Você está na página 1de 22

PROCESSOS DE APRENDIZAGEM EM SITUAÇÃO DE

INTERNAÇÃO HOSPITALAR

1
Sumário

NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2

INTRODUÇÃO ......................................................................................... 3

PEDAGOGIA HOSPITALAR.................................................................... 4

LUDICIDADE ........................................................................................... 8

OS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM ............................ 11

A CRIANÇA E O PROCESSO DE HOSPITALIZAÇÃO ......................... 14

O EDUCADOR HOSPITALAR COMO PARTE DA EQUIPE


MULTIPROFISSIONAL E COMUNIDADE ESCOLAR ..................................... 16

REFERÊNCIAS ..................................................................................... 19

1
NOSSA HISTÓRIA

A NOSSA HISTÓRIA inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a INSTITUIÇÃO, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A NOSSA INSTITUIÇÃO tem por objetivo formar diplomados nas


diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores
profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira,
e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de
conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da
humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras
normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

2
INTRODUÇÃO

O atendimento pedagógico hospitalar é significativo e muito importante,


além de trazer muitas contribuições tanto para os estudantes hospitalizados
como para os profissionais da saúde. Segundo Torres et al. (1990), as
consequências de uma internação traumática às crianças podem ser diversas,
causando desde o confronto com sua própria identidade decorrente das
mudanças de seu corpo em virtude da doença, degradação do sujeito, pois não
se vê como sujeito vivo e ativo, portanto, torna-se passivo e reificado, sofrendo
com os procedimentos dolorosos e objetificando-se (nutrindo sentimentos de
ansiedade, autoflagelo e angústia). As crianças, mesmo afastadas de sua rotina
escolar e inseridas em um ambiente frio e hostil, precisam observar e conhecer
os diferentes espaços de aprendizagem capazes de fortalecer o pleno
desenvolvimento humano, para além dos serviços e cuidados medicamentosos
decorrentes da doença.

A internação pode levar uma criança a desenvolver traumas, sofrimento


psíquico e até depressão, sentindo-se culpada e incapaz cognitivamente pela
situação em que se encontra. O pedagogo pode ajudar no enfrentamento das
barreiras da doença e na superação da quebra do convívio escolar, animando o
estudante hospitalizado a manter viva uma relação harmoniosa e inspiradora que
estimule a vontade e o desejo de aprender com o outro, reconhecendo-se e

3
sentindo-se vivo, melhorando com a possibilidade de aprender mesmo em uma
situação vulnerável.

Neste processo de tratamento de saúde o educando encontra-se


fragilizado, desmotivado e com a autoestima afetada, portanto, surge a
necessidade de compreender como ocorrem os processos de inter-relação com
o educador e o funcionamento deste espaço pedagógico no hospital, para a
colaboração e aprimoramento dos estudos na área, tendo em vista a melhora e
o ânimo da disposição para aprender com o outro, bem como a possibilidade de
fortalecimento social, psicológico e emocional do sujeito internado. Na verdade,
“a hospitalização infanto-juvenil tem sido tema de constante interesse entre
profissionais da saúde e da educação, ambos preocupados com os possíveis
efeitos da mesma sobre os processos de desenvolvimento e de aprendizagem
da criança e do adolescente” (NASCIMENTO, 2004, p. 48). Mesmo que muitas
vivências com amigos e familiares sofra uma interrupção pela internação, o
pedagogo pode colaborar para que a estadia no hospital seja menos dolorosa e
fatigante, além de possibilitar que o educando continue a ter contato com os
elementos essenciais para o aprender em sociedade. Mas se, por um lado, “o
ingresso no hospital pode se tornar uma experiência extremamente complicada
e difícil, já que pode ser visto como um lugar gerador de medo, dor e sofrimento”,
especialmente para a criança (NASCIMENTO, 2004, p. 48). Por outro lado,
podemos pensar que o espaço hospitalar pode significar também um lugar para
a construção do pensamento, onde brota a força de ânimo, que acolhe o outro
com disponibilidade para aprender a habitar e deixar aprender (HEIDEGGER,
2001, p. 11).

PEDAGOGIA HOSPITALAR

Há algumas décadas as discussões acerca do conceito de


doença e saúde tem estado sempre em pauta. Atualmente a visão de que a

4
saúde está ligada somente a ausência de patologias já foi superada. A partir
dessa visão podemos também compreender que o ser humano é complexo,
multifatorial. Assim a doença não pode ser tratada somente pelo âmbito
biológico.

Diante deste quadro surge a Pedagogia Hospitalar de uma demanda


eminente na sociedade se expandindo a partir das novas concepções de saúde
e doença. Matos e Mugiatti (2014, p. 16) corroboram com essa ideia afirmando
que “a Pedagogia hospitalar [...] vem se construir [...] e contribuir para uma
inovadora forma de enfrentar os problemas clínicos, com elevado nível de
discernimento”. Cabe a este ramo da Pedagogia o compromisso de minimizar as
perdas da aprendizagem da criança hospitalizada diante do quadro de doença.
Matos e Mugiatti (2014, p.20-21) completam que “[...] se a doença mostra-se
multifatorial, não é justo que se realize um atendimento meramente físico, assim
atentando apenas para o mais evidente, perturbador e residual descartando os
demais aspectos”. Não é de hoje que a literatura científica da tem comprovado
o quanto o trabalho pedagógico bem desenvolvido com crianças hospitalizadas
tem contribuído significativamente para o sucesso da cura destas crianças.

Sobre isto encontramos em Maria Montessori a origem do trabalho do


Pedagogo hospitalar. Médica e Pedagoga, vivenciou as agruras das duas
grandes Guerras Mundiais acudindo crianças com os mais diversos problemas.

5
Seu maior campo de trabalho foi o hospital e os sujeitos eram crianças
hospitalizadas.

Montessori criou um método (SEBARROJA, 2003) que, partindo do


concreto rumo ao abstrato, possibilitasse os meninos e meninas aprenderem
melhor pela experiência direta de procura e descoberta. Para tornar esse
processo o mais rico possível, a educadora italiana desenvolveu os materiais
didáticos que constituem um dos aspectos mais conhecidos de seu trabalho. São
objetos simples, mas muito atraentes, e projetados para provocar o raciocínio.
Há materiais pensados para auxiliar todo tipo de aprendizado, do sistema
decimal à estrutura da linguagem.

O método Montessori é bastante apropriado para a Pedagogia hospitalar


por nascer neste ambiente, bem como se configurar numa prática em que as
crianças, livremente e pelo toque, vai explorando e decodificando o mundo ao
seu redor, sem qualquer cobrança quanto ao tempo e a forma de aprender
(MONTESSORI, s/d).

Percebe-se uma relação próxima entre o trabalho da Montessori com a


pedagogia hospitalar por esta valorizar a suavização do ambiente hostil
proporcionado pelas unidades de saúde, além de proporcionar inovações e
recurso lúdicos e didáticos que cooperam na recuperação dos pacientes e
auxiliam no desenvolvimento da aprendizagem.

Neste sentido, o profissional que desenvolve trabalho pedagógico no


ambiente hospitalar age como o "médico" que não trata do problema "físico",
mas de outras questões que estão relacionadas à doença e que estão fora do
alcance da medicina tradicional. O Pedagogo trata das questões educacionais
compreendendo o ser humano com um todo e também tendo ciência de que o
desenvolvimento do homem acontece durante toda a sua vida.

Matos e Mugiatti (2014, p. 24) vão para além desse papel, quando
descrevem:

6
Vale ainda ressaltar que o trabalho educacional desenvolvido no ambiente
hospitalar deve ser sistematizado e possuir uma intencionalidade, um objetivo a
ser conquistado. Por isso esse trabalho desenvolvido muitas vezes em
brinquedotecas, extremamente ligado ao desenvolvimento cognitivo e a
afetividade, não pode ser confundido com uma simples recreação. Rodrigues,
(2012, p. 24), ressalta ainda que:

A classe hospitalar, nome dado ao atendimento pedagógico-educacional


que ocorre em ambientes de tratamento de saúde, seja na circunstância de
internação, como tradicionalmente conhecida, seja na circunstância do
atendimento em hospital-dia e hospital-semana ou em serviços de atenção
integral à saúde mental (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO; SECRETARIA DE
EDUCAÇÃO ESPECIAL, 2002, p.13) tem um respaldo legal dadas a
compreensão dos artigos art. 205 do direito a educação e art.196 a saúde.

Atualmente as Classes Hospitalares contam ainda com o Estatuto da


Criança e do Adolescente (BRASIL, 2012) do Conselho Nacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente em sua Resolução 41/95 (BRASIL,2015), artigo 9 que
prevê “[...] o direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de
educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua
permanência hospitalar."

Conta também, com o documento orientador do trabalho pedagógico no


hospital, que frisa:

7
Percebe-se assim, por parte dos organismos de poder público, o discurso
de importância do acompanhamento daqueles que estão cursando a Educação
Básica e acabam interrompendo suas atividades educacionais por conta de
internação, ou tratamento hospitalar. Portanto, cabe ao Pedagogo hospitalar
vincular-se intimamente ao processo de ensino aprendizagem do aluno-
paciente. A pedagogia hospitalar cabe desenvolver a afetividade e o trabalho
lúdico visando a aprendizagem. Cabe, enfim, ao professor atuar como
colaborador, mediador das aprendizagens do educando/paciente.

LUDICIDADE

8
A ludicidade tem conquistado um espaço no panorama da educação em
especial da infantil. O brinquedo é a essência da infância e seu uso permite um
trabalho pedagógico que possibilita a produção do conhecimento e também a
estimulação da afetividade na criança. Esta estabelece com o brinquedo uma
relação natural e consegue extravasar suas angústias e paixões; suas alegrias
e tristezas, suas agressividades e passividades e no ambiente hospitalar a
ludicidade é fundamental.

Independente de época, cultura e classe social, os jogos e os brinquedos


fazem parte da vida da criança, pois elas vivem num mundo de fantasia, de
encantamento, de alegria, de sonhos, onde realidade e faz-de-conta se
confundem. (KISHIMOTO, 2010). O jogo está na gênese do pensamento, da
descoberta de si mesmo, da possibilidade de experimentar, de criar e de
transformar o mundo e, nada melhor do que isso para ajudar no hospitalismo das
crianças adoentadas.

A palavra lúdico vem do latim ludus e significa brincar. Neste brincar estão
incluídos os jogos, brinquedos e divertimentos e é relativa também à conduta
daquele que joga, que brinca e que se diverte. Por sua vez, a função educativa
do jogo oportuniza a aprendizagem do indivíduo, seu saber, seu conhecimento
e sua compreensão de mundo.

Percebemos em Machado (1986) o ressaltar do jogo como não sendo


qualquer tipo de interação, mas sim, uma atividade que tem como traço
fundamental os papéis sociais e as ações destes derivadas em estreita ligação

9
funcional com as motivações e o aspecto propriamente técnico-operativo da
atividade. Dessa forma destaca o papel fundamental das relações humanas que
envolvem os jogos infantis.

O jogo e a brincadeira estão presente em todos as fazes da vida dos seres


humanos, tornando especial a sua existência. De alguma forma o lúdico se faz
presente e acrescenta um ingrediente indispensável no relacionamento entre as
pessoas, possibilitando que a criatividade aflore. Por meio da brincadeira a
criança envolve-se no jogo e sente a necessidade de partilhar com o outro. Ainda
que em postura de adversário, a parceria é um estabelecimento de relação.
Brincando a criança torna-se operativa.

O brinquedo como suporte da brincadeira tem papel estimulante para a


criança no momento da ação lúdica. Tanto brinquedo, quanto a brincadeira,
permitem a exploração do seu potencial criativo. Por meio do brinquedo a criança
fantasia e através da magia do faz-de- conta explora os limites e, parte para
aventura que a leva ao encontro do Outro-Eu.

O brincar fundamenta grande parte da aprendizagem das crianças. Para


que o seu valor potencial seja percebido, algumas condições precisam ser
satisfeitas. Essas condições incluem adultos sensíveis e informados, uma
cuidadosa organização e um planejamento para o brincar, avaliações que
permitam a continuidade e a progressão e, acima de tudo, comprometimento
com a ideia de que o brincar é uma atividade de status elevado na educação de
crianças (MOYLES, 2006, p.95).

A entrada da criança no mundo do faz-de-conta marca uma nova fase de


sua capacidade de lidar com a realidade, com os simbolismos e com as
representações, especialmente com a doença, no caso da criança hospitalizada.
Com o brinquedo a criança satisfaz certas curiosidades e traduz o mundo dos
adultos para a dimensão de suas possibilidades e necessidades.

Para compreender o significado da vida real, a criança precisa vivenciar


seu pensamento simbólico, tão importantes para o desenvolvimento do
pensamento infantil. Mesmo que conheça determinados objetos ou que já tenha
vivido determinadas situações, a compreensão das experiências ficam mais
claras quando as representam em seu faz-de-conta. Neste tipo de brincadeira

10
têm também oportunidade de expressar simbolicamente, desejos, conflitos e
frustrações. As situações imaginárias estimulam a inteligência e desenvolvem a
criatividade.

OS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM

A intencionalidade do ensino perpassa toda ação do professor e como ele


irá abordar os conteúdos do programa fixado no início do ano. É importante que
tenhamos a compreensão do ensino enquanto:

Ensinar é um ato que envolve interação e compartilhamento entre os


envolvidos, seja entre professor-aluno, aluno-professor e até mesmo aluno-
aluno. É com o diálogo, com as trocas de experiências e com esse intercâmbio
que o ensino acontecerá de forma eficaz. No ensino colaborativo, a afetividade
se faz presente nessa ação, pois quando está disposto a ensinar, está também
disposto a compreender o outro como destacam Tardif & Lessard (2007). Para
ensinar, deve-se fazer um planejamento e contar com uma metodologia

11
adequada à situação. Com comprometimento, o professor trabalha de forma
dialogada e efetiva todo o conteúdo estabelecido desde o início do ano e esta
prática não é diferente na classe hospitalar. O professor tem seu papel de
mediador, não de detentor dos conhecimentos sistematizados, ele é o
organizador do ambiente para que este seja propício para a aprendizagem
eficaz. Ao mesmo tempo em que o professor está trabalhando um conteúdo,
algumas crianças podem estar conversando, pegando algum material ou até
mesmo dando exemplos que não estão no contexto. Neste sentido, o professor
deve estar atento para saber lidar com essas situações.

A historicidade está elencada à ideia da relação professor-aluno. É cediço


que cada aluno tem sua história e seu contexto, assim como sua linguagem e
cultura. Para um trabalho mais articulado e próximo à cultura dos educandos, o
professor/pedagogo hospitalar deve saber como lidar com as diversidades
encontradas no ambiente educativo do hospital.

O ensino é, portanto, uma prática social, pois está imersa em um contexto


social no qual deverá se pautar para prosseguir com o foco nos objetivos
traçados. Deverá desenvolver nos educandos uma consciência crítica e
mobilizadora por meio do diálogo, desenvolvendo todas as potencialidades de
uma pessoa, sendo um sujeito social e ativo em seu processo formativo.

A outra face da educação é a aprendizagem, que tem como


características fundamentais a busca da autoaprendizagem, sendo o aluno ativo
no seu processo de aprendizagem. Para promover a aprendizagem com
qualidade e a construção de novos conceitos é necessário que se considere e
utilize as experiências anteriores dos educandos, as crianças hospitalizadas.

12
A aprendizagem é o que torna o homem diferente dos outros animais.
Para ele é preciso enfrentar alguns desafios como a aprendizagem de regras
para viver em culturas diferentes e a capacidade de apoio no conhecimento
transmitido anteriormente. Somos a única espécie capaz de nos colocar no lugar
dos outros e compreender suas intenções.

Elegendo a aprendizagem como processo principal do desenvolvimento


humano enfocamos Vygotsky (1984) que afirma: a zona de desenvolvimento
proximal é o encontro do individual com o social, sendo a concepção de
desenvolvimento abordada não como processo interno da criança, mas como
resultante da sua inserção em atividades socialmente compartilhadas com
outros. Nesse sentido, o conhecimento é construído pelas relações interpessoais
e as trocas recíprocas que se estabelecem durante toda a vida formativa do
indivíduo.

Vygotsky (1993), ao estudar a consciência e os traços específicos do


comportamento humano nota que tudo que se refere a natureza humana é
oriundo de sua vida em sociedade. O modo como o homem atua, entende e
explica o meio, as relações, a si e ao outro vão se constituindo nas suas relações
sociais. Para Vygotsky, Luria, e Leontiev (1988), as atividades que a criança
realiza, interpretada pelo adulto, adquirem significado no sistema de
comportamento social do grupo a que pertence.

Machado (1986) salienta, que a interação social implica transformação e


contatos com instrumentos físicos e/ou simbólicos mediadores do processo de
ação. Esta concepção reconhece o papel do jogo para formação do sujeito,
atribuindo-lhe um espaço importante no desenvolvimento das estruturas
psicológicas. De acordo com Vygotsky (1984) é no brinquedo que a criança
aprende a agir numa esfera cognitiva. Segundo o autor a criança comporta-se
de forma mais avançada do que nas atividades da vida real, tanto pela vivência
de uma situação imaginária, quanto pela capacidade de subordinação às regras.

Cada aluno aprende de uma forma específica, significa e resignifica


conceitos à sua maneira, exigindo estratégias de aprendizagem adequadas.
Para promover a aprendizagem, o pedagogo hospitalar deve levar em
consideração a diversidade dos aprendizes, crianças hospitalizadas fazendo o

13
uso de várias metodologias didáticas. Com isso, Meirieu (1998), considera
alguns passos para a organização da aula, como a dedução, indução,
dialetização e divergência.

A dedução consiste na atividade relacionada à experiência dos


educandos e a partir deste ponto organizar um esquema usando os conceitos
propostos. Na indução serão trabalhados os dados coletados no primeiro
momento, oferecendo novas possibilidades de resolução dos eventuais
problemas. No momento em que serão analisadas as variáveis, será oportuno
as interpretações e confrontos acerca do mesmo tema, a qual será a parte de
dialetizar. E, por fim, são incluídas as dúvidas e questões para os alunos
buscarem soluções e assim associarem o novo conteúdo.

Nessa ideia, os educandos começam a tomar consciência dos próprios


processos de aprendizagem (ROMANOWSKI, 2012), caminhando em direção à
autonomia. Nesse quesito, o reforço escolar tem a possibilidade de
individualmente trabalhar as capacidades e potencialidades do educando, na
medida em que ele estará com mais contato com suas dificuldades escolares,
mesmo estando distante dela.

A CRIANÇA E O PROCESSO DE HOSPITALIZAÇÃO

A infância é um período muito importante na vida de qualquer indivíduo.


É nesta fase que o indivíduo constrói sua relação com o próprio corpo e com o
mundo externo por meio de suas vivências pessoais, familiares e sociais. É uma
fase marcada pelas atividades físicas intensas, sendo que estas são necessárias
para que a criança possa explorar e conhecer o ambiente a sua volta e assim,
consequentemente, crescer e aprimorar seu conhecimento sobre o mundo.
Todavia, no decorrer de seu desenvolvimento, as crianças também podem
vivenciar períodos de doenças, o que muitas vezes pode ocasionar a
hospitalização (OLIVEIRA, 2009).

14
Compreende-se que a hospitalização representa um momento de
fragilidade tanto para criança como para sua família. Para isso, o atendimento
educacional dispõe para a criança uma normalização em seu cotidiano, sendo
um canal de comunicação, fazendo a criança esquecer durante algumas
instantes o ambiente agressivo no qual se encontra, resgatando sua autoestima
da alegria de viver, e sensações vividas anteriormente á entrada no hospital.

As práticas a ser trabalhadas no ambiente hospitalar não diferem em seus


objetivos básicos das realizadas em qualquer escola regular, porém, o professor
ali incluso deve estar em contato com a escola e professor anterior de seus
alunos, para partir deste elaborar um planejamento ao contexto da criança,
voltado especialmente para a continuação do processo de aprendizado já
iniciado anteriormente. Para tanto, o professor desta prática hospitalar educativa,
deve estar ciente e exercitar a premissa de que cada dia de trabalho na escola
se constrói com atividades que têm começo, meio e fim quando desenvolvidas
(FONSECA, 2003).

Para a criança, a doença é um acontecimento inesperado e indesejável,


onde todos os costumes próprios da infância tornam-se algo distante devido às
restrições que a doença e o tratamento impõem (CARDOSO, 2007). Todas
essas mudanças causam impacto na vida da criança e podem modificar seu
comportamento durante e depois da internação. (OLIVEIRA, 2009).

15
O EDUCADOR HOSPITALAR COMO PARTE DA
EQUIPE MULTIPROFISSIONAL E COMUNIDADE
ESCOLAR

A Classe Hospitalar obtêm uma conexão entre o cuidar e o aprender,


dessa maneira tendo uma relação de cuidado na educação e saúde. Com isso,
relacionando o conhecimento da Saúde e da Educação, e logo se pensa em
colaboradores para tal continuidade para a formação do individuo, traçando um
parâmetro de atividades entre educadores e equipes multidisciplinares em
saúde. Consequentemente, pressupõe o envolvimento multiprofissional das
áreas entrelaçadas dentro do ambiente hospitalar, dentre a área das ciências
biomédicas, encontramos: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas,
fonoaudiólogos; na área das ciências humanas: assistentes sociais, psicólogos
e pedagogos,(NETINA,2003) assim formando uma equipe com junção de seus
conhecimentos, para tal condicionamento do individuo envolvido.

Dentro do hospital estão sob a responsabilidade do pedagogo as


seguintes modalidades, segundo Vieira (2011, p.1):

16
Para CONZATTI, 2014 o hospital, em parceria com a escola, proporciona
um espaço de aprendizagem formal e informal, não apenas para as crianças
doentes, mas abrangendo também a comunidade escolar. De uma forma
especifica a educação hospitalar, formal e informal, busca empenhar-se no
desenvolvimento de um ambiente de acolhimento e comunicação, favorecendo
a confiança de todas as partes envolvidas.

O papel do professor deve ser, portanto, o de um educador sensível às


condições de saúde do paciente-aluno e preparado para que possa flexibilizar o
atendimento a cada paciente de acordo com suas condições psicológicas,
pessoais, cognitivas e familiares. Como já mencionado por Esteves (s/d) é
necessário que o pedagogo hospitalar seja um profissional capacitado e sensível
para que possa desenvolver e aplicar conceitos educacionais, estimulando
novas competências e habilidades em um ambiente especialmente reservado no
próprio hospital para esse atendimento. Reitera Reis (2008) que “por isso o
trabalho do Pedagogo no hospital é extremamente importante para atender
essas necessidades psicológicas, sociais e pedagógicas dos pacientes-alunos a
fim de evitar tantos prejuízos”. (p. 2)

Nos hospitais do Brasil que desenvolvem projetos educacionais, de


acordo com Matos (2009), são realizadas quatro modalidades de atendimento,
levando em consideração alguns fatores como espaço físico disponível, tipos de
patologias dos pacientes/alunos, e condições clínicas. A modalidade em Sala
Multisseriada, é aquela cujo desenvolvimento se dá em uma sala de aula na

17
unidade pediátrica, na qual os pacientes/alunos são organizados em grupos por
série, sendo as aulas divididas da educação infantil ao ensino fundamental.
Outra modalidade é a Individual ou Leito, no qual os pacientes impossibilitados
de locomoção recebem atendimento exclusivo. Esse tipo de atendimento
também pode ocorrer por falta de local específico para o desenvolvimento dos
trabalhos.

Também, continua a autora (ibid), há a modalidade em Unidade de


Terapia Intensiva (UTI) destinada a pacientes/alunos que apresentam doenças
infectocontagiosas, como meningite, tuberculose, e alguns casos que passarão
por transplante de medula óssea ou outros tratamentos que necessitam de ficar
na unidade de isolamento. Nesses ambientes o professor precisa estar
preparado com máscaras, luvas e roupa especial para entrar na unidade.
Dependendo o tipo de tratamento é necessário que o material escolar passe por
um processo de desinfecção em álcool 70% ou em alguns casos os livros devem
ter as folhas plastificadas, e a cada utilização passam pelo processo de
esterilização e serão reutilizados.

Contudo, a Classe Hospitalar, destina-se a realizar o acompanhamento


escolar de crianças e adolescentes que estão impossibilitados de freqüentar a
escola de origem. Por motivos de tratamento que necessitam de longos períodos
de internação, nesses casos os pacientes/alunos têm aulas todos os dias, a
turma é fixa igual a uma escola. São realizadas rotinas com horários de entrada,
hora do lanche e saída o ambiente possui mesas, cadeiras, lousa e muitos
matérias didáticos.

18
REFERÊNCIAS

OLIVEIRA, Gislene Farias de; DANTAS, Francisco Danilson Cruz;


FONSECA, Patrícia Nunes. O impacto da hospitalização em crianças de 1 a 5
anos de idade. Rev. SBPH, Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, dez. 2004.
OLIVEIRA, R. R; OLIVEIRA, S. C. I; Os doutores da alegria na unidade de
internação pediátrica: Experiências da equipe de enfermagem. Rev. Enferm.
2008.
FONSECA, Eneida Simões da. Atendimento pedagógico-educacional
para crianças e jovens hospitalizados: realidade nacional. 2008. Disponível em:
http://www.danielatrigo.com.br/wpcontent/uploads/2013/03/ATENDIMENTOPE
DAGOGICO-HOSPITALAR-2.pdf
CARDOSO, Flávia Tanes. Câncer infantil: aspectos emocionais e atuação
do psicólogo.Rev. SBPH, Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, jun. 2007 .
CONZATTI, Mônica. Organização do Trabalho Educativo em Ambiente
não Escolar. Indaial: Uniasselvi, 2014.
REIS, Janesmare Ferreira. Classe Hospitalar. Disponível em
http://www.smec.salvador.ba.gov.br/.
MATOS, Elizete Lúcia Moreira (org) Escolarização Hospitalar: Educação
e saúde de mãos dadas para humanizar. Petrópolis(RJ): Vozes. 2009. 230 p.
CENTRO INFANTIL BOLDRINI. Site oficial. Disponível em
http://www.boldrini.org.br.
BRASIL. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação
Básica. Resolução CEB/CNE n° 2, de 11 de fev. de 2001.
BRASIL. Ministério da Educação. Classe hospitalar e atendimento
pedagógico domiciliar: estratégias e orientações. Secretaria de Educação
Especial. Brasília: MEC; SEESP, 2002.

CECCIM, Ricardo Burg. Classe hospitalar: encontros da educação e


saúde no ambiente hospitalar. Pátio, Revista pedagógica, ano 3, n. 10. Porto
Alegre, 1990.
CECCIM, Ricardo Burg; CARVALHO, Paulo R. Antonacci. Criança
Hospitalizada: atenção integral como escuta a vida. Porto Alegre: Editora da
Universidade/ UFRGS, 1997.
FONSECA, Eneida Simões Da. Atendimento escolar no ambiente
hospitalar. São Paulo: Memnon, 2008.
FONSECA, Eneida Simões Da. Classe hospitalar: ação sistemática na
atenção as necessidades pedagógico educacionais de crianças e adolescentes

19
hospitalizados. Revista Temas sobre Desenvolvimento, v. 8, nº 44, pp. 32-37,
2000.
FONTES, Rejane. A escuta pedagógica à criança hospitalizada:
discutindo o papel da educação no hospital. Revista Brasileira de Educação, n°
29. Rio de Janeiro, maio/agosto 2005. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n29/n29a10.pdf >.
HEIDEGGER, Martin. Ensaios e conferências. Trad. Emmanuel Carneiro
Leão, Gilson Fogel, Márcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis, RJ: Vozes,
2001.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Educação, ludicidade e prevenção das
neuroses futuras. In: LUCKESI, C.C. (Org.). Ludopedagogia. Ensaios 1.
Salvador: UFBA/FACED, 2000.
LUCON, Cristina Bressaglia. Pedagogia hospitalar: pedagogia da vida e
de respeito à cidadania de adolescentes hospitalizados com doença crônica.
Anais... EDUCERE, PUCPR, 2007. Disponível em: <
http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2007/anaisEvento/arquivos/CI-
165-12.pdf>.
MATOS, Elizete Lúcia Moreira. Escolarização Hospitalar: Educação e
saúde de mãos dadas para humanizar. Petrópolis: Vozes, 2009.
MATOS, Elizete Lúcia Moreira; MUGIATTI, Margarida Maria Teixeira de
Freitas. Pedagogia hospitalar: a humanização integrando educação e saúde. 4.
ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
NASCIMENTO, Cláudia Terra do. A psicopedagogia no contexto
hospitalar: quando, como, por quê? Rev. Psicopedagogia. Brasília, v. 21, n. 64,
p.48-56, 2004.
ORTIZ, Leodi Conceição Meireles; FREITAS, Soraia Napoleão. Classe
Hospitalar: Caminhos Pedagógicos entre saúde e Educação. Santa Maria:
Editora UFSM, 2005.
ORTIZ, Leodi Conceição Meireles; FREITAS, Soraia Napoleão. Classe
hospitalar: um olhar sobre sua práxis educacional. Rev. Bras. Est. Pedagógicos.
Brasília, v. 82, n. 200/201/202, p.70-77, 2001.
TORRES, Wilma da Costa et al.. A criança terminal: vivência no luto
antecipado. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 42, n. 1, p. 31-36, 1990.

VERDI, Cristiane. A importância da literatura infantil no hospital. In:


MATOS, Elizete Lúcia Moreira (org.). Escolarização Hospitalar: educação e
saúde de mãos dadas para humanizar. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009, pp. 161-
173.

20
BRASIL. Resolução n° 41 de Outubro de 1995. Direitos da criança e do
adolescente hospitalizado. Brasília: Conselho Nacional dos Direitos da Criança
e do Adolescente. Disponível em <http://www.ufrgs.br/bioetica/conanda.htm>,
Acesso em 8 de jun. 2015.
SANTOS, S. M. P. (org.). Brinquedoteca: a crianç a, o adulto e o lúdico.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
KISHIMOTO, M. T. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 13. ed.
São Paulo: Cortez, 2010.
KOHN, Carla Daniela. Ludoterapia: uma estratégia da pedagogia
hospitalar na ala pediátrica do Hospital Universitário da Universidade Federal de
Sergipe. 2010. 125 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade
Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2010.
MACHADO, Izaltina de Lourdes. Educação Montessori: de um Homem
Novo para um Mundo Novo. São Paulo: Pioneira, 1986.
MATOS, E. L. M.; MUGIATTI, M. M. T. D. F. Pedagogia Hospitalar: A
humanização integrando educação e saúde. 7ª. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
MEIRIEU, Philippe. Aprender… sim, mas como? Porto Alegre: Artmed,
1998. MONTESSORI, Maria. Mente Absorvente. Nórdica: Rio de Janeiro, s/d.
MOYLES, Janet R. A excelência do brincar. Porto Alegre: Artmed, 2006.
RODRIGUES, J. M. C. Classes Hospitalares: O espaço pedagógico nas
unidades de saúde. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2012.
ROMANOWSKI, Joana P. Formação e profissionalização docente.
Curitiba: IBPEX, 2012.
SEBARROJA, Jaume C. Pedagogías do século XX. Tradução de Fátima
Murad. Porto Alegre: Artmed, 2003.
TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O trabalho docente. 3. ed.
Petrópolis: Vozes, 2007. VEIGA, Ilma P. A. Didática: O ensino e suas relações.
Papirus: Campinas, 2014.
VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,
1984. VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes,
1993.
VYGOTSKY, L.S.; LURIA, A.R.; LEONTIEV, A.N. Linguagem,
desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1988.

21

Você também pode gostar