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06/06/2022 16:32 Infância na História e na Cultura Contemporânea

INFÂNCIA NA HISTÓRIA E NA
CULTURA CONTEMPORÂNEA
CAPÍTULO 1 - CRIANÇA É SER SOCIAL E
HISTÓRICO?
Suellen Irene Pereira Pierri

INICIAR

Introdução
Vários são os discursos sobre o fato de a criança – hoje em dia – ser vista como ser
histórico, cultural, social e de direitos. Mas será que sempre foi assim? A criança, no
decorrer dos tempos, sempre foi tratada como um indivíduo integrante da
sociedade, com seus direitos garantidos por lei? Neste capítulo você verá que essa é
uma visão relativamente recente da infância. No decorrer dos séculos, vigoraram
diferentes visões sobre a criança: como pequeno adulto, como tábula rasa, como
mão de obra barata, como impura ou como inocente; enfim, muitas foram as
concepções de criança e infância até que se consolidasse a que temos atualmente.
No Brasil, como país colonizado, há uma sequência histórica no tratamento e
entendimento da criança similar à de seu colonizador, Portugal, que, por sua vez,
tem uma história mais longa com a infância. Será que essas diferenças levaram
ambos países a um mesmo desfecho? Considerando a longa trajetória da Europa
com a infância, será que o Brasil já iniciou seu tratamento com as crianças a partir
de um sentimento de infância consolidado? Partiremos de visões mais antigas sobre
o tema para, no traçar histórico, chegarmos até nosso país e sua trajetória – por
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vezes igual, por vezes particular – ao entender e enxergar as crianças, e no agir com
elas. Como afirmam Kuhlmann Jr. e Fernandes (2012, p. 15), a infância é
compreendida a partir da “[...] concepção ou representação que os adultos fazem
sobre o período inicial da vida [...]”. Sendo assim, neste capítulo, você estudará a
infância e a criança a partir dessas visões, que lhe contarão uma história, e a partir
dessa história você criará as suas próprias concepções, que, espera-se, sejam
similares ao que hoje se acredita ser e estar criança. Bom estudo!

1.1 Relações entre: sociedade,


conhecimento, infância e educação
Neste tópico, você entenderá melhor como funcionam essas relações entre
sociedade, conhecimento, infância e educação. A esse respeito, conforme Faria Filho
(2004, p. 7), “[…] criança e infância emergem como categorias históricas,
constituídas no cotidiano das relações sociais […]”. Sendo assim, a concepção de
criança que temos hoje, baseada tanto em teorias educacionais quanto em aspectos
legais, foi uma construção histórica e formada também a partir de lutas pelo
reconhecimento da criança e do direito à institucionalização da infância.
Como você deve estar pensando, toda essa construção estava ligada a tipos de
sociedade e políticas que foram se formando com o passar dos tempos. Na Idade
Média (século V ao XV), havia um tipo de sociedade com suas verdades e limitações,
que continha uma visão para o tratamento da infância; na Idade Moderna (século XV
ao XVIII), mudou-se a maneira de enxergar o ser humano, a igreja, a política e,
consequentemente, a criança, assim como em todos os tempos até a atualidade.
Todas as premissas humanas são construções históricas, e devemos entender esse
passo a passo para compreendermos quem somos e como chegamos aonde
estamos.

1.1.1 A criança na Idade Média


Você sabia que vários foram os papéis dados às crianças durante o passar dos anos e
dos séculos? A maioria deles, porém, pode ser caracterizada pelo “[...] não-lugar a
que durante anos a criança esteve condenada, não sendo reconhecida em suas
especificidades.” (PEREIRA; SOUZA, 1998, p. 28). Destarte, apesar de sempre ter
havido um papel para cada criança, esses papéis eram dados pelos adultos, suas

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histórias eram contadas sempre pelo outro, pelo mais velho, aquele que ditava as
regras, tudo sem levar em consideração a voz das crianças sobre o que pensavam ou
o que achavam.

Etimologicamente, a infância consiste no silêncio que precede a emissão das palavras


e a enunciação do discurso, designando uma condição da linguagem e do
pensamento com a qual o ser humano se defronta ao longo de sua vida, mas, com
maior frequência, em uma idade específica, diferenciada da adulta, na qual ainda não
ingressou no mundo público (PAGNI, 2010, p. 100).

De forma figurada, podemos dizer que, durante séculos, foi negado à criança o
direito de se exprimir: a ela restou o silêncio, a não permissão de ter sua voz ouvida
em decisões, até mesmo no que se referia a ela mesma. Os alimentos foram dados
às crianças sem perguntar se elas gostavam deles ou os queriam; suas vestimentas
postas sem saber se elas as aprovavam ou se lhes eram confortáveis; seu ensino
regido de forma vertical, no qual coube aos adultos a decisão do quê e quando
ensinar, em detrimento das vontades das crianças, ou sem levar em consideração o
que elas já sabiam sobre tal assunto ou conteúdo.
A seguir, observe a imagem de uma pintura que retrata uma menina na Idade Média:

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Figura 1 - Princess
Margareth, de Diego Velásquez. Fonte: Oleg Golovnev, Shutterstock, 2017.

Como você pode observar, a imagem anterior retrata uma menina vestida com uma
roupa destinada às mulheres da época. Nota-se que o tamanho do vestido e os
ornamentos quase não lhe permitem os movimentos naturais do corpo. Não havia
uma preocupação com as particularidades do corpo infantil no que se refere à
vestimenta da época, mas sim com a caracterização da criança como um pequeno
adulto. Você considera que essa concepção é diferente da que temos hoje?

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Durante a Idade Média, reconhecida como o período histórico a partir do século V


até o século XV – com a queda de Constantinopla –, a sociedade foi tomada por
valores religiosos, o que determinou uma diminuição dos infanticídios (JOHNSON,
2001) e uma maior preocupação com o bem-estar da criança pequena, no sentido
de um cuidado com a preservação da vida – para não morrer de fome, por exemplo
–, mas ainda não com o sentido mais amplo de cuidado com a criança, que temos
hoje.
Na Idade Média, só eram consideradas crianças os bebês que ainda mamavam, o
que frequentemente se estendia até o período entre os 5 e 7 anos de idade. A partir
desse momento, as crianças passavam a frequentar os mesmos lugares que os
adultos, sem distinção de trajes ou linguajar apropriado, ou seja, elas viam e ouviam
tudo que o adulto via ou ouvia. Não havia leis de proteção à infância, já que esse
conceito ainda não existia.
A seguir, observe a reprodução de uma pintura que retrata uma taverna onde
crianças e adultos poderiam permanecer juntos.

Figura 2 - Prince’s Day, de Jan Steen. Fonte: Everett – Art, Shutterstock, 2017.

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Na figura anterior, percebe-se que está acontecendo uma festa em uma taverna,
onde há homens bebendo e jogando, e pode-se notar que um homem já está
aparentemente bêbado, de joelhos, e levando uma garrafa à boca. Nesse ambiente,
é visível ao menos uma criança, o que denota a não preocupação com a
adequabilidade dos locais à infância, entendendo-se que esta deveria ser vivida em
conformidade com os adultos.
Nesse sentido, você já se perguntou como era a educação nessa época? Não havia o
conceito de escolas que temos hoje, mas, sim, de salas de estudos livres. Sem local
determinado, essas aulas poderiam acontecer em praças, mercados, igrejas etc., as
quais ofereciam educação para pessoas de várias faixas etárias – crianças ou adultos
– e chegavam a receber 200 indivíduos por vez. “A criança era, portanto, diferente do
homem, mas apenas no tamanho e na força, enquanto as outras características
permaneciam iguais” (ARIÈS, 1981, p. 14). Nesses estabelecimentos, só havia
homens ou meninos, as meninas eram educadas em casa pela própria família, ou
em casa de conhecidos.

VOCÊ QUER LER?


O texto “Infância: construção social e histórica” de Moysés Kuhlmann Jr. e Fabiana Silva Fernandes (2012),
do livro Educação Infantil e Sociedade: questões contemporâneas, trata sobre diversas pesquisas no âmbito
da história da educação infantil, além de trabalhar os conceitos de criança e infância no decorrer da
história e a partir da visão de vários estudiosos do tema. Leia no link:
<http://ndi.ufsc.br/files/2013/08/Educa%C3%A7%C3%A3o-e-Sociedade.pdf
(http://ndi.ufsc.br/files/2013/08/Educa%C3%A7%C3%A3o-e-Sociedade.pdf)>.

Portanto, você pode perceber que, além de as crianças não receberem atendimento
ou educação individualizados, ainda havia o fator de gênero que separava crianças
entre si. Isso também se devia ao impacto do cristianismo à época, já que a Bíblia
Sagrada (2012) explicita o papel da mulher na sociedade em vários momentos:
“Esposa, obedeça ao seu marido, como você obedece ao senhor. Pois o marido tem
autoridade sobre a esposa, assim como Cristo tem autoridade sobre a igreja.”
([Ef,  5:22,23], 2012, p.  1.643); “Esposa, obedeça ao seu marido, pois é o que você

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deve fazer por ser cristã.” ([Cl, 3:18], 2012, p. 1.654); “[...] para que as mulheres mais
jovens aprendam [...] a ser prudentes, puras, boas donas de casa e obedientes ao
marido.”([Tito, 2:4-5], 2012, p. 1.674).
Em inúmeras passagens bíblicas (BÍBLIA SAGRADA, 2012), a mulher aparece como
submissa ao homem ou como a que deve ensinar às mais novas o caminho até Deus
ou à própria submissão. Essas passagens bíblicas ilustram a forma de ver o papel da
mulher, logo, da menina, à época da Idade Média.
Pelo contexto fornecido, você pode concluir como o fator religioso era
predominante nessa época, e isso deve ser levado em conta ao pensar a infância.
Inclusive, por esse motivo, a infância dos meninos e das meninas era tratada e vista
de maneira distinta.
A partir disso, pode-se afirmar que o pensamento sobre a criança em cada momento
histórico reflete o tipo de tratamento e educação dados a essa criança, e os
conhecimentos que se entende que ela deva ter. Veja a seguir como esse
pensamento foi se alterando ao longo dos tempos.

1.1.2 Mudanças na Idade Moderna


Durante a Idade Moderna – com início marcado, historicamente, em 1453, quando
da queda de Constantinopla, e fim em 1789, época da Revolução Francesa –, houve
uma grande ruptura dos valores sociais, políticos e de ordem econômica vigentes na
Idade Média:

Com a Modernidade, ocorre a ruptura com a sociedade de ordens, que barrava as


liberdades individuais; a laicização política, econômica e cultural, proporcionando a
formação dos Estados Nacionais, a abertura do comércio, a valorização da autonomia
e da capacidade humana (antropocentrismo); as descobertas geográficas; o
desenvolvimento das cidades; o surgimento de uma nova classe, a burguesia; e, como
consequência, promove uma revolução na pedagogia e na educação (FORMIGONI,
2010, p. 139).

Mas em que essas mudanças de valores afetou a educação? A mudança significativa


nesse campo é que se passou a formar indivíduos ativos socialmente e livres de
qualquer religiosidade que restrinja sua maneira de pensar e ver o mundo apenas
por essa ótica.

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Iniciou-se, em contrapartida, um período de institucionalização de locais de ensino


e regramento, com a construção de mais escolas, asilos, presídios, como uma forma
de o Estado controlar esses indivíduos.
Você pode imaginar que, com esse processo, a criança passou a ser vista de forma
diferente, como um ser individualizado e ligado à sua família. Por sua vez,
desenvolveu-se no seio da família a visão de que o cuidado com a criança é
necessário para fins de perpetuação de sua linhagem e da sociedade. Nesse
momento, aparecem a bajulação e os mimos às crianças, fazendo desaparecer aos
poucos o sentimento de indiferença dado a elas anteriormente (FORMIGONI, 2010).
De forma contrária aos métodos medievais de educação, como você deve notar pela
comparação entre os períodos, na Idade Moderna há uma preocupação em ensinar
as crianças conforme suas capacidades, mas ainda em grupos grandes. Com o
passar do tempo, o que durou cerca de um século, um único professor começou a
cuidar de cada grupo menor de indivíduos, que permaneceram agrupados conforme
suas capacidades – e todos em um mesmo local. As classes agrupadas por idade,
como conhecemos hoje, começam a surgir em fins da Modernidade e no início da
Idade Contemporânea.
Para você se situar melhor entre esses períodos, acompanhe a seguir um breve
resumo da periodização da história. Esse é um método cronológico usado para
contar e separar o tempo histórico da humanidade. A clássica divisão da história é
marcada por cinco períodos, tendo como referência a Europa. Veja a linha do tempo
dos períodos proposta por Certeau, (2002):
 
Pré-história - se inicia com o surgimento do ser humano e dura até cerca de
4000 a.C;
Idade Antiga - compreende de cerca de 4000 a.C. até 476 d.C., quando ocorre
a queda do Império Romano do Ocidente;
Idade Média - entre o ano de 476 d.C. até 1453, quando ocorre a conquista de
Constantinopla pelos turcos otomanos e, consequentemente, a queda do
Império Romano do Oriente;
Idade Moderna - considerada de 1453 até 1789, ano da eclosão da Revolução
Francesa;
Idade Contemporânea - compreende de 1789 até aos dias atuais.

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Dessa forma, pode-se afirmar que as concepções em relação às crianças e à sua


educação foram mudando com o decorrer do tempo, de modo a dar mais
visibilidade à sua individualidade, e essa mudança sempre esteve diretamente
ligada às transformações sociais, políticas e econômicas da sociedade. Dessa
maneira, você consegue perceber como essas mudanças estão imbricadas,
atreladas umas às outras?

1.2 Philippe Ariès e a história da


infância
Para entender melhor esse processo de formação da ideia de infância, é
fundamental conhecer um pouco deste autor: Philippe Ariès (1981) escreveu uma
das obras mais importantes entre as que nos permitem, hoje, entender a infância
como algo socialmente construído, o livro: História Social da Criança e da Família.
A partir de caracterizações sociais e detalhamento das famílias e dos modos de vida
no decorrer das idades Média e Moderna, o autor conta a trajetória de como se
chegou ao sentimento de infância e de como chegamos ao momento de mudar
nosso olhar e nossas atitudes em relação às crianças.
Ao tratar hoje da obra de Ariès, deve-se ter em conta que, apesar de ter sido a
primeira literatura que abordou a infância de forma abrangente e a enxergou como
construção histórica – e não apenas como fator biológico –, há muitos estudos
posteriores que criticam a iconografia utilizada no livro e sua visão de que o
sentimento de infância apenas passou a existir em fins da era moderna. Porém, para
fins de estudo e entendimento processual sobre criança e infância, é uma literatura
de incontestável importância.

1.2.1 A obra de Philippe Ariès


A obra de Ariès abrange um estudo da história da criança e da família desde o século
XII até o século XVII (ARIÈS, 1981, p. 22), ou seja, durante a Baixa Idade Média e fins
da Idade Moderna, perpassando todas as transformações sociais e políticas desses
séculos, e sua influência no sentimento dos adultos e da sociedade em geral em
relação à infância e à maneira de lidar com as crianças.
Para você se localizar ainda melhor no tempo, veja o quadro a seguir, que relaciona
os séculos a suas respectivas datas cronológicas.
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Quadro 1
- Relação entre os séculos e seus respectivos anos. Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Segundo Ariès (1981), a sociedade medieval tradicional reduzia a infância aos


momentos em que a criança ainda não tinha desenvoltura física. Nesse sentido,
assim que ela começava a se movimentar com um pouco mais de agilidade, e a
controlar seus movimentos, já era inserida na vida adulta.

VOCÊ QUER LER?

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O livro "História Social da Criança e da Família", de Philippe Ariès, trata sobre a construção do sentimento
de infância e a visibilidade social da criança durante as idades Média e Moderna a partir do entendimento
da família e da sociedade. A obra está disponível no endereço:

<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5525040/mod_resource/content/2/ARI%C3%88S.%20Hist%C3
%B3ria%20social%20da%20crian%C3%A7a%20e%20da%20fam%C3%ADlia_text.pdf
(https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5525040/mod_resource/content/2/ARI%C3%88S.%20Hist%C3
%B3ria%20social%20da%20crian%C3%A7a%20e%20da%20fam%C3%ADlia_text.pdf)>.

  E como Ariès analisa a educação dessa época? O ensino, segundo o autor, era
ministrado às crianças de maneira informal e conjuntamente a outros adultos, de
forma que elas só aprendiam o que também era ensinado aos mais velhos, fosse
algo bom, fosse ruim, de seu entendimento ou não. Ou seja, a diferenciação que é
feita hoje sobre o que dizer e como agir perto de uma criança era completamente
ignorada na Idade Média. “A passagem da criança pela família e pela sociedade era
muito breve e muito insignificante para que tivesse tempo ou razão de forçar a
memória e tocar a sensibilidade” (ARIÈS, 1981, p. 10).
A seguir, analise a figura que reproduz a pintura de Bruegel que retrata a sociedade
do século XVI:

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Figura 3 - A Luta entre o Carnaval e a Quaresma, de Pieter Bruegel. Fonte: jorisvo, Shutterstock, 2017.

Como você pôde conferir na figura anterior, não é possível diferenciar quem são as
crianças e quem são os adultos, já que eles se misturavam em seus afazeres diários e
tinham uma rotina muito parecida, característica da falta de percepção das
particularidades da infância à época,
E o que esse autor apurou sobre o fator da idade dos indivíduos, por si? Este seria
um fator de significância tardia, pois datam do século XV (ARIÈS, 1981, p. 2) as
primeiras inscrições documentais mostrando a importância da data de nascimento
ou do ano de acontecimentos retratados. Essa pouca relevância dada às datas e
idades reflete a não condição social da criança como criança, uma vez que ela
nascia, era cuidada até conseguir se movimentar e, em seguida, era dirigida à
sociedade para aprender seus costumes na imersão.
Em relação à aprendizagem, pode-se afirmar que, à época, acontecia diariamente e
na informalidade, a partir do outro mais velho e mais experiente – e com este.

1.2.2 O caminho da infância na iconografia

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Você já parou para refletir como tem sido feita a representação visual da infância no
meio cultural? De acordo com Ariès (1981), a iconografia só tratou de “descobrir” a
infância a partir do século XIII. Não se deve aqui entender que a sociedade criou o
sentimento de infância a partir dessa época, mas sim que retratos começaram a ser
pintados, dando lugar aos pequenos sem as deformações ou características físicas
adultas direcionadas à figura do infante dos séculos anteriores.
A figura a seguir reproduz uma pintura datada de início do século XIII.
 


Figura 4 - Madonna e a Criança,
de Berlinghiero. Fonte: Everett – Art, Shutterstock, 2017.

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Como você observou pela análise da imagem anterior, só é possível saber que o
indivíduo no colo da mulher é uma criança por ocasião do nome da pintura, pois
suas feições do rosto não retratam nenhum traço infantil. Aparentemente, há um
adulto segurando um pequeno adulto no colo.
Mas a partir de quando isso começou a mudar? De acordo com Lima (2013),
somente no final do século XIII surgiram imagens de crianças que demonstravam
suas feições um pouco mais diferenciadas dos adultos, mais ternas e infantis, em
especial em pinturas religiosas de crianças ajudando em missas, de anjos ou
caracterizando o menino Jesus e a pequena Virgem Maria.
No século XVI, surgiram outras representações de crianças desvinculadas do
cristianismo: o retrato e o putto (ARIÈS, 1981). O primeiro retratava crianças mortas,
primeiramente com crianças em outro plano e acompanhadas de familiares ou
professores; posteriormente, começaram a aparecer pinturas de crianças sozinhas e
com feições e características mais infantis. Esse tipo de arte demonstrou que estava
se superando a ideia de que a morte da criança era insignificante e que a perda de
um infante começava a ser sentida socialmente. A família começava a mostrar-se
sentimental com tal perda.
Já o  putto surgiu principalmente nos anos finais do século XVI (ARIÈS, 1981, p. 49) e
seria a figura da criança nua, impactando o tema anterior de criança religiosa, e
exibindo a nudez infantil como importante motivo decorativo.
A figura a seguir retrata um putto ostentado como decoração da fachada de uma
edificação.

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Figura 5 - Estátua de uma criança na Santa Casa de Loreta, em Praga. Fonte: jorisvo, Shutterstock, 2017.

Conforme você pôde observar na figura anterior, há uma criança nua com traços
finos e angelicais, demarcando a separação iconográfica da criança anteriormente
retratada – o pequeno adulto, ou uma imagem ligada ao cristianismo –, agora mais
angelical e artística.
Esse “eros artístico” da criança nua (ARIÈS, 1981, p. 28), continuou destacado nas
pinturas de artistas até os séculos XIX e XX.
A partir dessa historiografia imagética, você percebeu como a maneira de ver e
transparecer a criança vai mudando no decorrer dos séculos a partir da família e dos
ideais de sociedade e políticos da época?

VOCÊ SABIA?
De acordo com Rosa (2010), a palavra putto advém do latim putus, podendo também ser traduzida
do italiano puttus. Para além de caracterizar uma forma de arte da Idade Moderna, na Itália, a palavra
tem relação direta com o cupido, deus grego do amor, sendo suas imagens relacionadas. Para mais

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informações, consulte o livro "A Sombra de Orfeu: o neoplatonismo renascentista e o nascimento da


ópera", de Ronel Alberti da Rosa (2010).

Fazendo uma breve compilação do que estudamos neste subtópico, em um primeiro


entendimento, as crianças eram pequenos adultos e inseridos na sociedade para
aprenderem a partir da experiência. E a influência da Igreja, ainda forte, refletia em
imagens adultizadas de crianças nas pinturas.
Posteriormente, em um entendimento mais angelical do ser criança, suas
características foram ficando mais ternas nas pinturas, e sua figura representada por
anjos e pelo menino Jesus.
O retrato de crianças mortas do século XVI (ARIÈS, 1981, p. 58) aparece já
demonstrando uma maior preocupação com os pequenos e com o sentimento em
relação à sua perda, à medida que vai se extinguindo a indiferença sobre a vida da
criança. E como já vimos, o putto aparece como forma de uma volta à era grega, com
uma representação do nu infantil, já com feições mais singulares e próprias de
criança, sendo ela mesma o objeto decorativo.
Destarte, pode-se afirmar que o sentimento de infância se inicia mais fortemente em
fins do século XVII, com sua trajetória reconhecida a partir da iconografia dos
séculos XV e XVI (BARBOSA, 2010), ou seja, do caminhar de uma criança centrada no
adulto até ser ela o centro das pinturas. É a iconografia caracterizando a sociedade e
a política no decorrer dos séculos.
No próximo tópico, antes de explorarmos a trajetória da infância no Brasil,
trataremos do denominado “sentimento de infância”, que foi responsável por
desencadear uma visibilidade da infância no mundo, abrindo as portas para a
concepção desse conceito que temos atualmente.

1.3   O sentimento de infância


A partir do que estudamos nos tópicos anteriores, você pôde perceber que o
sentimento de que a criança é um ser diferente do adulto, com particularidades e
necessidades próprias, é relativamente novo.

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Muitos caminhos foram trilhados, e muitas mudanças sociais e políticas ocorreram


até que a sociedade e as famílias enxergassem a criança fora de suas limitações
físicas e seus padrões biológicos, como um cidadão com direitos e deveres
diferentes dos adultos.
Logo após o nascimento, os bebês eram tratados como bibelôs e protegidos do
mundo a partir do entendimento de sua imaturidade, fragilidade e necessidade de
cuidados. Porém, mal começavam a andar, essa fragilidade não mais existia, e se
considerava que essa criança estava apta a vivenciar o mundo; era rompida
abruptamente a paparicação, para dar lugar ao momento adulto.
Essa convivência acarretava aos pequenos vivências além de suas compreensões,
em um entendimento de que, como seres vazios, deveriam aprender no dia a dia
como crescer e lidar com as situações. Casavam-se cedo, com cerca de 12 ou 13 anos
de idade, e ficavam à sua própria sorte.
As famílias, por sua vez, se abstinham de seus filhos ainda muito pequenos,
delegando-os a pajens ou a outras pessoas, até que chegasse a hora de eles mesmos
terem suas próprias famílias e, então, perpetuarem essas atitudes.
Com o tempo e as mudanças em relação à política, à Igreja e ao entendimento de si
como indivíduo, essas relações com a infância também foram se modificando,
dando abertura ao sentimento de infância, ou seja, a um entendimento das
particularidades infantis e suas diferenças em relação aos adultos.

1.3.1 Os dois sentimentos da infância


Parafraseio Ariès (1981) no título deste subtópico, pois são dois os sentimentos em
relação à infância que distinguimos no transcorrer histórico: aquele direcionado à
criança muito pequena e, posteriormente, o que vai dar lugar ao que conhecemos
hoje, o sentimento de uma infância dentro do entendimento da criança como ser
particular.

VOCÊ O CONHECE?
Colin Heywood (2004) foi um crítico severo à literatura de Ariès, referente a uma demarcação de um
sentimento de infância histórico. Por sua vez, tratou de defender a busca de diferentes concepções sobre
a infância no decorrer historiográfico, em seu livro Uma História da Infância: da idade média à época

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contemporânea no ocidente, cuja resenha (KUHLMANN JR., 2005) está disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/cp/v35n125/a1435125.pdf
(http://www.scielo.br/pdf/cp/v35n125/a1435125.pdf)>.

 
Para iniciar as explicações, você precisa ter em mente que “[o] sentimento de
infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde à
consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue
essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem” (ARIÈS, 1981, p. 99). Faz-se
importante essa diferenciação se atentarmos para o fato de que, mesmo na Idade
Média, existia uma afeição pela criança recém-nascida, que era tratada com mimos,
no que Ariès chamou de “paparicação”. Contudo, essa época é igualmente marcada
pelo entendimento da criança como um vir a ser, sem voz ativa e sem distinção
quando inserida no mundo adulto; se ela sobrevivesse à fragilidade da pequenice,
se confundiria com os adultos.
São vários os relatos dos sentimentos para com a infância durante essa pequenice,
caracterizada pelo período em que as crianças ainda eram consideradas “fofas” e
divertiam os adultos. Esse sentimento era compartilhado, especialmente, entre as
amas e as mães, as principais responsáveis por cuidar dessas crianças tão
pequenas.
De acordo com Ariès (1981), essa paparicação foi relacionada ao tratamento
direcionado a macacos por Montaigne, que não entendia como as pessoas
poderiam tratar as crianças como passatempo. Porém, sua intenção não era
diferenciar as crianças dos animais, dando-lhes uma personalidade e
particularidade únicas, mas Montaigne considerava que “[...] as pessoas se
ocupavam demais das crianças” e não valia a pena perder tanto tempo com elas
(ARIÈS, 1981, p. 101).
Dessa forma, pode-se afirmar que o sentimento de paparicação em relação às
crianças pequenas não era comum a toda a sociedade, e um sentimento contrário, o
de exasperação, ajudou no processo de separação das crianças dos adultos em
determinados momentos, como à mesa. Nesses casos, a separação se dava, muitas
vezes, exatamente para evitar esse tipo de trato exagerado com as crianças. Cabe
mencionar que a paparicação acontecia tanto entre famílias burguesas quanto entre
as do povo.

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O outro sentimento de infância que se forma durante o século XVII (ARIÈS, 1981, p.
125) – e se estende até os dias de hoje – é o “entendimento da particularidade das
crianças” não mais na forma de distração ou brincadeira, mas com a conotação de
uma preocupação moral e um interesse psicológico.
É nesse momento que surgem textos sobre a psicologia infantil, por exemplo o Ratio
Studiorum dos jesuítas (FRANCA, 1952), na tentativa de entender como o cérebro da
criança funciona, procurando dar a ela uma educação de acordo com seu
entendimento e sua compreensão. No próximo subtópico, você entenderá melhor as
mudanças ao longo dos tempos e como elas influenciam a visão sobre a infância.

1.3.2 Grandes mudanças sociais sugerem mudanças para a infância


Como você pôde notar a partir do que estudou até aqui, os séculos XVI e XVII são
marcados por mudanças sociais, políticas e culturais profundas. A tendência, nesse
momento, era a de formar indivíduos racionais e cristãos, com o olhar para o infante
como tábula rasa, planta que deveria ser regada para render bons frutos, crianças
honradas. Deve-se cultivar a docilidade das crianças, entendendo-as com seres
frágeis, dependentes e inocentes.
O tratamento e entendimento das crianças pela sociedade sempre esteve
diretamente ligado às mudanças estruturais da própria sociedade no decorrer dos
tempos; sendo assim, tais alterações serão vistas de forma concomitante.

[...] como tendência dominante, a ruptura, a mudança, a transição do modo de


produção feudal ao incipiente capitalismo, com todas as transformações que isto
implica na mentalidade, nas crenças, nos valores, nas formas de vida das pessoas e
das sociedades. Pode-se dizer, de forma esquemática, que se opera uma alteração na
ordem socioeconômica, política, religiosa e cultural (GASPARIN, 1994, p. 32).

Dessa forma, com essas mudanças, tanto sociais quanto no que se referem à
educação, as crianças deveriam ser resguardadas e ensinadas a como se portarem
socialmente, o que deveriam falar, o que deveriam vestir; não havia mais o
sentimento de adulto em miniatura, mas sim uma particularidade civilizatória, a
educação para a civilização. Aqui, pode-se fazer uma comparação com a figura do
“bom selvagem” de Rousseau (1978), baseada no mito do bom selvagem, com o
ideário de que o homem nasce bom. Sendo assim, a criança seria a figura inocente,
e caberia à sociedade e à família edificá-la ou corrompê-la.

A reprodução da pintura a seguir retrata essa infância vigiada.


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Figura 6 - Retrato de uma Família, de Adriaan de Lelie. Fonte: Everett – Art, Shutterstock, 2017.

Observando a imagem apresentada, em contraposição às pinturas analisadas


anteriormente, nota-se que os infantes eram retratados de forma a se diferenciarem
dos adultos – com feições mais finas e delicadas – e junto às suas famílias, que
tinham a função de cuidar de suas crianças e moralizá-las.
Neste momento, passou a haver a preocupação com a moralidade, a disciplina e os
costumes. Desse modo, as crianças não mais poderiam adentrar as rodas dos
adultos e ficar imersas em seus mundos corruptíveis, era necessário salvá-las. Para
tanto, a educação e a família eram as instituições que deveriam se responsabilizar
pelas crianças e perpetuar nelas os códigos morais devidos.
Foi exatamente nessa época que aumentou o número de asilos, colégios, cadeias,
hospícios, todas instituições com a intencionalidade primeira de cercear os corpos
(FOUCAULT, 1987).

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O interesse pelo corpo, no século XVII, vinha por meio de objetivos morais, “[...] um
corpo mal enrijecido inclinava à moleza, à preguiça, à concupiscência, a todos os
vícios” (ARIÈS, 1981, p. 105). Aos corpos enfermos eram ministrados cuidados para
que não parecessem mais tão enfermos, dando-lhes boa aparência; aos velhos e
loucos, quando cuidados médicos e familiares já não adiantavam para a inevitável
rigidez e falta de manipulação de seus corpos, cabia os asilos e hospícios; aos
marginais, que ousavam desobedecer a leis tão severas como as vigentes à época,
restavam as prisões, onde não mais eles poderiam ferir a nobre e honrada
sociedade.
Assim, seguindo a mesma dinâmica, crianças e adolescentes, para aprenderem as
regras sociais e a se portarem perante outros, deveriam frequentar as escolas, locais
montados exatamente para o cerceamento dos corpos, os quais, rígidos em carteiras
e podendo falar e se movimentar apenas mediante ordens, aprendiam a ser
igualmente honrados, racionais e bondosos, tais quais os adultos de sua sociedade.

VOCÊ QUER VER?


No dia 6 de outubro de 2015, a organização do Museu de Arte de São Paulo (MASP) realizou um seminário
dentro do próprio museu para tratar sobre a história da infância no transcorrer dos séculos sobre as mais
diversas formas – social, política, cultural e iconográfica. No evento, autoridades em educação como
Mary Del Priore, Maria Filomena Gregori e Ana Lucia Lopes apresentaram suas pesquisas e perspectivas
sobre o tema. Você pode ver o vídeo, intitulado Seminário História da Infância, disponível no endereço:
<https://www.youtube.com/watch?v=mAIDHP5hufY (https://www.youtube.com/watch?
v=mAIDHP5hufY)>.

Seja de forma aceitável ou não, perante o olhar da sociedade atualmente, as


crianças ganharam notoriedade e um olhar de diferenciação social a partir do século
XVII, já na Idade Moderna (SILVA, A., 2007, p. 35), e esse foi o primeiro passo para
essa notoriedade evoluir para a forma que tem nos dias de hoje. O fato de a criança
ter assumido um lugar central dentro da família e da sociedade séculos atrás foi
crucial para que ela ganhasse, na atualidade, o status de ser social, cultural e
histórico.

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Por fim, passaremos ao estudo da trajetória da infância no âmbito da sociedade


brasileira, procurando analisar suas particularidades.

1.4 Concepções de infância, educação,


cultura, conhecimento, diversidade,
cidadania e identidade: a infância no
Brasil
Nesse tópico você compreenderá de que forma a sociedade brasileira lidou com as
concepções de infância e alguns conceitos correlatos ao longo dos tempos, a partir
de mudanças externas, internacionais; e internas, de caráter nacional.
O Brasil é marcado por uma história particular da infância em seus primeiros
tempos. Com o início de sua colonização no ano de 1500, (PEDRO, 2008, p. 66), em
meados do século XVI já existia na Europa uma maior preocupação com a criança e
já se caminhava para o sentimento de infância, que será a raiz do que conhecemos
hoje como um entendimento de sua particularidade.
Porém, no Brasil, houve uma colonização de cunho religioso, com os jesuítas, que
trouxe modelos infantis baseados na cultura europeia, na intenção de educar e
catequizar as crianças indígenas, as quais em nada se pareciam com o ideário
europeu.

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Figura 7 - Ruínas de uma igreja dos jesuítas em São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul. Fonte:
Jordan Adkins, Shutterstock, 2017.

A partir da imagem anterior, é possível vislumbrar a magnitude de uma construção


religiosa à época jesuítica no Brasil, que demonstra a existência de um projeto
religioso para o país, baseado na importância da catequização dos indígenas e das
crianças para a Igreja e a sociedade.
Conjuntamente a isso, havia as crianças órfãs, abandonadas e migrantes, com alto
índice de mortalidade, com as quais os jesuítas não conseguiam lidar. Essas crianças
eram abandonadas à própria sorte nas ruas e, para diminuir essas mortes e as
situações de abandono, foram instaladas rodas dos expostos, locais onde as pessoas
deixariam suas crianças sem terem suas identidades reveladas e, ao mesmo tempo,
garantindo que os recém-nascidos não ficassem nas ruas para morrerem de fome ou
devorados por animais.

VOCÊ SABIA?
A roda dos expostos consistia em um cilindro de madeira, giratório, instalado nas portas dos
conventos e das casas de misericórdia. O sistema garantia o anonimato de quem abandonasse a
criança: o bebê era posto na roda e, ao acionar a campanhia, a pessoa do outro lado girava a roda e o
acolhia. No Brasil, a primeira roda dos expostos foi instalada na Santa Casa de Misericórdia de
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Salvador (BA), em 1726 (MARCILIO, 1997). Para saber mais, acesse o endereço:
<http://almanaque.weebly.com/roda-dos-expostos.html (http://almanaque.weebly.com/roda-dos-
expostos.html)>.

Porém, tão logo findou-se esse processo da roda, novamente as crianças


começaram a viver marginalizadas, o que levou a uma cobrança do Estado, através
da sociedade, por maneiras de lidar com essas crianças.
Surgiram, assim, as Fundações Estaduais do Bem-Estar do Menor (FEBEM), Juizados
de Menores e outros estabelecimentos, na tentativa de garantir à criança limpeza,
saúde e educação, além de (re)integração social.
A partir de 1988, com a Constituição, essas crianças começam a ter resguardada
uma gama maior de direitos e, em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) surge para fazer valer legalmente esses direitos (BASTOS, 2012). Destarte,
apenas no século XX as crianças começam a ser entendidas e respeitadas em suas
particularidades no país.
Pode-se afirmar, então, que também no Brasil o tratamento à criança esteve
diretamente relacionado às mudanças sociais e estruturais da sociedade, desde seu
processo de colonização até os dias de hoje, conforme você verá na sequência.

1.4.1 Os jesuítas, a roda dos expostos e a assistência à infância


Neste subtópico você aprenderá um pouco mais da história do Brasil, passando pela
intervenção dos jesuítas, pela criação da roda dos expostos e pelos mecanismos de
assistência à infância.
O plano dos jesuítas, no que se refere à educação da criança, era civilizatório,
conhecido como modelo pedagógico de colonização jesuítica, divulgando a fé cristã
e “moldando” os jovens. Seu trabalho era feito especialmente com os filhos dos
indígenas, mas também era destinado à criança desvalida.
Deve-se ter em conta que também havia as crianças filhas dos escravizados, que,
por sua vez, não tinham direito à educação ou a cuidados especiais, sofriam com a
mortalidade, os abusos e maus-tratos sem serem tidas como pessoas ou seres
sociais. Porém, como estas não eram abandonadas, pois eram consideradas
“propriedade”, o poder público não se via obrigado a preocupar-se com elas e
assegurar-lhes os direitos.

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As crianças pobres que não eram educadas pelos jesuítas, nem cuidadas ou postas
para trabalhar por suas famílias, eram abandonadas nas ruas e igrejas, ficando à
própria sorte. Nessa época surgem as Casas de Misericórdia, e um mecanismo
medieval – conforme mencionado anteriormente – conhecido como roda dos
expostos, no qual as pessoas poderiam abandonar seus filhos e suas filhas
anonimamente.

De acordo com Veiga (2007) o objetivo da irmandade não era educar as crianças, mas
acolhê-las e encaminhar as que tinham de zero a 3 anos de idade para amas de leite
pagas que amamentavam em domicílio ou no próprio hospital. Se ninguém se
responsabilizasse por elas, estas retornavam para a casa de assistência e lá
permaneciam até os 7 anos de idade, quando eram entregues às câmaras municipais
e ficavam expostas, em especial ao trabalho escravo ( POLETTO, 2012, p. 3).

Porém, essas rodas foram amplamente criticadas por higienistas, e acabaram por
deixar de existir. Posteriormente a isso, essas crianças, que antes eram deixadas nas
rodas, continuaram sendo abandonadas, dessa vez novamente nas ruas, e
acabaram por se tornar marginalizadas e visadas por vadiagem.
Então, a sociedade começa a cobrar do Estado uma solução para esse problema;
também os higienistas começam a cobrar que essas crianças deveriam ter acesso a
cuidados como higiene, limpeza, saúde e educação.
A partir dessas cobranças, o Estado se vê impelido a agir. Assim, em fins do século
XIX, no Brasil Império, surgem “[...] os primeiros asilos, mantidos pelo governo
imperial, com o objetivo de ministrar o ensino elementar e profissionalizante a esse
público, mascarando, dessa forma, o intuito real de segregação dos menores,
retirando-lhes do convívio social.” (POLETTO, 2012, p. 4).
No que se refere à história do Brasil, três são os períodos que marcam a
periodização tradicional e dividem a história do país, segundo Fausto (1996):

Brasil Colônia – reconhecido entre o início de colonização (1500) até a sua


independência, em 1822;
Brasil Império – inicia-se em 1822, quando da Independência até a
proclamação da República, em 1889;
Brasil República – desde 1889 até os dias de hoje.

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A partir da segunda metade do século XIX, se estabelece a “obrigatoriedade de


ensino para crianças acima de 7 anos de idade” (SHUELER, 1999, p. 5). Então, essas
crianças abandonadas não poderiam mais trabalhar, mas os municípios deveriam
se responsabilizar por sua educação ou por encaminhá-las para as chamadas casas
de família, para que pudessem se estabelecer e ter chances de sucesso social, pelo
que conhecemos hoje como adoção.
Note que essas medidas de educação e cuidado eram direcionadas às famílias
pobres, já que as crianças de famílias mais abastadas tinham acesso, desde fins do
século XIX, aos jardins de infância, nos modelos dos jardins alemães de Friedrich
Froebel (OLIVEIRA-FORMOSINHO, 2007), nos quais as crianças já eram entendidas
como seres sociais e recebiam uma educação voltada à descoberta e expansão de
habilidades. “O primeiro Jardim de Infância Brasileiro data de 1875” (MENDES, 2015,
p. 99), no Colégio Menezes Vieira, no Rio de Janeiro.
Fique atento, o próximo subtópico abordará os desdobramentos dessa história no
século XX.

1.4.2 Defesa da infância e amparo legal


Somente no século XX se iniciou uma preocupação com as particularidades das
crianças, e a infância começou a ser discutida (ANDRADE, 2010). Cabe mencionar
que, em um primeiro momento, por parte do Estado, gerou-se mais uma inquietude
sobre o que fazer com as crianças abandonadas e marginalizadas do que
necessariamente uma preocupação com seu bem-estar e segurança. De qualquer
forma, esse primeiro passo, dado graças a uma cobrança da sociedade, fomentou e
impulsionou discussões e atitudes sobre a infância no país.

VOCÊ QUER LER?


O texto “Diferentes Concepções da Infância e Adolescência: a importância da historicidade para sua
construção”, de Ana Maria Frota (2007), trata sobre diversas concepções de criança e adolescência ao logo
do transcorrer histórico, evidenciando o contexto social, político e cultural no qual foram sendo
construídas essas concepções. Você pode ler em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1808-42812007000100013&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
(http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
42812007000100013&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt)>.

https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=%2f7zOk7m2jeiNFO%2bHduPd2w%3d%3d&l=pST5d4dQ5GjMbdB91VAOog%3d%3d&cd… 26/34
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Em 1922, houve o primeiro Congresso Brasileiro de proteção à infância, e


institucionalizaram-se os asilos como casas correcionais. Em 1924, o Conselho de
Assistência e Proteção dos Menores foi regulamentado, e em 1941, criou-se o
Serviço de Assistência a Menores, ambas com caráter corretivo, de forma a
institucionalizar as crianças de rua ou menores abandonados. Nessa época, o termo
“menor” já era amplamente usado para caracterizar a criança pobre.
Durante o período de Ditadura Militar no Brasil, os menores marginalizados eram
tratados de forma punitiva, e as instituições que os recebiam – como a Fundação
Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM), criada nesse período – tinham toda a
intenção de corrigir e cercear as crianças, espelho de um governo autoritário e
repressivo com todas as parcelas da população.
Havia leis que garantiam às crianças educação, instrução e bem-estar, mas essas
instituições raramente ofereciam quaisquer desses itens a essas crianças. Somente
após o término da ditadura e várias manifestações da população em defesa de seus
direitos e de educação de qualidade para suas crianças, a Constituição Federal
(1988) foi promulgada e, pela primeira vez, garantiu-se a educação como um direito
social que deve ser assegurado a todos os indivíduos, sendo dever do Estado e da
família. À criança pequena é garantida a educação infantil em creches e pré-escolas.

VOCÊ O CONHECE?
Moysés Kuhlmann Jr. é docente da Unisantos e pesquisador sênior da Fundação Carlos Chagas. Coordena
a página “História da Educação e da Infância”, que disponibiliza fontes documentais digitalizadas, no
portal da Fundação Carlos Chagas. Editor-chefe do periódico Cadernos de Pesquisa e notório pesquisador
sobre a história da infância no Brasil, seus textos são referência obrigatória para os estudiosos da criança
e da infância. Informações retiradas no currículo Lattes do professor Moysés, disponível em:
<http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4797830T4
(http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4797830T4)>.

Em 1990, mais um passo foi dado em direção à garantia de direitos das crianças e
adolescentes, a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA):

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Nesse estatuto consta a preocupação e obrigatoriedade legal de garantir às crianças


e aos adolescentes bem-estar e direitos ligados a todos os aspectos de sua vida e
suas vivências, permitindo a eles serem e estarem crianças e jovens de forma digna,
além de serem tratados como indivíduos participantes da vida em sociedade e
cidadãos com direitos e deveres.
Em 1996 foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei
no 9.394 (BRASIL, 1996), que delegou obrigatoriamente, ao estado, a educação de
crianças em idade escolar e de jovens, e, ao município, a educação das crianças
pequenas, salvo algumas exceções. 

VOCÊ SABIA?
Apenas após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), promulgada em 1996, se tornou
obrigatório nas escolas haver profissionais habilitados para o trabalho com crianças pequenas. Ou
seja, apesar de já existirem discussões sobre a importância da educação para crianças pequenas
desde o início do século XX, e inúmeras concepções de educação sendo mais amplamente
disseminadas desde fins da década de 1960, apenas em fins do século a legalidade alcançou as
discussões e a literatura.

Além disso, há uma preocupação com o direcionamento de verbas para garantir o


mantimento de uma educação de qualidade que abranja toda a população, seja
através da União, seja dos estados, seja dos municípios.
A LDB, na mesma direção do ECA, situa a criança como “[...] um sujeito ativo, em
pleno desenvolvimento social e histórico que, como tal, marca e é marcado por uma
determinada cultura” (PIERRI, 2009, p. 1). Sendo assim, amplia-se uma concepção
de criança e infância condizentes com o que se acredita até hoje, e uma educação
voltada à escuta dos quereres e saberes dessas crianças, com o intuito de dar voz
aos pequenos e, a partir daí, ampliar seu repertório de aprendizagens dentro de
uma perspectiva de respeito à cultura em que esses menores estão inseridos.
Para entender melhor, veja o exemplo descrito no caso a seguir.

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CASO
Imagine-se como professor/professora em uma sala de crianças com idade de 4 anos, em uma escola
pública de educação infantil. Você leva seus alunos para o parque. Lá, os deixa livres para brincar,
explorar e se relacionar com os colegas à vontade; seu papel é o de observador/observadora e
mediador/mediadora das ações, quando necessário. Em determinado momento, você vê um grupo
de crianças brincando de casinha e as escuta estabelecendo papéis de quem é o pai, quem é a mãe e
quem são os filhos. Com isso, percebe que há meninos querendo ser mãe, meninas querendo ser pai
e cada um lidando com os papéis – seus e dos demais – de acordo com o que dita a sociedade e à
sua maneira: a menina, que é o pai, vai trabalhar, o menino, que é a mãe, fica em casa cuidando dos
filhos.

O papel do professor, nesses momentos, é lidar com a situação de forma a respeitar a diversidade e
os diferentes papéis exercidos na sociedade e, a partir do aprendido neste capítulo, respeitar a
criança como ser social e histórico que age sobre sua cultura e a influencia tanto quanto é
influenciada por ela. Dessa forma, deve-se chamar as crianças – posteriormente, e não durante a
brincadeira – para tratar sobre o assunto da sexualidade e da família com base no que as crianças
sabem e, a partir daí, ampliar conhecimentos, sem estabelecer verdades e sem preconceitos ou uso
de religiosidade ao abordar o tema.

Como você pôde perceber, a trajetória do entendimento e respeito à infância no


Brasil foi – e tem sido – longa, com início coincidente com o período de sua
colonização pelos europeus, a partir do século XVI. Até fins do século XX, muitos
processos ocorreram nesses mais de 400 anos para se alcançar um resguardo legal
pelo Estado do respeito à infância e à criança no país. Entretanto, você deve levar
em consideração que essa exigência não chega por todos os confins deste imenso
país, e nem alcança todas as crianças; é notória, ainda, a quantidade de crianças
analfabetas, fora da escola, trabalhando ou em situação de risco. Porém, isso já é
uma outra história, que diz respeito à implementação efetiva desses direitos, uma
continuidade que faz parte dos desafios de uma educação para todos.

Síntese
Concluímos o estudo relativo à história da infância. Agora você já sabe como se deu
a construção do sentimento de infância, e a trajetória entre o entendimento desse
momento da vida como particular do indivíduo até o respeito e a obrigatoriedade
legal de assegurar às crianças o direito à infância e de ser criança.

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Neste capítulo, você teve a oportunidade de:


entender o sentimento de infância como uma construção social;
aprender que a ideia de que criança é um ser diferente do adulto com
particularidades e necessidades outras é relativamente nova;
compreender que o entendimento do que é ser criança está diretamente
ligado às mudanças sociais, políticas e culturais da sociedade;
conhecer algumas leis e instituições que regeram e regem a educação e o
bem-estar de crianças e jovens no Brasil;
identificar que o Brasil teve sua própria trajetória em relação à infância e que
essa história ainda está sendo contada.

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