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PRINCÍPIOS
TEÓRICOS DA
PSICOPEDAGOGIA
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APRESENTAÇÃO
SEJA BEM-VINDO(A)!
Seja bem-vindo(a), aluno(a)!
Com este material de apoio, estamos iniciando nossos estudos sobre os princípios teó-
ricos da Psicopedagogia, que tem, como objetivo, oferecer os subsídios fundamentais
para que você possa conhecer o universo da psicopedagogia. Quando você escolheu
esse curso de bacharelado, acredito que tenha buscado conhecer um pouco sobre o
trabalho desenvolvido pelo psicopedagogo, não é mesmo? Diante disso, nossa discipli-
na vem esclarecer e desmistificar a psicopedagogia, fundamentando-a teoricamente e
apresentando a prática.
Para isso, iniciamos os nossos estudos fazendo um resgate histórico, a fim de que com-
preenda como a psicopedagogia foi se estruturando ao longo dos anos, as influências
que recebeu no processo de construção de sua área de atuação em diversos países e os
princípios éticos que permeiam as suas atividades. Assim, a Unidade I busca lhe apre-
sentar a psicopedagogia, esclarecendo não só a sua atuação, mas também as teorias
que, hoje, são referências no trabalho psicopedagógico no Brasil.
Na Unidade II, selecionamos alguns temas que fundamentam todas as atividades do
psicopedagogo, visto que a aprendizagem é o foco do seu trabalho e o conhecimento
sobre a interdisciplinaridade, ou seja, as interfaces com outras áreas de conhecimento,
são fundamentais em sua ação. A discussão se encerra com uma reflexão sobre o fracas-
so escolar, partindo de algumas concepções e vertentes.
Partimos, então, para a compreensão dos fatores que interferem no processo de apren-
dizagem do sujeito, tema de grande relevância para a psicopedagogia, visto que muito
da sua atuação está voltada para amenizar e superar essas dificuldades. Na Unidade
III, vamos diferenciar as dificuldades de aprendizagem dos transtornos específicos de
aprendizagem, caracterizando cada um deles. Também, serão enfatizadas outras disfun-
ções que levam a criação de alterações no processo de aprendizagem.
Na Unidade IV, passamos para a parte mais prática do trabalho psicopedagógico tanto
no contexto clínico quanto institucional: a avaliação. Essa atividade psicopedagógica é
de suma importância, visto que é a partir dela que vai ser organizado todo o trabalho
de intervenção, bem como os encaminhamentos. Nesse processo, destacamos a obser-
vação como um ato essencial, já que estar atento a todas as informações, tanto verbais
quanto não verbais, possibilita uma melhor compreensão acerca dos resultados.
Terminamos nosso livro discorrendo sobre a importância da mediação no trabalho psi-
copedagógico, pois, dela, dependerá todo o processo de intervenção. Na Unidade V,
atribuímos destaque para algumas estratégias de intervenção no trabalho psicopeda-
gógico, evidenciando a relevância da ludicidade tanto no trabalho da psicomotricidade
e da expressão dramática quanto na caixa de trabalho psicopedagógico. Finalizamos
com a discussão sobre o trabalho de intervenção clínica e institucional.
APRESENTAÇÃO
Diante desse conhecimento, você poderá ter uma visão fundamentada acerca de
todos os aspectos principais que norteiam a psicopedagogia, sendo a base para que
você busque cada vez mais o aprofundamento teórico-prático para a sua atuação
profissional. Convido-lhe a descobrir o mundo da psicopedagogia e espero que essa
disciplina possa despertar ainda mais o seu interesse por esse trabalho tão impor-
tante e fascinante acerca da aprendizagem humana.
Aproveite e tenha um ótimo estudo!
09
SUMÁRIO
UNIDADE I
15 Introdução
23 Conhecendo a Psicopedagogia
38 Considerações Finais
45 Referências
47 Gabarito
UNIDADE II
51 Introdução
52 Psicopedagogia e a Aprendizagem
74 Considerações Finais
84 Referências
85 Gabarito
10
SUMÁRIO
UNIDADE III
89 Introdução
90 Dificuldades de Aprendizagem
116 Referências
119 Gabarito
UNIDADE IV
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
123 Introdução
148 Referências
149 Gabarito
11
SUMÁRIO
UNIDADE V
INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
153 Introdução
182 Referências
185 Gabarito
186 Conclusão
Professora Me. Raquel de Araújo Bomfim Garcia
FUNDAMENTOS TEÓRICOS
I
UNIDADE
DA PSICOPEDAGOGIA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender a organização da psicopedagogia ao longo da história.
■■ Assimilar o conceito de psicopedagogia e seu campo de atuação,
esclarecendo os princípios éticos que a organizam.
■■ Apresentar referências teóricas que norteiam o trabalho
psicopedagógico no Brasil.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Processo histórico da Psicopedagogia
■■ Conhecendo a Psicopedagogia
■■ Correntes teóricas que influenciam a Psicopedagogia
15
INTRODUÇÃO
ciar seu caráter prático alinhado à teoria, demonstrando seu enfoque preventivo
e terapêutico. Isso é importante para que você conheça a amplitude de sua atu-
ação, mediante a exposição da prática psicopedagógica em uma perspectiva
clínica e institucional.
Todo o trabalho desenvolvido pelo psicopedagogo, seja na clínica, escola, empresa
ou em outros locais, deve sempre estar pautado em atitudes que correspondam
ao que está estabelecido no Código de Ética. A compreensão sobre a ética pro-
fissional é fundamental para que você possa exercer as suas atividades dentro
dos parâmetros estabelecidos.
Partindo desse conhecimento prévio, vamos conhecer as teorias que têm ofe-
recido subsídios para a efetivação de uma prática eficaz. As teorias evidenciadas
são o construtivismo, a psicanálise, o associacionismo e a epistemologia conver-
gente. A partir do contato com essas teorias, você poderá verificar a contribuição
delas para a compreensão do sujeito em uma perspectiva psicopedagógica.
Iniciemos juntos essa jornada rumo ao conhecimento das primícias da
psicopedagogia, para que você possa compreender as bases em que ela se fun-
damenta. Bons estudos!
Introdução
16 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
PROCESSO HISTÓRICO DA PSICOPEDAGOGIA
Quando conhecemos uma pessoa e temos interesse por ela, surge a necessidade
de saber qual é a sua história, não é mesmo? Com o conhecimento científico
não é diferente, portanto, conhecer os fatos que levaram ao surgimento da psi-
copedagogia nos aproxima do entendimento acerca da sua importância para a
sociedade. Assim, convido-lhe a fazer uma viagem pela história da psicopeda-
gogia, iniciando na Europa, passando pela Argentina, até chegar ao Brasil.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
PROFISSÃO
era considerada uma nova prática, cujo pré-requisito era o título de docente
(BOSSA, 2007).
Já o segundo período compreende de 1963 a 1969, momento em que a for-
mação do psicopedagogo teve influência da psicologia experimental, estando
direcionada para medição das funções afetivas e cognitivas. Além disso, nesse
período, ocorreram mudanças no Curso da Escola Normal (extinta em 1969), já
que foram inseridas disciplinas básicas para habilitar os que buscavam o título
de psicopedagogo e foi acrescido um ano na formação total. No entanto, é no
terceiro período, a partir de 1978, que o curso de graduação em Psicopedagogia
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Você deve estar se perguntando: mas, no Brasil, será que aconteceu de maneira
diferente dos outros países? A verdade é que não foi diferente. A visão de que a
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
dificuldade de aprendizagem estava relacionada com problemas orgânicos foi
mantida por diversos anos, sendo decisiva no tratamento do fracasso escolar.
Isso ocorreu principalmente na década de 1970, período em que a causa dos
problemas de aprendizagem passou a ser relacionada com problemas neuroló-
gicos, cuja denominação atribuída foi a de Disfunção Cerebral Mínima (DCM),
tirando o foco dos problemas sociopedagógicos. Essa perspectiva patologizante
teve a sua origem na Europa, no século XIX (BOSSA, 2007).
Diante dessa realidade, iniciou-se a implantação dos cursos de especialistas
em psicopedagogia no Brasil, com foco na clínica médico-pedagógica, cuja dura-
ção era de dois anos. O primeiro curso de psicopedagogia do Instituto Sapientiae
(São Paulo) aconteceu no ano de 1979, sendo uma iniciativa da psicopedagoga
e psicodramatista Maria Alice Vassimon (FAGALI, 2007).
Ainda é muito comum a prática das escolas em pedirem uma avaliação mé-
dica para as famílias, a fim de verificar os motivos da não aprendizagem.
Muitas vezes, o aluno já chega ao atendimento psicopedagógico com histó-
rico de avaliações médicas.
(Genoveva Ribas Claro)
Por sua vez, o ano de 1984 foi bastante relevante para a psicopedagogia no
Brasil, pois foi criada a Associação Paulista de Psicopedagogia e aconteceu o I
Encontro de Psicopedagogos. Foi nesse encontro que foi definida a criação da
Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), que aconteceu no ano seguinte
(CLARO, 2018).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
teve grande influência do argentino Jorge Visca, que ministrou aulas em dife-
rentes cidades, principalmente na região Sul do país. Ele também criou centros
psicopedagógicos nas cidades de Campinas, Salvador, Curitiba e São Paulo. Em
Curitiba, implantou uma clínica comunitária, com o intuito de tratar proble-
mas de aprendizagem.
No final da década de 1990, outras psicopedagogas argentinas também
influenciaram a psicopedagogia no Brasil. Foram elas: Sara Paín e Alicia
Fernández. Em um momento de muitas revisões e organização da psicope-
dagogia brasileira, Alícia Fernandez “reforçou a importância da Psicanálise
para o sujeito que aprende na clínica psicopedagógica e introduziu a aborda-
gem da dinâmica familiar no entendimento dos problemas de aprendizagem”
(COSTA; PINTO; ANDRADE, 2013, p. 19). Ela também propôs atendimen-
tos em grupo para os psicopedagogos, a fim de que eles revissem o próprio
processo de aprendizagem.
Finalizando essa breve retrospectiva histórica, ressalto a importância da
Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), a qual, hoje, é a instituição que
apresenta as normativas para o trabalho do psicopedagogo. Em 2002, o psico-
pedagogo foi incluído na Classificação Brasileira de Ocupações, reconhecendo
seu trabalho por meio da Portaria Ministerial 391/2002.
CONHECENDO A PSICOPEDAGOGIA
PSICOPEDAGOGIA HOJE
Conhecendo a Psicopedagogia
24 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Será que foram apenas a psicologia e a pedagogia que não conseguiram
analisar as dificuldades de aprendizagem e o fracasso escolar? Ou será que
nenhuma área do conhecimento conseguiu realizar essa tarefa, abrindo es-
paço para que a psicopedagogia buscasse meios para resolver esta situação?
(Tânia Mara Grassi)
Na visão de Rubinstein (1992 apud SILVA, 2012), essa remediação das dificul-
dades de aprendizagem foi um dos objetivos iniciais da psicopedagogia, a qual
buscava metodologias de intervenção que ajudassem na superação dessas dificul-
dades. No entanto, a autora explica que, com o tempo, o objeto da psicopedagogia
passa a ser mais amplo, envolvendo o entendimento do processo de aprendiza-
gem e a relação do aprendiz com ela. Assim, passou-se a investigar a etiologia
das dificuldades e a compreender o processo de aprendizagem de maneira mais
ampla, considerando os diferentes aspectos que a influenciam.
Conhecendo a Psicopedagogia
26 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Apesar da psicopedagogia ter iniciado seus trabalhos no Brasil com um
enfoque terapêutico, buscando tratar clinicamente as dificuldades de aprendi-
zagem, hoje, foram agregados outros objetivos, nos quais a prevenção dessas
dificuldades e a integração dessas crianças são fundamentais (BOSSA, 2000
apud CLARO, 2018).
Quanto ao campo de investigação do processo de aprendizagem, a psico-
pedagogia está em um processo de construção teórico-prático que conta com
o embasamento de diferentes áreas de conhecimento, com teorias fundamen-
tadas na pedagogia, psicologia, neurociência, neurologia e entre outras. Todas
essas correntes auxiliam no processo de desenvolvimento e aprendizagem do
aluno (CLARO, 2018).
No campo do saber científico, a psicopedagogia, apesar de trabalhar em
uma perspectiva interdisciplinar, estudando as dificuldades de aprendizagem na
visão de diversas áreas de conhecimento, tem procurado, a cada ano, sistema-
tizar um modelo teórico-prático próprio, evidenciando seu objeto de estudo e
delineando seu campo de atuação. Sendo assim, muitos estudos têm sido publi-
cados, a fim de fundamentar a prática psicopedagógica (CLARO, 2018). Ainda
segundo o autor, na atualidade, o objeto de conhecimento da psicopedagogia
tem sido o ser cognoscente, o qual, claramente, é muito complexo e necessita
ser entendido em sua totalidade.
Diante desses fatos, a psicopedagogia aprimorou, por meio de sua prática clínica
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Conhecendo a Psicopedagogia
28 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
é o aspecto orgânico e o da pedagogia são os conteúdos escolares.
O caráter clínico da psicopedagogia caracteriza-se pelo fato de que a sua
prática está sempre relacionada a um processo de diagnóstico ou de investi-
gação, o qual a orienta na elaboração do plano de intervenção (SILVA, 2012).
No entanto, Claro (2018) explica que a prática do psicopedagogo também
deve considerar a prevenção, devido às especificidades do processo por ela
investigado.
A psicopedagogia, no Brasil de hoje, segundo Bossa (2007), além do tra-
tamento e a prevenção das dificuldades de aprendizagem, busca desenvolver
programas que facilitem a integração do sujeito.
Conhecendo a Psicopedagogia
30 UNIDADE I
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
forma, “a ética normativa procura mostrar quais são as ações certas e quais
são eticamente aceitáveis” (WEBER, 2013, p. 66). Sendo assim, busca-se levar
o indivíduo a refletir, com base em princípios que orientam a ação e a tomada
de decisões.
A ética profissional, de acordo com Michaelis (2018 apud CLARO, 2018,
p.161), estende-se a todos os setores profissionais, tendo por “objetivo interrogar
mais amplamente o papel social da profissão, sua responsabilidade, sua função,
e sua atitude frente aos riscos e ao meio ambiente”.
Segundo Ferreira (2005), os princípios éticos que orientam as atividades do
psicopedagogo foram instituídos pela Associação Brasileira de Psicopedagogia
(ABPp) no ano de 1996. Esse Código de Ética contempla essencialmente os prin-
cípios da psicopedagogia, as responsabilidades do psicopedagogo, as relações
com outras profissões, o sigilo, as publicações científicas, a publicidade profis-
sional, os honorários, as relações com a saúde e a educação, a observância e o
cumprimento do código de ética.
Portanto, concluímos que a psicopedagogia vem estruturando seus saberes
e construindo a sua prática em diferentes ambientes, tendo estabelecido princí-
pios éticos que regem a sua atuação.
O CONSTRUTIVISMO DE PIAGET
Essa corrente teórica teve, como seu precursor, Jean Piaget, que realizou estu-
dos voltados para a psicologia evolutiva por meio da observação sistematizada
do processo no qual a criança adquire o conhecimento. Em sua teoria, são des-
tacados dois conceitos: aprendizagem e desenvolvimento. Assim, o estudioso
compreende que a aprendizagem vai acontecer por meio da experiência, de modo
sistemático ou não (CLARO, 2018). Já o desenvolvimento visa passar de uma
condição de menor equilíbrio para outra de maior equilíbrio, sendo o respon-
sável pelo conhecimento do indivíduo (QUADRO, 2009 apud CLARO, 2018).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
acomodação é quando há uma modificação nas estruturas mentais para aco-
modar as informações que foram assimiladas pelo indivíduo (CLARO, 2018).
A cognição, na visão piagetiana, é uma construção que acontece na intera-
ção entre o organismo e o meio em que o indivíduo está inserido. Ela ocorre de
modo ativo e envolve o funcionamento de estruturas cognitivas em diferentes
competências (memória, atenção e entre outros) (CLARO, 2018).
A PSICANÁLISE DE FREUD
A psicanálise é uma teoria que foi construída com base nas ideias de Sigmund
Freud. Esse termo é atribuído tanto para a teoria de tratamento criada pelo
estudioso quanto para a teoria de personalidade. Assim, Freud revolucionou a
psicologia de sua época quando passou a ressaltar a importância do inconsciente
(MORRIS; MAISTO, 2004).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
lia e com a sociedade. Tem a obrigação de observar e direcionar o Ego, e sua ação
pode ser consciente, pré-consciente ou inconsciente (MORRIS; MAISTO, 2004).
De acordo com Morris e Maisto (2004), a teoria de personalidade desen-
volvida por Freud compreende cinco períodos: fase oral (do nascimento até os
18 meses); fase anal (aproximadamente dos 18 meses aos três anos e meio); fase
fálica (após os três anos); período de latência (por volta dos cinco a seis anos
até doze anos); e fase genital (começa com a puberdade e segue na vida adulta).
Portanto, a psicanálise, segundo Costa (2001 apud CLARO, 2018), contri-
buiu significativamente na psicopedagogia ao apresentar uma visão diferenciada
sobre o sujeito que aprende, esclarecendo que aspectos desconhecidos podem
estar implícitos no ato de não aprender ou no modelo de aprendizagem do sujeito.
ASSOCIACIONISMO DE THORNDIKE
Destacamos essa teoria pelo fato de que ela é de grande relevância no trabalho
psicopedagógico. A epistemologia convergente foi desenvolvida pelo argentino
Jorge Pedro Luiz Visca, o qual buscou integrar três linhas da psicologia: a psico-
genética de Piaget, a psicologia social de Pichon Rivière e a psicanálise de Freud
(NOGUEIRA; LEAL, 2013).
Tendo, como aparato teórico, essas teorias, Visca desenvolveu a epistemo-
logia convergente, construindo uma metodologia de trabalho específica que dá
subsídios para a avaliação psicopedagógica. Dentre os instrumentos, ressaltam-
-se as técnicas projetivas psicopedagógicas, a Entrevista Operativa Centrada na
Aprendizagem (EOCA), anamnese, a caixa de trabalho, as provas operatórias
piagetianas, além dos recursos terapêuticos e de diagnóstico, tanto individual
quanto em grupo (NOGUEIRA; LEAL, 2013).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Segundo Nogueira e Leal (2013, p. 69), o interesse da epistemologia conver-
gente está relacionado com as etapas de aprendizagem, construindo um modelo
evolutivo que “integra e articula as relações entre os aspectos cognitivos, afetivos
e sócio-histórico-culturais no desenvolvimento do indivíduo”. Por essa caracte-
rística de inter-relação entre o indivíduo e o meio sócio cultural, essa teoria pode
ser classificada como sociointeracionista.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
preocupar-se não só com o tratamento, mas também com a prevenção, conso-
lidando, assim, suas atividades práticas, seu campo de investigação e seu saber
científico. Baseado nesses aspectos, ela também delimita seu campo de atua-
ção, o qual deixa de ser restrito ao consultório e ganha espaço nas instituições.
Dentro do contexto de cada uma dessas atividades, não podemos nos esque-
cer de seguir os preceitos que regem a atividade do psicopedagogo. Para tanto,
evidencia-se a importância do Código de Ética, o qual é o instrumento que nor-
matiza a atividade profissional.
Cada uma das correntes teóricas destacadas apresentam uma contribuição
importante para subsidiar o trabalho psicopedagógico. O construtivismo de Piaget
traz o conhecimento do desenvolvimento cognitivo, com ênfase na interação do
indivíduo com o meio. Já a psicanálise de Freud explica o desenvolvimento da
personalidade ao enfatizar que fatos desconhecidos podem influenciar na apren-
dizagem do sujeito. O associacionismo de Thorndike revela a primeira teoria da
aprendizagem, destacando a Lei do Efeito e a associação de ideias. Por sua vez, a
epistemologia convergente de Visca concentra as teorias da psicanálise, a psicoge-
nética e a psicologia social, buscando uma compreensão mais integrada do sujeito.
Sendo assim, entendemos a extensão e a importância do trabalho psicope-
dagógico, o qual, hoje, está pautado não só na prática, mas fundamentado em
teorias que esclarecem o processo de aprendizagem e oferecem subsídios para
as intervenções de tratamento ou de prevenção.
A sequência correta é:
a) V, V, F, F.
b) F, V, V, F,
c) V, F, V, V.
d) F, F, V, V.
e) V, V, V, F.
3. Bossa (2007), ao esclarecer sobre o trabalho da psicopedagogia, explica que
ele está delimitado enquanto uma atividade prática, um campo de investiga-
ção do processo de aprendizagem e um saber científico. Assim, disserte sobre
essas atividades do psicopedagogo.
4. A prática da psicopedagogia, no decorrer dos anos, tem se aperfeiçoado, em
decorrência das mudanças ocorridas na maneira de compreender a não apren-
dizagem. Partindo dessa premissa, no que se refere à atuação do psicopedago-
go no enfoque institucional, é correto afirmar que:
a) Tem, como enfoque principal, o diagnóstico e o tratamento das dificuldades
e transtornos de aprendizagem.
b) Visa ao entendimento do significado da aprendizagem para o sujeito, as
causas do não aprender e o modo como ele aprende.
c) Caracteriza-se pelo fato de que a sua prática sempre está relacionada a um
processo de diagnóstico ou de investigação, o qual é orientador na elabora-
ção do plano de intervenção.
d) Permite ao psicopedagogo ampliar a sua atuação, principalmente preventi-
va, pois sua ação sai do plano individual para o grupal e as relações passam a
ser consideradas. Tudo isso propicia a elaboração de uma visão mais abran-
gente, conhecendo a realidade em sua totalidade.
e) Busca conhecer os sintomas da não aprendizagem, tratando suas causas e
possibilitando uma nova maneira de elaborar o processo cognitivo, o qual
se torna saudável e benéfico, e o sujeito é o centro.
41
Diante disso, Lima (1990, p. 19) apresenta procura embasar a ação docente; da episte-
a importância de um “diálogo confronto mologia e da psicologia genética que analisa
especialmente entre a psicologia e a peda- e descreve o processo de construção do
gogia de forma que se faça algo mais conhecimento pelo sujeito em interação
efetivo em função do sujeito cognoscente”. com outros e com os objetos; da psicolo-
Desta forma, não se trata de substituir a psi- gia social que se preocupa com as relações
cologia pela psicopedagogia, pedagogia, familiares, grupais, institucionais, com as
antropologia, filosofia, linguística, biologia, interferências socioculturais e econômicas
fonoaudiologia, medicina, ou por qualquer que permeiam a aprendizagem; da neurop-
outra área de conhecimento. Entendemos sicologia que possibilita a compreensão dos
assim que a busca por melhorias educa- mecanismos cerebrais que servem de base
cionais passa pela articulação das diversas para o aprimoramento das atividades men-
áreas em busca de significados para a atu- tais; da psicanálise que aborda o mundo do
ação profissional. Neste sentido, estamos inconsciente, das representações, que se
incluindo também a atuação psicopeda- expressa por meio de sintomas e símbo-
gógica que, no nosso entender, em muito los; da linguística que traz a compreensão
pode contribuir com o sucesso da dinâ- da linguagem, da língua enquanto código
mica educador-conhecimento-educando. disponível aos membros de uma sociedade.
Dentre os estudiosos que abordam as con- Com isso, tomando como referencial a ideia
tribuições das várias áreas de conhecimento de complementaridade das funções em
à área da psicopedagogia, destacamos as busca de articulá-las às diversas áreas do
de Bossa (2007) e de Stroili (2001). Assim, conhecimento humano para a compreen-
segundo os estudos desenvolvidos, sobre são do fenômeno educacional, temos que
este tema, temos alguns subsídios que se a psicopedagogia, segundo Fagali (1998),
destacam. Dentre eles, os: da pedagogia se caracteriza como uma área de atuação
que, ao estudar as diversas abordagens interdisciplinar desenvolvida por meio das
do processo de ensino e aprendizagem, modalidades, clínica e institucional.
Fonte: Peres e Oliveira (2007, p. 117-118).
MATERIAL COMPLEMENTAR
Referência On-Line:
¹Em: http://www.abpp.com.br/psicopedagogo_simbolo_psicopedagogia.html.
Acesso em: 22 jul. 2019.
47
GABARITO
1. A alternativa correta é a D.
2. A alternativa correta é a B.
3. A atividade prática busca, por meio de técnicas de intervenção, conhecer as cau-
sas das dificuldades de aprendizagem, procurando estratégias para a sua reso-
lução. Já o campo de investigação está em um processo de construção teórico-
-prático que conta com o embasamento de diferentes áreas de conhecimento,
com teorias fundamentadas na pedagogia, psicologia, neurociência, neurologia
e entre outras, as quais auxiliam no processo de desenvolvimento e da aprendi-
zagem do aluno. No campo do saber científico, mesmo estudando as dificulda-
des de aprendizagem na visão de diversas áreas de conhecimento, a cada ano,
tem procurado sistematizar um modelo teórico-prático próprio, evidenciando
seu objeto de estudo e delineando seu campo de atuação.
4. A alternativa correta é a D.
5. Na assimilação, o indivíduo recebe as informações advindas do meio em que
está inserido, seleciona os conteúdos essenciais, processa a informação e a
transforma em conhecimento, o qual é controlado por estruturas mentais. Já o
processo de acomodação é quando há uma modificação nas estruturas mentais
para acomodar as informações que foram assimiladas pelo indivíduo (CLARO,
2018).
6. A alternativa correta é a C.
Professora Me. Raquel de Araújo Bomfim Garcia
TEMAS FUNDAMENTAIS
II
UNIDADE
PARA A PSICOPEDAGOGIA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Discorrer sobre a aprendizagem na perspectiva de diferentes
abordagens teóricas.
■■ Apresentar as interfaces da psicopedagogia por meio de
conhecimentos de outras áreas.
■■ Analisar o contexto do processo ensino-aprendizagem, elencando
as possíveis causas do fracasso escolar, a fim de propiciar meios de
prevenção.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Psicopedagogia e aprendizagem
■■ Psicopedagogia: desenvolvendo a interdisciplinaridade
■■ A visão da psicopedagogia sobre o fracasso escolar
51
INTRODUÇÃO
Caro aluno(a), estamos iniciando a nossa segunda unidade e lhe convido a apro-
fundar os seus conhecimentos a respeito de alguns temas que são de grande
relevância para o trabalho psicopedagógico. Para tanto, vamos conhecer as princi-
pais teorias que discutem a aprendizagem, a importância da interdisciplinaridade
para a psicopedagogia e a sua visão sobre o fracasso escolar.
Considerando que a aprendizagem é o principal objetivo de estudo da psi-
copedagogia, iniciamos o nosso estudo conhecendo as principais teorias de
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
52 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
PSICOPEDAGOGIA E A APRENDIZAGEM
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
para que haja uma compreensão dos motivos de sua ocorrência. A aprendiza-
gem de cada um desses comportamentos ocorrerá por meio da interação do
sujeito com o meio, sendo divididos em dois tipos de comportamento: o res-
pondente e o operante.
O comportamento respondente ou reflexo é um comportamento reflexo, ou
seja, acontece como resposta imediata a um estímulo. Por exemplo, diante de uma
luz muito forte, os olhos se fecham. Já o comportamento operante é determinado
pela sua consequência, isto é, diante de um estímulo, o sujeito apresenta um com-
portamento que, por sua vez, gera consequências que podem levar a ocorrência,
ou não, do comportamento novamente (estímulo S → resposta R→ consequên-
cia C). O resultado ou a consequência do comportamento pode ser reforçadora
(positiva ou negativa) ou punitiva (BARONE; MARTINS; CASTANHO, 2011).
O trabalho da psicopedagogia, nessa perspectiva, consiste na análise dos
fatores que estão gerando as dificuldades de aprendizagem, os quais podem estar
associados ao repertório educacional do sujeito, isto é, falhas ou até mesmo ausên-
cia de habilidades necessárias para a aprendizagem de determinados conteúdos
(por exemplo, método não adequado para a necessidade do aluno). Assim, é
importante verificar as condições nas quais o problema escolar acontece, bem
como as suas consequências (HUBNER; MARINOTTI, 2000 apud BARONE;
MARTINS; CASTANHO, 2011). Em vista disso, Barone, Martins e Castanho
(2011) complementam que o psicopedagogo deverá mudar as situações antece-
dentes, programando consequências que sejam reforçadoras.
Psicopedagogia e a Aprendizagem
54 UNIDADE II
PSICANÁLISE
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Para Freud (1974 apud NOGUEIRA; LEAL, 2018), pai da psicanálise, nenhum
comportamento acontece por acaso: eles sempre estão relacionados a diferentes
causas, as quais, na maioria das vezes, não temos consciência. Segundo o autor,
essas causas estão associadas aos impulsos latentes de origem sexual.
Segundo Nogueira e Leal (2018), Freud compreendeu a psique humana e
desenvolveu a teoria do consciente, pré-consciente e inconsciente, bem como
a do aparelho psíquico dividido em Ego, Id e Superego. Além disso, definiu os
estágios do desenvolvimento psicossexual (oral, anal, fálico, latência e genital)
e o complexo de Édipo.
CONSTRUTIVISMO
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Psicopedagogia e a Aprendizagem
56 UNIDADE II
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esquema sensório motor. Já adaptação é um aspecto da atividade cognitiva
que envolve a modificação das estruturas mentais ou dos esquemas sensó-
rio-motores para corresponder aos objetos da realidade.
Fonte: Nogueira e Leal (2018, p. 126-127).
Diante disso, essa teoria depreende que o aluno é um sujeito ativo no seu pro-
cesso de aprendizagem, destacando seu modo de raciocinar e suas ações. Além
disso, compreende a sua maneira de interpretar e buscar soluções para os pro-
blemas ao entender que a construção do conhecimento se dá na interação com
o outro (NOGUEIRA; LEAL, 2018).
Para a psicopedagogia, a teoria desenvolvida por Piaget é de fundamental
importância, pois, na prática clínica, utiliza-se o diagnóstico operatório, o qual
é organizado por meio das provas piagetianas. Por sua vez, tais provas foram
elaboradas a partir dos estudos feitos pelo autor sobre a gênese do pensamento
lógico e racional (BARONE; MARTINS; CASTANHO, 2011).
HISTÓRICO CULTURAL
Psicopedagogia e a Aprendizagem
58 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
alguém, sendo fundamental a intervenção de um mediador (LEITE; LEITE;
PRANDI, 2009).
TEORIA DA AFETIVIDADE
A teoria da afetividade tem, como mentor, Henry Wallon, cujos estudos se base-
aram em uma visão interacionista, na qual o desenvolvimento acontece por meio
da interação entre predisposições genéticas (próprias da espécie) e condições
Ressaltamos até aqui algumas das principais teorias de aprendizagem que auxi-
liam o psicopedagogo na compreensão de como a criança aprende. Contudo,
destaco que, neste momento, a intenção é a de apenas apresentar essas teorias,
sendo de suma importância o seu aprofundamento sobre, a fim de que haja um
efetivo trabalho psicopedagógico.
Psicopedagogia e a Aprendizagem
60 UNIDADE II
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
PSICOPEDAGOGIA: DESENVOLVENDO A
INTERDISCIPLINARIDADE
ENTENDENDO A INTERDISCIPLINARIDADE
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obter a organização e a sistematização das ações pedagógicas no contexto esco-
lar (CLARO, 2018).
Para Gasparin (1997 apud CLARO, 2018), a escola é o lugar onde acontece o
processo de ensino-aprendizagem de conhecimentos que foram construídos ao
longo da história. No entanto, muitas vezes, os desequilíbrios ocorridos nesse pro-
cesso não são entendidos pela própria escola. Diante disso, Claro (2018) esclarece
que a psicopedagogia pode auxiliar a pedagogia, a fim de equilibrar esse processo.
Contudo, como a psicopedagogia pode ajudar? Barbosa (2001) explica que,
uma vez que o processo de ensino-aprendizagem é o foco de estudo da psicope-
dagogia, essa área de conhecimento pode ajudar a escola a resgatar o prazer no
ato de aprender. Além disso, sustenta que:
Transformar a aprendizagem em prazer não significa realizar uma ati-
vidade prazerosa, e sim descobrir o prazer de: construir ou descons-
truir o conhecimento; transformar ou ampliar o que se sabe; relacionar
conhecimentos entre si e com a vida; ser coautor ou autor do conhe-
cimento; permitir-se experimentar diante de hipóteses; partir de um
contexto para a descontextualização e vice-versa; operar sobre o conhe-
cimento já existente; buscar o saber a partir do não saber; compartilhar
suas descobertas; integrar ação, emoção e cognição; usar a reflexão so-
bre o conhecimento e a realidade; conhecer a história para criar novas
possibilidades (BARBOSA, 2001, p. 53).
Dessa forma, Claro (2018) esclarece que a psicopedagogia pode ajudar a escola a: i)
melhorar o processo ensino-aprendizagem; ii) promover o trabalho em equipe, com o
intuito de integrar os sujeitos; iii) elaborar projetos educativos que busquem estreitar
as relações entre a família e a escola; iv) promover cursos de formação e aprimora-
mento dos docentes; v) contribuir com equipe multiprofissional; entre outras ações.
PSICOPEDAGOGIA E A PSICOLOGIA
PSICOPEDAGOGIA E A PSICANÁLISE
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ção educativa.
PSICOPEDAGOGIA E O PSICODRAMA
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As contribuições do psicodrama para a psicopedagogia estão relaciona-
das com a utilização de atividades lúdicas que possibilitam que o sujeito
manifeste a sua criatividade e desenvolva a sua espontaneidade tanto no con-
texto individual quanto em grupo. Além disso, tais atividades facilitam a
integração e socialização. Sendo assim, as técnicas psicodramáticas possibi-
litam o despertar, a fantasia e o encontro com a realidade interna do sujeito
(CLARO,2018).
Findando, é fundamental reassegurar que todas essas áreas de conhecimento
transpassam pela psicopedagogia, proporcionando subsídios importantes para
a sua prática. Além disso, propiciam o conhecimento necessário para que se
identifique as reais necessidades do sujeito, fazendo os encaminhamentos que
forem necessários.
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tivo principal, que era o de suscitar o conhecimento mediante o vencimento de
questões como: “evasão escolar, aumento crescente de alunos com problemas
de aprendizagem, formação precaríssima dos que conseguem concluir o ensino
fundamental, desinteresse geral pelo trabalho escolar” (BOSSA, 2008, p.19).
Sawaia (2002) acrescenta, ainda, outros fatores, tais como: condições mate-
riais, pedagógicas e administrativas precárias em escolas públicas que oferecem
o Ensino Fundamental; número exagerado de atividades burocráticas; formação
e condições de trabalho rudimentar do professor; conteúdos e funções esvazia-
dos; ausência de autonomia e falta de valorização do profissional da educação.
Dessa forma, a escola passa a não cumprir com o seu papel de oferecer aos edu-
candos o acesso à herança cultural e aos conhecimentos que foram construídos ao
longo da história da humanidade, o que impossibilita uma melhor compreensão
Sobre a concepção sociopolítica, Patto (1999 apud BOSSA, 2008) revela que o
próprio sistema educacional gerou obstáculos ao longo dos anos, que vêm dificul-
tando a efetivação de seus objetivos. Em consequência disso, a autora esclarece que:
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quisas realizadas sobre o fracasso escolar no Ensino Fundamental apresentam
quatro vertentes de entendimento sobre esse processo, as quais apresentare-
mos a seguir:
Em uma pesquisa realizada por Leonardo, Leal e Rossato (2012), foram analisa-
dos diversos artigos sobre queixa escolar. Mediante essa pesquisa, verificou-se
que, em 65% desses trabalhos, a causa da não aprendizagem estava relacionada
ao aluno, ou seja, a responsabilidade é desse sujeito, “como se todas as outras ins-
tâncias estivessem realizando seu papel de forma adequada, ou que as falhas das
mesmas não interferissem de algum modo no insucesso escolar” (LEONARDO;
LEAL; ROSSATO, 2012, p. 34).
Machado (1997) enfatiza a relevância de se ponderar o histórico tanto escolar
quanto social do aluno, pois o seu insucesso não está apenas relacionado com as
questões de ordem individual, dado que muitos outros fatores sociais e escolares
podem intervir para o seu fracasso escolar. O autor também enfatiza a impor-
tância de se questionar sobre o funcionamento das relações que se estabelecem
no processo de aprendizagem e podem gerar esse fracasso.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
É importante ressaltar que o psicopedagogo deve estar atento a esses fatores para
não correr o risco de entender que o sujeito é o único responsável pela sua pró-
pria problemática apresentada, reduzindo a dificuldade de aprendizagem a uma
patologia individual.
Nessa perspectiva, o foco passa a ser atribuído nas técnicas de ensino que não são
adequadas para as necessidades do aluno ou quando não há o domínio dessas téc-
nicas por parte do professor, enfatizando o descaso das autoridades em oferecer
uma formação técnica apropriada ao docente. Novamente, percebe-se que a com-
preensão acerca do fracasso escolar está voltada para variáveis individuais, no caso,
agora, para a capacidade profissional do professor (ANGELUCCI et al., 2004).
Dentro dessa perspectiva, acredita-se que as dificuldades do aluno podem ser
remediadas se o professor fizer uso de técnicas de ensino apropriadas. Defende-se,
assim, que a técnica de ensino adequada vai oferecer as condições para que o aluno
consiga desenvolver as suas potencialidades. Essa concepção do fracasso escolar
enfatiza a preocupação com a prática pedagógica (ANGELUCCI et al., 2004).
O desgaste físico e emocional dos professores, segundo Asbahr e Souza
(2007), tem sido a consequência direta das condições pelas quais os professores,
hoje, têm enfrentado em sala de aula. Em outras palavras, as políticas pedagó-
gicas têm sabotado a função do professor, apresentando condições de trabalho
que tiram a sua autoridade e enfraquecem o ensino.
Essa visão parte da concepção de que a escola é uma instituição social que segue
a lógica da sociedade de classes. Dessa forma, discute-se, aqui, as relações de
poder que acontecem no interior da escola, ressaltando a arbitrariedade com que
ela não reconhece a cultura popular e é organizada com base na cultura domi-
nante (ANGELUCCI et al., 2004).
Dentro dessa perspectiva, Angelucci et al. (2004, p. 63) destacam a impor-
tância de se fazer uma ruptura epistemológica:
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
os quais foram publicados em 2004, estão o acesso, a permanência e o sucesso
na escola. Diante disso, é fundamental que a escola eleve o educando ao cen-
tro de suas preocupações, incentivando seu desenvolvimento e promovendo as
relações interpessoais. Além disso, a equipe escolar deve acreditar no potencial
de aprendizagem de seus alunos.
Na próxima unidade, você poderá aprofundar seus conhecimentos sobre os
fatores que interferem na aprendizagem do aluno.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao final desta unidade com a certeza de que você teve acesso aos prin-
cipais temas que permearão a sua prática como psicopedagogo. Acerca das teorias
de aprendizagem, podemos verificar que cada uma delas apresenta pontos rele-
vantes para a compreensão de como o sujeito aprende. Mesmo divergindo em
suas particularidades, cada uma delas apresenta subsídios ao psicopedagogo no
entendimento desse processo. Pode ser que você tenha se identificado com uma
dessas teorias, encontrando, nela, respostas para os seus questionamentos sobre
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Considerações Finais
76
A escola atual não está conseguindo cor- Nesse sentido, “a escola torna-se cada vez
responder às demandas da sociedade. mais o palco de fracassos e de formação
As exigências do mundo atual apontam precária”. Isso porque as frágeis condi-
para uma educação diferenciada; exigindo ções tanto estruturais quanto funcionais
qualificação mais esmerada e constante for- de muitas escolas contribuem em grande
mação e informação dos educadores, uma parte para o fracasso escolar. Tais esco-
vez que o mundo globalizado aponta para las, na maioria das vezes, não conseguem
incessante transformação. lidar com as responsabilidades que lhes
são delegadas. Nesse contexto, os profes-
Esse desencontro entre escola e sociedade sores, não raras vezes, se veem oprimidos,
pode gerar e/ou fortalecer os processos de angustiados e com inúmeras incertezas,
exclusão, sobretudo, considerando uma fato esse que, em geral, se reflete na rela-
sociedade cujo conhecimento é distribu- ção com os alunos.
ído de forma desigual. Esse aspecto social
se apresenta como um expressivo desafio Devem-se reconhecer as tentativas de reor-
da escola nos dias atuais, na medida em que ganização da escola no sentido de prevenir
algumas pessoas são privilegiadas e outras e solucionar o fracasso escolar. Entretanto,
não conseguem ter acesso ao conhecimento. a busca de respostas para o grande número
Nessa mesma perspectiva, Bossa afirma que: de crianças e jovens com dificuldades de
“vivemos em um país em que a distribuição aprendizagem exige da escola um repen-
do conhecimento como fonte de poder social sar em relação aos seus processos. Nesse
é feita privilegiando alguns e discriminando sentido, reconhecemos em Paín um indi-
outros. Precisamos buscar soluções para que cativo para esse repensar, pois, para a
a escola seja eficaz no sentido de promover autora, a educação pode ser alienante ou
o conhecimento e, assim, vencer problemas libertadora, dependendo de como ela é
cruciais e crônicos de nosso sistema educa- instrumentalizada. É tomando a preocupa-
cional: evasão escolar, aumento crescente ção de Paín que pensamos na escola como
de alunos com problemas de aprendizagem, possível (re)produtora de problemas de
formação precaríssima dos que conseguem aprendizagem.
concluir o ensino fundamental, desinteresse
geral pelo trabalho escolar”.
80
Fernández, na mesma lógica de Paín, faz cada vez mais responsável pela exclusão
referências a “uma sociedade enferma e de muitas crianças e jovens. Sendo assim,
causadora de enfermidades, que provoca o espaço escolar que deveria ser de for-
oligotimia social e grande parte dos trans- mação de indivíduos críticos e capazes de
tornos de ‘aprendizagem reativos’[...]”. Estes transformar a realidade pode tornar-se
elementos permitem considerar que no um ambiente que contribui para o apri-
social e, especialmente em nossas escolas, sionamento da inteligência e, portanto, a
a (re)produção do fracasso escolar torna-se exclusão.
[...]
Costa ilustra o momento atual da educação contemporânea salientando que: “[...] pa-
rece que a escola do século XXI ainda se mantém como uma instituição central na vida das
sociedades e das pessoas [...]”.
Sem dúvida, a escola ainda ocupa um lugar central na vida das pessoas. É nela que são
depositadas inúmeras expectativas em relação ao futuro do sujeito e da sociedade. É
também o espaço por excelência onde o sujeito estabelece laços sociais para além da
família.
[...]
Em relação a isso, Beyer afirma que “uma às diferenças. Exige uma nova organização
escola para todos nunca existiu” e que a da escola, sendo esta pautada por proces-
escola sempre foi imposta como uma fonte sos que assegurem o acesso, a permanência
de poder social, em que somente os mais e a aprendizagem de todos os alunos.
abastados eram os mais privilegiados. Ele
evidencia que: “[...] na história da educação O professor, diante disso, é quem tem
formal ou escolar, nunca houve uma escola manifestado maior sofrimento, uma vez
que recebesse todas as crianças, sem exce- que tais transformações exigem dele um
ção alguma. As escolas sempre se serviram reposicionamento, pautando sua função
de algum tipo de seleção[...]”. para o olhar para diferentes processos de
ensino e aprendizagem. Isso porque o
Embora a escola nunca tenha sido para professor está frente a alunos que, mui-
todos, é fato que a Declaração de Sala- tas vezes, apresentam impasses no que
manca da UNESCO teve um impacto social, se refere à aprendizagem e ao relaciona-
cobrando da escola e da sociedade uma mento interpessoal, sendo frequente o
abertura para as diferenças. A proposta sentimento de incapacidade e até mesmo
da Educação Inclusiva remete a uma res- a recusa em trabalhar com eles. Por isso,
significação das práticas pedagógicas, é premente que o professor seja acompa-
respaldando-se no paradigma do respeito nhado nesse processo.
81
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84
REFERÊNCIAS
1. A alternativa correta é a C.
2. A alternativa correta é a B.
3. A alternativa correta é a D.
4. “A psicopedagogia tem por objeto de estudo o processo ensino-aprendizagem e
considera que o ato de aprender abrange as condições cognitivas, afetivas, cria-
tivas e associativas” (CLARO, 2018, p. 135). Já a pedagogia é um conhecimento
fundamentado em concepções e teorias que buscam compreender as práticas
e os fenômenos educativos, visando à organização e à sistematização das ações
pedagógicas no contexto escolar.
5. A alternativa correta é a A.
6. A importância da psicanálise para a prática psicopedagógica se dá na sua com-
preensão acerca do desenvolvimento do sujeito nos aspectos cognitivos e afe-
tivos. Ela esclarece que o não aprender pode estar relacionado a outros fatores
que não sejam orgânicos, tais como baixa autoestima e traumas, por exemplo.
7. A alternativa correta é a B.
8. A alternativa correta é a D.
Professora Me. Raquel de Araújo Bomfim Garcia
III
O QUE DIFICULTA
UNIDADE
O PROCESSO DE
APRENDIZAGEM
Objetivos de Aprendizagem
■■ Conhecer os principais fatores que podem dificultar o processo de
aprendizagem.
■■ Caracterizar o transtorno específico de aprendizagem,
diferenciando-o da dificuldade de aprendizagem.
■■ Discriminar os principais Transtornos Específicos de Aprendizagem,
apresentando as suas características essenciais.
■■ Explanar outras disfunções que podem dificultar o processo de
aprendizagem
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Dificuldades de aprendizagem
■■ Transtorno Específico de Aprendizagem
■■ Conhecendo os Transtornos Específicos de Aprendizagem
■■ Outras disfunções que interferem na aprendizagem
89
INTRODUÇÃO
Introdução
90 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
Dificuldades de Aprendizagem
92 UNIDADE III
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
camente as suas causas em dois grupos: o das causas intraescolares e o das
extraescolares. Dentre as causas intraescolares, a autora destaca a metodolo-
gia do professor e sua formação, a cultura da escola, a relação professor e aluno,
a política educacional e a representação do professor sobre as dificuldades de
aprendizagem escolar. Já as causas extraescolares abrangem as questões orgâni-
cas, emocionais, culturais, intelectuais, específicas (transtornos) e a relação dos
pais com o estudo dos filhos.
As dificuldades de aprendizagem também são características secundárias de
quadros diagnósticos de deficiência intelectual, deficiência sensorial (visual, audi-
tiva) e/ou transtornos emocionais. “Nesses quadros mais sérios a alteração afeta
o indivíduo como um todo e secundariamente a aprendizagem” (RUBINSTEIN,
2012, p. 222).
É importante ter em mente que conhecer as possíveis causas das dificul-
dades de aprendizagem é apenas o passo inicial na compreensão do aprender
do sujeito. Tão importante quanto saber o porquê o aluno não aprende, é saber
como ele aprende. Isso se deve, pois, segundo Costa (2006), Vygotsky acredita
na capacidade que o organismo tem de ir para além de suas limitações, por meio
da construção de mecanismos adaptativos que possam superar suas dificulda-
des. Entretanto, tudo isso dependerá da interação de fatores internos e externos.
Nogueira e Leal (2012) explicam que a utilização do termo dificuldade de
aprendizagem ainda não é um consenso entre os estudiosos, visto que alguns
utilizam, como sinônimos, problemas de aprendizagem, transtornos de aprendi-
zagem ou distúrbios de aprendizagem. Vamos entender melhor essas diferenças
a partir da compreensão acerca dos transtornos de aprendizagem.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (documento elaborado
pelo Grupo de Trabalho, nomeado pela Portaria nº 555/2007, a qual foi prorro-
gada pela Portaria nº 948/2007, e entregue ao Ministro da Educação em 07 de
janeiro de 2008). Nesse documento, os distúrbios de aprendizagem passaram a
ser nomeados de Transtornos Funcionais Específicos e abrangem a dislexia, a
disgrafia, a discalculia, a disortografia, o transtorno de atenção e hiperatividade
e entre outros (NOGUEIRA; LEAL, 2012).
Quando recorremos à Classificação Internacional de Saúde (CID-10),
verificamos que o termo transtorno é utilizado para apresentar um grupo de
comportamentos ou sintomas reconhecidos clinicamente, os quais, geralmente,
estão associados ao sofrimento, interferindo nas funções pessoais. Alterações
referentes ao aprendizado estão classificadas no CID-10 como Transtornos do
Desenvolvimento das Habilidades Escolares (F81), dividindo-se em subcatego-
rias, a saber: Transtorno Específico da Leitura (F81.0); Transtorno Específico
do Soletrar (F81.1); Transtorno Específico de Habilidades Aritméticas (F81.2);
Transtorno Misto das Habilidades Escolares (F81.3); Outros Transtornos
do Desenvolvimento das Habilidades Escolares (F81.8); Transtornos Não
Especificados do Desenvolvimento das Habilidades Escolares (OMS, 2009).
Já no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5, de
2015, encontramos o transtorno específico de aprendizagem, que está incluso
no grupo dos transtornos do neurodesenvolvimento. Nesse grupo, também
encontramos os transtornos de comunicação, do espectro autista, de déficit de
atenção e hiperatividade, motores, transtorno do neurodesenvolvimento espe-
cificado e não especificado. Além disso, nesse manual, o transtorno específico
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONHECENDO OS TRANSTORNOS ESPECÍFICOS DE
APRENDIZAGEM
Você deve estar curioso para saber quais são os transtornos específicos da apren-
dizagem. Assim como estudamos, o diagnóstico desse tipo de transtorno depende
de uma avaliação multiprofissional formada, principalmente, por neurologista,
psicólogo, fonoaudiólogo, pedagogo e psicopedagogo. No entanto, deve-se tomar
cuidado com o diagnóstico, principalmente o realizado no contexto escolar, para
que não se torne mais um rótulo do que um meio de auxiliar o aluno que apre-
senta um processo de aprendizagem alterado (NOGUEIRA; LEAL, 2012).
Para uma melhor compreensão acerca dos transtornos específicos de apren-
dizagem, Nogueira e Leal (2012) destacam a importância do psicopedagogo em
conhecer o desenvolvimento da linguagem normal. Assim, esse profissional deve
entender a linguagem como uma “forma peculiar que o homem tem de se comu-
nicar com os seus semelhantes por meios de símbolos gestuais, orais ou escritos”
(PEDROSO; ROTTA, 2006, p. 132).
do que foi lido. Para tanto, o autor explana que a compreensão do que foi lido
consiste em “relacionar as palavras que são decodificadas aos seus respectivos
significados (objetos)” (MORAES, 1997, p. 21). Dessa forma, ela é fundamental
para despertar o interesse da criança pela leitura.
Para concluir o processo de leitura, temos a análise crítica do que foi deco-
dificado e compreendido, reagindo ao que está impresso. Essas reações, por sua
vez, podem ser intelectuais ou emocionais, visto que a análise do conteúdo sem-
pre partirá dos referenciais internos daquele que lê (MORAES, 1997).
O transtorno específico de leitura ou dislexia, segundo Sobrinho (2016),
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
consiste em ser uma alteração na identificação e na memorização das letras e do
seu respectivo conjunto. O autor destaca que, diante desse transtorno, as letras
são apresentadas com a ordem e o ritmo alterado, dificultando tanto a leitura
quanto a escrita.
Guiachet e Capelline (2000, apud PEDROSO; ROTTA, 2006) acrescentam
que a dislexia é um distúrbio neurológico, cuja origem é congênita. Em outras
palavras, os sujeitos portadores possuem um potencial intelectual dentro do espe-
rado para a sua faixa etária, não apresentando um déficit sensorial, e carregam
uma instrução educacional adequada. No entanto, não conseguem apropriar-se,
de maneira satisfatória, a habilidade de ler e/ou de escrever.
Aprofundando sobre o tema, Stanovich (1994, apud FLETCHER et al., 2009)
esclarece que, quando a criança apresenta dificuldades no reconhecimento das
palavras, consequentemente, terá dificuldades em compreender o texto (leitura
com significado). Isso se deve, pois, “quando os processos de reconhecimento
das palavras exigem muita capacidade cognitiva, sobram menos recursos cog-
nitivos para direcionar aos processos superiores de integração e compreensão
do texto” (p. 281).
Fletcher et al. (2009) explicam que, na compreensão dos déficits no reco-
nhecimento de palavras, existem dois pontos de vista. O primeiro acredita que
esse déficit está relacionado ou tem a sua causa associada a algo que não tem
relação direta com a leitura, ou seja, com a consciência fonológica e o proces-
samento temporal rápido. Já a outra perspectiva acredita que essa alteração está
relacionada a vários fatores, tais como nomeação rápida, consciência fonológica,
memória verbal de curto prazo, entre outros.
Diante disso, José e Coelho (2009) chamam a atenção sobre os conflitos e frus-
trações que podem ser vivenciados pelo sujeito com transtorno específico de
leitura – dislexia –, pois, mesmo tendo condições intelectuais, não consegue cor-
responder às expectativas da família. Assim, os autores explanam que é muito
comum, nesses casos, que as reprovações e, consequentemente, o abandono da
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escola gerem consequências emocionais importantes, tais como a baixa estima,
a diminuição do autoconceito e entre outros.
Em consequência desses fatos, ressaltamos a importância do diagnóstico
multiprofissional, a fim de que, a partir dele, o psicopedagogo possa estabelecer
as etapas de atendimento individualizado, visando à reeducação da linguagem
do sujeito. No contexto escolar, é importante que o psicopedagogo realize orien-
tações quanto às adaptações pedagógicas fundamentais para o desenvolvimento
do aluno, as quais lhe são garantidas por direito (NOGUEIRA; LEAL, 2012).
Disgrafia
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no espaço ou por desordem afetiva. Diante disso, o aluno pode apresentar: late-
ralidade ou dominância não definida; sinitrismo (canhotismo contrariado); ou
lateralidade cruzada (CINEL, 2003).
Assim sendo, verificamos que a criança com um quadro de disgrafia não
apresenta um déficit intelectual, visual ou motor, mas não consegue realizar, no
plano motor, o que percebeu no plano visual. Essa alteração apresenta diferentes
níveis, que vão desde a incapacidade de manusear o lápis ou de riscar uma linha
até a capacidade de fazer desenhos simples, mas não conseguir realizar a cópia
de figuras ou de palavras com maior complexidade (JOSÉ; COELHO, 2009).
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No processo de intervenção, é importante que o psicopedagogo apresente
atividades que proporcionem o relaxamento global, a reeducação da letra e a gra-
fomotora, bem como a sistematização da escrita e exercícios que possibilitem
o seu aperfeiçoamento (RODRIGUES, 2009 apud NOGUEIRA; LEAL, 2012).
Disortografia
Nas séries iniciais do Ensino Fundamental, você poderá perceber que é muito
comum que a criança apresente trocas ortográficas ou de letras. No entanto,
quando essas substituições persistem, é preciso estar atento, porque elas podem
ser sinais de um transtorno específico de escrita, a disortografia (CRENITTE;
GONÇALVES, 2009 apud OLIVEIRA, 2017).
Segundo a Associação Psiquiátrica Americana (2000 apud FERNÁNDEZ
et al., 2010), a disortografia é uma alteração no planejamento da linguagem
escrita que acarreta transtornos na aprendizagem da gramática, ortografia e
redação. Todavia, é necessário esclarecer que, nesses casos, tanto o potencial
intelectual quanto a escolaridade do sujeito estão compatíveis com a sua idade
cronológica.
A disortografia, na maioria das vezes, está associada ao transtorno específico
de leitura – dislexia –, sendo muito raros os casos em que não há esse vínculo.
Entretanto, o que se percebe, hoje, é que muitos alunos demonstram dificulda-
des na escrita devido ao fato de que a escola não ressalta o ensino da ortografia
(BERBERIAN; MASSI, 2005). Sobre essa problemática, Zorzi (1998) explica o
fato de que, muitas vezes, a escola é a única que possibilita o contato do aluno
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De acordo com Bastos (2006), a matemática faz parte do cotidiano de todos,
sendo uma habilidade básica do cérebro humano. Dessa forma, está presente
desde os primeiros anos de vida, quando é estabelecida a representação da quan-
tidade numérica, a qual será a base para o conhecimento posterior de símbolos
e operações numéricas.
A discalculia pode ser classificada em seis tipos: a verbal (dificuldade na
nomeação de quantidades); a léxica (dificuldade na leitura de símbolos mate-
máticos); a practognóstica (dificuldade em enumerar, comparar e manipular
objetos reais ou imagens); a ideognóstica (dificuldade na compreensão de con-
ceitos e na realização de operações mentais); a gráfica (dificuldades na escrita
de símbolos matemáticos); e a operacional (dificuldades em executar operações
e cálculos numéricos) (KOSC, 1974 apud BERNARDI, 2006).
É importante destacar que a discalculia não é decorrente de nenhuma defi-
ciência intelectual, déficit sensorial ou problemas de escolarização, visto que,
com esse transtorno, o aluno não consegue compreender os conteúdos mate-
máticos apresentados pelo professor. Portanto, o desinteresse gerado por essas
atividades acontece pelo fato de que o aluno não as compreende (BELLEBONI,
2004 apud GARCIA, 1998).
Assim como já constatamos com os outros transtornos, a discalculia tam-
bém requer uma avaliação multiprofissional, devido à sua complexidade. Assim,
é necessário destacar que as intervenções devem considerar, primeiramente, as
noções elementares da matemática baseadas em experiências não verbais, para,
posteriormente, investir nos fatos numéricos em si (BASTOS, 2006).
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atenção e os dos problemas comportamentais relacionados à hiperatividade e
impulsividade (BONADIO; MORI, 2013).
Bonadio e Mori (2013) esclarecem que, para fins de diagnóstico, é preciso
que a criança apresente, no mínimo, seis dos sintomas descritos nesse manual,
enquanto o adulto, no mínimo, cinco. A idade limite para o aparecimento dos
sintomas passou a ser de 12 anos e, conforme o grau de comprometimento desses
sintomas na vida do sujeito, o TDAH pode ser classificado em leve, moderado ou
grave. Os critérios apresentados pelo Manual DSM-V, além auxiliarem no diag-
nóstico, também servem de parâmetro para o estabelecimento da medicação.
O TDAH é um transtorno que gera dificuldades importantes não só nas
relações do sujeito, mas também em sua aprendizagem. Benczik (2010), em sua
obra, expõe algumas das principais características que a criança com TDAH pode
apresentar, a saber: alteração no nível de atenção; superatividade; dificuldade em
seguir normas e regras; problemas de conduta; agressividade; dificuldades de
aprendizagem; conflitos sociais e familiares; baixa tolerância à frustração; baixa
estima; e percepção negativa de si mesmo.
É importante destacar que a hiperatividade, no TDAH, não se restringe a
uma atividade motora excessiva, à impaciência ou à inquietação. Ela pode mani-
festar-se, também, por meio de uma hiperatividade mental ou psíquica que gera
sofrimento, pois, muitas vezes, o aluno não consegue terminar um assunto e já
inicia outro, ou interrompe conversas de outros (SILVA, 2009).
Muitos estudos têm sido realizados, a fim de compreender as possíveis cau-
sas do TDAH. Além disso, seus sintomas têm sido observados em indivíduos
com lesões na região frontal orbital do cérebro, a qual é mais desenvolvida nos
humanos do que nos animais. Essa região cerebral é a responsável pela capa-
cidade de manter a atenção, o autocontrole, a inibição de comportamentos e o
planejamento (BENCZIK, 2010). Entretanto, outros fatores etiológicos estão
sendo investigados, tais como a hereditariedade, substâncias ingeridas na gra-
videz, sofrimento fetal, exposição ao chumbo, entre outros (BENCZIK, 2010).
No contexto escolar, os problemas decorrentes desse transtorno podem se
tornar mais evidentes, pois o rendimento escolar do aluno passa a ser oscilante,
devido à instabilidade da atenção (SILVA, 2009). Além do mais, é importante
destacar que o TDAH não é um transtorno de aprendizagem, mas pode levar o
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DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
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pensamentos, experiência dos outros); e o prático (cuidados pessoais, aprendi-
zado, autogestão, controle de dinheiro, organização de atividades, entre outros)
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2015).
O diagnóstico de deficiência intelectual é feito por meio de testes de medida
de inteligência padronizados, cuja avaliação psicométrica deverá ser realizada
por um psicólogo. O conhecimento sobre as características da deficiência intelec-
tual é de fundamental importância para o psicopedagogo, que poderá colaborar
com outros profissionais no processo de avaliação do sujeito, o qual objetiva ofe-
recer subsídios para o foco do trabalho psicopedagógico.
Pan (2013) reforça os cuidados com o diagnóstico, explicando a importância de
buscarmos procedimentos diagnósticos que não se restrinjam a aspectos clínicos e que
atendam às necessidades educacionais desse aluno no contexto escolar. Sendo assim,
é importante que estejamos atentos aos critérios da avaliação diagnóstica, visando
garantir oportunidades a todos, sem limitar a prognósticos ou níveis de educabilidade.
Vygotsky destaca, em seus estudos sobre a defectologia, a propensão do nosso
organismo de ir além de nossas dificuldades, pois o homem tem a capacidade
de desenvolver meios adaptativos que podem transcender os limites. Portanto,
o ambiente será determinante para o desenvolvimento de suas potencialidades
orgânicas (COSTA, 2006).
Diante disso, compreendemos que a psicopedagogia apresenta meios e recur-
sos desenvolvidos ao longo do tempo, os quais podem auxiliar os alunos tanto
com dificuldades, transtornos de aprendizagem e desenvolvimento, quanto com
deficiência intelectual. Assim, a mediação e a utilização dos instrumentos ade-
quados possibilitam o avanço no desenvolvimento do sujeito.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
110
O olhar com o qual Vygotsky (1989) nos pro- Vygotsky deixa transparecer a sua crença
põe examinar as possíveis limitações dessas na plasticidade - capacidade de se trans-
crianças não é de complacência ou desâ- formar do organismo e do ser humano - na
nimo, mas, sim, o de uma visão dialética capacidade do indivíduo de criar proces-
do real, que leve à constatação de que, se sos adaptativos com o intuito de superar os
existem problemas, existem também pos- impedimentos que encontra. Apesar de o
sibilidades. E os problemas podem ser uma organismo possuir, em potencial, essa capa-
fonte de crescimento. Desse modo, para cidade de superação, ela só se realiza a partir
o autor, “um defeito ou problema físico, da interação com fatores ambientais, pois o
qualquer que seja sua natureza, desafia o desenvolvimento se dá no entrelaçamento
organismo. Assim, o resultado de um defeito de fatores externos e internos. Nessa pers-
é invariavelmente duplo e contraditório. Por pectiva, no caso dos cegos, seres privados de
um lado, ele enfraquece o organismo, mina visão, todo o organismo se reorganiza para
suas atividades e age como uma força nega- que as funções restantes trabalhem juntas
tiva. Por outro lado, precisamente porque para superar o impedimento, processando
torna a atividade do organismo difícil, o estímulos do mundo exterior com a ajuda de
defeito age como um incentivo para aumen- meios especiais, tal como o Braille. O mesmo
tar o desenvolvimento de outras funções no acontece com os surdos, seres privados da
organismo; ele ativa, desperta o organismo audição, que desenvolverão capacidades
para redobrar atividade, que compensará o visuais e espaço-temporais, na interação
defeito e superará a dificuldade. Esta é uma com instrumentos diversos, tendo a Língua
lei geral, igualmente aplicável à biologia e à de Sinais um papel preponderante nesse
psicologia de um organismo: o caráter nega- processo. É nessa perspectiva, também, que,
tivo de um defeito age como um estímulo para sujeitos com sérios problemas moto-
para o aumento do desenvolvimento e da res e que tenham grande dificuldade no ato
atividade”. da escrita, o uso de instrumentos como o
113
computador - ou, na falta desse, da máquina afirma, ainda, que a lei da compensação
de escrever - atua como estímulo e como - ou superação - desvela o caráter criador
suporte para a superação de dificuldades. do desenvolvimento. Citando Stern, ele
completa que: “tudo o que não me destrói,
O defeito se converte, assim, no ponto de me faz mais forte, pois na compensação da
partida e na força propulsora do desen- debilidade surge a força, e das deficiências,
volvimento psíquico e da personalidade. as capacidades”.
Qualquer defeito, segundo Vygotsky,
origina estímulos para a formação da com- O autor, entretanto, enfatiza constante-
pensação - ou superação. A lei geral da mente o papel do contexto sociocultural
compensação, segundo ele, aplica-se da nesse processo de superação. Esse processo
mesma forma ao desenvolvimento dito não se realizaria de uma forma espontane-
“normal” e ao “complicado”. Segundo ísta. Tal concepção seria avessa à perspectiva
Adler (apud Vygotsky, 1989), a elevada sociohistórica do autor, segundo a qual o
tendência em direção ao desenvolvi- desenvolvimento humano é um processo
mento é originada pelo defeito. O autor e um produto social.
O conceito de ZDP nos mostra que, com mento dessas possibilidades está bastante
a ajuda do outro – adultos, professores, explícita nas obras de Vygostky dedicadas
colegas mais capazes – a criança terá pos- aos sujeitos com necessidades educativas
sibilidades de produzir mais do que produz especiais. Assim, ele diz:
sozinha. Esse conceito nos aponta o que
a criança tem em potencial, para as suas “O comportamento atualizado é apenas
possibilidades não realizadas. Foi a partir uma infinitésima parte do comportamento
dele que Vygotsky investiu no desenvolvi- possível. O homem está cheio de possibili-
mento de sujeitos com uma enorme gama dades não realizadas [...]”.
de dificuldades: crianças diagnosticadas
como ‘deficientes mentais’, crianças com “Todas as crianças podem aprender e
Síndrome de Down, crianças cegas, sur- se desenvolver... As mais sérias defici-
das, com lesões cerebrais, etc. ências podem ser compensadas com
ensino apropriado, pois, o aprendizado
A crença nas possibilidades do indivíduo adequadamente organizado resulta em
e no papel do aprendizado no desenvolvi- desenvolvimento mental”.
Fonte: Costa (2006, p. 233-234).
MATERIAL COMPLEMENTAR
Material Complementar
REFERÊNCIAS
AVALIAÇÃO
IV
UNIDADE
PSICOPEDAGÓGICA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Expor as razões que justificam o processo de avaliação
psicopedagógica, destacando a importância da anamnese.
■■ Apresentar os elementos fundamentais a serem investigados no
processo de avaliação psicopedagógica clínica.
■■ Oferecer estratégias para a compreensão do processo ensino-
aprendizagem no contexto institucional.
■■ Evidenciar a relevância da observação e dos encaminhamentos no
processo de avaliação psicopedagógica.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ Diretrizes iniciais do processo da avaliação psicopedagógica
■■ Avaliação psicopedagógica clínica
■■ Avaliação psicopedagógica institucional
■■ A importância da observação e dos encaminhamentos
123
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), nesta unidade, você terá a oportunidade de ter o seu primeiro
contato com uma das atividades mais importantes do trabalho psicopedagógico:
a avaliação. Ela é essencial, pois permite que o psicopedagogo conheça não só as
dificuldades de aprendizagem, mas principalmente as potencialidades do sujeito
ou da instituição, oferecendo subsídios para uma posterior intervenção.
Vamos iniciar o nosso estudo entendendo o processo de diagnóstico psi-
copedagógico, o qual possui, como objetivo principal, a compreensão de como
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Introdução
124 UNIDADE IV
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
DIRETRIZES INICIAIS DO PROCESSO DA AVALIAÇÃO
PSICOPEDAGÓGICA
Acredito que você tenha muitas expectativas relacionadas a esse tema e isso é
muito importante, pois a avaliação é o momento essencial de todo o processo
de ação psicopedagógica. Ela é quem permite que o psicopedagogo saiba onde
se encontram as dificuldades de aprendizagem do sujeito e, principalmente, as
suas potencialidades. Enquanto psicopedagogo, você deve ter um olhar que vá
para além das limitações, enxergando, em cada obstáculo apresentado, uma pos-
sibilidade que pode ser explorada por meio de instrumentos adequados. Diante
disso, inicialmente, vamos destacar alguns aspectos relevantes para a realização
de uma avaliação psicopedagógica.
Consideramos, inicialmente, que a preocupação do psicopedagogo está rela-
cionada a tudo o que se refere à aprendizagem, ou seja:
Como se aprende; como esta aprendizagem varia evolutivamente e está
condicionada a diversos fatores; como e por que se dão os distúrbios de
aprendizagem e como reconhecê-los e tratá-los; o que fazer para pre-
venir os distúrbios e promover processos que sejam significativos para
seus participantes” (SOBRINHO, 2016, p. 52).
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
125
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
teorias de aprendizagem e os princípios que dominam esse processo, considerando
os aspectos afetivos e as representações inconscientes peculiares (BOSSA, 2007).
Outro aspecto a ser considerado é o entendimento sobre a maneira com que
os métodos e sistemas de ensino podem interferir no modo com que o sujeito
aprende. Dessa forma, o psicopedagogo deve estar atento aos problemas estrutu-
rais que podem desencadear transtornos de aprendizagem, bem como influenciam
o próprio processo escolar (SILVA, 2012).
Nogueira e Leal (2013), por sua vez, sustentam que o diagnóstico psicope-
dagógico acontece em um contexto apropriado e organizado com materiais e
recursos específicos selecionados previamente. Além disso, o psicopedagogo
segue um roteiro que varia de acordo com a linha teórica que ele trabalha.
Portanto, a avaliação psicopedagógica é:
Um processo compartilhado de coleta e análise de informações rele-
vantes acerca dos vários elementos que intervêm no processo de ensi-
no e aprendizagem, visando identificar as necessidades educativas de
determinados alunos ou alunas que apresentem dificuldades em seu
desenvolvimento pessoal ou desajustes com respeito ao currículo es-
colar por causas diversas, e a fundamentar as decisões a respeito da
proposta curricular e do tipo de suportes necessários para avançar no
desenvolvimento das várias capacidades e para o desenvolvimento da
instituição (COLL; MARCHESI; PALACIOS, 2007, p. 279).
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
127
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
entrevista inicial e, para Weiss (2012), ela é o ponto categórico para o sucesso
desse processo. Isso se deve, porque é por meio dela que podemos averiguar a
percepção da família acerca da história da criança, as expectativas, as angústias
relacionadas à não aprendizagem, os afetos, anseios, conhecimentos e o que se
espera do sujeito.
Nogueira e Leal (2013) apresentam os objetivos da entrevista inicial com
base no modelo de Jorge Visca. Nesse modelo, primeiramente, é esclarecido
como acontece o trabalho psicopedagógico, registram-se os dados de identifica-
ção tanto do sujeito quanto dos responsáveis e investiga-se o motivo da consulta,
ou seja, a queixa, o que levou a procurar esse tipo de atendimento. Depois, são
estabelecidos o contrato e as questões relacionadas a dia, horário, local, frequên-
cia e valor do atendimento. Com esses dados em posse, é necessário pesquisar a
respeito da aprendizagem do sujeito desde a mais tenra idade, verificar o nível
cultural e socioeconômico familiar, detalhar sobre as intervenções que já foram
feitas e analisar as expectativas da família e do sujeito em relação aos atendimen-
tos. Visca faz uso, também, da Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem
(EOCA), a qual discutiremos no tema avaliação psicopedagógica.
Já Weiss (2012) utiliza-se de dois tipos de entrevistas: a Entrevista Familiar
Exploratória Situacional (E.F.E.S.) e a entrevista de anamnese. A E.F.E.S. busca
compreender a queixa tanto na perspectiva da escola quanto da família, a fim
de perceber as relações e as expectativas da família em relação à aprendizagem
escolar. Não só, mas essa entrevista também visa entender como está a aceitação
e o comprometimento do sujeito e dos responsáveis acerca do processo de diag-
nóstico e, por fim, esclarece sobre o processo de diagnóstico psicopedagógico.
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
129
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
131
vete e entre outros. O sujeito poderá escolher livremente o que irá utilizar, com
base nos elementos disparadores que estiverem disponíveis na mesa.
Algumas atitudes são relevantes durante esse processo, a saber:
■■ Não realizar perguntas que fujam da consigna proposta.
■■ Observar a postura corporal, os comportamentos expressos, a respira-
ção e a direção do olhar.
■■ Evitar o uso de materiais distantes do contexto sociocultural do sujeito.
■■ Manter uma conduta imparcial diante das atitudes do sujeito.
■■ Não nomear os objetos, nem pronunciar frases estimulantes ou esclare-
cer dúvidas.
A realização de tais ações é imprescindível, visto que esse momento é fun-
damental para o levantamento de hipóteses as quais auxiliarão na escolha
dos testes e provas que poderão ser aplicados nas mais diferentes faixas
etárias (NOGUEIRA; LEAL, 2013).
Nas sessões seguintes, são apresentadas as provas e testes, os quais são, segundo
Nogueira e Leal (2013):
■■ As provas operatórias: de classificação, de conservação e de seriação para
o pensamento global.
■■ As provas projetivas: são exemplos: par educativo; eu e os meus com-
panheiros; família educativa; os quatro momentos do dia; o dia do meu
aniversário; minhas férias.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
tica; avaliação da relação professor-aluno e aluno-escola; e avaliação psicomotora
(NOGUEIRA; LEAL, 2013).
Weiss (2004, apud NOGUEIRA; LEAL, 2013) enfatiza dois eixos fundamentais
que não podem deixar de ser investigados no processo de avaliação psicopeda-
gógica. O primeiro foi denominado de eixo horizontal a-histórico, que consiste
em uma visão do presente, no qual nos centramos nas causas que coabitam tem-
porariamente com os sintomas (cujo foco é o sujeito, suas produções e ações). Já
o segundo, o eixo horizontal histórico, investiga os processos de construção do
sujeito em situações e momentos diferentes (focado na historicidade das produ-
ções, ações e relações do sujeito).
Destarte, compreendemos que a avaliação é de fundamental importância
para o trabalho do psicopedagogo, o qual poderá utilizar diversos recursos e
técnicas nesse processo. No entanto, sua observação e análise são fundamen-
tados em uma teoria de base, a qual será fundamental para o êxito do trabalho.
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
133
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
no Quadro 1:
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
necessários, o espaço, os honorários e o planejamento das ações após o levanta-
mento das primeiras hipóteses. No entanto, o psicopedagogo deve ter em mente
que esse é um direcionamento flexível e, por isso, deve estar atento ao movi-
mento de aprender na instituição. Para tanto, a autora destaca a importância do
distanciamento instrumentalizado do fenômeno investigado, ou seja, envolver-
-se sem se misturar.
O terceiro passo tem, como base, a observação e análise do sintoma. Essa
etapa pode ser compreendida como algo que não está funcionando bem no
sistema, nesse caso, na instituição (OLIVEIRA, 2014). Assim, Carlberg (2000
apud OLIVEIRA, 2014) elaborou um instrumento de observação diagnóstica
o qual denominou de Entrevista Operativa Centrada na Modalidade de Ensino
Aprendizagem (E.O.C.M.E.A.), que objetiva perceber o que o grupo sabe, não o
que não sabe, analisando a dinâmica (expressões corporais), a temática (as falas
dos participantes) e o produto. Após a identificação do grupo a ser trabalhado,
o psicopedagogo deverá organizar as atividades de modo que se possa observar
o sintoma. Essa etapa é fundamental para o levantamento de hipóteses.
Passamos, então, para a organização do primeiro sistema de hipóteses, no
qual o psicopedagogo deverá analisar os motivos que coabitam junto aos sinto-
mas. Ao utilizar o E.O.C.M.E.A. como referência, são estabelecidas as primeiras
hipóteses, com o intuito de analisar a sua veracidade. Para o levantamento das
hipóteses, pode-se ter, como diretriz, questões relacionadas ao conhecimento,
interação, funcionamento e estrutura (matriz diagnóstica) (OLIVEIRA,2014).
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
137
Você deverá ter em mente que o diferencial conceitual que finaliza o processo
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
diagnóstico é o que viabiliza as condições para que o psicopedagogo elabore o
seu plano de intervenção, construindo, assim, sua prática psicopedagógica inter-
ventiva (OLIVEIRA, 2014).
Oliveira (2014, p. 65) destaca, ainda, a importância da análise funcional
dos dados obtidos durante todo o processo, a qual propõe:
Não somente identificar aspectos que possam ser caracterizados
como potencialidades ou fragilidades institucionais, mas também a
identificar as relações entre os aspectos que configuram a dinâmica
institucional no que diz respeito à aprendizagem. Os grupos como
unidades de análise, usam estratégias e mecanismos interpsíquicos,
que se caracterizam como a aprendizagem intragrupal, sendo esse um
fator primordial de busca para o psicopedagogo construir sua matriz
diagnóstica, bem como traçar as estratégias de intervenção.
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
139
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Para que você possa realizar uma boa avaliação psicopedagógica, seja na clínica,
individualmente, ou em uma instituição, com grupos, um instrumento essen-
cial depende exclusivamente de você, ou seja, a observação. É por meio dela que
o psicopedagogo poderá coletar dados importantes que não são apresentados
em testes ou em atividades propostas. Por isso, apresentaremos alguns aspec-
tos essenciais no processo de observação e encerraremos com o tratamento de
outro tema importante: os encaminhamentos.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
da observação, é fundamental a linguagem científica, garantindo a objetividade.
Para isso, é fundamental “eliminar todas as impressões pessoais e subjetivas que
o observador possa ter, ou interpretações que ele possa dar acerca dos dados”
(DANNA; MATOS, 1986, p. 24).
A observação científica depende de treino, para que você, enquanto psico-
pedagogo, possa ater-se ao que realmente está sendo apresentado no momento,
estando atento a tudo o que é perceptível por meio de seus sentidos (visão, audi-
ção, olfato, paladar e tato). Se bem utilizada, a observação é o melhor recurso
tanto na avaliação quanto na intervenção psicopedagógica.
ENCAMINHAMENTOS
AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
141
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
142
A LINGUAGEM CIENTÍFICA
Outro aspecto que caracteriza um relato cien- invés de registrar “o menino brinca de bola”,
tífico é o uso da linguagem clara e precisa. o observador especificará cada uma das
Uma linguagem é considerada clara e precisa ações apresentadas pelo garoto, ou seja,
quando : a) obedece os critérios de estrutura “o menino anda em direção a bola, pega a
gramatical do idioma; b) usa termos cujo sig- bola, joga-a no chão, chuta com o pé” etc.
nificado, para a comunidade que terá contato
com o relato, não é ambíguo; isto é, as pala- Termos indefinidos ou vagos: isto é,
vras usadas são frequentemente aceitas na termos que não identificam o objeto ou
comunidade como referentes a certos fenô- identificam parcialmente os atributos
menos e eventos e não a outros; c) indica as do objeto. Por exemplo, os termos “bola
propriedades definidoras dos termos, forne- pequena”, “por algum tempo”.
cendo referências quantitativas e empíricas,
sempre que: o relato pode ser usado por Ao invés de utilizar termos indefinidos ou
comunidades diferentes (cientistas e/leigos vagos, o observador deve especificar o
de diferentes áreas de conhecimento, grupo objeto ao qual a ação é dirigida, e forne-
social, econômica e culturalmente diferentes) cer os referenciais físicos utilizados para
ou quando, mesmo para uma comunidade a descrição dos atributos do objeto; refe-
restrita, os termos sem a indicação dos refe- renciais relativos à cor, tamanho, direção,
renciais podem estar relacionados pelo leitor etc. Por exemplo, deixará de registrar “bola
e eventos de diferentes naturezas e magni- pequena”, e fornecerá o diâmetro da bola,
tudes. Por exemplo, termos como “longe, ou anotará o referencial de comparação
imediato, rápido, alto” etc, que dizem res- (bola menor do que as outras).
peito a aspectos mensuráveis da natureza
(distância, latência, velocidade, frequência Termos ou expressões ambíguas: isto é,
etc) devem em geral estar acompanhados quando numa expressão, um termo pode
da indicação da amplitude de valores à qual ser referente tanto ao sujeito da frase
se referem. quanto ao seu complemento, o observador
deve usar termos adicionais que indiquem
Para preencher os requisitos de clareza e precisamente a que ou quem o termo se
precisão na linguagem, o observador deve refere. Por exemplo: ao registrar “P amarra
evitar o uso de: o sapato. Encosta na parede”, alguém pode-
ria indagar: P encostou-se ou encostou o
Termos amplos: isto é, termos cujo signifi- sapato na parede? Cuidado semelhante
cado inclui uma série de ações. Por exemplo, deve ser tomado quando se usam pala-
“brincar” pode significar “jogar bola”, “jogar vras que podem ter vários significados. Por
peteca”, “nadar”, “pular corda” etc. exemplo, em algumas regiões do Brasil,
se alguém registra: “M quebrou as cadei-
Em lugar de utilizar termos amplos, o ras”, certamente se perguntará: quebrou
observador deve especificar os compor- móveis que servem de assento, ou fratu-
tamentos apresentados pelo sujeito. Ao rou os ossos ilíacos?
146
Avaliação psicopedagógica
Autores: Manuel Sánchez-Cano, Joan Bonals e colaboradores
Editora: Penso
Sinopse: reunindo uma rica gama de instrumentos psicopedagógicos
e propondo uma metodologia consagrada pela reflexão e prática de
profissionais experientes e atualizados, esta obra é fonte de estudo
e consulta obrigatória para estudantes em formação e profissionais
preocupados com sua qualificação constante junto a crianças,
adolescentes e adultos com necessidades educacionais especiais.
Material Complementar
148
REFERÊNCIAS
1. A alternativa correta é a C.
2. A alternativa correta é a D.
3. A observação científica deve ser sistemática (planejada, sendo conduzida se-
gundo um objetivo estabelecido a priori) e objetiva (ou seja, limitar-se aos fatos
verdadeiramente observados). No processo de registro da observação, é funda-
mental a linguagem científica, garantindo a objetividade.
4. Na avaliação psicopedagógica proposta por Jorge Visca, podem ser utilizados as
seguintes provas e testes: as provas operatórias (de classificação, de conserva-
ção, de seriação, para o pensamento global); provas projetivas (ex: par educati-
vo, eu e os meus companheiros, família educativa, os quatro momentos do dia,
o dia do meu aniversário; minhas férias); anamnese (realizada com os responsá-
veis, verificando: aspectos gerais, evolução das aprendizagens informais, o não
aprender e o grupo familiar, evolução escolar, expectativa e diagnóstico, pessoas
significativas na vida do sujeito, interesses e habilidades e doenças da infância);
informe diagnóstico ( apresentação dos resultados da avaliação e a indicação ou
não do atendimento psicopedagógico).
5. A alternativa correta é a C.
Professora Me. Raquel de Araújo Bomfim Garcia
INTERVENÇÃO
V
UNIDADE
PSICOPEDAGÓGICA
Objetivos de Aprendizagem
■■ Compreender a importância da medição no trabalho do
psicopedagogo.
■■ Apresentar os diversos meios de intervenção que podem ser
utilizados no atendimento psicopedagógico.
■■ Distinguir o trabalho de intervenção realizado em contextos
diferentes.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
■■ O papel do psicopedagogo como mediador
■■ Estratégias de intervenção utilizadas pela psicopedagogia
■■ Intervenção clínica e institucional
153
INTRODUÇÃO
Introdução
154 UNIDADE V
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
155
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Além disso, essa relação não é automática ou espontânea, pois a vivência do ime-
diato (cotidiano) pelo aluno é segura e bem-sucedida, e deixar essa condição
não é nada fácil. Por conseguinte, é função do professor auxiliá-lo na supera-
ção dessa relação imediata com mundo, buscando substituí-la por uma relação
mediatizada pelo conhecimento que foi elaborado historicamente(KITSUE;
BARROCO, 2016).
Assim sendo, torna-se de fundamental importância que, assim como o pro-
fessor, o psicopedagogo esteja atento, por meio da observação e investigação, aos
conhecimentos já adquiridos pelo sujeito, com o intuito de organizá-lo e elevá-
-lo a outro nível.
Para Vygotsky (1998), o conceito da Zona Proximal de Desenvolvimento
(ZPD) consiste na metodologia de trabalho de mediação a qual compreende
o espaço onde o profissional trabalha, com o intuito de se aumentar o conhe-
cimento do sujeito. Para que isso ocorra, é preciso, primeiramente, identificar
o que o indivíduo pode executar sem auxílio (Zona de Desenvolvimento Real
– ZDR) e o que não consegue realizar. Assim, o objetivo da mediação é o de per-
mitir que algo o qual foi realizado pelo sujeito na ZPD ocorra em breve na ZDR,
de maneira autônoma.
Por meio das relações interpsicológicas (atividade coletiva), estabelecem-se
os pilares para a estruturação intrapsicológica (atividade individual). Além disso:
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
7 Mediação da individuação e da diferenciação psicológica
8 Mediação da busca, do planejamento e do alcance dos objetivos
9 Mediação da busca pela adaptação a situações novas e complexas: o desafio
10 Mediação da consciência da modificabilidade
11 Mediação da alternativa positiva
12 Mediação do sentimento de pertença
Fonte: adaptado de Feuerstein e Rand (1997 apud BUDEL; MEIER, 2012, p. 126).
INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
159
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mediação, mas Feuerstein explica que outras podem aprimorar ainda mais a
sua qualidade. Diante disso, apresentaremos algumas dicas importantes para o
processo de mediação que cada uma delas apresentam. Iniciamos pela media-
ção de sentimento de competência, na qual o mediador deve ater-se ao nível
de complexidade da atividade apresentada, para que a criança possa sentir-se
motivada a realizá-la, independentemente das histórias de fracasso vividas ante-
riormente (BADEL; MEIER, 2012).
Já a mediação da autorregulação e do controle do comportamento ajuda
o sujeito a planejar as suas ações, evitando a impulsividade. Para isso é impor-
tante entender as fases de uma ação, de acordo com Badel e Meier (2012):
1. Imput: fase de coletas de dados sobre o que precisa para a realização da
atividade.
2. Elaboração: nela, ocorre o planejamento da ação, sistematizando a sequ-
ência das ações.
3. Output: o sujeito apresenta os resultados solicitados na atividade, res-
pondendo apenas o que foi solicitado e, consequentemente, controla a
sua impulsividade.
INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO UTILIZADAS PELA
PSICOPEDAGOGIA
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
a afetividade, o raciocínio, o convívio social, o ritmo, a percepção, a escrita,
memória, oralidade, entre outros aspectos. Além disso, nessa programação, o
profissional sempre deve ter como foco o sujeito da intervenção e suas especifi-
cidades, bem como o significado lúdico desse instrumento.
Na brincadeira, o psicopedagogo deverá saber diferenciar os momentos nos
quais deverá apenas observar ou quando deverá intervir, coordenando a brinca-
deira. Ele também pode integrar a brincadeira, participando e tornando-se um
mediador efetivo na interação com o sujeito (OLIVEIRA, et al. 1992).
INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
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culdade; preparar para outro trabalho; para construir ou modificar outros jogos.
Podemos destacar, ainda, a dimensão socializante dos jogos, visto que, quando
se joga em equipe, a fim de se alcançar objetivos, eles promovem a convivência
e o respeito com outros e a sua cultura. Além do mais, auxiliam na aquisição
e potencialização de habilidades manuais, estimulam o raciocínio (numérico,
verbal, abstrato e visual), possibilitam o desenvolvimento da lógica e do sentido
comum, desenvolvem a imaginação, favorecem a aquisição de conhecimentos e
oferecem condições para o sujeito explorar as suas limitações (BATLLORI, 2009).
Fernández (2008) trata sobre a importância da hora do jogo psicopedagó-
gica, explicando que ela possibilita a observação da dinâmica da aprendizagem
do sujeito. Dessa forma, ajuda a compreender os aspectos que podem ter desen-
cadeado as dificuldades de aprendizagem, visto que existe uma coincidência
entre o espaço de aprender e jogar. O modo com que o jogo se desenvolve e o
tratamento do objeto esclarecem como acontece a aprendizagem desse sujeito.
Sendo assim, o brincar desenvolve o significado de aprender, o qual a criança
apresenta por meio da ação lúdica.
O jogo é um aliado importante para o psicopedagogo, na medida que auxi-
lia “no enfrentamento de situações desconhecidas que provoquem tensões,
na medida em que jogar pode aliviá-las, minimizar os erros e as dificuldades”
(BARBOSA 2012, p. 198).
Na intervenção psicopedagógica, Jorge Visca (1987) explica que, ao utilizar
os jogos nos atendimentos, deve-se levar em consideração dois aspectos: o nível
desenvolvimento do sujeito e o seu conhecimento prévio sobre o jogo.
INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
167
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
que tenha desenvolvido as suas estruturas psicomotoras, tais como: equilíbrio,
esquema corporal, orientação espaço-temporal, tonicidade, lateralidade, coor-
denação motora e imagem corporal (FERNÁNDEZ, 2001).
Podemos citar alguns exemplos de atividades psicomotoras que auxiliam no
aprimoramento de vários âmbitos. Algumas delas são:
■■ No desenvolvimento da lateralidade: chutar bola com um pé e, depois,
com o outro, ou atividades com movimentos alternados.
■■ Coordenação visomotora: quebra-cabeças, blocos lógicos ou fazer dese-
nhos em diferentes superfícies.
■■ Aprimoramento do esquema corporal: desenho da figura humana, mímica
ou construção de boneco a partir das partes.
■■ Orientação temporal: organização de histórias em quadrinhos ou repro-
dução de ritmos com objetos ou com o próprio corpo.
■■ Equilíbrio: andar sobre uma corda ou linha, ou pular com um pé só.
■■ Coordenação: rolar no chão ou pular amarelinha.
■■ Orientação espacial: caça palavras, mapas, jogo de damas.
INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
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Segundo Cunha (2007, p. 23), por meio da representação de uma situação
em específico, “a imaginação é desafiada pela busca de soluções para problemas
criados pela vivência dos papéis assumidos. As situações imaginárias estimulam
a inteligência e desenvolvem a criatividade”.
Assim, devemos compreender que esse recurso de intervenção não está dire-
tamente relacionado com a aprendizagem, mas ajuda no autoconhecimento e
na autonomia do sujeito, bem como possibilita a restauração de sua autoestima
(MORAIS; FICSSHER, [s.d.] apud MELQUIDES et al., 2018). Apesar de não
estar diretamente relacionado com a aprendizagem, esse recurso é de grande
relevância para o psicopedagogo, por possibilitar o trabalho com aspectos que
estão correlacionados à aprendizagem.
INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
171
Cada caixa de trabalho é única, não apenas porque será usada por único
paciente (individual ou grupal), mas também no sentido de que não há duas
caixas iguais, da mesma maneira que não existem dois indivíduos ou dois
diagnósticos iguais.
Fonte: Visca (1987, p. 29).
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Visca (1987) explica, ainda, que o sujeito traz, em seu mundo interno, conhe-
cimentos já compreendidos, alguns medos (da crítica, do novo e de perder
conhecimentos apropriados), talentos para dominar, determinados conteúdos,
inabilidades frente a outras pessoas, insensibilidade e sensibilidade etc. Ao orga-
nizar a caixa de trabalho psicopedagógico, é importante que os objetos colocados
representem os aspectos do mundo interno do sujeito e considerem o “estágio
de pensamento, interesses e motivações, déficits de aprendizagem, sexo, idade,
meio sociocultural, prognóstico e grau de focalização na tarefa” (VISCA, 1987,
p. 29). Dessa forma, segundo Barbosa (2001) a caixa é única, devido à sua espe-
cificidade e o seu significado para o sujeito, visto que os objetos que fazem parte
dela foram selecionados para ele.
Configuramos, aqui, algumas intervenções mais utilizadas no contexto de
atendimento psicopedagógico, as quais podem ser utilizadas no contexto clí-
nico e adaptadas para o contexto institucional. No entanto, ressaltamos que
existem muitos recursos de intervenção que podem ser adaptados para o traba-
lho psicopedagógico, conquanto que estejam em consonância com a avaliação
e a necessidade do sujeito. Assim, a criatividade no processo de intervenção é
fundamental.
É importante ressaltar que toda intervenção deve estar fundamentada em
uma linha teórica, a qual dará os subsídios para a compreensão de todo o pro-
cesso de aprendizagem do sujeito.
Segundo Barbosa (2001), existem alguns recursos que podem ajudar no pro-
cesso de aprendizagem no contexto institucional, que são:
■■ Mudança de situação: ação operativa que busca surpreender para interceder.
■■ Informação: não devem ser oferecidas prontas, para que haja um movi-
mento para a realização da atividade.
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■■ Acréscimo de modelo: oferece uma maneira diferente para que determi-
nada atividade seja efetivada.
■■ Modelo de alternativas múltiplas: respeita o conhecimento do outro, pro-
move outras reflexões, testes escolhas e conclusões.
■■ Mostra: apresenta, de forma não verbal, o movimento do indivíduo ou
do grupo, sem corrigir.
■■ Vivência do conflito: promove uma vivência de certo desequilíbrio e
ansiedade, a ponto que se impulsione o estabelecimento de novas metas
e mudanças de conduta.
■■ Problematização: apresenta situações-problema para que sejam estabele-
cidas as hipóteses, testando-as e as confirmando ou não.
■■ Destaque do comportamento: evidencia atitudes acertadas para que per-
cebam seu potencial para alcançar a meta.
■■ Explicação intrapsíquica: esclarece quais são os aspectos internos, tanto
afetivos quanto cognitivos, utilizados na situação em questão e que auxi-
liam na aprendizagem.
■■ Assinalamento: explicita as partes de uma conduta, dando ênfase à meta,
motivação e entre outras.
■■ Interpretação: apresenta a conduta em sua totalidade, enfatizando os
aspectos positivos.
Esses recursos podem ser adaptados para todas as instituições, não só a
educacional.
INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
173
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Deve-se auxiliar no resgate da instituição com o saber e, portanto, com a
possibilidade de aprender. A reflexão sobre o individual e o coletivo traz a
possibilidade da tomada de consciência e da inovação por meio da criação
de novos espaços de relação com a aprendizagem.
Fonte: Porto (2006, p. 116).
INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
175
Uma terceira tendência apresentada pelos autores busca auxiliar a escola a refletir
a respeito de sua finalidade, tornando-se compatível com os propósitos educa-
cionais que são socialmente estabelecidos pelas políticas públicas (MONEREO;
SOLÉ, 2000 apud OLIVEIRA, 2014, p. 72).
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Dentro desse processo, destacamos a importância da ludicidade em todas as
atividades de intervenção, pois ela possibilita um ambiente menos tenso, dando
condições ao aprendiz para lidar, de maneira diferente, com suas dificuldades,
ajudando-o a superá-las. Esclarecemos, no entanto, que sua utilização deve estar
pautada em objetivos claros e embasados por uma teoria, a fim de que, ao final
da atividade, os alunos possam ser avaliados, verificando a sua eficácia.
Também estudamos a importância da psicomotricidade para a aprendiza-
gem, analisando o quanto o movimento, aliado ao psíquico, é essencial para que
a criança desenvolva as habilidades básicas para a sua alfabetização. Já a expres-
são dramática traz o faz de conta enquanto instrumento de intervenção, ou seja,
pela vivência ou imitação, o sujeito pode experienciar situações desafiantes e,
muitas vezes, temidas, favorecendo sua confiança e autonomia. Agora, a caixa de
trabalho psicopedagógico auxilia na organização tanto interna quanto externa
do sujeito, pois objetos, atividades, construções etc., os quais estão nela guarda-
dos, auxiliam na compreensão do seu processo de aprendizagem como um todo.
Sendo assim, encerramos esta unidade esclarecendo sobre a intervenção do
psicopedagogo no contexto clínico e institucional, ressaltando a importância
de se estabelecer um ambiente de confiança no qual o sujeito se sinta acolhido
e seguro para apresentar as suas dificuldades. Além disso, é imprescindível ter
ciência de que essas orientações podem lhe oferecer um direcionamento para a
sua prática enquanto psicopedagogo.
INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
177
PSICOMOTRICIDADE E APRENDIZAGEM
Em 1925, através da sua análise sobre os Segundo Rosa Neto (2002), a psicomo-
estágios e os transtornos do desenvolvi- tricidade está relacionada a aspectos
mento mental e motor da criança, Henri psicológicos e cognitivos do movimento e
Wallon trouxe suas contribuições para a às atividades corporais na relação do orga-
psicomotricidade. Seu estudo foi funda- nismo com o meio em que se desenvolve.
mentado no desenvolvimento neurológico Na psicomotricidade, há elementos matu-
do recém-nascido e na evolução psicomo- racionais relacionados com os movimentos
tora da criança. Para Wallon, há uma relação e ações que se mostram quando a criança
entre motricidade e caráter, onde o movi- entra em contato com pessoas e objetos com
mento está relacionado ao afeto, à emoção, os quais se relaciona de forma construtiva.
ao meio ambiente e os hábitos da criança
(OLIVEIRA, 2009). De acordo com Oliveira (2009), o desen-
volvimento psicomotor evolui lentamente,
De acordo com Fonseca (1995), Wallon foi de acordo com experiências e oportunida-
o responsável pelo nascimento da reedu- des que a criança possui em descobrir o
cação psicomotora. Pode-se dizer que a ambiente no qual está inserida, portanto a
psicomotricidade atua nos pequenos ges- falta de habilidade motora pode ser muitas
tos e em todas as atividades que desenvolve vezes, resultado da falta de vivência corporal.
a motricidade da criança, visando ao conhe-
cimento e ao domínio do seu próprio corpo. A psicomotricidade deve ser compreen-
A estrutura da educação psicomotora é a dida como uma educação corporal básica
base essencial para o processo intelectivo na formação integral da criança, como um
e de aprendizagem da criança. meio de expressão que prioriza a dimensão
não verbal e as atividades não diretivas ou
A Associação Brasileira de Psicomotri- exploratórias em um período evolutivo con-
cidade (2012) define psicomotricidade creto, desde os primeiros meses até os 7 ou
como ciência que tem como objeto de 8 anos de idade maturativa (ARNAIZ, 2003).
estudo o homem, através do seu corpo em
movimento e em relação ao seu mundo De acordo com Vygotsky (1991), a transfor-
interno e externo. Está relacionada ao pro- mação de uma criança de um estágio de
cesso de maturação, em que o corpo é desenvolvimento para outro dependerá
a origem das aquisições cognitivas, afe- das necessidades que a criança apresenta
tivas e orgânicas. É sustentada por três e os estímulos que são eficazes para colocá-
conhecimentos básicos: o movimento, o -la em prática, sendo que a criança satisfaz
intelecto e o afeto. algumas necessidades no brinquedo.
180
Material Complementar
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REFERÊNCIAS
1. A alternativa correta é a B.
2. Quando se trata da importância da psicomotricidade no processo ensino-apren-
dizagem, é fundamental que o psicopedagogo e outros profissionais da edu-
cação tenham em mente os seguintes fatores: o movimento tem influência na
maturação do sistema nervoso; a psicomotricidade pode ser observada não só
nos pequenos gestos, mas em outras atividades que envolvem a motricidade do
sujeito; a psicomotricidade é um instrumento indispensável e fundamental no
desenvolvimento global da criança e é a base para a organização do processo
intelectual e da aprendizagem da criança. Além disso, alterações em qualquer
um dos seus elementos básicos pode dificultar a aprendizagem escolar.
3. A alternativa correta é a D.
4. A alternativa correta é a C.
5. A diferença ocorre, porque, na intervenção institucional, ocorre um deslocamen-
to do âmbito individual para o grupal. Dessa forma, ela passa a considerar uma
série de relações, voltando seu olhar para o contexto como um todo, compreen-
dendo a realidade por inteiro. O individual não é esquecido, mas deverá ser com-
preendido de maneira contextualizada, verificando as condições em que essas
relações foram produzidas e quais delas foram estabelecidas.
CONCLUSÃO