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CATECISMO DA IGREJA: DA PALAVRA PARA O LIVRO E DO

A
LIVRO PARA A VIDA
partir de hoje nós temos o desafio de aprofundar um pouco mais
sobre o catecismo da Igreja Católica. Muitos são apegados a esse
livro porque reconhecem nele a fonte da doutrina cristã. Contudo
precisamos ter cuidado porque muitas são as fontes da nossa tradição e o
catecismo não quer ser a palavra final sobre tudo. Sabiamente a Igreja tem a
frente o Papa Francisco que muito tem insistido sobre a importância da vida
perante a lei, perante a doutrina. Que seu exemplo nos inspire nesse itinerário.

Origem conceitual
Quando utilizamos a palavra Catecismo muitas coisas nos vem à mente.
Um católico praticante rapidamente vai dizer que nele está a doutrina da Igreja.
Mas para que tenhamos condições de responder melhor, recorramos a outras
fontes para conhecer e divulgar tais estudos. Catecismo lembra o livro, o
conjunto de doutrinas, ensinamentos. Quando tratamos de catecismo, nós
estamos tratando de um corpo de ensinamentos solidificados que identificam a
fé cristã, de forma mais específica a fé cristã católica. É, portanto, um livro que
procura condensar os princípios que identificam a religião cristã católica. Mas
qual seria seu propósito? Unificar ou enquadrar? Direcionar ou determinar?
Sigamos algumas considerações importantes sobre sua significação para nos
auxiliar.

A palavra catecismo tem origem no grego e significa instruir a viva voz,


informar. Ora, estamos diante de um pequeno impasse. A instrução tem relação
íntima com a catequese, com a arte de transmitir a mensagem da boa nova de
Jesus, com a instrução no caminho cristão. Parte de um diálogo, de um anúncio
de muito se difere do ensinamento do livro. O livro pode ser lido sozinho,
estudado, contudo, não diz nada sobre si mesmo. O importante é a relação que
se estabelece entre os seguidores de Cristo e aqueles que chegam para o
caminho. Para começar a falar do caminho cristão é necessário partir do
catecismo ou do Evangelho de Jesus? Qual seria o material mais indicado para
anunciarmos a fé para alguém ou mesmo para aprofundarmos a nossa fé?

Percurso Histórico

Certo é que o catecismo tem relação com a catequese, com o anúncio do


kerigma. Essa catequese remonta ao período da revelação, dos seguidores mais
íntimos de Cristo. Foram eles que aprenderam com Jesus por meio de seus
gestos e palavras. Maravilhados por tão grande ensinamento, puseram-se a
compartilhá-lo com o mundo. Os apóstolos tiveram o desafio de anunciar essa
mensagem de acordo com sua fé e a influência do contexto histórico. Mais
adiante a fé começou a ser difundida a diferentes povos, como também a
diferentes classes: de uma forma de vida compartilhada por pobres passou a ser
vivenciada por nobres e cultos. Seu acolhimento em meio ao mundo grego
romano rendeu-lhe as graças de passar de religião perseguida à religião aceita
pelo poder político. É o tempo de estruturação da fé, dos ritos, da estrutura da
nova religião. A fé vivida e partilhada começa a ser redigida e documentada.
Obras como a Didaquê e posteriormente a dos Padres da Igreja indicam os
caminhos da tradição cristã. Esses Padres da Igreja, homens dotados de grande
cultura e fé, elaboram compêndios da fé cristã. São desse período os escritos de
Agostinho de Hipona, Ambrósio, Cirilo de Jerusalém, entre outros – clássicos
acessíveis a nós por meio de sua preservação ao longo dos tempos. Cada um, a
seu modo, tratava de temas considerados essenciais para a fé cristã.

O fim do período considerado patrístico dá lugar ao período escolástico. A


fé é tratada em conexão com a razão. As obras dão lugar aos manuais e a fé,
embora seja divulgada pelos reinados, é entendida somente pelos clérigos e
nobres. Esforços são realizados para educar as pessoas e transmitir a mensagem
da fé. Já estamos tratando de um cristianismo cada vez mais organizado
institucionalmente com toda sua estrutura medieval: hierarquia, mosteiros,
dioceses, papado. São fortes nesse período a influência de Tomás de Aquino e a
explicação da fé. Contudo, as divisões ocorridas dentro do cristianismo
ocasionaram o surgimento de distintas comunidades: ortodoxos e anos depois a
protestante. Com a comunidade protestante, ou reformista, surge pela primeira
vez o catecismo com os elementos essenciais desse novo modo de fé divulgado
por Martinho Lutero. Ameaçada pelas inúmeras comunidades que foram criadas
após a Reforma, a Igreja Católica se organizou mediante a realização do
Concílio de Trento num movimento de Contrarreforma. O concílio é uma
reunião que congrega as autoridades da Igreja para rever e definir questões
eclesiais. Foi dessa reunião que foram definidas as tentativas de união e defesa
da fé mediante a afirmação de alguns princípios. Um dos propósitos era criar
também um catecismo para os padres a fim de que pudessem conhecer e
transmitir os elementos essenciais da fé – tarefa cumprida anos após a
finalização do Concílio com a alcunha de Catecismo Romano ou catecismo de
Pio V.

O período tridentino foi considerado o período dos catecismos. Vários


foram elaborados com o objetivo de transmitir fielmente os ensinamentos
considerados verdadeiros pela tradição católica. É importante ressaltar o
trabalho de Carlos Borromeu que participou na elaboração do catecismo
romano, mas também os trabalhos de Pedro Canísio e Roberto Belarmino. Estes
dois últimos com propósitos inovadores: catecismos adaptados para jovens,
crianças e catequistas, bem como a simplificação do grande catecismo. Foram
esses instrumentos que acompanharam os pregadores das missões pelo novo
mundo. Esse foi considerado o meio essencial de transmissão da fé católica e
oposição ao protestantismo. Foi ainda meio de defesa contra os ensinamentos
modernos considerados como mundanos e anti-religiosos. A doutrina voltou-se
cada vez mais para si em oposição ao mundo moderno. Para tentar adaptar esses
ensinamentos, Pio X criou um catecismo mais simples com perguntas e
respostas adaptado ao seu tempo.

Muitos anos depois, após a realização do Concílio Vaticano II, os bispos


reuniram-se e propuseram a edição de um novo catecismo que traduzisse os
ensinamentos cristãos para os dias atuais. Esse esforço resultou na elaboração do
Catecismo da Igreja Católica em 1992 sob o papado de João Paulo II e
supervisão do Cardeal Ratzinger. Esse catecismo foi estruturado em quatro
partes: Profissão de Fé, Celebração do Mistério Cristão, Vida em Cristo, Oração
Cristã. Se formos explicar, a primeira parte trata do credo em toda sua
formulação, a segunda parte dos sacramentos, a terceira dos mandamentos e
práticas cristãs e a quarta parte da vida de oração com base no Pai nosso.
Considerações finais
O catecismo da Igreja foi elaborado para auxiliar os cristãos no
conhecimento da fé, contudo ele não contém toda a verdade da fé. Nele está um
conjunto de normas, de reflexões que não podem substituir nosso desejo de
conhecer tantas fontes às quais o próprio livro se refere. Existem muitos textos
da Tradição cristã que podem muito bem iniciar uma pessoa na fé, ou mesmo
reavivar o seu ardor. Um livro de muita importância para a vida cristã é a
Sagrada Escritura que não pode ser deixada de lado. Nela está o modo como as
primeiras comunidades cristãs acolheram a mensagem cristã – livro considerado
por nós como inspiração divina. Nela está a Palavra de Deus que supera
qualquer outro livro. E outro elemento muito importante: o testemunho de vida
de tantos que passam pelo mundo deixando verdadeiros rastros de Deus. Fé é
vida, fé é obra. É muito mais do que decorar uma série de princípios ou
conceitos que podem pouco contribuir para nosso encontro com Deus.

Disciplina Catecismo da Igreja 2022 – Professor Felipe Trindade

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