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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE DOURADOS

GIOVANE CASCAES PACHECO JUNIOR

A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO TEOLÓGICA PARA


PRÁTICA MINISTERIAL

Dourados
2019
CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE DOURADOS

GIOVANE CASCAES PACHECO JUNIOR

A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO TEOLÓGICA PARA


PRÁTICA MINISTERIAL

Trabalho apresentado na Disciplina de


Trabalho de Conclusão de Curso do ano de
2019, Curso de Bacharel em Teologia da
Faculdade UNIGRAN – Centro
Universitário da Grande Dourados

Professor Msc. Ronel Dias Pereira

Dourados
2019

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A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO TEOLOGICA PARA PRÁTICA
MINISTERIAL

Giovane Cascaes Pacheco Junior1

RESUMO

A falta de formação teológica entre pastores pode representar um problema para a interpretação bíblica e a
devida contextualização com os dilemas que ocorrem na sociedade moderna. Através do entendimento bíblico
sobre o surgimento do ofício pastoral e a sua função e também com o conhecimento da história da igreja onde
pode-se conhecer os pais da igreja, que começaram a sistematizar a teologia, mostrando a importância dela no
ministério pastoral. É preciso, também, conhecer os desafios que os pastores têm enfrentado atualmente, tais
como pregação e a responsabilidade pelo ensino das Escrituras, e para a formação de uma teologia publica que
vá de encontro com os problemas da sociedade. Desta forma verifica-se a relevância e a necessidade do
conhecimento e formação teológica continua para que o pastor possa ensinar a igreja e cumprir
responsavelmente com o ofício pastoral.

PALAVRAS-CHAVE: Teologia; Pastor; Formação Teológica.

ABSTRACT

The lack of theological formation among pastoralists may represent a problem for the biblical interpretation and
the proper contextualization with the dilemmas that occur in modern society. Through the biblical understanding
of the emergence of the pastoral craft and its function and also with the knowledge of the history of the church
where we can know the fathers of the Church, who began to Systate theology, showing the importance of it in
the ministry Pastoral. It is also necessary to know the challenges that pastors have faced today, such as preaching
and responsibility for teaching the Scriptures, and for the formation of a public theology that goes against the
problems of society. Thus, the relevance and necessity of knowledge and theological formation continues so that
the pastor can teach the church and fulfill responsibly with the pastoral profession.

KEY WORDS: Theology Pastor Theological formation.

INTRODUÇÃO

O objetivo principal deste artigo é identificar a importância que a formação teológica tem em
relação ao ministério pastoral, buscando apresentar o conceito de teologia e o seu papel na
história da igreja onde teve início e o porquê da necessidade do labor teológico. Em segundo
lugar apresentar as principais mudanças na relação entre a teologia e o pastoreio ao longo da
história, e por último identificar os benefícios da formação teológica, demonstrando que
(Olson, 2001) cabe ao pastor o comprometimento com a reflexão e construção teológica,
levando ao povo de Deus uma mensagem bíblica contextualizada e firmada nos ensinamentos
deixados por Cristo. Como método norteador desta pesquisa optamos por iniciar buscando nas
Escrituras o surgimento do ofício pastoral, mais precisamente nas cartas de Paulo, onde o
mesmo quando plantava uma igreja sempre se preocupava em deixar alguém presidindo e
conduzindo o rebanho. Buscamos também nos pais da igreja mais referências sobre o

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entendimento do ministério pastoral. Foram os pais da igreja que começaram a desenvolver a
teologia de forma sistemática e principalmente de fora apologética. Procuramos conhecer
nessa pesquisa como isso aconteceu e quem foram os primeiros escritores. Falamos sobre
Agostinho, conhecido por sua erudição, mas nem sempre conhecido pelo seu lado pastoral,
ele sempre esteve preocupado com a igreja e o seu crescimento. No período medieval,
adentraremos em uma teologia feita a partir dos mosteiros e nas universidades, um período de
grande contribuição teológica e intelectual, porém, onde parece que a figura do pastor ficou
ofuscado e os destaques passaram a ser dos teólogos e mestres que não estão diretamente
ligados aos cuidados da igreja.

Por último, será abordado o compromisso do pastor com a Palavra de Deus e a importância de
uma formação teológica para aqueles que já exercem e os que almejam e acreditam nesse
chamado.

Os Pais da Igreja, as Raízes da Teologia Cristã e do Ofício Pastoral.

Olhar para as Escrituras é possível entender onde começou o Ofício Pastoral. Segundo as
Escrituras mais precisamente em Efésios capítulo 4, diz que Cristo concedeu a igreja pastores,
para aperfeiçoamento e edificação do Corpo. Segundo Boor (2002) as igrejas precisavam de
uma direção mais organizada a pregação do evangelho deveria continuar, e havia a
necessidade do cuidado pastoral, as reuniões demandavam uma ordem exterior e interior, tudo
estava acontecendo automaticamente. Por isso era preciso pessoas que liderassem e
aconselhassem no Senhor (1 Ts 5:12).

A palavra pastor é utilizada no Novo Testamento 18 vezes, ela vem do grego poimen, sendo
que 17 vezes ela tem o seguinte sentido: “Pastor s. — uma pessoa cuja ocupação é cuidando,
alimentando e guardando ovelhas no pasto” (Faithlife Corporation. Software Bíblico Logos
Léxico de sentido bíblico, 2019). E uma vez ela aparece com o seguinte sentido: “Pastor, líder
cristão – um líder de uma congregação cristã entendida como um pastor com um rebanho de
ovelhas”. (Faithlife Corporation. Software Bíblico Logos Léxico de sentido bíblico, 2019).
Essa passagem com esse sentido é encontrada em Efésios 4.11. Os sentidos não são tão
diferentes, todos dois estão falando de cuidado, mas em Efésios 4.11 ele é específico pastoral
de igreja, aquele que lidera uma congregação.

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O novo testamento vai trazer outras duas funções que dão a entender que estão falando do
mesmo ofício, são elas: Presbítero que vem do grego prebyteros e Bispo que vem do grego
episkopos. A palavra presbyteros aparece no novo testamento 67 e em 18 ela nos traz o
seguinte sentido: “Ancião cristão s. — um ancião sobre uma assembleia de crentes cristãos
(como uma posição eleita ou nomeada)”. (Faithlife Corporation. Software Bíblico Logos
Léxico de sentido bíblico, 2019). Já a Palavra episkopos é utilizada 5 vezes, e em todas, ela
tem o mesmo sentido: “supervisor (igreja) s. — um líder que cuida, orienta, se importa e é
responsável por uma Assembleia de crentes”. (Faithlife Corporation. Software Bíblico Logos
Léxico de sentido bíblico, 2019).

Olhando para o Novo Testamento é possível ver essas palavras se relacionarem e se


completarem, em Atos 20.17 Lucas utiliza a palavra prebyteros, quando ele relata que Paulo
chama os Presbíteros da igreja de Éfeso e começa a falar a eles, no verso 28 ele utiliza a
palavra episkopos quando diz: Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o
Espírito Santo os colocou como bispos. Na parte b do versículo ele diz: para pastorearem a
igreja de Deus. A palavra pastorearem vem do grego poimaino onde a sua raiz é poimen, e
nessa passagem ela nos traz o seguinte: “governar ⇔ pastorear v. — governar sobre um grupo
de pessoas, concebido como cuidar de ovelhas ou cabras”. (Faithlife Corporation. Software
Bíblico Logos Léxico de sentido bíblico, 2019). Essas três palavras estão contidas no mesmo
parágrafo. A Escritura deixa claro que quando essas palavras são utilizadas no Novo
Testamento em determinadas passagens, elas estão falando do mesmo assunto, Ofício
Pastoral.

O Ofício Pastoral se inicia na igreja primitiva, Paulo demonstra a importância deste ofício,
pois segundo Shelley (2004) ao fundar as igrejas o apostolo sempre deixava presbíteros e
diáconos. Os presbíteros com a função de ensinar e disciplinar a igreja e os diáconos
ajudavam os presbíteros nas demais atividades eclesiásticas. Na verdade, não é tão evidente
como esse sistema de organização foi adotado pela igreja; não houve nenhum decreto
definitivo dado a igreja antiga que tenha levado a formação desse sistema eclesiástico
(Vanhoozer & Strachan, 2016). Contudo, este, é o modelo adotado pela maioria das
denominações até hoje. Com algumas exceções e modificações no quadro eclesiástico.

É necessário que esse pastor tenha uma boa formação teológica, e as Escrituras nos informam
como eles eram formados, Paulo escreve em 2 Timóteo 3.10 Tu, porém, tens seguido, de
perto, o meu ensino. “Paulo mesmo o havia formado na academia de seu próprio ensino”.

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(Calvino, J. 2009, p. 256). Eles foram formados pelos apóstolos. Com essa pesquisa é possível
extrair o início do Ofício Pastoral e a sua função na igreja que é alimentar, ensinar e orientar.

Elaborando Teologia;

“Com a morte dos apóstolos, o final do primeiro século presenciou um vácuo na liderança da
igreja” (Eckman, 2005, p. 23). Quem seriam os lideres dos cristãos agora? Quem ficaria com
essa resonsabilidade de cuidar, ensinar e orientar, a comunidade que está crescendo? Surge
então um grupo denominado “pais da igreja” a expressão “pai” era geralmente concedida a
lideres espirituais, os presbiteros ou bispos eram conhecidos assim. (Eckman, 2005). Ferreira
( 2013 ) nos diz que os responsáveis por conduzir a igreja na ortodoxia serão os Pais da igreja.
Eles foram considerados pela tradição cristã como os pastores, teólogos e escritores. Eckman
(2005) vai dizer que os “pais” são divididos em três grupos: pais apostólicos (95-150 d.C),
onde produziram textos de natureza devocional e edificação; os apologistas (150-300), eles
produziram literaturas para defesa da fé e o erro; e os teólogos (300-600), foram eles os que
começaram a produzir teologia sistemática.

Os primeiros 50 anos do segundo século mostraram o esforço da igreja para como viver de
modo obediente e para estruturar a igreja numa cultura predominantemente pagã (Eckman,
2005) É possível considerar que os primeiros teólogos do cristianismo foram os pais
apostólicos. Eles escreviam a fim de exortar, encorajar e instrui a igreja após a morte dos
apóstolos. (Olson, 2001, p.67).

Vanhoozer & Strachan (2016) vão dizer que os pais da igreja bebiam das Escrituras como
agua no deserto. Meditavam de modo sério sobre as verdades que aprendiam. Não tinham
formação em seminarios e não acumulavam graus academicos. Os pastores , chamados em
geral de “sarcedotes” no final do segundo século, viam-se claramente como mestres do povo
de Deus, eram portanto responsáveis por conhecer a doutrina bíblica. Estavam sempre junto
do povo, e não se afastavam do ministério teológico.

Ao contrário do que se possa pensar a teologia não inventa Doutrinas. Ela examina as crenças
já existentes entre cristãos. Os apóstolos, por exemplo, cada vez que eram informados de que
estava ocorrendo crenças erradas entre os cristãos escreviam cartas para esclarecer e corrigir o
ensino. Assim sucedeu com os líderes posteriores da igreja. Por volta do ano de 95 d.C.
Clemente bispo principal de Roma, escreveu uma carta aos crentes de Corinto, seguindo o
exemplo dos apóstolos, para corrigir suas crenças e comportamentos (Grenz & Olson, 2006,
6
p. 58). Eckman (2005) vai dizer que Clemente recebeu a responsabilidade de lidar com alguns
problemas que aconteciam na igreja de Corinto. Ela sofria com divisão e amargura, ele então
exortou a igreja exercer o amor, paciência e humildade, como peça fundamental para
desenvolver os relacionamentos interpessoais cristão sadios. Ele enfatizou a obediência à
liderança dizendo ser algo essencial para manter a harmonia da igreja. “Contudo, muito mais
importante é a teologia revelada na epístola. Ela é claramente paulina em sua doutrina e se
assemelha fortemente à epístola aos Hebreus. Ao mesmo tempo, revela a influência do estilo e
ensino dos escritos de Pedro”. (Lawson, S. J. 2013, p. 75-76). Esse escrito de Clemente aos
coríntios é o mais antigo exemplar de literatura fora do Novo Testamento sendo assim ele é
extremamente importante.

Os pais apostólicos serviram e lideraram uma igreja crescente em número e zelo.


Essa realidade exigia aconselhamento, orientação e instrução prática para o
crescimento para o crescimento espiritual e para a ação tanto dos cristãos,
individualmente, quanto para as igrejas, como corpo. (Eckman, 2005, p. 24)
Nenhuma heresia ameaçou mais o cristianismo primitivo que o gnosticismo. Alcançando o
apogeu no segundo século, o gnosticismo originou-se, na verdade, cerca de um século antes.
Em seu cerne, essa filosofia era um conceito dualista da realidade. O mundo material e o
mundo imaterial eram totalmente separados; entretanto, o material é intrinsecamente mau, e o
imaterial, bom. Para gnósticos, era inconcebível que o Deus bondoso pudesse ter criado o
mundo material, naturalmente maligno. (Eckman, 2005, p. 30)

Os apologistas vêm com a missão de defender a fé cristã, segundo Eckman (2005) a


perseguição tinha aumentado, forçou então a igreja determinar realmente o que era
importante. Ferreira (2013) vai dizer que esses homens os Pais da igreja, defenderam a fé de
ataques procedentes dos judeus, dos pagãos e das heresias. Existiam os seguintes argumentos
contra o cristianismo: O mesmo era um desvio do judaísmo, a divindade de cristo vai de
encontro à unidade de Deus, a doutrina da ressurreição é absurda, há contradições nas
Escrituras. E os pais da igreja respondiam da seguinte maneira: A lei judaica é temporária por
definição e encaminhada para nova aliança, o Antigo testamento predisse os sofrimentos e a
glorificação do Messias, os evangelhos mencionam testemunhas oculares, o efeito sobre os
discípulos foi profundo. Alguns nomes surgiram nessa época, (Vanhoozer & Strachan,(2016)
vão falar de Irineu de Lião, dizendo ser ele um dos primeiros pastores-teologos, não se tem
muito material de autoria dele disponivel, mas duas obras principais é possivel destacar:
Contra heresias e Demosntração da pregação apostólica. Ele também com seu amigo e
teólogo cristão Tertuliano (160-225), formularam a regula fidei, ou Regra de fé”, sendo esse

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documento um resumo da mensagem da Bíblia e de seu evangelho. “Para Irineu e seus
colegas, a teologia era um assunto que exigia a mais alta precisão, não um mero exercicio de
especulação intelctual. “Irineu considerava Cristo o próprio centro da teologia. Cristo era a
base para a continuidade entre a criação e a redenção. O que a humanidade perdeu em Adão é
obtido novamente em Cristo” (Eckman, 2005, p. 34).

Para (Vanhoozer & Strachan, 2016) Irineu não foi o único a ver o pastor como o mestre e
teólogo da igreja. João Crisóstomo (347-407), foi o maior pregador de sua época e autor de
Sobre o sacerdócio, dava grande importãcia a vida espiritual do “Sacerdote”, hoje pastor.
Crisóstomos explicou de modo detalhado a necessidade de o supervisor do povo de Deus para
pregar a doutrina verdadeira e refutar os ensinamento falso:

No entanto, quando surge um desentendimento em questões de doutrina e todos se


armam com os mesmos textos das Escrituras, qual valor que a vida da pessoa terá no
debate? [...] Nenhum, da mesma maneira que não haverá fé sadia se a vida for
corrupta. É por essa razão, acima de tudo, que aquele cujo oficio é ensinar os outros
precisa ter experiencia nesse tipo de debate. Pois, embora ele próprio esteja firme e
saia ileso do ataque dos opositores, ainda assim, quando a multidão de pessoas
simples sob sua liderança vir seu lider derrotado e sem nenhuma resposta aos
opositores, ela estará pronta para pôr a culpa da humilhação de seu pastor não na
fraquezadele, mas nas proprias doutrinas, como se elas estivessem erradas. Assimpor
causa da inexperiencia de uma pessoa, muitos são levados à ruinacompleta. Pois,
embora nem todos passem para o lado adversário, ainda assim são compelidos a
duvidar acerca de questões em que antes criam com toda firmezae já não conseguem
defender aquelas doutrinas que costumavam aceitar com um confiança inabalavel.
Como consequencia da Derrota de seu lider, uma tempestade tão grande desaba
sobre suas almas que o prejuizo termina com seu naufrágio total. (Vanhoozer &
Strachan apud Crisóstomo, 2016, pp. 103-104)

Segundo (Vanhoozer & Strachan, 2016) para Crisóstomo o pastor era um mestre, o ministério
pastoral era um ofico teológico que conduzia o povo em segurança até Deus.

Ainda nos apologistas, Eckman (2005) vai citar Orígines, homem totalmente dedicado á
inspiração e autoridade das Escrituras, ele foi escritor de numerosos comentários e
verdadeiramente a primeira teologia sitematica da historia. Segundo Gonzalez & Perez (2006)
a obra de Orígenes cobre todos os pontos essenciais da fé cristã, desde as doutrinas de Deus e
da criação até a escatologia. A partir dele centenas de obras de “teologia sistemática” foram
escritas.

Indubitavelmente, essa tarefa é importante e valiosa. Por exemplo, se não fosse por
causa daqueles primeiros apologistas do segundo século, e por quem continuou sua

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tarefa no século terceiro e quarto, o cristianismo não poderia ter entrado em diálogo
com a cultura circundante. Certamente, no livro de Atos vemos primeiro a Pedro,
logo a Estevão e por último a Paulo, todos judeus, defendendo a fé cristã em
presença de outros judeus que não a aceitavam. No dia de hoje, visto que existem
tantos argumentos contra a fé cristã, é necessário refutá-los, se não essencialmente
para provar a verdade dessa fé, ao menos para remover os obstáculos falsos que se
colocam no caminho dela. Assim, por exemplo, a teologia em sua função
apologética pode ajudar-nos a refutar os argumentos dos ateus, que afirmam ser
impossível crer em Deus. (Gonzalez & Perez, 2006, p. 17)

Por volta do ano 300 d.C., ventos de mudanças teológicas estavam soprando por toda a
igreja. Algumas discussões sobre a natureza da Trindade, a natureza de Jesus e a doutrina da
salvação, fazendo com que a igreja se posicionasse e então sistematizasse suas crenças. Surge
então Agostinho, ele e Atanasio dominaram o periodo e solidificaram a teologia cristã.
Agostinho é um dos principais bispos dos primeiros quinhetos anos da história da igreja, foi
pastor no norte da Africa (Vanhoozer & Strachan, 2016).”Com certeza seu ministério foi
teológico, mas, antes de tudo, estava voltado para homens e mulheres comuns que precisavam
do seu evangelho e frequentavam sua igreja, e não para seus amigos de mentalidade
filosófica”. (Vanhoozer & Strachan, 2016, p. 104). Agostinho ficou conhecido como um dos
maiores pensadores e teólogo a influenciar o cristianismo ocidental. Segundo Klein (2007),
ele escreveu 113 obras e 225 cartas. A doutrina de Agostinho é muito significante para o
catolicismo, já para os protestantes é a visão que ele tem da graça (Shelley, 2004, p. 142). Em
338 após ter voltado da Europa para África e se convertido ao cristianismo Agostinho funda
seu primeiro mosteiro ao lado de seus amigos Alípio e Ovídio. Cujos ideais deste mosteiro
eram a contemplação. Seus talentos eram muito conhecidos e a com a necessidade de
liderança, da igreja de Hipona, a população não lhe deixava em paz. Ao visitar a igreja de
Hipona o bispo Valério que precisava de um sucessor pregou sobre a necessidade de alguém
para ser ordenado como sacerdote e pediu a população para que pedisse a Deus que indicasse
alguém entre a congregação para ser ministro. A população, então, aclamou Agostinho para
ser consagrado (Gonzalez J. L., 1995, p. 170). Quando foi escolhido para ajudar o bispo
Valério, Agostinho tentou resistir alegando que preferia a tranquilidade da vida monástica.
Ele sabia das tarefas que o esperavam, teria que lidar com as necessidades objetivas do povo.
Mesmo, assim, continua com seu temperamento contemplativo e funda novamente com
Alípio seu segundo mosteiro. Porém, seus discípulos serão, mais tarde, bispos em vários
lugares da África, deixando, assim o continente marcado como agostiniano (Hipona, 2006, pp.
417-418).

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“Aqueles que administram os mistérios da graça de Deus em Cristo (cf. 1Co 4.1) não estão
em uma atividade comercial, mas, sim, em um “oficio”. Ao que parece, na epoca de
Agostinho, era comum falar do ministério pastoral como um oficio. Esse costume
permaneceu ao longo de todo periodo medieval”. (Vanhoozer & Strachan, 2016, pp. 106,107).

A palavra “oficio”, acompanhada dos adjetivos “pastoral” ou “teologico” ( parece


que eram intercambiaveis no passado), está associada em diversas épocas a um
conceito bem elevado do ministério pastoral e da solenidade sagrada dessa função, o
que talvez ajude a esclarecer por que esse termo soa vagamente ultrapassado aos
nossos ouvidos. Essas palavras indicam o carater solene e a importancia do
ministério. Ninguém escolhe esse ofício: a pessoa é chamada pelo Senhor para
exercê-lo e é designada pela igreja. (Vanhoozer & Strachan, 2016, p. 108).

Pastor no periodo do escolasticismo e monasticismo

Segundo Vanhoozer & Strachan (2016) houve uma mudança na idéia do trabalho pastoral no
periodo medieval. O período medieval trouxe uma enorme contribuição teológica para a
história e desenvolvimento do cristianismo. Porém a teologia que antes era feita por pastores
que cuidavam de suas igrejas. E que antes formulavam teologia para alertar e guiar seus
rebanhos, como vimos nos textos acima. Neste período ganha uma nova roupagem. O
monasticismo é a opção mais eficaz para os santos da época que vem a vida reclusa como
uma forma de se achegar a Deus e abandonar toda e qualquer imoralidade. E as escolas
catedrais tornam-se universidades onde a teologia é desenvolvida e torna-se o padrão de
erudição. O que notamos, porém, ao estudarmos este longo período, é que os líderes de
destaque que norteiam o conhecimento desta época, não são aqueles que lidam diretamente
com a vida cotidiana do povo “os pastores”. Para isso, estudaremos o monasticismo e o
escolasticismo e suas contribuições, mas também seu distanciamento da vida cotidiana.

No período medieval a concepção do ofício de pastor veio a mudar muito de característica. E


estamos falando de mais ou menos 1000 anos de história da igreja. Assim procuraremos nos
deter no movimento monástico e no escolástico. Quando os invasores Islâmicos tomaram
Jerusalém em 638 até 1009 quando, então, foi retomada, a teologia era trabalho quase que
exclusivo dos monges. Para eles fazia parte de uma vida de contemplação e devoção; a leitura
da bíblia, o estudo dos pais da igreja e a literatura clássica (George, 1993, p. 43). Com a
conversão de Constantino houve uma invasão barbara nas igrejas, a crescente imoralidade foi

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percebida principalmente entre os nobres da época, o que levava a uma descrença em uma
reforma social (Ferreira, 2013, p. 115). Mesmo não questionando os motivos da conversão de
Constantino, era fato que com sua conversão houve um declínio da fé cristã. Cristãos que
antes entregavam a vida pela verdade, agora lutavam entre si para alcançar privilégios da
igreja (Shelley, 2004, p. 135). Então, pode-se considerar em parte que o monasticismo foi
uma reação contra a secularização da igreja. Sendo uma alternativa de refúgio para aqueles
que estavam revoltados com a decadência da igreja na época. Tornando-se o ideal para quem
buscava uma vida de oração e de devoção. Considerada impossível fora dos monastérios
(Mcgrath, 2008, p. 226). Assim muitas pessoas desta época abandonaram a vida cotidiana
para viver nos mosteiros. No início do movimento monástico as pessoas abandonavam a suas
vidas em função de viveram uma vida de reclusão, cujo único objetivo era viver face a face
com Deus. Houve aqueles que abandonaram suas posses e foram viver uma vida de
peregrinação ou solidão, com o tempo foram criadas as ordens monásticas, essas impediam
que os monges vivessem sozinhos e sim em mosteiros, assim, também, as mulheres poderiam
viver uma vida de reclusão em mosteiros femininos, onde havia mais segurança. A ênfase em
todos eles sempre foi a pobreza, castidade e obediência ao abade e ao papa. Com as ordens
monásticas os monastérios começaram a servir de grande utilidade para a igreja. Nos séculos
V e VI, quase todo líder de igreja estava intimamente ligado ao monasticismo ou era monge.
“A célula monástica tornou-se um gabinete de estudo e os monges tornaram-se estudiosos”
(Shelley, 2004, pp. 135,143). Já do século XI ao XV podemos considerar um período muito
importante para os teólogos, pois este foi um período de grandes realizações no campo do Comentado [gj1]:

saber. Universidades foram criadas por toda a Europa, o que deixou uma herança para cultura
ocidental inestimável. As escolas catedrais se tornaram universidades espaço de produção e
saber. Aqueles que ingressavam na universidade, após completar o estudo do trivium
(constituído de gramática, retórica e lógica) e do quadrium (constituído de aritmética,
geometria, astronomia e música), estudavam direito, medicina e teologia. Entre 1080 e 1500,
foram fundadas na Europa mais decinquenta universidades (Ferreira, 2013, pp. 123-124).
123,124). As universidades revelam uma profunda fome de conhecimento de Deus vinda de
todas as partes. Sua tarefa era entender e explicar a luz da verdade revelada de Deus. Esse
período da história do pensamento cristão é chamado de escolasticismo. Nele emergiu a
singular teologia da Idade Média. O objetivo dos escolásticos era a conciliação da doutrina
cristã e a razão humana. Também, queriam organizar os ensinamentos da igreja em um
sistema ordenado. O tempo era dedicado por inteiro a curiosidade intelectual (Shelley, 2004,

11
p. 220). A teologia escolástica pode ser definida como tentativa de unir ideias de escritores
filosóficos gregos e das Escrituras, dos textos dos pais da igreja e de outras obras cristãs dos
primórdios do período medieval, com a finalidade de formar um sistema doutrinário claro e
definitivo (Ferreira, 2013, p. 125). A marca da educação medieval foi viver religiosamente de
maneira estudiosa. Contudo o acesso ao conhecimento era limitado ao clero. Beneditino de
Núrcia incentivava os monges para lerem e estudarem em prol do seu desenvolvimento
espiritual. Já Carlos Magno criou um decreto por meio do qual todo monastério deveria ter
uma escola para que toda aquele que desejasse uma ajuda de Deus pudesse aprender (Shelley,
2004, p. 221).

Nesse período veremos alguns nomes de destaque, como Anselmo que foi considerado um
gênio primitivo da escolástica e também o fruto mais maduro da escola monástica. O fato era
que Anselmo estava na encruzilhada da cultura monástica com a escolástica. Sua teologia
inicia com a fé continua com o entendimento indo para a razão. É conhecido pela expressão:
“não preciso entender para crer, mas creio para entender” (George, 1993, p. 43). Apesar de ter
sido arcebispo de Cantuária algumas de suas obras foram escritas em um exilio voluntário
(Gonzalez, 2004, p. 152). Pedro Aberlado era um renomado professor de Teologia e Filosofia
na escola catedral na cidade de Paris. No campo da filosofia sua principal obra foi dialética
(Gonzalez, 2004, p. 162). Foi monge na abadia de Saint-Denis. Ao contrário de Anselmo
entendia que nada pode ser crido antes de ser entendido. Algumas de suas preposições foram
condenadas como heréticas (Ferreira, 2013, p. 126). Pedro Lombardo foi professor na escola
catedral de Notre Dame. Combinou a tradição meditativa de Anselmo com o método dialético
de Abelardo. Sua obra foi fundamental para instrução teológica na Idade Média. E foi ele o
primeiro a destacar os sacramentos (Ferreira, 2013, p. 126). Foi consagrado bispo na cidade
de Paris, porém, morreu um ano depois. Sua principal obra foi Sentenças a qual foi dividida
em quatro livros, mais do que uma peça de construção teológica nela se encontram
compilações de autoridades tratando de cada questão (Gonzalez, 2004, p. 172). Alberto
Magno foi monge dominicano e ensinou entre outras na universidade de Paris. Foi nomeado
bispo, mas renunciou em prol da docência. Foi o primeiro intelectual medieval a aplicar a
filosofia aristotélica ao pensamento cristão (Ferreira, 2013, p. 126). E finalmente, Tomás de
Aquino, monge Dominicano, que havia nascido nobre e tinha uma mente brilhante, honrava a
razão acima de todos os outros atributos humanos, distinguindo-se por sua fidelidade a igreja
e por sua erudição (Shelley, 2004, p. 226). Ele harmoniza a filosofia de Aristóteles com o
consenso patrístico, conforme havia sido introduzido por Agostinho (George, 1993, p. 43).

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Suas principais obras foram, a Suma teológica e a Suma contra os gentios. Ele afirmava que a
fé cristã tem uma teologia fundada na revelação e uma filosofia ancorada no exercício da
razão. As duas formam uma síntese, à medida que estão unidas em uma só verdade, a mesma
para fé e para razão (Ferreira, 2013, p. 126).

O monasticismo como a escolástica, deixaram um imenso legado para teologia e cultura


cristã. Não há dúvidas que os homens de destaque desta época eram estudiosos, eruditos e que
estavam até a frente de seu tempo. Suas obras são dignas de serem estudas e consultadas
atualmente e muitas estão até mesmo longe de serem contestadas. Suas vidas e obras nos
servem de incentivo na busca intelectual, não só no campo científico, mas principalmente no
estudo teológico. Porém o que nos parece faltar nesta época, referida acima, foram pastores
formadores de opinião e principalmente teólogos.

Analisando os nomes que colocamos em destaque desta época, praticamente nenhum deles
dedicou tempo para conduzir a igreja, ou se dedicou foi um tempo muito curto, aparentemente
pastores de igrejas nesta época não tiveram o mesmo destaque. Strachan ao escrever O Pastor
como teólogo Público, juntamente com Vanhoozer (2016, p. 109), fala que a tendência do
ministério pastoral desta época era tornar-se parte do ministério prático. Segundo ele, líderes
como Gregório I, Bernardo de Claraval e Francisco de Assis haviam treinado seus seguidores
para adotar um ministério mendicante e realizar obras. Dessa forma muitos líderes do passado
se viram menos teólogos e mais como assistentes espirituais.

A Igreja sendo ensinada a partir de pastores bem preparados.

No livro Pastor como Mestre e Mestre como Pastor de Piper & Carson (2016 p. 72), Piper vai
dizer que as Escrituras dizem que Jesus deu à sua igreja pastores e mestres, e que estes devem
ser aptos a ensinar (1Tm 3.2). Todos os pastores devem pensar que Deus os deu a igreja como
um dom. Ele está dizendo: a maneira como vocês serão um dom para a igreja é sendo mestres
eficientes. E como ser um mestre para igreja, na atual situação que ela vive? Pastores estão
abarrotados de atividades, a agenda está cheia de compromissos. É bem verdade que todos os
compromissos fazem parte das tarefas do pastorado. Mas é preciso distribuir as tarefas por
ordem de importância. Josh Moody, no livro o Pastor como Teólogo Público (Vanhoozer &
Strachan, 2016, p. 55) defende que, a tarefa principal do pastor é pregar a palavra, em
qualquer situação. Seja no púlpito, nos hospitais, em pequenos grupos ou conversas pessoais.
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A vocação pastoral é inerentemente teológica. Isso não pode ser diferente, visto que
o pastor tem de ser aquele que ensina a Palavra de Deus e o evangelho. A ideia de
pastorado como um ofício não-teológico é inconcebível à luz do Novo Testamento.
Embora essa verdade esteja implícita em toda a Escritura, ela é talvez mais evidente
nas cartas de Paulo a Timóteo. Nessas cartas breves e poderosas, Paulo estabeleceu o
papel de Timóteo como teólogo e afirmou que todos os pastores que eram colegas de
Timóteo deveriam compartilhar da mesma vocação. Paulo encorajou enfaticamente
Timóteo a ler, ensinar, pregar e estudar a Escritura. Tudo isso é essencialmente
teológico, como Paulo deixou claro quando ordenou a Timóteo: “Mantém o padrão
das sãs palavras que de mim ouviste com fé e com o amor que está em Cristo Jesus.
Guarda o bom depósito, mediante o Espírito Santo que habita em nós” (2 Tm 1.13-
14). Timóteo deveria ser um mestre de outros que também ensinariam. “E o que de
minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens
fiéis e também idôneos para instruir a outros” (2 Tm 2.2). Quando Paulo terminou a
segunda carta a Timóteo, ele atingiu um ápice de interesse ao ordenar-lhe que
pregasse a Palavra, dando-lhe instruções específicas: “Prega a palavra, insta, quer
seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e
doutrina” (2 Tm 4.2). Por quê? Porque “haverá tempo em que não suportarão a sã
doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças,
como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade,
entregando-se às fábulas” (vv. 3-4). (Mohler , 2011 Locais do Kindle 1512-1524)

Ao contrário do que se vê hoje, o trabalho do pastor continua sendo o mesmo, ele consiste em
estudar a Bíblia, meditar muito sobre o que ela quer dizer realmente e, depois, se dedicar para
torná-la compreensível atraente e convincente ao seu povo. (Piper e Carson, 2016, p.73). Por
isso ele não pode permitir que as responsabilidades que repousam sobre seus ombros o
impeça de exercer aquela que é a sua maior responsabilidade, alimentar o povo com a Palavra
de Deus. (Ascol, 2015, p. 236)

Segundo Pamplona (2019) em seu livro intitulado A Jornada Excelente, ele vai dizer que a
pregação exerce um papel de extrema importância para a igreja e o mundo. Por isso esse
serviço precisa de qualidade. No livro Amado Timóteo Lingon Duncan vai dizer que a
maioria dos pastores evangélicos não estudam, eles têm dificuldade em saber quanto tempo é
necessário para preparar uma boa pregação. Ele lembra que Paulo nas cartas pastorais instrui e
exorta sobre o estudo ministerial. (2Tm 2.15) “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como
obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a Palavra da verdade”. Paulo
está dando uma diretriz apostólica ao jovem pastor, que ele estude com empenho e esforço
equivalente ao de um incansável trabalhador braçal. (Ascol, 2015, pp. 170-171). É tarefa
primaria do pastor, manusear bem as Escrituras. A verdadeira proclamação do evangelho
precisa causar mudanças radicais na vida de seus ouvintes. Mudanças no caráter, na justiça e
nas perspectivas das pessoas. Mas o que se tem visto, em alguns lugares, são shows onde o
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pastor mais parece um ator que está entretendo um público do que alguém que está exortando
e ensinando a verdade do evangelho (Santos, 2019). É comum ver atualmente pastores sendo
seduzidos a adaptar a mensagem do evangelho, a fim de que mais e mais pessoas sejam
atraídas à igreja. (Ascol, 2015, p. 166). Vemos sermões cheios de emocionalismo. Isso capta o
coração do povo, mas não gera mudança no caráter. Para Swindol, (2012) muitos estão
preocupados com o crescimento do número de membros e na imagem positiva que a igreja
poderá passar para atrair mais pessoas. Para isso, então, recorrem para um tipo de marketing,
onde a palavra ou sermões são adaptados ao que as pessoas querem ouvir e não ao que elas
precisam ouvir. Muitos pastores são tentados a espiritualizar sua motivação erra, dizem que
estão apenas procurando a melhor forma de promover o reino de Deus. (Ascol, 2015, p. 166).
A preocupação dos pastores deve ser de levar o ensino das escrituras e dessa forma levá-las a
Cristo. E deste modo obter um crescimento de entendimento e vivência na palavra não em
números de membros. (Swindoll, 2012, p. 87).

O poder não está no semeador, mas na semente. Olhe para o nosso gracioso Senhor.
Ele nunca estava preocupado com números, mas sim obcecado pela verdade. Seja
seu imitador! Nunca se esqueça de que a igreja não é uma reunião de pessoas que
convencemos com argumentos humanos ou atraímos por métodos mundanos. A
igreja do Deus vivo é o pilar e fundação da verdade. Então, tenha cuidado da
doutrina. (Ascol, 2015, p. 167)

Uma igreja contagiante é feita por pessoas que estão pautados por princípios bíblicos e os
vivenciam ao ponto de despertar a curiosidade de outras pessoas (Swindoll, 2012, p.87)

Em toda tarefa da igreja, o ministério da Palavra de Deus é central. É a Palavra que


nos chama a adorar, nos guia em adoração, nos ensina como adorar e nos capacita a
louvar a Deus e a encorajar uns aos outros. Por meio da Palavra, recebemos vida e
somos nutridos para atingir a maturidade em Cristo. A Palavra é a espada do
Espírito, que nos corrige, e o sopro do Espírito, que nos alimenta. Na missão da
igreja, é a Palavra de Deus que chama as nações ao Senhor. Pelo ensino da Palavra,
fazemos discípulos das nações. O crescimento da igreja é o crescimento da Palavra
(At 6.7, 12.24, 19.20). Onde há fome da Palavra de Deus, nenhum perito em
administração comercial ou em dinâmica de grupos edificará a igreja de Cristo.
(Mckinley, 2015, p. 68)

É lamentável saber que existem muitos púlpitos ocupados por pessoas que não creem nem na
Palavra do Senhor nem no Senhor da Palavra. Eles acreditam que são capazes de fazer
sermões sem a Bíblia, procuram acontecimentos que assistem em noticiários, parábolas
contemporâneas e por aí vai. Outros acreditam que não precisam se preparar, pois no
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improviso eles esperam ser enchidos por Deus instantes antes de subir ao púlpito. O pastor
precisa entender que ele é uma voz para transmitir o evangelho. É através desta voz que Deus
fala ao seu povo. Por isso está voz deverá ser uma pessoa vocacionada por Deus para tal
ofício, pois é um instrumento de Deus. Deve-se ter o cuidado em não se tomar o lugar de
Deus na pregação, pois é Deus quem fala e não o pregador. Nada é mais vital para igreja do
que o culto e dentro dele a pregação. É através da pregação que a fé é gerada e nutrida. Então
é preciso dedicar tempo e energia para pregar a palavra de Deus com excelência. (Mckinley,
2015, p. 76)

Formação Teológica para pastores.

R.Albert Mohler Jr em seu livro Deus não está em silêncio: Pregando para um mundo pós-
moderno, vai dizer o seguinte:

Todo pastor é chamado a ser um teólogo. Isso pode parecer uma surpresa para
aqueles pastores que veem a teologia como uma disciplina acadêmica estudada
durante o curso no seminário, e não como uma parte central e permanente da
vocação pastoral. Entretanto, a saúde da igreja depende de que seus pastores
funcionem como teólogos fiéis — ensinando, pregando, defendendo e aplicando as
grandes doutrinas da fé. (Mohler, Jr, 2011, Locais Kindle 1492-1495)

Surgem algumas perguntas: O que é formação teológica? Somente a academia pode dar essa
formação teológica? Segundo Justo Gonzalez e Perez, “Teologia vem de duas raízes grego
“theos”, que significa “Deus”, e “logos”, que significa “estudo, razão ou tratado”.
Concluindo, teologia é a disciplina que estuda Deus”. (Gonzalez & Perez, 2006, p. 13). Sendo
assim, formação teológica diz respeito ao seu conhecimento sobre Deus. Somente a academia
pode formar teologicamente? Segundo (Vanhoozer & Strachan, 2016, p. 101) Os bispos da
antiga igreja bebiam das Escrituras, meditavam profundamente sobre as verdades que
aprendiam, mas não possuíam graus acadêmicos e não passaram por seminários, mas o que é
possível compreender segundo a história, é que a formação teológica era adquirida através dos
estudos exaustivos das Escrituras. E de ensinamentos que foram dados pelos próprios
apóstolos. Segundo Strachan:

Hoje em dia, assim como no passado, pastores atuam como teólogos da igreja,
fazendo brilhar em corações Ávidos “a luz do conhecimento da glória de Deus na
face de Jesus Cristo” (2Co 4.6). Isso não significa que ministros devam assumir o
manto, muito menos o jugo, da teologia acadêmica, mas, sim, que o ministério
pastoral é, como os oficiais da aliança no passado, um ofício fundamentado em
realidades teológicas: a salvação, a sabedoria e a verdade --- em uma única palavra,
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Cristo. Se removermos Deus e o evangelho de Jesus Cristo, então o ministério
pastoral deixa de existir. Com base nesse fundamento cristológico, o pastor prega,
aconselha, discipula, lidera, age, cuida, gerencia, administra, põe ordem no caos,
evangeliza, repreende e ensina. Em todo esse trabalho essencialmente teológico; por
isso, cada pastor trabalha como teólogo. (Vanhoozer & Strachan, 2016, p. 87)

Mas, temos pastores que se auto intitulam ungidos e alegam que é só abrir a Bíblia e o
Espírito Santo lhe da revelação da Palavra, isto nos mostra tanto o despreparo como a
irresponsabilidade destes “mensageiros de Deus”, visto que a Palavra de Deus contém uma
mensagem de vida e morte eterna. Podemos imaginar um cirurgião que vai realizar um
transplante de coração e sem conhecimento dos procedimentos básicos? Haverá alguma
chance deste paciente sobreviver, sendo que se trata de um transplante de um órgão vital, que
está sendo realizado por um profissional desqualificado? Seria um caso de polícia. Contudo, o
mesmo ocorre quando uma pessoa despreparada que não tem o mínimo de zelo em ouvir e
estudar as Escrituras, se atrevem a usá-la irresponsavelmente. Mas o mau uso da Palavra é
sinônimo de condenação eterna (Santos, 2019). Vanhoozer defende os seminários teológicos
como ferramentas onde os pastores obterão conhecimento bíblico e teológico visando
entendimento e vivência em Cristo. Não é o lugar para adquirir habilidades que poderão ser
obtidas fora dos seminários como falar em público, técnicas de aconselhamento ou
pedagógicas. Mas seu objetivo é formar líderes intelectuais que encarnem o amor de Deus.
Busca cultivar a sabedoria para o bom manuseio da Palavra e transformar os alunos em
pessoas onde a palavra de Deus Habite ricamente. Deste modo os alunos buscam
conhecimento para que através deles possam passar conhecimento e fé a igreja (Vanhoozer &
Strachan, 2016). A teologia está intimamente ligada ao chamado pastoral é quase que
inseparável um do outro. Muitos pastores cuidam de igrejas baseados em seu carisma e
habilidades. Mas não dizer que estão sendo responsáveis com a parte do corpo de Cristo que
está em seus cuidados. A formação teológica, traz além de conhecimento bíblico condições de
interpretá-lo e assim poder passá-lo para a igreja. Sem falar nas enumeras aprendizagem sobre
o ministério pastoral que o aluno poderá adquirir. Desta forma podemos afirmar que pastoreio
sem formação teológica é um risco.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

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Ao conhecer um pouco a história da igreja desde o princípio, começando na igreja primitiva e
os pais da igreja, e fazermos uma análise sobre o que chamamos de ministério pastoral em
nossos dias, fica muito claro a importância da formação teológica para aqueles que já
exercem, os que almejam ou sentem-se chamados para o ministério pastoral. O problema de
pastores não acharem necessário a formação teológica talvez esteja ligada a uma certa
ignorância sobre o assunto, mas a intenção desta pesquisa é solucionar. Foi possível
identificar um erro os pastores, mesmo aqueles que tenham cursado teologia, é o de separar o
ministério pastoral da teologia, e achar que o teólogo são somente os acadêmicos que ensinam
e escrevem teologia. Na igreja brasileira é possível identificar algumas denominações que
entendem que a teologia é algo que esfria o homem, eles utilizam o que Paulo escreveu aos
coríntios em sua segunda carta capitulo 3.6 onde o apostolo diz que a letra mata, mas o
espírito vivifica, chamando aqueles que estudam e fazem teologia de frios e mortos
espiritualmente.

Mas fica claro ao longo de toda pesquisa que a teologia e o ministério pastoral devem andar
juntas, entrelaçadas. Paulo em suas cartas pastorais deixa claro aos seus colaboradores a
importância de alimentar, exortar e guiar o rebanho de Cristo. Nos pais da igreja vimos o
cuidado que eles tinham em meditar nas Escrituras e a preocupação de serem fiéis a ela. Os
pais que começaram a organizar a estrutura de fé, e se preocuparam em fazer isso de uma
forma simples e clara, para que o rebanho recebesse as instruções a cerca de Deus e o viver
cristão. A teologia não foi criada simplesmente para discussões intelectuais, mas para ser
vivida e causar impacto transformando vidas e sociedades. Até mesmo quando a teologia
adentra a filosofia ela procura simplificar e explicar a fé. Fazendo, desta maneira, que o
evangelho alcance todas as pessoas, quer os simples. Quer os intelectuais. Os pastores devem
ter essa consciência, pois sem ela e sem este conhecimento ele trazem sérios problemas para o
rebanho de Cristo.

Olhando a história ficou claro que o principal atributo do ofício pastoral é ensinar e guiar o
povo de Deus a ter uma vida pautada pelos ensinamentos bíblicos e apresentar
direcionamentos e reflexão para os dilemas da sociedade. Agora, olhando para os nossos dias
não conseguimos ver pastores seguindo essas verdades, como ensinar e guiar um rebanho sem
conhecimento teológico? O resultado dessa falta de formação teológica, são pastores se
preocupando em preparar sermões cheios de emocionalismos, que massageiam o ego, e que
visam apenas em encher igrejas. Não se preocupam em ensinar a genuína Palavra de Deus. Se
os mesmos investissem em formação teológica e em prosseguir nos estudos e ensinos
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teológicos, nossos sermões seriam enriquecidos e a igreja cresceria em conhecimento e vida
com Deus. Pastores teólogos se preocupam com a maturidade dos cristãos, entendem que o
seu compromisso é pregar a verdade, trazendo edificação para a igreja.

Que essa breve pesquisa possa contribuir para o entendimento de que o ofício pastoral e a
teologia são inseparáveis. O desejo é que mais trabalhos sobre esse tem sejam feitos, e que
abordem assuntos que não foram possíveis de tratar aqui com mais profundidade, e que isso
traga um despertamento para nossos pastores sobre a importância de serem teólogos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

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Vanhoozer, K. J., & Strachan, O. (2016). O PASTOR COMO TEÓLOGO PÚBLICO: Recuperando uma
visão perdida. São Paulo: Vida Nova.
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Graduando do Curso de Bacharelado em Teologia na modalidade CEAD, pela Universidade da Grande
Dourados – UNIGRAN. Dourados - MS.

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