eles estão ligados uns aos outros e uns puxam os outros.

Em Romanos 1 temos isso de forma mais clara. Romanos 1.18-23:

“Portanto, a ira de Deus é revelada do céu contra toda impiedade e injustiça dos homens
que suprimem a verdade pela injustiça, pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto
entre eles, porque Deus lhes manifestou.

Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua
natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas
criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis; porque, tendo conhecido a Deus, não
o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças, mas os seus pensamentos tornaram-se
fúteis e os seus corações insensatos se obscureceram.

Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens
feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e
répteis” Romanos 1.18-23.

Paulo vai descrevendo o comportamento humano, que suprime e esgana a verdade, sufoca a
verdade da revelação de Deus. E aí os pecados humanos vão da ingratidão para a idolatria, e,
depois, vão para pecados sexuais de todos os tipos. Por fim, culminam em toda sorte e
categoria de pecados.

Assim, não podemos pensar, de forma simplista, que uma pessoa que está enfrentando
dificuldades com determinado pecado esteja passando por isso simplesmente porque está
“alimentando” sua mente com coisas desse tipo. Internamente, todo tipo de pecado nos
carrega, nos enche do que chamamos de O Pecado. Esse Pecado, com “P” maiúsculo é a
pecaminosidade humana em essência, o alimentar da natureza pecaminosa em nós. Assim,
qualquer categoria de pecado alimenta nossa natureza pecaminosa, ou seja, essencialmente
de uma coisa só. Logo, uma pessoa que tem inveja também vem a irar-se e vice-versa.

Além disso, precisamos entender como a essência do pecado é a própria revolta contra Deus.
Qualquer pecado que cometemos, no fundo, é uma tentativa de nos vingarmos de Deus ou
retalha-lo de alguma forma. E isso se dá porque, no fundo, consideramos que Deus é aquele
que nos proibiu de termos acesso ao que desejávamos e, por isso, queremos nos vingar.

Eu sei que isso soa bem estranho para nós. Não conseguimos enxergar que podemos estar
pensando dessa forma, ainda mais considerando que somos cristãos. Essa estranheza se dá
porque esse tipo de pensamento não passa por nossa mente de uma forma mais consciente.
Se assim o fosse, como cristãos, perceberíamos e nos afastaríamos mais facilmente desse
pensamento.

No entanto, nossas ações nos dizem o contrário e agimos como agimos exatamente por
termos essa natureza pecaminosa em nós e contrária a Deus. Assim, nosso grande
arrependimento todos os dias deveria também ser a respeito dessa revolta contra Deus.

Quero então me utilizar de uma história bíblica que trabalha bem essas questões todas,
inclusive os pecados de hoje, a inveja e a ira; a história de Caim e Abel. Gn 4.1-15:

“Adão teve relações com Eva, sua mulher, e ela engravidou e deu à luz Caim. Disse ela: "Com
o auxílio do Senhor tive um filho homem".

Voltou a dar à luz, desta vez a Abel, irmão dele. Abel tornou-se pastor de ovelhas, e Caim,
agricultor.

Passado algum tempo, Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. Abel, por sua
vez, trouxe as partes gordas das primeiras crias do seu rebanho. O Senhor aceitou com
agrado Abel e sua oferta, mas não aceitou Caim e sua oferta. Por isso Caim se enfureceu e o
seu rosto se transtornou.

O Senhor disse a Caim: "Por que você está furioso? Por que se transtornou o seu rosto? Se
você fizer o bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta;
ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo".

Disse, porém, Caim a seu irmão Abel: "Vamos para o campo". Quando estavam lá, Caim
atacou seu irmão Abel e o matou.

Então o Senhor perguntou a Caim: "Onde está seu irmão Abel? " Respondeu ele: "Não sei;
sou eu o responsável por meu irmão? " Disse o Senhor: "O que foi que você fez? Escute! Da
terra o sangue do seu irmão está clamando. Agora amaldiçoado é você pela terra, que abriu
a boca para receber da sua mão o sangue do seu irmão. Quando você cultivar a terra, esta
não lhe dará mais da sua força. Você será um fugitivo errante pelo mundo".

Disse Caim ao Senhor: "Meu castigo é maior do que posso suportar. Hoje me expulsas desta
terra, e terei que me esconder da tua face; serei um fugitivo errante pelo mundo, e qualquer
que me encontrar me matará".

Mas o Senhor lhe respondeu: "Não será assim; se alguém matar Caim, sofrerá sete vezes a
vingança". E o Senhor colocou em Caim um sinal, para que ninguém que viesse a encontrá-lo
o matasse.” Gênesis 4.1-15

Esta é a história clássica da inveja. O pecado que aparece de cara para nós é esse: a inveja.

O que é a inveja?

É um sentimento em que se misturam o ódio e o desgosto, e que é provocado pela felicidade


e sucesso de outra pessoa; é um desejo irrefreável de possuir ou desfrutar, em caráter
exclusivo, do que é possuído ou desfrutado pelo outro.

Você quer o que não é seu, mas do outro.

Enquanto o orgulho faz com que a gente olhe as pessoas de cima para baixo; a inveja faz
com que a gente olhe as pessoas de baixo para cima.
Cobiçamos o que elas têm, o que elas são, onde elas estão e passamos a querer que elas não
tenham e nem sejam mais.

Ou seja, é quebra deliberada do 10º mandamento: não cobiçarás!

É a inveja que faz com que nos perguntemos “Por que o outro e não eu?”. E isso faz com que
passemos a nos comprometermos em destruir o outro. Se a gente não pode chegar lá, a gente
derruba o outro até onde estamos.

É um caminho de autodestruição: Eu prefiro ir para o inferno e te levar junto do que te ver


feliz.

Um detalhe importante: A inveja nos pega nos nossos pontos fortes. Invejamos aquilo que em
tese poderíamos ter ou ser.

Caim e Abel eram irmãos. Mesmo nível. Pastores invejam pastores. Pregadores invejam
pregadores. Ovelhas invejam ovelhas. Amigos invejam amigos.

Certa vez fui chamado para dar uma oficina em um acampamento. No ano seguinte,
chamaram outro cara. Por que ele e não eu? Eu sou muito melhor! Estudei mais, conheço
mais. Por que chamaram ele e não eu? Foi com esses pensamentos que passei todo o
acampamento!

Podemos admirar pessoas que estão no mesmo nível que a gente. E estas pessoas podem
nos servir de inspiração.

Mas quando nos enchemos de inveja, não conseguimos enxergar tudo o que temos; apenas o
que nos falta. Isso é ingratidão. Isso faz com que a gente não perceba as belezas fora de nós.
Ficamos fechados em nós mesmos, na nossa ingratidão.

E a inveja é um pecado capital porque ela gera filhos. Quais sãos os filhos da inveja:
• Ódio, que é o desejo de que o outro não exista.
• Assassinato, se eu não mato de verdade, eu mato com a difamação e a depreciação.
• Inescrupuloso, atropela tudo para chegar lá ou derrubar o outro.
• Sádico, alegrar-se na desgraça alheia.

Agora se olharmos a história de Caim e Abel por baixo, vamos perceber que a ira também
estava presente na vida de Caim. Mas a ira de Caim era contra quem? Quem foi que o
rejeitou? Era contra Deus.

A ira é um sentimento que nos empurra à vingança. Ela desordena nosso juízo e nos impele a
fazer justiça com as nossas próprias mãos. Vem um intenso sentimento de ódio, de rancor,
fúria, cólera, indignação. É o sangue que ferve. Você queima de raiva!

Mas há uma ira que é legítima, há uma indignação que é legítima. O sangue ferver é até
saudável; é sinal de senso de justiça. Jesus se irou na purificação do templo que foi uma
indignação contra a injustiça.

Então em algumas situações, a reação irada, pela injustiça externa a si é válida. Mas é muito
difícil agir com sanidade e proporcionalidade estando irado.

Mas a ira nunca é legítima quando é em defesa própria. Só é legítima quando é em defesa de
uma injustiça feita ao outro.
No texto que lemos de Romanos, fala da ira de Deus. A Santa Ira de Deus é uma resposta
contra a maldade e a injustiça. O alvo é o homem que pratica a maldade. Mas esta ira de Deus
inclusive é uma forma de Deus chacoalhar o homem perverso para que ele se arrependa.

Nossa ira não é assim. Portanto, nossa vingança não tem justificativa. É por isso que Cristo nos
ensina a perdoar e não a nos vingarmos. Pois nossa vingança não é 7 vezes como Deus disse
que Caim seria vingado. Mas 70 vezes 7. Esta é a cifra que aparece logo em seguida no mesmo
texto de Gênesis, com Lameque. Ele fala que matou um homem porque o feriu e um menino
porque o machucou. E sua vingança seria 70 vezes 7.

Jesus usa a mesma cifra mas em relação ao perdão. Jesus mostra que da mesma forma que o
homem pecador tem o ímpeto da vingança, o cristão deve ter o perdão como ímpeto.

Agora imaginem Caim queimando de raiva contra Deus. Como ele ia fazer? Ele não tinha
como matar a Deus. Então ele mata a imagem e semelhança de Deus. O Senhor não me
aprovou? Também não deixo vivo aquele a quem o Senhor aprovou.

A questão é que hoje a gente não mata. E por quê? Porque dá cadeia. Se não desse cadeia a
gente matava. Perceba que à medida que aumenta a impunidade, a medida em que a polícia
fica incapaz de coibir a criminalidade, os assassinatos aumentam?

Mas há uma forma de assassinato que fazermos o tempo todo: o desprezo. Se a pessoa está
viva ou morta não importa para mim. Bem ela então está morta. Quando Jesus dá a
interpretação radical, que na verdade era a verdadeira interpretação do não matarás, era
quanto a esse tipo de assassinato que ele estava prevendo: o acolher o ódio. O desprezo é a
forma mais pura do ódio.

Quando ele diz que: qualquer que disser a seu irmão “racá” será condenado. Essa palavra é o
som quando se recolhe a saliva do fundo da garganta para cuspir. Então seria como se você
dissesse: você para mim não passa de um cuspe bem encatarrado.

Como a inveja, a ira possui filhos e por isso é também um pecado capital:

• Brigas, contendas, as agressões.


• Desejo de vingança.
• Assassinato, desprezo.

E como a gente escapa destes dois pecados? Pela gratidão e pela mansidão.

• Rm 12.15 “Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram”. Seja a
empático em todas as circunstâncias.
• 1 Ts 5.18 “Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para
convosco”. Procure perceber a bondade e a presença de Deus em cada instante de
sua vida. Não seja genérico ao ser grato. Deus sou grato por tudo. Tudo o que? Fale
detalhadamente para que você perceba quantas bençãos Deus já tem te dado para
que você pare de olhar a vida apenas por aquilo que ainda não tem. Igual num hino
bem antigo: conta as bençãos, conta quantas são; recebidas da divina mão. Uma a
uma, dize-as de uma vez, e hás de ver surpreso o quanto Deus já fez.

Contra a ira:
• Ef. 4.26 “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira”. Não despeje o
sangue quente nos outros.
• Rm. 12.17 “Não torneis a ninguém mal por mal; esforçai-vos por fazer o bem perante
todos os homens”. Não tente dar a resposta ao mal através do mal.
• Rm. 12.19 “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está
escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor”. Não ande em
vingança, pois não sabemos vingar com justiça. Só Deus.
• Rm. 12.21 “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”. Não alimente a
maldade no mundo pela ira, mas alimente o bem.

A história de Caim termina com Deus colocando um sinal em Caim. O que era esse sinal
ninguém sabe. Mas este sinal era o sinal da graça. Deus foi gracioso com Caim. E se Deus foi
gracioso com um assassino-invejoso, Ele será também comigo e com você, desde que não
abusemos desta graça, desde que nós nos convertamos a Ele.

A solução para qualquer pecado já foi resolvida na cruz. Na cruz é quem encontramos poder
para sermos transformados, para que mais do que deixarmos de ser invejosos e irascíveis,
aprendamos a ser gratos e mansos. Aprendamos a reconhecer as dádivas de Deus nas nossas
vidas e sermos gratos por elas; aprendamos a sermos domados. O manso é uma fera selvagem
que foi domesticada.

Que a cada dia o Espírito de Deus nos faça percebermos como o pecado nos assedia. Que
aprendamos a duvidar de nossas motivações e recorramos sempre a Deus para ver se
estamos alinhados com ele.

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