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SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................ 3
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NOSSA HISTÓRIA
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Introdução
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A instituição Psicanálise, relacionada ao fazer psicanalítico, foi inventada
por Freud. Seus sucessores deram continuidade à obra. Na cenografia do
atendimento psicanalítico, existem dimensões que garantem a legitimidade do
fazer uma clínica psicanalítica. Entretanto, uma instituição, como a Psicanálise,
precisa reinventar-se a cada instante na dialética do instituído e do instituinte, do
legitimado e do novo.
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Alguns críticos da psicanálise argumentarão sobre a impossibilidade de
instaurar o tratamento inventado por Freud no âmbito público. Por um lado, a
psicanálise encontra nas instituições de saúde pública um primeiro obstáculo: a
avaliação do caso. A avaliação do caso corresponde há alguns critérios
institucionais: os efeitos e benefícios do tratamento, o prognóstico em relação à
cura e o tempo despendido nesta tarefa. Em outras palavras, esses três critérios
podem ser resumidos pelo que se denomina de relação custo/benefício do
tratamento nas instituições de saúde. Por conseguinte, o suposto dispêndio de
tempo do tratamento psicanalítico reduziria o seu campo de atuação, haja vista
o aparecimento de outros tratamentos supostamente mais rápidos, focais e
objetivos. Neste caso, podemos nomear a psiquiatria e as psicoterapias de
orientação cognitiva e comportamental como outros tratamentos alternativos a
proposta da psicanálise.
A lógica que está por trás desta iatrogênese consiste no fato de que o
primeiro medicamento produz efeitos positivos em relação à primeira queixa,
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mas, em contrapartida, este medicamento também produz efeitos negativos, os
chamados efeitos colaterais. Tendo em vista que esses efeitos colaterais são
vistos como novos sintomas pelo sujeito, e que muitas vezes é difícil continuar o
tratamento com um mesmo psiquiatra – principalmente em pacientes que
utilizam o SUS –, surgem assim novas anomalias, novas prescrições a partir de
novas demandas para anular os efeitos produzidos pela primeira medicação.
Nesse sentido, os tratamentos psiquiátricos se prolongam cada vez mais,
beneficiando, em primeiro lugar, a indústria farmacológica e incentivando o
consumo do que se denomina supostamente de saúde. Essas observações
tratam de uma determinada crítica à medicina efetuada já nos anos setenta pelo
filósofo da ciência Ivan Illich.
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abordagem de seu objeto não é efetuado sobre a saúde do indivíduo, mas sim
sobre a doença que desequilibra o funcionamento neuroquímico cerebral. A
doença é extraída do sujeito, separada do seu ser e, por conseguinte, adquire
vida própria. A doença é associada como um inimigo externo ao indivíduo. Trata-
se então para a psiquiatria de reaver o equilíbrio do organismo aniquilando os
sintomas através de uma estratégia química de abordar o objeto.
Vale lembrar, que é a biologia que tem como objeto a vida e não a
medicina. Como exemplo, basta observar o manual de transtorno das doenças
mentais, o DSM-IV. O plano ou estratégia de conhecimento do objeto no manual
é traçado sobre os distúrbios psíquicos. Trata-se ali de descrever os sintomas,
classificá-los e aplicar uma força química contrária. Se o indivíduo é agitado,
então se prescreve um calmante ou algum elemento químico que neutralize a
produção cerebral excessiva de seu oposto. Trata-se, em outras palavras de
aplicar uma ortopedia química ao cérebro, ou seja, voltar os níveis normais de
uma determinada substância no interior de um sistema.
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menos onde encontrar: nos manuais psicofarmacológico ou nos manuais do
comportamento.
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Neste ponto há uma equivalência entre instituição de saúde e instituição
médica. Apesar de parecer banal, ou até mesmo superficial, nos serve para
refutar a justificativa de que a psicanálise não teria lugar por não garantir a cura
e a duração determinada do tratamento. Um estádio avançado de câncer pode
necessariamente não evoluir para o óbito imediato e a questão da duração do
tratamento pode ser imprevisível em muitos casos. Isso não se constitui numa
impossibilidade para que a instituição e o poder público deixem de investir no
tratamento do paciente oncológico.
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elaborou sobre o inconsciente, a partir de uma subversão da lingüística
estrutural, desloca o objeto da psicanálise para uma lógica do para além do
sentido. Esta tese de que “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”
proporciona a Lacan explicar não só a causalidade psíquica e a constituição da
segunda tópica do aparelho freudiano, mas também dar um passo além de Freud
em relação ao objeto da psicanálise.
Por mais que o sujeito se queixe de seu sintoma, iremos descobrir que ali
há um ganho secundário. Esse ganho secundário foi denominado por Lacan de
gozo, do qual o sujeito não abre mão e nada quer saber. Portanto, o sintoma é
uma solução encontrada para um conflito interno insuportável para o sujeito. Este
demanda ao médico um substituto menos doloroso, uma solução mais eficiente.
O medicamento ou a droga, apesar dos seus efeitos colaterais, pode cumprir o
papel do substituto do substituto. Nesse sentido, que se pode afirmar que o
sintoma se desloca nos tratamentos efetuados pela psiquiatria. A própria
medicina é um sintoma.
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A relação da psicanálise com os sintomas é o primeiro obstáculo a um
lugar nas instituições de saúde pública. Para os sujeitos e para a instituição, o
restabelecimento da saúde está relacionado à supressão dos sintomas. Como
podemos observar, para a psicanálise, a supressão de um sintoma não significa
a supressão de um conflito psíquico. O sintoma pode ser suprimido rapidamente,
mas com o preço do aparecimento de um substituto. Tratar o sintoma não
significa desatar o nó que constitui a própria estrutura de sua formação.
Desta forma que muitos psicanalistas podem afirmar que não é possível
estabelecer um tratamento puramente psicanalítico nas instituições de saúde.
São as normas da instituição referidas a sessão e os objetivos supostamente
salutares para o indivíduo que devem ser cumpridas. O psicanalista apareceria
como um motor contra a normalização e como um obstáculo aos objetivos
institucionais e coletivos. Teríamos então uma disputa de forças contrárias. De
um lado a instituição tentando regular a prática do psicanalista no seu interior.
Do outro, o psicanalista tentando instaurar um dispositivo da psicanálise,
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deslocando da cena a instituição. Essa relação conflituosa de forças teria por
conseqüência, além de criar um mal- estar institucional, prolongar ainda mais o
tratamento.
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Em relação aos dois primeiros tipos de psicanálise Freud já havia feito
essa distinção em um texto intitulado A questão da análise leiga (1926), no qual
levanta o problema sobre a formação do analista.
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A psicanálise aplicada e a psicanálise pura
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mais recente tornou-se uma linha de pesquisa privilegiada ligadas ao campo
freudiano.
O que pode ser encarado como uma mudança do analista crítico - aquele
afastado dos movimentos sociais, numa posição de intelectual crítico - para o
analista cidadão, explicitado por Laurent (1999).
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inusitadas, dando a chance as pessoas de tomarem para si o efeito de suas
próprias palavras. É como estar na escola sem se deixar absorver por ela, tentar
fazer com que o discurso analítico incida sobre o discurso da educação e
possibilite uma outra perspectiva para as demandas apresentadas, de acordo
com Carvalhaes e Dominato (2008).
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Miller (2008) pontua que para Freud a análise é interminável,
De acordo com Miller (2008) seja definida como pura ou aplicada, toda
psicanálise visa a terapêutica, em ambos os casos é de psicanálise que se trata
e saberemos se ela terá sido pura ao final, se dela sair um analista. Não é que
vise algo diferente, ambas têm objetivos terapêuticos, mas a pura vai além deles,
ultrapassa a posição de objeto do sujeito, expressa na fantasia e caminha na
direção da construção de um saber singular sobre o real.
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tratamento do mal-estar do sujeito através do bem dizer. O ponto até onde se
chega em uma análise é que dirá a posteriori, se ela terá sido pura ou aplicada.
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dos efeitos terapêuticos rápidos oriundos da prática analítica, como pontua Miller
(2008)
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trabalhando com o que há de mais particular no sujeito. Cuida de não alienar,
pensando um sujeito responsável por suas ações.
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de curar. É possível uma mudança na posição subjetiva, uma retificação
subjetiva. E como pontuado por Miller (2008) talvez a missão dos analistas nas
instituições quando não é possível (ou não há a proposta) o trabalho em um
tempo longo, seja levar o sujeito a fechar o primeiro ciclo, que pode ser breve, e
acredita-se tenha efeitos terapêuticos, pois a cada ciclo, demarca- se algo da
posição do sujeito em relação ao objeto a, ou seja, em relação ao desejo e o
gozo.
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O conceito psicanalítico de transferência, pode se revelar como um
antídoto contra armadilhas da compaixão e furor-curandis, muito comuns ao
campo da clínica e da saúde. Pois, uma das questões que sempre é colocada
invariavelmente por profissionais desta área é: como é possível prestar
assistência sem reforçar a dependência dos que são assistidos?
A demanda dos pacientes era por novas drogas, pois as antigas já não
faziam mais efeito, por novas alternativas de tratamento, por novos exames. A
equipe médica não media esforços para atender a essa demanda dos pacientes,
oferecendo novos agentes terapêuticos, novas combinações químicas
proporcionadas pelo arsenal medicamentoso que existe atualmente, direcionado
para o sistema nervoso central.
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A demanda dos pacientes por mais e mais medicamentos, portanto, pode
ser entendida na dimensão do gozo, ou seja, na forma de gozar que os sujeitos
estabelecem com o outro e que depositam na figura do médico. Trata- se,
portanto, de uma transferência reivindicatória, que é atualizada na relação
médico paciente. Ele não quer apenas um remédio para aliviar a dor, ele quer
um algo a mais, uma dose a mais, algo mais forte, reivindica esse objeto perdido
em forma de novas e melhores drogas.
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sua área, faz com que este rejeite, por exemplo, aqueles pacientes que não se
comportam como ele quer. Como ousam!
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A formação discursiva, segundo Focault (1995) compreende regras de
funcionamento dos objetos, das formas enunciativas dos indivíduos, dos
conceitos, temas e teorias. Uma prática discursiva se define por “um conjunto de
regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que
definiriam, em uma dada época e para uma determinada área social, econômica,
geográfica ou lingüística, as condições de exercício da função enunciativa.”
(Foucault, 1995, p.48). Portanto, podemos pensar que qualquer prática
profissional, por mais técnica que possa ser seu exercício, está incluída no
campo do simbólico. O simbólico é uma função complexa que envolve toda a
atividade humana e que faz do homem um animal fundamentalmente regido pela
linguagem.
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posição que os elementos ocupam nos quatro lugares marcados, cada um deles
é um lugar de apreensão dos efeitos do significante. Não é do escopo desse
trabalho ingressar diferenciar os efeitos destes, entretanto menciono para poder
articular aquilo que concerne ao dito discurso psicanalítico.
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REFERÊNCIAS
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