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FORTALEZA
2022
JOHN ANTHONY ALVES SOUSA DO NASCIMENTO
PERCEPÇÕES DE PROFESSORES(AS) DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA REDE
PÚBLICA MUNICIPAL DE MARACANAÚ-CE SOBRE A VIOLÊNCIA SEXUAL
CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES E A EDUCAÇÃO SEXUAL
FORTALEZA
2022
JOHN ANTHONY ALVES SOUSA DO NASCIMENTO
PERCEPÇÕES DE PROFESSORES(AS) DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA REDE
PÚBLICA MUNICIPAL DE MARACANAÚ-CE SOBRE A VIOLÊNCIA SEXUAL
CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES E A EDUCAÇÃO SEXUAL
Aprovação em 07/02/2022
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________________________
Prof. Dr. Luiz Sanches Neto (Orientador)
Instituto de Educação Física e Esportes - UFC
__________________________________________________________________
Prof. Mtdo. Breno José Mascarenhas Sá de Flor
__________________________________________________________________
Profª. Mtda. Emmanuelle Cynthia da Silva Ferreira
.
A Deus.
Aos meus pais, Moisés e Edilângela.
Aos meus irmãos, Felipe e Victor.
À Maria Isabel.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Luiz Sanches por aceitar o meu convite e me orientar de maneira tão
dedicada e comprometida.
A Profª. Especialista em Gestão Escolar Maria Alda dos Santos, por me auxiliar
no contato com os professores a serem entrevistados.
Ao(As) Professor(as) participantes da banca examinadora Breno Mascarenhas,
Cyntia Emanuelle e a suplente Emmanuelle Cynthia pelas valiosas contribuições e sugestões.
RESUMO
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 9
2. OBJETIVOS 12
3. REFERENCIAL TEÓRICO 13
3.1 VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTO-JUVENIL 13
3.2 VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTO-JUVENIL NO CEARÁ E MARACANAÚ 14
3.3 ABORDAGENS DA EDUCAÇÃO SEXUAL 16
3.4 CONSERVADORISMO E A CONTROVÉRSIA 18
3.5 EDUCAÇÃO FÍSICA, O(A) PROFESSOR(A), ATUAÇÃO E PREVENÇÃO 22
4 PERCURSO METODOLÓGICO 24
4.1 NATUREZA DO ESTUDO 24
4.2 SUJEITOS E LOCAIS 24
4.3 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS 25
4.4 ANÁLISE DE DADOS 25
4.5 ASPECTOS ÉTICOS 26
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
27
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 30
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 31
ANEXOS…………. 36
9
1. INTRODUÇÃO
Com isso, além do dever moral do(a) professor(a), há também um dever legal em
denunciar suspeitas, apesar de ser, “(...) baixo o número de notificações efetivamente
realizadas por esses profissionais” (LANDINI, 2011, p.89).
Nesse sentido, Sanderson (2005) apresenta que muitas das vítimas são instigadas
pelos agressores a fazerem pacto de silêncio e outras são culpabilizadas pelos pais que
esperam atitudes mais defensivas diante do agressor, o que normalmente não ocorre
(LANDINI, 2011; SANDERSON, 2005).
Outro ponto em destaque, é o debate entre os que são contra e os que são a favor
da educação sexual nas escolas. Os conservadores são contrários porque pensam a educação
sexual como uma forma de ensinar e incentivar o ato sexual ou que “transforme” as crianças
em gays (HELENA BERTHO, 2018), tudo isso, considerando que estão protegendo as
crianças e adolescentes, acabando por fim negligenciando e falhando justamente no objetivo
defendido, ainda que duvidoso, pois a educação sexual nas escolas é considerada uma das
formas mais eficazes de prevenção da violência sexual (CHILDHOOD, 2009). Partindo
dessas informações, o objetivo da pesquisa é compreender a relevância da educação sexual na
formação integral nas escolas sob a perspectiva de professores(as) de educação física da Rede
Municipal de Maracanaú-Ceará.
11
2. OBJETIVOS
3. REFERENCIAL TEÓRICO
A violência sexual, de acordo com Childhood (2009) e Meyer (2017) é uma grave
violação dos direitos humanos que atinge milhares de crianças e adolescentes do Brasil todos
os anos, sendo muitas vezes de difícil percepção, aumentado a necessidade da participação
dos(as) profissionais que mais convivem com as crianças e adolescentes (CHILDHOOD,
2009). O decreto presidencial 10.482/2020 criou uma comissão intersetorial de enfrentamento
à violência sexual contra crianças e adolescentes. A primeira reunião foi realizada em
13
fevereiro de 2021. Nessa reunião debateram sobre o grande número de casos denunciados e da
importância do socorro necessário às crianças e adolescentes que sofrem violências, o
secretário nacional dos direitos das crianças e dos adolescentes defendeu que sejam
elaboradas e executadas políticas públicas no combate das violências realizadas contra as
vítimas (BRASIL, 2021). Dessa forma, demonstrando uma aparente preocupação do governo
no combate à violência sexual de crianças e adolescentes.
Também, recentemente, no estado do Ceará, a Assembléia Legislativa acordou a
retirada (HOLANDA, 2021) de termos de uma proposta educacional (projeto Educa Mais)
como: sexualidade e gênero. Temas esses que podem promover direcionamentos para uma
educação sexual na escola, se considerarmos a amplitude do tema.
E esse tipo de decisão pode ir de encontro a propostas que visem a preservação
das crianças e adolescentes, pois Meyer (2017) e Childhood (2009) consideram a literatura
atual como defensora da educação sexual como uma das formas de maior eficácia no combate
à violência sexual contra crianças e adolescentes. O destaque desses temas demonstra a
necessidade de pesquisas nessa área, por afetar a formação e a segurança de milhares de
crianças no nosso país.
O crime de violência sexual é classificado em dois termos: abuso sexual e
exploração sexual. Sendo a exploração sexual como uma violência visando à obtenção de
lucro financeiro, enquanto o abuso trata-se da utilização da sexualidade da criança e
adolescente para qualquer ato sexual (BRASIL, 2020). Sanderson (2005) lembra que a
violência sexual, por caracterizar-se como um fenômeno cultural, pode variar de
entendimento nas diferentes culturas, por existirem diferentes faixas etárias como critério de
maior idade, por exemplo, dentre outros aspectos.
O código penal brasileiro (BRASIL, 1940, pp. 96) considera em seu Artigo 217-
A. "Ter conjunção carnal, ou outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos como
estupro de vulnerável. O que demonstra que em nossa cultura considera-se que o(a)
adolescente de até 14 anos não tem a plena capacidade de consentir levando em consideração
todas as consequências.
efeitos possíveis, como: insegurança, falta de confiança, exposição a outras violências, entre
outras possíveis conseqüências. Partindo disso, é importante entender que a prevenção contra
violências sexuais entra no conjunto da educação sexual.
Figueiró (2020, p.12) considera, a educação sexual como “sendo toda ação
ensino-aprendizagem sobre a sexualidade humana, seja no nível do conhecimento de
informações básicas, seja no nível do conhecimento e/ou discussões e reflexões sobre valores,
normas, sentimentos, emoções e atitudes relacionados à vida sexual.", Mas isso para delimitar
o critério de seleção, lembrando logo após a importância de ver a educação sexual como
conjunta à educação global do indivíduo, sendo assim, considerada de maneira mais ampla.
Vagliati (2014); Gonçalves, Faleiro e Malafaia (2013) defendem uma educação
sexual emancipatória, que contribui para superar os preconceitos, as amarras, o autoritarismo,
a culpa, o controle e a opressão. Priorizando a modificação de valores, preconceitos e
discriminações sexuais. Anteriormente denominada como abordagem política apresentada por
Figueiró (1996; 2020) que visa a educação sexual como um meio de transformação social.
Figueiró(1996) apresenta diferentes abordagens da educação sexual. A abordagem
religiosa católica e religiosa protestante, as duas podendo ser tradicional ou libertadora. A
tradicional católica é obediente às normas e leis oficiais da igreja e a tradicional protestante é
obediente às instruções e conselhos bíblicos, sendo também encontrado um modelo
questionador dentro do grupo tradicional. O questionador busca seguir as normas da igreja
(católica) e guiar-se pela interpretação bíblica (protestate), mas buscando adaptar às normas
ao contexto social, cultural, histórico e considerando os avanços da ciência. Já o religioso
libertador, se assemelha com o modelo emancipatório, entendendo a educação sexual como
instrumento de transformação social, mas mantendo os princípios cristãos básicos como amor,
respeito e justiça. Já a abordagem médica e pedagógica visam o viver bem a sexualidade,
dando ênfase no aspecto informativo, como nos programas escolares contra as doenças
sexualmente transmissíveis. No que diz respeito à abordagem política/emancipatória, também
considera o viver bem a sexualidade, mas tem como prioridade levantar questionamentos para
a transformação social, para a superação de preconceitos, para as relações de poder, defesa
das minorias e o resgate do erotismo (FIGUEIRÓ, 1996).
Nesse ponto cabe esboçar sobre o embate conservadorismo x educação sexual que
17
Fonte: Figueiró (1996;2020). ¹Figueiró apresenta as abordagens católica e protestante separadas, mas separei
por suas variações libertadoras, pois se diferenciam mais.
prejuízo aos direitos das crianças e dos adolescentes que têm limitado o acesso à educação.
Comprovando a afirmação de Araújo e Lara (2019), podemos encontrar no site do Senado
Federal (BRASIL, 2018) uma sugestão legislativa que visava alteração em um dos artigos do
Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), propondo o aumento de pena para o
constrangimento de menores, também sugerindo punição para o ensino ou discussão sobre
sexualidade. Com acréscimo de um terço para agentes públicos. O que ocasionaria a proibição
de professores(as) abordarem o tema.
Essa sugestão de Lei contou com o apoio de mais de 20.000 pessoas na internet, o
que confirma o pensamento de Araújo e Lara (2019) que a parcela conservadora, não só
dificulta o ensino da educação sexual na escola como quer sua proibição. O interessante de se
notar, na mesma sugestão de Lei, há a proposta de punição para constrangimento de menores,
o que sugere uma vontade de preservação da criança, o que acaba caindo em contradição, já
que a "Educação sexual é a melhor forma de prevenção" (CHILDHOOD, 2009, p. 58), nesse
caso, a melhor forma de proteção contra a violência sexual, mas se a parcela conservadora
(evangélico e católicos tradicionais, políticos populistas, dentre outros) que demonstra buscar
a "proteção" das crianças e adolescentes acaba sendo contrária à um ensino que efetivamente
pode proteger as crianças contra violências, acreditando na falácia de evitar que sofram
“lavagens” cerebrais e sejam direcionadas à homossexualidade ou que sejam induzidas a
iniciar precocemente a vida sexual.
Recentemente, como anteriormente foi exposto, de acordo com Holanda, 2021, os
deputados estaduais do Ceará entraram em acordo para tirar do texto do programa "Educa
Mais" do Estado, menção à sexualidade e gênero. Na matéria há a informação de que a
bancada evangélica foi contrária porque esses termos eram uma forma de introduzir a
"ideologia de gênero" (pensamento errôneo de que querem ensinar as crianças a serem
homossexuais e etc.) nas escolas. O que nos leva a questionar o entendimento sobre educação
sexual, em questão, o dos(as) professores(as) de educação física, já que, se percebe uma
grande rejeição pela população conservadora (ARAÚJO e LARA, 2019) . O ponto principal
que percebemos nesse embate conservadorismo x educação sexual escolar, como significa o
nome "conservador", se vê na necessidade de evitar mudanças, como Figueiró (1996; 2020)
demonstra com as abordagens religiosas tradicionais, como foi o caso da pressão exercida
pela bancada evangélica na Assembléia Legislativa do Ceará (HOLANDA, 2021).
Reis e Eggert (2017) abordam o tema da ideologia de gênero, entendendo-a como
uma falácia construída examinando os argumentos e percebem que a acusação de que há uma
ideologia de gênero é uma forma de dificultar a incorporação de temas como sexualidade e
19
gênero na educação, o que se demonstra como uma visão preconceituosa e contrária aos
direitos humanos.
Campagnolo (2019), representante da política conservadora conhecida por
combater a "ideologia de gênero" e o movimento feminista, traz em seu livro uma reflexão e
uma crítica sobre a educação pública como instrumento de transformação social, na
abordagem do texto, o tópico é tratado na perspectiva de como o feminismo se utilizaria da
educação para uma transformação social, acredito que é nesse ponto que entra o grande
embate. Uma vez que, como mostra Figueiró (1996; 2020), nas abordagens da educação
sexual, encontrada em seus estudos, a abordagem política/emancipatória entende a educação
sexual como um instrumento de mudança social, como meio de levantar questionamentos
sobre a moral, preconceitos, relações de poder, dentre outros fatores.
Autores como Vagliati (2014) defendem a educação sexual emancipatória, já a
educação sexual defendida pela Childhood (2009) parece ser uma mais voltada para a
abordagem médica e pedagógica apresentada por Figueiró (1996), visando uma sexualidade
saudável, sem dar destaque para as questões sociais. Essa falta de entendimento do amplo
papel da educação sexual parece ser o que motiva os conservadores a enxergarem como algo a
se combater, percebendo apenas seu papel transformador, negligenciando assim seu papel
preventivo. Não que o papel de transformação social não seja importante na redução dos
preconceitos, do autoritarismo, ou na reformulação da moral. Mas essa divergência específica
dificulta a aceitação (Araújo e Lara, 2019) por parte daqueles que enxergam a educação
sexual na abordagem religiosa tradicional conservadora (católica e protestante) (Figueiró,
1996; 2020), sendo necessário uma divulgação dos verdadeiros papéis da educação sexual
para maior aceitação da população conservadora.
Segundo Vagliati (2014, p. 130), “Prevenir e combater a violência sexual, que
muitas vezes acontece dentro das casas, locais que deveriam ser espaços de proteção das
crianças e adolescentes, são ações que poderão se efetivar com a educação escolar.”
Justamente por considerar que as ações de prevenção podem ser efetivadas na escola, torna-se
necessário discorrer sobre a abordagem das escolas sobre o tema.
Com isso, Vagliati (2014) defende uma educação sexual emancipatória nas
escolas, considerando que por meio dela que pode ser cumprida a prevenção e a identificação
da violência sexual. Neste ponto, cabe o que foi exposto acima, onde conservadores(as)
muitas vezes querem a exclusiva posição de educador(a) no tema da sexualidade, querendo
proibir a educação sexual em outros ambientes. Gonçalves; Faleiro; Malafaia, (2013, p. 252)
vão de encontro a esse posicionamento afirmando “[...] ser preocupação dos pais e educadores
20
que os adolescentes tenham uma educação sexual sadia, pautada em valores e hábitos
condizentes com a valorização da vida e com os direitos humanos”, defendendo, dessa
maneira, uma educação sexual emancipatória, discorrendo sobre os empecilhos para que, de
fato, a educação sexual seja realizada. Aborda os temores dos pais em tratar do tema, pois
alguns pensam que isso pode antecipar a prática sexual dos filhos, com isso, vão postergando
mencionar o assunto. Gonçalves; Faleiro e Malafaia (2013, p. 257) dizem ser importante que:
(...) a família e todos que participam da vida das crianças e adolescentes tenham em
mente que as informações oferecidas por meio da educação sexual emancipatória,
visam a fornecer reflexões para que elas tenham discernimento do que é certo e
errado, positivo e negativo e tenham conhecimento de medidas preventivas para
promoção da saúde e do autocuidado. Cabe salientar que o desenvolvimento da
educação sexual não visa a promover a abstinência sexual ou postergar o início da
vida sexual entre os jovens, mas, sim, na formação da autoconsciência e no resgate
do indivíduo enquanto sujeito de suas ações, para que seja livre para decidir, com
responsabilidade, a hora certa para que a sexualidade seja compartilhada com outro
individuo por meio do sexo(GONÇALVES, FALEIRO E MALAFAIA, 2013, P.
257).
Gonçalves, Faleiro e Malafaia (2013, p. 258) prosseguem dizendo que “Os pais
devem estar cientes de que é imprescindível, mas não exclusiva, a atuação da escola no
processo de educação sexual emancipatória dos seus filhos…” Sugerindo a necessidade de
participação conjunta entre família e escola.
Como a educação sexual não é uma disciplina do currículo, mas um tema
transversal (BRASIL, 1997), a abordagem dela pode ser tratada por diferentes disciplinas
(VAGLIATI, 2014), sendo interessante conhecer se os(as) professores(as) de educação física
abordam o tema com frequência, e se abordam, identificar se entendem a sexualidade de
forma ampla, como Figueiró (1996), ou se entendem apenas no aspecto do sexual como na
pesquisa de Vagliati (2014), onde alguns(umas) professores(as), quando perguntados sobre a
sexualidade, relacionavam de imediato com o ato sexual propriamente dito, o que sugere um
conhecimento limitado sobre sexualidade. Nesse sentido, essa conduta pode gerar um descaso
com a abordagem do tema, não o considerando o seu real significado, e por consequência,
menos necessário.
“[...] as práticas corporais devem ser abordadas como fenômeno cultural dinâmico,
diversificado, pluridimensional, singular e contraditório. Desse modo, é possível
assegurar aos alunos a (re)construção de um conjunto de conhecimentos que
permitam ampliar sua consciência a respeito de seus movimentos e dos recursos para
o cuidado de si e dos outros e desenvolver autonomia para apropriação e utilização
da cultura corporal de movimento em diversas finalidades humanas, favorecendo sua
participação de forma confiante e autoral na sociedade.” (BNCC P. 213, 2018)
4 PERCURSO METODOLÓGICO
Os nomes foram escolhidos por mim, Miriam vem da personagem bíblica que
atentamente observa seu irmão Moisés sendo encontrado pela princesa, filha de Faraó e indica
a própria mãe do menino para amamentá-lo, de certa forma salvando a vida do menino e o
trazendo de volta para sua mãe. Lourdes vem do nome de uma cidade francesa, onde há o
relato da aparição de Nossa Senhora, personagem muito querida pelos católicos, como a
professora se demonstrou muito católica, achei por bem colocar esse nome. Por último, Jonas,
outro personagem bíblico, que não querendo obedecer a voz de Deus foge. Escolhi esse nome
porque o professor é nascido em família católica, mas não se considera praticante.
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
nomes apresentados a seguir são nomes fictícios, para evitar expor o nome real do(das)
participante(s).
Começando por uma pergunta difícil e dura, na minha concepção, questionei se
ele(elas) já teriam percebido algum possível indício de violência sexual em algum(a) de
seus(suas) estudantes. O professor, que aqui será tratado por Jonas respondeu que em todo seu
período de professor, nunca percebeu nada do tipo, já a professora que aqui será tratada por
Miriam disse que se percebe uma diferença comportamental muito grande nas crianças que
sofrem violência, tanto sexual como física, o que se assemelha ao apresentado por Sanderson
(2006). A terceira e última participante será tratada por Lourdes, ela concordou com a
Miriam, no sentido de perceber mudanças comportamentais em quem sofre algum tipo de
violência e de suspeitar de algo quando há uma mudança tão drástica em algum(a) aluno(a).
Dando prosseguimento à entrevista, perguntei acerca do que entendiam por
educação sexual e se achavam que esse tema deveria ser abordado de alguma forma nas aulas
escolares de maneira geral. A professora Miriam disse o seguinte: “Entendo a educação
sexual como algo mais amplo, que envolva todo o aluno. Às vezes o nome ‘sexual’ já dá a
ideia de algo pejorativo”. Comentário esse que se identifica com o encontrado no trabalho de
Vagliati (2014), onde alguns(umas) professores(as) ao serem questionados sobre educação
sexual faziam a relação imediata com o ato sexual em si, o que se mostrou diferente por parte
da professora Miriam, que considerou a educação sexual como algo mais amplo, que envolva
o(a) aluno(a) por completo, suas relações com os outros alunos(as), limites de conduta e etc,.
Em contrapartida, o professor Jonas e a professora Lourdes relacionaram a
educação sexual com o “entender melhor o cuidado com o corpo” e “conhecer melhor o
corpo”, respectivamente. O que sugere uma visão de acordo com a abordagem pedagógica e
médica apresentada por Figueiró (2020; 1996), onde a educação é mais voltada para o cuidado
com o corpo e a vivência saudável da sexualidade. Todos(as) os(as) colaboradores(as)
consideraram que o tema da educação sexual deveria ser abordado nas aulas da escola.
Continuando sobre a abordagem dos temas perguntei: “Ela deve ser abordada nas
aulas de educação física ou somente por pessoas capacitadas diretamente a respeito do tema
da educação sexual?”, A resposta que mais me chamou a atenção foi a da professora Miriam
que disse assim: “Não acho que deveria ter uma disciplina exclusiva, mas que deve ser
abordado quando houver algum gancho nas aulas”, na concepção dela o tema é um assunto
cotidiano que pode surgir a qualquer momento, e que se surgir, o(a) professor(a) não pode
simplesmente ignorar. Achei o ponto de vista dela interessante, esse pensamento faz com que
o(a) professor(a) esteja atento(a) e preparado(a) para modelar as aulas de forma que venham
27
ser conduzidas de acordo com o cotidiano e com as dúvidas que frequentemente surgem na
cabeça das crianças.
Voltando mais especificamente para a violência sexual contra crianças perguntei
sobre a importância do tema ser abordado em aula, isso voltado mais diretamente para o seu
combate. Novamente a resposta que mais se destacou na minha concepção foi a da professora
Miriam que disse o seguinte: “É um tema muito importante de ser abordado, ainda mais em
uma região vulnerável como essa” e prosseguiu dizendo: “Às vezes as casas só tem um
cômodo, aí eles comentam”. A professora Miriam demonstra nessa frase a preocupação com
os(as) alunos(as), pois a escola se encontra em uma região de vulnerabilidade socioeconômica
e dominada por facções criminosas. Destaca também, que muitos(as) dos(as) alunos(as) são
expostos ao sexo de maneira prematura, e se eles vêem vão comentar, o que pode ser um
oportunidade para se abordar o tema. A professora Lourdes e o professor Jonas comentaram
ser importante, mas não se aprofundaram nos comentários.
Já encaminhando para o fim da entrevista perguntei: “Já teve alguma formação
sobre o tema da educação sexual ou tiveram alguma disciplina que tratasse disso na
faculdade?”, O professor Jonas e a professora Lourdes disseram que nunca tiveram esse tema
abordado em nenhuma cadeira da faculdade, a Lourdes fez um curso, mas por conta própria.
O que indica que há uma baixa atenção do governo para esse tema, ainda que muitos sejam os
casos (CEARÁ, 2021), A professora Miriam disse o seguinte: “Nunca tive esse tema
abordado na minha formação, o que sei aprendi na prática.”, Esse comentário de Miriam me
faz ver como devemos nos dedicar ao estudo de temas que consideramos importantes para a
sociedade, visto que muitas vezes não há um apoio adequado por parte do Estado Brasileiro.
Para encerrar a entrevista perguntei acerca da religiosidade de cada um, se
professavam alguma religião, e se sim, se eram dedicados a isso. O professor Jonas disse que
era nascido em família católica, mas que não frequentava a igreja. A professora Lourdes disse
que era católica praticante de grupo de oração, dando entonação na voz para deixar bem claro
que ama sua religião, por último, a professora Miriam disse ser evangélica. As duas
professoras se demonstraram mais religiosas, mas não pude enxergar algo que se aproximasse
das abordagens tradicionais: católica e evangélica, apresentadas por Figueiró (1996; 2020), se
aproximando mais da abordagem pedagógica/médica (Lourdes) e da abordagem evangélica
questionadora ou libertadora (Miriam). O professor Jonas também demonstrou ter uma
abordagem que se aproximasse da pedagógica/médica.
28
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho trata-se de um tema atual que pode ser ampliado que se direcionou
para a educação sexual escolar visando à prevenção e reconhecimento de violências sexuais
contra crianças e adolescentes, mas a educação sexual também pode ser voltada para o
combate de preconceitos diversos e para uma transformação social, como apresentado nas
abordagens de Figueiró (1996;2020).
Reconheço que este trabalho apresenta limitações, por exemplo: a quantidade de
participantes nas entrevistas é pequena, o tempo da entrevista foi reduzido, entre 10 e 20
minutos cada. Também o ambiente das entrevistas, elas foram realizadas na escola, não era
um ambiente silencioso. A entrevista com o professor aconteceu em um breve intervalo de
turmas e a entrevistas com as duas professoras aconteceu em uma sala de planejamento
29
REFERÊNCIAS
BRASIL, Senado Federal. Sugestão de proibir educação sexual nas escolas foi rejeitada
na CDH. Senado notícias, 2018. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2018/11/28/sugestao-de-proibir-educacao-
sexual-nas-escolas-foi-rejeitada-na-cdh. Acesso em: 20, Jul. 2021.
HELENA, B. Ideologia de gênero: entendendo o assunto e o que está por trás. AZmina
23, out. 2018. disponível em:https://azmina.com.br/reportagens/ideologia-de-genero-
entenda-o-assunto/. acesso em: 25/08/2021
REIS, T.; EGGERT, E. Ideologia de gênero: uma falácia construída sobre os planos de
educação brasileiros. Educ. Soc., Campinas, v. 38, n. 138, p.9-26, jan.-mar., 2017.
Disponível em: https://hdl.handle.net/10923/14530. Acesso em: 04/10/2021
RODRIGUES, A. Menina denuncia padastro por estupro após palestra sobre educação
sexual, no ES. G1, ES, 27, nov. 2018. disponível em: <https://g1.globo.com/es/espirito-
santo/noticia/2018/11/27/menina-denuncia-padrasto-por-estupro-apos-palestra-sobre-
violencia-sexual-no-es.ghtml>. Acesso em: 03/08/2021.
ANEXO A
Obs. Cada participante da entrevista ficou com uma cópia do termo de livre consentimento e
esclarecido assinado, no modelo acima e a outra cópia ficou comigo.
36
ANEXO B
ANEXO C
37