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INCLUSÃO ESCOLAR: RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA

Taiane Vieira da Silva1 - PUCPR

Grupo de Trabalho: Diversidade e Inclusão


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo
Este artigo visa abordar as contribuições da relação família-escola mediante o processo
inclusivo na primeira etapa da educação básica. Abordar-se-á a educação inclusiva em uma
perspectiva multifocal, envolvendo a educação infantil e o processo de inclusão escolar nessa
modalidade, visto que o intuito de se estabelecer um vínculo com a relação família-escola no
processo inclusivo seria um embasamento para se compreender o real sentido da inclusão
escolar. Embora nessa faixa etária não exista tanta rejeição por parte dos alunos com relação à
inclusão de alunos com necessidades especiais, se faz necessário um convívio precoce para se
estabelecer a realidade a qual poderão vivenciar. Mediante as análises percebeu-se que ambos
apresentam dificuldades em estabelecer este vínculo e fazer fluir esta parceria, por não se ter
muito amparo legal que determine a inclusão para esta modalidade educacional, uma vez que
os documentos complementares deveriam servir para apoiar essa e outras parcerias, as quais
proporcionaria uma integração melhor no que se refere à inclusão escolar na primeira infância.
Em suma, estes e outros conceitos foram abordados por meio de uma análise documental, na
qual foram utilizados como fundamentos teóricos Paula (2007), Szymanski (2010), Facion
(2009), Mantoan (2008), Fernandes (2007), Guerbert (2010), Pereira (2004), e Vitaliano (2010),
entre outros. As contribuições da relação família-escola no processo de inclusão escolar na
Educação Infantil delineiam-se as políticas educacionais sobre a inclusão escolar e sobre como
ocorre o processo de inclusão escolar, em um contexto geral. A análise final levanta alguns
aspectos relevantes, dentre os quais pode-se perceber a abertura de uma lacuna no envolvimento
de pais e professores ao se proporcionar uma real educação inclusiva. Assim pressupõe que a
inclusão está em fase de processo progressivo, o qual apresenta uma caminhada extensa para
seu efetivo legal e social.

Palavras-chave: Relação família-escola. Educandos com necessidades especiais. Inclusão.


Educação Inclusiva.

1
Graduada em Pedagogia pela PUCPR – Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Atua como professora de
Educação Infantil na rede municipal de São José dos Pinhais - PR. Especialista em Psicopedagogia clínica e
institucional e em Educação Especial pelo RHEMA Educação - Instituto de Ensino. Contato:
taivieiras@gmail.com.

ISSN 2176-1396
14243

Introdução

A presente pesquisa tem como tema Inclusão Escolar, com ênfase na relação família-
escola. A opção pelo assunto resulta dos questionamentos sobre as contribuições da relação
família-escola no processo de inclusão escolar.
A atualidade surge frente à aplicação da política de inclusão escolar, buscando verificar
como este processo é realizado nos diferentes níveis da educação básica, especificamente em
sua primeira etapa: a educação infantil.
Com a alteração na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, a Lei nº
12.796/2013, aborda uma nova perspectiva sobre o processo inclusivo, como proposto no art.
58:

Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação
escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação. (BRASIL, 2013, s/p).

É de conhecimento que a Educação Especial e a Educação Inclusiva caminham juntas


para um processo mobilizador, o qual insere pessoas com necessidades especiais educativas na
rede regular de ensino. Contudo, a primeira se refere a uma modalidade de ensino e a segunda
é um atendimento especializado ofertado para pessoas com necessidades especiais, que estejam
inseridas em diferentes níveis da educação básica ou ensino superior.
Analisada essa diferenciação, a alteração na LDB de 1996, criou denominações para
cada limitação ou ausência cognitiva do estudante, sendo atendido conforme sua
individualidade e peculiaridade, e não como um ser denominado portador de necessidades
especiais.
Assim, lê-se no antigo art. 58 da LDB 9394/96 que “Entende-se por educação especial,
para os efeitos desta lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede
regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.” (BRASIL, 1996, s/p).
Estas e outras alterações vieram para radicalizar a educação, proporcionando um ensino
de qualidade e para que seja acessível a todos. Abordar a educação inclusiva nos diferentes
níveis de ensino requer uma série de quesitos para que ocorra com qualidade. Para Fávero
(FÁVERO apud in MANTOAN, 2008, p. 17):

Há uma crescente constatação de que elas devem ter acesso à mesma escola e à mesma
sala de aula que qualquer outro aluno. As mudanças necessárias para que isso ocorra
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com qualidade, além de garantirem às pessoas com deficiência seu direito à igualdade,
talvez sejam uma contribuição para a melhoria do ensino em geral.

A autora ainda aponta que:

O direito à educação tem peculiaridades. Não é qualquer tipo de acesso à educação


que atende ao princípio da igualdade de acesso e permanência em escola (art. 206, I,
CF), bem como a garantia de Ensino Fundamental obrigatório (art. 208, I, CF). Isto
significa que, conforme todos sabem, não pode estudar em qualquer lugar sem se
cumprir certos requisitos legais. (FÁVERO apud in MANTOAN, 2008, p. 18)

Estes requisitos legais, criados tanto no Brasil como também no exterior, segundo
Dall’Acqua e Vitaliano (2010), tratam-se de um novo conceito de educação. Para os autores:

O paradigma educacional denominado inclusão vem se consolidado desde os anos


finais do séc. XX, alicerçado nas proposições expressas em dois eventos mundiais
importantes que culminaram em duas declarações: Declaração Mundial de Educação
para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994). (DALL’ACQUA e
VITALIANO, 2010, p. 25)

Partindo destes pressupostos, a inclusão escolar é um processo que vem


progressivamente acontecendo nas escolas, no intuito de fazer com que todos os educandos
aprendam juntos, independentemente de suas características, habilidades ou limitações,
oferecendo a todos as mesmas oportunidades de ensino.
A inclusão e a integração são dois conceitos abordados frequentemente neste processo
educativo, porém se configuram em dois procedimentos que apresentam significativas
diferenças. A inclusão faz com que o ambiente se adapte aos educandos com necessidades
especiais. Já no processo de integração, o ambiente não faz alterações, e o indivíduo precisa se
adaptar à escola. Segundo Mantoan (MANTOAN apud in FERNANDES, 2007, p. 30):

O processo de INTEGRAÇÃO refere-se especificamente à inserção escolar de alunos


com deficiências o que compreende um continnum que envolve um leque de
possibilidades que vão desde as classes comuns até locais específicos, como classes e
escolas especiais. O critério para a decisão de qual seria a melhor proposta de
atendimento repousa nas CONDIÇÕES INDIVIDUAIS de cada aluno, suas
possibilidades de participação e acompanhamento das atividades desenvolvidas no
contexto escolar. À escola não cabe nenhuma ação de modificação de sua estrutura ou
de suas práticas pedagógicas, pois são as habilidades e as aptidões individuais do
estudante que determinam sua capacidade de se ADAPTAR às exigências da escola
(...).

A escola que atende o público inclusivo, precisa cumprir uma determinação legal de
adaptar o ambiente para receber os educandos com necessidades especiais, favorecendo o
acesso físico para sua locomoção, além de disponibilizar materiais e suportes específicos, que
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virão a favorecer a aprendizagem do educando. A instituição deve ainda valorizar a essência do


sujeito, transformando o meio ao qual está inserido, para atender suas devidas necessidades.
O intuito deste estudo, portanto é correlacionar as contribuições do contato direto entre
família e escola, sendo esta uma relação muito importante para o desenvolvimento integral dos
alunos com necessidades especiais e/ou inclusivos.
O objetivo principal é analisar as contribuições da relação família-escola no processo
de inclusão escolar na Educação Infantil. Partindo disso, delineiam-se os objetivos específicos,
os quais focalizam as políticas educacionais sobre a inclusão escolar e descrever o processo de
inclusão escolar, em um contexto geral.

Procedimentos metodológicos

A metodologia advém de uma abordagem qualitativa, na qual foi utilizado a análise


documental.
De acordo com Flick (2004), a abordagem qualitativa tem como finalidade trazer ações
vivenciadas cotidianamente, onde o pesquisador investiga o objeto de estudo, baseando-se em
técnicas previamente selecionadas para uma pesquisa de/com qualidade.

Na pesquisa qualitativa, consiste em determinar se as descobertas são embasadas em


material empírico e se os métodos foram adequadamente selecionados e aplicados ao
objeto em estudo. As relevâncias das descobertas e a reflexividade dos procedimentos
são critérios adicionais. (FLICK, 2004, p. 21)

Para Severino (2007) a análise documental, apresentada no texto como pesquisa


documental, não diz respeito somente há documentos públicos legais ou teóricos, mas mostra
que revistas educacionais, jornais, livretos, imagens e até mesmo filmes, podem ser utilizados
como fonte de pesquisa, a considerar que o próprio investigador trará a matéria-prima.
Segundo o autor, a pesquisa documental:

É toda forma de registro e sistematização de dados, informações, colocando-os em


condições de análise por parte do pesquisador. Pode ser tomada em três sentidos
fundamentais: como técnica de coleta, de organização e conservação de documentos;
como ciência que elabora critérios para a coleta, organização, sistematização,
conservação, difusão dos documentos; no contexto da realização de uma pesquisa, é
a técnica de identificação, levantamento, exploração de documentos fontes do objeto
pesquisado e registro das informações retiradas nessas fontes e que serão utilizadas
no desenvolvimento do trabalho. (SEVERINO, 2007, p.124)
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Por estes motivos, optou-se em utilizar dessas técnicas de pesquisa, para o


desenvolvimento do tema.

Fundamentação Teórica

Este estudo traz a educação inclusiva em uma perspectiva multifocal, subdividindo-a


em: a) A Educação Infantil e o processo de Inclusão Escolar e; b) A relação família-escola no
processo inclusivo.

A Educação Infantil e o processo de Inclusão Escolar

O processo de inclusão visa à promoção do desenvolvimento das potencialidades e


capacidades das pessoas com necessidades educativas especiais, nos diferentes níveis regulares
de ensino.
Incluir o estudante na educação básica ou nível superior favorece tanto o aspecto social
como também o cognitivo e afetivo do educando.
A inclusão existe para combater a exclusão, como é possível ver segundo Dall’Acqua
e Vitaliano (2010):

(...) a educação inclusiva diz respeito ao acolhimento a todas as pessoas que


apresentam alguma condição considerada como uma “diferença” ao padrão
estabelecido socialmente como desejável ou “normal”, que foram historicamente
excluídas da escola. (p.24)

Ainda a Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva


(2008) aponta que:

A inclusão escolar tem início na educação infantil, onde se desenvolvem as bases


necessárias para a construção do conhecimento e seu desenvolvimento global. Nessa
etapa, o lúdico, o acesso às formas diferenciadas de comunicação, a riqueza de
estímulos nos aspectos físicos, emocionais, cognitivos, psicomotores e sociais e a
convivência com as diferenças favorecem as relações interpessoais, o respeito e a
valorização da criança. Do nascimento aos três anos, o atendimento educacional
especializado se expressa por meio de serviços de intervenção precoce que objetivam
otimizar o processo de desenvolvimento e aprendizagem em interface com os serviços
de saúde e assistência social. (PNEE/PEI, 2008, p. 16)

Considerando isso, observa-se a importância de se incluir crianças com necessidades


especiais nas creches e pré-escolas, uma vez que as convivências favorecerão o processo de
socialização com o meio e com outro.
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Segundo a Lei de Diretrizes e Bases Nacional, nº 9.394/96, apontado no título V,


capítulo II, seção II, art. 29:

A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o


desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico,
psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.
(BRASIL, 1996, s/p)

Nota-se que quanto mais cedo se dá o ingresso do estudante, melhor será o


desenvolvimento de suas capacidades e habilidades cognitivas, afetivas e sociais. Deve-se
garantir que, na instituição que este estiver matriculado, o aluno poderá contar com o serviço
de atendimento especializado a pessoas com necessidades educativas especiais.
A instituição educacional infantil que assume a modalidade de ensino do processo
inclusivo, ou seja, a educação especial promove uma série de levantamentos frente a
preocupações ou dilemas para a equipe pedagógica e corpo docente, pois tal desconhecimento
do assunto afeta na capacidade pedagógica dos professores, influi na criação de espaços e
ambientes que devem ser acessíveis aos educandos e ainda remete-se no bem-estar da criança
que passará o dia inteiro na instituição.
Para Carvalho (2007, p. 19) a educação especial é:

[...] o conjunto de recursos que todas as escolas devem organizar e disponibilizar para
remover barreiras para a aprendizagem de alunos que, por características
biopsicossociais, necessitam de apoio diferenciado daqueles que estão disponíveis na
via comum da educação escolar.

Conforme a mesma autora se tornam necessárias mudanças que estejam a favor do


bem estar dos educandos. No ponto de vista de Bergamo (2009, p. 46), pode-se perceber que:

[...] uma escola [é] inclusiva quando:


respeita as peculiaridades e/ou potencialidades de cada aluno, organiza o trabalho
pedagógico centrado na aprendizagem do aluno, onde este é percebido com sujeito do
processo e não mais como seu objeto e o professor torna-se mais consciente de seu
compromisso político de equalizar oportunidades, na medida em que a igualdade de
oportunidades envolve, também, a construção do conhecimento, igualmente
fundamental na instrumentalização da cidadania.

No caso da Educação Infantil, deve-se ter muita cautela para trabalhar na perspectiva
da inclusão escolar, pois há casos que os educandos ditos normais poderão ser excluídos, devido
ao tratamento dado pelo professor, de forma inconsciente, que se diferencia na atenção dada
somente a ele.
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Contudo, a instituição infantil que adere à educação especial, promove uma série de
alterações para a equipe pedagógica e corpo docente, pois interfere e aprimora a capacitação
dos professores que atenderão tais crianças com deficiências, adaptando e promovendo
mudança dos espaços e ambientes que devem ser acessíveis aos educandos, como também
ampliando os recursos para gerar o bem estar da criança no âmbito escolar.
Na Resolução de nº 04/2009, esta aborda como implantar as mudanças no ensino
regular, sem enfocar em uma determinada modalidade ou etapa educacional. Tal documento
trata das Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação
Básica, especificadamente na modalidade da Educação Especial.
No seu Art. 2º, diz que:

O AEE tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno por meio
da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que eliminem
as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua
aprendizagem.
Parágrafo único. Para fins destas Diretrizes, consideram-se recursos de acessibilidade
na educação aqueles que asseguram condições de acesso ao currículo dos alunos com
deficiência ou mobilidade reduzida, promovendo a utilização dos materiais didáticos
e pedagógicos, dos espaços, dos mobiliários e equipamentos, dos sistemas de
comunicação e informação, dos transportes e dos demais serviços. (BRASIL, 2009,
p. 1)

Paula (2007) também aborda esta questão das mudanças físicas nas escolas inclusivas,
pois:

Uma escola inclusiva deve garantir, também, condições para que as crianças possam
se locomover em todos os ambientes, providenciando a construção de rampas ou
elevadores para o acesso, inclusive aos pisos superiores, de banheiros, adaptados para
acomodação de cadeiras de rodas, colocação de corrimãos, instalação de piso
antiderrapante, sinalização para os alunos com baixa visão e para os alunos surdos.
Assim todos os alunos terão condições de frequentar a totalidade das aulas. Devemos
lembrar que a Constituição de 1988 assegura igualdade de condições de acesso e
permanência no sistema educacional para todos. (p. 11)

Ao serem adaptados os ambientes fora da sala de aula, outro fator importante para a
criança com deficiência, é proporcionado o contato direto com o meio, promovendo a interação
com os demais alunos, pois na educação infantil, o aprendizado prevalece e se dissemina
quando os educandos interagem uns com os outros.
Neste nível de ensino, o estudante que possui a deficiência física ou intelectual pode
interagir com o outro sem discriminação ou exclusão, pois segundo Paula (2007, p. 9), “O
ingresso da criança na escola, na educação infantil (creche e pré-escola) é de fundamental
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importância, por todos os aspectos físicos, sociais, emocionais e psicológicos, etapa ótima do
desenvolvimento, que servirá de base para toda a sua vida futura”.
Esta ideia de interação e mediação, segundo Rego (1995) era defendida pelo teórico
Vygotsky como a proposição da socialização do indivíduo, no qual o autor aborda que a
aprendizagem atua como um resultado das relações estabelecidas por meio do contato com o
outro.
Vygotsky criou algumas hipóteses sobre esta aprendizagem, advinda da interação com
o próximo (REGO apud in VYGOTSKY, 1984).
Partindo destes pressupostos apresentados por Rego (1995), Vygotsky analisava o
indivíduo como um ser ativo que pode, através da relação com a sociedade e o meio, se
transformar e mudar também o meio no qual vive. Além de possuir uma bagagem cultural e
social, o sujeito vive em constante aprendizado, visto que esta mediação feita com o ambiente
trata-se da interação social.
Assim, o teórico aborda a questão da análise psicológica, na qual o indivíduo conserva
as características básicas dos processos psicológicos, exclusivamente humanos.
Dessa maneira, segundo Facion (2009), pode-se afirmar que o processo de inclusão
possui caráter sócio interacionista, o qual aborda a essência do estudante sob a mediação que é
feita juntamente com a interação no meio e com os outros.
A socialização e interação, citada por Rego (1995), só acontecerá a partir do momento
que for estabelecida uma relação dos pais com a escola, no intuito de melhorar o bem estar e a
qualidade do ensino da criança inclusa.
Isso tudo é possível, pois deixa claro que a inclusão é um processo, ou seja, não
teremos um retorno imediato ou preciso, ela é feita progressivamente no cotidiano da criança.

A relação família-escola no processo de inclusão escolar

A ligação da família com a escola potencializa o processo de ensino e aprendizagem


do educando, na etapa educacional. A escola complementa as ações da família e vice-versa.
Para entrelaçar estas instituições primordiais na vida humana, é importante abordar
como ocorre esta parceria na vivência de educandos com necessidades especiais inseridos na
rede regular de ensino, considerando as contribuições presentes desta relação família-escola,
vinculando-o com o processo educacional destas crianças inclusivas.
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Partindo do princípio que a educação inclusiva é um trabalho social e pedagógico, são


considerados como público alvo deste ensino pessoas com deficiências, transtornos globais do
desenvolvimento e com altas habilidades ou superdotação, ou seja, educandos que possuem
limitações ou ausências cognitivas e podem estar inseridos na rede regular de ensino, como
qualquer outro aluno.
Com base em Fernandes (2007, p. 45) a inclusão é um: “Movimento ligado à
valorização de TODAS as pessoas independente de suas diferenças individuais, inclusive
àquelas com deficiências”.
Chama-se atenção para o fato de que incluir precisa partir de um processo educacional,
o qual visa equiparar, interagir e socializar as pessoas com necessidades especiais, de maneira
que todos aprendam juntos, sem acepção de ensino.
Fernandes (2007, p. 37) aponta também que: “[...] são necessárias mudanças
estruturais que envolvem a remoção de barreiras físicas e materiais e a organização de suportes
humanos e instrumentais, para que todos possam ter a participação social em igualdade de
oportunidades e condições.”.
Para Guerbert (2010), incluir trata-se de adequar os espaços para atender os educandos,
e integrar é inserir o estudante especializado no âmbito escolar, sem objetivo algum, não
havendo readequação e reestruturação de acesso para aqueles que possuem limitações ou
dificuldade de se locomover, como também recursos para atendê-los.
A definição de integração, segundo a teórica, nada mais é do que:

[...] a inserção pura e simples das pessoas com necessidades educativas especiais, sem
que haja nenhuma adaptação específica do contexto para o desempenho de tais
atividades, utilizando-se, para isso, somente recursos previamente disponíveis.
(GUERBERT, 2010, p. 32)

Observa-se que as terminologias “integração” e “inclusão” se confrontam


constantemente quando o assunto é educandos com necessidade especiais. O correto é abordar
como deveria ser a educação inclusiva destas crianças e como fazer para que este processo
ocorra.
A autora Fernandes (2007, p. 45) define que a educação inclusiva é “um movimento
que compreende a educação como um direito humano fundamental e a base para uma sociedade
mais justa [...]”. Um mundo no qual se permita que todos possam conviver e socializar em
qualquer contexto/ambiente.
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Partindo desses conceitos, nota-se que a inclusão estigmatizou a educação e seus


paradigmas, mas como a relação família-escola contribui para este cenário continuar a se
destacar?
Antes de tudo, para que haja uma verdadeira parceria entre a família e a escola, deverão
ser adotados encaminhamentos metodológicos diversificados para atender tais educando com
necessidades especiais e adequar os espaços físicos para tornar o processo de inclusivo mais
produtivo e bem-sucedido.
Uma vez que, este trabalho visa à formação humana do indivíduo e a busca de um
lugar na sociedade é preciso o apoio e o suporte de ambas as instituições responsáveis pela
criança: a Família e a Escola.
Szymansky (2010, p.22) descreve que “É na família que a criança encontra os
primeiros “outros” e, por meio deles, aprende os modos humanos de existir – seu mundo adquire
significado e ela começa a construir-se como sujeito”.
Para a autora a relação família-escola trata-se de uma parceria entre a escola e pais
e/ou familiares dos educandos, conceituando-as ambas responsáveis pela aprendizagem da
criança.

A família, nesta perspectiva, é uma das instituições responsáveis pelo processo de


socialização realizado mediante práticas exercidas por aqueles que têm o papel
transmissor – os pais – e desenvolvidas junto aos que são os receptores – os filhos.
(SZYMANSKI, 2010, p. 20)

E a escola é uma instituição de ensino que, segundo Szymanski (2010, p. 99) tem como
“obrigação de ensinar (bem) conteúdos específicos de áreas do saber, escolhidos como sendo
fundamentais para a instrução de novas gerações”.
Segundo Pereira (2004, p.17) “Cabe à escola, cada vez mais, interagir com a família e
a sociedade, com projetos que resgatem o valor humano de cada um, de cada aluno. É na
vivência com o outro ser humano que a criança se permitirá avaliar seus conhecimentos.”.
A autora Paula (2007) também aponta a família como sujeito responsável pela
socialização imediata do sujeito, pois em casa que se estabelece os primeiros contatos de
interação com o outro e convívio social.
Enfatiza a autora que “É na família que aprendemos a nos relacionar com os outros.
Portanto, a construção dessa sociedade inclusiva começa nas famílias. Os pais e as próprias
pessoas com deficiência são seus principais agentes.” (PAULA, 2007, p. 7)
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A família é a chave para uma formação bem sucedida do estudante e a escola é o local
onde ele vai ampliar seus conhecimentos técnicos e práticos, desenvolvendo também suas
habilidades e capacidades conforme seu desempenho global.
Segundo Szymansky (2010, p. 98):

Ambas as instituições têm em comum (...) o fato de prepararem os membros jovens


para sua inserção futura na sociedade e para o desempenho de funções que
possibilitem a continuidade da vida social. Ambas desempenham um papel importante
na formação do indivíduo e do futuro cidadão.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica enfatizam a participação


da família para a ampliação total do educando desde a primeira etapa de educação.
Conforme o Art. 22: “A Educação Infantil tem por objetivo o desenvolvimento integral
da criança, em seus aspectos físico, afetivo, psicológico, intelectual, social, complementando a
ação da família e da comunidade.” (BRASIL, 2010).
Esta relação se estende nos demais parágrafos do mesmo artigo, quando lê-se:

§ 3º Os vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e do respeito mútuo


em que se assenta a vida social devem iniciar-se na Educação Infantil e sua
intensificação deve ocorrer ao longo da Educação Básica.
§ 4º Os sistemas educativos devem envidar esforços promovendo ações a partir das
quais as unidades de Educação Infantil sejam dotadas de condições para acolher as
crianças, em estreita relação com a família, com agentes sociais e com a sociedade,
prevendo programas e projetos em parceria, formalmente estabelecidos. (BRASIL,
2010)

A importância da família no desempenho escolar do educando, favorecerá tanto nos


aspectos motores/físicos, como emocionalmente e intelectualmente.
Em suma, para se resultar em um desenvolvimento de qualidade e eficaz, a escola e a
família devem caminhar juntas para atingir o alvo comum que é o bem estar e a aprendizagem
da criança com necessidades especiais incluída na rede regular de ensino.

Considerações Finais

A inclusão educacional não se trata apenas de inserir o sujeito em um ambiente,


promovendo interações recíprocas entre ele, o meio e o outro. É um processo legal, político e
social, o qual necessita da ajuda de pais/familiares, escola e comunidade para ser efetivamente
concretizado.
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Esta questão é um tanto quanto intrínseca, pois além de precisar de amparo profissional,
a inclusão escolar abrange uma participação conjunta de pais e escola, uma vez que são
instituições responsáveis pela formação integral do indivíduo.
Por maior ensejo que exista na parceria entre a escola e a família, nem sempre esses
atores estão em envolvimento direto no atendimento os educandos/filhos, delegando a
responsabilidade para o outro e não participando ativamente do processo.
Portanto, é sabido que cada um tem o seu papel para consolidar a aprendizagem dos
educandos, mas nem sempre é isso que acontece. Esperava dessa relação uma real parceria,
onde os pais e a escola seriam elementos conectivos, mobilizando-se para a aprendizagem dos
educandos.
Em suma, não se trata mais de um tabu, no qual não se admite aceitar a convivência de
educando com necessidades especiais junto com os demais educandos, ou ainda privá-los de
direitos e deveres já conquistados.
A inclusão é uma realidade presente e viva, na qual me inspira para concluir este
trabalho, além de agregar e complementar ainda mais meus conhecimentos sobre como deve
ocorrer à verdadeira inclusão, mediante a participação da família correlacionada com a escola.

REFERÊNCIAS

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14254

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