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FACULDADE EVANGÉLICA DE BRASÍLIA

NASION DE MELO FERREIRA

POR QUAL MOTIVO O MILAGRE É NECESSÁRIO

PARA REFORÇAR A FÉ?


2

BRASÍLIA/ DF
2008

NASION DE MELO FERREIRA

POR QUAL MOTIVO O MILAGRE É NECESSÁRIO

PARA REFORÇAR A FÉ?

Monografia apresentada ao Curso


de Teologia da Faculdade
Evangélica de Brasília como
requisito parcial para a obtenção
do título de Bacharel em
Teologia.

Orientador: professor Antonio de


Jesus.
3

Brasília/ DF
2008
4

a. NASION DE MELO FERREIRA

POR QUAL MOTIVO O MILAGRE É NECESSÁRIO

PARA REFORÇAR A FÉ?

Monografia apresentada ao Curso


de Teologia da Faculdade
Evangélica de Brasília como
requisito parcial para a obtenção
do título de Bacharel em
Teologia.
Professor:

Banca Examinadora

Professor

Professor
5

Professor

AGRADECIMENTOS

A Deus por me ter dado saúde e


força para superar mais esse
desafio;
À minha esposa, Terezinha, e
filhas: Fabíola, Karime e
Tatiana pelas horas de ausência,
deixando de dar atenção familiar
em casa;
Ao meu Pai Espiritual, Pastor
Eduardo Sampaio, que soube
sempre entender as minhas
limitações;
Ao Pastor Dornizete pela ajudas
morais e espirituais nos
momentos difíceis;
Ao Professor Antonio de Jesus
(Teólogo), o qual com
competência e habilidade,
orientou-me;
Às Professoras Irinea e Merita
pelas orientações nos trabalhos
acadêmicos dos estágios;
Ao Pastor Waldeci Andrade,
responsável pela minha entrada
na Faculdade de Teologia; e
6

Aos Professores da Faculdade


de Teologia, que me fizeram
entender ainda mais a Palavra
de Deus.

RESUMO

Por meio da pesquisa bibliográfica, “Por qual motivo o milagre é


necessário para reforçar a fé?” tem como objetivo demonstrar que o
prodígio é indispensável para robustecer a confiança cristã. Assim, foi
possível alcançar o seguinte resultado:

Palavras-chave: teologia, razões, milagre, reforçar, fé.


7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................7

I BREVE RELATO DO EVANGELHO DE JOÃO..........................................9

II LOCALIZAÇÃO DE CANÃ DA GALILEA.................................................18

III O MATRIMÔNIO..........................................................................................20

IV A MULHER EM ISRAEL............................................................................25

CONCLUSÃO...................................................................................................29

REFERÊNCIAS................................................................................................30
8

INTRODUÇÃO
9

Este trabalho, cujo tema é “por qual motivo o milagre é

necessário para reforçar a fé?, tem como objetivo geral demonstrar que

o prodígio é indispensável para robustecer a confiança cristã. Para isso,

será imprescindível percorrer os específicos: fazer um breve relato do

evangelho de João; analisar a localização de Canã; abordar o

matrimônio daquela época; e descrever como era o cotidiano da mulher

em Israel.

A escolha deste assunto deu-se em virtude da curiosidade

mística de Jesus, evidenciada pela transformação da água em vinho,

considerada o primeiro milagre do filho de Deus. Quanto à importância

social, esta pesquisa pode trazer o seguinte benefício: uma vez

compreendendo que, reafirmando a fé, pode-se tornar ainda mais

confiante espiritualmente, por meio do exemplo de Jesus, o qual faz

parte da trilogia: Pai, Filho e Espírito Santo.

Por intermédio da pesquisa bibliográfica, o presente

estudo responderá à indagação problemática (por qual motivo o milagre

é necessário para reforçar a fé?), cuja hipótese é esta (porque é uma

demonstração divina).
10

Este estudo se organiza nos seguintes capítulos: no

primeiro, será feito um breve relato do evangelho de João, onde este

evangelho dentre os quatro, seja o mais usado pelos cristãos de todos

os tempos e com propósitos variados; no segundo, uma análise da

localização de Canã, que é uma Vila da Galiléia nas terras altas a oeste

do lago, mencionada somente no evangelho de João; no terceiro, uma

abordagem sobre o matrimônio daquela época, ou seja, explicando que

o matrimônio é o estado no qual um homem e uma mulher podem viver

juntos em relação sexual com a aprovação de seu grupo social; e, no

último capítulo, uma descrição acerca do cotidiano da mulher em Israel,

isto é, a mulher era de tal forma considerada como sujeita ao marido,

que, segundo a Lei, a mulher de um escravo era vendida juntamente

com ele. A mulher devia total fidelidade ao marido, porém não podia

exigir isso dele.


11

I BREVE RELATO DO EVANGELHO DE JOÃO

Para explanar acerca deste capítulo, convém comentar

brevemente algumas características do evangelho de João, segundo

Carson (2007).

Dentre os quatro evangelhos, o evangelho de João é o

mais usado pelos cristãos de todos os tempos e com propósitos

variados. Estudantes de centros universitários disseminam xérox de

graça a seus amigos com o propósito de ampliarem o conhecimento

acerca do Todo-Poderoso. Estudiosos relatam dissertações de mestrado

a respeito do relacionamento de João e algum antigo corpus de

literatura. Assim, meninos e meninas memorizam capítulos na íntegra e

fazem cantigas fundamentadas em suas veracidades. Incalculáveis

sermões possuem sua estrutura baseada nesse livro, mesmo em

pequenos fragmentos dele, o qual esteve, praticamente, no núcleo da

contestação cristológica do Século IV e, nos últimos 150 anos, encontra-

se no centrado na discussão acerca da afinidade entre História e

Teologia.
12

O versículo bíblico mais notório - até pouco tempo - era

João 3.16, possivelmente trocado, nos dias atuais, por Mateus 7.1: “até

uma criança pequena poderia recitá-lo.” O amor divino, nesse

evangelho, é intercedido pelo filho do Deus dos deuses tanto que se

alega: Karl Barth anotou que a mais profunda verdade foi “Jesus me

ama, eu sei, porque a Bíblia assim o dizia” (apud CARSON, 2007, p. 23).

A respeito da maneira pela qual se compreende o

evangelho de João, pode-se relatar que, quanto ao aspecto da igreja

primitiva, não teve muito tempo a partir da publicação do quarto

evangelho até que se reunisse aos demais, compondo o evangelho

quádruplo, ou seja, a maior parte do evangelho de João circulava, no

começo, como parte de um livro, o qual não era um rolo de pergaminho

como, sem dúvidas, os primeiros manuscritos o foram, porém um livro

com folhas separadas, como os atuais, e costurado ou posto em um dos

lados. Era conhecido como “O evangelho” e continha os quatro

evangelhos canônicos: segundo Mateus, Marcos, Lucas e João

(CARSON, 2007, p. 25).

Apesar de inúmeros pais da igreja da primeira metade do

Século II aludirem ao quarto evangelho, os gnósticos não foram os

únicos a utilizar o evangelho de João. Assim, o primeiro escritor da

corrente ortodoxa a citar João foi Justino Mártir:


13

Cristo verdadeiramente disse: ‘A menos que se nasça de

novo, não se entrará no Reino dos céus’. É evidente, para todos nós,

que ninguém que já nasceu pode entrar novamente no ‘ventre’ de sua

mãe (Primeira apologia 61.4-5).

Os trechos acima se referem a João 3.3-5, embora este

não seja citado. Pesquisadores indagam se não seria somente uma

alusão à tradição oral a qual abrangeu Justino, independentemente do

evangelho de João, porque, em vários pontos em que deveria referir-se

a João (como por exemplo, em seus ensinamentos sobre a pré-

existência da palavra do Todo-Poderoso), ele não o faz. Justino não

deixa bem evidente qualquer dos evangelhos canônicos a um escritor

em especial, porém faz analogia a eles como ‘memórias dos apóstolos’.

Teófilo de Antioquia (c. 181 d.C.) foi a primeira citação

inequívoca do quarto evangelho que atribui o trabalho a João, mas,

apesar de ter sido antes daquela data, muitos escritores [Taciano (aluno

de Justino), Cláudio Apolinário (bispo de Hierápolis) e Atenágoras]

mencionaram o quarto evangelho como fonte de autoridade, levando de

volta a Policarpo e Papias, de quem há informações derivados de Irineu

(no final do Século II) e de Eusébio, historiador da igreja primitiva no

Século IV). Policarpo foi martirizado em 156 d.C., aos 86 ano ( CARSON,

2007, p. 27).
14

Certos meninos beduínos encontraram em 1947 por acaso

os Rolos do Mar Morto da comunidade Qumran. Independentemente do

significado em outras áreas do estudo bíblico, eles, quanto a João,

proporcionam incontáveis paralelos à linguagem e aos conceitos do

quarto evangelho. Logo, a comparação entre os Rolos do Mar Morto e o

quarto evangelho não encoraja teorias da dependência direta. Contudo,

o que eles realmente mostram é a desnecessidade de justificar a

linguagem de João por seu dualismo lingüístico, mesmo por algumas

expressões de sua escolha pessoal, recorrendo para um posterior

ambiente helenístico (CARSON, 2007, p. 35).

Em se tratando da autenticidade do quarto evangelho,

existe uma breve discussão sobre cinco tópicos que oferecem suporte a

avaliações sobre até onde o quarto evangelho pode ser aceito no que se

refere àquilo que ele se propõe a ser: uma testemunha confiável da

origem, ministério, morte, ressurreição e exaltação de Jesus, o Messias.

Este testemunho não tem de ser desapaixonado, porém meramente

verdadeiro. É aceitável que as primeiras testemunha de Auschwitz

fossem simultaneamente fidedignas e apaixonadas, mesmo que em

alguns círculos fossem abandonadas rapidamente por causa de sua

paixão (CARSON, 2007, p. 42).


15

Sobre a relação entre o quarto evangelho e os sinóticos, o

debate sobre este relacionamento se dá em termos de simples

disjunções: ou João conhece os sinóticos e depende deles, ou não.

porém não devemos sucumbir à tendência “de falar do conhecimento e

do uso dos sinóricos por João como se um necessariamente significasse

o mesmo que o outro, ou fosse conseqüência do outro ( CARSON, 2007,

p. 50).

Uma das acusações impetradas contra Jesus em seu

julgamento foi a de que ele havia ameaçado destruir o templo (Mc 14.58

par.). Embora houvesse poucas evidências contra Jesus em relação a

esse ponto, a mesma acusação foi dita em tom de zombaria no Calvário

(Mc 15.29 par.). As mesmas palavras foram ditas contra Estêvão (At

6.14). porém somente João retrata Jesus dizendo algo semelhante (Jo

2.19), e em uma época próxima ao início de seu ministério, talvez dois

anos antes de seu julgamento - o que ajuda a explicar por que as

testemunhas não puderam juntar suas histórias (CARSON, 2007, p. 54).


16

Quanto às reflexões sobre o pano de fundo conceitual, a

riqueza de conceitos que vários estudiosos ofereceram em relação ao

pano de Rindo do quarto evangelho - o gnosticismo, a hermética, o

filósofo Fílon, uma ou duas pitadas de judaísmo palestino, o judaísmo

helenístico e outros mais - tem um importante significado na maneira

como se vê o cenário de João, a Palestina dos tempos de Jesus. Foi-se

o tempo em que o quarto evangelho era atribuído à influência sincrética

do helenismo sobre o cristianismo nascente: o “novo olhar” promovido

pela descoberta dos pergaminhos do Mar Morto forçou todos os

entusiásticos defensores da influência helenística a fazer uma pausa.

Mesmo assim, muitos estudiosos ficaram confortáveis com a abordagem

de Barrett, que tanto em sua Introdução como no Comentário defende

que uma rica diversidade de influências não-cristãs foi incorporada à

essência desse evangelho, oferecendo-lhe suas ênfases e forma

peculiar (CARSON, 2007, p. 60).


17

Comentando sobre a autoria do quarto evangelho, nota-se

que o quarto evangelho não leva o nome de seu autor; como os

sinóticos, sendo formalmente anônimo. O título ‘ Segundo João’ foi

incorporado a ele assim que os quatro evangelhos canônicos iniciaram a

circulação juntos como uma única obra, o evangelho quádruplo, para

distingui-lo dos demais. Pode-se observar que é digno de nota enquanto

os quatro evangelhos canônicos poderiam dar-se ao luxo de ser

publicados anonimamente, os evangelhos apócrifos - os quais

começaram a aparecer da metade do Século II em diante - afirmavam de

forma falsa ser escritos por apóstolos, outras pessoas associadas ao

Senhor (CARSON, 2007, p. 69).

Ao se ressaltar a data e proveniência do quarto

evangelho, emergem as sugestões acerca da data do quarto evangelho,

emergidas nos últimos cento e cinqüenta anos, variando de 70 a.C. aos

últimos vinte e cinco anos do Século II. As datas do Século II foram

excluídas pela descoberta do Papiro Egerton 2 (CARSON, 2007, p. 82).


18

A respeito da finalidade do evangelho de João, esta

também tem acendido diversas conclusões. Parte da discussão, pelo

menos depende de pressupostos ou procedimentos questionáveis:

muitas das primeiras discussões sobre os propósitos do quarto

evangelho giram em torno do pressuposto de que João depende dos

evangelhos sinóticos. Isso significa que o principal propósito do

evangelho de João deveria ser descoberto pelo contraste do que João

faz com o que fazem os sinóticos. Ele escreveu um evangelho

“espiritual”, conforme se afirma; nu ele escreveu para complementar os

esforços dos demais, ou mesmo para suplantá-los. Essas teorias se

recusam a deixar João ser João; ele deve ser João comparado com

Marcos, por exemplo, ou com outro sinoticista. Debates anteriores sobre

o relacionamento entre João e os sinóticos permitem a eliminação das

teorias citadas.
19

A partir de uma reconstrução de estudiosos da

comunidade joanina, à qual se atribui sua origem, surgiu um número

substancial de propostas modernas. Sem como evitar, há certo grau de

circularidade: a comunidade é reconstruída a partir de inferências

extraídas do quarto evangelho, e como esse pano de fundo é

amplamente aceito, a geração seguinte de estudiosos tende a construir

sobre ele, ou modificá-lo muito pouco, mostrando como o quarto

evangelho atinge seus propósitos remetendo-se notavelmente àquela

situação. A circularidade não é necessariamente viciosa, porém é mais

fraca do que se admire, em virtude do elevado número de inferências

meramente possíveis, porém de forma alguma determinantes, que são

utilizadas para delinear a comunidade em seu início.


20

Meeks (apud CARSON, 2007, p. 87) alega que a

comunidade joanina é sectarista, um conventículo isolado em oposição

declarada a uma sinagoga poderosa. O quarto evangelho, portanto, é um

resumo dessas polêmicas judaicas, possivelmente uma cartilha para

novos convertidos, certamente algo para fortalecer a comunidade em

seu conflito duradouro. Martyn (apud CARSON, 2007, p. 87) oferece um

cenário parecido, porém componentes mais importantes dessa

reconstrução devem ser postos em discussão. Pensar a comunidade

joanina como isolada e sectária é perder a grande visão de João 17,

sem mencionar o fato de que a Cristologia de João encontra seus

paralelos mais próximos nos assim chamados hinos do Novo Testa -

mento (Fp 2.5-11; Cl 1.15-20), que sugerem que o evangelista está em

estreito contato com a igreja (CARSON, 2007, p. 87).

Evidenciando algumas ênfases teológicas em João, sua

teologia é tão maravilhosa que tenta compartimentalizar seu

pensamento, separando por itens seus componentes, acaba, até certo

ponto, por desfigurá-lo. Os comentários com os melhores sumários

teológicos são, provavelmente, os de Barrett e Schnackenburg. Vários

estudos de nível intermediário são úteis, como são as seções sobre João

em algumas teologias padrão do Novo Testamento. Embora haja

incontáveis obras que examinem este ou aquele aspecto de seu

pensamento, não há nenhuma abordagem da teologia joanina que esteja

à altura desse nome (CARSON, 2007, p. 95).


21

Como muitas outras suas facetas, a estrutura básica do

evangelho de João é relativamente simples até que se comece a refletir

sobre ela. Sem dúvida, complexidade, envolta em simplicidade, é a

razão pela qual se tem publicado estudos sobre a estrutura de João nas

últimas duas ou três décadas (CARSON, 2007, p. 103).

A observação segue o movimento de pensamento que o

evangelista pretendia, porém deve-se enfatizar que esse esquema não

tem maior autoridade que as divisões dos capítulos e dos versículos que

nos são mais familiares, as quais não representavam parte dos escritos

originais. Isso não é tanto a base da exposição que se segue, porém seu

resultado. Se, desse modo, isso auxiliar ao acompanhamento do

comentário e, em certa medida, a seguir o pensamento de João à

medida que ele dá testemunho do Messias, o Filho de Deus. Então, ele é

largamente justificado (CARSON, 2007, p. 104).


22

II LOCALIZAÇÃO DE CANÃ DA GALILEA

Conforme o novo dicionário da bíblia (DOUGLAS ORG.

1995), Canã (em grego, kana, provavelmente do hebraico qãnã, lugar de

juncos) é uma Vila da Galilea nas terras altas a Oeste do lago, indicada

somente no evangelho de João. Foi a cena do primeiro milagre de Jesus

(Jo 2.1,11), onde com uma palavra ele curou o filho do nobre, que

estava acamado em Cafarnaum (4.46,50) e era terra de Na tanael (21.2).

Não tendo sido definitivamente localizada, tem sido identificada por

alguns com Kefr Kenna a aproximadamente sete quilômetros a Nordeste

de Nazaré, sobre a estrada para Tiberíades, onde têm sido feitas

escavações, sendo um lugar provável para os acontecimentos de Jo 2:1-

11, porque possuía amplas fontes de água, provendo figueiras que

originaram muita sombra, como as sugeridas em Jo 1.48. Todavia,

muitos eruditos modernos preferem identificá-la com Khirbet Kana, um

local arruinado a quatorze quilômetros ao Norte de Nazaré, ainda

chamado pelos árabes locais de ‘Caná da Galiléia’.


23

O relato do ministério público tem seu início desde já,

embora possa ser mais bem rotulado de ‘semipúblico’, em virtude de

aparentemente apenas servos e discípulos tiveram conhecimento da

fonte do vinho. O ministério público de Jesus se amplia de 2.1 a 12.50

[se incluir os capítulos 11-12, que são, em certos aspectos,

transicionais]. Esses onze capítulos são muitas vezes chamados de o

‘livro dos sinais’; pois neles Jesus revela sua glória. Os capítulos

restantes desse evangelho são, com freqüência, rotulados de o ‘livro da

glória’. Aqui Jesus é glorificado por Deus - isto é, ele recebe glória

(CARSON, 2007, p. 166).

A mãe de Jesus, nunca nomeada nesse evangelho (talvez

para evitar confusão com mulheres pelo nome de Maria), aparece em

duas narrativas (Jo 19.25-27) e figura em duas outras breves alusões

(2.12; 6.42).

O fato de Jesus, sua mãe e seus discípulos terem sido

convidados para o mesmo casamento sugere que era de um parente.


24

Uma celebração de casamento poderia durar até uma

semana e a responsabilidade financeira era do noivo. O esgotar de

suprimentos era um embaraço em uma cultura de vergonha; o noivo

poderia também ser sujeito à abertura de um processo pelos parentes

ofendidos da noiva. O vinho, que era necessário, não era um mero suco

de uva, um genérico fruto da videira. A idéia é intrinsecamente boba

quando aplicada a países, cuja tradição agrícola está tão comprometida

com a viticultura. Além disso, no versículo 10, o mestre de cerimônias

espera que, nessa altura da festa, alguns dos convidados já teriam

bebido bastante (CARSON, 2007, p. 169).

III O MATRIMÔNIO

“Matrimônio é o estado no qual um homem e uma mulher

podem viver juntos em relação sexual com a apro vação de seu grupo

social” (DOUGLAS ORG. 1995, p. 1.012).

A fornicação e o adultério são relações sexuais que a

sociedade não reconhece como formação de matrimônio. Esse conceito

é necessário, em virtude de, no Antigo Testamento, a poligamia não ser

considerada como sexualmente imoral, compondo um estado de

matrimônio reconhecido (DOUGLAS ORG. 1995, p. 1.012).


25

A posição social no matrimônio é considerada normal e


não há palavra para indicar ‘solteiro’ no Antigo
Testamento. O registro sobre a criação Eva (Gn 2.18-24)
indica a relação única entre marido e mulher, servindo
como ilustração da relação entre Deus e povo (Jr 3; Ez
16; Os 1-3) e entre Cristo e sua Igreja (Ef 4.22-33). A
vocação de Jeremias de permanecer solteiro (Jr 16:2) foi
um sinal profético sem paralelo, porém no Novo
Testamento é reconhecido que, para propósitos
específicos, o celibato pode ser uma vocação de Deus
para os crentes (Mt 19.10-12; 1 Co 7.7-9), embora o
matrimônio e a vida em família sejam a vocação normal
(Jo 2.1-11; Ef 5.22-6.4; 1 Tm 3.2; 4.3; 5.14) (DOUGLAS
ORG. 1995, p. 1.013).

A monogamia é implícita na história de Adão e Eva, visto

que Deus criou somente uma esposa para Adão. Não obstante, a

poligamia passou a ser adotada desde o tempo de Lameque (Gn 4.19) e

não proibida nas Escrituras. Até parece que Deus deixou que o homem

descobrisse sozinho, por experiência própria, que a sua instituição

original da monogamia era a relação apropriada. A Bíblia demonstra que

a poligamia traz a tribulação e freqüentemente leva ao pecado, como por

exemplo, nos casos de Abraão (Gn 21); Gideão (Jz 8.29-9.57); Davi (2

Sm 13, 13); Salomão (1 Rs 11.1-8). Em vista dos costumes orientais, os

reis hebreus foram advertidos contra a poligamia (Dt 17.17). Ciúmes na

família se originam daí, como caso das duas esposas de Elcana, uma

das quais se mostrava adversária da outra (1 Sm 1.6). É difícil saber até

que ponto a poligamia foi praticada, mas, por causa de considerações

econômicas é bem provável que era mais comum entre os ricos do que

entre o povo. Herodes, o Grande, teve nove esposas. A poligamia

continua em prática até os dias atuais entre os judeus nos países

islamitas.
26

A posição das esposas e a relação entre si - quando a

poligamia era praticada - podem ser apreendidas tanto pelas narrativas

como pela lei. Era natural que o marido se inclinasse mais para uma do

que pelas outras. Assim é que Jacó, enganado e acabou sendo

polígamo, amava mais Raquel do que Lia (Gn 29). Elcana preferia Ana,

a despeito de sua esterilidade (1 Sm 1.1-8). Em Dt 21.15-17, admite-se a

hipótese de o marido amar uma esposa e aborrecer a outra. Visto que as

crianças eram importantes, porque levavam avante o nome da família,

uma esposa estéril poderia permitir ao marido que tivesse um filho de

sua escrava. Isso era prática legal na Mesopotâmia civilizada (por

exemplo, o Código de Hamurabi, §§ 144-147) e foi praticada por Sara e

Abraão (Gn 16) por Raquel e Jacó (Gn 30:1-8), embora Jacó tivesse ido

mais adiante e tivesse aceitado como esposa igualmente a criada de Lia,

embora Lia já lhe tivesse dado filhos (Gn 1.9). Nesses casos, os direitos

da esposa eram salvaguardados, por ser ela quem dava sua criada a

seu marido, para uma ocasião específica. É difícil dar nome à posição da

criada em tal relação; ela era antes uma esposa secundária, e não uma

segunda espoca, ainda que, se o marido continuasse a ter relações com

ela adquiriria a posição de concubina. Eis por qual motivo talvez Bila foi

chamada de concubina de Jacó, em Gn 35.22, enquanto Hagar não é

classificada como concubina de Abraão em 25.6.


27

Dentre as mulheres hebréias, as esposas dos hebreus

normalmente eram escolhidas. O noivado e o matrimônio seguiriam um

padrão normal. Algumas vezes as esposas eram adquiridas como

escravas dos hebreus. É comumente asseverado que o senhor da casa

tinha direitos sexuais sobre todas as suas escravas. Não há dúvida que

houve flagrantes exemplos de tal promiscuidade, porém a Bíblia nada

diz acerca disso. É digno de nota que Êx 21.7-11 e Dt 15.12 distinguem

entre a escrava propriamente dita que devia ser libertada depois de sete

anos, e a escrava que tinha sido deliberadamente tomada como esposa

ou concubina e que não poderia exigir sua libertação automática. Visto

que seus direitos nesse caso são estabelecidos por leis, o cabeça da

casa ou seu filho deveriam ter passado por alguma cerimônia, por

simples que fosse, que teria validade legal. Ao falar sobre os seus o

direitos, essa passagem não os faz dependerem da palavra dela contra

a palavra do cabeça da Casa, nem mesmo do fato dela haver dado um

filho a ele ou ao seu filho. É difícil dizer qual era sua posição. Sem

dúvida alguma, essa posição variava de conformidade com o fato de ela

ter sido a primeira, a segunda eu a única ‘esposa’ do dono da casa. Na

caso em que fosse dada ao filho da casa, é provável que desfrutava dos

direitos integrais da posição de esposa. O fato é que essa lei, conforme

é demonstrado pelo contexto, trata dos seus direitos como escrava, e

não primariamente na qualidade de esposa. Além disto, contanto que

não fossem palestinianas (Dt 20.14-18), as esposas poderiam ser

tomadas dentre cativas numa guerra.


28

Inexiste lei que trate sobre as concubinas e por isso não

se sabe de quais direitos elas desfrutavam. Elas tinham uma posição

inferior à das esposas, porém seus filhos poderiam herdar, con forme a

vontade do pai (Gn 25.6). O livre de Juízes registra a subida ao poder de

Abimeleque, filho da concubina de Gideão (Jz 8.31-9.57) e também

relata a trágica história do levita e sua concobina (Jz 19). A impressão

deixada pelo trecho de Jz 19.2-4 é que essa concubina tinha liberdade

de deixar o seu ‘marido’ e que o homem dependia da persuasão para

trazê-la de volta para casa. Davi e Salomão imitaram os monarcas

orientais ao tomarem esposas e concubinas (2 Sm 5.13; 1 Rs 11.3; Ct

6.8-9). Nestas duas últimas passagens, entende-se que as concubinas

eram nomeadas dentre uma classe inferior daquela sociedade

(DOUGLAS ORG. 1995, p. 1.014).

A esposa - nos matrimônios normais - ia para a casa do

esposo. Há, entretanto, outra maneira de casamento. Era a forma

praticada entre os filisteus, porém não há registro sobre a mesma entre

os israelitas. Nesse caso, a esposa de Sansão permaneceu em casa do

pai dela e Sansão a visitava. Pode ser argumentado que Sansão tinha a

intenção de levá-la para casa depois da cerimônia do casamento, porém

que saiu sozinho, indignado depois do truque no qual havia sido traído

por ela. Não obstante, ela continuava em casa de seu pai, embora que

nesse meio tempo já se casara com um filisteu.


29

A respeito dos costumes matrimoniais, estes se cen-

tralizam em torno dos dois acontecimentos: o noivado e a festa de

casamento.

Uma característica importante de muitas dessas

cerimônias era o reconhecimento público da relação conjugal. Deve-se

compreender, contudo, que nem todos os passes costumeiros daquela

época eram efetuados em todos os casamentos.

IV A MULHER EM ISRAEL
30

Ao menos em proporção considerável, o grande poder que

o homem tinha sobre tudo que se relacionasse com sua família se

estendia identicamente à sua esposa. Em teoria, o marido não tinha

direitos legais sobre a esposa e nenhum texto sagrado poderia ser

produzido no sentido de expressar que tivesse (DANIEL-ROPS, 2008, p.

146).

A mulher era de tal forma considerada como sujeita ao

marido, que, segundo a Lei, a mulher de um escravo era vendida

juntamente com ele.

Não podendo exigir do marido, a mulher devia total

fidelidade ao ele. O marido não tinha o direito de vendê-la, porém não

havia dificuldade em repudiá-la; os casos em que a mulher podia pedir

divórcio eram, por outro lado, extraordinariamente raros. Sua posição na

sociedade era inferior sob todos os aspectos.

Os maridos judeus gostavam de ver suas esposas bem

vestidas, adornadas com colares, anéis e broches, e que soubessem

que em sua casa havia abundância de farinha de trigo, mel e óleo;

porque assim Javé trata a sua esposa, a Raça Escolhida, na famosa

passagem de Ezequiel (DANIEL-ROPS, 2008, p. 148).


31

É de conhecimento a descrição poética da mulher virtuosa

diante de Deus, com que termina o livro de Provérbios. O seu valor

excede o de muitas jóias, ela faz feliz o marido e sabe como conquistar

o seu amor; ela tece, cozinha, vigia para que sua lâmpada não se

apague, trabalha dia e noite e ainda assim se veste bem e ajuda o

marido em seus deveres sociais (DANIEL-ROPS, 2008, p. 151).

Ainda quanto à situação social da mulher, no Oriente, ela

não participava da vida pública; o mesmo acontecia no judaísmo do

tempo de Jesus, pelo menos entre as famílias judaicas fiéis à Lei.

Quando a mulher saía de casa, tinha o rosto escondido

por um manto, peça de pano dividida em duas partes, uma cobrindo a

cabeça e a outra, cingindo a fronte e caindo até o queixo, tipo de rede

com cordões e nós. Desta forma, não se poderia reconhecer os traços

de seu rosto. Certa vez, um sumo sacerdote de Jerusalém não

reconhecem a própria mãe, quando lhe aplicou mulher a sentença

prescrita para a mulher acusada de adultério.


32

A mulher, a qual saía de casa sem ter a cabeça coberta,

quer dizer, sem o véu que ocultava o rosto, faltava de tal modo aos bons

costumes que o marido tinha o direito, até mais, tinha o dever de

despedi-la sem ser obrigado a pagar a quantia que, no caso de divórcio,

pertencia à esposa, em virtude do contrato matrimonial. Havia mulheres

rigorosas que não se descobriam nem mesmo em casa, como aquela

Qimhit que viu sete filhos se tornarem sumos sacerdotes, o que foi uma

recompensa de Deus pela sua austeridade: Somente no dia do

casamento, a esposa, se fosse virgem e não viúva, aparecia descoberta

no cortejo (JEREMIAS, 1999, p. 473).

Preferia-se que a mulher, especialmente a moça,

antes do seu casamento, não saísse de casa, seguindo negócios,

conselhos, tribunais, procissões festivas, reuniões de muitos homens,

em suma, toda a vida pública com suas discussões e assuntos, em

tempo de paz ou de guerra, é feita para homens. As jovens deveriam

permanecer nos cômodos afastados, fixando como limite a porta da

comunicação [com os apartamentos dos homens] (JEREMIAS, 1999, p.

475).

Abordando as Bodas de Cana, convém evidenciar, na

íntegra, João 2:1-11:

João Três dias depois, houve um casamento em  


2:1 Caná da Galiléia, e estava ali a mãe de
Jesus ;
33

João e foi também convidado Jesus com seus 


2:2 discípulos para o casamento.

João E, tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus 


2:3 lhe disse: Eles não têm vinho.

João Respondeu-lhes Jesus : Mulher, que tenho eu  


2:4 contigo? Ainda não é chegada a minha hora.

João Disse então sua mãe aos serventes: Fazei  


2:5 tudo quanto ele vos disser.

João Ora, estavam ali postas seis talhas de pedra,  


2:6 para as purificações dos judeus, e em cada
uma cabiam duas ou três metretas.

João Ordenou-lhe Jesus : Enchei de água essas  


2:7 talhas. E encheram-nas até em cima.

João Então lhes disse: Tirai agora, e levai ao  


2:8 mestre-sala. E eles o fizeram.

João Quando o mestre-sala provou a água tornada  


2:9 em vinho, não sabendo donde era, se bem
que o sabiam os serventes que tinham tirado
a água, chamou o mestre-sala ao noivo.

João e lhe disse: Todo homem põe primeiro o  


2:10 vinho bom e, quando já têm bebido bem,
então o inferior; mas tu guardaste até agora
o bom vinho.

João Assim deu Jesus início aos seus sinais em 


2:11 Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória;
e os seus discípulos creram nele.
34

Com o trecho acima, é possível

CONCLUSÃO
35

REFERÊNCIAS

CARSON, D. A. O comentário de João. São Paulo: Shedd Publicações,


2007.

DANIEL-ROPS, Henri. A vida diária nos tempos de Jesus. 3. ed. São


Paulo: Vida Nova, 2008.

DOUGLAS, J. D. (ORG.). O novo dicionário da bíblia. 2. ed. São


Paulo: Vida Nova, 1995.

JEREMIAS, J. Jerusalém no tempo de Jesus. Pesquisas de história


econômico-social no período neotestamentário. São Paulo: Vida Nova,
1999.
36

TIO SAM. João 2. Disponível em www.tiosam.net. Acessado em 21 de


outubro de 2008 às 18h36min.

ANTIGO SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

I O CONTEXTO SOCIAL DA PALESTINA

II O FENÔMENO “MILAGRE” OCORRIDO NA PALESTINA

III O PORQUÊ DE OS MILAGRES SEREM PARA OS POBRES

IV A REPERCUSSÃO DO MILAGRE POR ONDE JESUS PASSAVA

V O QUE ACONTECE COM QUEM RECEBE UM MILAGRE

CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS
37

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