Você está na página 1de 31

E-BOOK

Psicopedagogia
Seja bem-vindo!
Obrigado por fazer parte do nosso propósito de levar
conhecimento com qualidade para o maior número de pessoas
possíveis, por confiar e acreditar no nosso trabalho assim
como nós acreditamos e confiamos no seu potencial.
acreditamos que você pode chegar onde quiser sempre com
mais conhecimento.

Você já é diferente por ter acesso a esse e-book e certificado.

Você poderá ter acesso aos nossos cursos e congressos pelo


nosso site: www.cessetembro.com.br

Quer ser um membro VIP?


Faça parte da A Nova Classe: www.anovaclasse.com.br

Nos acompanhe através de nossa rede social:

@cessetembro

Vamos fazer história juntos!


PSICOPEDAGOGIA
A psicopedagogia surge da preocupação dos cientistas e filósofos no século
XIX em entender e propor soluções para as dificuldades de aprendizagem.

Bossa (2000), pesquisa sobre a história da psicopedagogia e relata o


nascimento dos primeiros centros voltados para atendimentos
psicopedagógicos propriamente ditos na França, em 1946, com uma prática,
a princípio, marcada pelos saberes médicos, pedagógicos e psicanalíticos.
Ela afirma que: “Através dessa cooperação Psicologia-Psicanálise-
Pedagogia, esperavam adquirir um conhecimento total da criança e do seu
meio, o que tornaria possível a compreensão do caso”

A psicopedagogia recebe as influências francesas que caminhavam na


compreensão dos sintomas e dos tratamentos.

Essas pesquisas são levadas pelos jovens à Argentina que haviam estudado
na Europa. Lá, é tomada como modo de compreender e tratar as
atribuladas mudanças sociais tais como, crise na escola, problemas com a
reorganização no pós-guerra, evasão escolar forte. Nessa perspectiva, se
desenvolve, ganhando cada vez mais espaço e reconhecimento (Bossa,
2000). Quando autores argentinos vêem para o Brasil que essa disciplina se
firma como um corpo teórico mais consolidado.

A psicopedagogia brasileira acompanha as concepções teóricas e práticas


que se consolidaram na Argentina. Em 1954, organiza-se o primeiro curso
de orientação psicopedagógica, patrocinado pelo Centro de Pesquisas e
Orientação Educacional, da Secretaria de Educação de Porto Alegre (Bossa,
2002).

Na Psicopedagogia fundamentalmente discorre sobre a questão do sintoma


os pertinentes aos estudos e práticas de Sara Paín e Alicia Fernández que.
Sara Paín, filósofa e educadora francesa, sistematiza a psicopedagogia
baseada na psicanálise e influencia autores argentinos e brasileiros. Alicia
Fernández, psicopedagoga argentina, é uma das responsáveis pela
popularização da psicopedagogia no Brasil.
Sass (2003) aponta que “a psicopedagogia, no Brasil, pretende ser inserida, de modo
predominante, como “solução nova” para velhos problemas escolares os quais tanto
a pedagogia quanto a psicologia (e suas variantes psicologia da educação, psicologia
escolar e psicologia clínica) fracassaram, por fatores objetivos, solenemente em
resolver” (p. 1370). Conotando a parceria entre a Psicologia e a Pedagogia.

A variedade de práticas e conceitos é característica também da psicopedagogia


brasileira. No entanto, Bossa (2000) aponta que “há um certo consenso quanto ao fato
que ela [a psicopedagogia] deve ocupar-se em estudar a aprendizagem humana” (p.
20). Ocupar-se significa entender como funciona e tratar do que atrapalha o processo
de aprendizagem.

Código de Ética do Psicopedagogo pela


Associação Brasileira de Psicopedagogia

ARTIGO 1º

A Psicopedagogia é um campo de conhecimento e ação interdisciplinar em


Educação e Saúde com diferentes sujeitos e sistemas, quer sejam pessoas, grupos,
instituições e comunidades. Ocupa-se do processo de aprendizagem considerando
os sujeitos e sistemas, a família, a escola, a sociedade e o contexto social, histórico e
cultural. Utiliza instrumentos e procedimentos próprios, fundamentados em
referenciais teóricos distintos, que convergem para o entendimento dos sujeitos e
sistemas que aprendem e sua forma de aprender.

Alicia Fernández aponta a necessidade de escutar o sujeito, tomando esse conceito


como a escuta significante, do inconsciente segundo a psicanálise freud-lacaniana.
Essa escuta pressupõe uma saída da posição de suposto saber, chegando a afirmar
que algumas vezes o trabalho que seria considerado do psicopedagogo
(abordagem dos conteúdos escolares na clínica) deve ser posto de lado, para que a
palavra do paciente encontre lugar.

Sobre os problemas de aprendizagem, Alicia Fernández (1991) aponta três formas


de apresentação da manifestação individual do problema de aprendizagem: o
sintoma, a inibição cognitiva e a dificuldade de aprendizagem reativa. A autora
afirma que o sintoma “(...) toma forma em um indivíduo, afetando a dinâmica de
articulação entre os níveis de inteligência, o desejo, o organismo e o corpo,
redundando em um aprisionamento da
inteligência e da corporeidade por parte da estrutura simbólica inconsciente” (p.
82).
É em Sara Paín que Fernández encontra subsídio para essa concepção. Os
problemas de aprendizagem são tudo aquilo que perturba a normalidade do
processo educativo, as condições que não permitem ao sujeito o uso de suas
potencialidades como desejado no meio escolar.

Paín (1992) compreende o processo de aprendizagem em dimensões


biológicas (com base nas teorias piagetianas), cognitvas (com base nas
formulações de Gréco) e sociais (recorrendo ao materialismo histórico-
dialético). A aprendizagem teria uma função do eu psicanalítico. Desse
modo, ela recorre a Bion, Klein, Lacan e ao próprio Freud para apresentar
como a constituição do eu interfere na aprendizagem.

Paín (1992) apresenta os problemas de aprendizagem em duas categorias. A


primeira, dos problemas escolares, que está ligada às questões sociais que
permeiam a escolarização, tais como despreparo dos professores e
precariedade das escolas

A segunda categoria é a das perturbações da aprendizagem causadas por


fatores orgânicos (problemas do
sistema nervoso e desordens perceptivo- motoras), específicos (problemas
como a dislexia) e psicógenos (problemas
subjetivos). O quarto fator, intitulado como “ambiental”, focaliza o modo
como a criança se insere na cultura
questionando seu acesso aos meios de comunicação e as condições do lugar
em que vive.

Paín (1992) se inspira no texto freudiano Inibições, Sintomas e Ansiedade,


para compreender como a subjetividade pode atrapalhar o aprendizado. A
partir da diferenciação que Freud propõe entre inibição e sintoma em que a
inibição diz respeito a uma diminuição da função da aprendizagem, e o
sintoma seria a transformação dessa função.

Afirma que“o problema de aprendizagem pode surgir como uma reação


neurótica à interdição de satisfação, seja pelo afastamento da realidade e
pela excessiva satisfação na fantasia, seja pela fixação com a parada de
crescimento na criança” (Paín, 1992, p. 31). Portanto, apoiando-se no texto
freudiano, Paín propõe que o problema de aprendizagem pode ser um
sintoma neurótico.
A psicanálise é tomada como mais um modo de compreender o que acontece
no cotidiano escolar. Seus conceitos são considerados fundamentais, mas sua
especificidade não é discutida. Andrade (2002) toma como pressuposto uma
“psicopedagogia psicanaliticamente orientada”, sem discutir como esse
encontro se dá. Também aparece no texto de Milmann (2003) a afirmação de
que, num tratamento psicopedagógioco, a psicanálise é a lente através da qual
compreende o sintoma de seu paciente e conduz o tratamento.

Milmann (2003) relata que “situar a singularidade da estruturação psicótica


abordada pelo saber da psicanálise é um atravessamento necessário à clínica
que se propõe a abordar a psicose” . Enquanto, Levisky (2006) propõe a partir
da psicanálise kleiniana, que os pedagogos tomem conhecimento dos
conteúdos psicanalítico de modo a observar que certas dificuldades de
aprendizagem estão relacionadas com entraves no desenvolvimento psico-
sexual da criança.

Segundo Ocariz (2001): [...] o sintoma é um fenômeno subjetivo que se


constitui não como sinal de doença, mas como efeito, produto de um conflito
inconsciente [...]. O sintoma não é contingente; possui um motivo e um
propósito. Tem causa, direção, finalidade e função na vida psíquica; é sobre
determinado, e sua raiz se encontra na história do sujeito. É portador do saber
inconsciente recalcado; é uma mensagem cifrada, um hieróglifo a ser
interpretado (p. 09).

Para Almeida (2000): Se o sintoma expressa a realidade psíquica do sujeito


dividido, fato de estrutura contra o qual lutamos com toda força e sem
sucesso, o sintoma, em suas diferentes manifestações é um compromisso, um
arranjo que o sujeito elabora a partir do conflito entre sua problemática
inconsciente e suas defesas, uma solução que envolve tanto a tentativa de
recalcamento como o retorno do recalcado (p. 43).
Nesse texto Freud afirma novamente a ineficiência do método catártico,
defendendo que:

o paciente só se livra do sintoma histérico ao reproduzir as impressões


patogênicas que o causam e ao verbalizá-los com uma expressão de afeto; e
assim a tarefa terapêutica consiste unicamente em induzi-lo a agir dessa
maneira. Uma vez realizada essa tarefa, nada resta ao médico para corrigir ou
eliminar. (Freud, 1893b/1996, p. 296)

As noções de defesa e resistência também aparecem nesse texto. Freud afirma


que reconheceu um aspecto comum às representações patogênicas de seus
pacientes, no sentido de que estas “(...) eram todas de natureza aflitiva, capazes
de despertar afetos de vergonha, de autocensura e de dor psíquica, [...] eram
todos de uma espécie que a pessoa preferiria não ter experimentado, que
preferiria esquecer. De tudo isso emergiu, como que de forma automática, a idéia
de defesa” (Freud, 1893b/1996, p. 283). Os sintomas aparecem como uma forma de
proteger o histérico de lembranças que doem. Ainda neste texto, afirma que “(...)
O ‘não saber’ do paciente histérico seria, de fato, um ‘não querer saber’ – um não
querer saber que poderia, em maior ou menor medida, ser consciente” (Freud,
1893b/1996, p. 284).

Quando o tratamento pode mexer no arranjo feito pelo paciente para manter
fora de sua consciência as lembranças traumáticas, a resistência aparece, para
evitar que se sofra mais ainda. No entanto, o que se revela nos casos que Breuer e
Freud apresentam é que quando a resistência cede, e as lembranças dolorosas são
vivenciadas, os sintomas cessam, e a vida pode seguir menos sofrida.

Uma tarefa primordial no diagnóstico é resgatar o amor. Em geral, os


terapeutas tendem a carregar nas tintas sobre o desamor, sobre o que
falta, e poucas vezes se evidencia o que se tem e onde o amor é
resgatável. Sem dúvida, isto é o que nos importa no caminho da cura.

Sara Paín
DIALOGANDO SOBRE A PSICOPEDAGOGIA

Segundo Silvana Martines e Silvia Felizardo (1934) a psicopedagogia é o campo


do saber que se constrói a partir de dois saberes e práticas: a pedagogia e a
psicologia. O campo dessa mediação recebe também influências da psicanálise,
da linguística, da semiótica da neuropsicologia, da psicofisiologia, da filosofia
humanista-existencial e da medicina. Existem dois tipos de Psicopedagogia: a
Institucional e a Clínica. A linha da psicopedagogia Institucional promove uma
relação entre os professores e o processo de
ensino - aprendizagem, a fim de melhorar a instituição escolar e os problemas
de aprendizagem na mesma.

O que compreende a Psicopedagogia?


Psicanálise: é um campo clínico e de investigação teórica da psique humana
independente da Psicologia, com origem na Medicina, desenvolvido por
Sigmund Freud.

Linguística: refere-se à capacidade humana para aquisição e utilização da


comunicação.

Semiótica: é o estudo da construção de significado, o estudo do processo de


signo e do significado de comunicação.

Neuropsicologia: estuda as relações entre o cérebro e o comportamento


humano

Psicofisiologia: estuda a base fisiológica das funções motoras especialmente


no que se refere aos reflexos, à postura, ao equilíbrio, à coordenação motora
e ao mecanismo de execução dos movimentos.

Medicina: é uma das muitas áreas do conhecimento ligada à manutenção e


restauração da saúde.
OBJETO E OBJETIVO
O objeto central de estudo da psicopedagogia está se estruturando
em torno do processo de aprendizagem humana: seus padrões evolutivos
normais e patológicos e a influência do meio (família, escola, sociedade) em
seu desenvolvimento.

O objetivo da psicopedagogia é melhorar o processo de aprendizado e


melhorar o desempenho de crianças, adolescentes e adultos.

Onde atua?
O psicopedagogo pode estar desenvolvendo trabalhos hospitalares,
clínicos, escolares e também, empresariais, trabalhando com observação,
terapias, tratamentos clínicos, e orientando professores, onde seu foco
principal é a aprendizagem do ser humano.

O que fazer para ser um psicopedagogo?


Para se tornar um profissional da área deve ser graduado em
Psicologia ou Pedagogia e fazer especialização em Psicopedagogia, o
que pode levar até oito anos para o termino dos estudos.

O Psicopedagogo Clínico atua como um facilitador da aprendizagem


prazerosa, orientando e ensinando a estudar. Com o paciente, é feito o
diagnóstico psicopedagógico para descobrir quais áreas devem ser
trabalhadas.

Quando se deve procurar um psicopedagogo?


Tendo em vista que a Psicopedagogia é a especialidade que investiga,
compreende o processo de aprendizagem e a relação desta com a pessoa
que aprende, através de uma proposta preventiva e/ou terapêutica, o
profissional deve ser procurado sempre que houver uma suspeita ou
diagnóstico de Dificuldade de Aprendizagem.
A psicopedagogia atua por meio multidisciplinar?

A psicopedagogia trabalha de forma multidisciplinar permitindo que o


processo de aprendizagem seja explorado pelos diversos campos do
conhecimento.

SARA PAÍN
No Brasil a Psicopedagogia iniciou em 1980, quando surgiu o primeiro curso de
Psicopedagogia Enfoques Epistemológicos na Formação Docente, que resultou na
fundação da Associação Paulista de Psicopedagogia, atual Associação Brasileira de
Psicopedagogia (ABPp). A Psicopedagogia inicia suas atividades no Brasil com forte
influênciacde autores argentinos, como Sara Paín, Alicia Fernández e Jorge Visca,
que por sua vez foram influenciados por autores europeus. Bossa explica com
clareza a importância da Psicopedagogia.

A Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, o que adveio de uma demanda


– o problema de aprendizagem, colocando num território pouco explorado, situado
além dos limites da Psicologia e da própria Pedagogia – e evolui devido à existência
de recursos, para atender esta demanda, constituindo-se assim, numa prática. Como
se preocupa com o problema de aprendizagem, deve ocupar-se inicialmente do
processo de aprendizagem. Portanto vemos que a Psicopedagogia estuda as
características da aprendizagem humana: como se aprende, como esta
aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se
produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-
las. (2000, p. 21).

Sara Pain, nasceu em Buenos aires em 1931 e reside na França desde 1977. Doutora
em Filosofia pela Universidade de Buenos Aires e em Psicologia pela
Universidade de Neuchâtel, Suíça, com a tese defendida “La Psicogénesis de la
Funciones Lógicas de Combinación y Permutación".

Foi professora de psicologia na Universidade Nacional de Buenos Aires e Mar del


Plata, é Professora de filosofia e letras pela Universidade de Buenos Aires. Foi
professora da Universidade Paris XIII e da Faculdade de Psicologia em Tolouse.

Sua vinda ao nosso país era regular– Rio de janeiro, São Paulo e Rio Grande do
Sul – e à Argentina. até 2015, ano de sua morte.
De acordo com Paín (1989) o estudante com dificuldade de aprendizagem pode
apresentar um conjunto de problemas cognitivos, de linguagem, sócio-
emocionais, acadêmicos que vão dificultar o seu processamento de informação,
o seu processo de aprendizagem

alguns problemas específicos de aprendizagem não são resultados de: falta de


capacidades intelectuais, déficits sensoriais primários, privação cultural, falta de
continuidade na assistência à aulas ou problemas emocionais. Entretanto estas
condições podem acompanhar desencadear ou agravar um problema nas áreas
de aprendizagem. Existem fatores próprios ao ambiente, ao meio social, cultural,
emocional, orgânicos e específicos que intervém para o surgimento de um baixo
rendimento escolar. Uma criança que apresenta dificuldades de aprendizagem e
não consegue aprender com os métodos com os quais a maioria das crianças
aprende apesar de ter bases intelectuais apropriadas para aprendizagem,
necessita de apoio mais diretivo, seja da família, dos professores ou de um
psicopedagogo para sanar tais dificuldades. Pain (1983, p. 95)

Fatores podem alterar a condição de aprendizagem

Os fatores orgânicos – para aprendizagem é fundamental a integridade


anatômica e do funcionamento daqueles órgãos que estão envolvidos na
recepção dos estímulos do meio, assim como dos processos que asseguram
a coordenação com o sistema nervoso central.

Em primeiro lugar para Pain (1983), é imprescindível revisar tanto a


capacidade auditiva como visual. A hipoacusia e a miopia costumam
aparecer como causadora de dificuldades escolares. No entanto, estas
perdas sensoriais, não são de origem das dificuldades específicas de
aprendizagem. É importante pesquisar os aspectos neurológicos, pois
devemos conhecer as condições do sujeito diante das demandas da
aprendizagem.
Os fatores ambientais específicos estão no transtorno na área da
adequação perceptiva motora. Apesar de parecerem possuir origem
orgânica, não existe possibilidade de comprovação. Estes transtornos
afetam o nível de aprendizagem da linguagem, da sua articulação, da
leitura e escrita. Aparecem em inúmeras pequenas falhas como, por
exemplo, a alteração da sequência percebida, dificuldade para
contrair imagens claras de fonemas, sílabas e palavras. Podemos
encontrar também dificuldades na análise e síntese dos símbolos, na
capacidade sintática e na atribuição significativa.

Muitos problemas de aprendizagem encontram-se relacionados com


uma indeterminação da lateralidade. Devemos ter claro a norma e o
uso da mão direita. A pessoa destra nas extremidades e no olho
apresenta grafia mais uniforme e harmônica. A criança canhota é
forçada a uma decodificação precoce. O caso se complica ainda mais
quando existe uma lateralidade cruzada, ou seja, quando os olhos e as
mãos não apresentam uma lateralidade comum (PAIN, 1983).

Para os fatores emocionais - devemos levar em consideração que, tanto


a relação que o estudante tem com a família, quanto a que pratica em
sala de aula (com professores e amigos) é fundamental para fortalecer
os laços de segurança deles, nas práticas de leitura e escrita. Os
aspectos emocionais podem interferir negativamente nos processos de
aprendizagem.

Ao questionarmos porque algumas crianças aprendem, a resposta


geralmente tem ligação com o cognitivo. Diz-se ser uma criança
inteligente, dificilmente correlacionamos ao fato dela ser amada ou
apoiada por pais e professores

A criança é capaz de realizar classificações de cor ou tamanho e


ordenações de menor a maior ou vice-versa sempre e quando tenha
capacidades cognitivas para fazê-lo, mas, além disso, quando sentir-se
pertencente a uma classe; sou filho de tais pessoas, sou mulher, sou
homem e se sinta como única e distinta, ou diferenciada de outras, só
assim poderá desenvolver estas operações lógicas.
Existem certas crianças que apresentam um bloqueio total em relação à
lectoescrita. Em alguns casos pode ser considerada a hipótese de resistência à
aprendizagem como forma de castigo dos pais ou como resultado de uma
excessiva pressão por parte destes. Há crianças superprotegidas que resistem
ao crescimento; a lectoescrita representa uma forma de crescimento, de
maturidade, de tornar-se independente (PAIN, 1983)

Sara Paín ressalta que a pessoa que ensina com todas as suas características
individuais além das suas qualidades pedagógicas é fundamental. Mas
importante do que o conteúdo ensinado é a relação com a pessoa que ensina,
que afeta a subjetividade da pessoa que aprende.

Para que uma criança aprenda de forma saudável é necessário que a pessoa
que ensina conceda a possibilidade ao outro de ser a pessoa que aprende e
coloque-a no lugar do sujeito cognoscente (capaz de produzir conhecimentos).
O papel desempenhado do professor é representar a figura da pessoa que não
apenas ensina conteúdos, abre um espaço para outro saber, o saber de si
mesmo como objeto criativo e pensante. A pessoa que ensina é também um
aprendente.

Os problemas de aprendizagem não desaparecem sozinhos, por si mesmos, no


entanto a criança pode aprender compensar suas dificuldades por meio da
ajuda de um adulto mais capaz.

ALÍCIA FERNANDEZ
Alicia Fernández foi psicopedagoga formada pela Facultad de Psicopedagogíá da
Universidad del Salvador, Buenos Aires, Argentina. Ganhou relevância acadêmica
com sua obra A Inteligência Aprisionada (La Inteligencia Atrapada - 1991).
Nascimento Buenos Aires,

Alicia Fernández nasceu em Buenos Aires em 1944. Formou-se em Psicopedagogia e


Psicologia pela Universidade de El Salvador em Buenos Aires. Internacionalmente
conhecida, é uma referência fundamental para a Psicopedagogia. Morte em
fevereiro de 2015

“Nós, humanos, aprendemos a partir de identificações com nossos ensinantes,


e somente em um ambiente familiar, e depois, no escolar e social, que nos aceite
como seres pensantes. Quero dizer, que permita e favoreça nossas perguntas, dê
lugar à diferença, em síntese, que favoreça a autoria de pensamento. A
inteligência se constrói, a atividade de pensamento se constrói, como também a
atenção e a capacidade de se prestar atenção.” (FERNÁNDEZ, 2008a)
Alicia Fernández ao ingressar em Psicopedagogia “queria fazer alguma
coisa que estivesse associada à clínica, mas não particularmente à medicina,
mas à clínica e à psicologia.” (FERNÁNDEZ, p.187, 2008b). No entanto, sua
Universidade oferecia uma formação paramédica por não ter uma definição
clara quanto ao objeto de estudo da Psicopedagogia.

“Eu estava mais ou menos no 3º ano da Faculdade de Psicopedagogia e


ingressei na Psicologia da Universidade Nacional de Buenos Aires, eu queria
alguma coisa que não sabia o que era e que não me davam na
Psicopedagogia” (FERNÁNDEZ, p. 188, 2008b).

Na década de 60, ingressou na graduação de Psicologia, juntamente com a


sua contratação como Orientadora Educacional (1962 a 1974), devido o curso
ser novo e o cargo de Orientador Educacional estar sendo incluído nas
escolas, foram contratados alunos deste curso, possibilitando
uma vaga para Alicia.

Contribuíram em sua formação: Pichon-Rivière, psiquiatra argentino, com


seus estudos sobre a estrutura e funcionamento dos grupos, por meio da
teoria do Grupo Operativo e Psicologia Social (FABRIZ, 2009); José Bleger,
que propôs aos psicólogos superar a psicoterapia e a visão de doente/cura
para praticar a psicohigiene, focando em uma promoção da saúde (GULA;
PINHEIRO, 2007) e Bohoslavsky, que reforçou a ação preventiva da
psicologia na orientação vocacional e a necessidade de novas técnicas e
recursos (BOHOSLAVSKY, 1971).

Blanca Tarnopolsky, trabalhos com grupos de crianças com problemas de


aprendizagem, “Grupo de Tratamento Psicopedagógico”,
no Centro de Saúde Mental.

Sara Paín e com ela auxiliou no setor de Psicopatologia do Hospital Pinheiro


do hospital público em região carente de Buenos Aires. Desta experiência,
Alicia escreveu o livro “Diagnóstico e o tratamento de problemas de
aprendizagem”. Este trabalho durou dois anos, pois em 1976 ocorre o
período de ditadura na Argentina.

Tarnopolsky e sua família são assassinados, queimam seus materiais de


pesquisa e aterrorizam outros pesquisadores que “somem”, juntamente
com os atendimentos que estavam sendo realizados nos Hospitais
(FERNÁNDEZ, 2008b).
Alicia Fernandez já estava graduada em Psicopedagogia, mas curvava a graduação
de Psicologia que a ditadura interrompeu. Preferiu se exilar no Brasil e escreve o
livro “Inteligência Aprisionada”, motivada por seus sentimentos e vivências durante
a ditadura. Nesta obra ela analisa a subjetividade da criança e sua possibilidade de
aprender e ter que esconder, omitir ou desmentir o conhecimento dentro do grupo
familiar. (FERNÁNDEZ, 1991).

Volta à Argentina em 1982 e inicia um trabalho interdisciplinar, interinstitucional


que buscava relacionar Escola, Hospital, Família e trabalhar com questões do corpo
e grupos, através da musicoterapia, expressão plástica e expressão corporal no
Centro de Aprendizagens no Hospital Posadas, hospital público em área carente.

Em suas pesquisas Alicia afirma que suas inspirações quanto as relações de


organismo, corpo, inteligência e desejo vieram de Sara Paín, no entanto que a
corporeidade “me parece vem do lado de Pichón-Revieere, daqueles que
estavamtrabalhando as questões dos grupos e de Pavlovsky, pelo Psicodrama”
(FERNÁNDEZ, 2008b).

Deste trabalho, em parceria com seu marido, inaugura um espaço chamado de


Técnicas Expressivas em que trabalham com a Psicopedagogia e formação artística e
expressão corporal.

Alicia Fernández (1991) traz em sua obra a concepção sobre a aprendizagem e os


problemas que a envolvem, além de apresentar uma proposta de diagnóstico
interdisciplinar com a criança e sua família: DIFAJ (Diagnóstico Interdisciplinar
Familiar de Aprendizagem em uma só Jornada). No processo de aprendizagem, o
sujeito põe em jogo o seu organismo (o corpo, construído a partir da relação com o
outro), sua inteligência e seu desejo de ordem inconsciente.

A aprendizagem, depende do trânsito entre uma postura (aprendente) e outra


(ensinante), ou seja, ser ensinante implica abrir espaços para que a aprendizagem
aconteça. O aprendente precisa de adulto (pais, professores...) que acreditem em seu
potencial, que lhe proporcione autonomia e autoria (FERNÁNDEZ, 2001a).

Permita que o sujeito que está em processo de aprendizagem, possa mostrar o que
já sabe, através de suas hipóteses a respeito do conteúdo que está sendo ensinado.
Em contra partida, o “ensinante” precisa reconhecer o conhecimento deste sujeito,
o caminho que o levou a suas hipóteses, para então regular a sua ação.
Neste processo, ambos aprendem e ensinam, visto que é a partir da interpretação
dos "ensinantes" sobre as ações dos "aprendentes", que estes (estudantes) poderão ir
se constituindo como sujeitos autores.
DIFAJ
(Diagnóstico Interdisciplinar Familiar de Aprendizagem em uma só
Jornada)

Como um primeiro encontro terapêutico interdisciplinar, familiar,


grupal, escolar, prevenção, espaço de confiança e inserção institucional.

Fatores que inspiraram Alícia Fernandez a desenvolver o DIFAJ:

•Antes das consultas;


•Diagnóstico longo;
•Longas filas de espera;
•Evasão (financeiro);
• Prevenção

“Ensina está mais perto de prevenir que de curar, e prevenir tem mais a ver
com amplia saúde do que com deter ou atacar a enfermidade.” (FERNÁNDEZ,
1991 p.17)

Encontro terapêutico e preventivo entre áreas especializadas:


psicopedagogia, psicologia, psicanálise, educação, pediatria, fonoaudiologia...
etc

Surge o Centro de Aprendizagem com objetivos de assistência, docência,


prevenção e pesquisa.

Segundo Alicia Fernández:

Tradicionalmente, de acordo com uma visão racionalista e dualista do ser humano,


considerou-se a aprendizagem exclusivamente como um processo consciente e
produto da inteligência, deixando o corpo e os afetos fora; mas se houve humanos
que aprenderam é porque não fizeram caso de tal teoria e “fugiram dos métodos
educativos sistematizados. (1991, p. 47).
Para a autora, na aprendizagem entram sempre em jogo:

• o “organismo individual herdado”;


• o “corpo construído especularmente”;
• a “inteligência autoconstruída interacionalmente”;
• a “arquitetura do desejo”, o desejo que é sempre desejo do desejode
Outro”.

A autora considera que é importante relacionar em estudos sobre a


aprendizagem questões ligadas à inteligência e aos desejos inconscientes,
habitualmente estudadas isoladamente (1991 p.70). Isto porque na
aprendizagem, segundo ela, “intervêm o nível cognitivo e o desejante, além
do organismo e do corpo”. (1991, p. 74)

“O problema de aprendizagem põe em evidência a necessária inter- relação


dos níveis orgânico, corporal, intelectual e desejante, a partir de sua
articulação sintomática” (1991, p.129). A teotria psicopedagógica procura dar
conta da articulação inteligência-desejo

Alicia declara que, na realidade, o que se transmite ao aprendente não é o


conhecimento, mas sinais desse conhecimento para que o sujeito possa não só
transformá-lo, mas também reproduzi-lo. (1991, p. 52).

A autora afirma ainda que o ser humano pode transformar o que ela chama de
“enseña” em conhecimento, que se caracteriza por passar por quatro níveis de
elaboração: orgânico, corporal, intelectual e semiótico ou desejante, níveis que
funcionam sempre num processo dialético com o exterior. (1991, p. 52).

Alicia Fernández (1991) faz uma distinção entre conhecimento e saber:

O conhecimento é objetivável, transmissível de forma indireta ou impessoal; pode ser


adquirido através de livros ou máquinas; é factível de ser sistematizado em teorias;
enuncia-se através de conceitos. Por outro lado, o saber é transmissível só diretamente,
de pessoa a pessoa, experiencialmente; não se pode aprender através de um livro, nem
de máquinas, não é sistematizável (não existem tratados de saber); pode ser enunciado
somente através de metáforas, paradigmas, situações, casos clínicos [...] O saber dá
poder de uso. Os conhecimentos não. (1991, p.129).
Uma grande falha de nossa educação tem a ver com a desqualificação do
saber e o endeusamento do conhecimento. Pode-se entender porque convém
a determinados sistemas que circulem os conhecimentos, mas não o poder de
uso sobre eles. (1991, p.129).

Sobre o espaço para aprender, ao espaço para jogar, Alicia Fernández se


posiciona :

O saber se constrói fazendo próprio o conhecimento do outro, e a operação


de fazer próprio o conhecimento do outro só se pode fazer jogando. Aí
encontramos uma das intersecções entre o aprender e
o jogar.

O conhecimento o possui o Outro, e só pode ser adquirido de maneira


indireta; ao contrário, o saber, que é uma construção pessoal e outorga
possibilidade de uso, está relacionado com o fazer, com o encarnar o
conhecimento de acordo com os caracteres pessoais.

Não pode haver construção de saber, se não se joga com o conhecimento. Ao


falar de jogo, não estou fazendo referência a um ato, nem a um produto, mas
a um processo. Estou me referindo a esse lugar e tempo que Winnicott chama
de espaço transicional, de confiança, de criatividade. Transicional entre o
crer e o não crer, entre o dentro e o fora. (p.165).

Sobre o ensinante e o aprendente Alicia Fernández se expressa da seguinte


forma:

Sabemos que para aprender é necessário um ensinante e um aprendente que


entrem em relação. Isto é algo indiscutível quando se fala de métodos de ensino
e de processos de aprendizagem normal; não obstante, costuma-se esquecê-lo
quando se trata de fracasso de aprendizagem. Aqui pareceria, então, que só
entra em jogo o aprendente que fracassa. Como se não se pudesse falar de
ensinantes ou de vínculos que fracassam ou produzem sintomas. Por
ensinantes entendo tanto o docente ou a instituição educativa, como o pai, a
mãe, o amigo ou quem seja investido pelo aprendente e/ou pela cultura, para
ensinar. (A Inteligência Aprisionada, p.32)
Alicia Fernández preconiza a criação de espaços de confiança entre o ensinante e o
aprendente para que o conhecimento venha a se tornar um saber construído pelo
sujeito em questão. À produção feita pelo
sujeito aprendente a psicopedagoga chama de autoria, o que faz com que o sujeito
aprendente se torne autor. Para ela, a autoria de pensamento abre caminho para a
autonomia propriamente dita, que vai favorecer a autoria de pensar (O Saber em
jogo, p.91).

O pensamento não é autônomo; ao contrário, é por suas ligações com o desejo (e


daí com o outro) e por tal relação com os limites do real que é necessário e urgente
ao sujeito situar-se como o autor de seunpensar. Sendo assim, poderá ir deixando
de ser objeto do desejo do outro para ser sujeito do seu próprio desejo, ou, melhor
ainda, para reconhecer-se como sujeito desejante (O Saber em Jogo, p. 90).

Para Alicia Fernández (2001):

Fazer pensável nossa prática é um propósito comum de toda construção


teórica; todavia, além disso, coincide com o próprio objeto de intervenção
psicopedagógica, pois a psicopedagogia tem como propósito abrir espaços
objetivos e subjetivos de autoria de pensamento; fazer pensável as situações, o
que não é fácil, já que o pensamento não é somente produção cognitiva, mas
um entrelaçamento inteligência-desejo, dramatizado, representado,mostrado
e produzido em um corpo. (O Saber em Jogo, p.55).

Alicia Fernández afirma:

O lugar ‘entre’ é também entre a certeza e a dúvida. Se tivéssemos somente


certezas, ficaríamos imóveis no passado. Se tivéssemos somente dúvidas, não
poderíamos alimentar uma base de sustentação para continuar trabalhando na
construção teórica. Aí está a importância da pergunta (O Saber em Jogo, p.55).

[...] o futuro da psicopedagogia depende da postura que cada psicopedagogo


pode ir construindo, quer dizer, priorizando a saúde da aprendizagem tanto
nas escolas, nas famílias e nos meios de comunicação. Esta é a tarefa principal.
Encaminhar uma criança ou jovem a um tratamento é só uma última instância.
A psicopedagogia tem muito que contribuir se conseguir ser fiel à proposta
psicopedagógica da saúde. Em síntese, frente à nossa inteligência aprisionada,
a tarefa a de cada um de nós, como ensinantes e aprendentes, passa por: o
autorizar-se a pensar; o permitir-se perguntar, o perguntar, o deixar espaço à
imaginação e ao prazer de aprender; e, em consequência, ao prazer de ensinar.
(FERNANDEZ, 2008a)
O LÚDICO NA PSICOPEDAGOGIA
Na antiguidade, a atividade lúdica não era ligada exclusivamente à infância, mas as
pessoas em geral. Mesmo assim, alguns filósofos, como Platão e Aristóteles, já
pensavam o brinquedo na educação, associando a ideia de estudo ao prazer.
(WAJSKOP, 2007, apud Teixeira,2010).

Na idade média, o brinquedo era um instrumento de uso coletivo e indistinto, mas sua
principal função era estreitar os laços sociais e transmitir modos e costumes que
deviam ser aprendidos pelas crianças. Essas atividades aparecem como divertimentos
que levam os cidadãos a participarem da comunidade e estabelecerem relações
sociais, além de enfatizar o papel de cada um dentro do grupo. (TEXEIRA, 2010, P. 27).

Segundo Manson (2002), tanto gregos quanto latinos idealizaram os primeiros


pensamentos acerca do brinquedo e qual era a importância que o mesmo ocupava na
vida da criança. As brincadeiras são passadas historicamente de tempos e tempos.
Mesmo nas sociedades mais primitivas ou na sociedade atual, o brincar fornece ao
educando uma concepção simbólica do mundo em que vivem. Pois segundo Vygotsky
(2003), o homem é sócio-histórico, ou seja, se estabelece através das relações e
contradições do meio.

Para compreendermos o aspecto lúdico, é primordial analisar o mundo infantil, bem


como a brincadeira da criança. Vygotsky (2003) Justifica-se a necessidade da educação
formal contemplar o jogo, a brincadeira e a imaginação como fator de aprendizagem
na instituição escolar e com isso criar novas ferramentas para a ação psicopedagógica.

Antigamente e ainda hoje as crianças aprendiam por meio da imitação nas atividades
do dia a dia. A interação das crianças era importante, pois transmitiam as
experiências compartilhadas por gerações passadas, sendo que a aprendizagem de
fato acontecia a partir do contato com a prática.

Almeida (2003) revela que nessa cultura a educação, caracterizada pelos jogos com
representação, a aprendizagem era mais significativa, pois tinham exemplos. Sendo
assim, o ato de brincar oferecia a inserção dos papéis sociais, possibilitando o
aprendizado das regras.

O jogo é conhecido como um instrumento apenas para entreter a criança. Contudo,


segundo Vygotsky (2003), a partir da observação, pode-se perceber que o jogo está
presente nas diversas culturas, representando uma peculiaridade que é natural do ser
humano. Além disso, até os animais brincam, dessa forma, o jogo pode ter um sentido
biológico. O jogo com regras oferece ao educando a socialização, a expressão do
prazer, a forma natural de trabalho, além de ser uma preparação para a vida.
O jogo, nas suas variadas formas, auxilia no processo da aprendizagem, tanto no
desenvolvimento cognitivo, psicomotor como também no desenvolvimento da
motricidade fina e ampla, bem como no desenrolar da imaginação, da
interpretação, da criatividade, a obtenção e organização de pensamento, que por
sua vez, acontecem quando brincamos e jogamos, quando se obedecem às regras,
tudo é um fator determinante para aprendizagem tanto no âmbito educacional
como no social, etc.

De acordo Vygotsky (2003), o desenvolvimento da criança acontece através do


lúdico. Por isso a criança precisa brincar para se desenvolver, necessita do jogo
como forma de integração com o mundo, como forma de trocas de vivências com a
cultura onde vivem, para que a aprendizagem ocorra de forma integrativa e global

Aprendizagem é toda atividade cujo resultado é a formação de novos


conhecimentos, habilidades, hábitos naquele que a executa, ou a aquisição de
novas qualidades nos conhecimentos, habilidades, hábitos que já possuam. O
vínculo interno que existe entre a atividade e os novos conhecimentos e
habilidades residem no fato de que, durante o processo da atividade, as ações com
os objetos e fenômenos formam as representações e conceitos desses objetos e
fenômenos. (GALPERIN, 2001, p.85)..

Um professor que adora o que faz que se empolga com o que ensina, que se mostra
sedutor em relação aos saberes de sua disciplina, que apresenta seu tema sempre
em situações de desafios, estimulantes, intrigantes, sempre possui chances
maiores de obter reciprocidade do que quem a desenvolve com inevitável tédio da
vida, da profissão, das relações humanas, da turma […] (ANTUNES, p.55).

O jogo é o mais eficiente meio estimulador das inteligências, permitindo que o


indivíduo realize tudo que deseja. Quando joga, passa a viver quem quer ser,
organiza o que quer organizar, e decide sem limitações. Pode ser grande, livre, e na
aceitação das regras pode ter seus impulsos controlados. Brincando dentro de seu
espaço, envolve-se com a fantasia, estabelecendo um gancho entre o inconsciente
e o real (ANTUNES, 2003, p.60).

O psicopedagogo que se utiliza dos jogos como ferramentas para intervenção ou


avaliação, visa resgatar aspectos cognitivo, afetivo-emocional dos conteúdos
ministrados em sala de aula, motivando-os em buscar uma aprendizagem
prazerosa.

Na intervenção ou avaliação psicopedagógica, ao utilizar jogos, é preciso ficar


claro o porquê, para quem, quais recursos utilizar. Esse tipo de atividades lúdicas
podem ser consideradas como uma intervenção de caráter preventivo ou
curativo
Nesse caso é preciso identificar qual dificuldade e criar condições favoráveis
para superação. Portanto, para o psicopedagogo, a utilização dos jogos tornam-
se importantíssimos, tanto para realizar o levantamento da hipótese
diagnóstica acerca das limitações e possibilidades do aprendente, bem como da
dificuldade de aprendizagem de crianças com algum transtorno. Assim, as ações
lúdicas são ferramentas essenciais durante as intervenções psicopedagógicas,
terapêuticas ou não terapêutica.

De acordo com Weiss (2004) O espaço lúdico durante o diagnóstico traz


possibilidade de um melhor entendimento da real situação e nível de
desenvolvimento do aprendente. A intervenção psicopedagógica deve explorar
os jogos pedagógicos, pois brincar é universal e rompe as fronteiras entre o
diagnóstico e o tratamento, uma vez que o próprio diagnóstico passa a ter um
caráter terapêutico.

Algumas atividades lúdicas são instrumentos válidos para os psicopedagogos,


como os jogos e brincadeiras que propiciam aos aprendentes o aprender
brincando.

COORDENAÇÃO MOTORA AMPLA

De acordo com Almeida (2014), a coordenação motora ampla refere-se ao


desenvolvimento dos grandes músculos do corpo. As atividades que envolvem
estas práticas dizem respeito ao ritmo, ao desenvolvimento geral da criança,
como também as suas percepções, além do desenvolvimento psicomotor.

Brincar de imitar animais é uma das brincadeiras que é perfeita, são tantas as
possibilidades, rolar, pular, engatinhar, etc.

A coordenação motora fina diz respeito aos trabalhos mais delicados com as
mãos e dedos. A criança com essa função desenvolvida apresentará uma boa
tonicidade muscular, ela poderá apanhar objetos no chão, objetos delicados
sem amassá-los, poderá pintar, sem muita força.

Segundo Almeida (2014), a coordenação motora fina é quem vai garantir um


bom traçado de letra, a escrita da criança dependerá muito do desenvolvimento
desta coordenação motora.
PERCEPÇÃO CORPORAL
Almeida (2014) salienta que perceber o próprio corpo depende tanto de fatores
sociais e emocionais (imagem corporal) quanto da capacidade do indivíduo de
reconhecer as partes que compõem o seu corpo, sua dimensão (esquema
corporal), são fundamentais para desenvolver qualquer brincadeira lúdica,
pois o individuo reconhecendo seu próprio corpo desempenhará melhor o que
propõe a brincadeira ou jogo.

ATIVIDADES LÚDICA DE ESTIMULAÇÃO COGNITIVA


Atividades de estimulação cognitiva são atividades que desenvolvem o
raciocínio lógico, requer atenção, concentração, são excelentes exercícios
para as crianças desenvolverem as competências de estratégias que são
imprescindíveis. Muitas são as ações lúdicas que estimulam a cognição da
criança. Telefone sem fio é um bom exemplo desse tipo de atividade.

Duas crianças, na mesma idade, possuem a janela da mesma inteligência


com o mesmo nível de abertura, isso não significa, entretanto que sejam
iguais; a história genética de cada uma pode fazer com que o efeito de
estímulos sobre essa abertura seja maior ou menor, produza efeito mais
imediato ou mais lento. É um erro supor que o estímulo possa fazer a
janela abrir-se mais depressa. Antunes (2003, p.19)

Para Santos (2010), com a utilização do lúdico o psicopedagogo aplicará


metodologias como o brincar, representar teatralmente, produzir textos,
contar e recontar histórias, jogos com objetivos, que levará o aprendiz a
vencer desafios, construir com erros e acertos, onde o psicopedagogo irá
realizar intervenções com o mesmo, tendo o propósito de instigar para
novas soluções.
POSSIBILIDADES

AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
A função diagnóstica da avaliação serve como instrumento auxiliar da
aprendizagem e não como instrumento de aprovação ou reprovação. Luckesi
(1999) define avaliação da aprendizagem como um ato amoroso com sentido
que a avaliação por si só deve ser um ato acolhedor e inclusivo, que integra,
diferentemente do julgamento puro e simples, que não dá oportunidades,
distingue apenas, o certo do errado partindo de padrões predeterminados.
Assim, o verdadeiro papel da avaliação visa à inclusão, não à exclusão.

A avaliação psicopedagógica é um dos componentes críticos da intervenção


psicopedagógica, pois nela se fundamenta as decisões voltadas à prevenção e
solução das possíveis dificuldades dos estudantes, promovendo melhores
condições para o seu desenvolvimento. um processo compartilhado de
coleta e análise de informações relevantes acerca dos vários elementos que
intervêm no processo de ensino e aprendizagem, visando identificar as
necessidades educativas de determinados alunos ou alunas que apresentem
dificuldades em seu desenvolvimento pessoal ou desajustes com respeito ao
currículo escolar por causas diversas, e a fundamentar as decisões a respeito
da proposta curricular e do tipo de suportes necessários para avançar no 4
desenvolvimento das várias capacidades e para o desenvolvimento da
instituição (COLL; MARCHESI; PALACIOS, 2007, p. 279).
Quando penso sobre às dificuldades ou problemas de aprendizagem, alguns
aspectos devem ser levantados para a análise, como :

a constituição do sujeito (física, psicológica, necessidades especiais,


afecções cerebrais – lesões herdadas ou adquiridas por distúrbios
metabólicos, cromossômicos, etc);

o desejo do sujeito (motivação pessoal, familiar ou social);

a família do sujeito (estrutura e dinâmica familiar, nível de autonomia


na família, nível sociocultural, relação da família com a escola e papéis
assumidos na configuração familiar);

a escola (estrutura, organização material, de conteúdo e pessoal).

O psicopedagogo é como um detetive que busca pistas, procurando solucioná-


las, pois algumas podem ser falsas, outras irrelevantes, mas a sua meta
fundamental é investigar todo o processo de aprendizagem levando em
consideração a totalidade dos fatores nele envolvidos, para valendo-se desta
investigação entender a constituição da dificuldade de aprendizagem
(RUBINSTEIN, 1987, p. 51).

Diante de suas percepções, o psicopedagogo poderá conduzir a outros


profissionais como psicólogos, fonoaudiólogos, neurologistas, com o intuito de
investigar múltiplos fatores que influenciam o não aprender dessa criança.

É um processo que permite a investigação, levantar hipóteses provisórias que


serão ou não confirmadas ao longo do processo.

Essa busca terá o intuito de descobrir as razões que impedem o estudante de


aprender. A queixa pode ter sido feita pelo educador ou família ou escola ou até
mesmo pelo próprio estudante. Caberá, ao psicopedagogo observar
atentamente a queixa, analisá-la, interpretá-la e seguir com seu processo de
avaliação com a função diagnóstica buscando atender as necessidades de
melhora com a concretização de auxílio e acolhimento.

Para a realização da avaliação diagnóstica não existe um único modelo pronto,


já que o sujeito é composto de aspectos cognitivos, afetivos, sociais,
pedagógicos e corporais.
Rubstein (1996) destaca que o psicopedagogo pode usar como recursos a entrevista
com a família investigando o motivo da queixa, conhecer melhor a história de vida
da criança através dabrealização da Anamnese, entrevistar também o sujeito, a
escola e outros profissionais que atendam a criança, mantendo sempre os pais
cientes sobre o estado atual da criança e da intervenção que está sendo realizada
bem como da necessidade se houver, da intervenção de outros profissionais, onde
caberá ao psicopedagogo o encaminhamento.

A avaliação psicopedagógica envolve:


a) a identificação dos principais fatores responsáveis pelas dificuldades da criança
(trata-se de um distúrbio de aprendizagem ou de uma dificuldade provocada por
outros fatores?... emocionais, cognitivos, sociais...). Para verificação requerer que
sejam coletados dados referente à natureza da dificuldade apresentada pela
criança, bem como que se investigue a existência de quadros neuropsiquiátricos,
condições familiares, ambiente escolar e oportunidades de estimulação oferecidas
pelo meio a que a criança pertence;

b) o levantamento do repertório infantil relativo as habilidades acadêmicas e


cognitivas relevantes para a dificuldade de aprendizagem apresentada, o que
inclui: conhecimento, pelo profissional, do conteúdo acadêmico e da proposta
pedagógica, à
qual a criança está submetida; investigação de repertórios relevantes para a
aprendizagem, como a atenção, hábitos de estudos, solução de problemas,
desenvolvimento psicomotor, linguístico, etc.; avaliação de pré-requisitos e/ou
condições que facilitem a aprendizagem dos conteúdos; identificação de padrões
de raciocínio utilizados pela criança ao abordar situações e tarefas acadêmicas,
bem como déficits e preferências nas modalidades percentuais etc;

c) a identificação de características emocionais da criança, estímulos e esquemas


de reforçamento aos quais responde e sua interação com as exigências escolares
propriamente ditas.

Dentre os instrumentos de avaliação também podemos destacar:

escrita livre e dirigida, visando avaliar a grafia, ortografia e produção textual


(forma e conteúdo);
leitura (decodificação e compreensão);
provas de avaliação do nível de pensamento e outras funções cognitivas;
cálculos;
jogos simbólicos e jogos com regras;
desenho
análise do grafismo.
Palacios (2007), a avaliação psicopedagógica irá fornecer informações importantes em
relação as necessidades dos seus alunos, bem como de seu contexto escolar, familiar e
social, e ainda irá justificar se há ou não necessidade de introduzir mudanças na oferta
educacional. Depois de coletadas informações que considera
importante para a avaliação, o psicopedagogo irá intervir visando à solução de
problemas de aprendizagem em seus devidos espaços, uma vez que a avaliação visa
reorganizar a vida escolar e doméstica da criança.“De fato, se pensarmos em termos
bem objetivos, a avaliação nada mais é do que localizar necessidades e se comprometer
com sua superação” (VASCONCELOS, 2002, p. 83).

A saber do caminho desenvolvido por Weiss (1992) suas etapas de avaliação diagnóstica
compreendem:

1) Entrevista Familiar Exploratória Situacional (E.F.E.S);


2) Entrevista da Anamnese;
3) Sessões Lúdicas centradas na aprendizagem;
4) Provas e testes;
5) Síntese Diagnóstica – Prognóstico;
6) Entrevista de Devolução e Encaminhamento.

Estas etapas podem ser modificadas quanto a sua sequência, e maneira de aplicá-las,
como, por exemplo, entrevistas separadas para casais separados que não se
relacionam amigavelmente; duas Anamneses, uma no início e outra antes da
devolução, quando há necessidade de maior investigação junto à família; primeira
sessão com o sujeito, no caso de adolescentes; sessões lúdicas com membros da
família convocados, quando há necessidade de analisar a relação entre estes sujeitos e
suas implicâncias no processo de aprendizagem.

De acordo com Weiss (1992), todo o diagnóstico psicopedagógico em si é uma


investigação do que não vai bem com o sujeito em relação a um rendimento esperado
torna-se importante o esclarecimento da queixa pelos pais, pelo próprio sujeito
avaliado e também pela escola.

Entrevista Familiar Exploratória Situacional


(E.F.E.S)
É uma entrevista realizada com a criança e a família. Pode ser realizada primeiramente
objetivando abordar assuntos relacionados as expectativas, as queixas nas dimensões
familiares, as relações e expectativas familiares com relação à aprendizagem e
terapeuta; a aceitação e engajamento da família no diagnóstico; esclarecer o que é um
diagnóstico psicopedagógico; criação de um clima de segurança. Um ambiente atrativo
(lúdico) facilitará o retorno da criança ao terapeuta contribuindo para que ela fique a
sós com o mesmo.
É também durante a E.F.E.S, que o psicopedagogo fará o registro
juntamente aos pais ou responsáveis sobre os horários, quantidades
de sessões e a importância da frequência.

“A versão que os pais transmitem sobre a problemática e


principalmente a forma de descrever o sintoma, dão-nos importantes
chaves para nos aproximarmos do significado que a dificuldade de
aprender tem na família” (FERNÁNDEZ, 1991, p. 144).

ENTREVISTA DE ANAMNESE
Anamnese permite a obtenção e análise de dados desde a concepção
até a vida escolar atual do aluno, considerando que se trata de uma
investigação profunda e detalhada. Leva em consideração como foi
o processo gestacional, se a gravidez foi desejada ou não por ambos
os pais assim como por toda a família, qual opção de parto, doenças
e seus cuidados, posteriormente analisar sobre as primeiras
aprendizagens como:

• usar mamadeira
• copo
• colher
• quando aprendeu a sentar
• engatinhar
• a andar
• controlar seus esfíncteres
• fraldas
• comia sozinha
• primeira vez na escola
• sono
• onde dorme
• com quem dorme
• como fica quando recebe frustrações...
SESSÕES LÚDICAS CENTRADAS NA APRENDIZAGEM

[...] o brinquedo exerce enorme influência na promoção do desenvolvimento infantil,


apesar de não ser o aspecto predominante na infância. [...] o termo brinquedo refere-se
essencialmente ao ato de brincar, à atividade. (VYGOTSKY, 2007, p.2)

Segundo Alves, (1987, p.1), “o lúdico privilegia a criatividade e a imaginação, por sua
própria ligação com os fundamentos do prazer. Não comporta regras preestabelecidas,
nem velhos caminhos já trilhados, abre novos caminhos, vislumbrando outros
possíveis”.

PROVAS E TESTES
O uso de provas e testes (Provas operatórias, testes psicométricos e técnicas
projetivas), podem ser utilizado no diagnóstico psicopedagógico como um
recurso a mais na especificação do nível pedagógico, estrutura cognitiva e ou
emocional do sujeito.

Exemplos como as provas de inteligência (WISC é o mais conhecido, porém de


aplicação exclusiva por psicólogos), avaliação percepto motora (Teste de Bender,
cujo objetivo é avaliar o grau de maturidade viso motora do sujeito também só
podendo ser aplicado por psicólogos); testes projetivos (CAT, TAT, desenho da
família, desenho da figura humana, também de uso apenas para psicólogos).

SÍNTESE DIAGNÓSTICA – PROGNÓSTICO

O objetivo da síntese diagnóstica conforme Weiss (1992) é de identificar os


desvios e os obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem que o impedem o
sujeito de crescer dentro do esperado pelo meio social.

É o ponto do processo da qual o psicopedagogo irá entrelaçar as hipóteses


levantadas durante o processo e analisar quais as confirmações e negações
demonstradas ao longo da trajetória, recorrendo para isso há conhecimentos
práticos e teóricos, construindo uma hipótese para um prognóstico e indicações
de como reverter ou melhorar o quadro inicial.
ENTREVISTA DE DEVOLUÇÃO E ENCAMINHAMENTO

Weiss (1992) orienta organizar os dados sobre o paciente em três áreas:


pedagógica, cognitiva e afetivo-social, com um roteiro, para que o
psicopedagogo não se perca e não deixe os pais confusos. A atitude do
psicopedagogo deve ser compreensiva e acolhedora com os pais,
promovendo a articulação e a integração coerente dos dados e de seus
significados.

Na Instituição Escolar
Cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo
de aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa,
favorecendo integração, promovendo orientações metodológicas de
acordo com as características e particularidades, dos indivíduos do
grupo, realizando processos de orientação (BOSSA, 2000, p.23).

Segundo Coll e Martín (2006), avaliar as aprendizagens de um aluno


equivale a especificar até que ponto ele desenvolveu determinadas
capacidades contempladas nos objetivos gerais da etapa. Para que o
aluno possa atribuir sentido às novas aprendizagens propostas, é
necessária a identificação de seus conhecimentos prévios, finalidade a
que se orienta a avaliação das competências curriculares.
E-book oferecido pelo
Centro Educacional Sete de Setembro
em parceria com a professora Claudia Zagatto
Fernandez

cessetembro

Você também pode gostar