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Técnicas Projetivas e

Entrevistas
Psicopedagógicas

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
Bem vindo(a)!

Seja muito bem-vindo(a)!

Prezado(a) aluno(a), é preciso esclarecer que o Psicopedagogo é um pro ssional


especialista em di culdades de aprendizagem, seja qual âmbito for, e em se
tratando da Psicopedagogia Clínica, é uma área de conhecimento interdisciplinar
que foca seus estudos no “aprender” e o “não aprender” do ser humano na mais
tenra idade e segue até o m de sua vida.

E, é por meio de um diagnóstico feito com o indivíduo, família e escola, que o


psicopedagogo conseguirá identi car os sintomas e chegar nas causas da
di culdade de aprendizagem, buscando auxiliar por meio de intervenções a sanar
os diversos fatores que contribuem para a defasagem na aprendizagem, que podem
estar relacionados à origem orgânica, cognitiva, emocional, social ou pedagógica,
como também, à in uência do meio que o sujeito está inserido, e de posse dos
dados obtidos no diagnóstico, possa intervir.

Na Unidade I vamos conhecer as técnicas projetivas e seus pressupostos históricos e


teóricos, para melhor compreender o atendimento psicopedagógico em relação aos
processos de di culdades em aprender de um sujeito, sob um olhar social, político,
cultural, que auxilia o pro ssional a compreender não só os porquês, mas também
as causas de determinada situação e/ou patologia que pode estar passando uma
pessoa em sua aprendizagem.

Já na Unidade II você irá saber mais sobre a entrevista psicopedagógica, que são
técnicas próprias da área da psicopedagogia, para uma ação preventiva e
interventiva. Nesse momento buscaremos analisar a entrevista, elencando as várias
interferências que possam propiciar as problemáticas do indivíduo, bem como os
aspectos éticos que são relevantes para a atuação do psicopedagogo.

Na sequência, na Unidade III, falaremos a respeito do diagnóstico e avaliações, que


são ações importantes ao psicopedagogo clínico, que, de posse aos instrumentos a
serem aplicados, pode compreender os processos de aprendizagem do paciente
aprendente. Após as análises realizadas em cada uma das provas, é feito o
levantamento das hipóteses no diagnóstico psicopedagógico, e veri ca-se a
modalidade de aprendizagem do paciente aprendente. Com isso, é preciso que o
psicopedagogo respeite e analise todas as provas para que consiga um diagnóstico
e ciente

Em nossa Unidade IV vamos nalizar o conteúdo dessa disciplina com a análise


diagnóstica, e você verá neste momento a importância de se ter a hipótese
diagnóstica já bem delimitada para que se possa organizar a devolução (para
paciente, pais, família e escola) de modo seguro e elaborar o plano de intervenção
de maneira a conseguir auxiliar no processo de desenvolvimento e caz ao paciente
aprendente.
E aqui, quero reforçar o convite, para que você realize esse percurso de estudos e
multiplique e compartilhe os conhecimentos sobre a atuação psicopedagógica no
âmbito clínico, que é o assunto abordado em nosso material.

Espero contribuir para seu crescimento pessoal e pro ssional.

Muito obrigado e bom estudo!


Unidade 1
As técnicas projetivas e
seus pressupostos
históricos e teóricos

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
Introdução
Seja muito bem-vindo(a)!

Prezado(a) aluno(a), vamos tratar de um assunto bastante pertinente à sua


formação como psicopedagogo(a), e trilhar novos caminhos que nos levarão a novos
conhecimentos sobre os conceitos fundamentais da psicopedagogia. Assim,
notaremos o ambiente educacional, que ao mesmo tempo em que auxilia e
possibilita a aprendizagem, promove também a existência e a descoberta de
problemas típicos da aprendizagem dos alunos.

Diante disso, é relevante destacar que as di culdades de aprendizagem podem ser,


ainda, oriundas dos métodos utilizados na escolarização, que se tornam obstáculos
enfrentados e/ou causados pelos professores por meio da prática pedagógica.

Para tanto, o nosso desa o será em analisar o contexto histórico das técnicas
projetivas até as provas de diagnósticos psicopedagógicas, para melhor
compreender o atendimento psicopedagógico em relação aos processos de
di culdades em aprender de um sujeito, sob um olhar social, político, cultural.

Na Unidade I iniciaremos a nossa jornada pelo contexto histórico das técnicas


projetivas, que auxilia o pro ssional a compreender não só os porquês, mas também
as causas de determinada situação e/ou patologia que pode estar passando uma
pessoa.

Na Unidade II vamos ampliar nossos conhecimentos sobre os conceitos das técnicas


projetivas psicopedagógicas, no sentido de diagnosticar, tratar e prevenir as
di culdades e obstáculos no sujeito que não aprende.

Depois, nas Unidades III e IV, vamos nos dedicar em compreender as provas
projetivas no diagnóstico psicopedagógico e a epistemologia convergente. Ao longo
da Unidade III você vai se ater mais em relação às provas de diagnósticos, e na
Unidade IV será tratado especi camente da epistemologia convergente.

Devo mencionar a importância deste material para a sua formação como


psicopedagogo, mas reforço que você deve, além de fazer toda análise do material,
dar continuidade em seus estudos, pois a área da psicopedagogia vem sempre
inovando seus métodos, com isso, é preciso se manter atualizado. 

Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e pro ssional.

Muito obrigada e bom estudo!


O contexto histórico das
técnicas projetivas

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
Caro(a) aluno(a), neste momento dos estudos temos como objetivo compreender
como as técnicas projetivas colaboram nos processos de avaliação, para que você
possa fortalecer a con ança no seu uso. Para Didier (1978), as técnicas projetivas
foram criadas por volta de 1939, por L. K. Frank, em um estudo que visava destacar a
relação de três provas psicológicas: o Teste de Associação de Palavras de Jung, o
Teste de Manchas de Tinta de Rorschach e o Thematic Apperception Test (TAT) de
Murray, bastante utilizados em diagnósticos psicológicos, compreendidos como
instrumentos do método clínico e como uma aplicação prática das concepções
teóricas da Psicologia Dinâmica.

E para entender melhor as técnicas projetivas, é preciso analisar a área da


psicanálise de que são derivadas, conforme menciona Soley (2010), e compreender
que os seres humanos têm um processo mental consciente e inconsciente.

Mas, o que é projeção?

CONCEITUANDO
Projeção se trata de um mecanismo em que o sujeito atribui aos outros
sentimentos e/ou intenções que lhe pertencem, então, “as pessoas
estavam dizendo aquilo que, de outro modo, ela diria a si mesma”
(FREUD, 1895/1969, p. 255). Podemos entender que projeção é um
aspecto da personalidade humana que se deslocam de dentro do
sujeito para o meio externo em que está inserido, que se refere ao
conceito que norteia as técnicas projetivas, iniciado por Sigmund Freud
(SOLEY, 2010).

Já o termo técnicas projetivas foi utilizado nas pesquisas após o artigo escrito por
Frank (1939), Projective Methods for the Study of Personality, trazendo as técnicas
projetivas como meio para auxiliar os indivíduos a revelarem a forma como se
organizam e as suas experiências (SOLEY, 2010).

As técnicas projetivas apresentam diferenças em relação à sua duração, como


também na introdução do material como recurso à pessoa (DIDIER,1978). Mesmo
que tenham sido elaboradas, inicialmente, com a intenção de auxiliar no diagnóstico
e tratamento de pacientes que passavam por transtornos emocionais, as técnicas
projetivas são meios relevantes para investigar outros tipos de problemas no
indivíduo. Ainda, atualmente, tem-se expandido para outras áreas além da
Psicologia, como: Psicologia Social, Educação, Sociologia, Ciências Políticas,
Antropologia, na área de Marketing, Psicopedagogia entre outras (SELTIZ;
WRIGHTSMAN; COOK, 1976).
SAIBA MAIS
Os testes psicológicos muitas vezes são utilizados para avaliar
indivíduos em algum ponto crítico ou circunstância signi cativa da
vida. Ainda assim, aos olhos de muitas pessoas, os testes parecem ser
provocações sobre as quais elas pouco sabem e das quais dependem
decisões importantes.

Fonte: Soley (2010).

Então podemos entender por técnicas projetivas uma grande variedade de tarefas,
jogos e métodos práticos de pesquisa, em que o sujeito respondente é convidado a
participar no decorrer de uma entrevista ou análise em foco. São organizadas para
otimizar, estender ou ampliar o entendimento do respondente, com isso, as técnicas
projetivas têm como base a ideia de que o ser humano pode “projetar” seus
sentimentos, crenças e angústias, que podem ser inaceitáveis ou vergonhosas, em
uma pessoa ou situação imaginária (VERGARA, 2008). Com isso, o almejado com
essa técnica é levar o sujeito a projetar e eliminar barreiras, facilitando o acesso de
difícil exposição que não conseguiria expor por meio de um questionamento direto
a ele.

REFLITA
Podemos dizer que esse grupo de técnicas auxilia o pesquisador a
acessar o que está na mente dos respondentes?

De modo geral, as técnicas projetivas têm por objetivo ajudar a aumentar a validade
das respostas, por meio de coleta de dados não estruturadas disfarçadas, ligadas à
criação de uma circunstância que encoraje os entrevistados a se expor livremente e
emitir respostas sobre dados especí cos (MALHOTRA, 2006). Outro potencial uso
das técnicas é em análise de crianças, posto que têm algumas limitações em
verbalizar suas opiniões e sentimentos (HOFSTEDE et al., 2007). 
Conforme Bond e Ramsey (2010) destacam, existem vários tipos de técnicas
projetivas, pois os estímulos variam e são bastante ambíguos, havendo os não
estruturados e os que são muito estruturados, claros e de nidos. Cabe ressaltar que
existem técnicas que podem estar enquadradas em uma mesma categoria, mas
terem, em sua essência, resultados diferentes, como técnicas em categorias
distintas que têm consideráveis similaridades, e ainda técnicas parcialmente
enquadradas em mais de uma categoria (HOFSTEDE et al., 2007).

E quando utilizar as técnicas projetivas? Malhotra (2006) sugere as seguintes


diretrizes:

Figura 1 - Quando utilizar as Técnicas Projetivas

devem ser usadas quando a


informação desejada não
Técnicas projetivas pode ser obtida com precisão
por métodos diretos;

devem ser usadas em


Em vista de sua complexidade,
pesquisas exploratórias, para
as técnicas projetivas não
proporcionar entendimento e
devem ser usadas
compreensão iniciais do
ingenuamente.
problema;

Fonte: Malhotra (2006, p. 172).

Cabe ressalvar que, mesmo com as vantagens, o uso das técnicas projetivas precisa
de cuidados e possui algumas desvantagens.
Figura 2 - Técnicas Projetivas, cuidados e desvantagens

Geralmente, exigem entrevistas pessoais com


entrevistadores altamente treinados;

Alto esforço hermenêutico e, consequentemente,


intérpretes qualificados para realizar as análises;

Risco de tendenciosidade na interpretação; e, no caso


de técnicas expressivas, os sujeitos podem acabar
desenvolvendo comportamento não usuais que não
representam de fato a população de interesse.

Fonte: Malhotra (2006, p. 172).

Com isso, é relevante que os resultados de técnicas projetivas sejam analisados e


comparados com resultados de outras técnicas que possam trazer uma amostra
mais representativa (MALHOTRA, 2006).

Por m, é relevante salientar que, cada vez mais, as técnicas projetivas são
compreendidas como ferramentas que au
Conceitos das técnicas
projetivas
psicopedagógicas

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
Quando tratamos das técnicas projetivas psicopedagógicas, estamos destacando
uma das etapas de avaliação psicopedagógica, que é uma ferramenta relevante que
proporciona investigar a relação do ser humano com a aprendizagem, ou seja, como
ocorre a aprendizagem, em que circunstâncias acontecem a construção entre o
ensinar e o aprender, e para isso, tem questões relevantes a serem avaliadas, tais
como as questões neurológicas, biológicas, emocionais, sociais entre outros
aspectos.

Ainda é importante o psicopedagogo veri car o vínculo do indivíduo em três


grandes domínios, que é o vínculo familiar, como o indivíduo se vê, como ele se
classi ca neste meio; o vínculo é o escolar, que é preciso veri car as situações de
aprendizagem e como o indivíduo entende e percebe as situações em sua volta,
relacionada à aprendizagem; e, por m, o vínculo que o sujeito tem consigo mesmo,
como ele se enxerga, como se vê dentro das realidades que está inserido. 

Essas três grandes áreas são avaliadas pelas técnicas projetivas.

REFLITA
Podemos entender que as técnicas projetivas tem por objetivo na
psicopedagogia analisar os vínculos que o sujeito estabelece em três
domínios: o escolar, o familiar e consigo mesmo, que facilita a
percepção de três níveis em relação ao grau de consciência dos
aspectos relacionados ao processo de aprendizagem.

Essa prova se dá por meio de desenhos com instruções bem elaboradas e sem
nenhuma interferência do psicopedagogo ou de qualquer situação externa à
avaliação. As técnicas projetivas auxiliam o psicopedagogo a explicar as variáveis
emocionais que estão in uenciando, que pode ser tanto de modo positivo ou
negativo, na aprendizagem do indivíduo em análise.

Outro aspecto relevante é o modo que são aplicadas essas técnicas, que devem ser
de maneira lúdica, levando o indivíduo, por meio de um desenho, a expressar suas
fantasias, desejos, impulsos, afetos, con itos, ansiedades e defesas que estão
implícitos em seu EU. 

E aqui é preciso ressaltar que o importante é a interpretação que o indivíduo faz de


seu desenho, o que ele percebe, entende dessa realidade. O psicopedagogo precisa
analisar esse momento de interpretação do sujeito de seu desenho, sendo
fundamental no processo de avaliação, pois pode estar nesses detalhes o problema
de aprendizagem.
O psicopedagogo precisa ter disponível para a aplicação da prova: folhas de papel
sul te; lápis preto e borracha, ser aplicada individualmente e observar que, em cada
sessão de aplicação da prova, a solicitação dos vínculos pode mudar conforme o
aspecto da aprendizagem que se quer avaliar. Para Visca (2011), são muitos os
aspectos que precisam ser considerados na aplicação das provas projetivas
psicopedagógicas.

Figura 3 - Aspectos que devem ser levados em consideração pelo Psicopedagogo


ao aplicar as técnicas projetivas.

A posição do desenho
na folha

A descrição verbal que As pessoas que estão


a criança faz de seu presentes na produção
desenho. da criança

Os detalhes das pessoas


e/ou objetos que
constam no desenho

Fonte: Visca (2011, p. 22).

E ao fazer o tratamento dos detalhes, como no caso da posição que os desenhos


assumem na folha, Visca (2011) destaca que as posições são indicadores de vínculo
de aprendizagem, veja o Quadro 1, a seguir:
Quadro 1 - Posição dos desenhos

Superior Esquerda Superior Superior Direita

Exigente Regressivo Exigente Exigente Progressivo

Esquerda Central Direita

Regressivo Equilibrado Progressivo

Inferior Esquerda Inferior Inferior Direita

Impulsivo Regressivo Impulsivo Impulsivo Progressivo

Fonte: Visca (2011, p. 23).

Outros aspectos a serem analisados nos desenhos são: o tamanho total do desenho,
o tamanho dos personagens, se o sujeito está nas cenas, quem está no desenho, o
distanciamento dos personagens, se utiliza a borracha durante o desenho, se coloca
ou não pés e mãos, olhos, orelhas e boca nos personagens, se o desenho está
condizente ao que é solicitado e, por m, se o sujeito se recusa desenhar ou escrever
o que lhes é solicitado.

Segundo Escott (2001, p. 226):

Na clínica psicopedagógica, também o desenho, enquanto


representação simbólica e cognitiva, representa importante
instrumento de investigação, pois ele poderá demonstrar a relação da
criança com o conhecimento tanto em termos cognitivos como em
termos afetivos. Porém, é necessário ressaltar que, na clínica
psicopedagógica, as técnicas projetivas realizadas através do desenho
diferem das provas utilizadas pelos psicólogos, já que o foco de análise
está sempre vinculado a situações de aprendizagem.

É oportuno destacar que o psicopedagogo, ao utilizar as técnicas projetivas, deve


seguir alguns critérios, como: ao analisar um desenho, é precisa estar atento no
título do desenho, e o vínculo que se estabelece com a aprendizagem do sujeito em
questão, como também ao relato. Para Visca (2011), o relato é uma projeção que
denota o vínculo de aprendizagem do conteúdo pela correspondência com o
desenho, como também é possível veri car no relato os mecanismos de dissociação,
negação e repressão que o sujeito pode esclarecer ali.
Para tanto, é preciso destacar o que é o processo de aprendizagem. Consiste na
produção e estabilização de ações que o psicopedagogo precisa notar como o
indivíduo se constrói nos vários espaços em que convive, como também, o vínculo
que ele estabelece com as outras pessoas que lhes são espelho em sua
aprendizagem. Aqui podemos destacar o ambiente como um meio relevante de
desenvolvimento de aprendizagem, e pode ser tanto no meio escolar, como familiar
ou na comunidade social e com o próprio indivíduo.

Com isso, sempre que ocorre uma queixa de di culdades de aprendizagem, ou


outro sintoma que esteja relacionado ao ato de aprender as técnicas projetivas são
recursos utilizados no diagnóstico em uma análise clínica do psicopedagogo. Sendo
assim, deve ser analisado de acordo com cada caso, e após a escolha da técnica
projetiva, é preciso passar de modo claro como vai ocorrer a atividade, e isso deve ser
feito, antes da aplicação da técnica, seja para a criança ou a pessoa a quem vai ser
aplicado, e após nalizar o indivíduo deve relatar o que fez para o psicopedagogo.

Podemos notar que as técnicas projetivas, em sua essência, separam e investigam a


relação do indivíduo com a aprendizagem no ambiente familiar, escolar, social ou
consigo mesmo, e para isso é preciso aplicar a seleção das técnicas projetivas por
vínculos “par educativo”:

Figura 4 - Seleção das técnicas projetivas por vínculos

Vínculo escolar: par educativo;


Planta da sala de aula; eu com
meus colegas. Vínculo consigo
mesmo: o desenho em episódios;
o dia do meu aniversário;

Vínculo consigo mesmo: o


Vínculo familiar: a planta da desenho em episódios;
minha casa; família educativa; o dia do meu aniversário;
as quatro partes de um dia nas minhas férias; fazendo
o quemais gosto...

Fonte: Visca (2011, p. 23).


O teste do par educativo, que pode ser feito um mapa da sala de aula e analisar
como o indivíduo se relaciona com os colegas para compreender o vínculo que
possui com a aprendizagem, com o docente, com os objetos e com que se aprende
no meio educacional. O par educativo é uma técnica projetiva, que tem por objetivo
“detectar a relação vincular latente entre o que ensina e aquele que aprende”
(OLIVERO; PALACIOS, 1985, p. 21), já O Teste da Família tem por objetivo avaliar como
se dá o relacionamento da família como um todo e também em suas diferentes
partes, analisar os momentos do dia a dia em família, o plano da casa e observar
como se dá o vínculo familiar, seja físico e humano, como também veri car como
são comemoradas datas importantes, como o aniversário, as férias em família, para
veri car a relação do indivíduo consigo e com o meio social.

Segundo Escott, (2001, p. 227):

Assim como nos outros aspectos do diagnóstico, também na análise do


desenho infantil é necessário que o professor tenha conhecimento das
teorias do desenvolvimento da criança e das características de cada
período. Di Leo (1991) realiza um paralelo entre os estágios de
desenvolvimento cognitivo descritos por Piaget e as fases de
representação do desenho da criança. Para ele, o estágio sensório-
motor corresponde, inicialmente, às respostas re exivas da criança,
levando o lápis à boca e, posteriormente, passando, à garatuja e,
gradualmente, aos círculos. Já o estágio de pensamento pré-operatório
é identi cado pelo autor como o período do realismo intelectual, em
que é visto, caracterizando pela transparência. No estágio das
operações concretas, o desenho da criança apresenta um realismo
visual, pois a subjetividade diminui e a criança desenha o que é
realmente visível, com cores mais convencionais e guras humanas
mais realistas. Por m, no estágio das operações formais, observa-se
que, com o desenvolvimento da crítica, muitos perdem o interesse por
desenhar, sendo que os mais talentosos tendem a preservar.

O psicopedagogo pode fazer a seleção da técnica projetiva por idade, como: 4 anos
de idade: aplicar o desenho em episódio; entre 6 e 7 anos de idade: aplicar o par
educativo – e os quatro momentos do dia a dia da família educativa, o dia do meu
aniversário, minhas férias e fazendo o que mais gosta; por volta do 7 e 8 anos de
idade: aplicar as técnicas projetivas anteriores e mais o EU com meus companheiros;
aos 8 e 9 anos de idade: as técnicas anteriores e mais a planta da sala de aula e a
planta da minha casa.

Veja o Quadro 2 que representa, de modo bastante claro, em relação às técnicas


projetivas na psicopedagogia:
Quadro 2 - Técnicas Projetivas na Psicopedagogia

DOMÍNIO PROVA INVESTIGAÇÃO IDADE

6-7
anos
  Par educativo Vínculo com a aprendizagem.
de
idade

7-8
Eu e meus Vínculo com os componentes da anos
ESCOLAR
companheiros classe. de
idade

8-9
A representação do campo
Planta da sala anos
  geográ co da sala de aula e a
de aula de
desejada.
idade

       

8-9
Planta da A planta da casa onde habita, sua anos
 
casa representação real e desejada. de
idade

6-7
Os quatro
anos
FAMILIAR momentos do Os vínculos ao longo do dia. 
de
dia
idade

6-7
O vínculo da aprendizagem com
Família anos
  o grupo familiar e cada um dos
educativa de
integrantes da mesma.
idade

       

A delimitação de permanência da 4 anos


O desenho
  identidade psíquica em função de
em episódios
dos afetos. idade

CONSIGO O dia do meu A representação que se tem de si 6-7


MESMO aniversário e do contexto físico sócio anos
dinâmico em um momento de de
transição de uma idade para a idade
outra.

6-7
Desenho de As atividades escolhidas durante anos
 
minhas férias o período de férias escolares. de
idade

6-7
Fazendo o
O tipo de atividade que mais anos
  que mais
gosta. de
gosto
idade

Fonte: a autora.

SAIBA MAIS
Aplicação das técnicas projetivas:

Vínculo escolar: Eu com meus companheiros

Idade: sete a oito anos de idade

Objetivo: Investigar os vínculos com os companheiros de sala de aula.

Procedimento:

Consigna: Gostaria que você se desenhasse junto a seus colegas de sala


de aula.

Após o desenho, faça alguns questionamentos pertinentes,


relacionados ao desenho.

Analise o tamanho do desenho, de seus personagens, a posição e a


inclusão dos personagens principais.

Os comentários que o sujeito faz em relação aos colegas da sala de aula.

Título.
  Com isso, pode se compreender que a utilização, de uma técnica projetiva o
psicopedagogo terá acesso a conteúdos não somente conscientes, como forma de
representação das situações e ambientes de aprendizagem na escola, mas de várias
informações emocionais, de introspecção que são importantes para a sequência da
análise e intervenções, que vamos veri car no decorrer deste estudo.
Provas projetivas no
diagnóstico psicopedagógico

AUTORIA
Sonia Maria de Campos

Caro(a) aluno(a), como vimos anteriormente, as técnicas projetivas psicopedagógicas têm


por objetivo investigar os vínculos que o ser humano possui por meio de três domínios: o
escolar, o familiar e consigo mesmo. Para Visca (2009), é nesses domínios que o indivíduo
detém as diferenças individuais, e é possível compreender três níveis em relação a
consciência e os distintos aspectos que constituem o vínculo da aprendizagem. Para tanto
a  técnica  projetiva,  segundo  Visca  (2011),  “permite  investigar  essa  dimensão,  no  que se 
refere   ao  vínculo  ou  vínculos  que  um  sujeito  estabelece  com  a   aprendizagem 
propriamente dita,  assim  como  também  com  as  circunstâncias  dentre  as  quais  se 
opera  essa  construção”.

Então podemos dizer que uma pessoa pode estabelecer vínculos em três grandes domínios,
que podem ser o meio escolar, familiar e consigo mesmo, e em cada um desses é
estabelecido três níveis, inconsciente,  pré-consciente  e  consciente. Estes são notados
quando o indivíduo, ao se relacionar com um conjunto de conteúdos e não reconhece
mesmo que se faça diversas tentativas para emergir para o campo pré-consciente ou
consciente, podemos notar que o nível será inconsciente.

No nível pré-consciente, os conteúdos e mecanismos se alojam no campo da consciência e


o sujeito pode acessar sempre que precisar desse conhecimento. Quando a pessoa
consegue externalizar os conteúdos e mecanismos, as percepções internas e externas são
manifestadas por meio de desenhos, palavras ou outra forma, o nível será consciente (VISCA,
2011).

E, para isso, o psicopedagogo pode utilizar os testes projetivos que são compostos por dez
modelos diferentes, para conseguir aferir em que nível o sujeito se encontra: 
Figura 5 - Os dez testes projetivos

Par
educativo 2
10

Fazendo o Planta da
que mais sala de
gosto. aula

9 3

Em minhas Eu com
férias meus
amigos

8 4

O dia do A planta da
meu minha casa
aniversário

7 5

O desenho Família
em 6 educativa
episódios
As quatro
partes de
um dia

Fonte: a autora.

É preciso destacar que o psicopedagogo, ao fazer a interpretação e aplicação das técnicas


projetivas, precisa seguir alguns critérios, tais como: interpretar cada uma das provas
projetivas, que devem ocorrer em função do sujeito em particular e em função das vezes
que trouxe determinadas informações; não precisa aplicar todas as técnicas projetivas, é
prudente usar somente aquelas que são relevantes em função das hipóteses que se têm
formuladas, que podem ser: a aplicação de uma prova apenas; ou a prova de alguns
domínios podem ser escolhidas e aplicadas; ou que se aplique todas as provas de um único
domínio; que se apliquem todas as provas, e analise se alguns indicadores de uma técnica
se superpõem com os de outra; e ainda, veri car os critérios utilizados na interpretação de
cada prova, devem auxiliar e somar-se aos critérios gerais na interpretação das provas
projetivas.

Os indicadores e signi cados encontrados em uma análise feita com as técnicas projetivas,
podem ser refutados por outros pro ssionais, ao aplicar outros meios e/ou a pessoa já ter
passado por outras mudanças. Com isso, os resultados não são fechados ou sem lugar para
dúvidas, as descobertas podem ocorrer de maneiras diversas e e cazes em prol do processo
de aprendizagem.
Mas, para facilitar a compreensão, é destacado, neste momento, por meio dos quadros a
seguir, as provas com os indicadores de análise que são utilizados como materiais e
procedimentos em uma análise psicopedagógica por meio das técnicas projetivas.

Quadro 3 - Domínio Escolar

INDICADORES
DOMÍNIO PROVA MATERIAIS PROCEDIMENTOS MAIS
SIGNIFICATIVOS

Ordem
Detalhe
Indicar nome e
Folha de Desenho
idade
Par sul te Nomes e idades
Dar título ao
educativo Lápis preto Título dos
desenho
Borracha desenhos
Relatar o que
Relatos
acontece

Ordem
Folha de Detalhes do
Eu com Indicar nome e
sul te desenho
meus idade
Lápis preto Comentários
colegas Comentários sobre
Borracha sobre os colegas
os colegas
ESCOLAR

Detalhes do
desenho
Possíveis
Folha de
Ordem: a) planta da localizações na
sul te
sala de aula; b) sala de aula
A planta Lápis preto
indicar lugar que Comentários
da sala Borracha
ocupa sobre a sala de
de aula Régua (se
Perguntas regulares aula
for
e complementares Escolha do lugar
solicitada)
Aceitação do
lugar
Colegas ao redor

Fonte: Visca (2011, p. 211).


Quadro 4 - Domínio Familiar

INDICADORES
DOMÍNIO PROVA MATERIAIS PROCEDIMENTOS MAIS
SIGNIFICATIVOS

Ordem: a) planta Detalhes do


da casa; b) indicar desenho
Folha de o nome de cada Localização do
A planta sul te ambiente; c) próprio quarto
da minha Lápis preto quem ocupa cada Comentários
casa Borracha peça; sobre o
Régua Perguntas dormitório
regulares e Lugar de estudo
complementares. e reunião familiar

Adequação à
O entrevistado
ordem 
dobra uma folha
Momentos
em quatro partes
escolhidos
iguais, solicita que
Atividade
o entrevistado
realizada
faça o mesmo
Os quatro Folha de Pessoas 
com outra.
momentos sul te Campo
Solicita que
de um dia Lápis preto geográ co
desenhe quatro
Objetos
momentos do seu
FAMILIAR Sequência do
dia, desde que
desenho
acorda até a hora
(temporal,
de dormir.
espacial, do
Relato das cenas.
relato).

Indicar nomes e
idades.
Perguntas
regulares e
complementares.
Solicita-se ao
Atividades de
Folha de entrevistado que
cada
Família sul te desenhe sua
personagem.
educativa Lápis preto família, cada
Objetos
Borracha fazendo o que
utilizados.
sabe fazer.
Idade e sexo.
Relação de
parentesco.
Relato do
processo.
Fonte: Visca (2011, p. 212-213).
Quadro 5 - Domínio Consigo Mesmo

INDICADORES
DOMÍNIO PROVA MATERIAIS PROCEDIMENTOS MAIS
SIGNIFICATIVOS

CONSIGO Representação de
MESMO Dobra-se a folha tempo e espaço.
O em seis partes. Tema.
Folha de
desenho Ordem: desenhar Elementos
sul te 
em o dia de descanso relacionais e
Lápis preto
episódios de um(a) sociais.
menino(a). Movimentos
identi catórios

Solicita-se que
Detalhes do
faça um desenho
Folha de desenho.
O dia do do dia do seu
sul te Espaço
meu aniversário.
Lápis preto geográ co.
aniversário Perguntas
Borracha Conteúdo do
regulares e
relato.
complementares.

Solicita-se que
Adequação a
faça uma
ordem, atividade
“fotogra a do que
representada,
Folha de fez nas férias”.
Em marco geográ co
sul te Solicita-se um
minhas escolhido.
Lápis preto relato da cena e
férias Argumento,
Borracha das férias.
coerência interna
Perguntas
do relato e o
regulares e
desenho.
complementares.

Fazendo o Folha de Solicita-se que se Indecisão na


que mais sul te desenhe fazendo escolha do tema.
gosto Lápis preto o que mais gosta. Ato de apagar
Borracha Perguntas com mudança de
regulares e tema.
complementares. Ato de apagar
objeto sem
mudar o tema.
Coerência do
relato e desenho.
Contexto espacial
e temporal em
que ocorre à
cena.
Fonte: Visca (2011, p. 213-2150.

A partir das instruções descritas por Visca (2011), veja a Figura 6, que selecionei como
modelo para ilustrar os argumentos teóricos trabalhados: “a planta da sala de aula”:

Figura 6 - Apresentando a sala de aula

Fonte: Tietze e Castanho (2016).

O aluno de nove anos e seis meses de idade apresentou o desenho de como enxerga a sua
sala de aula, o título ctício que vamos dar a esta cena é: “O professor e a lousa”. O critério de
avaliação do desenho deve seguir alguns sistematizadores na composição de indicadores
de con itos ligados à aprendizagem.
Quadro 6 - Alguns indicadores e seus respectivos signi cados

Alguns indicadores e seus respectivos signi cados

1.    Posição

Frente a frente Vínculo de aprendizagem bom.

Lado a lado Vínculo de aprendizagem regular.

Ambos de
Vínculo de aprendizagem ruim.
costas

O docente de
costa para o O aluno se sente rejeitado pelo docente.
aluno

O aluno de
costa para o O aluno rejeita o docente.
docente

2. Tamanho

Pequeno Não é um vínculo importante.

Médio É um vínculo relativamente importante

É dada uma importância signi cativamente destacada, que


Grande
pode ser positiva ou negativa.

3. Tamanho relativo de personagem

Sem
discriminação Vínculo confuso com quem ensina.
de tamanho

Com
discriminação Vínculo claro ou relativamente claro com quem ensina.
de tamanhos

Com docente
grande e aluno Vínculo de quem supervaloriza quem ensina.
pequeno

Com aluno Vínculo no qual subestima quem ensina.


grande e
docente
pequeno

4. Características corporais

Só cabeça Supervalorização do intelecto.

O corpo
docente Pode signi car uma agressão oculta de quem ensina.
inacabado

A simpli cação Costuma implicar, quando o entrevistado não tem di culdades


dos para desenhar, uma desvalorização do vínculo de aprendizagem
personagens com o docente.

5. Perspectiva

Desenho com
Vínculo positivo e maduro.
perspectiva

6. Âmbito

O entrevistado se centrou no aprendizado sistemático podendo


Âmbito escolar
este ser positivo ou negativo.

Âmbito O entrevistado estabelece um vínculo melhor com a


extraescolar aprendizagem assistemática.

Fonte: a autora.

E aqui podemos destacar que, no decorrer do processo de aplicação das provas projetivas
psicopedagógicas, o psicopedagogo deve escolher analisar aquelas que melhor atendam os
objetivos no diagnóstico, para isso se faz necessário considerar as queixas que se têm do
indivíduo com relação ao seu processo de aprendizagem.

A maneira do sujeito perceber, interpretar e estruturar o material ou situação re ete os


aspectos fundamentais do seu psiquismo. É possível, desse modo, buscar relações com a
apreensão do conhecimento como procurar, evitar, distorcer, omitir, esquecer algo que lhe é
apresentado. Podendo se detectar, assim, obstáculos afetivos existentes nesse processo de
aprendizagem de nível geral e especi camente escolar. (WEISS, 2003, p. 117).

Outro ponto relevante é que cada desenho realizado pelo indivíduo não pode ser analisado
isoladamente, mas, sim, contextualizado, com o objetivo de identi car possíveis problemas
que podem ser obstáculos à aprendizagem.
O que podemos avaliar por meio do desenho ou do relato é a capacidade do pensamento
para construir uma organização coerente e harmoniosa e elaborar a emoção. O pensamento
fala por meio do desenho onde se diz mal ou não se diz nada, o que oferece a oportunidade
de saber como o sujeito ignora” (PAÍN, 1992, p. 61).

E, para analisar “Eu com meus colegas”, é importante que o psicopedagogo analise o
vínculo afetivo com os demais membros do grupo, como ele se relaciona com os outros,
tomando como indicadores signi cativos para análise do desenho:  detalhes, tamanho total
e dos personagens, posição dos personagens, inclusão do docente, e personagens externos
ao grupo, observar os comentários feitos em relação aos personagens se são personalizados
ou gerais. São informações relevantes a serem analisadas nos indicadores e nos
comentários.

Partindo disso, é possível colher informações no desenho e ainda atentar-se aos


comentários que o indivíduo faz dos seus desenhos, sobre os participantes, tamanho que foi
desenhado, são grandes informações de uma boa relação, ou um desejo de aproximação e
ou rejeição.

Análise do desenho “A planta da sala de aula”: como em todas as provas projetivas é preciso
respeitar critérios para interpretação, e ainda veri car o nível cognitivo, o desenvolvimento
motor e os aspectos emocionais do indivíduo. E após veri car os aspectos do desenho e
interpretá-los, veja algumas observações relevantes que devem ser feitas:

Tamanho da sala: se é pequena pode indicar inibição, se for


desmedido pode indicar descontrole ou falta de limites. Os
elementos que compõem a sala indicam vínculos positivos e os
Detalhes do
que não se encontram na sala é que não estabeleceram vínculos; o
desenho
tamanho desses elementos traz uma indicação de maior e menor
valor atribuído pelo indivíduo e/ou barreira que o divide a sala de
aula.

Possíveis
Analisar quem escolheu o local que este ocupa na sala de aula; e
localizações
analisar levando em consideração o tamanho das guras em seu
na sala de
desenho.
aula 

Comentários
Por meio dos comentários é possível ter maior clareza do que está
sobre a sala
passando com a pessoa no ambiente escolar.
de aula

A escolha do
Veri car se há alguma rejeição com o local que ocupa na sala de
lugar em
aula.
sala de aula

Aceitação do Como o indivíduo se nota neste espaço e se aceita o lugar que está
lugar alocado na sala de aula.

Com os Analisar como é a relação entre os colegas e se há ambos os sexos


colegas e se a escolha foi aceita ou teve alguma rejeição no grupo.
E “A planta da minha casa” inicia-se propondo que o participante desenhe a planta da sua
casa, e propõe-se que destaque os nomes de cada cômodo. Deve-se perguntar ao
entrevistado se ele gostaria mais de usar outro quarto ou dividi-lo com outra pessoa, e por
quê. Por último faz-se perguntas complementares e convenientes. Os indicadores
signi cativos são observar quais os detalhes do desenho, como: o tamanho da planta,
mobílias dos espaços, inclusão de objetos decorativos, pessoas, aberturas e espaços
fechados e abertos; se o quarto ca próximo ou distante dos pais. Analise os comentários
feitos sobre o quarto, como: aceitação, rejeição, indiferença e objetividade entre outras
observações que julgar necessária no momento da análise.

Análise “Os quatro momentos de um dia”: nesta parte da aplicação do teste, deve utilizar a
técnica adaptada de desenho em episódio, em que os objetivos da técnica é veri car como
se dão os vínculos ao longo do dia. Para isso, o aplicador pode pegar uma folha de papel
sul te e lápis gra te, com a folha dividi-la em quatro partes iguais e entregar para a pessoa
fazer um desenho em cada quadro em relação aos momentos de seu dia, em seguida
solicite que mencione os acontecimentos; mediante às respostas do entrevistado, pode-se
fazer perguntas com o intuito de obter mais informações.

Os indicadores dessa técnica são as três diferentes sequências: espaciais, temporais, de


relatos. Para isso, pode-se analisar se há concordância do tempo e espaço com relação aos
relatos do indivíduo analisado, para que possa compreender os aspectos de mobilidade
mental, permanência de critério, criatividade, aprendizagem e preferências.

Em relação à técnica “Família educativa”, é relevante compreender que a família é a


instância que constitui o meio em que se constroem as aprendizagens essenciais, e os
vínculos de aprendizagem vão exercer uma expressiva in uência no estilo de construir os
conhecimentos e auxiliar na agilidade de compreensão dos. Os indicadores mais
signi cativos estão no desenho na forma como apresenta cada personagem e objetos com
os quais realiza a atividade.

Vínculos consigo mesmo: para aplicar essa técnica é preciso de uma folha de papel sul te e
de um lápis preto. O procedimento consta da seguinte maneira: dividir a folha de papel
sul te em seis partes iguais, solicitar que o indivíduo desenhe uma história que retrata um
dia de descanso, para isso vai seguir os passos desde a hora que acordou pela manhã até a
hora de seu retorno. O psicopedagogo não deve interferir nesse momento e, ao ter
nalizando, é que poderá analisar o desenho, levando em consideração todos os distintos
eixos de interpretação já mencionados neste.

“O dia do meu aniversário” tem por objetivo compreender no sujeito a representação de si


mesmo em seu contexto físico e sócio dinâmico, quando esse passa por um momento de
transição de idade. Para isso, é preciso dos seguintes materiais: folhas sul te, lápis preto e
borracha. E no procedimento é solicitado que o entrevistado desenhe o dia do seu
aniversário de um menino, analisar o que desenha e questionar se caso esteja desenhando
outra pessoa que não o caracteriza, como no caso do sexo diferente do seu, e é relevante
levar em consideração o meio social e cultural que o sujeito está inserido e ainda o lugar que
ocupa na família.

Em minhas férias, por meio dessa técnica, o psicopedagogo pode perceber indicadores
signi cantes, tais como: o relato, relacionando com o desenho, que pode trazer o que
gostaria de ter realizado no decorrer das férias. Assim, as informações em outras técnicas
podem permitir um complemento de forma contundente o processo avaliativo.
“Fazendo o que mais gosto”: para realizar esta técnica é preciso de alguns materiais
especí cos, como:  folha do tamanho sul te, lápis preto e borracha. No decorrer, o
psicopedagogo pode solicitar que o indivíduo desenhe a si próprio realizando o que mais
gosta. Após a aplicação da técnica, podem ser feitas algumas perguntas complementares,
tais como: o que está ocorrendo no desenho, onde está acontecendo e quando acontece a
cena desenhada; para melhor compreender o tipo de atividade que o sujeito investigado
mais gosta de realizar. Na análise da produção é relevante considerar os indicadores mais
signi cativos, que podem ser: se no decorrer da produção do desenho o indivíduo teve
muitas dúvidas na escolha do tema, o ato de apagar com mudança de tema, ato de apagar
objetos sem mudar o tema, quando foi explicar o que havia desenhado percebe incoerência
do relato ou coerência entre relato e desenho em relação ao contexto espacial e temporal
em que ocorre a cena.

Para tanto Visca (2011) traz ainda uma nova linha teórica, com o objetivo de ver a projeção de
outro ponto de vista, por meio da Epistemologia Convergente, que tem como base os
conceitos da Psicanálise (Freud), Psicologia Genética (Jean Piaget) e Psicologia Social
(Pichon-Rivière), que é o que vamos compreender no próximo tópico.
Epistemologia Convergente

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
A epistemologia convergente é uma linha teórica criada por Jorge Visca, argentino,
psicólogo por formação. A linha teórica da epistemologia convergente propõe uma
ação clínica utilizando-se da integração de três linhas: a Psicologia Genética, de
Piaget; a Psicanálise, de Freud, e a Psicologia Social, de Rivière. Para Visca (2010, p.
116) a teoria da epistemologia convergente “é o esquema conceitual con gurado em
virtude da assimilação recíproca das contribuições das escolas psicanalista,
psicogenética de Genebra e da psicologia Social”.

É a partir dessa concepção que Visca (2010) organiza a epistemologia convergente,


relacionando os aspectos cognitivo, afetivo e social no processo de aprendizagem do
indivíduo, e é nesse sentido que vamos notar elementos da Psicanálise, da
Epistemologia Genética e da Psicologia Social.

O processo de ensino e aprendizagem é visto como um processo global por ser


analisado pela dimensão cognitiva – das estruturas que levam ao conhecimento;
como também, pela dimensão afetiva – das emoções, motivação e inclinações para
a ação do aprender; e ainda pela dimensão social – que é relacionada às
particularidades do meio social e cultural de cada pessoa.

Podemos compreender com isso, caro(a) aluno(a), que a Epistemologia Convergente


se destaca, justamente, por essa visão integradora do conhecimento, e a valiosa
contribuição de Visca (2010) no processo de avaliação e intervenção no contexto
psicopedagógico.

Visca (1987) objetiva, com essa epistemologia, por meio da avaliação diagnóstica,
auxiliar tanto em sanar o problema de aprendizagem como preventivo no sentido
de fazer com que o indivíduo possa superar os obstáculos que estejam impedindo
de aprender, como também prevenir os possíveis obstáculos no processo
educacional, contribuindo com isso, não apenas no contexto psicopedagógico
clínico, mas também para o âmbito institucional.

E aqui podemos evidenciar que, no diagnóstico psicopedagógico, a Psicopedagogia


procura destacar os instrumentos que seriam apropriados e que, de maneira efetiva,
servem de base para uma avaliação. Dentre os instrumentos disponíveis para o
diagnóstico psicopedagógico, destacam-se:
Figura 7 - Instrumentos para o diagnóstico psicopedagógico

E.O.C.A
Entrevista Operativa
Centrada na
Aprendizagem

Provas operatórias

TDE
Provas Projetivas
Teste de Desempenho Sessão Lúdica Anamnese
Psicopedagógicas.
Escolar

Fonte: a autora.

No âmbito de nossos estudos vamos compreender cada um desses instrumentos,


uma vez que eles servem de base para a atuação pro ssional do psicopedagogo e é
essencial que compreenda quais os vínculos que os indivíduos possuem com a
aprendizagem formal.

Então, podemos compreender que nos estudos da epistemologia convergente o ser


humano aprende sem ser impelido, do nascimento até sua morte. E tem por
fundamento a assimilação recíproca das teorias piagetiana, psicoanalítica e da
psicologia social. E, com isso, o conhecimento ocorre por meio das variáveis afetivas,
cognitivas e sociais que acontecem juntas.
Conclusão - Unidade 1

Prezado(a) aluno(a),

Neste material, espero que você tenha conseguido compreender a importância das
técnicas projetivas e a epistemologia convergente de Visca. Pois são recursos
essenciais na atuação do psicopedagogo.

Em se tratando das técnicas projetivas é preciso que compreenda que essa trabalha
embasada em três níveis, o vínculo escolar, familiar e consigo mesmo, então são
nesses campos que o psicopedagogo, ao utilizar uma técnica projetiva, vai avaliar o
sujeito.

As técnicas projetivas auxiliam bastante o psicopedagogo, principalmente em se


tratando de crianças que ainda possuem limitações com a verbalização em relação ao
que ela sente. Com isso, o psicopedagogo consegue avaliar no sujeito o que ele
expressa, de fato, por meio de desenho de modo consciente e a nível inconsciente,
com isso, por meio das técnicas projetivas é possível analisar qual vínculo o sujeito
possui no meio escolar, familiar e consigo mesmo.

Outro aspecto que estudamos foi em relação à epistemologia convergente de Visca,


que teve como pressupostos teóricos a epistemologia genética de Piaget, a
psicanálise de Freud e a psicologia Social de Riviére. É um método clínico com o qual
se tenta conduzir a aprendizagem.

Portanto é relevante que o psicopedagogo se mantenha em constante re exão sobre


sua prática, pois diante do que estudamos aqui, ca claro que a psicopedagogia é um
campo que vem em constante crescimento e é interdisciplinar desde sua formação a
até a sua prática, ca claro também a importância de o pro ssional não parar seus
estudos após um curso, é preciso manter-se atualizado para compreender os
obstáculos que interferem nos processos de aprendizagem. 

Leitura complementar
Leitura complementar

Práxis psicopedagógica – liação teórica

 SILVA, Maria Luiza Quaresma Soares – CENEP-HC-UFPR

O papel da psicopedagogia, frente a uma queixa de di culdade na aprendizagem,


seja ela de caráter primário ou associada a distúrbios psico-neurológicos, é investigar
como aquele sujeito, particular e único, interage com os objetos e realiza essa
acomodação. Para tanto, faz uso de procedimentos para colher e analisar informações
em busca de parâmetros para a compreensão do fenômeno.

A matriz diagnóstica utilizada na elaboração dos procedimentos aqui descritos


fundamentou-se na Epistemologia Convergente de Jorge Visca e em estudos sobre a
aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática.

A Epistemologia Convergente é uma teoria que agrega contribuições de três áreas do


conhecimento: Psicologia Genética, Psicanálise e Psicologia Social (VISCA, 1994, p. 9 e
16). Nessa abordagem, o sujeito é visto como uma totalidade psicossomática, na qual,
primeiramente existe um corpo (substrato biológico) inserido no mundo, que em
interação com um objeto (ser maternante), desabrocha para uma consciência
psíquica de si mesmo (eu psicológico - mente). Visca (1994, p.68) denomina esse
pensar como um esquema referencial, e o vincula às teorias construtivista,
estruturalista e interacionista. Construtivista, segundo o autor, porque tanto sujeito
quanto conhecimento vão sendo construídos por etapas, a partir de sucessivas
sínteses entre o que já se sabe e novas aquisições. Estruturalista, porque a construção
que está surgindo é uma estrutura total, envolvendo a dimensão cognitiva e afetiva
de forma interagente, frente aos desequilíbrios. E é interacionista, porque para se
construir uma estrutura é necessário haver interação com o outro e com o meio. A
aprendizagem ocorre na relação sujeito objeto, possuindo um aspecto cognitivo e um
afetivo.

Psicologia Genética é o nome dado à teoria nascida da investigação que Piaget


empreendeu sobre a gênese da lógica no ser humano. Inicialmente era uma
formulação epistemológica, mas buscando responder a sua questão de estudo, e não
dispondo do homem pré-histórico para o intento, elegeu a criança como seu sujeito
de pesquisa.

Durante anos analisou e descreveu as primeiras aquisições lógicas na criança o que


resultou na elaboração de uma teoria do desenvolvimento e uma concepção de
aprendizagem (MORO, 2002, p.118). O próprio Piaget (1979, Apud COLL e MARTÍ, 2004,
p. 45) de nia sua epistemologia genética como a disciplina que estuda os
mecanismos e os processos mediante os quais se passa “dos estados de menor
conhecimento aos estados de conhecimento mais avançados”. Identi cou na criança,
três grandes estágios ou períodos evolutivos no desenvolvimento cognitivo: um
estágio sensório motor, indo do nascimento até os 18-24 meses aproximadamente e
culminando com a construção da primeira estrutura intelectual, o grupo dos
deslocamentos; um estágio de inteligência representativa ou conceitual, dos 2 aos 10-
112 anos aproximadamente, que culmina com a construção das estruturas operatórias
concretas; e nalmente, um estágio de operações formais, no qual se dá a construção
das estruturas intelectuais próprias do raciocínio hipotético-dedutivo aos 15 ou 16
anos (COLL; MARTÍ, 2004, p.46).

Nos anos 70, Barbel Inhelder, uma das colaboradoras de Piaget, organizou os
procedimentos metodológicos utilizados por eles nas pesquisas clínicas e divulgou
parte desse material com o título de provas piagetianas. A característica deste
protocolo é seu caráter qualitativo distinto da psicometria que fornece dados
quantitativos. Mais tarde, esse material passou a compor protocolos de avaliação
psicopedagógica com o objetivo especí co de identi car o estágio do
desenvolvimento cognitivo alcançado pelos sujeitos. (DOMAHIDYDAMI; BANKS-LEITE,
1992, p.118).

As outras duas contribuições teóricas que compõem a Epistemologia Convergente


são as advindas da Psicanálise, área que descreve o psiquismo humano e suas
motivações inconscientes; e da Psicologia Social de Pichon-Rivière que analisa a
in uência de fatores sócio-culturais na conduta dos sujeitos (VISCA, 1994, p.15).

Uma avaliação psicopedagógica, segundo o modelo da epistemologia convergente,


fará uso de recursos diagnósticos provenientes dessas três áreas. O sujeito realizará
atividades que forneçam subsídios a uma compreensão de seu desenvolvimento no
que tange à cognição e vínculos afetivos estabelecidos com objetos e situações de
aprendizagem. Visca (1994, p.68) considera três tipos de obstáculos à aprendizagem:
epistêmico, epistemofílico e funcional. A interrupção ou lenti cação no
desenvolvimento cognitivo do sujeito, caracteriza o obstáculo epistêmico, e
determina o nível de operatividade daquela pessoa. No obstáculo epistemológico,
existe um vínculo inadequado com objetos e situações de aprendizagem,
desencadeando um estado afetivo alterado que, segundo a teoria, pode se manifestar
como uma ansiedade confusional, esquizo-paranóide e depressiva; agindo de forma
predominante, alternada ou coexistente. Já o conceito de obstáculo funcional possui
duas variantes: quando ainda não houve uma re exão sobre um determinado
problema ou setor da realidade por parte da teoria psicoanalítica ou piagetiana; ou
mesmo se já o zeram, não apresentaram instrumento especí co de avaliação para o
dito setor ou aspecto do real. Nesse caso, Visca (1991, p. 30; 1994, p.68) diz recorrer a
instrumentos de liação sensual-empirista, da psicometria tradicional; oposto aos
princípios construtivista, estruturalista e interacionista adotados em sua teoria, mas
que lhe fornecem como resultado, os obstáculos funcionais; e nesse contexto, tal
resultado é considerado como uma hipótese diagnóstica auxiliar. A outra maneira de
conceber um obstáculo funcional corresponderia às diferenças funcionais peculiares
da cognição, frente a certas patologias e identi cadas quando da aplicação do
método clínico piagetiano. (VISCA, 1994, p.68-69; AJURIAGUERRA, 1992, p. 124).
CONECTE-SE
Práxis psicopedagógica – liação teórica

 SILVA, Maria Luiza Quaresma Soares – CENEP-HC-UFPR

  O papel da psicopedagogia, frente a uma queixa de di culdade na


aprendizagem, seja ela de caráter primário ou associada a distúrbios
psico-neurológicos, é investigar como aquele sujeito, particular e único,
interage com os objetos e realiza essa acomodação. Para tanto, faz uso
de procedimentos para colher e analisar informações em busca de
parâmetros para a compreensão do fenômeno. 

A matriz diagnóstica utilizada na elaboração dos procedimentos aqui


descritos fundamentou-se na Epistemologia Convergente de Jorge Visca
e em estudos sobre a aprendizagem da leitura, da escrita e da
matemática.
Livro

Filme

Título. Primeiro Aluno Da Classe.

• Ano. 2008.

• Sinopse. Drama familiar inspirado na vida de Brad Cohen, um


homem diagnosticado desde criança com Síndrome de
Tourette, desordem neurológica caracterizada por tiques,
reações rápidas, movimentos repentinos (espasmos) ou
vocalizações que ocorrem repetidamente com considerável
frequência. Esses tiques motores e vocais mudam
constantemente de intensidade e não existem duas pessoas no
mundo que apresentem os mesmos sintomas. Tele lme
produzido pelo Canal Hallmark que mostra de modo el as
di culdades enfrentadas pelo sujeito em lidar com sua
condição e alcançar seus sonhos. Uma grande história que fala
de superação e do quanto as pessoas agem pela primeira
impressão, movidas por preconceitos.
Web

No vídeo intitulado Avaliação Psicopedagógica, a


psicopedagoga Daniela Janssen traz uma explicação bem
dinâmica em relação às técnicas projetivas, sua aplicação e
funções.
Unidade 2
Entrevista
psicopedagógica

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
Introdução
Prezado(a) aluno(a), abordaremos, nesta unidade, a entrevista psicopedagógica que
são técnicas próprias da área da psicopedagogia, para uma ação preventiva e
interventiva. Nesse momento, buscaremos analisar a entrevista, elencando as várias
interferências que possam propiciar as problemáticas do indivíduo, bem como os
aspectos éticos que são relevantes para a atuação do psicopedagogo.

Com isso, no tópico 1 é abordado sobre a Introdução e embasamento teórico das


técnicas de entrevista psicopedagógicas, que possui diferentes objetivos,
dependendo de cada caso. E é por meio da análise das informações obtidas nesta
etapa que o psicopedagogo terá contribuição para o planejamento dos demais
processos, por isso é indispensável.

No tópico 2 tratamos em relação aos Aspectos éticos implicados na relação


entrevistador e entrevistado, que o pro ssional de psicopedagogia deve dispor de
organizações adequadas com técnicas de entrevistas, e ter a obrigação de se
comportar e manter o sigilo, as responsabilidades com consciência de que tudo que
é tratado em uma entrevistas e/ou no decorrer de todo o acompanhamento
psicopedagógico deve ser mantido somente entre os interessados. 

No tópico 3 é feita uma compreensão da Entrevista familiar exploratória situacional e


anamnese, é uma etapa de grande relevância, pois é neste momento que reside a
possibilidade de o psicopedagogo compreender a queixa nas dimensões da escola e
da família, por envolver uma análise da dinâmica de várias pessoas da família,
socialmente e escolar que relaciona com o indivíduo analisado.

No tópico 4 abordamos a Entrevista operativa centrada na aprendizagem (EOCA),


que é usada como ponto inicial em todo processo de investigação diagnóstica das
di culdades de aprendizagem pelo psicopedagogo. Elaborada por Visca, com o
objetivo de estudar as manifestações cognitivas e afetivas do comportamento do
entrevistado em situação de aprendizagem.

Com isso, vamos ter um desa o importante: analisar os relatos mencionados na


entrevista psicopedagógica, e buscar compreender as estruturadas a que se coloca
em evidência o aprendizado ou não do indivíduo em análise. 

Então, vamos ao nosso desa o!

Bons estudos!
Introdução e embasamento
teórico das técnicas de
entrevista
psicopedagógicas

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
É relevante destacar que a atuação pro ssional do psicopedagogo se apresenta
como terapêutica, ou seja, terapia centrada nos processos de aprendizagem, e é
recomendada a todos os públicos aprendentes: crianças, jovens ou na melhor idade.

O psicopedagogo tem por missão compreender os mistérios presentes nas histórias


da não aprendizagem do ser humano. Para isso, faz uso de diferentes instrumentos
em busca de informações que destaquem as possíveis fraturas processuais entre o
indivíduo e a aprendizagem, investigando a dinâmica dessa relação e entre todos os
envolvidos nesse processo, entre eles a escola e a família. Diante das informações
obtidas nesses meios, pode instrumentalizar as ações para um acompanhamento
tanto dos educadores, como dos familiares na ressigni cação da relação do
aprendente com o aprender.

Aqui podemos destacar a entrevista psicopedagógico, que é um dos instrumentos


de grande importância para o psicopedagogo, é aplicada sempre no início do
tratamento, se a pessoa for menor de idade é feito com os familiares primeiramente,
e se for adulto é feito com ele mesmo e só após com os familiares. Assim, os testes se
diferenciam, em geral, pela sua particularidade de analisar a aprendizagem
humana, e ainda é preciso destacar que se trata geralmente de especi cidade de
uma atuação clínica.

Para isso, é necessário compreender a natureza das relações do psicopedagogo com


o paciente aprendente, que precisa:
Figura 1 - Natureza das relações do terapeuta com o cliente

Escutar

Adquirir
consciência do
modo de estar
no mundo, Testemunhar
dos limites e
possibilidades

Perceber,
aceitar,
ultrapassar os Acolher
limites do outro
e seu próprio

Ser questionado
e me questionar Questionar

Fonte: a autora.

Vamos iniciar destacando a importância de compreender os testes por meio da


escuta contextualizada do sujeito aprendiz, por meio de três etapas: ensino,
aprendizagem e a família. Fernández (1990) entende por escuta-olhar
psicopedagógicos em relação às atitudes e produções do paciente aprendente,
sobre o material diagnóstico, que precisa constar a entrevista com os pais, a
realização de testes, hora do brinquedo, momento lúdico, grá cas, discurso verbal,
gesto, o silêncio, entre outras observações que devem ser observadas pelo
psicopedagogo e devidamente descritas em sua análise.

É relevante compreender que a função de ouvir não é somente estar registrando


tudo, mas que o psicopedagogo possa se colocar em uma posição de empatia;
porém, ter a sensibilidade de não in uenciar as narrativas pela explicitação de juízos
de valor, nem tampouco auxiliar nas descrições de alguns fatos. É relevante que,
caso haja esquecimento de algo, deixar que a própria pessoa relembre e discorra
sobre e dê sequência dos fatos transmitidos, pois caso o psicopedagogo interferir no
discurso do indivíduo analisado, pode anular a possibilidade de interpretar o
discurso inconsciente. 

Então podemos dizer que o psicopedagogo neste momento é: “[...] alguém que com
sua escuta outorga valor e sentido à palavra de quem fala, permitindo-lhe organizar
(começar a entender-se) precisamente a partir de ser ouvido” (FERNÁNDEZ, 1990, p.
126).

REFLITA
É preciso que compreenda, caro(a) aluno(a), que estamos tratando de
um recurso utilizado pelo psicopedagogo clínico, porém, a amplitude
dessa área de estudos interdisciplinar permite que o psicopedagogo
também utilize alguns desses testes no espaço institucional, desde que
preservando a atitude clínica e o olhar analítico e entendendo que não
se pode clinicar em ambientes institucionais (escola, hospitais,
empresas entre outras).

Fonte: Fernández (1990).

Para tanto, a escuta é uma característica do próprio ser humano que tem a
necessidade de ouvir e ser ouvido. Na terapia psicopedagógica é preciso escutar as
demandas dos pais, do aprendente e professores, e fazer uma análise nas
entrelinhas do que não é expresso explicitamente no dia a dia, mas surge a partir
dos diálogos entre o aprendente e o terapeuta da aprendizagem; entre o professor,
os pais e psicopedagogo e outros pro ssionais.

Ou seja, Andersen (2002, p. 22) destaca a mesma preocupação quando a rma:

Escutar é ver. A pessoa que escuta (o terapeuta) e que segue aquela


que fala (o cliente), não somente ouvindo a palavra, mas também
vendo como elas são proferidas, notará que cada uma delas toma parte
no movimento do corpo. As palavras faladas e a atividade do corpo vêm
juntas, formando uma unidade.

Outro aspecto é que o psicopedagogo deve testemunhar, que está ligado em


autorizar, delegar ou dar poder legal a alguém (RAWAT, 2014). Como também o
empoderamento, que pode relacionar com autonomia e autoria de pensamento,
que se constroem no momento em que o sujeito da aprendizagem identi ca e
verbaliza a origem de seu sucesso ou insucesso de maneira mais especí ca ou,
ainda, quando consegue, de modo espontâneo, rever sua produção e corrigi-la.

Acolher, por sua vez, está relacionado ao conceito de “solicitude” ou à


responsabilidade no que vai ocorrer com o outro e, simultaneamente, que ele
mesmo tome parte neste destino (MEIRIEU, 2002).

Posteriormente, questionar, que está ligado ao ato de perguntar, essa ação leva a
diferentes formas de agir, pode auxiliar no esclarecimento para conhecer e
possibilitar a construção de novos signi cados. Ser questionado, por outro lado, e se
questionar auxilia em expandir as possibilidades a diferentes vozes, descrições e
diferentes alternativas na intervenção, desenvolvendo, com isso, uma maior
quantidade e qualidade nos deslocamentos e/ou mudanças.

Ainda, o psicopedagogo deve ter a postura de perceber, aceitar, ultrapassar os


limites do outro e o seu próprio. É uma oportunidade terapêutica para a
construção de novas descrições a partir de momentos que possibilitam reconhecer-
se de modo incomum.

Por m, adquirir consciência do modo de estar no mundo, dos limites e


possibilidades é um momento de quebra de paradigmas, pois é preciso que ocorra
uma análise das concepções e crenças construídas, socialmente, a respeito da forma
de estar no mundo (clichês). A terapia, então, é uma oportunidade para aprender a
identi car, analisar, descrever e nomear novas maneiras de estar no mundo e, assim,
tomar consciência de outros modos para melhor viver e aprender.

Para tanto, o psicopedagogo precisa ter um olhar cuidadoso, apurado, re exivo e


pesquisador para todas essas questões, para que possa exercer o seu papel
adequadamente e satisfatoriamente. Ou seja, a terapia deve ter um olhar sistêmico,
fundamental para a atuação nesta especi cidade, por ser o terapeuta da
aprendizagem, poderá construir e contribuir com os outros pro ssionais; ampliar o
seu fazer e facilitar processos, no meio educacional (GASPARIAN et al., 1998).
Aspectos éticos implicados
na relação entrevistador e
entrevistado

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
Tem-se, desse modo, a expansão da atuação psicopedagógica, mas, por ser uma
área nova e muito promissora na contemporaneidade, contempla várias dúvidas
com relação ao campo de atuação e a prática no dia a dia. Por isso, a Associação
Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) elaborou alguns documentos que norteiam a
atuação pro ssional, entre eles, o Código de ética de Psicopedagogia, assunto
abordado por nós neste momento. Para Naline (2004, p. 36), “ética é a ciência do
comportamento moral dos homens em sociedade”. Entendemos, dessa forma, que
a ética é uma ciência que tem objeto, leis e método próprios.

Essa palavra vem do latim ethica, tem seus fundamentos na loso a e


não pode ser confundida com a moral, pois ética é a ciência dos
costumes e moral é o objeto da ética. Ética é a ciência normativa dos
comportamentos humanos (REALE, 1999, p. 134).

A ética, porém, é diferente da moral, mesmo que sejam temas relacionados, mas são
diferentes entre si. Moral se estabelece quando o sujeito obedece às normas,
costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos; a ética, por sua vez,
tem sua essência fundamentada no modo de viver pelo pensamento humano (SÁ,
2013).

Segundo Cortella (2010, p. 106), “A ética é o conjunto de princípios e valores da nossa


conduta na vida junta. Portanto, a ética é o que faz a fronteira entre o que a natureza
manda e o que nós decidimos. A ética é aquilo que orienta a sua capacidade de
decidir, julgar, avaliar”. Considera-se, então, que ética é um conjunto de princípios
que conduzem e orientam o homem à ação moralmente correta.

As pro ssões também são regidas por normas e regras especí cas. Há, por exemplo,
a ética médica, a ética jurídica, a ética do psicopedagogo. Assim, a ética pro ssional
abrange todos os setores pro ssionais da sociedade e tem como objetivo interrogar
mais amplamente o papel social da pro ssão, sua responsabilidade, função, e
atitude frente a riscos e ao meio (MICHAELIS, 2018). Para Sá (2013, p. 167),

Um complexo de deveres envolve a vida pro ssional sobre os ângulos


da conduta a ser seguida para a execução de um trabalho, onde esses
deveres passam a governar a vida do indivíduo perante seu cliente, seu
grupo, colegas, a sociedade e perante sua própria conformação mental
e espiritual.

Diante disso, ter ética pro ssional é cumprir com todas as atividades e obrigações
estabelecidas à pro ssão; são princípios indispensáveis para manter uma sociedade
organizada, ou seja, é necessário que cada sujeito cumpra seu papel na sociedade. 

Agora que já sabemos um pouco mais sobre o que é o código de ética pro ssional,
conheceremos um pouco mais sobre o código de ética do pro ssional de
psicopedagogia.
Ao tomar como referência o século XXI, é pertinente que o futuro pro ssional em
psicopedagogia tenha como objetivo o desenvolvimento harmonioso do ser
humano e da consciência do signi cado de sua ação no contexto em que age. É
preciso, também, buscar constantemente a consciência das suas funções na
situação de aprendizagem. Para isso, é necessário que questione o signi cado das
suas ações e observe se elas constituem um possível caminho para salvaguardar
que o aprendiz não se perca e desanime em um fazer automático e sem sentido de
vida.

No que diz respeito a sua ética, esta deve ser baseada em um conjunto de regras de
conduta moral e deontológica que norteiam os pro ssionais da área. Essas regras
estão descritas no Código de Ética do Psicopedagogo, aprovado pela Associação
Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), em 1996, sendo reformulado e aprovado em
assembleia geral em 5 de novembro de 2011. Segundo a ABPp (2019), o código de
ética tem o propósito de estabelecer e orientar parâmetros que norteiam a
pro ssão. Dessa forma, busca manter a boa conduta do pro ssional, estabelecendo
diretrizes para o exercício da função. Atualmente, com a evolução que ocorre em
meio à sociedade, o código de ética também passou por mudanças. O Código de
Ética do Psicopedagogo regulamenta as situações apresentadas na Figura 2.

Figura 2 - Situações regulamentadas pelo Código de Ética do Psicopedagogo

Princípios da psicopedagogia;

Formação do psicopedagogo;

Exercício das atividades psicopedagógicas

Responsabilidades;

Instrumentos;

Publicações científicas;

Publicidade profissional;

Honorários;

Disposições gerais;

Fonte: a autora.
O Artigo 16 indica que cabe ao psicopedagogo cumprir o código, pois, conforme
consta no mesmo Artigo, em seu parágrafo único:

Parágrafo único - Constitui infração ética:


a) utilizar títulos acadêmicos e/ou de especialista que não possua;
b) permitir que pessoas não habilitadas realizem práticas
psicopedagógicas;
c) fazer falsas declarações sobre quaisquer situações da prática
psicopedagógica;
d) encaminhar ou desviar, por qualquer meio, cliente para si;
e) receber ou exigir remuneração, comissão ou vantagem por serviços
psicopedagógicos que não tenha efetivamente realizado;
f) assinar qualquer procedimento psicopedagógico realizado por
terceiros, ou solicitar que outros pro ssionais assinem seus
procedimentos (ABPP, 2019, s.p.).

Logo, no exercício da pro ssão, o psicopedagogo, investido de adequada formação,


não pode cobrar honorários de serviços não realizados, nem assinar procedimentos
psicopedagógicos que não tenha pessoalmente executado. O psicopedagogo não
pode perder de vista que o objetivo de seu trabalho é a aprendizagem em todas as
suas nuances. O Código de Ética do Psicopedagogo, no Capítulo I, composto de
quatro artigos, dispõe sobre os princípios que regem a pro ssão. Averiguemos, cada
um deles:

Artigo 1º
A Psicopedagogia é um campo de atuação em Educação e Saúde que
se ocupa do processo de aprendizagem considerando o sujeito, a
família, a escola, a sociedade e o contexto sócio-histórico, utilizando
procedimentos próprios, fundamentados em diferentes referenciais
teóricos.
Parágrafo 1º
A intervenção psicopedagógica é sempre da ordem do conhecimento,
relacionada com a aprendizagem, considerando o caráter indissociável
entre os processos de aprendizagem e as suas di culdades.
Parágrafo 2º
A intervenção psicopedagógica na Educação e na Saúde se dá em
diferentes âmbitos da aprendizagem, considerando o caráter
indissociável entre o institucional e o clínico.
Artigo 2º
A Psicopedagogia é de natureza inter e transdisciplinar, utiliza
métodos, instrumentos e recursos próprios para compreensão do
processo de aprendizagem, cabíveis na intervenção (ABPP, 2019, s.p.).

Dessa forma, o psicopedagogo pode atuar tanto na área da saúde quanto na área da
educação, desde que em ambas o objeto de estudo seja a aprendizagem e os
fatores que interferem nesse processo. O Artigo 3ª do Código de Ética do
Psicopedagogo estabelece os objetivos do trabalho do psicopedagogo:
a) promover a aprendizagem, contribuindo para os processos de
inclusão escolar e social;
b) compreender e propor ações frente às di culdades de
aprendizagem;
c) realizar pesquisas cientí cas no campo da Psicopedagogia;
d) mediar con itos relacionados aos processos de aprendizagem
(ABPP, 2019, s.p.).

Como é possível perceber, a aprendizagem é o objeto de estudo da psicopedagogia


e, por isso, é um fator a ser considerado nas atividades psicopedagógicas, no que se
refere à proposição de ações e à mediação de con itos correlacionados. Um objetivo
que, também, merece atenção concerne ao fato de o psicopedagogo também atuar
como pesquisador. O Artigo 4º do Código de Ética do Psicopedagogo ressalta o
envolvimento do deste, juntamente com outros pro ssionais, em projetos nas áreas
da educação e saúde: “O psicopedagogo deve, com autoridades competentes,
re etir e elaborar a organização, a implantação e a execução de projetos de
Educação e Saúde no que concerne às questões psicopedagógicas” (ABPP, 2019,
s.p.).

O Capítulo II do Código de Ética do Psicopedagogo diz respeito à formação


pro ssional, que deve ocorrer em curso de graduação e/ou em curso de pós-
graduação, especialização lato sensu em Psicopedagogia, ministrados em
estabelecimentos de ensino, devidamente reconhecidos e autorizados por órgãos
competentes, de acordo com a legislação em vigor. Assim, somente podem exercer
a pro ssão de psicopedagogo os pro ssionais com graduação na área ou
portadores de certi cados de pós-graduação expedidos por instituições
reconhecidas pelo Ministério da Educação. O Capítulo IV do Código de Ética do
Psicopedagogo, em seu Artigo 11, estabelece as responsabilidades a serem
assumidas pelo pro ssional da psicopedagogia:

Artigo 11
São deveres do psicopedagogo:
a) manter-se atualizado quanto aos conhecimentos cientí cos e
técnicos que tratem da aprendizagem humana;
b) desenvolver e manter relações pro ssionais pautadas pelo respeito,
pela atitude crítica e pela cooperação com outros pro ssionais;
c) assumir as responsabilidades para as quais esteja preparado e nos
parâmetros da competência psicopedagógica;
d) colaborar com o progresso da Psicopedagogia;
e) responsabilizar-se pelas intervenções feitas, fornecer de nição clara
do seu parecer ao cliente e/ou aos seus responsáveis por meio de
documento pertinente;
f) preservar a identidade do cliente nos relatos e discussões feitos a
título de exemplos e estudos de casos;
g) manter o respeito e a dignidade na relação pro ssional para a
harmonia da classe e a manutenção do conceito público (ABPP, 2019,
s.p.).
São várias as responsabilidades atribuídas ao psicopedagogo, envolvem formação
continuada, relações interpessoais, ética com o paciente, necessidade de só prestar
atendimento quando se sentir apto, zelar pelo nome da pro ssão, entre outros. O
Capítulo III do Código de Ética do Psicopedagogo, em seu artigo 6º ao 10, cuida do
exercício das atividades do psicopedagogo:

Artigo 6º
Estarão em condições de exercício da Psicopedagogia os pro ssionais
graduados e/ou pós-graduados em Psicopedagogia – especialização
“lato sensu” - e os pro ssionais com direitos adquiridos anteriormente à
exigência de titulação acadêmica e reconhecidos pela ABPp. É
indispensável ao psicopedagogo submeter-se à supervisão
psicopedagógica e recomendável processo terapêutico pessoal.
Parágrafo 1º
O psicopedagogo, ao promover publicamente a divulgação de seus
serviços, deverá fazê-lo de acordo com as normas do Estatuto da ABPp
e os princípios deste Código de Ética.
Parágrafo 2º
Os honorários deverão ser tratados previamente entre o cliente ou seus
responsáveis legais e o pro ssional, a m de que:
a) representem justa contribuição pelos serviços prestados,
considerando condições socioeconômicas da região, natureza da
assistência prestada e tempo despendido;
b) assegurem a qualidade dos serviços prestados (ABPP, 2019, s.p.).

Esse artigo, mais uma vez, rea rma que, para exercer a pro ssão de psicopedagogo,
é necessário ser graduado na área ou ter curso de pós-graduação (lato sensu) em
cursos reconhecidos pelo Ministério da Educação. Recomenda-se, ainda, que o
psicopedagogo faça terapia. Determina, também, que a divulgação dos trabalhos
deve ser elaborada conforme as normas difundidas pela ABPp, assim como os
honorários devem ser combinados previamente, a m de que ninguém se sinta
lesado.

Um dos pontos de nidos no Código de Ética diz respeito ao sigilo pro ssional, ou
seja, o pro ssional não deve revelar fatos que comprometam a intimidade dos
sujeitos. Ressalta, entretanto, em seu Artigo 7º que o psicopedagogo está imposto a
respeitar o sigilo pro ssional; proteger a con dencialidade dos dados obtidos em
decorrência do exercício de sua atividade e não revelar fatos que possam
comprometer a intimidade das pessoas, grupos e instituições sob seu atendimento.

Dessa forma, destaca-se a importância de conhecer o código de ética e suas


regulamentações, pois elas apresentam com propósito os parâmetros que os
pro ssionais devem seguir. Vale lembrar que existem vários códigos de ética em
meio a tantas pro ssões e todos possuem o mesmo propósito: conduzir a boa
conduta do pro ssional e do cidadão.
SAIBA MAIS
Ser ético é se manter dentro das normas e regras que fundamentam
sua pro ssão dentro e fora do ambiente de trabalho. Por isso, que
atento às mudanças que ocorrem nas normativas do código de ética de
sua pro ssão, para que não ocorra infrações.

Fonte: Goldim Junior (2006).

Desse modo, é relevante a necessidade que o psicopedagogo busque pela sua


quali cação e que possa realizar seu trabalho, com conhecimentos práticos e
teóricos, com um nível de olhar e escuta psicopedagógica coerente. Não se
esquecer, também, da sua postura ética e pro ssionalismo.
Entrevista familiar
exploratória situacional e
anamnese

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
Caro(a) aluno(a), o processo e instrumentos utilizados durante o diagnóstico
psicopedagógico são relevantes por levantar hipóteses e auxiliar na identi cação
das causas da não aprendizagem e seu signi cado. Com isso, não há uma sequência
engessada para os passos do diagnóstico psicopedagógico, e nem um número
de nido de sessões para tal. A ordem e a quantidade de testes dependem do
vínculo e das necessidades do paciente.

Mas, precisamos de um norte, não é mesmo? Com isso, para dar início ao
diagnóstico psicopedagógico são utilizados os seguintes processos e instrumentos:

Tabela 1 – Processos e instrumentos para diagnóstico psicopedagógico

Motivo da consulta;

Enquadre com o paciente;

Hora do jogo;

História vital;

Provas projetivas psicopedagógicas;

Provas operatórias psicopedagógicas;

Avaliação da Lecto-escrita;

Avaliação do pensamento lógico-matemático;

Avaliação do corpo e movimento;

Hipótese diagnóstica.

Fonte: a autora.

A entrevista é feita com a criança e a família, preferencialmente separados um do


outro, ou seja, um entrevista com a criança somente e outra com seus familiares,
que pode ser realizada com o objetivo de abordar assuntos relacionados às
expectativas, qual o motivo da procura do psicopedagogo e/ou a queixa no meio
familiar, como se dá a relação e a expectativas dos familiares com relação à
aprendizagem e ações terapêuticas psicopedagógicas; a aceitação e engajamento
da família no diagnóstico; deixar claro o que é um diagnóstico psicopedagógico;
organizar um momento acolhedor e com um clima de segurança, atrativo (lúdico)
que poderá auxiliar no retorno em se tratando de criança.

É também durante a entrevista familiar exploratória situacional (EFES) que o


psicopedagogo determinará o registro juntamente aos familiares ou responsáveis
sobre os horários, quantidades de sessões e a importância da frequência. Outro
aspecto importante que Guimarães, Rodrigues e Ciasca (2003) levantam é que na
primeira consulta o psicopedagogo deve car atento, pois nem sempre a queixa
trazida pelos familiares vai descrever o sintoma. Com isso, a família é relevante neste
processo, como já vimos, para que se possa compreender o motivo que está levando
a procura dos conhecimentos psicopedagógicos, e é uma oportunidade de
estabelecer hipóteses sobre aspectos importantes no diagnóstico dos problemas de
aprendizagem, e por ser o primeiro contato que o psicopedagogo tem com a
família, como também a oportunidade de acolhimento dos familiares e de
transmitir segurança perante como serão os próximos atendimentos, sendo assim
necessário um enquadre com a família e outro com o aprendente.

Na EFES o psicopedagogo precisa adotar os procedimentos de metodologia ou


modus operandi do trabalho clínico, e utilizar a entrevista e anamnese, provas
psicomotoras, de linguagem, de nível mental, pedagógicas, de percepção, projetivas,
entre outras que julgar necessárias.

Na entrevista o psicopedagogo poderá identi car o problema que ocorre na queixa


que o professor, familiar ou o próprio sujeito levantou. Depois, deve buscar os
conhecimentos de todo o entorno do sujeito para melhor compreender a queixa.
Colher dados: por meio de observação, entrevista, questionários, entre outros, que
pode ser para a avaliação da produção escolar, veri car os vínculos com os objetivos
de aprendizagem escolar.

Neste primeiro encontro devemos fazer com que os pais sintam-se


protegidos, acolhidos, pois se perceberem uma boa escuta, não crítica,
terão o espaço de con ança necessário e terapêutico. O
psicopedagogo não julga se foram bons pais, e sim vai favorecer a
expressão, criando um clima de afetividade e compreensão. Ainda que
os pais procurem ajuda, é previsível que apareçam obstáculos e
resistência a nossa ação. Vamos encontrar ocultamento, engano,
sedução e desautorização em relação a nós, justamente para evitar que
contatemos com o que nos foi ocultado, enganado, seduzido ou
desautorizado. Tais atitudes devem ser tomadas como elementos que
vão servir para poder entender o problema de aprendizagem da
criança e não nos deixar atingir pela agressão que elas contêm
(FERNANDEZ, 1991, p. 145-146).

Então, podemos entender que a EFES é um instrumento de grande relevância para


a coleta de dados, ela viabiliza a compreensão da queixa, tanto aos anseios da escola
como da família. É o momento que o psicopedagogo recolhe informações acerca
das relações e expectativas familiares, tendo em vista a aprendizagem escolar do
aprendente (WEISS, 2004).

Quadro 1 - Sessão inicial e familiar

SESSÃO UM - ENTREVISTA INICIAL E FAMILIAR

Objetivo
Esclarecimento sobre o trabalho psicopedagógico.
1

Objetivo Identi cação da criança (nome), liação (pai, mãe), data de


2 nascimento, endereço e o nome do(a) responsável.

Motivos da consulta - queixa (causa que levou os pais ou


Objetivo responsáveis a buscar a avaliação psicopedagógica) e
3 contrato (estabelecer critérios como dia, local horário,
frequência e valores).

Objetivo Investigação sobre o processo de aprendizagem, desde os


4 primeiros anos de vida.

Objetivo Investigação sobre o nível socioeconômico e cultural da


5 família.

Objetivo
Investigação sobre atendimento anterior.
6

Objetivo
Investigação sobre as expectativas da família e da criança.
7

Fonte: Nogueira e Leal (2016, p. 84).

Para Oliveira (2017), essa descrição coloca a família como intermediária de um


sistema social mais amplo, e deve levar em consideração as transformações da
sociedade contemporânea, em que a família precisa ajustar normas e valores,
tornando de maior importância a sua função psicossocial, pois é no meio familiar
que se inicia os ajustes necessários no ser humano.

Após realizados todos os testes e provas, é o momento da realização da Anamnese,


que consiste em uma entrevista mais especí ca que a EFES. É uma entrevista feita
com os pais ou com toda a família para entender as relações familiares em uma
perspectiva temporal, que envolve passado e presente, com projeção para o futuro e
sua relação com o processo de aprendizagem do sujeito (WEISS, 2004).
No formulário da anamnese deve haver, especi cados, campos para o registro da
história pessoal, familiar, problemas clínicos, sociais e/ou incapacidades físicas que
devem ser anotadas, entre outras informações relevantes a vida do indivíduo em
análise da sua concepção até o presente momento. E aqui, é o momento do
psicopedagogo exercitar a escuta, e para melhor colher os resultados o ideal é que
seja realizada no nal dos testes, para que possa chegar a um diagnóstico mais
con ável.

SAIBA MAIS
Acesse o Link: 

Nele, você terá o modelo para a aplicação da Anamnese


Psicopedagógica.

 
Entrevista operativa
centrada na aprendizagem

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
A Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA) é um recurso em forma
de entrevista, por meio do qual o psicopedagogo consegue avaliar a aprendizagem.
Um instrumento proposto por Visca (1996, p. 44) que deve conduzir, fazendo
algumas perguntas, por exemplo: “[...] gostaria que você, usando esse material, me
mostrasse o que sabe fazer, o que lhe ensinaram, o que você já aprendeu”. A
abordagem visa proporcionar ao sujeito meios para que, no decorrer da entrevista,
que deve ser de forma espontânea, os procedimentos ocorram por meio de uma
caixa, na qual o aprendente encontra alguns objetos, estes podem ter relações com
a aprendizagem, como: papel em branco, cola, tesoura, livros, revistas, entre outros
(WEISS, 2004). Assim, conforme a pessoa interage ou não com os materiais, o
psicopedagogo registra o que está determinado no (protocolo Categorias da
triagem psicopedagógica), ao mesmo tempo, organiza a atividade para início da
testagem do Esquema sequencial da triagem e avaliação.
Tabela 2 – Categorias da Triagem psicopedagógica

Categoria Desempenho

(1) Alterado      (2) Não-


Vínculo com o ambiente escolar
alterado

(1) Alterado      (2) Não-


Vínculo com a aprendizagem da matemática
alterado

(1) Alterado      (2) Não-


Vínculo com a aprendizagem da língua escrita
alterado

Desempenho acadêmico em relação à série (1) Alterado      (2) Não-


em curso alterado

(1) Alterado      (2) Não-


Desempenho na leitura
alterado

(1) Alterado      (2) Não-


Desempenho na escrita
alterado

(1) Alterado      (2) Não-


Desempenho na matemática
alterado

Controle da atenção observado durante a (1) Alterado      (2) Não-


triagem alterado

(1) Alterado      (2) Não-


Organização e planejamento das ações
alterado

(1) Alterado      (2) Não-


Comunicação verbal
alterado

(1) Alterado      (2) Não-


Expressividade e tônus corporal
alterado

(1) Alterado      (2) Não-


Autonomia e criatividade no uso dos materiais
alterado

Fonte: a autora.
Neste momento, é importante utilizar recursos, como materiais lúdicos, no auxílio de
interação, que possa incentivar a criança a corresponder aos testes, por se sentir
confortável, e, assim, levar a uma melhor análise pelo psicopedagogo nas questões
motoras, pessoais, suas fugas, defesas e como se relaciona com o meio.

Quadro 2 - Segunda sessão

SESSÃO DOIS - ENTREVISTA OPERATÓRIA CENTRADA NA


APRENDIZAGEM

  Deixar elucidado para a criança que o pro ssional está aí para


Objetivo ajudá-la a superar suas di culdades e, para isso, é necessário
1 conhecê-la. O que ela gosta de fazer? Como ela gosta de fazer?

  Observação e registro das ações da criança, como ela expressa


Objetivo seus vínculos com a aprendizagem, o conteúdo, observando as
2 resistências, fugas e defesas.

Fonte: Nogueira e Leal (2016, p. 84).

E pode organizar sessões lúdicas centradas na aprendizagem, que é um teste


aplicado para crianças, e é fundamental para auxiliar na análise dos processos
cognitivos, afetivos e sociais, e sua relação com o modelo de aprendizagem do
sujeito, pois, por meio de atividade lúdica, é possível acessar o mundo da criança e
conseguir informações sobre os esquemas do sujeito: “é no brincar, e somente no
brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua
personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu”
(WINNICOTT, 1975, p. 80).

A avaliação de desempenho pode ser analisada por meio de teste de inteligência e


visomotora. Pode-se aplicar testes de análise dos aspectos emocionais com sessões
lúdicas. Para aplicação desses testes, o psicopedagogo precisa estruturar ambos
dentro de uma sequência diagnóstica estabelecida.
CONECTE-SE
Link para acessar o modelo da entrevista Operativa Centrada na
Aprendizagem (EOCA):

Diante disso, ca evidente a importância do diagnóstico psicopedagógico. É possível


notar o comprometimento que o psicopedagogo deve ter com os dados obtidos do
sujeito, em promover desenvolvimento, por meio de um processo dinâmico. Como
tal, o espaço para aplicar os testes deve ser em clínicas e não no ambiente
institucional, mas é preciso que o psicopedagogo institucional compreenda todos os
processos que o aprendente deve passar e, se possível for, saber quais os pontos que
melhor deve intervir para auxiliá-lo. Outro aspecto importante é: instrumentos
usados, estes devem ser con áveis para auxiliar da melhor maneira as variáveis que
se pretendem, pois, uma vez construído, será o motor que promoverá o
desenvolvimento. Destacamos, também, que você se aprofundará neste assunto na
disciplina, que tratará os aspectos clínicos da psicopedagogia.
Conclusão - Unidade 2

Após nossos estudos, espero que tenha compreendido, caro(a) aluno(a), o quanto é
indispensável que na formação do pro ssional psicopedagogo, este entenda que o
seu campo de atuação lida com o ser humano, o processo de aprendizagem e aos
bloqueios existentes no sujeito. Desse modo, os desa os são inúmeros, seja em:
compreender o desenvolvimento cognitivo do indivíduo e, ao mesmo tempo, as
incertezas de seu potencial, como também, por meio dos testes e entrevistas analisar
todos os fatos históricos de sua vida pessoal, familiar, emocional e social.

As provas psicomotoras são recursos que o psicopedagogo irá fazer uso no decorrer
de sua atuação pro ssional, são várias atividades que poderá aplicar ao longo do
diagnóstico e, observar o comportamento da pessoa, entre elas, a postura, o olhar, se
é inibido, encolhida, como se senta na cadeira, para onde dirige seu olhar entre outras
observações que podem ser feitas e anotadas para melhor se embasar nas ações
psicopedagógicas futuras.

Ao realizar o diagnóstico psicopedagógico, o pro ssional terá dados que irão permitir
conhecer um indivíduo aprendente, e neste momento terá o conhecimento da
dinâmica da família e as relações atribuídas ao espaço escolar num processo
sistêmico; e poderá analisar a relevância de realizar a intervenção partindo do olhar e
escuta psicopedagógica.

Com isso, o acompanhamento psicopedagógico é de extrema importância no


atendimento do aprendente com di culdades de aprendizagem, pois é o pro ssional
que vai contribuir para o desenvolvimento cognitivo e afetivo, tornando o aprendente
mais seguro e, aos poucos, se tornando mais autônomo, mais dono de si, tomando
consciência de suas responsabilidades e desa os, encarando as di culdades como
obstáculos a serem resolvidos.

Leitura complementar
Leitura complementar
A FUNÇÃO DIAGNÓSTICA DA AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

Uhlmann, Cipola, Júnior, (2018)

O trabalho de Educação Escolar se desenvolve através do processo


ensino/aprendizagem e de todos os seus determinantes, sendo assim há um ponto
muito importante na prática psicopedagógica que é a busca do diagnóstico do
porquê da criança (s) ou adolescente (s) não conseguirem aprender dentro dos
padrões pré-estabelecidos pela escola, família e sociedade. Quando remetemos às
di culdades ou problemas de aprendizagem, alguns aspectos tem que ser levados
em conta como : a constituição do sujeito (física, psicológica, necessidades especiais,
afecções cerebrais – lesões herdadas ou adquiridas por distúrbios metabólicos,
cromossômicos, etc.); o desejo do sujeito (motivação pessoal, familiar ou social); a
família do sujeito (estrutura e dinâmica familiar, nível de autonomia na família, nível
sociocultural, relação da família com a escola e papéis assumidos na con guração
familiar); e a escola (estrutura, organização material, de conteúdo e pessoal).

Dessa forma o cabe ao psicopedagogo vasculhar cada “canto” da pessoa, enxergando


não apenas o que a criança mostra, mas saber perceber que a mesma pode ter
algum problema imperceptível que está di cultando sua aprendizagem e saber
conduzi-la a outros pro ssionais como psicólogos, fonoaudiólogos, neurologistas, etc.,
com intuito de investigar múltiplos fatores que in uenciam o não aprendizado dessa
criança.

O psicopedagogo é como um detetive que busca pistas, procurando solucioná-las,


pois algumas podem ser falsas, outras irrelevantes, mas a sua meta fundamental é
investigar todo o processo de aprendizagem levando em consideração a totalidade
dos fatores nele envolvidos, para valendo-se desta investigação entender a
constituição da di culdade de aprendizagem (RUBINSTEIN, 1987, p. 51).

É um processo que permite ao pro ssional investigar, levantar hipóteses provisórias


que serão ou não con rmadas ao longo do processo, porém uma vez iniciado esse
processo, deve-se lançar mão de todos os instrumentos diagnósticos necessários.

Essa busca terá o intuito de descobrir as razões que impedem o sujeito de aprender,
situação essa levantada por uma queixa seja do educador, da família, da escola ou até
mesmo do próprio sujeito.

Caberá, portanto, ao psicopedagogo “ouvir” essa queixa, analisá-la, interpretá-la e


seguir com seu processo de avaliação como função diagnóstica na busca em atender
as necessidades educativas traduzidas em situações passíveis de melhora e com a
concretização de auxílio e suporte.
CONECTE-SE
A FUNÇÃO DIAGNÓSTICA DA AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

Uhlmann, Cipola, Júnior, (2018)

O trabalho de Educação Escolar se desenvolve através do processo


ensino/aprendizagem e de todos os seus determinantes, sendo assim há
um ponto muito importante na prática psicopedagógica que é a busca
do diagnóstico do porquê da criança (s) ou adolescente (s) não
conseguirem aprender dentro dos padrões pré-estabelecidos pela
escola, família e sociedade. Quando remetemos às di culdades ou
problemas de aprendizagem, alguns aspectos tem que ser levados em
conta como : a constituição do sujeito (física, psicológica, necessidades
especiais, afecções cerebrais – lesões herdadas ou adquiridas por
distúrbios metabólicos, cromossômicos, etc.); o desejo do sujeito
(motivação pessoal, familiar ou social); a família do sujeito (estrutura e
dinâmica familiar, nível de autonomia na família, nível sociocultural,
relação da família com a escola e papéis assumidos na con guração
familiar); e a escola (estrutura, organização material, de conteúdo e
pessoal).

Dessa forma o cabe ao psicopedagogo vasculhar cada “canto” da pessoa,


enxergando não apenas o que a criança mostra, mas saber perceber que
a mesma pode ter algum problema imperceptível que está di cultando
sua aprendizagem e saber conduzi-la a outros pro ssionais como
psicólogos, fonoaudiólogos, neurologistas, etc., com intuito de investigar
múltiplos fatores que in uenciam o não aprendizado dessa criança.
Livro

Filme
Web

A importância da Avaliação Psicopedagógica

A Avaliação Psicopedagógica é indicada após identi car alguns


aspectos no desempenho escolar, que muitas vezes não está
de acordo com o esperado ou o processo de leitura e escrita
está aquém, se comparado com as demais crianças da turma, e
apresenta di culdades na compreensão de uma determinada
disciplina.
Unidade 3
Diagnóstico e avaliações

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
Introdução
Caro(a) aluno(a), vimos em nosso estudo até aqui e no Código de Ética do
Psicopedagogo, a de nição da atuação psicopedagógica, como sendo o campo da
saúde e educação, com foco no processo de aprendizagem humana. E ainda que a
psicopedagogia possui três processos de atuação: a prevenção, o diagnóstico e a
intervenção. Na prevenção, o psicopedagogo tem como foco realizar uma análise
institucional, e para isso, faz um levantamento em relação aos processos didáticos e
metodológicos utilizados, e as ações dos pro ssionais, buscando compreender o
processo de ensino e aprendizagem e propondo alternativas que otimizem os
esforços empreendidos pelos envolvidos. Já o diagnóstico e intervenções são ações
voltadas para o atendimento clínico por meio de instrumentos aplicados.

Neste momento de nossos estudos vamos buscar compreender esses instrumentos.


Primeiramente, no Tópico 1 destacamos o enquadre psicopedagógico e a sua
interpretação, que se refere ao início da ação terapêutica; que envolve elementos
como o tempo, o lugar, frequência, duração, material de trabalho e estabelecimento
das atividades.

No Tópico 2, a avaliação da lecto-escrita, que se trata da sondagem da escrita do


indivíduo por meio de uma prova, que objetiva identi car o nível conceitual da
escrita, se o paciente aprendente já reconhece as letras, se está alfabetizado ou não
e como se encontra o seu processo de aquisição da leitura e escrita, fazendo uma
análise respeitando o nível de aquisição da leitura e escrita dentro das
possibilidades: pré-silábico, silábico, silábico alfabético, alfabético e ortográ co.

Avaliação do pensamento matemático é o assunto que vamos compreender no


Tópico 3, que é o momento do psicopedagogo analisar os conceitos matemáticos
que estão ligados ao desenvolvimento operatório do pensamento do indivíduo
aprendente e são importantes para o diagnóstico. O psicopedagogo precisa
compreender as relações nas provas operatórias, respeitando o nível de
desenvolvimento do sujeito.

E nalizaremos com o Tópico 4 tratando sobre a Avaliação do corpo em movimento,


que como as demais etapas do diagnóstico, a avaliação psicomotora é importante
no desenvolvimento e intervenção nas sessões, pois a interação do sujeito com o
objeto é que proporciona a aprendizagem.

Após as análises realizadas em cada uma das provas é feito o levantamento das
hipóteses no diagnóstico psicopedagógico, e veri ca-se a modalidade de
aprendizagem do paciente aprendente. Com isso, é preciso que o psicopedagogo
respeite e analise todas as provas para que consiga um diagnóstico e ciente.
O enquadre
psicopedagógico e a sua
interpretação

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
Em alguns atendimentos psicopedagógicos o enquadre pode ser o primeiro contato
entre o paciente e o psicopedagogo. Nesse momento deve ser estabelecido o
vínculo entre ambos, para tanto, é relevante instituir o elo de con ança. Em se
tratando de criança, é importante deixá-la à vontade para falar, brincar e se
expressar; para Weiss (1994, p. 40), “criada à relação de con ança, com mais
facilidade pode a criança se engajar e assim colaborar nos momentos de testagem
ou de avaliação de aspectos pedagógicos.”

SAIBA MAIS
Para o fortalecimento do vínculo entre o paciente aprendente e o
terapeuta psicopedagogo, é relevante, ao término da aplicação de cada
uma das provas, tirar um momento para atividades lúdicas, como:
brincadeiras, jogos diversos, montagem de quebra-cabeça, leitura de
histórias e desenho livre.

Fonte: a autora.

No processo de atendimento psicopedagógico, a avaliação, no enquadre, envolve o


esclarecimento e os motivos pelos quais a pessoa está ali, deixar claro para ela o que
vai ser realizado durante as sessões, estipular os horários, determinar que tudo que
será tratado será mantido em segredo; tudo isso de forma simples para que o
paciente entenda.
Modelo do contrato de enquadre:

CONTRATO DE ENQUADRAMENTO PSICOPEDAGÓGICO

CONTRATANTE:
Sr(a)_______________________________________________________________

portador(a) do RG n.____________________________, CPF


n.____________________________

Residente na ___________________________bairro________________________,
cidade__________________________________, fone:________________.

CONTRATADA:
Sr(a)________________________________________________________________

portador(a) do RG n.____________________________, CPF


n.____________________________

Residente na ___________________________bairro________________________,
cidade__________________________________, fone:________________________

Os deveres do contratante são os seguintes:

1. Participar das entrevistas quando solicitado;


2. Não omitir ou negligenciar fatos que possam comprometer no
tratamento;
3. Acatar as orientações do terapeuta;
4. Não faltar às sessões. Caso ocorra, deve ser justi cado com
antecedência de 24 horas, caso contrário, o pagamento é
devido;
5. Os horários devem ser respeitados. Atrasos não serão
tolerados;
6. Crianças menores de 13 anos deverão vir ao consultório
acompanhadas de responsáveis, salvo termo de
responsabilidade;
7. As sessões são agendadas em dias e horários previamente
aceitos por ambas as partes. Caso haja ocorrência de feriados
que inviabilizem o atendimento, as sessões não serão
remarcadas;
8. O valor das sessões é de R$____,____  (                                                 
  ) sendo  2 atendimentos por semana, iniciando dia ___/___ /_____
9. O pagamento dos atendimentos é feito mensalmente, até o 5º.
dia útil do mês seguinte. É importante a pontualidade nas
datas de pagamentos, evitando assim maiores transtornos.
10. A desistência do tratamento é direito do cliente, mas deve ser
informada ao terapeuta com antecedência a m de que seja
realizada uma sessão de encerramento.

Os deveres do contratado são os seguintes:

1. Cumprir os horários pré-estabelecidos;


2. ao cliente a impossibilidade de ministrar a sessão contratada.
Neste caso a mesma será reagendada ou descontada do
pagamento mensal;
3. Comunicar-se com outros pro ssionais que porventura
atendam ao mesmo cliente, caso haja necessidade;
4. métodos e técnicas próprios da Psicopedagogia;
5. ao cliente os recursos materiais necessários ao atendimento;
6. Cumprir o determinado no Código de Ética do psicopedagogo;

O presente contrato tem duração até o nal dos atendimentos e


poderá ser rescindido nas seguintes hipóteses:

a) pelo contratado;

b) pelo contratante;

c) por inadimplência.

Em todos os casos de rescisão citados, o Contratante ca obrigado


pagar o valor da parcela do mês em que ocorrer a rescisão.

Local:____________________________

Data:_____________________________

Assinatura do
Contratante:_____________________________________________

Assinatura do
Contratado:______________________________________________

ACESSAR
No enquadre é o momento de o psicopedagogo observar os comportamentos do
indivíduo. Se for uma criança, analisar as escolhas dos brinquedos e das brincadeiras,
o raciocínio utilizado, se há ou não concentração, as falas, entre outros.

Para tanto, o psicopedagogo vai fazendo um paralelo entre as diferentes


modalidades expressivas do sujeito, veri cando seu sentido, as possibilidades e
recursos do aprendente, “quais as melhores condições para aprender, além de
observar as suas possíveis limitações” (SISTO, 1996, p. 136). Com isso, a sessão de
enquadre é o momento que o psicopedagogo tem a possibilidade de nortear o
atendimento para com o sujeito, pois é a partir daí que se conhecem.

A sessão pode ser iniciada com o psicopedagogo fazendo uma apresentação breve,
como, por exemplo: o seu nome e pro ssão, fazer um acordo entre eles (aprendente
e pro ssional), os dias de encontros, a quantidade de horas que precisam passar
juntos a cada encontro, deixa claro que tudo que for conversado entre eles vai car
entres eles, que o psicopedagogo não vai contar nada a ninguém, a menos que o
paciente deseje.

Em seguida, solicitar que o indivíduo se apresente, observar como este se enxerga


no mundo, após direcioná-lo para uma mesa que terá alguns materiais expostos,
como, por exemplo: jogos, livros de histórias, lápis de cor, folhas de papel, alguns
brinquedos entre outros. Veja na imagem a seguir algumas sugestões, contudo,
precisa organizar os objetos conforme a idade da pessoa.

Figura 1 - Exemplo de objetos para utilizar no enquadre

Fonte: a autora.
Neste momento de enquadre, o psicopedagogo vai observar os comportamentos do
sujeito, em caso de criança, como se dá as escolhas dos brinquedos, dos jogos e
brincadeiras, se está dando alguma conotação de valor às suas escolas, o raciocínio
utilizado, se emprega concentração nas suas ações, a conversa, se ca mais solto em
contar algum fato, entre outras observações.

Ou seja, é o momento do psicopedagogo se tornar um investigador e analisar todas


as ações do paciente aprendente, fazendo uma ponte entre expressões com as
interações com este meio imaginário, procurando avaliar o sentido de suas ações, os
conhecimentos que tem em relação aos recursos a sua disposição, e possibilitando
ao psicopedagogo compreender as melhores condições para aprender, além de
observar as suas possíveis limitações (SISTO, 1996).

Diante disso, podemos compreender que a sessão de enquadre é o momento que o


psicopedagogo norteia o atendimento para com o indivíduo, pois é a partir daí que
eles se conhecem.

E ainda, para Paín (1985), o pro ssional, para alcançar os objetivos e garantir o
enquadre no trabalho psicopedagógico, precisa seguir algumas técnicas.

Figura 2 - Técnicas psicopedagógica na aplicação do enquadre

Autoavaliação de
Organização previa Graduação nas
cada tarefa a partir
da tarefa; dificuldades
de determinada
da tarefa;
finalidade;

Informações a serem
E por fim, uma indicação oferecidas pelo Historicidade do processo
psicopedagogo, num nível
como mais uma técnica de forma que o paciente
em que possa integrá-las
necessária ao tratamento ao seu repertório possa reconhecer sua
psicopedagógico. intelectual e construir o trajetória no tratamento;
mundo que habita;

Fonte: adaptado de Pain (1985).

Análise Diagnóstica do Enquadre


No decorrer da sessão de enquadre, o psicopedagogo precisa perceber qual o
vínculo entre paciente e psicopedagogo, como está se estabelecendo, se é de modo
natural, se demonstra uma boa dicção para a sua faixa etária, se há inibição ou não,
se consegue estabelecer um diálogo dando sequência ao assunto e responder aos
questionamentos feitos, estabelecer momentos de escutas de todos os relatos e
questionar como vai na escola, se gosta ou o que acha ruim.

No entanto, no decorrer de todo o processo de enquadre é possível que o


psicopedagogo já consiga veri car, por meio dos momentos de análise, algumas
evidências do problema de aprendizagem do paciente aprendente. Por exemplo: se
é uma pessoa que explora o seu meio, se é organizada, se é persistente e não desiste
fácil das atividades, se não tem segurança em suas ações, se é tímida, como entende
a importância da escola em seu desenvolvimento, como ocorre a relação entre seus
familiares e as suas amizades dentro e fora da escola, entre outras análises que o
psicopedagogo julgar necessário avaliar. Para Weiss (2002, p. 32), “o objetivo do
diagnóstico psicopedagógico é identi car os desvios e os obstáculos do sujeito que
o impedem de crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio social”, com
isso, as avaliações são essenciais para alcançar o resultado almejado no diagnóstico.

Hora do Jogo
A hora do jogo é um relevante instrumento de análise para o psicopedagogo que
deve ser utilizado na segunda sessão após o enquadre, é  o momento de
levantamento de dados, de observar a dinâmica de aprendizagem, o processo
cognitivo, modelos de aprendizagem e ainda as relações vinculares em que o sujeito
se encontra, que para Bossa (2000) é no decorrer desta avaliação, que o paciente
aprendente é observado detalhadamente em suas atitudes, postura e movimentos
corporais, habilidades psicomotoras, quando faz as suas escolhas dos objetos e
brinquedos, na maneira de relatar os desenhos realizados e em outras atividades
artísticas.

  Esta observação da hora do jogo permite uma maior aproximação entre o


psicopedagogo e o indivíduo, e pode ser utilizada em crianças até a idade de 9 anos
(PAIN, 1985). E para utilizar esse recurso o psicopedagogo precisa organizar um
espaço transicional, de con ança, criatividade, o mesmo espaço que se precisa para
aprender, levando a interrelação, inteligência, desejo, corporeidade. A partir das
análises, o terapeuta vai decidir se há necessidade ou não de se observar outros
aspectos mais detalhados. Com isso, a hora do jogo é uma ferramenta de
intervenção capaz de desenvolver a percepção, ação, integração, interação, e a
autonomia do sujeito junto às ações mediadas pelo psicopedagogo.

Para tanto, na aplicação dessa avaliação são utilizados materiais


preponderantemente não gurativos, que precisa ser organizado dentro de uma
caixa, com tampa separável, objetos com as seguintes características:
Figura 3 - Objetos utilizados na a hora do jogo

Objetos
para desenhar,
recortar, costurar;

Pegar, olhar,
ler, escrever

Colocam- se diferentes
Os papéis devem ser elementos com mesmo
Caixas de diferentes
Lápis de cor, lápis variados, tanto na fim, cola, durex,
tamanhos, para
preto, borracha; forma como na cor grampeador, furador,
modelar, para juntar;
e tipo; possibilitando o
desdobramento se assim
o sujeto quiser.

Fonte: a autora.

A caixa deve ser de fácil acesso e cômoda, estando ela no chão ou na mesa. Em geral
as sessões são por volta de 50 a 60 minutos de duração para a aplicação dessa
técnica, e o psicopedagogo poderá observar a capacidade da criança em criar,
imaginar, re etir, argumentar.

O que é relevante ao psicopedagogo observar na hora do jogo:


Figura 4 - Observações que devem ser feitas pelo psicopedagogo na hora do jogo

A distância do objeto;
capacidade de inventário;
classificação do conteúdo
da caixa;

Função simbólica,
Vinculação do esquema adequação
com os anteriores através significante/significado;
de uma assimilação desenvolvimento
coordenadora. coerente da hipótese
escolhida;

Integração, esquema de
Organização, construção
assimilação (falar, utilizar
da sequência;
todos os materiais);

Fonte: a autora.
SAIBA MAIS
A consigna é a seguinte:

O psicopedagogo apresenta para a criança que ali está uma caixa com
alguns objetos e ela pode brincar com tudo o que quiser, a participação
do psicopedagogo deve ser mínima, e enquanto isso, este diz que vai
car observando a criança. Pode ainda perguntar: “o que você pode
fazer com estes objetos?”

Comente com a criança que um pouco antes de encerrar a sessão, vai


avisá-la.

Fonte: a autora.
Avaliação da Lecto-escrita

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
Quando o psicopedagogo é procurado para uma avaliação diagnóstica de uma
pessoa que não aprende a ler e escrever ainda são desconhecidas as causas do
problema e quais são as interferências de outros fatores cognitivos, socioculturais,
pedagógicos ou emocionais. Então, é preciso partir para a avaliação, e uma delas é a
avaliação diagnóstica lecto-escrita.

E aqui é relevante destacar que é de grande importância que seja feita a entrevista
da História Vital, tanto para ouvir os familiares, como os professores do paciente
aprendente, pois, por meio da entrevista, é possível levantar dados vinculados às
condições do problema e compreender melhor o grau de individualização que o
sujeito em análise tem em relação às fraturas no seu desenvolvimento.

Após fazer o levantamento no meio familiar em relação aos fatos de aprendizagem,


uma análise do estilo de aprendizagem do indivíduo, a interação com o meio social,
familiar e escolar, se ele possui ajuda nas tarefas escolares e/ou de seu dia a dia.
Convém conhecer os relatos do professor, quais são as estratégias que faz uso no
meio educacional, os resultados que vem obtendo com a turma de modo geral.

Também é relevante que o psicopedagogo con ra as atividades escolares, trabalhos


escritos da pessoa, veri cando informações relativas à sua competência em outras
áreas como a matemática. É importante, ainda, averiguar qual enfoque a escola dá
na linguagem oral e escrita no decorrer das aulas.

REFLITA
Sendo você o psicopedagogo clínico, deve criar boas condições para a
realização da avaliação, para isso, se faz necessário estabelecer um bom
vínculo com o indivíduo com di culdades na língua escrita. E ainda,
terá que compreender quanto maior for o paciente aprendente, faz
com que, qualquer solicitação supõe a ele demonstrar o seu fracasso,
podendo levá-lo a se sentir angustiado e entediado a continuar as
sessões psicopedagógicas, com isso, deve ser muito sensível na atuação
pro ssional.

Fonte: a autora.

Outro aspecto relevante é compreender que a aquisição do sistema alfabético é um


processo cognitivo, que se inicia precocemente nos primeiros anos e se desenvolve
ao largo de toda a etapa infantil. É por meio do estabelecimento de relações e
diferenciações progressivas que Ferreiro (1996, p. 66) destaca que
A construção de um objeto de conhecimento implica muito mais que mera coleção
de informações. Implica a construção de um esquema conceitual que permita
interpretar dados prévios e novos dados (isto é: que possa receber informações e
transformá-la em conhecimentos) um esquema conceitual que permita processos
de inferência acerca de propriedades não-observadas de um determinado objeto e a
construção de novos observáveis, na base do que se antecipou e do que foi
veri cado.

Diante disso, é possível compreender que na atuação psicopedagógica é relevante


que se faça essa identi cação do processo cognitivo, para que possa proporcionar
situações e atividades diversas para auxiliar o indivíduo a avançar pelos sucessivos
níveis desse processo de alfabetização (PICOLLI; CAMINI, 2013). Veja na Figura 5 a
descrição dos níveis mencionados de modo resumido.

Figura 5 - Níveis de aquisição da linguagem escrita

Nível pré-silábico Nível silábico Nível silábico- Nível alfabético


alfabético
Inicialmente, a escrita é A representação é Começam a
indeferenciada feita A representação relacionar partes
(garatujas); correspondendo da linguagem oral sonoras da fala
um signo para é feita com partes
Posteriormente, vão se cada fonema. escritas (um
alternadamente
modificando e utilizam Quando o signo signo ou uma
sendo mesclada
letras convencionais, escrito letra por cada
por signos que
com um repertório mais correspondem com sílaba
representam as
ou menos amplo dentro o fonema oral, pronunciada)
sílabas ou com
de casa palavra e que se falamos de escrita signos que
modifica para produzir com “valor representam
palavras distintas sonoro fonemas.
Não existe convencional”
correspondência sonora.

Fonte: Ferreiro (1996).


REFLITA
Quando inicia a preocupação em relação ao desenvolvimento de uma
criança?

Fonte: a autora.

A partir do momento que for observado que mesmo a família oportunizando


situações de ensino e aprendizagem em que todos os fatores estão ao alcance para
que a criança possa adquirir os conhecimentos, e, mesmo assim, ela não progride de
modo compatível ao seu nível, é preciso fazer algumas observações.

Figura 6 - Observações a serem feitas na criança

Demora mais do
que previsto no
nível silábico, o que
Em adquirir a não relaciona os
correspondência sons com as grafias
A criança que sonora. correspondentes.
demora para
reconhecer e
escrever seu nome.

Fonte: a autora.

Diante desses relatos, é preciso que se faça uma avaliação diagnóstica, por meio de
algumas especi cidades, como a técnica de análise da escrita para veri car o nível
de conceitualização da escrita em que a criança se encontra.
Figura 7 - Exemplo de uma técnica de escrita aplicada em uma criança na etapa
no início da educação básica

(animais, brinquedos,
alimentos, etc.)

de uma em uma

4, 3, 2, e 1 sílaba
respectivamente, e logo uma
frase na qual apareça uma
Ditar para uma criança das palavras anteriores

Ditar para uma criança

Mariposa, esquilo, gato, peixe;


Exemplo:
o gato bebe leite.

Fonte: Ferreiro e Teberosky (1979).

A presente técnica tem por objetivo veri car como a criança realiza essa tarefa, para
isso, é importante que o psicopedagogo anote as perguntas feitas, para que possa
analisar claramente o que a criança consegue realizar sozinha e o que precisa de
auxílio. Após realizar a escrita, solicite a criança que faça a leitura e observe se, para
isso, ela precisa de seguir a leitura assinalando com o dedo, ou se consegue fazer a
leitura com os olhos das produções realizadas. Veri car se a criança relaciona sua
produção oral com os signos escritos, observando se apresenta alguma di culdade
ou con itos ao tentar resolver as atividades solicitadas.

Essa técnica pode nos dar uma série de informações ao psicopedagogo. 


Figura 8 - Informações que o psicopedagogo pode obter por meio da técnica de
uma avaliação escrita

O nível que se situa dentro do


processo de aquisição
(indeferenciado, diferenciado,
silábico, silábico-alfabético,
alfabético....)

O tipo de repertório de grafias


Como domina as diferentes
que utiliza (pseudoletras,
grafias: pelo nome, pelo som
letras convencionais) e se este
e se lhes ortoga o seu valor
repertório é amplo ou
sonoro convencional.
reduzido.

Se é de segmetação fonética,
A separação de palavras em
Em que aspectos relacionados falta de repertório
frases, tendo em conta que ao
com o anterior apresentam (desconhecimento das grafias
ditar não se devem marcar
conflitos. convencionaus de nosso
as separações
alfabeto), etc.

Fonte: a autora.

A análise desses aspectos é relevante na avaliação psicopedagógica, para


compreender as di culdades e o seu grau com relação ao que seria esperado para a
idade do indivíduo conforme o contexto escolar e social.
Avaliação do pensamento
matemático

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
Quando o psicopedagogo trata da avaliação do pensamento matemático, pretende-
se identi car as estruturas lógicas que o indivíduo usa de seu pensamento lógico
matemático, analisando o signi cado que ele dá em conhecer o número, se
consegue relacionar com a matemática que precisa diariamente nas relações
sociais, e ainda se entende que se trata dos mesmos números que já foram vistos
por ele ao longo do seu desenvolvimento.

Os conceitos matemáticos estão interligados ao desenvolvimento do pensamento


operatório, para tanto é relevante que no decorrer do diagnóstico o psicopedagogo
possa analisar fazendo uma relação por meio das provas operatórias, sempre
levando em conta o nível de desenvolvimento do sujeito, pois “[...] as hipóteses da
criança em relação aos conceitos matemáticos estão intimamente relacionadas com
as noções de classi cação, seriação, inclusão hierárquica e conservação, construídas
durante o desenvolvimento operatório do pensamento” (ESCOTT; ARGENTI, 2001, p.
228).

Com isso, ao analisar as questões do pensamento matemático no sujeito, é


necessário levar em consideração a perspectiva piagetiana. É por meio da
experiência física, denominada de abstração empírica (PIAGET, 1978), que a pessoa
reconhece as propriedades físicas dos objetos e as partes das ações realizadas
materialmente, compreendidas como abstração re exiva, característica da
experiência lógico-matemática que o sujeito consegue fazer relações entre objetos
abstratos com o que está coordenado em seu pensamento.

A abstração re exiva é, portanto, construída pela mente do sujeito ao


criar relações entre vários objetos e coordenar essas relações entre si,
enquanto a abstração simples, empírica, é a abstração do próprio
objeto, ou seja, de suas propriedades, mediante a observação das
respostas que o objeto dá à ação exercida por ele (RANGEL,1992, p. 23).

Diante disso, pode-se compreender que o sujeito vai tendo progressos na


construção do conhecimento lógico-matemático devido à coordenação que
consegue estabelecer entre as relações simples que anteriormente ele criou
mentalmente entre objetos, isso acaba sendo levado para outros aspectos mentais.
Para tanto, a avaliação do pensamento lógico-matemático, tem por objetivo, antes
de mais nada, a hipótese e as estruturas cognitivas que a sustenta, e pode ser em
relação às experiências vivenciadas pelo sujeito no seu dia a dia familiar e social, na
escola e após o psicopedagogo deve organizar situações em que a pessoa possa
realizar as relações necessárias para uma compreensão real das aprendizagens
lógico-matemáticas que possui, e, para isso, deve lançar mão de várias atividades
lúdicas, como: jogos, brincadeiras para melhor auxiliar nesse processo (KAMII, 1990).

Para realizar o diagnóstico lógico-matemático, o psicopedagogo precisa iniciar


investigando o conhecimento social que o sujeito já possui em relação ao número,
para isso, pode fazer alguns questionamentos: 
Figura 9 - Questionamentos que o psicopedagogo pode utilizar

O que é
um número?

Onde você vê Para que serve


os números? os números?

Você acha que os


Você e sua família Você gosta dos
números são
utiliza os números números nas aulas
importantes em
em seu dia a dia? em sua escola?
nossa vida?

Fonte: a autora.

Em um outro momento pode atribuir situações probleminhas com jogos, como, por
exemplo, utilizando o jogo de pega vareta.
Figura 10 - Jogo pega vareta

Fonte: a autora.

Ao iniciar a sessão, o psicopedagogo sugere o jogo de pega varetas e explica ao


paciente aprendente as regras do jogo.  Para isso, antecipadamente, o pro ssional
levou em consideração a idade cronológica para organizar a sessão, com o objetivo
de avaliar como o sujeito se encontra em relação ao pensamento matemático. Ao
encerrar o jogo o indivíduo precisa somar os pontos que conseguiu em suas
jogadas, e, neste momento, o psicopedagogo consegue analisar as di culdades em
fazer as somas mentalmente, ou se também vai apresentar di culdades ao anotar
os resultados em uma folha. Por meio deste jogo, o psicopedagogo pode fazer várias
observações, com números de dois ou mais algarismos para analisar como o
indivíduo se relaciona com a soma e as suas defasagens.

O psicopedagogo pode alternar as atividades, como em outro momento trabalhar


com resoluções de problemas matemáticos iniciando por um cálculo simples e se
possível, veri car se o indivíduo consegue resolver mentalmente, mas pode deixar
resolver usando a escrita e respondendo verbalmente, como, por exemplo:
O Rei emitiu duas risadas por minuto, quanto o rei ri em três
minutos?

Resposta: seis.

Após aplicar a atividade, questionar como o paciente aprendente chegou ao


resultado, e ir anotando se, na realização das avaliações e nas sessões, apresenta
di culdades com os números, com os jogos de estratégias. Então, analisando as
provas operatórias, consegue veri car se o indivíduo ainda não tem construídas as
estruturas do pensamento lógico-matemático.

Lembro ainda que as provas operatórias piagetianas são várias, mas o


psicopedagogo deve analisar qual vai ser necessária para aplicar no paciente
aprendente, veri cando as reais necessidades por meio das análises que precisam
ser feitas antes de iniciar com as provas operatórias:

Conservação de número.
Conservação de volume.
Conservação de massa.
Conservação de comprimento.
Conservação de classi cação.
Conservação de classi cação – inclusão de classe.
Seriação de Bastonetes.

 Com isso, o psicopedagogo vai observando como se dá a construção numérica no


indivíduo, como ele identi ca o sentido da construção numérica em seu dia a dia e
no meio familiar, como ocorrem os aspectos gurativos e representativos na relação
com o cálculo mental e o escrito. Weiss (2002, p. 99) destaca que

Veri ca-se o raciocínio matemático, colocando-se desa os mais lúdicos e problemas


mais formalizados, retirados de diferentes livros didáticos ou de situações reais, e
construídos a partir de propagandas, recortes de jornais e revistas. A escolha deve
recair sobre a clareza do enunciado, o nível do raciocínio compatível com a idade,
escolaridade e o nível operatório da estrutura de pensamento (concreto ou abstrato).
[...] A avaliação do cálculo é feita em dois níveis: o cálculo mental e a execução de
cálculos escritos.

Com isso, na avaliação do pensamento matemático o psicopedagogo consegue


compreender vários aspectos de defasagem matemática. Por meio das provas
operatórias vai veri car que o paciente aprendente pode estar passando, se ainda
não tem construído as estruturas operatórias de classi cação, seriação e
conservação e reversibilidade, que são relevantes para a construção do pensamento
lógico matemático. Pode notar também, se não tem conhecimento social do
número, que consequentemente não vai saber contar, representar o número e terá
di culdades com problemas matemáticos.
Avaliação do corpo em
movimento

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
REFLITA
Você já parou para pensar por que e para que nos movimentamos? Em
que os movimentos favorecem nosso desenvolvimento e nos denotam?

Fonte: a autora.

Prezado(a) aluno(a), é preciso compreender que, assim como as outras etapas do


diagnóstico, a avaliação psicomotora também é de grande relevância para o
desenvolvimento e intervenção nas sessões psicopedagógicas, pois o ser humano
depende da tríade cognitivo, emocional e o movimento como objeto que
proporciona a aprendizagem. Para Escott e Argenti (2001), o corpo traz toda a
história individual e social de cada pessoa, em que podemos notar os hábitos, os
costumes e os rituais impostos pela sua cultura.

Para a Psicopedagogia, o corpo é um dos quatro níveis de estruturação


da aprendizagem do sujeito que, juntamente com o organismo, a
estrutura cognitiva e a estrutura dramática, ou seja, o inconsciente,
possibilita ao sujeito da aprendizagem incorporar os conhecimentos e
o desejo do outro (ESCOTT; ARGENTI, 2001, p. 230).

Com isso, a avaliação psicomotora realizada pelo psicopedagogo não deve estar
atrelada somente a uma avaliação, mas sim realizada por meio de análises em
diferentes momentos do diagnóstico, principalmente nos testes que o sujeito
precisa do corpo para realizar, como nas atividades lúdicas, o jogo, a brincadeira, que
o psicopedagogo pode veri car a maneira como se comporta nas sessões entre
outros.

Segundo Escott e Argenti (2001, p. 128), 

Cada corpo expressa a história acumulada de uma sociedade que nele


marca valores, leis, crenças e sentimentos que estão na base da vida
social. Desse modo, variam: as técnicas corporais relativas a
movimentos como andar, pular, correr, nadar, etc.; os movimentos
corporais expressivos, que são formas simbólicas de expressão não
verbal (posturas, gestos, expressões faciais); a ética corporal, que
abrange ideias e sentimentos sobre a aparência do próprio corpo
(pudor, vergonha, ideias de beleza etc.); controle de estrutura dos
impulsos e das necessidades.
É por meio do corpo que o sujeito se comunica de forma não-verbal, ou seja, por
meio de suas expressões, do modo de ser, sua singularidade existencial, como se vê
no mundo, que ocorre que a pessoa nasça e se relacione com o outro. A isso
denomina-se diálogo corporal, pois “O primeiro objeto que a criança percebe é seu
próprio corpo: satisfação e dor, mobilizações e deslocamentos, sensações visuais e
auditivas etc., e este corpo é o meio da ação, do conhecimento e da relação” (VAYER,
1977, p. 10).

Fernández (1991) destaca que o ser humano depende do corpo para aprender, pois a
aprendizagem sempre passa pelo corpo e cria-se uma aprendizagem integrada a
uma aprendizagem anterior, e vem ligada ao prazer. Em conformidade, Le Boulch
(1982) salienta que o desenvolvimento do esquema corporal passa por etapas, tais
como: corpo vivido, que está relacionado do nascimento até 3 anos de idade do
indivíduo; passando pelo corpo percebido ou descoberto, que é por volta dos 3 aos 7
anos de idade; chegando, ao corpo representado, dos 7 aos 12 anos idade.

Para tanto, a investigação sobre o conhecimento do corpo é um dos focos do


diagnóstico psicopedagógico, e visa compreender:

Figura 11 - Diagnóstico da avaliação do corpo em movimento

Qual o lugar do corpo no


contexto familiar

A história vital dados que Qual seu significado e


signifiquem o sintoma que relação o corpo tem
psicomotor atual com o não aprender

Fonte: a autora.

Na Psicopedagogia, o método que deve ser utilizado para avaliar uma pessoa do
ponto de vista psicomotor é o da observação direta da sua ação motora, ou
dependendo da idade cronológica poderá aplicar algumas atividades, de
preferência lúdicas. A partir destas, analisam-se aspectos relacionados à sua
capacidade de integração e maturidade neuromotora, sua noção de esquema
corporal, o seu desenvolvimento do tônus muscular. Ou seja, é preciso observar os
movimentos e posturas, pode aplicar ainda durante as provas projetivas desenhos e
veri car como expressa a estrutura corporal. E aqui podem ser aplicados vários
testes.

Figura 12 - Testes que podem ser aplicados na avaliação motora de um indivíduo

Teste de Desenvolvimento
de Habilidades Físicas e
Motoras - 5 anos.

Teste de Verificação do Desenvolvimento


Neuropsicomotor na infância.
Teste para Observação do
Desenvolvimento Motor
da criança - 2 anos. Teste para Observação dp
Desenvolvimento Motor da
Criança - 6 a 7 anos.
Teste para Observação do
Desenvolvimento Motor
da criança - 4 a 5 anos. Teste para Observação do
Desenvolvimento Motor da
Criança - 3 anos.

Teste para Observação do


Desenvolvimento Motor
da criança - 8 a 10 anos.

Fonte: a autora.

Meur e Staes (1989) apresentam uma lista de características que podem sinalizar
que uma pessoa apresenta di culdades na elaboração do esquema corporal:
Figura 13 - O que deve ser observado em uma pessoa na análise do corpo em
movimento

Não conhece as partes de seu corpo

Não desenha a figura humana de acordo com o que é


esperado para a sua idade

Desenha as partes do corpo sem uma ligação entre elas

É muito lenta, não domina seu corpo em ação, ou quer agir


muito rapidamente, ou se distrai com frequência durante a
execução de suas ações

Não consegue vestir um casado, por exemplo, ou não


consegue imitar gestos corretamente

Não realiza gestos harmônicos

Não coordena bem os movimentos.

Fonte: Meur e Staes (1989).


SAIBA MAIS
Veja que a questão do movimento não é igual para todas as pessoas e
isso pode estar atrelado a vários fatores, entre eles a idade, como, por
exemplo: como comparar uma criança que, ao levar o copo de suco à
boca para tomar, derrama boa parte do suco, sujando a si mesma e o
ambiente? A resposta deve ser: depende da criança, se for uma criança
de um ano de idade, é uma ação completamente normal, pois ainda
está desenvolvendo sua independência nesta fase. Agora, se for uma
criança com quatro anos de idade, precisamos de mais informações
para entender porque isso ocorre.

Fonte: a autora.

Diante deste fato, o psicopedagogo precisa fazer uma análise de todas as outras
avaliações para compreender o que leva uma criança de quatro anos de idade a não
possuir a coordenação motora estabelecida para essa fase, se é uma criança privada,
por algum motivo, desta experiência, pelo fato de sua família sempre a alimentar,
por exemplo. Pode ser, também, que a criança está passando por outros fatores
emocionais que a levem a ter tal atitude, para chamar a atenção de seus familiares.
Sendo assim, a avaliação motora depende de outras avaliações para chegar ao
diagnóstico preciso, pois “Em primeiro lugar a criança percebe a posição de seu
próprio corpo no espaço. Depois, a posição dos objetos em relação a si mesma e, por
m, aprende a perceber a relação dos objetos entre si” (OLIVEIRA, 1997, p. 75).

E, assim, o psicopedagogo, poderá veri car se a pessoa apresenta possíveis fraturas


no desenvolvimento corporal, se tem di culdades de olhar para a terapeuta, se seu
olhar está sempre demonstrando inibição, se apresenta uma postura de esconder
seu próprio corpo. Entre outros aspectos que podem ser evidenciados por meio de
observações e aplicação das provas.
Conclusão - Unidade 3

Prezado(a) aluno(a), espero que tenha compreendido até aqui a importância das
avaliações para a realização do diagnóstico. Para o psicopedagogo as avaliações são
como uma rede para o equilibrista, ou seja, é o suporte para que trace as ações de
modo seguro durante o processo de intervenção.

E aqui, é possível notar que o sucesso e a e cácia do diagnóstico psicopedagógico


pressupõem um vasto conhecimento teórico do processo de aprendizagem, como
também, a capacidade de observação e instrumentos e métodos coerentes e
organizados para cada paciente aprendente.

Como no caso de um diagnóstico de di culdades na leitura e escrita con rmado, se


faz necessário que o psicopedagogo faça as devidas intervenções de forma paralela à
intervenção concreta sobre as di culdades para ler e escrever, pois na aquisição da
linguagem oral e da relação entre o desenvolvimento linguístico e cognitivo do
indivíduo, é possível notar que inicialmente compreende a linguagem falada, com
isso irá transferir a forma sonora da forma grá ca da escrita.

Por m, na avaliação psicopedagógica espera-se que possibilite o entendimento das


especi cidades e necessidades que o paciente aprendente está passando, suas
di culdades, como se relaciona com o outro e com a aprendizagem, e, com isso,
delinear as ações terapêuticas pertinentes ao atendimento.

Leitura complementar
Leitura complementar

CONECTE-SE
DIAGNÓSTICOS EM PSICOPEDAGOGIA

Estudo de Caso: Di culdades Secundárias de Aprendizagem

Moojen (2004)

  Anelise, com 11 anos e cursando a 6ª série, realiza avaliação


psicopedagógica, dadas as seguintes queixas: mau desempenho escolar
( cou em recuperação em 7 disciplinas no ano anterior); não entrega de
tarefas; desempenho irregular; problemas de relacionamento e fobias.

Da história pregressa não há dados signi cativos de alterações no


desenvolvimento: choros até o 3º mês (fome e cólicas); distúrbio de sono
e respiração bucal por rinite alérgica.

Consultadas duas escolas frequentadas pela menina, as queixas eram as


mesmas:

· di culdades dualidades na ortogra a e produção textual;

· di culdades na matemática;

· problemas de relacionamento com colegas;

· timidez, não pergunta embora pareça atenta.


Livro

Filme

Web

Corpo e Movimento na educação infantil

O doutor em educação física, Marco Santoro fala sobre corpo e


movimento nas instituições escolares, sua importância no
processo de desenvolvimento humano. É preciso que seja mais
valorizada a participação corporal no ambiente educacional.
Referências
BOSSA, N. A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 2. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2000.

ESCOTT, C. M.; ARGENTI, P. W. (Orgs). A formação em Psicopedagogia nas


abordagens clínica e institucional: uma construção teórico-prática. Novo Hamburgo:
FEEVALE, 2001.

FERNANDEZ, A. A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.

FERREIRO, E. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 1996.

FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes


Médicas, 1979.

KAMII, Constance. A criança e o número. Rio de Janeiro: Papirus,1990.

LE BOULCH, J. O desenvolvimento psicomotor: do nascimento aos 6 anos. Porto


Alegre: Artes Médicas, 1982.

MEUR, A. de; STAES, L. Psicomotricidade: educação e reeducação: níveis maternal e


infantil. São Paulo: Manole, 1989.

OLIVEIRA, G. de. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque


psicopedagógico. Petrópolis: Vozes, 1997.

PAÍN, s. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre:


Artmed, 1985.

PIAGET, J. A. Recherches sur la généralisation. Paris: Presses Universitaries de


France, 1978.

PICOLLI, L.; CAMINI, P. Práticas pedagógicas em alfabetização: espaço, tempo e


corporeidade. Porto Alegre: Edelbra, 2013.

RANGEL, A. e. S. Educação Matemática e a construção do número pela criança.


Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

SISTO, F. F. Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar. Petrópolis: Vozes,


1996.
Unidade 4
Análise diagnóstica

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
Caro(a) aluno(a), distinguir o trabalho clínico e o institucional é fundamental no
âmbito psicopedagógico. O primeiro busca compreender os obstáculos e as causas
relacionadas ao problema de aprendizagem já instalado. O segundo visa a entender
as competências e habilidades para solução dos problemas.

Para tanto, na atuação em psicopedagogia clínica, existem vários momentos de


análise entre eles a da Hipótese diagnóstica, assunto que vamos tratar no Tópico 1
desta unidade, com o objetivo de levar você caro(a) aluno(a) a compreender como
chegar as hipóteses, que para isso, o psicopedagogo deve realizar uma síntese e
avaliar o peso de cada fator levantado no decorrer do diagnóstico do paciente
aprendente.

No Tópico 2 tratamos sobre a Devolução (para paciente, pais, família e escola). É um


momento crucial do diagnóstico, pois é o encontro entre sujeito, psicopedagogo e
família, para traçar os próximos passos, por meio dos relatos dos resultados do
diagnóstico, analisando todos os fatos da situação apresentada, seguindo de uma
síntese integradora e um encaminhamento.

E no Tópico 3 vamos compreender sobre o Plano de intervenção, para isso, precisa-


se ater a algumas organizações em relação ao enquadre, para cumprir os objetivos e
garantir a aplicação de certas técnicas, que vão atuar como instrumentos de
transformação no atendimento psicopedagógico.

Finalizamos com o Tópico 4 sobre a Evolução do caso e/ou encaminhamentos, que


visa compreender se as ações pertinentes ao paciente aprendente vem tendo
resultados positivos e se precisa ser acompanhado por outros pro ssionais.

Desejo um excelente estudo e que possa compreender a grandeza da atuação


pro ssional em psicopedagogia!
Hipótese diagnóstica

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
A elaboração da síntese diagnóstica é destacada por Paín (1992, p. 69): “uma vez
recolhida toda a informação [...] é necessário avaliar o peso de cada fator na
ocorrência do transtorno da aprendizagem”. Ou seja, é a formulação de hipótese por
meio da síntese diagnóstica, a partir da análise dos dados colhidos no diagnóstico e
analisar quais as implicâncias que apontam para o prognóstico. Essa etapa é muito
importante para que a entrevista de devolução seja consciente e e caz.

O campo da di culdade de aprendizagem no indivíduo vem com desa os a serem


enfrentados. Dentre eles, a diversidade e a falta de padronização de nomenclaturas,
o distanciamento dialógico e a presença de preconceitos e con itos na interface
entre Educação e Saúde. Podemos, assim, levantar a discussão em torno dessas
áreas, por ainda ser incipiente, pois possuem pro ssionais de várias áreas do
conhecimento. E cada pro ssional e área de conhecimento possui uma maneira e
práticas nos modos de perceberem o problema.

Mas é relevante observar três aspectos que fornecerão um sistema de hipóteses a


serem veri cados no momento do diagnóstico:

A temática - é tudo aquilo que o sujeito diz, tendo sempre um aspecto


manifesto e outro latente; · A dinâmica - é tudo aquilo que o sujeito faz,
ou seja, gestos, tons de voz, postura corporal, etc.). A forma de pegar os
materiais, de sentar-se são tão ou mais reveladores do que os
comentários e o produto. · O produto - é tudo aquilo que o sujeito deixa
no papel (VISCA, 1987, p. 74).

Assim, ao chegar na hipótese diagnóstica que é uma reelaboração dos dados e suas
interligações, que leva a compreensão global em relação ao paciente aprendente
ante a questão da não aprendizagem.

Para tanto, é preciso analisar os resultados, e as informações levantadas sobre o


contexto familiar e escolar, que vão auxiliar permitir determinar uma série de
hipóteses, tais como:
Figura 1 - Análise dos resultados das provas aplicadas no sujeito aprendente

Fonte: a autora.

Podemos entender então, que a hipótese diagnóstica encaminhar à construção de


um plano de intervenção psicopedagógico ou ainda a possíveis encaminhamentos
para outros pro ssionais. E isso, vai ocorrer dependendo de cada caso em especí co.

Veja o uxograma do diagnóstico psicopedagógico


Figura 2 - Fluxograma do diagnóstico psicopedagógico

Contato

Entrevista inicial de queixa econtrato

Primeira sessão com o sujeito

E.O.C.A Análise 1º sistema de hipótese

Linha de pesquisa

Teste

Provas operatórias Técnicas projetivas

Outros testes

2º sistema de hipóteses

Linha de pesquisa

Análise do material Anamnese

3º sistema de hipóteses

Informe diagnóstico/devolução
Fonte: Sampaio (2014, p. 21).

Por meio do uxograma é possível veri car que há o primeiro sistema de hipóteses,
que ocorre após a realização da EOCA, em que o psicopedagogo extrai o primeiro
sistema de hipótese.

Após a aplicação das provas operatórias e das técnicas projetivas, o psicopedagogo


levanta o segundo sistema de hipótese e tem argumentos que possa sustentar a
linha de pesquisa para a anamnese, é o momento, também, de analisar o primeiro
sistema de hipótese e veri car o que se manteve e o que é preciso acrescentar ou
refutar (SAMPAIO, 2014).

E após a anamnese ocorre o levantamento do terceiro sistema de hipóteses, com


isso, o psicopedagogo deve retornar ao primeiro e segundo sistema de hipóteses e
veri car o que deve prosseguir e que hipóteses deve retirar (SAMPAIO, 2014).

Portanto após a realização das etapas do diagnóstico psicopedagógico, se faz


necessário analisar todos os aspectos, entre eles a modalidade de aprendizagem em
que está, como reagiu no decorrer das sessões, se demonstrou desinteresse em
manipular os materiais, manipulando só o que tinha fácil acesso, se não manteve
iniciativa e criatividade na realização das atividades e durante o diagnóstico, como
foi o comportamento do sujeito (SAMPAIO, 2014).

CONECTE-SE
Acesse o link para veri car um modelo de informe psicopedagógico:

Outro ponto importante a ser analisado em uma hipótese é se a di culdade de


aprendizagem se constitui por sintoma, vinculado à dinâmica familiar, e isso, é
possível notar por meio do motivo da história vital, se essa di culdade está associada
à alguma situação familiar.
É na hipótese de que o psicopedagogo consegue chegar às conclusões em relação à
avaliação do conhecimento lógico matemático, e veri car se ainda não tem
construídas as estruturas operatórias, se não tem a construção do pensamento
lógico matemático, que são avaliadas as atividades desenvolvidas nas provas
operatórias e os jogos, e a partir disso veri car o nível do seu desenvolvimento
cognitivo.

Como também, veri car, enquanto à avaliação da lecto-escrita, qual o nível de


desenvolvimento se está no silábico alfabético, ou alfabético ou outro nível. Em
relação à avaliação do corpo e movimento, perceber durante as atividades
desenvolvidas ao longo do diagnóstico se apresenta fratura no desenvolvimento do
corpo e imagem corporal ou outros aspectos de lateralidade, movimento, ação e
reação, entre outros aspectos.

A partir disso, o psicopedagogo constrói uma proposta de intervenção


psicopedagógica que traz resultados no desenvolvimento do sujeito e, para isso, terá
que apresentar uma devolução para a família sobre o caso na hipótese apresentada,
como também, das intervenções necessárias. Ao fazer a devolutiva para a escola, a
hipótese diagnóstica deve ser apresentada à instituição de modo informal, seguindo
uma linguagem adequada e especí ca aos per s institucionais no que se diz
respeito ao sintoma investigado.
Devolução (para paciente,
pais, família e escola)

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
É o momento que encerra o processo diagnóstico que alguns estudos tratam como
Informe psicopedagógico. “[...] Talvez o momento mais importante desta
aprendizagem seja a entrevista dedicada à devolução do diagnóstico, entrevista que
se realiza primeiramente com o sujeito e depois com os pais” (PAÍN, 1992, p. 72). É
um momento crucial do diagnóstico, pois é o encontro entre sujeito, psicopedagogo
e família, para traçar os próximos passos, por meio dos relatos dos resultados do
diagnóstico, analisando todos os fatos da situação apresentada, seguindo de uma
síntese integradora e um encaminhamento.

Segundo Weiss (1999, p. 129) a devolução é “Uma análise da problemática, seguida


de sínteses integradoras que devem ser repetidas sempre que sejam acrescentadas
novas informações, e de algum modo se arrumando a situação no sentido de
diminuição das resistências”.

Com isso, ao concluir a fase de diagnóstico, o psicopedagogo possui elementos para


formar uma compreensão diagnóstica, por já ter feito as análises e conseguido as
informações pertinentes do sujeito avaliado, que o possibilita a ter uma visão geral e
sistêmica e consegue contextualizar com a realidade da família, escola e as questões
sociais e emocionais do sujeito.

Assim, na entrevista de devolução, o psicopedagogo faz uso de todas as informações


que possui sobre o processo de ensino e aprendizagem do paciente aprendente e
deve passar a quem é destinado à devolução, que pode ser aos familiares ou à
escola, dependendo de quem solicitou. Então, podemos entender a devolutiva como
sendo parte do processo que iniciou com o diagnóstico e se prolonga no tratamento
psicopedagógico.

SAIBA MAIS
Vale destacar que a concepção do diagnóstico psicopedagógico deve
seguir um roteiro de acordo com a linha teórica de trabalho do
psicopedagogo.

Fonte: a autora.

A forma de repassar as informações aos familiares deve ser tranquila, transparente,


de modo compreensivo e acolhedor. E ao nalizar as informações diagnósticas, o
psicopedagogo deve passar as recomendações das indicações e encaminhamentos
necessários.
A devolutiva é um momento muito aguardado, com isso, o psicopedagogo precisa
levar em consideração que a di culdade da devolução não está somente no relato
organizado resultante do processo diagnóstico, mas, também, como destaca Weiss
(1999), na grande mobilização emocional que os familiares já estão passando desde
a primeira entrevista e, em alguns casos, se sentem fracassados ou como se não
tivessem realizado as orientações corretas aos seus lhos até o presente momento.
Fernández (1991, p. 230), destaca que: “tentaremos pontualizar, raciocinar, explicitar
como o problema foi gerado, e principalmente trataremos de desculpabilizar”.

O psicopedagogo precisa estar atento às questões de desculpabilizar, por ser um


sentimento que os pais podem usar como subterfúgio para que a situação
permaneça. Em alguns casos, e isso depende do psicopedagogo e da idade do
paciente aprendente, a devolução pode ser feita primeiro ao paciente, e deixá-lo
ciente da devolutiva aos outros interessados no diagnóstico.

É um momento de auxiliar os pais a assumirem o problema em todas as suas


dimensões, sendo assim, faz-se necessário que compreendam os aspectos
inconscientes ou latentes da questão, não somente no aparente.

SAIBA MAIS
Uma boa dica ao psicopedagogo é que, na devolução, inicia-se pelos
pontos positivos, com as construções que a pessoa já conseguiu
realizar, e posteriormente irá relatando as combinações das ações e
atividades que se encontra em defasagem.

Assista o vídeo que explica sobre a devolutiva que vai auxiliar neste
momento de realizar a devolutiva psicopedagógica

No caso da devolutiva de um diagnóstico de uma criança, é preciso que se faça


algum tipo de devolução no nível de compreensão da idade, para que ela se sinta
valorizada e respeitada pelo terapeuta (WEISS, 1999).
É importante salientar que todas as etapas são relevantes em um processo de
diagnóstico, e car atento, pois não se constitui em uma sequência xa, podendo
ser alterada de acordo com o processo de trabalho, e de pessoa para pessoa, com
isso, não há um diagnóstico padronizado para ser descrito na devolutiva.

E ainda, na devolução os familiares e a escola já devem estar de acordo com o


trabalho de intervenção que precisa ser realizado, para que possam iniciar a busca e
o resgate do sujeito, por meio de estímulos e levá-lo a ter desejo em aprender, que
em algum momento foi perdido.

Nesta sessão deve car acordado com o paciente o que, quando e como seriam
dadas novas atitudes em relação a ele e combinando novos horários de
atendimento.
Plano de intervenção

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
A intervenção deve ocorrer em um conjunto de funções. Para isso, deve-se analisar o
sujeito que aprende e a instituição que ensina, a relação com a família e, caso seja
necessário, buscar auxílio de outros pro ssionais ao tratamento. Outra proposta
relevante é a utilização do lúdico, por ser um meio que constitui o prazer em
aprender, possibilita ao indivíduo desenvolver suas capacidades e habilidades de
modo a representar os fatos que lhe atrapalham a se desenvolver, pois, no decorrer
de uma brincadeira ou jogo, é possível analisar diferentes situações.

Tabela 1 - Em uma análise psicopedagógica é preciso que o psicopedagogo siga


os passos destacados na tabela

Atenção

Raciocínio lógico

Regras

Noção espacial
Análise psicopedagógica
Concentração

Tolerância

Como a criança lida com o erro e o não saber

Frustração

Fonte: a autora.

Fernández (1991, p. 117) destaca que “a intervenção psicopedagógica não se dirige ao


sintoma, mas ao poder de mobilizar a aprendizagem”. Com isso, no decorrer do
processo de intervenção jamais se deve trabalhar a di culdade em si, mas sim a
aquisição da habilidade necessária para aprendizagem. Ou seja, caso o indivíduo
seja diagnosticado com di culdades na leitura e escrita, na intervenção não se deve
apenas lhe apresentar atividades de leitura e escrita, o que comprometeria ainda
mais a aprendizagem. O psicopedagogo deve ajudar o paciente a desenvolver
outras atividades que leve a trabalhar os aspectos de leitura e escrita.
[...] a intervenção precoce por meio de um programa e caz de leitura
leva ao desenvolvimento de sistemas automáticos de leitura,
permitindo que a criança ande no mesmo ritmo dos colegas. [...].
Depois de mais de um século de frustrações, demonstrou-se que o
cérebro pode ser reconectado e que as crianças com problemas de
leitura podem tornar-se leitores e cientes (SHAYWITZ, 2006, p. 77).

Em se tratando da intervenção psicopedagógica, esta precisa atender ao que foi


diagnosticado e nas necessidades que precisa ser desenvolvido no sujeito em
questão. É preciso destacar que assim que o psicopedagogo é procurado, seja ele
clínico, seja institucional, o seu trabalho psicopedagógico já inicia ao observar as
atitudes investigativas, os motivos da consulta para que, quando iniciar a
intervenção, já tenha conhecimentos para melhor observar no sujeito, com isso,

A intervenção psicopedagógica focaliza o sujeito na sua relação com a


aprendizagem. A meta do psicopedagogo é ajudar aquele que, por
diferentes razões, não consegue aprender formalmente, para que
consiga não apenas interessar-se por aprender, mas adquirir ou
desenvolver habilidades necessárias para tanto (RUBINSTEIN et al.,
1999, p. 25).

É comum a procura pelos familiares aos espaços psicopedagógicos com a


preocupação de que seus lhos não sabem ler ou que leem com di culdades, estão
com uma letra muito feia e/ou não conseguem acompanhar os estudos de maneira
e ciente e destacam que já zeram de tudo para auxiliar a criança ou adolescente,
mas nada mudou.

Aqui, ca evidente a importância de passar por um diagnóstico apurado para só, em


outros momentos, utilizar essa ferramenta para intervenção. É preciso salientar que
a intervenção psicopedagógica auxilia no processo de desenvolvimento de
aprendizagem e, em se tratando do cérebro humano, este é resiliente, por isso, não
tenha dúvida de que após o diagnóstico e, por meio de intervenção e tratamento
precoces, surte mudanças positivas e em ritmo mais rápido do que quando é esse
tratamento protelado para a idade mais velha no ser humano. 

Ao falar sobre a escolha dos procedimentos e da proposta de intervenção,


Rubinstein et al. (1999) defendem a ideia de que o psicopedagogo precisa
compreender o caso, pois destacam que variam de acordo com cada caso. Ou seja, a
intervenção é um processo dinâmico e não há algo pronto ou predeterminado,
igualmente, a ser utilizado em casos diferentes. Com isso, as atividades utilizadas são
próprias para casos especí cos e únicos, com o objetivo de contribuir para
modi cação do pensamento, desenvolver habilidades comprometidas e ativar as
funções cognitivas do aluno, que é ímpar.
Deve car claro, ainda, que a atuação psicopedagógica se envolve com o problema
escolar e de aprendizagem e pode receber a intervenção de forma individual ou em
grupo, conforme derivar o problema. Sisto (1996, p. 9) destaca que a psicopedagogia
oferece, ao tratar dos problemas de aprendizagem, “a possibilidade de analisar este
processo do ponto de vista do sujeito que aprende e da instituição que ensina”.
Diante disso, todos os envolvidos com o processo de aprendizagem devem passar
pela análise dos processos de aprendizagem, não somente o aluno.

Assim, a intervenção psicopedagógica tem por objetivo o desaparecimento do


sintoma e de levar o sujeito a aprender normalmente. Para isso, precisa se ater a
algumas organizações em relação ao enquadre, como destaca Paín (1992). Para
cumprir os objetivos e garantir a conservação do enquadre, é preciso a aplicação de
certas técnicas, que vão atuar como instrumentos de transformação no
atendimento psicopedagógico, tais como:

Figura 3 - Técnicas e/ou intervenção psicopedagógica

Organização
prévia da tarefa

Graduação

Autoavaliação Historicidade Informação Indicação

Fonte: a autora.

SAIBA MAIS
Na fase da intervenção, o psicopedagogo não deve deixar de investigar,
ainda que a prioridade seja a intervenção.

Fonte: a autora.
Paín (1992) ainda faz uma relação entre as três áreas: a psicanálise, a teoria
piagetiana e o materialismo histórico, como base para auxiliar nas tarefas realizadas
nas intervenções relacionadas aos problemas na aprendizagem. Outro aspecto é a
família, esta é fundamental, pois serve como referência no tratamento. É preciso o
seu auxílio para a reconstrução do processo de aprendizagem. E, no decorrer da
intervenção, a família auxilia, por meio do dia a dia e da realidade, com atividades
para desenvolverem em seus lares com o paciente.

No decorrer do processo de intervenção, o psicopedagogo pode utilizar com a


criança vários recursos e estratégias para sanar as di culdades de aprendizagem.
Bossa (2000) destaca que, durante esse processo, o psicopedagogo pode fazer uso
de jogos, histórias, desenhos entre outras estratégias que possam auxiliar e revelar
sentimentos que comprometam a aprendizagem do indivíduo. Com base nessas
intervenções, é possível o psicopedagogo observar e intervir nas di culdades
escolares, fazendo apontamentos e questionamentos que estimulam o
pensamento. Ainda pode escolher outras estratégias para intervir nas di culdades
de aprendizagem.

Para Paín (1992, p. 77), “no tratamento psicopedagógico procura-se desenvolver no


sujeito a dimensão do seu poder (poder de escrever, poder saber, poder fazer), para
que dê crédito as potencialidades de seu ego”. E, com isso, Pain (1992, p. 80-82)
destaca que o tratamento psicopedagógico tem três objetivos fundamentais: “uma
aprendizagem que seja realização para o sujeito, uma aprendizagem independente
por parte do sujeito e propiciar uma correta autovalorização”.

Para que a intervenção psicopedagógica assegure os objetivos propostos, é


primordial que, durante o processo de tratamento, o psicopedagogo continue a
estabelecer o vínculo com a família e a escola. Para Bossa (2000), esse contato
possibilita ao psicopedagogo realizar orientações junto ao professor e à família,
levando-os a compreender as possíveis causas das di culdades e qual seria a melhor
maneira de auxiliar o paciente. Bossa (2000, p. 106) destaca que a intervenção
psicopedagógica pode ser dividida em três etapas principais.

O enquadre: refere-se ao início da ação terapêutica: que engloba


elementos, como o tempo, o lugar, frequência, duração, material de
trabalho e estabelecimento das atividades.
A operacionalização: é dividida em duas etapas (diagnóstico e
tratamento).
A interpretação: onde o psicopedagogo, interpreta as atitudes do
paciente em todo o processo de tratamento, a m de que possa ver
além do aparente.

O enquadre tem importância na aplicação do psicopedagogo, por exemplo, uma


brincadeira, para auxiliar na intervenção com um paciente. Por meio das ações entre
o paciente e a brincadeira, observa-se a mensagem metacomunicativa, esta é o
enquadre, que permite compreender o que acontece naquela situação. É por meio
dela que o psicopedagogo conseguirá identi car a sequência das ações.
Por conta disso, Bateson (2002. p. 89) a rma que é preciso car atento para analisar
a mensagem que vem carregada de informações, pois é uma meta-asserção que
nega as aparências fornecidas pelo conteúdo mais imediato: "Expandida, a asserção
'Isto é brincadeira' parece algo como: 'Estas ações nas quais estamos presentemente
engajados não denotam o que aquelas ações que elas representam denotariam”.

Com base nessa observação, percebemos que Bateson (2002) entende como
relevante a adoção da ideia de enquadre para re etir sobre a comunicação entre
terapeuta e paciente na intervenção, por se tratar de um conceito psicológico que
traz instruções para que o interlocutor perceba que mensagens estão incluídas e/ou
excluídas em algumas atitudes. Nesse sentido, na visão de Bateson (2002, p. 99),
“todo enquadre é metacomunicativo e toda metacomunicação de ne um
enquadre”. Ou seja, todo enquadramento possibilita indicar o tipo e a natureza da
interação entre os interlocutores nas situações vivenciadas. Ao mesmo tempo, ao
observar a mensagem da relação entre o sujeito, delimita um enquadre que auxilia
na compreensão da situação, ali delineada, bem como as regras implícitas que
orientam as ações dos sujeitos.

Assim, na intervenção, os procedimentos adotados variam conforme o grau de


escolaridade e a idade do indivíduo como também da natureza dos erros e da
importância do “handicap” (não aquisições). Ou seja, “a intervenção consiste em
criar situações tais que o aluno seja chamado a agir mentalmente, de uma maneira
que seja estruturante, integrando suas ações em um sistema de coordenação e de
composição operatórias” (BANG, 1990, p. 133).

Por isso, no que diz respeito às di culdades de tratamento psicopedagógico, é


indispensável, conforme os autores aqui citados, observar, por meio da intervenção,
as mudanças que podem causar no indivíduo com di culdades na aprendizagem
escolar. Isso poderá auxiliar a superar ou diminuir o baixo desempenho escolar;
elevar sua autoestima, sua motivação, e despertar o desejo de aprender. Fica
evidente como a intervenção psicopedagógica pode possibilitar mudança na
história de vida, tanto no sujeito como em todos os sistemas e envolvidos no
processo de intervenção.
Evolução do caso e/ou
encaminhamentos

AUTORIA
Sonia Maria de Campos
Neste momento vamos compreender, entre as questões da evolução e os
encaminhamentos pertinentes a atuação psicopedagógica, como no caso do
diagnóstico, que é um momento em que possibilita compreender as hipóetese
relacionadas a queixa inicial;  do Informe, que tem por nalidade “resumir as
conclusões a que se chegou na busca de respostas às perguntas que motivaram o
diagnóstico” (WEISS, 2003, p. 138). 

Podemos compreender que, o informativo ou Laudo é um documento organizado


por escrito, que tem o teor de comunicar o desenvolvimento de determinado
processo de análise e avaliação diagnóstica. Para tanto, é feito o registro do motivo
da avaliação e/ou encaminhamento, período e número de sessões, os instrumentos
utilizados, descritivo das dimensões do sujeito, síntese dos resultados, o prognóstico,
recomendações e as indicações de atendimentos como, por exemplo: 
Psicopedagogia, Fonoaudiologia, Pediatria, Neurologia, Psicoterapia, entre outros.

Para organizar o encaminhamento, faz-se necessária a utilização de uma guia para


car mais clara a comunicação entre quem está encaminhando e o atendimento da
queixa. No caso do encaminhamento do psicopedagogo para outro pro ssional,
também, é necessário o preenchimento da guia, que permitirá uma melhor
compreensão inicial do quadro da criança. Alguns dados, como: nome, escola, ano
letivo, data de nascimento, idade, responsáveis e contato, são relevantes para que o
pro ssional tenha como se comunicar com a família e com a escola, caso precise.

CONECTE-SE
Indico o vídeo a seguir, como um recurso para melhor esclarecer a
importância de quem convive com o sujeito. É importante a observação
como subsídios para a descoberta das causas das áreas do
desenvolvimento em geral, tais como: comunicação e expressão,
percepção, desenvolvimento motor, compreensão espaço-temporal e
dimensão socioafetiva. Observação na área das habilidades especí cas.

É preciso que preencha, corretamente, todos os dados em uma guia de


encaminhamento, mas alguns faz toda a diferença para a avaliação multidisciplinar,
tais como: o ano letivo correto, pois é preciso entender se as expectativas do
desempenho acadêmico do aluno em referência ao seu nível de escolaridade estão
ocorrendo no período certo. Outro aspecto é a identi cação da área de di culdade
escolar, essa se mostra mais comprometida se referir-se à comportamental,
aprendizagem ou linguagem. No caso de ter mais de uma área comprometida, é
importante analisar qual é a mais evidente para ser apontada, indicando para onde
a investigação poderá ser direcionada.

Quando a queixa é relacionada aos aspectos comportamentais intensos, como


agitação psicomotora, desinteresse, atenção e agressividade, são em grande parte
passíveis de um diagnóstico de transtorno de dé cit de atenção e hiperatividade
(TDAH), distúrbios de conduta, distúrbios de humor, de ciência intelectual, distúrbio
de sono, problemática psicossocial etc. Para isso, o psicopedagogo deverá ter um
olhar mais atento em relação aos aspectos psicossociais, já que, às vezes, no
ambiente familiar, tem-se um espaço físico reduzido, pouco acesso ao lazer e
cultura, ou ainda, caso tenha exposição à violência urbana, pode levar a ocorrência
desses sintomas.

Quando as queixas são intensas e relacionadas aos aspectos da aprendizagem,


como no caso das di culdades na leitura, escrita, interpretação, aritmética, é um
provável sinal a um diagnóstico, que pode ser uma simples defasagem pedagógica
até um transtorno de aprendizagem, como no caso de dislexia, dislalia, disortogra a
e discalculia.

SAIBA MAIS
É relevante destacar, na guia de encaminhamento, os dados corretos da
fase escolar, como a queixa de di culdade de aprendizagem, pois se o
aluno, ainda, encontrar-se em processo de alfabetização, as queixas
descritas são aceitáveis para a idade e ano escolar que ele se encontra.

Fonte: a autora.

Outro aspecto importante a ser notado é saber se o aluno encaminhado foi inserido
de modo regular e sistematizado ao processo de alfabetização e aprendizagem.
Pois, em muitos casos, por trás da queixa de uma di culdade de aprendizagem
intensa está a falta de oportunidade de estudar. Outra questão que é preciso ser
analisada é o foco, este não deve ser exclusivamente voltado ao desempenho ou à
falta dele no indivíduo, mas sim observar se ele teve oportunidade de acessar o
conhecimento de maneira adequada ao processo de aprendizagem.
A linguagem que o sujeito utiliza também é uma área importante a ser analisada na
guia. É necessário veri car quais as questões que apontam para problemas de
aprendizagem e merecem investigação, como, por exemplo, se em uma conversa o
indivíduo não apresenta sentido no que diz, tem um conversa descontextualizada e
sente di culdade para compreender o que lhe é dito, isso pode apontar para
diagnósticos como de ciência intelectual, dé cit de atenção e problemas auditivos,
ou ainda, se a queixa é em relação a trocas de letras F/V, T/D, P/B ao falar e escrever,
é importante ser encaminhado para um diagnóstico na área do processamento
fonológico, como o dé cit de processamento auditivo central. Podemos encontrar
alunos que tiveram uma alfabetização de maneira ine ciente e, por isso,
apresentam queixas muito semelhantes ao destacado anteriormente.

Ainda, no aspecto de linguagem, a guia deve trazer uma ressalva em relação aos
problemas articulares, como na fala de difícil compreensão, vícios de linguagem,
“língua presa”, uência, gagueira e rouquidão, que precisa trabalhar com a
fonoterapia.

E o último aspecto a ser observado na guia é o das di culdades escolares, as queixas


na coordenação motora e equilíbrio que poderão apontar para possíveis
diagnósticos na área neurológica.

É interessante que você acesse um modelo da guia médica que explica o


encaminhamento do aluno e deixa espaço aberto para a descrição de queixas em
relação à di culdade escolar não contemplada anteriormente, mas que o
pro ssional responsável por a preencher poderá destacar. Ressalvo a importância
desse documento, por ser o primeiro passo na abordagem diagnóstica do aluno
com di culdade de aprendizagem.

CONECTE-SE
Acesse o link para veri car os modelos das guias:
Conclusão - Unidade 4

Caro(a) aluno(a), foi possível veri car, neste momento de nossos estudos, a
importância de se ter a hipótese diagnóstica já bem delimitada para que se possa
organizar a devolução (para paciente, pais, família e escola) de modo seguro e
elaborar o plano de intervenção de maneira a conseguir auxiliar no processo de
desenvolvimento seguro e caz ao paciente aprendente.

Como também o quanto uma boa análise diagnóstica dos problemas de


aprendizagem requer do psicopedagogo um estudo minucioso de teorias
fundamentais que possam auxiliar nos diversos aspectos sobre o desenvolvimento, o
comportamento humano e a educação, como também a habilidade na compreensão
e manejo dos instrumentos de avaliação e pesquisa aplicáveis ao sujeito em análise.

E ainda, ao psicopedagogo requer que veri que a necessidade de encaminhar o


sujeito em análise, se, caso for preciso, a outros pro ssionais para o auxílio em seu
processo de aprendizagem, como também rmar junto à escola e familiares o
comprometimento de ambos acompanharem esse processo.

Podemos notar que a atuação do psicopedagogo é abrangente e requer um vasto


conhecimento especí co da área, como também entender que para cada paciente
aprendente vai ter uma intervenção única.

Leitura complementar
LEITURA COMPLEMENTAR

AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA DE CRIANÇA COM ALTERAÇÕES NO


DESENVOLVIMENTO: RELATO DE EXPERIÊNCIA

BATISTA, GONÇALVES, ANDRADE (2015)


Estabelecimento do Vínculo: na primeira sessão, o paciente não interagiu com o
grupo. Comportou-se de maneira tímida, introvertida e apresentou problemas na fala
(linguagem). Participou da atividade proposta (jogo pega-varetas), porém não
demonstrou compreensão das regras.

Desenho da Família: após a consigna "desenhe uma família", Pedro desenhou os três
membros da família (ele, pai e mãe); conforme Figura 1, notam-se esquemas corporais
empobrecidos, olhos vazados e ausência de braços; observa-se que Pedro se
desenhou ao lado da mãe; o tamanho relativo dos personagens foi evidenciado e a
produção foi centralizada na folha; por m, evidencia-se que Pedro desenhou a sua
família real, composta por ele, pai e mãe, o que sugere uma percepção de relação
saudável entre os membros.

Figura 2: Desenho de Pedro na Prova da Família

Desenho da Família Cinética: nesta atividade foi solicitado o desenho de uma família
fazendo alguma coisa. Pedro desenhou os personagens sem diferenciação de sexo;
todos os membros da família num mesmo ambiente, porém cada um fazendo uma
coisa diferente. Essa situação sugere comprometimento no vínculo familiar.
Desenho do Par Educativo: foi solicitado ao grupo o desenho de alguém aprendendo
alguma coisa e alguém ensinando. Pedro se desenhou fazendo uma prova; observa-
se no desenho que ele está ao lado de uma folha, com um lápis na mão; a ausência
de ensinante sugere vínculo comprometido com quem ensina e não com o objeto de
conhecimento (folha de prova); o tamanho do aprendente, o tamanho do objeto de
conhecimento e o contato do aprendente com o lápis sugere vínculo saudável com o
objeto de conhecimento.
Entrevista com os pais: durante a entrevista a mãe relatou que Pedro é autista (apesar
dessa informação não constar no relatório médico), tem problemas na fala e
di culdades de socialização. Faz acompanhamento neurológico, fonoaudiólogo e usa
os medicamentos Risperidona e Tofranil. Na entrevista, foi evidenciado que Pedro
tem um primo ( lho de um tio por parte de mãe), com a idade de 7 anos, que
também é autista. A mãe relatou que Pedro nasceu de parto normal, sem
complicações e começou a falar com 1 ano e 2 meses.

Hora do Jogo Diagnóstica: após apresentar a caixa, foi solicitado ao grupo para
realizar a atividade. Pedro não fez inventário, pegou um livro e cou folheando, depois
pegou a lata de palitos e brincou um pouco, sem demonstrar muita vontade, por m,
fez um desenho, utilizando canetinhas e papel sul te, porém não terminou. Essa
atitude demonstra a di culdade da criança em se apropriar do objeto de
conhecimento desejado; o contato super cial com a caixa e com os objetos
oferecidos sugere di culdades em lidar com a situação e com o não conhecer.

Sondagem da Escrita: conforme Figura 2, a escrita de Pedro foi classi cada como
silábica-alfabética, sem o registro da sílaba de três letras, estando aquém do esperado
para a idade, de acordo com a padronização do teste. As palavras ditadas ao paciente
foram: elefante, rã, formiga, cachorro e tigre; e a frase foi: "O elefante pisou na
formiga".

Figura 3: A escrita de Pedro

Frente às Provas Piagetianas, apresentou respostas perceptivas e de não-conservação,


quando o esperado para a idade seria uma resposta cognitiva (lógica) e conservativa,
próprias do estágio do desenvolvimento cognitivo operacional-concreto, adequado a
crianças de 7 a 11 anos.
No mais, observações gerais com relação ao desempenho, comportamento e
conduta do paciente durante o processo foram registradas conforme relato a seguir.
Pedro esteve presente em todas as sessões e realizou todos os testes aplicados com
dedicação. Utilizou o material de maneira adequada e se mostrou organizado,
devolvendo os lápis de cor na caixa correta, guardando borracha e apontador no
estojo após o uso e recolocando cadeiras no lugar ao término das sessões.

Desde a primeira sessão, Pedro apresentou di culdades relacionadas à interação


social e comunicação (linguagem verbal). Nota-se o comprometimento do
desenvolvimento da fala e da linguagem de forma acentuada, conforme descrição da
CID-10 F8311. Interagiu pouco com o grupo e com a psicopedagoga, limitando muitas
respostas a "sim" ou "não". Respostas mais complexas, adequadas às perguntas,
surgiam apenas quando abordado de forma mais precisa e individualizada, o que
sinaliza prejuízos associados às possíveis alterações das funções cognitivas, dentre
elas a linguagem, apresentadas pelo quadro (CID-10 F83).

Dé cits relacionados às funções motoras, descritos na CID-10 F83, foram evidenciados


durante a execução das atividades de Sondagem da Escrita, e nos Testes piagetianos,
e percebidos também nas brincadeiras e jogos lúdicos (montagem de quebra-
cabeça, pega-varetas, entre outras). Prejuízos relacionados à desatenção não foram
evidenciados na avaliação, Pedro se mostrou atento às normas e às consignas
solicitadas.

À medida que os encontros foram se constituindo, Pedro foi se integrando ao grupo, e


essa integração pôde ser percebida em atitudes comportamentais, tais como: rir com
os colegas diante de uma situação engraçada; chamar a terapeuta pelo nome;
expressar o desejo de contar histórias diante dos testes projetivos (família, família
cinética e par educativo) e contar sobre sua rotina diária.

Mesmo com evidente di culdade de comunicação e socialização, Pedro não se isolou


completamente do grupo. No decorrer dos encontros ao longo do processo
diagnóstico, à sua maneira, esteve presente, realizando as propostas e participando
das atividades lúdicas (jogos, contação de histórias, desenho e pintura, dentre outras).

Apresentou muitas vezes comportamento motor estereotipado e repetitivo,


movimentando dedos e/ou mãos, fazendo caretas, rindo sozinho e evitando contato
visual. Demonstrou também, durante a execução das atividades, a xação por rotinas
e regras.

Foi principalmente nas atividades lúdicas, a partir da 4ª sessão, que se tornaram


evidentes uma melhor compreensão do grupo com relação às di culdades
apresentadas pelo Pedro (comunicação e coordenação motora na). Essa evidência
se embasa no auxílio que o grupo passou a prestar, ajudando-o em atividades onde o
mesmo demonstrava mais di culdades, esclarecendo com calma as regras dos jogos
e esperando com paciência e respeito a sua resposta ou fala.

Com relação à modalidade de aprendizagem, Pedro foi classi cado como Hipo
Assimilativo/Hipo Acomodativo. Na hipoassimilação, ocorre pobreza de contato com o
objeto, e dé cit lúdico e criativo; na hipoacomodação, além de pobreza de contato
com o objeto, ocorre também di culdade na interiorização das imagens.

Apesar dos dé cits e prejuízos apresentados, Pedro cumpriu todas as atividades


propostas. A avaliação psicopedagógica demonstrou dé cits na aprendizagem da
escrita, di culdades relacionadas à coordenação motora e à comunicação
(linguagem verbal), além de prejuízo no desenvolvimento cognitivo. Com relação aos
aspectos emocionais, os resultados obtidos a partir das análises da produção da
criança sugerem a existência de percepção saudável da estrutura familiar; vínculo
saudável com o objeto de conhecimento, percepção de ausência de vínculo familiar, e
vínculo comprometido com o ensinante. Essas informações sugerem que, com
relação à dimensão afetiva da aprendizagem (dimensão subjetivante), na qual opera
a lei do desejo que permite dar um signi cado à ignorância, Pedro apresenta
potencial de aproximação do objeto do conhecimento para construção e apropriação
da aprendizagem.

Frente ao desempenho do paciente nas atividades propostas, presume-se que as


di culdades de aprendizagem apontadas pelo relatório médico sejam oriundas, em
parte, das alterações no desenvolvimento (CID-10 F83; F98-8), e em parte da falta de
atendimento adequado às suas necessidades especiais, considerando a realidade das
instituições públicas de ensino e das políticas sociais nacionais.

Assim, tendo em vista as di culdades elencadas, e a importância do funcionamento


independente e simultâneo dos aspectos afetivos e cognitivos do pensamento do
sujeito que aprende, algumas recomendações para atendimento de Pedro são:
acompanhamento psicopedagógico com oferecimento de atividades que
contribuam para o desenvolvimento das suas habilidades cognitivas (pensar,
simbolizar, perceber, criar, analisar, etc) e sociais (comunicação e linguagem), que
favoreçam o desenvolvimento da coordenação motora na e que possibilitem o
processo criativo; e atividades que contemplem os aspectos emocionais e afetivos,
favorecendo o contato com o objeto de conhecimento e alimentando o desejo que
leva à aprendizagem. É importante também acompanhamento pedagógico, se
possível, individualizado, visando à alfabetização, e um aprofundamento na análise
das percepções da criança, a m de se compreender a sua relação com quem ensina
(ensinante).

BATISTA, Leila Santos; GONÇALVES, Bárbara; ANDRADE, Márcia Siqueira


de. Avaliação psicopedagógica de criança com alterações no
desenvolvimento: relato de experiência. In. Rev. psicopedagogia vol.32
no.99 São Paulo 2015.

ACESSAR
Livro

Filme
Web

O vídeo a seguir destaca a importância da observação como


subsídios para a descoberta das causas das áreas do
desenvolvimento em geral, tais como: comunicação e
expressão, percepção, desenvolvimento motor, compreensão
espaço-temporal e dimensão socioafetiva. Observação na área
das habilidades especí cas.
Considerações Finais

Prezado(a) aluno(a),

Neste material, busquei trazer para você os principais conceitos a respeito da


psicopedagogia clínica, que se insere no contexto das di culdades de
aprendizagem oferecendo novas possibilidades de re exão sobre a construção do
conhecimento no ser humano e, mais especi camente, em relação à aprendizagem
de todos as pessoas envolvidas, sejam elas ensinantes ou aprendentes. 

Para tanto, z uma organização para que possa contribuir em sua atuação
pro ssional em psicopedagogia, e que tenha a liberdade de utilizar em uma ordem
exível os passos do diagnóstico, bem como a delimitar o número de sessões para
tal. Pois, vai depender do vínculo e das necessidades do paciente aprendente.

 Portanto, para dar início ao diagnóstico psicopedagógico são utilizados os seguintes


processos e instrumentos, as técnicas projetivas, que auxilia o pro ssional a
compreender não só os porquês, mas também as causas de determinada situação
e/ou patologia que pode estar passando uma pessoa.

Outro assunto bastante relevante que abordamos é sobre o código de ética, na


atuação do psicopedagogo é preciso que se leve com muita responsabilidade o que
está destacado no código ética principalmente no que se refere ao entrevistador e
entrevistado, que o pro ssional de psicopedagogia deve dispor de organizações
adequadas com técnicas de entrevistas, e ter a obrigação de se comportar e manter
o sigilo, a responsabilidades com consciência de que tudo que é tratado em uma
entrevistas e/ou no decorrer de todo o acompanhamento psicopedagógico deve ser
mantido somente entre os interessados.

Como também, a importância dos testes e avaliações para que o psicopedagogo


possa, após as análises realizadas em cada uma das provas, fazer o levantamento
das hipóteses no diagnóstico psicopedagógico, e veri ca-se a modalidade de
aprendizagem do paciente aprendente. Com isso, é preciso que o psicopedagogo
respeite e analise todas as provas para que consiga um diagnóstico e ciente.
E nalizamos o nosso estudo com a compreensão que o psicopedagogo precisa de
um vasto conhecimento para que possa tomar decisões adequadas a cada paciente,
aprendente de modo ímpar, e ainda tenha condições de veri car a necessidade de
encaminhar o sujeito em análise, se caso for preciso, a outros pro ssionais no auxílio
em seu processo de aprendizagem, como, também, rmar junto a escola e
familiares o comprometimento de ambos acompanharem esse processo.

Até uma próxima oportunidade. Obrigada!

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