Você está na página 1de 57

Transtornos e

Distúrbios da
Aprendizagem

Franciane Heiden Rios

Livro didático
digital

Unidade 2
Transtornos
relacionados e
específicos da
aprendizagem
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
ANDRÉA CÉSAR PEDROSA
Projeto Gráfico
MANUELA CÉSAR ARRUDA
Autor
FRANCIANE HEIDEN RIOS
Desenvolvedor
CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS
Autor
FRANCIANE HEIDEN RIOS

Olá. Meu nome é Franciane Heiden Rios. Sou formada em


Pedagogia, Mestre em Educação, Especialista em Educação
Especial e Inclusiva e Tecnologias Educacionais. Estou na
Educação desde o início da minha vida profissional, cursei
Magistério, ingressei como estagiária e da escola nunca mais sai.
Esse espaço rico de aprendizagens humanas me oportunizou
pensar sobre diferentes questões e perceber as pessoas em
suas diferentes necessidades. Durante dez anos fui servidora
concursada, professora, do Município de São José dos Pinhais,
também atuei como Educadora pela Prefeitura Municipal de
Curitiba e, atualmente, sou supervisora do curso de Pedagogia
da UNIVESP – Universidade Virtual do Estado de São Paulo e
diretora pedagógica da CuriosaIdade, instituição que atua em
parceria com redes de ensino para desenvolvimento de boas
práticas educativas tendo como subsídio a perspectiva do
Desenho Universal para a Aprendizagem. Acredito no princípio
básico da Inclusão e no respeito pela diversidade, portanto,
escrever, palestrar, capacitar ou qualquer outra ação ou prática
profissional relacionada ao tema são hoje meu foco de atuação.
Desejo que tenhamos juntos um caminho rico de aprendizagens
significativas, que o material aqui proposto em suas ideias,
reflexões e discussões permitam a você um olhar sensível
à diversidade no que tange os Distúrbios e Transtornos de
Aprendizagens, contribuindo para espaços escolares inclusivos
e respeitosos.
Iconográficos
Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo pro-
jeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de
aprendizagem toda vez que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimen- de se apresentar
to de uma nova um novo conceito;
competência;
NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram
vações ou comple- que ser prioriza-
mentações para o das para você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado sobre o tema em
ou detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e sidade de chamar a
links para aprofun- atenção sobre algo
damento do seu a ser refletido ou
conhecimento; discutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma ativi- quando o desen-
dade de autoapren- volvimento de uma
dizagem for aplicada; competência for
concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Introdução......................................................................................10
Competências................................................................................11
Transtornos e distúrbios relacionados à aprendizagem:
uma categorização inicial..........................................................12
Transtorno e distúrbio: primeiras implicações.............................13
Transtornos do neurodesenvolvimento...........................15
Transtornos disruptivos, do controle dos impulsos e
da conduta............................................................................................19
Transtorno do espectro autista – TEA...................................23
Contextualização do transtorno do espectro autista.............24
Conceito e características do transtorno do espectro autista
– TEA..........................................................................................................................25
Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade – TDAH
e transtorno de oposição desafiante - TOD.........................34
Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade – TDA/H:
contexto..................................................................................................................34
Conceito e Características.........................................................36
Implicações na aprendizagem...............................................39
Transtorno de oposição desafiante – TOD: conceito e
características.....................................................................................................42
Transtorno específico da aprendizagem.............................45
Identificação do transtorno específico da aprendizagem................45
Dislexia.....................................................................................................48
Disgrafia...................................................................................................50
Discalculia..............................................................................................51
Bibliografia.....................................................................................56
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 9

02
UNIDADE

TRANSTORNOS RELACIONADOS E ESPECÍFICOS DA APRENDIZAGEM


10 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

INTRODUÇÃO
Você já deve ter visto em jornais ou em outros meios
de comunicação matérias sobre os desafios relacionados
a aprendizagem. Em muitas dessas é recorrente a
reclamação dos professores acerca dos estudantes
indisciplinados, que não respeitam regras, que não “estão
nem ai” para a escola e o que ela tem a oferecer. Mas, no
que isso se relaciona com nossa disciplina? Muitas dessas
reclamações indicam que há “algo a mais” no espaço da
escola e que essa instituição não sabe como lidar com a
demanda que emerge. Nesse “algo a mais” provavelmente
estão estudantes com transtornos diversos, que resultam
em déficits de aprendizagem e comportamentos atípicos
e que, por desconhecimento, estão sendo encarados
como os “vilões” nessa história. Diante disso, sua principal
responsabilidade é compreender esses transtornos e suas
características, percebendo como eles se manifestam
para, a partir daí, estar capacitado a mudar essa realidade,
na qual não existem “maus” e “bons” e sim, diversos, cada
qual com uma demanda e com uma condição. Ainda,
com o conhecimento em mãos, você poderá socializa-
lo, o que é fundamental para evitar a segregação desses
indivíduos que tem algum transtorno e que, portanto,
possuem dificuldades nas interações necessárias, afinal,
eles não escolheram essa condição, as crianças muitas
vezes, nem compreendem essa condição, assim, não é
justo culpabilizá-las por um clima escolar não adequado.
Como profissionais e adultos esclarecidos dessa relação,
cabe a nós buscarmos estratégias para fazer a diferença.
Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar
neste universo!
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 11

COMPETÊNCIAS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2 - Transtornos
relacionados e específicos da aprendizagem. Nosso
objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes
competências profissionais até o término desta etapa de
estudos:
1.
Conhecer a categorização dos Transtornos que
serão desenvolvidos no decorrer da unidade;
2. Conhecer e Identificar as características e
especificidades do Transtorno do Espectro Autista;
3. Conhecer e Identificar as características e
especificidades do Transtorno de Déficit de Atenção/
Hiperatividade – TDA/H e Transtorno de oposição
desafiante – TOD;
4. Conhecer e Identificar o Transtorno Específico da
Aprendizagem, especificamente, a Dislexia, Disgrafia e
Discalculia.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo


ao conhecimento? Ao trabalho!
12 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Transtornos e distúrbios relacionados à


aprendizagem: uma categorização inicial
Ao término deste capítulo você será capaz de
identificar e reconhecer os principais Transtornos do
Neurodesenvolvimento e, especificamente, compreender a
diferença desses em relação aos Transtorno disruptivos, do
controle dos impulsos e da conduta, iniciando a trajetória
formativa para compreender os transtornos de maior
recorrência/incidência no que se relaciona à aprendizagem.
Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. As
pessoas que tentaram discutir assuntos relacionados aos
transtornos sem conhecer essas especificidades ferais,
poderão confundir indicativos, características e evidências,
comprometendo a aprendizagem e o trabalho junto ao
estudante. E então? Motivado para desenvolver esta
competência? Então vamos lá. Avante!

Figura 1: Dificuldade de aprendizagem

Fonte: Freepik.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 13

Transtorno e distúrbio: primeiras


implicações
Compreender o que a literatura nos indica sobre
a definição dos conceitos de Transtornos e Distúrbios é
fundamental para avançarmos nas especificidades de cada
manifestação. Nesse sentido, é fundamental evidenciar
que o viés comportamentalista, esse que ampara as
discussões aqui propostas, considera distúrbio e transtorno
como nomenclaturas equivalentes, apesar de que, em
aspectos neurológicos existirem diferenciação entre essas
condições.

NOTA:
Para efeito de esclarecimento, distúrbio,
conforme evidencia Fonseca (1995), está
relacionado a um grupo de dificuldades
específicas e pontuais, caracterizadas por uma
disfunção neurológica, ou seja, há evidências
de disfunção do sistema nervoso central
no cérebro, o que resulta em desequilíbrio
patológico em decorrência da alteração da
ordem natural. Já o transtorno, conforme aponta
Relvas (2008, p. 53) consiste em: “conjunto
de sinais sintomatológicos que provocam
uma série de perturbações no aprender da
criança, interferindo no processo de aquisição
e manutenção de informação de uma forma
acentuada”, ou seja, é uma perturbação de
ordem psicológica e/ou mental.
14 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Tendo como suporte a literatura médica, é possível


compreender um pouco melhor o que se entende e se
diferencia por Transtorno e Distúrbio. Ambos nos indicam uma
“[...] alteração da normalidade, seja de natureza estrutural,
funcional ou comportamental” (REZENDE, 2008, p. 281), porém,
Transtorno está mais próximo às alterações de personalidade
e comportamento e, distúrbio, das alterações de natureza
funcional e estrutural. Um exemplo dessa explicação é o caso
de dois indivíduos autistas: o primeiro com dano cerebral,
intercorrente de má formação, ou seja, apresenta distúrbio
em aspectos cognitivos e como comorbidade, encontra-
se no Transtorno do Espectro Autista (TEA); já o segundo,
descarta-se qualquer disfunção na estrutura cerebral, mas,
em condição clínica, também encontra-se no espectro.
É fato que nem todo transtorno e distúrbio é específico
da aprendizagem, entretanto, compreendendo o processo
de aprender como complexo e multifacetado, no qual
operam vários fatores e que o indivíduo biopsicossocial
é ativo e precisa ser considerado, faz-se necessário para
efeito de conhecimento geral apontar que, conforme
nos indica Perraudeau (2009), os Transtornos de Saúde,
Transtornos de sono, Transtornos psicomotores e
Transtornos ligados à depressão estão diretamente ligados
ao processo educacional, reforçando a necessidade de
uma equipe multidisciplinar capaz de encaminhar e atender
as demandas dos alunos de forma qualificada, auxiliando
professores e pedagogos no processo de inclusão e de
estratégias conjuntas para otimizar o processo ensino-
aprendizagem.
Tendo como espaço de reflexão a escola e como
relação o processo de ensino-aprendizagem, seguiremos
a categorização e reflexão dos Transtornos e Distúrbios
considerando aqueles que são mais recorrentes de
incidência no espaço escolar e alteram a condição docente,
estruturando conforme figura 1.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 15

Figura 2: Esquema transtornos e distúrbios

Transtornos
Transtornos de
disruptivos, do
Neurodesenvolvimento
controle de
impulsos e da
conduta

Transtornos Transtorno
Deficiências Transtorno do
Específicos da de oposição
Intelectuais Espectro Autista
aprendizagem desafiante

Transtornos da Transtorno
Comunicação de déficit de
Atenção/
Hiperatividade

Dislalia Disgrafia Discalculia

Fonte: Elaborada pela autora (2019)

Diante da organização proposta, avançamos para


a compreensão de cada condição geral relacionada aos
transtornos: Transtornos de Neurodesenvolvimento e
Transtornos disruptivos, do controle dos impulsos e da
conduta, conceituando-os e diferenciando-os.

Transtornos do neurodesenvolvimento
Os Transtornos de Neurodesenvolvimento abarcam
um grupo de condições relacionadas que são evidentes
desde o início do desenvolvimento do indivíduo. Apesar de
serem percebidos com maior incidência no período escolar,
no processo de anamnese se evidencia que, tipicamente, a
manifestação é anterior a etapa da escolarização.
16 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

VOCÊ SABIA?:
Anamnese é uma entrevista dirigida com itens
estruturados e semiestruturados utilizados por
diversas áreas, inclusive a psicopedagogia,
para conhecer, organizar e registrar a história
clínica, social e cultural do indivíduo. Tem como
intenção subsidiar um perfil inicial para o trabalho
a ser desenvolvido junto ao sujeito do processo,
estabelecendo a aproximação e elencando
características que auxiliem o profissional na
proposição de seu plano de trabalho.

Em relação ao desenvolvimento, resguardado


a especificidade de cada condição, os Transtornos
de Neurodesenvolvimento acarretam prejuízos no
funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional,
variando o grau da limitação e a condição de sua
manifestação. Entretanto, em senso comum, existem
generalizações que resultam em banalização dos
transtornos e, até, em falsos diagnósticos e, outros, que
reforçam a ideia de que “toda condição diversa traz consigo
uma super-habilidade”. É fato que sim, no TEA é possível
encontrarmos figuras de destaque, assim como em outros
transtornos. Dessa explicação, vários exemplos tiveram
destaque na mídia:

Exemplo 1: Um falso exemplo de diagnóstico de TEA


em decorrência de características de personalidade.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 17

Como o autismo ajudou o Messi a se tornar


o melhor do mundo.
Publicado por Roberto Amado - 30 de junho de 2018

Os sitomas de Síndrome de Asperger trabalharam.


www.diariodocentrodomundo.com.br

Exemplo 2: Cartaz e crítica do filme que retrata o


monarca George VI que, apesar de seu transtorno da fala
(gagueira), demonstrou sua habilidade comunicativa no
discurso retratado no longa metragem.

A história de um rei gago


Com 12 indicações ao Oscar, o filme “O Discurso do Rei” retrata com
fidelidade as dificuldades de George VI com a gagueira, mas peca no
registro de fatos históricos.

Istoé

Esses recortes são exemplos de como um transtorno


de desenvolvimento são percebidos socialmente, estão
incorporados nos discursos das pessoas e, na verdade,
impactam em níveis e em áreas diferentes de cada indivíduo,
não havendo, portanto, uma condição niveladora para cada
caso. E, sabermos disso é muito importante, afinal, nem todo
autista é brilhante em alguma área, nem todo gago canta
bem e, quase sempre, afirmações generalistas como essas
servem apenas para prejudicar boas práticas relacionadas
à diversidade e à inclusão, pois, deslocam o centro da
atenção pedagógica para habilidades e competências
que os indivíduos podem não ter e não há comprovação
18 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

alguma, negligenciando aquilo que é evidente e disponível


para o trabalho pedagógico. O fato constatado é que:

“[...] os déficits de desenvolvimento variam desde


limitações muito específicas na aprendizagem ou no
controle de funções executivas até prejuízos globais em
habilidades sociais ou inteligência.” (DSM-V, 2014, p. 81).

Tendo como base o Manual Diagnóstico e Estatístico


de Transtornos Mentais – DSM-V, integram o quadro dos
Transtornos do Neurodesenvolvimento as seguintes
manifestações que serão apenas apresentadas aqui e
desenvolvidas em capítulos específicos no decorrer do
material:
1. Deficiências Intelectuais (Transtornos do
Desenvolvimento Intelectual);
2. Transtornos da Comunicação;
3. Transtorno do Espectro Autista;
4. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade;
5. Transtornos específicos da Aprendizagem.

Para avançarmos com qualidade nas discussões e


cumprirmos com os objetivos propostos a esse material,
serão objetos de estudo nos capítulos posteriores: o
Transtorno do Espectro Autista, o Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade e os Transtornos específicos da
aprendizagem, especificamente: a dislalia, a disgrafia e
a discalculia. Na sequência, explicitaremos o conceito e
características dos Transtornos disruptivos, do controle dos
impulsos e da conduta.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 19

ACESSE:
Para conhecer os demais transtornos sem
a necessidade de recorrer a uma literatura
densa, como no caso do Manual Diagnóstico
e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-V,
acesse a Tabela Periódica dos Transtornos
Emocionais, elaborada pela Vittude (plataforma
que aproxima pacientes e psicólogos),
disponível em: http://conteudo.vittude.com/
e-book-tabela-periodica-de-transtornos-
emocionais.

Transtornos disruptivos, do controle dos impulsos


e da conduta
Os transtornos disruptivos, do controle de impulsos
e da conduta, esses que incluem condições que
envolvem problemas de autocontrole de emoções e de
comportamentos. Falar sobre essa condição é importante,
pois, diferente dos demais transtornos que também
envolvem questões de regulação emocional e/ou
comportamental, os transtornos disruptivos são:

“[...] exclusivos no sentido de que esses problemas se


manifestam em comportamentos que violam os direitos
dos outros (p. ex., agressão, destruição de propriedade)
e/ou colocam o indivíduo em conflito significativo com
normas sociais ou figuras de autoridade.” (DSM-V, 2014,
p. 461).

Portanto, sendo a escola um espaço de relações


sociais, regrado e normatizado, no qual figuras de autoridade
se fazem necessárias, a manifestação dessa condição
implica em situações problemáticas que interferem no
20 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

clima escolar e, consequentemente, nos processos de


ensino e aprendizagem.

DEFINIÇÃO:
Os Transtornos disruptivos, do controle de
impulsos e da conduta são aqueles relacionados
aos problemas na regulação emocional e
comportamental. Se diferenciam entre si pela
expressão do transtorno, por exemplo:
No transtorno de conduta, os comportamentos
são poucos controlados e podemos resultar em
emoções como sintomas comportamentais, como
a agressão ao ser repreendido.
No transtorno relacionado ao impulso, como o
Transtorno explosivo intermitente, as emoções são
pouco controladas e, portanto, a expressão delas
é desproporcional à intercorrência geradora. Ou
seja, por menor que seja o fato, o indivíduo pode
ter rompantes de raiva inexplicáveis e muito além
da situação ocorrida.

Figura 3: Raiva

Fonte: Pixabay
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 21

Retornando à aprendizagem, dentro dos diversos


transtornos que essa categoria abarca, está o Transtorno
de Oposição Desafiante, cada vez mais identificado nas
relações escolares que, conforme avançaremos, é o
intermediário em questões de comportamento e emoções
e vigora como grande desafio aos educadores.

ACESSE:
No Vídeo: Como detectar cedo o Transtorno
de Aprendizagem? O neuropediadra Drº Clay
Brites, diretor da NeuroSaber, explica sobre
características, manifestações e evidências
que podem auxiliar a perceber e encaminhar
de forma adequada crianças que apresentem
algum transtorno de aprendizagem. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=B_
zTflUMihM
22 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

RESUMINDO:
E então? Gostou do que lhe mostramos?
Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos
certeza de que você realmente entendeu o tema
de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo
o que vimos. Você deve ter aprendido que no
quadro geral dos transtornos, apesar de termos
vários, optamos por trabalhar com os Transtornos
do Neurodesenvolvimento e, especialmente, o
Transtorno de Oposição Desafiante, que integra os
Transtornos disruptivos, do controle dos impulsos
e da conduta. Essa categorização inicial se faz
necessária para justificar o motivo de muitos serem
semelhantes em alguns aspectos, se aproximando
muito em características e manifestações.
Ainda, reforçamos que o papel do pedagogo
e do psicopedagogo não é, e nunca será, o de
assumir de forma individual a responsabilidade
por diagnosticar transtornos e distúrbios de
aprendizagem. Ainda, que por se tratarem de
patologias e distúrbios, o diagnóstico é do campo
da medicina, apenas podendo ser realizado por
neuropediatras e especialistas na área. O campo de
estudo do psicopedagogo é a aprendizagem, seu
diagnóstico no campo pedagógico é processual
e contribui com elementos para que os demais
profissionais possam ter recursos para amparar o
diagnóstico de forma mais substancial e correta.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 23

Transtorno do espectro autista – TEA


Ao término deste item você será capaz de
compreender e identificar as principais características
relacionadas ao Transtorno do Espectro Autista – TEA e a
sua relação com a aprendizagem. Sendo um dos transtornos
com maior aumento de casos e a eminente preocupação
com o diagnóstico precoce, esses conhecimentos serão
fundamentais para o exercício de sua profissão. Ainda, as
informações discutidas são atualizadas de acordo com o
DSM-V, apresentando a nova categorização e denominação
do espectro, aprendizagem que será diferencial em seu
trabalho junto aos estudantes na avaliação e promoção
de aprendizagens significativas. As pessoas que tentaram
qualquer interação ou mediação sem compreender as
especificações do TEA podem apresentar informações
erradas e gerar expectativas equivocadas em relação
ao potencial, às habilidades e ao desenvolvimento
dos estudantes, impactando significativamente na vida
desses sujeitos. E então? Motivado para desenvolver esta
competência? Então vamos lá. Avante!
Figura 4: Símbolo do autismo

Fonte: Freepik
24 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Contextualização do transtorno do espectro


autista
Segundo dados do CDC – Center of Deseases Control
and Prevention a cada 110 (cento e dez) pessoas, uma estaria
no espectro autista. No Brasil estima-se que, em variadas
faixas etárias e núcleos sociais, tenha-se uma população
que integre cerca de 2 (dois) milhões de pessoas no
espectro. Em projeção, utilizando-se de países nos quais as
fontes de registro, monitoramento e censitárias no caso do
TEA configuram-se mais efetivas, os dados apontam para
uma matriz crescente nos Estados Unidos que 1 a cada 150
pessoas no período dos anos de 2000 a 2002, 1 a cada 68
pessoas, no período de 2010 a 2012 e, por fim, 1 a cada 58
de 2013 a 2014. Com base nos dados apresentados, estima-
se que no Brasil se tenha uma população de cerca de 2
(dois) milhões de pessoas no TEA.
A proporção populacional em destaque ampliou as
discussões acerca do TEA e, especificamente no Brasil,
questões relacionadas ao diagnóstico, tratamento e
acompanhamento evidenciaram a necessidade de se
discutir o diagnóstico precoce e em curso, bem como, a
necessidade de articulação entre as diferentes instituições
sociais para essa ação, afinal, sendo um “[...] transtorno
persuasivo e permanente, não havendo cura [...]”, (SBP, 2019,
p.3) quanto mais cedo aconteçam os encaminhamentos
necessários, melhores serão as condições de vida e
prognóstico para as crianças que estejam no TEA.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 25

Conceito e características do transtorno do


espectro autista – TEA
Figura 5: A criança que evita o contato

Fonte: Freepik

Para entendermos a especificação atual do TEA,


teremos como fonte o DSM-V, o Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais, documento da American
Psychiatric Association que classifica e organiza os critérios
relacionados aos transtornos mentais. Esse documento
tem como objetivo estabelecer fontes, protocolos e
informações que permitam diagnósticos mais confiáveis
desses transtornos, entretanto, enfatiza que, apesar do seu
texto ter se tornado referência para a prática clínica, seu
texto necessita sempre da interpretação e do bom-senso
do profissional que o lê, sendo o DSM um guia prático,
funcional e flexível para organizar informações que podem
auxiliar o diagnóstico e a coleta de evidências. Reforçando
sempre que, por mais que seja pensado à prática clínica,
o DSM se propõe vários contextos, sendo utilizado por
26 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

diversas áreas, inclusive na Educação para refinar o olhar


dos profissionais que atuam na diversidade e prezam por
uma Educação verdadeiramente inclusiva, possibilitando
a esses conhecer de forma mais estruturada sintomas,
características e eventos relacionados às doenças e
transtornos que habitam os espaços escolares.
Sobre o TEA, a versão de 2015 do DSM avança em
dois sentidos, primeiramente por ampliar seu texto para
as representações de questões de desenvolvimento
relacionadas ao diagnóstico e, por fim, por sedimentar uma
nova abordagem e classificação em relação ao transtorno.
O Transtorno do Espectro Autista – TEA é definido como
um transtorno do desenvolvimento neurológico
que, como decorrência, resulta em dificuldades de
comunicação e interação social, bem como, pela presença
de comportamentos ou interesses restritos ou repetitivos.
Tais sintomas nucleares são recorrentes nos indivíduos
diagnosticados no TEA em graduações variáveis,
resultando na adoção do termo "espectro autista", que
engloba a heterogeneidade de respostas aos estímulos, às
habilidades mantidas e aos prejuízos evidenciados (HÖHER
CAMARGO; BOSA, 2009; SCHWARTZMAN, 2011).

DEFINIÇÃO:
Transtorno do espectro autista - trata-se de um
transtorno pervasivo e permanente, não havendo
cura, ainda que a in¬tervenção precoce possa
alterar o prognóstico e suavizar os sintomas.
Além disso, é importante enfatizar que o impacto
econômico na família e no país, também será
alterado pela intervenção precoce intensiva e
baseada em evidência. (SBP, 2019, p. 01)
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 27

O DSM-V apresenta em seu texto a fusão de


transtorno autista, transtorno de Asperger e transtorno
global do desenvolvimento em uma categoria denominada
Transtorno do Espectro Autista – TEA, por considerar
que os sintomas desses transtornos representam um
continuum único de prejuízos com intensidades que vão
de leve a grave nos domínios de comunicação social e
de comportamentos restritivos e repetitivos em vez de
constituir transtornos distintos. Essa mudança permite
maior sensibilidade e especificidade no diagnóstico do TEA
e melhor acompanhamento e tratamento dos prejuízos
observados.

Tabela 1: Sinais de alerta para o TEA

Em qualquer idade: perdeu habilidades.

6 meses 9 meses 12 meses


Poucas expressões Não faz troca de Ausência de
faciais, baixo turno comunicativa, balbucios, não
contato ocular, não balbucia apresenta gestos
ausência de sorriso “mamã/papa”, convencionais
social e pouco não olha quando (abanar para
engajamento chamado, não olha dar tchau, por
sociocomunicativo. para onde o adulto exemplo), não
aponta, imitação fala mamãe/
pouca ou ausente. papai, ausência
de atenção
compartilhada.

Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria (2019, p. 3)


28 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) é


possível relacionarmos os seguintes sinais como indicativos
se presentes antes dos 12 meses de idade:
perder habilidades já adquiridas, como balbu¬cio ou
gesto dêitico de alcançar, contato ocu¬lar ou sorriso social;
não se voltar para sons, ruídos e vozes no am¬biente;
não apresentar sorriso social;
baixo contato ocular e deficiência no olhar sustentado;
baixa atenção à face humana (preferência por objetos);
demonstrar maior interesse por objetos do que por
pessoas;
não seguir objetos e pessoas próximos em
mo¬vimento;
apresentar pouca ou nenhuma vocalização;
não aceitar o toque;
não responder ao nome;
imitação pobre;
baixa frequência de sorriso e reciprocidade social,
bem como restrito engajamento social (pouca iniciativa e
baixa disponibilidade de resposta)
interesses não usuais, como fixação em estí¬mulos
sensório-viso-motores;
incômodo incomum com sons altos;
distúrbio de sono moderado ou grave;
irritabilidade no colo e pouca responsividade no
momento da amamentação. (SBP, 2019, p. 02)

Sobre a definição do TEA, o DSM-V globalmente


aponta como

“déficits persistentes na comunicação social e na interação


social em múltiplos contextos, conforme manifestado
pelo que segue, atualmente ou por história prévia [...]”
(2015, p. 50), classificado por níveis, conforme tabela a
seguir:
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 29

Tabela 2: Níveis de gravidade do TEA

COMPORTAMENTOS
NÍVEL DE
COMUNICAÇÃO SOCIAL RESTRITIVOS E
GRAVIDADE
REPETITIVOS

Déficits graves nas habi-


lidades de comunicação
social verbal e não verbal
causam prejuízos graves
de funcionamento, gran- Inflexibilidade de com-
de limitação em dar início portamento, extrema
a interações sociais e res- dificuldade em lidar
posta mínima a aberturas com a mudança ou
Nível 3 sociais que partem de outros comportamen-
“Exigindo outros. Por exemplo, uma tos restritos/repetitivos
apoio muito pessoa com fala inteligí- interferem acentuada-
substancial” vel de poucas palavras mente no funcionamen-
que raramente inicia as to em todas as esferas.
interações e, quando Grande sofrimento/
o faz, tem abordagens dificuldade para mudar
incomuns apenas para o foco ou as ações.
satisfazer a necessida-
des e reage somente a
abordagens sociais muito
diretas.

Déficits graves nas habi-


lidades de comunicação
Inflexibilidade do com-
social verbal e não verbal;
portamento, dificuldade
prejuízos sociais aparen-
de lidar com a mudança
tes mesmo na presença
ou outros compor-
de apoio; limitação em
tamentos restritos/
dar início a interações so-
repetitivos aparecem
Nível 2 ciais e resposta reduzida
com frequência su-
“Exigindo ou anormal a aberturas
ficiente para serem
apoio sociais que partem de
óbvios ao observador
substancial” outros. Por exemplo, uma
casual e interferem no
pessoa que fala frases
funcionamento em uma
simples, cuja interação
variedade de contextos.
se limita a interesses es-
Sofrimento e/ou dificul-
peciais reduzidos e que
dade de mudar o foco
apresenta comunicação
ou as ações.
não verbal acentuada-
mente estranha.
30 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Na ausência de apoio,
déficits na comunicação
social causam prejuízos
notáveis. Dificuldade para
iniciar interações sociais
e exemplos claros de
respostas atípicas ou Inflexibilidade de com-
sem sucesso a abertu- portamento causa in-
ras sociais dos outros. terferência significativa
Pode parecer apresentar no funcionamento em
Nível 1
interesse reduzido por um ou mais contextos.
“Exigindo
interações sociais. Por Dificuldade em trocar
apoio”
exemplo, uma pessoa de atividade. Problemas
que consegue falar fra- para organização e pla-
ses completas e envol- nejamento são obstá-
ver-se na comunicação, culos à independência.
embora apresente falhas
na conversação com os
outros e cujas tentativas
de fazer amizades são
estranhas e comumente
malsucedidas.

Fonte: DSM-V (2015, p. 52)

Sobre o diagnóstico precoce, o DSM-V aponta que


os sintomas são passíveis de serem reconhecidos durante
o segundo ano de vida, dos 12 aos 24 meses e, em casos
mais graves, são perceptíveis antes dos 12 meses, sendo o
padrão inicial sintomáticas informações sobre
“[...] atrasos precoces do desenvolvimento ou quaisquer
perdas de habilidades sociais ou linguísticas” (2015, p.
58). Relatos familiares respaldam essas percepções,
conforme apontado no documento, pais ou cuidadores
identificam “[...] deterioração gradual ou relativamente
rápida em comportamentos sociais ou nas habilidades
linguísticas.” (2015, p. 63), no período entre 12 e 24
meses de idade, sendo raros os casos de regressão do
desenvolvimento que ocorrem após pelo menos 2 anos
de desenvolvimento normal.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 31

Portanto, as características comportamentais do


TEA são evidentes na primeira infância, principalmente
no que se relaciona à falta de interesse em interações
sociais no primeiro ano de vida, estagnação ou regressão
no desenvolvimento com uma deterioração gradual ou
relativamente rápida em comportamentos sociais ou uso da
linguagem, habitualmente durante os dois primeiros anos
de vida, sendo raras essas evidências em outros transtornos
relacionados à infância. Como exemplos cotidianos desses
apontamentos podemos citar de acordo com o DSM-V:

a) Puxar as pessoas pela mão sem nenhuma tentativa


de olhar para elas.
b) Carregar brinquedos, mas nunca brincar com eles.
c) Conhecer o alfabeto, mas não responder ao próprio
nome.
d) Ingerir os mesmos alimentos.
e) Assistir muitas vezes ao mesmo filme.
f) Alinhar os objetos durante horas e sofre bastante
quando algum deles é movimentado.

Ainda sobre questões precoces, o DSM-V aponta que


o TEA não é um transtorno degenerativo o que, portanto,
indica um cenário favorável para a intervenção precoce, afinal,
aprendizagens compensações serão contínuas e persistentes
ao longo da vida o que contribuirá para melhor qualidade de
vida da criança havendo atendimento adequado, afinal

[...] os sintomas são frequentemente mais acentuados na


primeira infância e nos primeiros anos da vida escolar,
com ganhos no desenvolvimento sendo frequentes no
fim da infância pelo menos em certas áreas (por exemplo,
aumento no interesse por interações sociais). (DSM-V,
2015, p. 69)
32 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Portanto, o DSM-V contribui para que, embora as


crianças diagnosticadas no TEA apresentem dificuldades
em comportamentos que regulam a interação social
e a comunicação, com diferentes níveis de interesse
na reciprocidade social e emocional (GÓMEZ; TORRES;
ARES, 2009; NOGUEIRA, 2009), é fato que, cada qual em
sua especificidade, possui potencialidades apesar das
dificuldades centrais do espectro. Ainda, a intervenção
terapêutica, mais que minimizar os sintomas do TEA
na visão de “homogeneizar comportamentos típicos”,
estabelece recursos, ferramentas e caminhos para que as
crianças possam melhor interagir, cada qual à sua maneira,
respeitadas sua condição individual. E, quanto mais cedo
acontecer a intervenção, maior a garantia de oportunidade
será dada às crianças.
Essas indicações e apontamentos propostos no
Manual são fundamentais para, principalmente, reforçar
a importância da estimulação precoce nas crianças em
suspeita ou diagnosticadas no TEA, afinal, quanto mais cedo
maior se aproveita o período sensitivo oportunizados pelas
janelas no cérebro da criança. De forma precoce e intensivo
o plano terapêutico é fundamental para a qualidade de vida
e, em uma perspectiva inclusiva, o respeito à diversidade
exige a compreensão de que a diferença não precisa
ser “curada”, tampouco, o comportamento do indivíduo
deve ser pensado ou almejado pela perspectiva do que
é “normal” apenas pelo fato de não ser recorrente em
neurotípicos. Toda e qualquer intervenção ou proposta
assistiva deverá ter como único objetivo a qualidade de
vida da criança, o desenvolvimento de sua autonomia e de
suas potencialidades.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 33

RESUMINDO:
E então? Gostou do que lhe mostramos?
Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para
termos certeza de que você realmente entendeu
o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir
tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que
utilizamos como referência o Manual Diagnóstico
e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-V
para falar sobre o Transtorno do Espectro Autista,
afinal, é nessa publicação que temos a mudança
de perspectiva sobre essa condição e passamos
a melhor entende-la como um espectro, que é
variável em nível e em características. Ainda, foram
apresentadas as características que indicam a
presença do espectro, sendo a principal condição
o atraso no desenvolvimento da linguagem com
prejuízo na interação social. Por fim, esperamos que
você tenha percebido que os indivíduos que estão
no espectro são diversos: nem todos apresentam
altas habilidades, agressividade acentuada, são
não-verbais ou não gostam de ser tocados. Cabe
ao professor perceber e conhecer seu estudante,
permitindo-lhe expressar suas potencialidades e
necessidades.
34 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Transtorno de déficit de atenção/


hiperatividade – TDAH e transtorno de
oposição desafiante - TOD
Ao término desta unidade você será capaz de
identificar e compreender o Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade, conhecendo suas características
e avançando para desconstruir a lógica de que “é moda,
todos hoje tem TDA/H”. Ainda, propomos apresentar o
TOD – Transtorno de Oposição Desafiante, com o intuito de
esclarecer e diferenciar esses dois transtornos que, muitas
vezes, são confundidos e por serem diferentes em sua
origem, necessitam de encaminhamentos e abordagens
distintas. Isso será fundamental para o exercício de sua
profissão. As pessoas que se depararem com estudantes
com TDA/H sem a devida instrução, poderão prejudicar
significativamente o desenvolvimento desses indivíduos,
optando por práticas ineficazes e que ao invés de contribuir,
podem até prejudicar e traumatizar. E então? Motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!

Transtorno de déficit de atenção/


hiperatividade – TDA/H: contexto
É comum aparecer em algumas reportagens, em
diversos canais de comunicação sobre crianças que “não
param”, que “atrapalham”, que “parecem não ter limites” e que,
“são tão mal-educadas” que nada “parece dar jeito”. Temos
aquelas que parecem estar “no mundo da lua”, que veio para
escola “mas parece que não chegou”. E, transpondo essas
condições para a aprendizagem, esses comportamentos
são essenciais para o sucesso ou fracasso do processo.
Entretanto, nesse universo de indivíduos que
“perturbam a ordem” do contexto temos desde crianças
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 35

que, de fato, precisam de reguladores simples de


comportamento, ou que apresentam questões de saúde,
ou de rotina como horário correto para dormir; e outras
que, apesar de todos os esforços nesse sentido, seja por
parte da família e dos demais adultos relacionados, ainda
sim, persistem nessas características, reforçando que
apesar das mudanças e reestruturações ambientais, algo
intrínseco a ela a faz agir, se comportar e se relacionar dessa
determinada forma. Muitas dessas crianças podem ter
Transtorno de Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade
– TDA/H, tema desse nosso tópico de estudo.
As primeiras menções acerca de crianças com
características semelhantes ao quadro do TDA/H datam
o século XIX principalmente na literatura infantil, sendo
traduzida para a Língua Portuguesa em 1950 retratando as
“crianças danadas”, dentre os títulos estão “João Felpudo” e
“Juca e Chico”.
Figura 6: Capas dos livros de literatura infantil

Fonte: Amazon | Saraiva

E, assim como a trajetória de todo transtorno, com o


TDA/H não foi diferente. Sua identificação foi em instituições
psiquiátricas e, nesses casos, em situações inconcebíveis
em tempos após a reforma psiquiátrica que aconteceu no
Brasil em 2001, em vigor com a Lei Federal nº 10.216.
36 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

SAIBA MAIS:
Indicamos a leitura da Lei Federal nº 10.216,
promulgada em 2001 após o Brasil ter se tornado
signatário da Declaração de Caracas em 1990, que
previa a reforma e reestruturação da assistência
psiquiátrica.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm

Nessa trajetória o que é importante para nossa


aprendizagem e, portanto, precisamos compreender é
que o TDA/H não é algo recente e, enquanto princípio
ético torna-se obrigação dos profissionais desconstruir
a ideia de que indivíduos com esse transtorno são assim
porque “simplesmente não foram educados”, ainda, que é
“moda”, toda criança “mal-educada” ou “avoada” agora tem
“desculpa”, pois, é TDA/H.
O Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade é
algo real, apesar de seu diagnóstico ser clínico e, portanto,
não haver qualquer lesão cerebral. Estudos epidemiológicos
realizados em diversos países comprovam que o TDA/H
não é secundário a fatores ambientais, ou seja, não está
relacionado à falta de limites por parte dos pais ou à conflitos
psicológicos, ainda, que segundo apontam Polanczyck e
cols. (2007) com dados de 2005, cerca de 5% da população
infantil tem TDA/H, fazendo com que seja indispensável
a construção de conceitos e saberes relacionados a esse
transtorno.

Conceito e Características
É fundamental termos o conceito do TDA/H
bem esclarecido para avançar em qualquer sondagem
pedagógica, para isso, destacamos sua característica
essencial:
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 37

Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: é um


padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-
impulsividade que interfere no funcionamento ou no
desenvolvimento. (DSM-V, 2014)
As primeiras características que precisam ser
esclarecidas, portanto, são: desatenção, hiperatividade e
impulsividade, essas que não devem ficar restrita ao senso
comum, afinal, ao tratarmos de um transtorno/déficit,
alguns padrões devem ser assegurados.
A desatenção tem como evidência comportamental
e se manifesta das seguintes formas:
Divagação em tarefas;
Falta de persistência;
Dificuldade de manter o foco;
Desorganização.

Não pode ser confundida como falta de compreensão,


seja pela dificuldade do desafio proposto ou da demanda,
nesses casos poderá haver indicativo de outras questões
cognitivas.
Figura 7: Dificuldade

Fonte: Pixabay.
38 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Já a hiperatividade está relacionada a atividade


motora excessiva. É aquela criança que se mexe a todo o
momento mesmo quanto concentrada, “batuca” objetos ou
partes do corpo ou conversa em excesso, é a manifestação
de inquietude extrema que gera o esgotamento dos outros
e de si na realização das atividades diárias. É importante
estarmos atentos para não confundir o que é tido como
normalidade da atividade infantil: expressão, oralidade,
movimento e atividade com as características do TDA/H,
no caso do transtorno, é algo que se manifesta para além
do aceitável, gerando prejuízos sociais.
Diferente da hiperatividade, a impulsividade se refere
ao “agir sem pensar”, são as ações precipitadas e sem
premeditação, com elevado potencial de dano ao indivíduo.
Essa característica está relacionada ao imediatismo e
a dificuldade de postergar desejos e recompensar. Se
manifesta de várias formas, desde: sair correndo e atravessar
a rua, até interrupções em excesso de conversas.
Figura 8: Conversa excessiva na sala de aula

Fonte: Freepik
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 39

VOCÊ SABIA?:
Para conhecer mais sobre o TDA/H você pode
contar com a Associação Brasileira do Déficit
de Atenção (ABDA), que é uma associação
de pacientes, sem fins lucrativos, fundada em
1999, com o objetivo de disseminar informações
corretas, baseadas em pesquisas científicas, sobre
o Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade
(TDAH). Além disso, essa instituição oferece
suporte às pessoas com esse transtorno e a seus
familiares através de grupos de apoio, atendimento
telefônico e, especialmente, resposta a e-mails
e postagens de conteúdos em nosso site que é
tido como referência nacional na web, com uma
média de 200 mil visitas mensais. Para acessar as
informações utilize o link: https://tdah.org.br/a-
abda/quem-somos/

Outro indicativo fundamental para que de fato o TDA/H


seja considerado, é o de que as manifestações do transtorno
devem ocorrer em, pelo menos, dois ambientes distintos,
mesmo que as formas e amplitudes sejam diferentes.

Implicações na aprendizagem
Em relação à aprendizagem, o TDA/H resulta em:

“[...] desempenho escolar e sucesso acadêmico reduzidos,


rejeição social e, nos adultos, a piores desempenho,
sucesso e assiduidade no campo profissional e a maior
probabilidade de desemprego, além de altos níveis de
conflito interpessoal.” (DSM-V, 2014, p. 69).

Porém, a diferença entre “sucesso” e “fracasso”


acadêmico está diretamente relacionada ao diagnóstico
40 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

e acompanhamento multidisciplinar que as crianças


terão à sua disponibilidade. Questões relacionadas à
autodeterminação precisarão ser ajustadas e, ao profissional
da educação, caberá o olhar sensível da compreensão de
que não se trata de “preguiça”, “irresponsabilidade” ou “falta
de cooperação”, mas, sim, de uma condição e que, portanto,
assim como se constrói rampas para cadeirantes, será
necessário construirmos acessos para que os estudantes
com TDA/H consigam cumprir com seus objetivos de
aprendizagem.
Figura 9: Adequação de atividade
Atividade original

Fonte: Acervo da autora (2019)

Atividade fracionada em etapas com recurso do


desenho. Ao final, o estudante formalizou o registro do
processo abstrato no caderno.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 41

Figura 10: Atividade etapa recurso desenho

Fonte: Acervo da autora (2019)

Assim, mais que modelos ou “receitas mágicas”, os


estudantes com TDA/H precisam de oportunidades e
professores capacitados a atendê-los na mediação de sua
aprendizagem. O primeiro passo é conhecer o transtorno
e suas implicações, o que esperamos ter cumprido nesse
item e pretendemos avançar ao abordar o Transtorno de
oposição desafiante – TOD, muitas vezes confundido com
o TDA/H, porém, com especificações e necessidades
específicas, tema do próximo subitem.
42 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Transtorno de oposição desafiante – TOD:


conceito e características
Esse transtorno, diferente do TDA/H,
não está categorizado como um Transtorno do
Neurodesenvolvimento, mas sim, como um Transtorno
disruptivo, do controle dos impulsos e da conduta, ou seja,
está centralizado no controle emocional que se manifesta
em comportamentos e condutas disformes. Tem como
característica essencial o humor raivoso/irritável frequente
e persistente e o comportamento questionador/desafiante
ou de índole vingativa (DSM-V, 2014), podendo essas
manifestações acontecerem em apenas um ambiente,
frequentemente, em casa. Precisamos estar atentos as
seguintes condições para que se considere a possibilidade
desse transtorno:
Comportamentos que causam prejuízos significativos
em seu funcionamento social;
Ataques de raiva com incidência constante e regular;
Destruição de propriedades, objetos e ou similares,
causando prejuízos significativos em vários aspectos e,
Auto-percepção da raiva e dos comportamentos
como uma reação adequada às situações vividas.

Portanto, os comportamentos sintomáticos fazem


parte de um padrão de interação, sendo descartado do
transtorno indivíduos reativos em eventos isolados. Em
amostragem, o TOD aparece relacionado ao TDA/H:
crianças que tem transtorno de déficit de atenção/
hiperatividade, tem maior probabilidade do transtorno
opositor. Condições que articuladas, emplacam em um
grande desafio para educadores e demais profissionais da
área da aprendizagem.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 43

SAIBA MAIS:
Para saber mais sobre o TOD assista a entrevista
cedida ao Programa Ver+ Londrina, em que
a psicopedagoga Thayssa Brasil fala sobre a
condição que altera o comportamento da criança
e a torna mais irritada e indisciplinada. Acesse em:
https://www.youtube.com/watch?v=RAfj_CsHsR4

É fundamental que tenhamos a compreensão que,


indiferente do transtorno que discutimos até aqui, a ação
para a aprendizagem não se faz sozinha. Para melhor acolher
e potencializar processos e práticas faz-se necessário que
as crianças que estejam no TEA, que tenham TDA/H ou
TOD, recebam atendimento adequado multidisciplinar,
de preferência, integrado, no qual a escola e professores
sejam capacitados a lidar com as situações relacionadas
ao comportamento para assim, avançar no processo de
ensino, minimizando qualquer prejuízo emocional, social,
acadêmico e profissional do indivíduo.
44 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

RESUMINDO:
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza
de que você realmente entendeu o tema de
estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que
vimos. Você deve ter aprendido que o TDA/H é
uma condição que exige um acompanhamento
específico do estudante, não e trata apenas de “mau
comportamento” ou desse indivíduo ser mais ativo
que os demais, está relacionado ao dano social
que a condição causa em sua vida e nas relações
estabelecidas. Ainda, que para que se considere
essa possibilidade, são necessárias que algumas
características sejam persistentes e evidentes:
não é um caso isolado com determinada pessoa
e sim os eventos persistem apesar das mudanças
ambientais e adequações externas. Ainda, falamos
sobre o TOD que é outro transtorno que se destaca
e que por vezes pode ser confundido com o
TDA/H, mas, por serem diferentes em sua origem,
é necessário acompanhamentos e intervenções
diferentes e, para isso, o olhar atento daqueles que
interagem com o estudante é fundamental para
orientar a investigação necessária.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 45

Transtorno específico da aprendizagem


Ao término deste capítulo você será capaz de entender
o Transtorno Específico da Aprendizagem, especificamente
a Dislexia, Disgrafia e Discalculia, conhecendo suas principais
características e evidências para uma melhor abordagem
pedagógica junto aos estudantes com esses transtornos.
Isto será fundamental para o exercício de sua profissão.
As pessoas que desconhecem ou tem conhecimentos
superficiais acerca dessas condições, podem entender os
déficits decorrentes do transtorno como dificuldades, o que
prejudicaria o atendimento que os estudantes necessitam,
bem como, a possibilidade de seu pleno desenvolvimento.
E então? Motivado para desenvolver esta competência?
Então vamos lá. Avante!

Identificação do transtorno específico da


aprendizagem
Nesse último item vamos discutir o Transtorno
Específico da Aprendizagem e, apesar de termos seguido
como referência o DSM-V e nesse documento os termos
dislexia e discalculia aparecerem como alternativos, por
esses serem mais constantes no campo pedagógico,
optamos por utilizá-los no texto desde o início. Assim,
ao discutirmos o Transtorno Específico da Aprendizagem
estamos falando especificamente da dislexia, disgrafia e
discalculia.
A dislexia, disgrafia e discalculia são transtornos
do neurodesenvolvimento, de origem biológica, no
qual anormalidades no nível cognitivo são associadas
às manifestações comportamentais. Portanto, são
provenientes de uma interação de fatores genéticos,
epigenéticos e ambientais que têm como resultados a
alteração da capacidade do cérebro na percepção e/ou
46 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

processamento de informações verbais ou não verbais


com eficiência e precisão. Estão diretamente relacionadas
às habilidades acadêmicas: leitura, escrita e raciocínio
matemático.
Em aspecto gerais, essas três condições impactam,
portanto, nas atividades que precisam ser ensinadas e
aprendidas de forma explícita e intencional, o que ocorre
na escola. Apesar de relacionados primeiramente à Língua
Portuguesa e à Matemática, o déficit de aprendizagem
nessas áreas reflete nas demais áreas do conhecimento,
afinal, a leitura e o raciocínio lógico e pré-requisito em
qualquer área.
A partir dessas considerações gerais e tendo já
discutido em oportunidades anteriores a diferenciação
entre dificuldade e transtorno/déficit, é possível
avançarmos para compreender que, qualquer dificuldade
que persista por mais de 6 (seis) meses, que as habilidades
acadêmicas estejam significativamente abaixo da média
prevista para a relação idade x ano escolar e que já se
tenha descartado a possibilidade de deficiência intelectual,
perda ou deficiência visual, auditiva, outros transtornos do
neurodesenvolvimento (TEA, TDA/H, por exemplo) e os
fatores socioculturais, como a questão da língua materna
(crianças estrangeiras) - Atribuições normativas previstas
no DSM-V, 2014 - e atenda qualquer um dos indicativos a
seguir, passa a ser encarada como um Transtorno Específico
da Aprendizagem.
1. Leitura de palavras de forma imprecisa ou lenta
e com esforço (p. ex., lê palavras isoladas em voz alta,
de forma incorreta ou lenta e hesitante, frequentemente
adivinha palavras, tem dificuldade de soletrá-las);
2. Dificuldade para compreender o sentido do que
é lido (p. ex., pode ler o texto com precisão, mas não
compreende a sequência, as relações, as inferências ou os
sentidos mais profundos do que é lido);
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 47

3. Dificuldades para ortografar (ou escrever


ortograficamente) (p. ex., pode adicionar, omitir ou substituir
vogais e consoantes);
4. Dificuldades com a expressão escrita (p. ex.,
comete múltiplos erros de gramática ou pontuação nas
frases; emprega organização inadequada de parágrafos;
expressão escrita das ideias sem clareza);
5. Dificuldades para dominar o senso numérico,
fatos numéricos ou cálculo (p. ex., entende números, sua
magnitude e relações de forma insatisfatória; conta com
os dedos para adicionar números de um dígito em vez
de lembrar o fato aritmético, como fazem os colegas;
perde-se no meio de cálculos aritméticos e pode trocar as
operações);
6. Dificuldades no raciocínio (p. ex., tem grave
dificuldade em aplicar conceitos, fatos ou operações
matemáticas para solucionar problemas quantitativos).

Ainda, é fundamental destacarmos que as


especificidades desses transtornos em suas características
podem de manifestar em níveis diferentes:
48 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Tabela 3: Níveis dos transtornos/déficits de aprendizagem

LEVE MODERADO GRAVE

Alguma dificulda- Dificuldades acen- Dificuldades


de em aprender tuadas em apren- graves em apren-
habilidades em um der habilidades der habilidades
ou dois domínios em um ou mais afetando vários
acadêmicos, mas domínios acadêmi- domínios acadê-
com gravidade cos, de modo que micos, de modo
suficientemente é improvável que o que é improvável
leve que permita indivíduo se torne que o indivíduo
ao indivíduo ser proficiente sem aprenda essas
capaz de compen- alguns intervalos habilidades sem
sar ou funcionar de ensino intensivo um ensino indivi-
bem quando lhe e especializado dualizado e espe-
são propiciados durante os anos cializado contínuo
adaptações ou escolares. Algu- durante a maior
serviços de apoio mas adaptações parte dos anos
adequados, espe- ou serviços de escolares. Mesmo
cialmente durante apoio por pelo me- com um conjunto
os anos escolares. nos parte do dia na de adaptações ou
escola, no trabalho serviços de apoio
ou em casa po- adequados em
dem ser necessá- casa, na escola
rios para comple- ou no trabalho,
tar as atividades o indivíduo pode
de forma precisa e não ser capaz de
eficiente. completar todas
as atividades de
forma eficiente.

FONTE: adaptado de DSM-V, 2014

Agora que já apresentamos de forma geral os


transtornos, avançaremos para cada um especificamente.

Dislexia
O primeiro transtorno sobre o qual falaremos é a
Dislexia. As dificuldades decorrentes desse transtorno são
caracterizadas pela dificuldade de precisão e/ou fluência na
leitura de palavras e baixa competência para decodificação
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 49

e soletração. O déficit está centrado no processamento


fonológico, resultando em:
Leitura imprecisa ou lenta, que demanda muito
esforço.
Dificuldade na compreensão do sentido do que é lido.
Consequente dificuldade na escrita com supressão
de letras ou trocas.

Assim, a “palavra de ouro” relacionada à Dislexia


é processamento fonológico e, em associação, as
características sintomáticas:
Figura 11: Dislexia

Fonte: Elaborado pela autora (2019)

Novamente, diagnosticado o transtorno, o trabalho


pedagógico demandará adequação e flexibilização,
principalmente no processo avaliativo. Sempre é
importante que relembremos: todo o acompanhamento
é multidisciplinar e as melhores estratégias para se
ensinar e aprender, apesar de ser óbvio, são aquelas que
surtem resultados e apenas a prática e o conhecimento
aprofundado do estudante, integrado com o olhar sensível
50 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

e consciente do professor, é que poderá prover o que é


necessário em termos metodológicos e instrumentais.

Disgrafia
A Disgrafia está relacionada aos distúrbios da
motricidade fina e da motricidade ampla, bem como
aos distúrbios de coordenação visomotora, deficiência
da organização têmporo-espacial, lateralidade e
direcionalidade (CINEL, 2003).
Figura 12: Exemplo de uma produção – DISGRAFIA

Fonte: acervo particular da autora (2018)

Como podemos perceber na figura, são características


de destaque na escrita disgráfica:
Precisão na ortografia
Precisão na gramática e na pontuação
Clareza ou organização da expressão escrita

Para Cinel (2003) esse aspecto da escrita se dá em


decorrência da mão “não obedecer” ao trajeto estabelecido,
resultando em inversão de letras e combinações silábicas,
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 51

inversão do sentido da escrita e sobrepondo frases. Nesse


sentido, se pensarmos na prática pedagógica, é preciso
que se reeduque o grafismo e, para tanto, se faz necessário:
promover e qualificar o desenvolvimento psicomotor,
treinando a postura, controle corporal, dissociação de
movimentos e práticas que privilegiem a coordenação
motora final, lateralidade e coordenação viso-motora.
(CAMARGO, 2008; COELHO, 2012).

Discalculia
Figura 13: Discalculia

Fonte: Freepik.

A Discalculia é um transtorno que, por si só, é polêmico.


Afinal, está relacionada à Matemática e culturalmente essa
área de conhecimento já é densa e difícil por si só. Ainda, outros
elementos “mascaram” o transtorno, tais como: o déficit de
formação dos professores dos anos iniciais para trabalhar com
essa disciplina, estratégias tradicionais que não privilegiam a
necessidade de aprendizagem dos estudantes, enfim, são
inúmeros os fatores que fazem com que o diagnóstico possa
ser encarado apenas como uma dificuldade corriqueira.
52 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

Entretanto, a discalculia é um transtorno do


neurodesenvolvimento que resulta em um distúrbio de
aprendizagem específico das habilidades matemáticas
devido a: “[...] um comprometimento funcional específico do
sistema nervoso central que requer avaliação e tratamento
especializado.” (RIBEIRO; DOS SANTOS, 2011, p. 94). Como
características, esse transtorno implica em dificuldades nas
relações pertinentes ao:
Senso numérico
Memorização de fatos aritméticos
Precisão ou fluência de cálculo
Precisão no raciocínio matemático

ACESSE:
No programa DE TUDO UM POUCO, da REDE
SUPER, a psicopedagoga Roneida Gontijo
explica como identificar possíveis sintomas da
discalculia. Ela ainda fala de alguns brinquedos
e brincadeiras que podem ajudar a enfrentar
o problema. Link: https://www.youtube.com/
watch?v=hKXlPLMulvc

A discalculia pode manifestar-se de seis formas, são


elas: verbal, practognóstica, léxica, gráfica, ideognóstica
e operacional. (KOSC, 1974 apud BERNARDI, 2006, p.
245), cada especificação determina a predominância
em habilidades específicas. Veja no quadro a seguir as
características de cada tipologia.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 53

Figura 14: Esquema tipos de discalculia

Discalculia Verbal

Dificuldade na nomeação de quantidades, números,


termos e símbolos.

Discalculia Practognóstica

Dificuldades para enumerar, comparar e manipular


objetos reais ou imagens.

Discalculia Léxica

Dificuldade na leitura de símbolos matemáticos.

Discalculia Ideognóstica

Dificuldade na compreensão de conceitos e na


realização de operações mentais.

Discalculia Operacional

Dificuldade em executar operações e cálculos


numéricos.

Fonte: Adaptado de Kosc, 1974 apud Bernardi, 2006


54 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

São variáveis, portanto, as possibilidades de


dificuldades relacionadas à Discalculia, mas, é preciso
relembrar que apenas será compreendido como transtorno
se cumprir com os pré-requisitos indicados no início desse
texto, contemplando as características específicas da área
(Dislexia, Disgrafia ou Discalculia).
Por fim, é fato que o transtorno específico da
aprendizagem se não acompanhado e tratado resultará
em consequências funcionais negativas ao longo da vida
dos indivíduos não apenas no desempenho acadêmico,
ampliando as taxas de retenção e de evasão, mas, também,
causando sofrimento psicológico e piora da saúde
mental geral. Assim, por mais que enquanto pedagogos,
psicopedagogos, educadores, professores ou outros
profissionais específicos não possamos “resolver” essas
questões sozinhos, podemos com a formação adequada
amparar, acolher e encaminhar esses estudantes, prezando
no espaço escolar por aquilo que lhes é direto: atendimento
educacional adequado com vistas à Educação Inclusiva.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 55

RESUMINDO:
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos.
Você deve ter aprendido que segundo o DSM-V
o Transtorno de Aprendizagem é aquele que se
manifesta no período escolar, pois, é o déficit em
aprender aquilo que é ensinado de forma explícita.
Ao optarmos por dividir em três derivações:
Dislexia, Disgrafia e Discalculia, esperamos que
você tenha aprendido que:
1) Dislexia está relacionada à consciência
fonológica, resulta em déficit significativo na leitura
e na compreensão do que é lido;
2) Disgrafia está relacionada à motricidade fina,
resultando em déficit significativo da produção
escrita, ortografia e organização espacial;
3) Discalculia está relacionada à aprendizagem
dos conceitos matemáticos, resultando em déficit
significativo no pensamento lógico-matemático
e na abstração de conceitos relacionados à essa
área.

Por fim, assim como todos os demais transtornos


apresentados no material, esperamos que
tenham concebido a essência do processo
educacional inclusivo: conhecer os transtornos
não para diagnosticar, mas sim, para a partir dessa
instrumentalização, qualificar práticas para que os
estudantes tenham a oportunidade de aprender e
desenvolver seu potencial, minimizando os danos
relacionados à vida social, à condição emocional e
à inserção profissional.
56 Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem

BIBLIOGRAFIA
American Psychiatric Association. Manual de
diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-V.
5. ed. Porto Alegre: Artmed; 2014. 848 p.

ARAUJO. LA de, Loureiro AA, Alves AMG, Lopes


AMC da S, Barros JCR, Chaves LF da S, et al. Triagem
precoce para Autismo/ Transtorno do Espectro Autista
[Internet]. Documento Científico. Belo Horizonte; 2017
Disponível em: http://www.sbp.com.br/fileadmin/user_
upload/2017/04/19464b-DocCient-Autismo. Acesso em:
25 ago. 2019.

BAILEY A, Le Couteur A, Gottesman I, Bolton P,


Simonoff E, Yuzda E, et al. Autism as a strongly genetic
disorder: evidence from a British twin study. Psychol Med.
1995;25(1):63–77.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular - BNCC.


Ministério da Educação – MEC. DF: MEC, 2013. Disponível
em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base.
Acesso em: 25 ago. 2019.

ROBINS D, Fein D, Barton M, Resegue RM (Trad.


Questionário Modificado para a Triagem do Autismo em
Crianças entre 16 e 30 meses, Revisado, com Entrevista de
Seguimento (M-CHAT-F/F)TM [Internet]. 2009. Disponível
em: http://www.mchatscreen.com. Acesso em: 25 ago.
2019.

SASSAKI,R.K. Inclusão: Construindo uma Sociedade


para Todos. Rio de Janeiro: WVA,1997.
Transtornos e Distúrbios da Aprendizagem 57

SASSAKI, R. K. Integração e inclusão: do que estamos


falando? Temas sobre desenvolvimento, 39, 45 - 47. SP:
1998.

SERRA, D. C. G. A inclusão de uma criança com


autismo na escola regular: desafios e processos.
Dissertação de Mestrado, Universidade do Estado do Rio
de Janeiro: 2004.

SANT’ANA, Izabella Mendes. Educação inclusiva:


concepções de professores e diretores. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/pe/v10n2/v10n2a09.pdf>.
Acesso em: 25 ago. 2019.

SANTOS, M. F. S. A Teoria das Representações


Sociais. In M. F. S. Santos &Almeida, L.M. (Orgs.), Diálogos
com a Teoria das Representações Sociais(pp. 15-38). Recife:
Ed. Universitária da UFPE/ UFAL.

Você também pode gostar