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CIDADE: CUIABÁ/MT
ANO: 2023
Tema: Catequese
Professor: Franklin Ferreira
Plataforma: Canal da Editora Fiel
Ano de Realização: 2015
2. APRESENTAÇÃO DO AUTOR
O curso aborda a prática da catequese como um meio vital para instruir os membros da
igreja nos fundamentos da fé cristã. Baseia-se no modelo histórico de transmissão da
doutrina, como praticado pelos pais da igreja, durante a Reforma e pelos puritanos. O curso
destaca a importância de um entendimento comum da doutrina apostólica entre todos os
membros da igreja, incluindo adultos e crianças.
Ele explora o conceito de catequese, seu desenvolvimento histórico e sua prática na igreja
moderna. Discute-se o Catecismo Menor de Martinho Lutero e sua abordagem para a
instrução da fé. O currículo catequético tradicional, composto pelo Decálogo, Credo, Pai
Nosso e sacramentos, é examinado. Além disso, são apresentados os momentos-chave
da catequese na história da igreja e a importância da preparação para o batismo e a
membresia da igreja.
5. PRINCIPAIS TESES DESENVOLVIDAS NO CURSO
Pais da Igreja - Ano e Contexto: A era dos Pais da Igreja estende-se aproximadamente
do século II ao século V d.C. Esse período é marcado pelo estabelecimento e solidificação
das doutrinas cristãs fundamentais no contexto do Império Romano, após o cristianismo
ter se espalhado pelo Mediterrâneo. A catequese nesta época focava no ensino e na
preparação dos novos convertidos para o batismo, bem como na defesa da fé contra
heresias. Figuras-chave como Agostinho de Hipona desempenharam um papel crucial no
desenvolvimento do pensamento teológico e da prática catequética.
Século 16, Reforma - Ano e Contexto: O século 16 é marcado pela Reforma Protestante,
que começou com a publicação das 95 Teses de Martinho Lutero em 1517. Este movimento
se estendeu por toda a Europa, provocando profundas mudanças religiosas, políticas e
culturais. A catequese durante a Reforma foi caracterizada por um retorno às Escrituras
como a principal fonte de ensino cristão e pela produção de catecismos como ferramentas
para instruir tanto o clero quanto os leigos nas doutrinas fundamentais do cristianismo.
Martinho Lutero e outros reformadores, como João Calvino, enfatizaram a importância do
ensino da fé e da doutrina através de catecismos simples e acessíveis.
O princípio é "transmitir exatamente o que foi recebido", passar adiante como em uma
corrida de revezamento. Esta expressão, usada por Paulo, refere-se à transmissão do
Evangelho de Cristo, incluindo sua morte conforme as Escrituras, seu sepultamento e sua
ressurreição.
Catequisar envolve passar uma doutrina adiante, instruir e ensinar uma tradição. O objetivo
dos pais da Igreja, da Reforma e dos Puritanos era que todos os membros da igreja, tanto
adultos quanto crianças, tivessem um entendimento comum quanto à doutrina ou tradição
dos apóstolos. O catecismo, então, designa o conteúdo no qual as pessoas são
catequizadas, tradicionalmente composto pela exposição do Decálogo, dos Credos
Apostólicos, do Pai Nosso e dos sacramentos, considerados por Martinho Lutero como
"exatamente tudo aquilo que um cristão precisa saber."
Momentos-Chave da Catequese:
Durante uma inspeção pelas igrejas da Saxônia entre 1527 e 1528, Lutero constatou a falta
de conhecimento da fé cristã entre pastores e povo, e o abandono das escolas. Isso o levou
a escrever o Catecismo Menor em 1529. No catecismo, Lutero aborda temas como os Dez
Mandamentos, o Credo dos Apóstolos, a oração do Senhor, o batismo, a confissão, a
absolvição e a Ceia do Senhor, enfatizando a importância da compreensão e da repetição
destes ensinamentos. O Catecismo de Lutero começa assim:
Este catecismo foi escrito para preparar e desafiar pastores a instruir os membros da igreja
de Cristo.
• Apelar para que os pais ensinem as doutrinas com simplicidade em suas casas.
O pressuposto filosófico era o trivium (gramática, lógica e retórica), com a ideia de que o
trivium conduzia as pessoas à sabedoria. O catequisado precisava ter noções básicas de
gramática, saber interpretar e reproduzir em suas próprias palavras, de maneira clara e
exata, sua compreensão do catecismo.
O trivium é, portanto, uma filosofia pedagógica defendida por Lutero para que pais,
crianças, adultos, jovens, pastores e membros fossem capacitados a interpretar o mundo
ao seu redor:
Lutero desejava que a igreja fosse ensinada nos fundamentos rudimentares da fé cristã,
mas acima de tudo soubesse interpretar o mundo e tivesse ascensão social.
• Para Martinho Lutero, as doutrinas cristãs não devem depender da lógica humana
ou da filosofia, embora não devam ser tratadas de forma fideísta.
• Ele reconhecia as dificuldades de se explicar logicamente doutrinas como as da
Trindade e da encarnação, que deveriam ser cridas como essenciais à fé cristã.
Lutero acreditava que, durante o período formativo, as pessoas deveriam ser ensináveis:
• A catequese foi substituída por histórias bíblicas; a atenção foi retirada da graça de
Deus, revelada em Cristo, e voltada apenas para a repetição de eventos episódicos,
completados por advertências morais.
• Este parece ter sido um esforço consciente, motivado em parte pelo desejo de evitar
controvérsias doutrinárias, muito influenciado pelo Liberalismo Teológico nos
Estados Unidos, em seminários batistas e presbiterianos.
O currículo das Escolas Bíblicas Dominicais mudou radicalmente o foco do ensino cristão,
da catequese centrada em doutrina, em ética e devoção, para o enfoque moralista.
Fé é autodenúncia, o reconhecimento de que não temos como barganhar com Deus. Para
isso, precisamos conhecer os fundamentos da nossa fé.
Recuperando o Catecismo:
• Analise a situação.
• Apresente a visão catequética.
• Busque o consenso entre os líderes.
• Comece devagar, mas seja constante.
• Foque em jovens e famílias.
• Cuide dos hinos e cânticos da igreja.
• Faça ajustes conforme as necessidades.
• Proceda em oração.
Os catecismos são bastante significativos para orientar a visão dos membros das igrejas
para o lugar certo, gerando consonância, clareza e proteção contra espíritos enganadores.
A complexidade, porém, para a igreja histórica ou tradicional surge, algumas vezes (não
sempre, pra ser redundante neste ponto), de sua carência em saber “ler o tempo”, conforme
Maquiavel escreveu. Maquiavel enfatiza a importância de um líder compreender seu tempo
para agir de maneira eficaz e adaptativa às circunstâncias enfrentadas. Um empreendedor,
por exemplo, está em constante adaptação, lidando com a necessidade de gerenciar a
escassez da Terra após a queda e obter recursos, desenvolvendo modelos de negócios
para lucrar, sem discutir motivações, empreendedores são bons cases de “leitores do
tempo”. A igreja deve entender a sociedade e adaptar-se, não mudando seus valores ou o
alicerce sobre o qual é edificada (Cristo), mas utilizando ferramentas modernas, fruto da
capacidade criativa do homem, feito à imagem e semelhança de Deus.
Para tal entendimento, o componente cultural mais importante é a língua, que reflete o
cotidiano e molda a cosmovisão. Por exemplo, a estrutura gramatical nos Estados Unidos
sempre exige um sujeito, influenciando drasticamente a noção de responsabilidade
humana, ao contrário do Brasil, onde é possível dizer: “um vaso caiu e quebrou”. Tal
acontecimento não poderia ser descrito assim nos Estados Unidos. Ao passo que, em
muitos lugares, Lua e Sol não têm gênero, e em determinadas tribos não existem números.
Sem contar que as camadas de conhecimento são tão complexas hoje como jamais foram,
começando pelo acesso que a tecnologia nos dá a tanta informação. Apesar disso, Deus
ama as culturas e Sua multiforme graça é repleta de diversidade. No etnocentrismo do
Reino de Deus, o catecismo é Cristo, mas as línguas que confessam tal compreensão
fundamental são muitas, pois “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem
mulher; pois todos são um em Cristo Jesus.” Gálatas 3:28
Contudo, no mínimo três alienações precisam ser combatidas, antes de que a gente critique
“a morte dos catecismos”:
• Alienação teológica: muitos convertidos não sabem explicar como, por quê ou para
que lado se converteram. Isso não se deve à falta de catecismos no passado, mas
ao excesso de divisão no presente, formando trincheiras de doutores assustados
com a guerra ideológica e da comunicação em constante transformação hoje. Eles
tendem a identificar tudo e todos como inimigos em potencial, sem dar espaço para
parcerias que produzam frutos de edificação entre mestres e a igreja. Isso contraria
à ideia de Paulo de passar o bastão do Evangelho, como ele mesmo recebeu,
desconsiderando que o “bastão” precisa ser transferido para uma equipe de
corredores que trabalha em conjunto. Essa abordagem ignora também o fato de que
a metáfora foi usada numa ocasião cuja ilustração era facilmente assimilada,
conforme Paulo descreve em 2 Timóteo 2:2: "E o que você ouviu de mim na
presença de muitas testemunhas, transmita a homens fiéis que sejam capazes de
ensinar a outros também."
Os líderes e membros das igrejas históricas devem preocupar-se menos com a veneração
de suas próprias tradições e mais em amar a Jesus. Amar a Jesus significa amar a quem
Ele ama, e Jesus demonstrou amor pelas nações, incluindo os publicanos e os
marginalizados, sem acesso à sã doutrina. Ele também ama as pessoas, inclusive dentro
de igrejas reformadas, que ainda não compreendem plenamente quem Ele é e a magnitude
de Sua obra. Portanto, é essencial que as igrejas históricas abracem a relevância da
comunicação atual, sem perder a essência da verdade bíblica, para alcançar efetivamente
todas as pessoas em seu contexto cultural e espiritual. Isso implica aceitar "aquele que é
fraco na fé, sem discutir assuntos controvertidos", conforme Romanos 14:1, com a
esperança de alcançar o objetivo de "que eles sejam encorajados e unidos em amor, para
que tenham a riqueza completa do entendimento, a fim de conhecerem plenamente o
mistério de Deus, isto é, Cristo, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria
e do conhecimento", como descrito em Colossenses 2:2-3.
Logo, catequizar as pessoas não é mais tão considerável como era para Lutero. Não é que
a igreja deva menosprezar a unidade e coerência quanto à base que fundamenta a fé, mas
o Catecismo perdeu sua importância na medida em que deixou de usar a linguagem correta
para influenciar as diferentes épocas. Fundamentar a fé com boa doutrina e teologia
profunda continua sendo vital para a sobrevivência de muitos que “desmaiam” ou
“naufragam” na fé e levam consigo muitas pessoas, ou ainda, para os falsos mestres que
se infiltram na fragmentada comunidade cristã enquanto não temos ninguém maduro o
suficiente para sequer perceber a presença e o ensino deles, porque os “verdadeiros”
mestres preferem se juntar em torno de si mesmos com a desculpa de “proteger a são
doutrina” ao invés de aplicá-la para fortalecer membros fracos do corpo. Movimentos
evangélicos que crescem numericamente e explodem ao redor do mundo retratam o
Evangelho e a Igreja de uma forma completamente diferente do que ela realmente deve
ser à luz do Novo Testamento.
Precisamos, com urgência, aprender com Maquiavel, Paulo ou Ester (“Quem sabe se não
foi para um momento como este que você chegou à posição de rainha?” Ester 4:14) e,
acima de tudo, com Jesus e “falar por parábolas”. Não dá para ter fé sem compreensão; a
compreensão precisa ser bíblica. Entretanto, a linguagem precisa ser temporal. O
catecismo está quase morto, mas a palavra de Deus continua viva e eficaz; o que faltam
são obreiros que saibam manejá-la em nossa era, como o saudoso e amado Tim Keller
soube, por exemplo: "O catecismo é muito mais do que memorizar um documento – é um
compromisso comunitário de vida com o aprendizado e com o estudo." (Tim Keller)