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SEMINÁRIO MARTIN BUCER BRASIL

CURSO LIVRE DE TEOLOGIA


MONOGRAFIA

João Pedro Mothé

A BÍBLIA PRECISA SER ATUALIZADA? O CARÁTER


ETERNO DA PALAVRA DE DEUS

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS


2023
JOÃO PEDRO DE SÁ RAMOS MOTHÉ

A BÍBLIA PRECISA SER ATUALIZADA? O CARÁTER


ETERNO DA PALAVRA DE DEUS

Monografia apresentada como requisito à obtenção do


título de Graduado em Curso Livre de Teologia do
Seminário Martin Bucer Brasil, SMB.

Orientador: Prof. Dr. Joel Theodoro da Fonseca


Junior
SEMINÁRIO MARTIN BUCER BRASIL
CURSO LIVRE DE TEOLOGIA

TERMO DE APROVAÇÃO
Tombo Nº _____

A BÍBLIA PRECISA SER ATUALIZADA? O CARÁTER ETERNO DA PALAVRA DE


DEUS
Por
João Pedro de Sá Ramos Mothé

Este trabalho de conclusão de curso foi apresentado à secretarua do Seminário Martin


Bucer – Brasil no dia 08 de agosto de 2023 como requisito parcial à obtenção do título de
Graduado em Curso Livre de Teologia. O candidato foi orientado pelos professores abaixo
relacionados, os quais consideraram o trabalho aprovado após deliberação.

Orientador de conteúdo:
Prof. Dr. Joel Theodoro da Fonseca Junior _______________________________

Orientador de forma:
Prof. Ms. Jefferson Oliveira ________________________________

Diretor Geral do SMB:


Prof. Dr. Franklin Ferreira ________________________________

São José dos Campos, SP


Dedico esse trabalho aos meu pais, Ronaldo e Simone
Mothé, que em meio a todos os desafios continuaram
confiando que Aquele que começou a boa obra vai
completá-la até o dia de Cristo Jesus. Agradeço a 1ª
Igreja Presbitériana de Niterói na pessoa do Rev.
Fernando Perreira Cabral e também a Igreja Presbiteriana
do Barreto na pessoa do seu antigo pastor, o Rev.
Jeferson Carvalho Alvarenga, por terem confiado no meu
chamado e me sustentado de todas as maneiras possíveis.
Agradeço aos meus muitos amigos que me apoiam e
oram por mim constantemente, sem vocês não seria
possível. Cito especialmente, Matheus Branco, Fábio
Ramos e Luiz Tadeu Venâncio, que me lembram
contantemente que em todo tempo amam os amigos, mas
é na angústia que os irmãos são forjados! Por fim,
agradeço ao Eterno que me chamou e me tem capacitado
até aqui, a Ele a Honra, Glória e o Poder para sempre,
Amém!
RESUMO

Esse trabalho procurou responder a questão da relevância da Escritura nos dias atuais, diante de
tantos ataques a integridade da Bíblia. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que pretende
entender as características que fazem da Escritura palavra de Deus numa pespectiva da
teologia reformada. A pesquisa conseguiu estabelecer a concepção da Escritura como baseada
no caráter do próprio Deus, além de apresentar argumentos a favor da historicidade da
Escritura. A pesquisa permitiu também traçar uma compreensão da necessidade de
contextualização da Escritura no lugar de uma atualização, devido a aplicabilidade transcultural
da Bíblia.

Palavras-chave: Bíblia, Revelação, Cânone, Palavra de Deus.


ABSTRACT

This work sought to answer the question of the relevance of Scripture in the present day, in the
face of so many attacks on the integrity of the Bible. This is a bibliographical research that
intends to understand the characteristics that make Scripture the word of God in a perspective
of Reformed theology. The research managed to establish the conception of Scripture as based
on the character of God himself, in addition to presenting arguments in favor of the historicity
of Scripture. The research also allowed to outline an understanding of the need to contextualize
the Scripture instead of updating it, due to the cross-cultural applicability of the Bible.

Keywords: Bible, Revelation, Canon, Word of God


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - O que a Bíblia é? 6

Figura 2 - O Cânon de Muratori 20


Sumário
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 4
2. A ESCRITURA COMO REVELAÇÃO FUNDAMENTADA NO CARÁTER DE DEUS . 6
2.1 O CARÁTER DE DEUS ........................................................................................... 10
3. A CONFIABILIDADE HISTÓRICA DA ESCRITURA: ................................................... 14
3.1 O TESTEMUNHO DA IGREJA PRIMITIVA.......................................................... 15
3.2 A CONSTRUÇÃO DO CÂNONE: ........................................................................... 18
3.3 OS MANUSCRITOS: ................................................................................................ 23
3.3.1 ALGUNS DOS PRINCIPAIS MANUSCRITOS: .................................................................... 25
4. O QUE FAZ A ESCRITURA RELEVANTE HOJE? ......................................................... 31
4.1 A GRANDE HISTÓRIA: A SALVAÇÃO COMO A MENSAGEM CENTRAL DA
PALAVRA DE DEUS ..................................................................................................... 31
4.2 A NECESSIDADE DE CONTEXTUALIZAÇÃO E O CARÁTER
TRANSCULTURAL DO EVANGELHO ....................................................................... 35
5. CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 39
6. REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 41
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1. INTRODUÇÃO
Um dos grandes desafios da igreja em tempos modernos é lidar com o chamado
liberalismo teológico. O termo Theologia Liberalis foi usado pela primeira vez por Johann
Salomo Semler (1725-1791) "livre método de investigação histórico-crítico das fontes da fé e
teologia, sem vínculos com a tradição dogmática". O problema de tal abordagem é o
rompimento com os dogmas mais basilares da fé ortodoxa. Talvez o primeiro questionamento
levantado seja em relação ao caráter da Escritura como palavra de Deus. A tendência da
teologia liberal é a relativização da inspiração da Escritura e da sua relevância hoje.

Tal tendência tem levado ao questionamento da importância de se abordar o texto


sagrado de maneira integral em nosso tempo. Se a bíblia é uma coletânea de escritos
idealizados por homens do passado, que por desejo de controle ou até mesmo engano sincero,
mas não por inspiração do Espírito de Deus, por que ainda a ela obedecermos? Ou mesmo
porque expô-la em sua completude?

Se abrirmos mão do pressuposto de que a Escritura é autoritativa pois é palavra de Deus,


então abriremos mão de sua confiabilidade. Nesse cenário a mentalidade de nosso tempo
começa a sobrepor os temos da Palavra de Deus querendo assim ser seu juiz e guia , e não o
contrário, de maneira que daí pra frente posições como a levantada pelo pastor batista Ed
René Kivitz, de que a Bíblia precisa ser atualizada para dialogar com o nosso tempo, se
tornam mais frequentes e presentes.

Nesses termos, a Escritura precisa de uma revisão? Qual a relevância da Escritura hoje e
em que sua confiabilidade está fundamentada? A Escritura pode ser compreendida como um
texto fidedigno? Qual a confiabilidade histórica da Escritura? Essas são as perguntas que esse
trabalho pretende responder.

Para tanto, no capítulo 1 a questão da Escritura como palavra e revelação de Deus será
trabalhada, de maneira a tentar compreender a relação que existem entre o caráter divino e a
sua palavra. Como quem Deus é influencia na validade da Escritura?

No segundo capítulo, a tarefa é desenvolver uma compreensão sobre a confiabilidade


histórica da Bíblia. Primeiro falando sobre o testemunho da igreja primitiva a favor da
Escritura, seguindo de uma análise sobre como se deu a formação do cânone da Bíblia como
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temos hoje e fechando com uma breve exposição sobre os manuscritos bíblicos e sua
importância para a validação da Bíblia como um documento histórico.

Por fim, o terceiro capítulo tem o propósito de falar sobre a mensagem de salvação, a
grande narrativa bíblica que reforça sua relevância para todo tempo e lugar. E na última parte
do capítulo 3 se desenvolve a ideia da necessidade de contextualização e da aplicabilidade
transcultural do Evangelho. Todo esse trabalho tem o propósito de glorificar o Deus que a
Escritura revela e refinar a compreensão daqueles que querem servir a Deus com fidelidade e
integridade de coração.
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2. A ESCRITURA COMO REVELAÇÃO FUNDAMENTADA


NO CARÁTER DE DEUS

Na primeira parte dessa empreitada, fica o desafio de compreender o que é a Escritura


e de começar a desenvolver o entendimento sobre a sua relevância, ou não, como texto
integral e definitivamente composto hoje. Começar pelo que a Bíblia é, parece a opção mais
sensata, já que é só partindo desse ponto de entendimento primário que se pode desenvolver
os demais argumentos. Tim Charllies e Josh Byers no seu livro Teologia Visual, apresentam o
gráfico a seguir com um resumo sobre o que é a Escritura:

Figura 1 BYERS & CHARLLIES, 2016, págs. 44-45

Esse gráfico é bastante didático e apresenta uma série de características de Bíblia. Para
os autores, ela é uma coleção, é composta por testamentos, é uma história, é sobre Jesus, é
completa, e destaco duas dessas características, ela é confiável e é a Palavra de Deus. Para
Charllies e Byers, a bíblia tem caráter de Escritura (assim, com “E”) pois vem diretamente do
próprio Deus, à medida que é a sua palavra. Eles escrevem:

Deus não está em silêncio. Ele não nos deixou isolados e sem orientação neste
mundo. Em vez disso, ele se comunicou da maneira que melhor entendemos - pelas
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palavras. Os cristãos se referem à Bíblia como a Palavra de Deus, pois ela está cheia
das palavras de Deus e porque, uma vez reunidas, ela representa a palavra dele, sua
mensagem para a humanidade. Deus escreveu essa mensagem de maneira
excepcional. Ele usou palavras, ideias e capacidades criativas de diversas pessoas
para que pudesse transmitir sua mensagem divina. Os historiadores fizeram suas
pesquisas, colheram os fatos e registraram suas conclusões fizeram tudo isso pelo
poder e pela orientação do Espírito Santo. Os poetas observaram, criaram e
escreveram sob a orientação do mesmo Espírito Santo (2Pedro 1:21). E tudo isso foi
registrado como a Bíblia. Deus ainda hoje continua a falar por meio da Bíblia,
abrindo os olhos espirituais de nosso coração para que possamos ouvir e entender
sua Palavra à medida que ela traz convicção e nos leva a responder a ele pela fé.
Referimo-nos a essa realidade como sendo iluminados - a maneira como o Espírito
Santo nos ajuda a entender e a ouvir a Deus à medida que ele fala conosco pela
Bíblia. A Bíblia é sem igual entre todos os livros do mundo, uma vez que sua
palavra é "viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes" (Hebreus
4:12). Deus está presente na Bíblia. Por meio dela e de maneira especial, ele
continua a falar conosco ainda hoje. É por isso que podemos continuar a chamá-la de
Palavra de Deus. Sua voz chega a nós por intermédio da Bíblia. (BYERS E
CHARLLIES, 2016, págs. 47-48)

Charllies e Byers não são, notoriamente, os primeiros ou os únicos a entenderem que a


Bíblia é a palavra de Deus. Por todo a história da igreja tem sido essa a compreensão
ortodoxa. O Senhor se revelou aos homens, apresentou seus desígnios, fez pactos e alianças,
se relacionou com aqueles que chamou para si, na plenitude dos tempos se fez homem na
pessoa do seu Filho e como homem servo, como servo morto no lugar de pecadores, mas
ressurreto pelo seu imenso poder e a todas essas coisas, fez com que fossem registradas na
Sagrada Escritura para que por ela a conhecêssemos, e só assim de fato as conhecemos, e
crêssemos por seu intermédio.

O ponto é que essa compreensão eleva a Escritura a um status de insuspeição e


autoridade. Se palavra de Deus, proveniente do próprio Deus, e então seus dogmas e ensinos
são comandos e instruções a serem seguidas. Franklin Ferreira e Alan Myatt falam sobre isso
em sua sistemática:

Para preservar e garantir a transmissão da revelação especial através dos séculos foi
necessário o seu registro na forma escrita. Assim, a Bíblia se torna uma fonte
imprescindível da revelação de Deus. Ela contém a revelação de Deus, mas, como
foi visto na exegese de 2Timóteo 3.16-17 e 2Pedro 1.20-21, também é a revelação de
Deus. Ela não apenas contém a palavra de Deus, mas é a palavra de Deus escrita.
Sendo a palavra de Deus, a Bíblia vem a nós com a autoridade de Deus. Uma vez
que é corretamente interpretada, aplicando os princípios válidos da hermenêutica, ela
deve ser obedecida e os seus princípios aplicados na vida do cristão e da igreja.
(FERREIRA E MYATT, 2007, pág. 117)

Aqui vale conferir os textos de 2 Timóteo e 2 Pedro citados pelos autores. Nesses
textos a própria Escritura testemunha em favor de sua inspiração e proveniência da parte de
Deus, “"Toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender,
para corrigir, para instruir em justiça;" a fim de que o homem de Deus tenha capacidade e
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pleno preparo para realizar toda boa obra.” (2 Timóteo 3. 16-17) “Sabei antes de tudo que
nenhuma profecia das Escrituras é de interpretação particular. Pois a profecia nunca foi
produzida por vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, conduzidos pelo
Espírito Santo.” (2 Pedro 1. 20-21)

O Doutor Heber Campos, no primeiro livro de sua série dedicado a revelação, antes de
citar e expor os textos de 2 Timóteo e 2 Pedro escreve o seguinte: A doutrina reformada da
"inspiração orgânica" elimina o ele mento falível nos escritores da Bíblia. Deus livrou os
escritores de escreverem suas próprias ideias à parte das ideias de Deus, ideias ou
especulações simplesmente humanas. (CAMPOS, 2017, pág. 269)

A Confissão de fé de Westminster dedica o seu primeiro capítulo a Escritura, e escreve


nos dois primeiros pontos com se segue:

I. Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência manifestam de


tal modo a bondade, a sabedoria e o poder de Deus que os homens ficam
inescusáveis. Todavia não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e
de sua vontade, necessário à salvação. Por isso foi o Senhor servido, em diversos
tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade e
depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro
estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de
Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isso torna a
Escritura Sagrada indispensável, tendo cessado aqueles antigos modos de Deus
revelar a sua vontade ao seu povo. II. Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra
de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Antigo e do Novo Testamentos,
todos dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e prática. (CFW, 2019,
págs. 13-14)

Já J. I. Packer, no livro Vocábulos de Deus, diz:

É evidente, pois, que, para Cristo e seus apóstolos, aquilo que a Escritura disse foi
Deus quem o disse. A convicção deles era que a Bíblia inteira é profética, no sentido
primário do termo, ou seja, os escritores da Bíblia foram os escribas de Deus; e isto
no mesmo sentido em que os profetas, ao pregar, foram os porta-vozes de Deus.
Desta forma, tudo quanto ficou escrito pode ser apresentado com a mesma fórmula
com que eram introduzidos os sermões dos profetas: "Assim diz o SENHOR". Essa
é a mais profunda razão pela qual os escritos bíblicos são "sagrados" (cf. 2 Tm 3.15)
- não somente porque abordam coisas santas, mas porque o Deus santo é o seu
verdadeiro Autor. (PACKER, 1994, pág. 31)

Todas essas citações servem ao propósito de demonstrar que a doutrina da inspiração e


da Escritura como palavra de Deus e proveniente do próprio Deus, marca extensivamente a
tradição da igreja. A Bíblia é oferecida das mãos do próprio Deus a nós, seu conteúdo não é
composto de conjecturas humanas, mas das palavras do Criador. Se a Bíblia é a palavra de
Deus, então sua validade é perene.
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A compreensão do caráter eterno da Palavra de Deus pode influenciar a vida e a


espiritualidade das pessoas no mundo atual de várias maneiras. A compreensão nos dá
esperança para o futuro — a Bíblia nos ensina que Deus é um Deus de amor e graça, e que ele
tem um plano para o nosso bem. Isso pode nos dar forças para enfrentar os desafios da vida —
, nos ajuda a encontrar perdão para nossos pecados — a Bíblia nos ensina que Jesus Cristo
morreu na cruz para pagar pelos nossos pecados —, nos leva à redenção. — a Bíblia nos
ensina que Deus quer nos transformar em pessoas novas, que sejam semelhantes a Jesus
Cristo. Isso significa que podemos ser transformados por Deus, e podemos ter uma vida nova
e cheia de esperança.

Compreender a Escritura como revelação se desdobra em 2 aspectos: Primeiro, a


Bíblia revela o caráter de Deus. Deus é um Deus de amor, justiça e misericórdia. Ele é um
Deus que é fiel às suas promessas, e que está sempre pronto para perdoar aqueles que se
arrependem. Segundo a Bíblia revela a história da salvação. A Bíblia conta a história de como
Deus enviou seu Filho, Jesus Cristo, para morrer na cruz pelos nossos pecados. Jesus morreu
em nosso lugar, e sua morte nos trouxe a salvação. Esses 2 aspectos serão relevantes para esse
trabalho. E o primeiro dele especialmente para esse capítulo

Isso porque a concepção da Bíblia como Palavra de Deus está intrinsecamente ligada
aos atributos e características de Deus. A relação entre a natureza da Bíblia como revelação
divina e o caráter de Deus é um tema central na compreensão das Escrituras e influencia
profundamente a forma como os fiéis enxergam e interpretam os textos sagrados.

Como apresentado no gráfico, Tim Charllies e Josh Byers apresentam a confiabilidade


como uma das marcas da Escritura, e desenvolvem a ideia:

Como a Bíblia tem sua origem em Deus, ela reflete o caráter dele. Por esse motivo,
podemos crer que a Bíblia não tem erros e é perfeitamente confiável. O que Deus diz
é verdade, e o que ele diz que fez, realmente fez. O que Deus diz que fará, ele
realmente fará. Deus é quem ele diz ser, e nós somos quem ele diz que somos. Como
a Bíblia é fidedigna e confiável, precisamos dedicar nossa vida lendo-a, entendendo-
a e obedecendo-a. (BYERS E CHARLLIES, 2016, pág. 48)

Os autores são bem claros, a confiabilidade da Escritura é fundamentada no caráter do


próprio Deus. Se a Bíblia fosse uma coletânea puramente humana, seria coerente questionar o
quão genuíno são seus escritos. Afinal, dezenas de autores, com várias intenções, provenientes
de contextos culturais e temporais distintos, trabalhando numa coletânea de ensino, com
pouca ou nenhuma comunicação entre si durante o processo de escrita, teriam seu material
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como digno de confiança? Nesse caso não. Não, porque os homens são falhos, equivocados,
por vezes mentirosos, limitados, contextualizados, inconstantes e mutáveis.

A dádiva que temos é saber que a Escritura não parte somente de mãos humanas, mas
de homens guiados pela inspiração divina, registrando não seus erros humanos, mas as
verdades imutáveis que vem da boca do próprio Deus. As penas que escreveram as Escrituras
podem até serem humanas, mas a boca que ditou as palavras é divina. O fundamento da
Escritura no caráter de Deus nos leva então a analisar o Ser de Deus e seus atributos, quem
Deus é, solidifica a confiabilidade da Escritura.

2.1 O CARÁTER DE DEUS

A Escritura fala extensamente sobre quem Deus é. A Bíblia nos diz que Deus é amor
(1 João 4:8), que é santo (Isaías 6:3), que é justo (Deuteronômio 32:4), que é misericordioso
(Salmo 103:8), que é paciente (Romanos 2:4), que é fiel (2 Timóteo 2:13), que é poderoso
(Salmo 93:4), que é sábio (1 Coríntios 1:20), que é bom (Deuteronômio 10:17), que é bondoso
(Salmo 145:8), que é compassivo (Jeremias 31:3), que é longânimo (Salmo 86:15), que é
confiável (Jeremias 31:3), que é justo (Deuteronômio 32:4), que é perfeito (Salmo 18:30), que
é glorioso (Êxodo 33:18), que é majestoso (Salmo 96:6), que é soberano (Daniel 4:32), que é
eterno (Isaías 40:28), que é onisciente (Salmo 139:1-4), que é onipresente (Salmo 139:7-12),
que é onipotente (Jeremias 32:17), que é criador (Gênesis 1:1), que é redentor (Isaías 43:11),
que é preservador (Salmo 121:3-4), que é provedor (Salmo 23:1), que é juiz (Salmo 94:2), que
é Salvador (Isaías 43:11), que é amigo (Salmo 27:10), que é pai (Salmo 103:13), que é esposo
(Isaías 54:5), que é rei (Êxodo 15:18), que é sacerdote (Hebreus 4:14-16), que é profeta
(Deuteronômio 18:15), que é juiz (Salmo 94:2), que é Salvador (Isaías 43:11), que é amigo
(Salmo 27:10).
A natureza da Bíblia como revelação de Deus é fortemente influenciada pelos
atributos divinos. A compreensão desses atributos nos permite enxergar a Bíblia como a
expressão fiel do caráter eterno e perfeito de Deus, capaz de guiar e transformar vidas em
todas as épocas e culturas. Deus é bom, é Eterno, é simples, infinito, todo sábio, todo
poderoso, todo soberano, mas para os fins desta pesquisa, talvez os mais relevantes dos
atributos sejam sua imutabilidade, veracidade, santidade, perfeição e fidelidade.
Essas características são refletidas na natureza da Bíblia como Palavra divina. A partir
do entendimento de que Deus é santo e perfeito, a Bíblia é considerada como a expressão
infalível de Sua vontade para a humanidade. John Wesley destaca a importância de se apegar
11

à Bíblia como uma revelação confiável, uma vez que ela provém de um Deus perfeito e que
não pode mentir.
A fidelidade de Deus também é refletida na inerrância e confiabilidade da Bíblia. Tim
Keller, em "Fé na era do Ceticismo", argumenta que, se Deus é fiel e verdadeiro em todas as
Suas ações, então Sua Palavra também deve ser precisa e digna de confiança. Acreditando na
inspiração divina da Bíblia, os fiéis veem as Escrituras como uma revelação precisa e fiel dos
propósitos de Deus para a humanidade.
A imutabilidade do Deus que é o autor supremo da Escritura serve de selo de
comprovação da sua confiabilidade. A Escritura tem ainda relevância, pois vem “[...] do Pai
das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” (Tiago 1. 17). O que Ele disse,
ele diz, o que Ele desejava, ainda deseja. Nas palavras de Herman Bavinck:

Se Deus não fosse imutável, ele não seria Deus." Seu nome é "ser", e esse nome é
"um nome inalterável". Tudo o que muda deixa de ser o que era. Mas a verdadeira
existência pertence àquele que não muda. Aquilo que verdadeiramente é permanece.
Aquilo que muda "era alguma coisa e será alguma coisa, mas não é alguma coisa
porque é mutável." Mas Deus, que é, não muda, pois toda mudança diminuiria sua
existência. Além disso, Deus é imutável em seu conhecimento, vontade e decretos
como é em seu ser. "A essência de Deus, pela qual ele é o que é, não possui nada que
seja mutável, nem em eternidade, nem em fidelidade, nem em vontade. Como ele é,
assim ele conhece e deseja imutavelmente. "Assim como tu és totalmente, assim tu
conheces totalmente, pois tu imutavelmente és, e conheces imutavelmente, e desejas
imutavelmente. Tua essência conhece e deseja imutavelmente, e teu conhecimento é
e deseja imutavelmente, e tua vontade é e conhece imutavelmente.” Nem a criação,
nem a revelação, nem a encarnação (afetos, etc.), produziram qualquer mudança em
Deus. (BAVINCK, 2012, págs. 157-158)

Ao mesmo tempo, a veracidade do que ele diz é relevante. Se Deus fala mentiras ou é
mentiroso em si, ser imutável ou não, seria irrelevante, no fim sua palavra não seria confiável.
Mas Deus não só diz a verdade, ele é a própria verdade. É assim que o senhor fala de si
mesmo: "Jesus lhe respondeu: Eu sou o caminho, a verdade e a vida;” (João 14. 6). Deus é a
verdade. "A veracidade divina implica que ele é o Deus verdadeiro, e que todo o seu
conhecimento e todas as suas palavras são ao mesmo tempo verdadeiras e o parâmetro
definitivo da verdade". Ele não pode mentir nem se contradizer (1Sm 15.29). (FERREIRA E
MYATT, 2007, págs. 219-220)

Suas palavras são inalteráveis e fidedignas, seus juízos não mudam e ele não volta
atrás. Ainda assim, encontramos alguns textos na própria Bíblia onde Deus parece se
arrepender e mudar e seus planos, repensar e voltar atrás (Gn. 6.6; 1Sm 15.11; Am 7.3, 6; Êx
32.10-14; Jn 3.10). Esses textos, no entanto, trazem uma linguagem antropopática, ou seja,
Deus é descrito de uma perspectiva humana de emoções. Deus não altera sua mente ou
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enfrenta mudanças no seu caráter. Ele nunca é pego de surpresa, essas aparentes mudanças de
atitudes, na verdade são realizadas segundo o conselho da sua vontade.

Esses primeiros pressupostos, a bíblia como palavra de Deus, verdadeira e confiável


pois está fundamentada no caráter do Deus que não muda ainda pode levantar questões para
algumas pessoas. Calvino falando sobre isso nas Institutas diz que muitos pretendem validar a
autoridade da Escritura como se isso dependesse do juízo da igreja. Essas pessoas questionam
a validade de se aceitar a bíblia, mas partem da ideia de que são os homens que concedem a
ela autoridade.

Quem nos fará crer que provém de Deus? Como nos certificarmos de que chegou
salva e intacta aos nossos dias? Quem pode nos persuadir de que este livro deve ser
recebido com reverência e outro expurgado? Exceto que, acerca disso, a regra seja
prescrita pela Igreja? Daí concluem que pertence à Igreja determinar que reverência
se deve à Escritura e que livros devem ser arrolados em seu catálogo. Esses homens
sacrílegos usam a Igreja como pretexto para impor a tirania, não cuidando dos
absurdos em que eles e os outros se enredam, desde que possam extorquir dos
incultos que concordem não haver nada que a Igreja não possa. Se é assim, que será
das miseras consciências que buscam a sólida segurança da vida eterna, se todas as
promessas sobre ela se apoiam apenas no juízo humano? Se aceitam tal resposta, não
haverão de tremer e se intranquilizar? Ademais, como os ímpios escarnecerão de
nossa fé e quantas suspeitas cairão sobre ela se é por mercê dos homens que a
Escritura tem uma tão precária autoridade? (CALVINO, 2008, págs. 71-72)

Se a autoridade da Escritura fosse chancelada pela igreja, de novo ela não seria digna
de confiança. A igreja, ainda que composta por aqueles que foram chamados para a vida, é
feita desses ainda falhos e em processo. Se a compreensão da autoridade bíblica fosse
determinada pela igreja estaríamos perdidos. Ela seria então facilmente alterável, já que
estando à mercê dos caprichos dos homens, sua vontade volúvel a organizaria e delimitaria.
No então, não cabe a igreja o poder de outorgar poder e autoridade a Escritura

A principal prova da Escritura é que nela Deus fala pessoalmente. Os profetas e


apóstolos não alegam nem sua própria agudeza, nem eloquência, tampouco aduzem
razões, mas proferem o sagrado nome de Deus por honra do qual todos são coagidos
à obediência. [...] Como os homens profanos entendem que a religião depende de
opinião, para não crerem de modo tolo ou leviano, querem que se prove com razões
que Moisés e os profetas falaram por Deus. Respondo que o testemunho do Espírito
é superior a toda razão. Assim como só Deus é testemunha idônea de sua Palavra,
também não se dará fé à Palavra no coração dos homens sem o testemunho interior
do Espírito. Portanto, é necessário que o Espírito que falou pela boca dos profetas
penetre em nosso coração, para que sejamos persuadidos de que proferiram
fielmente o mandamento divino. (CALVINO, 2008, págs. 74-75)

A compreensão quanto a autoridade e validade da Escritura parte, antes de tudo, do


Espírito de Deus que aplica essas verdades no coração daqueles que com a Bíblia tem
contato.
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A relação entre o caráter de Deus e a natureza da Bíblia como Palavra divina também
tem implicações na forma como as Escrituras são interpretadas. A compreensão da Bíblia
como uma revelação fundamentada no caráter divino implica em abordar os textos sagrados
com humildade, reverência e busca pela verdade. Ao reconhecer que Deus é santo, amoroso,
fiel, imutável e onisciente, os fiéis são motivados a se aproximar da leitura das Escrituras com
uma postura de submissão e obediência, reconhecendo que a Palavra de Deus é a autoridade
final em suas vidas.

Essa compreensão também enfatiza a importância da hermenêutica na interpretação


das Escrituras. A hermenêutica é a ciência da interpretação dos textos bíblicos, e seu objetivo
é discernir o significado original dos textos dentro de seus contextos históricos e culturais, ao
mesmo tempo em que se aplica a mensagem de forma relevante e transformadora nos dias
atuais. Uma abordagem hermenêutica sensível ao caráter divino das Escrituras busca
descobrir a vontade de Deus para a humanidade em cada contexto específico, reconhecendo
que as Escrituras têm uma aplicação dinâmica e contínua na vida das pessoas.
Em conclusão, a Bíblia como revelação divina está profundamente fundamentada no
caráter de Deus, refletindo Sua santidade, verdade, imutabilidade e muito mais do seu caráter.
Essa compreensão da relação entre o caráter divino e as Escrituras influencia a forma como os
fiéis enxergam e interpretam os textos sagrados. Acreditando na Palavra de Deus como a
expressão infalível da vontade divina, os fiéis encontram orientação, esperança e
transformação em suas vidas. A confiança na Bíblia como uma fonte eterna e inalterável de
verdade espiritual é o alicerce de uma fé sólida e arraigada na pessoa de Deus. Portanto, a
Bíblia como revelação divina permanece atemporal e significativa para a humanidade,
iluminando o caminho para a reconciliação com Deus e oferecendo a promessa da vida eterna
em Jesus Cristo.
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3. A CONFIABILIDADE HISTÓRICA DA ESCRITURA:

Reconhecer a Escritura como palavra de Deus e, portanto, fundamentada no seu


caráter é essencial, mas é só o pontapé inicial nesse projeto. Muitos questionamentos surgiram
ao longo dos séculos sobre a validade histórica desses escritos bíblicos, isso porque embora
seja a palavra de Deus é um material escrito por dezenas de autores durante um período
extenso de tempo da história humana. Embora não seja um texto comum, é importante
analisá-lo com critérios similares a análise realizada com outros materiais da antiguidade. É o
que centenas de estudiosos têm feito: se debruçar sobre a questão da confiabilidade histórica
da Escritura, utilizando evidências e métodos próprios do estudo histórico para atestar a
autenticidade e confiabilidade dos textos.
Um dos aspectos cruciais para a confiabilidade histórica da Bíblia é a sua formação ao
longo dos tempos. O cânon bíblico, que corresponde aos livros sagrados que compõem a
Bíblia, foi construído de forma gradual e criteriosa. Diversos manuscritos antigos foram
considerados ao longo desse processo, com líderes religiosos e estudiosos analisando sua
autenticidade e relevância para a fé cristã. Nas palavras de Bruce M. Metzger, professor de
Teologia no seminário de Princeton:

"Existem vários fatores que sugerem que a Bíblia é um relato confiável dos eventos
históricos que descreve. Primeiro, a Bíblia é o livro mais antigo e bem preservado do
mundo antigo. Existem milhares de manuscritos antigos da Bíblia, que foram
copiados com grande precisão. Isso indica que a Bíblia foi transmitida com grande
cuidado ao longo dos séculos. [...] a Bíblia foi aceita pela igreja primitiva como um
relato confiável da história. Os primeiros cristãos acreditavam que a Bíblia era a
palavra de Deus e que continha uma revelação divina. Isso indica que a Bíblia foi
considerada um relato confiável da história pelos primeiros cristãos." ( Tradução
METZGER, 2005, p. 2)

Grande parte do conteúdo da Escritura consiste em narrativas históricas que registram


eventos e acontecimentos do povo de Deus, mas também dos povos e culturas ao redor. Essas
narrativas também ajudam a reforçar essa confiabilidade histórica:

"A Bíblia é consistente com outras fontes históricas. Por exemplo, os relatos bíblicos
da história do Egito, da Assíria e da Babilônia são consistentes com os relatos de
historiadores antigos. Isso indica que a Bíblia é um relato confiável dos eventos
históricos que descreve." ( Tradução MCDONALD, 2009, p. 2)

Apesar de sua confiabilidade histórica, a Bíblia não é um livro de história no sentido


tradicional. A Bíblia não é uma coleção de fatos imparciais, mas sim um relato de como Deus
15

interagiu com o povo de Israel e com o mundo. A Bíblia é a revelação de quem Deus é para
aqueles que ele chamou, e deve ser lida como tal. Sendo assim, os argumentos históricos
precisam caminhar alinhados com a compreensão da revelação de Deus e do conceito de
inspiração da Escritura. E para tanto, precisamos analisar qual a compreensão os primeiros
cristãos que viviam no período histórico mais próximo da Escritura tinha sobre ela.

3.1 O TESTEMUNHO DA IGREJA PRIMITIVA

Para começar a discussão proposta neste capítulo precisamos analisar a questão do


testemunho dos primeiros cristãos sobre a validade e veracidade da Escritura. A
compreensão da igreja primitiva em relação à Bíblia como a Palavra de Deus é essencial
para entendermos a importância histórica e a preservação desses textos sagrados ao longo
dos séculos. Os primeiros cristãos consideravam a Bíblia como uma fonte divina de
orientação e ensinamento, e a igreja primitiva desempenhou um papel fundamental na
preservação e transmissão desses escritos sagrados.
Os escritos dos pais da igreja primitiva, como Irineu e Tertuliano, são valiosos para
entendermos como a Bíblia era vista e utilizada pelos primeiros cristãos. Irineu, em sua
obra "Contra as heresias", defende a autoridade e autenticidade dos Evangelhos,
afirmando que eles são fundamentais para a fé cristã, pois testemunham a vida, os
ensinamentos e a ressurreição de Jesus Cristo. Ele argumenta que os Evangelhos são
essenciais para refutar as heresias e preservar a ortodoxia cristã. Tertuliano, em "O
testemunho da alma", também destaca a importância da Bíblia como guia para a verdade e
a moralidade.
Para os primeiros cristãos, a Bíblia era vista como a Palavra de Deus, escrita por
inspiração divina. Eles acreditavam que esses textos transmitiam verdades eternas e
imutáveis, sendo uma fonte de sabedoria e orientação espiritual para a comunidade cristã.
A igreja primitiva reconhecia a autoridade desses escritos e os utilizava como referência
para sua fé e prática.
A cópia e a disseminação dos manuscritos bíblicos eram atividades
cuidadosamente supervisionadas por líderes religiosos, copistas e estudiosos dedicados.
Essa dedicação à preservação dos escritos bíblicos foi impulsionada pelo reconhecimento
de sua importância para a fé e a identidade cristã.
Os primeiros manuscritos do Novo Testamento eram escritos em papiro ou
pergaminho, materiais frágeis que requeriam um cuidado especial para sua conservação. A
16

igreja primitiva empreendeu grandes esforços para garantir que esses manuscritos fossem
copiados com precisão e que as cópias resultantes fossem distribuídas e preservadas de
maneira adequada.
Os escribas e copistas eram especialmente treinados para copiar os textos com
exatidão e reverência. A prática de "leitura pública" era comum nas comunidades cristãs,
na qual os textos bíblicos eram lidos em voz alta durante os cultos e as reuniões da igreja.
Essa prática ajudava a verificar a precisão das cópias e a garantir que não houvesse erros
de transcrição.
Os líderes da igreja primitiva também se empenharam em estabelecer listas
canônicas, compilando os escritos considerados sagrados e autorizados pela comunidade
cristã. As listas canônicas variavam em diferentes regiões, e a definição final do cânon do
Novo Testamento só ocorreria mais tarde, em concílios posteriores da igreja. Contudo, a
aceitação e a preservação de determinados textos pelos primeiros cristãos foram cruciais
para sua posterior inclusão no cânon bíblico.
Um exemplo notável de um dos primeiros códices do Novo Testamento é o Códice
Sinaiticus, datado do século IV d.C., que contém grande parte do Antigo e do Novo
Testamento. Esse códice é uma das mais antigas e completas cópias da Bíblia e foi
descoberto no Mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai, no século XIX. Sua descoberta
foi um marco importante na pesquisa acadêmica da Bíblia, permitindo uma melhor
compreensão dos textos bíblicos antigos e de sua transmissão ao longo dos séculos.
Sabemos que a Bíblia é um livro único e que não pode ser comparado a nenhum
outro livro. A Bíblia é a Palavra de Deus e contém a verdade sobre Deus, o mundo e o
significado da vida. Era essa a mentalidade contida nos primeiros cristãos, isso fica
evidente ao analisarmos os escritos de algumas das figuras mais importantes deste
período. Irineu de Lyon escreveu:

"Os apóstolos, que receberam o anúncio do Senhor e o ensino direto por meio do
Espírito Santo, transmitiram-no a aqueles que estavam com eles. Estes, por sua vez,
transmitiram-no a nós. E nós, que temos a fé no Espírito Santo que habita em nós,
conservamos o que foi transmitido." (IRINEU, Contra as Heresias, 3.1.1)

E continua dizendo na sua obra Contra as Heresias:

"Acredito que a única Igreja de Deus é aquela que é fundada sobre a pedra da
verdade, que é Cristo Jesus, a pedra viva (1 Pedro 2:4-8), que todos os edifícios
devem ser construídos de acordo com o plano do mestre-construtor, o Senhor, pois
ele é o único que conhece o plano de construção" (IRINEU, Contra as Heresias,
3.2.2).
17

E ainda diz:

"O que foi transmitido aos primeiros cristãos por aqueles que viveram com o Senhor
e foram seus instrutores, isso nós o transmitimos sem misturar nada com nossa
própria especulação, mas como eles nos ensinaram que foi a verdade." (IRINEU,
Contra as Heresias, 1.10.1)

A Escritura é o lugar onde encontramos os “planos do mestre-construtor”. A


Escritura é preservada pela fé que eles tinham, e que nós devemos ter, no Espírito que as
preservou. A Escritura não é um livro de especulações humanas, mas a palavra de Deus
revelada a nós. Assim como Irineu, Tertuliano de Cartago tinha uma compreensão
preciosa sobre a importância da bíblia como revelação final de Deus:

"A Escritura, que é a revelação de Deus, é suficiente para tudo o que é necessário
para a salvação" (TERTULIANO, O Testemunho da Alma, 9).

"Acreditamos que a Escritura é divina e que os livros que são nela contidos são
inspirados por Deus. [...] Os cristãos têm grande cuidado para não perder nada das
Escrituras, e eles as preservam com grande zelo." (TERTULIANO, O Testemunho
da Alma, 19)

A transmissão do conteúdo bíblico pela igreja primitiva até a primeira compilação


canônica envolveu um processo complexo e cuidadoso, realizado ao longo de vários
séculos. Durante esse período, os textos sagrados foram copiados, preservados e
transmitidos de maneira diligente pelos primeiros cristãos. Para compreendermos o lastro
de confiabilidade histórica da Escritura é importante entendermos esse processo.
Os textos bíblicos, especialmente do Novo Testamento, foram originalmente
escritos em papiro ou pergaminho. Os autores inspirados, como os apóstolos e outros
discípulos de Jesus, escreveram as epístolas, os evangelhos e outros livros diretamente em
rolos de papiro ou pergaminho. Essas primeiras cópias manuscritas foram fundamentais
para a transmissão inicial dos escritos. Junto ao registro escrito, a leitura pública
desempenhou um papel essencial na transmissão do conteúdo bíblico. Nas reuniões e
cultos da igreja primitiva, os textos bíblicos eram lidos em voz alta para toda a
comunidade. Essa prática garantia que os textos fossem ouvidos e verificados por várias
pessoas, reduzindo a possibilidade de erros de transcrição.
Com o tempo foi surgindo a necessidade de cópias adicionais dos textos bíblicos, à
medida que a mensagem cristã se espalhava para novas regiões. Os escribas e copistas
18

eram responsáveis por copiar os textos sagrados com precisão. Esses copistas eram
frequentemente monges ou clérigos treinados, dedicados a reproduzir os manuscritos com
exatidão. É justamente essa extensa produção de manuscritos que nos ajuda a averiguar
com mais cuidado a veracidade da Escritura, como veremos adiante.
A transmissão do conteúdo bíblico também ocorreu por meio de rotas comerciais e
missões cristãs. À medida que o cristianismo se espalhava para diferentes áreas
geográficas, os textos bíblicos eram levados a outras comunidades cristãs por missionários
e viajantes.
Em resumo, a transmissão do conteúdo bíblico pela igreja primitiva até a primeira
compilação canônica católica envolveu a cópia cuidadosa dos manuscritos, a leitura
pública nas reuniões da igreja, o papel de líderes religiosos e escribas, a preservação em
bibliotecas e mosteiros e a disseminação por rotas comerciais e missões. A dedicação e o
zelo dos primeiros cristãos foram fundamentais para a preservação desses textos sagrados,
permitindo que a Bíblia se tornasse uma fonte eterna de orientação e inspiração para os
fiéis ao longo dos séculos.

3.2 A CONSTRUÇÃO DO CÂNONE:

Como vimos na seção anterior, a preservação da Escritura se deu por um amplo


processo até termos uma compilação final do cânone bíblico, mas o que é cânone? O cânone
bíblico é o conjunto de livros que a igreja cristã considera inspirados por Deus e que fazem
parte da Bíblia. O processo de formação do cânone foi longo e gradual, e levou vários séculos
para que todos os livros da Bíblia fossem aceitos. A história da formação do cânon bíblico é
complexa e fascinante. O processo de formalização do cânone foi desenvolvido especialmente
ao longo dos primeiros séculos da era comum.
Os primeiros cristãos não tinham um cânone definido da Bíblia, pelo menos não nos
termos que temos hoje. Eles se baseavam nas Escrituras Judaicas, o que hoje chamamos de
Antigo Testamento, como parte essencial de sua fé. Jesus em todo o seu ministério endossa a
compreensão dos livros do AT como palavra de Deus, nesse quesito não havia muita dúvida,
Deus fala com seu povo através da sua palavra e o cânone do que veio a se tornar o AT já era
consolidado e reconhecidamente inspirado por Deus. No entanto, com o tempo eles passaram
a usar uma variedade de livros que vinham sendo compostos ainda no primeiro século da era
cristã, como os evangelhos, os Atos dos Apóstolos e as epístolas. No entanto, não havia
consenso sobre quais destas obras eram inspiradas por Deus e quais não eram.
19

A seleção e o reconhecimento dos textos canônicos foram um processo gradual. Ao


longo dos primeiros séculos do cristianismo, a igreja primitiva reconheceu os escritos
considerados inspirados e autorizados. Cartas apostólicas, evangelhos e outros escritos foram
amplamente aceitos desde os primeiros séculos do Cristianismo, ainda que sem um consenso
final, pelas comunidades cristãs como sagrados e dignos de serem lidos nas reuniões da igreja.
A primeira compilação canônica descoberta, conhecida como o Cânon de Muratori, surgiu por
volta do final do século II ou início do século III e foi descoberta em 1740. Esse cânon incluía
a maioria dos livros do Novo Testamento que conhecemos hoje. Ao longo dos séculos
subsequentes, outros concílios e autoridades eclesiásticas continuaram a definir e confirmar o
cânon bíblico.

Figura 2 Cânon de Muratori (Biblioteca Ambrosiana, Milão)

Esse processo de seleção final se deu ao longo de debates e concílios, nos quais líderes
religiosos e estudiosos discutiam a autenticidade e a inspiração divina de cada texto. O critério
fundamental para a inclusão dos livros no cânon era sua Apostolicidade, ou seja, a conexão
direta com os apóstolos de Jesus Cristo ou com pessoas próximas a eles. Ainda que o
consenso possa ter levado certo tempo, alguns textos já iam se destacando e sendo
naturalmente reconhecidos pela igreja. Esse reconhecimento de alguns livros como
evidentemente inspirados por Deus acontecem ainda na época dos apóstolos enquanto o
cânone ainda está sendo produzido, na segunda epístola de Pedro, por exemplo, ao falar dos
escritos de Paulo, Pedro os iguala as demais Escrituras:

“Ele escreve da mesma forma em todas as suas cartas, falando nelas destes assuntos.
Suas cartas contêm algumas coisas difíceis de entender, as quais os ignorantes e
instáveis torcem, como também o fazem com as demais Escrituras, para a própria
destruição deles. (2 Pedro 3:16)

Como também o apóstolo Paulo o faz ao citar o evangelho de Lucas na 1ª epístola a


Timóteo: “ pois a Escritura diz: "Não amordace o boi enquanto está debulhando o cereal", e "o
20

trabalhador merece o seu salário". (1 Timóteo 5:18). Esses exemplos ajudam a compreender
que embora os concílios sirvam para a formalização do cânone esse processo é permeado por
muita naturalidade e por uma compreensão partida de toda a igreja desde muito cedo.
Os pais da igreja primitiva, como Justino Mártir e Irineu, desempenharam papeis
cruciais na promoção de textos considerados genuínos, enquanto outros foram rejeitados
como apócrifos. Entre os séculos II e IV, o cânon do Novo Testamento gradualmente tomou
forma, com a influência dos bispos e líderes das igrejas locais e regionais, mas também da
cristandade como um todo.
Através do estudo e análise dos manuscritos antigos, como os Manuscritos do Mar
Morto e os manuscritos do Novo Testamento encontrados em Nag Hammadi, os estudiosos
modernos foram capazes de traçar a evolução do cânon e confirmar a confiabilidade histórica
dos textos selecionados. Segundo Bruce Metzger, os critérios usados para selecionar os livros
para o cânone incluíam:

• A origem divina dos livros: os livros selecionados para o cânone foram aqueles
definidos, após análise, como inspirados por Deus.
• A autenticidade dos livros: os livros incluídos no cânone foram aqueles considerados
autênticos, ou seja, que após estudos foi provado que foram escritos pelos autores
assumidos.
• A relevância dos livros: os livros do cânone foram considerados relevantes para a fé e
a vida cristã foram selecionados.

Diante disso tudo, se percebe que a construção do cânon bíblico foi um processo
cuidadoso que se estendeu por vários séculos, no qual os líderes religiosos e estudiosos da
época empregaram critérios rigorosos para selecionar os livros que compõem a Bíblia que
conhecemos hoje. Através do estudo de fontes históricas confiáveis, podemos compreender a
solidez dos fundamentos sobre os quais repousa a palavra de Deus, perpetuando sua
relevância e caráter eterno ao longo dos tempos. Os teólogos mais importantes na construção
do Cânone bíblico foram:

• Agostinho de Hipona (354-430)


• Jerônimo (347-420)
21

• Atanásio de Alexandria (296-373)


• Irineu de Lyon (130-202)
• Orígenes de Alexandria (184-253)

Os critérios usados pelos pais apostólicos e demais líderes cristãos do primeiro século
para a escolha dos manuscritos que comporiam o cânon bíblico foram diversos e evoluíram ao
longo do tempo. Vale ressaltar que o processo de formação do cânon foi gradual, estendendo-
se por vários séculos e variando em diferentes comunidades cristãs. É importante notar que o
processo não foi linear. Houve momentos em que houve um consenso geral sobre quais livros
deveriam ser incluídos no cânon, mas houve também momentos em que houve debates e
disputas.

Alguns dos critérios mais importantes incluem:

1. Apostolicidade: Um dos critérios fundamentais era a conexão direta dos escritos com
os apóstolos de Jesus Cristo ou com pessoas próximas a eles. Textos que eram
atribuídos aos apóstolos ou considerados como tendo sido escritos por testemunhas
oculares tinham maior probabilidade de serem aceitos no cânon.
2. Ortodoxia: Os textos selecionados precisavam estar em conformidade com as crenças
e ensinamentos considerados ortodoxos pela igreja primitiva. Escritos que
contradiziam as doutrinas cristãs centrais ou que promoviam ideias consideradas
heréticas eram rejeitados.
3. Uso litúrgico e de ensino: Os textos que eram amplamente utilizados nas práticas
litúrgicas e no ensino das comunidades cristãs eram favorecidos para inclusão no
cânon. Livros que tinham uma função prática e espiritual bem estabelecida eram
considerados mais valiosos.
4. Consenso entre as comunidades: O consenso geral entre as comunidades cristãs era
relevante na escolha dos manuscritos. Livros que eram amplamente aceitos e
reconhecidos como sagrados por diversas comunidades geograficamente dispersas
tinham maior probabilidade de serem incluídos no cânon.
5. Continuidade com a tradição judaica: A igreja primitiva valorizava a continuidade
com a tradição judaica, e muitos textos do Antigo Testamento foram naturalmente
incluídos no cânon cristão.
22

6. Inspiração divina: A crença de que os escritos selecionados eram inspirados por Deus
foi um critério fundamental. Deus estava atuando na preservação e escolha desses
escritos para guiar a fé e a prática dos cristãos.
7. Aceitação eclesiástica: A aceitação e o endosso dos livros por líderes eclesiásticos
influentes e figuras proeminentes da igreja primitiva também desempenharam um
papel importante na seleção dos manuscritos.

É importante notar que os critérios variaram de acordo com as diferentes comunidades


cristãs e que algumas obras consideradas controversas foram objeto de debates prolongados
antes de serem definitivamente aceitas ou rejeitadas. Esse processo de seleção e formação do
cânon bíblico foi concluído ao longo dos primeiros séculos da era comum e resultou na
coleção dos textos sagrados que compõem a Bíblia que conhecemos hoje.
Como dito anteriormente, por mais natural que tenha sido o processo de composição
do cânone, ele não foi livre de controvérsias. Em 1545, alguns anos depois da publicação das
95 teses de Martinho Lutero que iniciam a reforma protestante, a igreja católica se reúne no
Concílio de Trento. Seu principal objetivo era responder à Reforma Protestante e reafirmar a
doutrina católica em meio aos desafios que a igreja enfrentava na época. A citação desse
concílio se faz necessária pois é nele que teremos a formalização e reafirmação da inclusão
dos livros extras presentes no AT da bíblia católica (Tobias, Judite, I Macabeus, II Macabeus,
Baruque, Sabedoria e Eclesiástico) e trechos extras nos livros de Ester (10:4 a 11:1 ou a
16:24) e Daniel (3:24-90 e os capítulos 13 e 14))
A principal objeção dos protestantes em relação à definição do cânon no Concílio de
Trento foi a inclusão dos deuterocanônicos no Antigo Testamento. Os reformadores
acreditavam que esses livros não possuíam a mesma autoridade e inspiração divina que os
demais livros do Antigo Testamento e, portanto, não deveriam ser considerados como
Escritura Sagrada. A posição protestante em relação ao cânone da Bíblia é uma das principais
diferenças teológicas com a Igreja Católica Romana.
A problemática dos livros deuterocanônicos se dá por alguns fatores como: a) Esses
livros não fazem parte do cânon hebraico do Antigo Testamento; b) Nenhum desses livros ou
trechos adicionais foram citados por Jesus ou por qualquer um dos autores bíblicos do NT; e
c) A maior problemática dessas obras são os ensinos que elas apresentam. Um princípio
hermenêutico básico é de que a Escritura explica a própria Escritura. Como palavra de Deus, a
bíblia não pode, e não se contradiz. E justamente por isso que doutrinas não podem ser
23

fundamentadas em textos isolados da Escritura, mas na sua macro compreensão. O problema é


que esses livros deuterocanônicos apresentam ensinos contrários ao restante da Escritura.
Alguns exemplos desses ensinos: a doutrina da oração pelos mortos (II Macabeus
12:42-46; contrariando Isaías 38:18 e 19); de que o fundo dos órgãos de um peixe, postos
sobre brasas, espantam os demônios (Tobias 6:5-8; contrastando com Marcos 9:17-29); a
existência do purgatório (Sabedoria 3:1-9; divergindo do Salmo 6:5; e de Eclesiastes 9:5, 10);
o ensino de que as esmolas expiam o pecado (Tobias 12:8 e 9; Eclesiástico 3:30; divergindo
com I Pedro 1:18 e 19; I João 1:7-9). Todos esses fatores indicam a razão pela qual tais livros
são dispensados na tradição protestante. Esses materiais podem ser usados como obras de
apoio para se entender a história e a cultura representadas em seu conteúdo, mas
definitivamente não podem ser compreendidos como Palavra Inspirada de Deus.
Em suma, nesta sessão podemos compreender um pouco melhor sobre a composição
do cânone cristão e como essa formação aponta para a confiabilidade histórica da Escritura.
Deus por sua graça, não só oferece a sua palavra e a revela ao seu povo, como sustenta e
orienta todo o caminha para que a Bíblia se mantivesse exatamente como deveria ser por toda
a história. Um dos critérios usados pelos primeiros cristãos para determinar a escolha dos
escritos sagrados é a Apostolicidade e isso tem muita relação com o que será exposto a seguir.
Para entender a confiabilidade da Escritura é necessário entender, ainda que brevemente, a
questão dos manuscritos e seu papel na reafirmação da veracidade histórica da Escritura.

3.3 OS MANUSCRITOS:

A importância dos manuscritos antigos encontrados e sua contribuição para a validade


histórica da Bíblia são fundamentais para compreendermos a autenticidade e a integridade dos
textos sagrados. Ao longo dos séculos, inúmeras cópias manuscritas foram produzidas,
transmitindo os ensinamentos bíblicos de geração em geração. A descoberta de manuscritos
antigos, desencadeou um novo campo de pesquisa acadêmica, a crítica textual, que busca
examinar, comparar e avaliar essas fontes para reconstruir o texto original da Bíblia.
Os manuscritos bíblicos eram frequentemente guardados em bibliotecas e mosteiros.
Os mosteiros eram importantes centros de cópia e preservação de manuscritos, onde os
monges copistas se dedicavam a reproduzir os textos sagrados. A biblioteca do mosteiro de
cada região muitas vezes abrigava cópias preciosas dos textos bíblicos.
24

Entre os manuscritos antigos mais notáveis estão os Manuscritos do Mar Morto,


descobertos entre 1947 e 1956 em cavernas próximas ao Mar Morto, em Qumran, Israel.
Esses manuscritos incluem cópias de muitos livros do Antigo Testamento, datando do século
III a.C. até o primeiro século d.C. Os Manuscritos do Mar Morto são significativos porque
fornecem evidências preciosas sobre a transmissão e preservação dos textos bíblicos ao longo
dos séculos.
A análise crítica do texto grego da Bíblia também é uma área de pesquisa importante.
O Novo Testamento foi originalmente escrito em grego koiné, e a vasta quantidade de
manuscritos gregos disponíveis possibilita o estudo comparativo das variantes textuais. A
pesquisa textual, oferece insights sobre como os textos foram copiados, transmitidos e
preservados ao longo dos séculos. Através desses manuscritos, os estudiosos puderam
comparar diferentes versões dos textos bíblicos e discernir as variantes que surgiram ao longo
do tempo. Essas variantes podem ser resultado de erros de copistas, alterações intencionais ou
acréscimos que ocorreram ao longo dos séculos. A crítica textual visa identificar essas
variantes e determinar qual é a leitura mais provável e autêntica do texto original.
Outro conjunto significativo de manuscritos é a Septuaginta, uma tradução do Antigo
Testamento para o grego realizada no período helenístico. Essa tradução foi amplamente
utilizada por judeus e cristãos no mundo antigo e, consequentemente, teve um impacto
considerável na transmissão do texto bíblico em língua grega.
Esses manuscritos e sua relevância para a pesquisa acadêmica permitem que os
estudiosos examinem e compreendam melhor o desenvolvimento dos textos bíblicos, bem
como as mudanças e adaptações que ocorreram ao longo do tempo. Através desse trabalho,
podemos perceber que a Bíblia não é um livro estático, mas um documento vivo, moldado por
diferentes contextos históricos e culturais. É importante notar que a descoberta de novos
manuscritos continua a enriquecer nosso entendimento da Bíblia. Recentemente, avanços
tecnológicos, como a digitalização de manuscritos e o desenvolvimento de softwares de
análise textual, têm permitido um acesso mais amplo a esses materiais e acelerado a
velocidade das pesquisas.
Embora os manuscritos antigos tenham sido preservados com grande cuidado ao longo
dos séculos, ainda encontramos desafios na tarefa de reconstruir o texto original da Bíblia.
Algumas variantes textuais permanecem sem uma solução definitiva, e a pesquisa textual é
uma disciplina complexa e contínua. Através desses estudos, os estudiosos podem traçar a
evolução dos textos bíblicos e compreender como eles foram transmitidos ao longo dos
séculos.
25

Embora a crítica textual encontre os seus desafios, ela nos permite compreender com a
preservação desses manuscritos que apontam para a cuidado de Deus em preservar a sua
revelação. A riqueza dessas fontes antigas confirma o caráter eterno da Palavra de Deus e nos
permite apreciar a profundidade e a diversidade dos registros escritos que compõem a Bíblia.

3.3.1 ALGUNS DOS PRINCIPAIS MANUSCRITOS:

Os manuscritos antigos encontrados são importantes porque fornecem evidências da


autenticidade e confiabilidade da Bíblia. Esses manuscritos são cópias do texto bíblico que
foram feitas nos primeiros séculos após a morte de Jesus Cristo. Eles são muito semelhantes
entre si, o que indica que o texto bíblico foi preservado com precisão ao longo dos séculos. Os
principais manuscritos encontrados são o Papiro 45, o Papiro 66, o Papiro 75, o Codex
Sinaiticus, o Codex Vaticanus e o Codex Alexandrinus. Esses manuscritos são datados do
século II ao século IV d.C., e eles contêm o texto completo do Novo Testamento, bem como
partes do Antigo Testamento. Os principais manuscritos encontrados são:

1. Codex Sinaiticus
Motivação para a inclusão: O Codex Sinaiticus é um dos manuscritos mais antigos da
Bíblia e é considerado uma das fontes mais confiáveis do texto bíblico. Ele foi escrito no
século IV d.C. e contém o texto completo do Antigo e do Novo Testamento em grego. O
detentor original do Codex Sinaiticus era um monge do Monte Sinai, que o doou à
Biblioteca Britânica em 1844, onde permanece até hoje.

2. Codex Vaticanus
Motivação para a inclusão: O Codex Vaticanus é outro dos manuscritos mais
antigos da Bíblia e é considerado uma das fontes mais confiáveis do texto bíblico. Ele foi
escrito no século IV d.C. e contém o texto completo do Antigo e do Novo Testamento em
grego. O Codex Vaticanus atualmente está localizado na Biblioteca do Vaticano, em
Roma, Itália.

3. Codex Alexandrinus
26

Motivação para a inclusão: O Codex Alexandrinus é um manuscrito do século V


d.C. que contém o texto completo do Antigo e do Novo Testamento em grego. Ele é
considerado uma fonte confiável do texto bíblico, mas não tão confiável quanto o Codex
Sinaiticus ou o Codex Vaticanus. O Codex Alexandrinus atualmente está localizado na
Biblioteca Britânica, em Londres, Inglaterra.
.
4. Papirus 45
Motivação para a inclusão: O Papiro 45 é um fragmento do século III d.C. que
contém o texto de Marcos 6-10. Ele é considerado um dos manuscritos mais antigos do
Novo Testamento e é considerado uma fonte confiável do texto bíblico. O detentor
original do Papiro 45 era um monge do Egito, que o doou ao Museu Britânico em 1892. O
Papiro 45 atualmente está localizado na Biblioteca Britânica, em Londres, Inglaterra.

5. Papirus 66
Motivação para a inclusão: O Papiro 66 é um manuscrito do século IV d.C. que
contém o texto completo do Evangelho de João. Ele é considerado um dos manuscritos
mais importantes do Novo Testamento e é considerado uma fonte confiável do texto
bíblico. O detentor original do Papiro 66 era um monge do Egito, que o doou ao Museu
Britânico em 1907. O Papiro 66 atualmente está localizado na Biblioteca Britânica, em
Londres, Inglaterra.

6. Papirus 75
Motivação para a inclusão: O Papiro 75 é um manuscrito do século III d.C. que
contém o texto de Mateus 1-25 e Marcos 1-16. Ele é considerado um dos manuscritos
mais importantes do Novo Testamento e é considerado uma fonte confiável do texto
bíblico. O detentor original do Papiro 75 era um monge do Egito, que o doou ao Museu
Britânico em 1931. O Papiro 75 atualmente está localizado na Biblioteca Britânica, em
Londres, Inglaterra.

Esses 6 manuscritos foram citados pois são os mais importantes para a construção do
texto sagrado da bíblia como temos hoje. Esse fica evidente quando comparamos livro por
livro os manuscritos mais relevantes:
27

• Gênesis: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Êxodo: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Levítico: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Números: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Deuteronômio: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex
Vaticanus
• Josué: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Juízes: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Rute: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• 1 Samuel: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• 2 Samuel: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• 1 Reis: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• 2 Reis: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• 1 Crônicas: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• 2 Crônicas: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Esdras: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Neemias: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Ester: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Jó: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Salmos: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Provérbios: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Eclesiastes: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Cântico dos Cânticos: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex
Vaticanus
• Isaías: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Jeremias: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Lamentações: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Ezequiel: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Daniel: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Oséias: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Joel: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Amos: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Obadias: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Jonas: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
28

• Miquéias: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Naum: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Habacuque: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Sofonias: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Ageu: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Zacarias: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Malaquias: Papiro 45, Papiro 66, Papiro 75, Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus
• Mateus: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex Bezae,
Codex Claromontanus
• Marcos: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex Bezae,
Codex Claromontanus
• Lucas: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex Bezae,
Codex Claromontanus
• João: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex Bezae,
Codex Claromontanus
• Atos dos Apóstolos: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus,
Codex Bezae, Codex Claromontanus
• Romanos: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex Bezae,
Codex Claromontanus
• 1 Coríntios: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex
Bezae, Codex Claromontanus
• 2 Coríntios: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex
Bezae, Codex Claromontanus
• Gálatas: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex Bezae,
Codex Claromontanus
• Efésios: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex Bezae,
Codex Claromontanus
• Filipenses: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex
Bezae, Codex Claromontanus
• Colossenses: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex
Bezae, Codex Claromontanus
• 1 Tessalonicenses: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus,
Codex Bezae, Codex Claromontanus
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• 2 Tessalonicenses: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus,


Codex Bezae, Codex Claromontanus
• 1 Timóteo: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex
Bezae, Codex Claromontanus
• 2 Timóteo: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex
Bezae, Codex Claromontanus
• Tito: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex Bezae,
Codex Claromontanus
• Filemom: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex Bezae,
Codex Claromontanus
• Hebreus: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex Bezae,
Codex Claromontanus
• Tiago: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex Bezae,
Codex Claromontanus
• 1 Pedro: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex Bezae,
Codex Claromontanus
• 2 Pedro: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex Bezae,
Codex Claromontanus
• 1 João: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex Bezae,
Codex Claromontanus
• 2 João: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex Bezae,
Codex Claromontanus
• 3 João: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex Bezae,
Codex Claromontanus
• Apocalipse: Codex Sinaiticus, Codex Vaticanus, Codex Alexandrinus, Codex
Bezae, Codex Claromontanus

Ainda vale citar alguns papiros menos importantes, mas ainda assim com certa
relevância na ampla compreensão da historicidade bíblica:

• O Papiro Bodmer II: Este papiro contém partes dos Evangelhos de Mateus e
Marcos e é datado do século III d.C.
30

• O Papiro Egerton 2 Este papiro contém partes dos Evangelhos de Mateus e Lucas e
é datado do século II d.C.
• O Papiro Chester Beatty II: Este papiro contém partes dos Evangelhos de Mateus,
Marcos, Lucas e João e é datado do século III d.C.
• O Papiro Chester Beatty I: Este papiro contém partes do Antigo Testamento e é
datado do século III d.C.
• O Papiro Chester Beatty III: Este papiro contém partes dos Evangelhos de Mateus,
Marcos, Lucas e João e é datado do século III d.C.

Devido a limitação de espaço deste trabalho e também a vastidão do campo da


crítica textual, não é possível abordar com maior profundidade a questão dos manuscritos,
no entanto, mesmo essa análise básica já nos permite compreender que a Escritura é um
dos textos antigos com maior autenticidade devido a tantos papiros e manuscritos
analisados. Essa constatação fortalece ainda mais a certeza da preservação do texto
sagrado e da relevância e validade perene da Palavra de Deus.
Em resumo, este capítulo tinha o objetivo de analisar, ainda que de maneira básica,
a historicidade do texto sagrado. Diante de tudo que foi dito, percebemos o cuidado dos
primeiros cristãos na preservação da Escritura, como o processo de construção do cânone
foi natural, mas também intencional se utilizando de critérios importantes na escolha dos
livros. A análise dos manuscritos de igual maneira nos ajuda a compreender a evolução da
preservação da Escritura e a veracidade do texto sagrado. Todas essas coisas apontam para
a confiabilidade histórica da Palavra de Deus.
31

4. O QUE FAZ A ESCRITURA RELEVANTE HOJE?

Todo o caminho que foi pavimentado até aqui leva a questão, o que isso tudo
tem a ver com o hoje? Entender a Escritura como documento histórico confiável e
como a eterna Palavra de Deus reforça sua relevância hoje. A atualidade da Bíblia
reside mais do que em sua capacidade de abordar questões universais e atemporais
da existência humana, mas na sua qualidade de revelação de Deus aos homens!
Os temas presentes nas Escrituras, como amor, esperança, perdão, redenção,
justiça social e relacionamentos, são relevantes para todas as culturas e sociedades.
A Bíblia oferece respostas para as perguntas fundamentais da vida e oferece
princípios éticos que transcendem barreiras culturais e temporais. Isso não significa
que a bíblia seja um livro de moralidade tão somente, ou uma coletânea de dicas
para ter um bom lifestyle. Toda a sua relevância está fundamentada na sua
mensagem principal, a história da redenção.

4.1 A GRANDE HISTÓRIA: A SALVAÇÃO COMO A MENSAGEM


CENTRAL DA PALAVRA DE DEUS

A Escritura sem dúvida conta muitas histórias, propõe muitas questões e oferece
várias respostas. Tudo isso, no entanto, acontece dentro de uma grande narrativa. Mais do
que uma coleção de história, a bíblia é uma única grande história que se desdobra através
da história. Como vimos, Deus se revela pela sua palavra e nesse processo, faz aquilo que
não podíamos fazer. Vale a pena recontar essa história.
A história da salvação começa no livro de Gênesis, quando Deus cria o mundo e a
humanidade, e tudo era bom. No entanto, o homem peca, abandonado sua função de
governante sobre a terra que Deus lhe deu, é expulso do Jardim do Éden. o mundo que era
permeado por bondade, comunhão e desfrute, agora é mergulhado em pecado, sofrimento
e morte.
No entanto, a história da salvação não termina em tragédia. Deus promete enviar
um salvador para redimir o homem do pecado. Deus escolhe homens e mulheres que vão
cumprindo seu papel na grande história, todos esses sabendo disso ou não, são simples
coadjuvantes que apontam e direcionam a narrativa para o grande protagonista, o salvador
que viria. Deus escolhe Abraão e sua família, faz dele pai de uma grande nação e faz um
32

pacto com esse povo. De desafio em desafio, de salvação em salvação, a história bíblica
avança até que, na plenitude dos tempos, o messias prometido vem ao mundo.
Em Jesus o pecado é perdoado, o sofrimento é findado e a morte aniquilada. O
ponto alto dessa história é a cruz na sexta e o sepulcro vazio de domingo. Jesus morre
pelos pecadores e ressuscita para que esses tenham vida, e vida abundante. A história da
salvação é uma história do Deus que oferece esperança para aqueles que estão perdidos,
perdão para aqueles que estão condenados pelo pecado e redenção para aqueles que estão
escravos do pecado.
A Bíblia, como a Palavra de Deus, apresenta uma narrativa abrangente que
percorre toda a sua extensão, revelando a história da salvação da humanidade por meio de
Jesus Cristo. Essa mensagem central é atemporal e continua significativa para a
humanidade, transcendendo as barreiras do tempo e das culturas. Graeme Goldsworthy,
em "Introdução à teologia bíblica: o desenvolvimento do evangelho em toda a Escritura",
é referência fundamental para compreendermos essa mensagem central e eterna da Bíblia.
A Bíblia pode ser vista como uma história em quatro atos: Criação, Queda,
Redenção e Consumação. Esse grande arco narrativo permeia toda a Bíblia e é a estrutura
que revela a história da salvação por meio de Jesus Cristo.

• Criação: O início da Bíblia narra a criação do universo e da humanidade por Deus.


O livro de Gênesis apresenta Deus como o Criador soberano, que fez o mundo por
Sua vontade e propósito. A criação é descrita como boa e perfeita, e o ser humano
é criado à imagem de Deus, refletindo a Sua natureza e propósito. Esse ato revela o
desejo de Deus por uma relação íntima e significativa com a humanidade.

• Queda: Infelizmente, a história da humanidade é marcada pela rebelião contra


Deus. O livro de Gênesis também apresenta a entrada do pecado no mundo, com
Adão e Eva desobedecendo a Deus e sendo expulsos do jardim do Éden. Essa
queda afetou toda a criação e trouxe a separação entre Deus e a humanidade. A
história da Bíblia continua a retratar a devastação do pecado na vida das pessoas e
na sociedade, revelando a necessidade urgente de redenção.
33

• Redenção: A história da salvação continua com a promessa de redenção por meio


de um Salvador. Ao longo do Antigo Testamento, vemos Deus fazendo alianças
com Seu povo, prometendo a Messias que traria a salvação. Essas promessas
apontam para a pessoa de Jesus Cristo, o cumprimento de todas as esperanças e
profecias do Antigo Testamento. Os evangelhos do Novo Testamento, revelam
como Jesus é o Salvador da humanidade que sacrificou Sua vida na cruz para
redenção de pecados.

• Consumação: O último ato da história da salvação é a consumação, que é a


esperança e a promessa da restauração completa de todas as coisas por meio de
Jesus Cristo. O livro de Apocalipse, escrito pelo apóstolo João, oferece uma visão
profética da consumação, onde Deus trará um novo céu e uma nova terra, livre de
dor, sofrimento e morte. Nessa consumação, os fiéis desfrutarão da presença eterna
de Deus, vivendo em plena comunhão com Ele.

A mensagem central da Bíblia é a história da salvação por meio de Jesus Cristo.


Essa narrativa abrange a criação, a queda, a redenção e a consumação, revelando a graça e
o amor de Deus pela humanidade, oferecendo a esperança de reconciliação e restauração.
Essa mensagem continua atemporal e significativa para a humanidade, pois fala
diretamente às questões fundamentais da existência humana: quem somos, de onde
viemos, por que estamos aqui e para onde vamos.
A história da salvação também é relevante para a humanidade porque aborda as
questões do pecado e da necessidade de redenção. Todos os seres humanos enfrentam o
desafio do pecado e da separação de Deus, e a história da salvação oferece a resposta para
essa necessidade. Através de Jesus Cristo, a humanidade é convidada a ser reconciliada
com Deus e a receber a graça e o perdão que só Ele pode oferecer.
A Escritura não apresenta a história da salvação como uma alternativa no meio de
tantos outros discursos religiosos, mas como a única resposta para as questões humanas.
Jesus se apresenta como: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a
não ser por mim. (João 14:6), não existe reconciliação com Deus a não ser em Jesus. O
evangelho de Jesus fala, portanto, a todos e em todo tempo, nos convidando também a
uma nova vida de retidão e justiça, refletindo o caráter de Deus em nossas ações e
relacionamentos. A história da salvação também é uma fonte de esperança, pois nos
34

lembra que o destino final da humanidade é a consumação, onde Deus trará a plenitude da
restauração e da vida eterna.
N. T. Wright, em "A ressurreição do Senhor", enfatiza a ressurreição de Jesus
como o ponto culminante da história da salvação. A ressurreição é a garantia da vitória
sobre o pecado e a morte, e é a base da esperança cristã para a consumação final. A
ressurreição de Jesus prova a Sua divindade e a eficácia de Sua obra redentora,
confirmando assim a veracidade e relevância contínua da mensagem da Bíblia para a
humanidade.
Ao abraçarmos a grande história da salvação contida na Bíblia, somos convidados
a viver uma vida de retidão e justiça, refletindo o caráter de Deus em nossas ações e
relacionamentos. Somos chamados a compartilhar a mensagem da salvação com o mundo
ao nosso redor, proclamando a esperança, o perdão e a reconciliação que só podem ser
encontrados em Jesus Cristo. A mensagem central da Bíblia é a essência de nossa fé e é
uma fonte inesgotável de sabedoria, conforto e inspiração em nossas jornadas espirituais.
A história da salvação continua a ressoar nos corações e mentes das pessoas, oferecendo
um significado profundo e duradouro à vida humana.
Hoje, como foi no passado e como será no futuro, Cristo oferece através de sua
Palavra tudo aquilo que as pessoas precisam. A mensagem da salvação oferece esperança
para aqueles que estão perdidos, lhes diz que não estão sozinhos e que há um Deus que os
ama e que quer salvá-los. Ela também oferece perdão para aqueles que estão condenados
pelo pecado. No mundo de hoje, há muitas pessoas que se sentem como se não fossem
boas o suficiente e que Deus não as ama. A mensagem da salvação oferece perdão para
essas pessoas. Ela lhes diz que é verdade, sua maldade é tudo que elas têm, mas em Cristo,
Deus as ama, e pelo sangue do cordeiro todas as suas transgressões estão perdoadas.
A mensagem da salvação oferece liberdade para aqueles que estão escravos do
pecado. Muitos sentem o peso da escravidão do pecado. Pessoas viciadas em drogas,
álcool ou sexo. Controladas pela raiva, pela amargura ou pelo medo. A mensagem da
salvação oferece redenção para essas pessoas. Ela lhes diz que Deus pode libertá-las do
pecado e lhes dar uma vida nova e livre.
A mensagem da salvação é uma mensagem poderosa que pode mudar a vida das
pessoas. É uma mensagem que oferece esperança, perdão e redenção para todos aqueles
que creem nela. A mensagem da salvação é também uma mensagem que é relevante para
todos os povos, em todas as épocas. Não importa a nossa situação, não importa os nossos
pecados, Deus está disposto a nos salvar. Ele nos ama e quer nos dar uma vida nova e
35

cheia de esperança. É o caráter perene da mensagem da salvação em Jesus, mais do que


qualquer outra coisa, que torna a Escritura não só relevante, mas necessária na sua
integralidade.

4.2 A NECESSIDADE DE CONTEXTUALIZAÇÃO E O CARÁTER


TRANSCULTURAL DO EVANGELHO

Como já foi dito, a mensagem principal da Escritura é atemporal e relevante para


todos os povos e línguas, em todo tempo. Isso, no entanto, impõe um desafio. Bíblia é um
livro que foi escrito há milhares de anos, em um contexto cultural muito diferente do
nosso. Como resultado, às vezes pode ser difícil relacionar e aplicar seus ensinamentos à
nossa própria vida. No entanto, sabemos que a Bíblia é também um livro que é eterno e
universal em sua mensagem. Isso significa que seus ensinamentos são relevantes para
todos os povos, em todas as épocas.
Para que a mensagem da Bíblia seja relevante para diferentes culturas e
sociedades, é necessário contextualizá-la. Isso significa interpretar os ensinamentos
bíblicos à luz do contexto cultural em que foram escritos, mas também à luz do contexto
cultural em que são aplicados.
A interpretação e aplicação dos ensinamentos bíblicos em diferentes contextos
culturais é uma necessidade permanente para que a mensagem seja relevante e significativa
para as pessoas em suas realidades locais. A hermenêutica, como uma metodologia de
interpretação bíblica, desempenha um papel crucial nesse processo de contextualização,
permitindo que o Evangelho seja compreendido e vivenciado de forma autêntica e
transformadora. O desafio é discernir o significado original dos textos bíblicos, que foram
escritos em contextos culturais distantes dos nossos dias, e ao mesmo tempo aplicar sua
mensagem de forma relevante para a atualidade. Nesse sentido, a interpretação
contextualizada é uma ferramenta valiosa para tornar o Evangelho acessível e aplicável em
diferentes culturas e sociedades.
A contextualização não implica em comprometer a essência do Evangelho, mas sim
em transmiti-la de forma compreensível e adaptada aos desafios e questionamentos do mundo
contemporâneo. O objetivo é manter a verdade bíblica inalterada, enquanto se aborda as
necessidades e questões específicas enfrentadas pelas pessoas em diferentes contextos.
A contextualização é um processo complexo e desafiador, mas é essencial para que
a mensagem da Bíblia seja compreendida e aplicada de forma eficaz. Quando
contextualizamos os ensinamentos bíblicos, estamos fazendo com que eles sejam
36

relevantes para as pessoas que estão ouvindo, e estamos ajudando a garantir que a
mensagem da Bíblia seja preservada e transmitida para as gerações futuras.
Contextualizar não é atualizar, contextualizar não é mudar ensinamentos ou alterar
conteúdo de acordo com a vontade das épocas e das culturas, mas sim apresentar o
Evangelho de maneira clara e aplicada a vida daqueles que o ouvem onde e quando quer
que estejam.
O caráter transcultural do Evangelho é uma das coisas que o torna tão poderoso. O
Evangelho é uma mensagem de esperança e redenção que é relevante para todos os povos,
independentemente de sua raça, etnia ou cultura. Ele é uma mensagem de amor e graça
que pode transformar vidas, independentemente das circunstâncias.
A contextualização é uma ferramenta importante para que a mensagem do
Evangelho seja compreendida e aplicada de forma eficaz em diferentes culturas e
sociedades. Ao contextualizar os ensinamentos bíblicos, estamos fazendo com que eles
sejam relevantes para as pessoas que estão ouvindo, e estamos ajudando a garantir que a
mensagem da Bíblia seja preservada e transmitida para as gerações futuras.
Em uma cultura que valoriza a honra e a vergonha, um pastor pode contextualizar
os ensinamentos sobre perdão e reconciliação, de modo a enfatizar a importância de
restaurar a honra daqueles que foram ofendidos. Em uma cultura que é fortemente
materialista, um missionário pode contextualizar os ensinamentos sobre a importância da
riqueza espiritual, de modo a enfatizar a importância da generosidade, da compaixão e da
justiça social.
Em uma cultura que é fortemente hierárquica, cristão pode falar a um amigo não
crente sobre igualdade de todos diante de Deus, de modo a enfatizar a importância de
tratar todos com respeito e dignidade, independentemente de sua posição social. Enfim, a
contextualização é um processo contínuo e evolutivo. À medida que as culturas mudam,
também muda a forma como a mensagem da Bíblia é compreendida e aplicada. No
entanto, o caráter eterno e universal do Evangelho permanece o mesmo. A mensagem do
Evangelho nunca se altera e se alguém tentar alterá-la que seja considerado anátema.
Tim Keller, em seu livro "A Fé na era do ceticismo", destaca a importância de
apresentar o Evangelho de forma relevante e plausível para as mentes céticas e críticas dos
dias atuais. Ele enfatiza que a mensagem do Evangelho não precisa ser alterada, mas a forma
de comunicá-la e aplicá-la pode e deve ser contextualizada.
Essa abordagem reconhece que as diferentes culturas e sociedades têm suas próprias
perguntas, problemas e necessidades específicas. Isso significa que os ensinamentos bíblicos
37

devem ser interpretados e aplicados de forma a abordar diretamente essas questões, mantendo
a integridade e a verdade da mensagem do Evangelho. Para fazer isso é necessária uma
compreensão profunda da cultura local, suas crenças, valores e práticas. Isso permite que os
ensinamentos bíblicos sejam apresentados de forma que ressoe com as pessoas em seus
contextos culturais, tornando o Evangelho mais atraente e compreensível.
No entanto, a interpretação contextualizada requer cuidado e discernimento. Há o risco
de distorcer a mensagem bíblica ou diluir a verdade em uma tentativa de torná-la mais
palatável para determinados grupos ou culturas. Portanto, é essencial equilibrar a
contextualização com a preservação da integridade e autenticidade do Evangelho.
A obra de D. A. Carson e John D. Woodbridge, "Hermenêutica, autoridade e cânon",
oferece insights importantes sobre a abordagem hermenêutica na interpretação bíblica. Eles
destacam que, ao interpretar a Bíblia, é necessário levar em conta o contexto histórico,
literário e cultural dos textos. Isso inclui o entendimento da língua original em que foram
escritos, o propósito do autor e a audiência original.
A abordagem contextualizada do Evangelho também envolve a consideração de
questões éticas e morais contemporâneas. Os ensinamentos bíblicos são atemporais e
oferecem princípios sólidos para abordar as complexidades éticas do mundo atual. A Bíblia é
um guia confiável para discernir o que é correto e justo em questões como bioética, justiça
social, cuidado com o meio ambiente e relacionamentos interpessoais. No entanto, é
importante reconhecer que a aplicação desses princípios éticos em situações específicas requer
sabedoria e discernimento. Em algumas questões, pode haver divergências legítimas de
opinião entre cristãos sinceros. Nesses casos, o esforço deve ser para que todo debate, feito
em amor, nos leve mais perto não das minhas próprias convicções, mas daquilo que a
Escritura de fato diz.
A necessidade de contextualização do Evangelho é especialmente relevante em
sociedades cada vez mais globalizadas e pluralistas. As culturas estão se interconectando de
forma nunca antes vista, e isso apresenta desafios únicos para a interpretação e aplicação dos
ensinamentos bíblicos em contextos diversos. A abordagem contextualizada não se trata de
diluir a mensagem bíblica para agradar a diferentes audiências ou comprometer a verdade do
Evangelho. Pelo contrário, é uma resposta à chamada para ser "sal da terra" e "luz do mundo",
como ensinou Jesus em Mateus 5:13-16. Isso significa que, como seguidores de Cristo,
devemos ser relevantes e transformadores em nossas respectivas culturas e sociedades,
compartilhando o Evangelho de forma que ressoe com as pessoas em suas realidades
específicas.
38

Em suma, a mensagem principal da Escritura é a salvação que só há em Cristo. Essa


verdade é necessária para todos os povos, em todo o tempo. A Bíblia nunca deixará de ser
relevante, sua mensagem nunca se esgota. No entanto, é necessário aplicar o Evangelho a cada
contexto que ele é proclamado de maneira fiel e dedicada, com bons servos que cumprem a
vontade do seu Senhor sem pestanejar.
39

5. CONCLUSÃO

Ao longo deste estudo, exploramos o tema "A Bíblia precisa ser atualizada? O caráter
eterno da Palavra de Deus", buscando compreender a relevância da Bíblia na sociedade
contemporânea e sua natureza como revelação divina fundamentada no caráter de Deus.
Iniciamos nossa investigação destacando a importância da discussão sobre a atualização da
Bíblia, considerando sua relevância cultural e espiritual na sociedade atual. Ao adentrar a
análise da Escritura como revelação divina, percebemos a íntima relação entre a natureza da
Bíblia e o caráter de Deus. Os atributos divinos, tais como imutabilidade, verdade, santidade,
fidelidade e perfeição influenciam a forma como enxergamos e interpretamos os ensinamentos
bíblicos.
A confiabilidade histórica da Bíblia foi investigada por meio da construção do cânon,
o processo de seleção dos livros que compõem a Bíblia, e a relevância dos manuscritos
antigos encontrados, que atestam sua autenticidade e confiabilidade ao longo dos séculos. O
testemunho da igreja primitiva, em sua devoção e preservação dos textos sagrados, também
reforça a natureza eterna da Palavra de Deus.
Ao analisarmos o que faz a Escritura relevante hoje, enfatizamos a importância da
interpretação contextualizada dos ensinamentos bíblicos, permitindo sua aplicação em
diferentes contextos culturais, sem comprometer a essência do Evangelho. A mensagem
central da Bíblia, que é a história da salvação por meio de Jesus Cristo, continua atemporal e
significativa para a humanidade.
Refletindo sobre as conclusões alcançadas, podemos atestar que a compreensão do
caráter eterno da Palavra de Deus é essencial para nossa vida e espiritualidade no mundo
atual. Reconhecendo que a Bíblia é a revelação divina, fundamentada no caráter de Deus,
podemos encontrar respostas e orientações para os desafios e dilemas da vida contemporânea.
A compreensão do caráter eterno da Bíblia nos chama a uma abordagem equilibrada,
fundamentada em uma hermenêutica sensível ao contexto cultural, mas comprometida com os
valores e princípios eternos da Palavra de Deus. Essa compreensão nos convida a viver uma fé
autêntica e transformadora, que impacta positivamente a sociedade em que vivemos.
Portanto, ao concluirmos este estudo, somos instigados a abraçar a Bíblia como uma
fonte de sabedoria e verdade, permitindo que seu caráter eterno e sua mensagem central de
salvação nos guiem na jornada da vida com Deus. Que a reflexão e o estudo contínuo da
Palavra de Deus nos levem a uma compreensão cada vez mais profunda de seu caráter eterno
40

e que isso se manifeste em uma vida de fé autêntica, amor ao próximo e dedicação ao Reino
de Deus.
Diante de tudo isso, que o Senhor da Palavra reforce em nossas mentes e corações a
importância de vivermos de acordo com o que Ele nos revelou. Que a Bíblia assuma na vida
dos cristãos contemporâneos o lugar que sempre deveria estar, da revelação plena da boa
vontade de Deus, que aponta para Jesus, o Cristo, o único pelo qual importa que sejamos
salvos!
41

6. REFERÊNCIAS

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2019

Charllies, Tim, e Josh BYERS. Teologia Visual. Rio de Janeiro, Thomas Nelson Brasil, 2016.

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FERREIRA, Franklin, e Alan MYATT. Teologia Sistemática: Uma Análise Histórica,

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Irineu de Lião. Patrística - Contra as Heresias - Vol. 4. Pia Sociedade de São Paulo -

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42

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