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Acessibilidade, Metodologias

Ativas e Assistivas
Professora Aline Pedro Feza
AUTORA

Professora Aline Pedro Feza

● Mestranda em Ciências da Educação pela FICS (Facultad Interamericana de


Ciencias Sociales em São Paulo).
● Licenciatura em Pedagogia pela UEM (Universidade Estadual de Maringá).
● Especialização em Educação Especial (Instituto Paranaense de Educação).
● Especialização em Psicopedagogia (Faculdade Eficaz).
● Conselheira Científica da Associação Brasileira de Psicopedagogia ABPp Nú-
cleo Paraná Norte (Triênio 2020-2023).
● Professora Conteudista do UniFCV.
● Professora Conteudista da DTCOM Consultoria.
● Professora Conteudista e de Pós-Graduação da Faculdade Eficaz.
● Professora de Pós-Graduação do UniFCV.
● Professora Bilingue (português/libras).

Atuações nas área de Educação, Educação Especial e Psicopedagogia, com ênfase


em Métodos e Técnicas de Ensino e Atendimentos Especializados, trabalhando principal-
mente nos seguintes temas: língua brasileira de sinais, salas de recursos multifuncional,
aquisição da linguagem, inclusão, ensino-aprendizagem de pessoas com necessidades
educacionais especiais, neurociência, psicopedagogia, psicomotricidade, desenvolvimento
humano.

Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/1028803403946189


APRESENTAÇÃO DO MATERIAL

Seja muito bem-vindo(a)!


Prezado(a) aluno(a), iniciamos hoje mais um estudo com a disciplina de acessibili-
dade, metodologias ativas e assistivas. Esse apresenta extrema importância para profissio-
nais da área de humanas, bem como um tema atual na sociedade, por conta do momento
histórico e cultural vigente devido à inserção da pessoa com deficiência.
A Unidade I consiste em uma abordagem sobre a acessibilidade. Discutiremos o
conceito de acessibilidade, sobre o que ela se trata, qual é a sua base legal e quais são
suas dimensões de atuação. Remetemos você, aluno(a), a uma contextualização histórica
que ajudará a entender que a acessibilidade, quando criada, destinava-se ao atendimento
de um único público, contudo sua abrangência demonstrou que todos nós precisamos de
acessibilidade.
Na Unidade II abordaremos o tema da tecnologia assistiva e inclusão. Nesse
momento retomaremos a contextualização sobre a inclusão, pois após esse processo de
busca por uma sociedade para todos, que ocorreu paralelamente à globalização e avanços
da tecnologia, associou-se um ao outro, propiciando, assim, recursos que contribuem para
desenvolvimento humano da pessoa com deficiência.
Na Unidade III continuaremos a explorar sobre a tecnologia assistiva neste mo-
mento, a valorização e desenvolvimento da vida e do meio ambiente. Quais os recursos
tecnológicos que facilitariam o desenvolvimento e a experimentação do sujeito em todos os
espaços, são indagações que esclarecemos nessa unidade.
Por fim, na Unidade IV, discutiremos modelos e a apresentação da classificação de
funcionalidade, incapacidade e saúde e o desempenho universal nas perspectivas médicas
e sociais.
Assim, encerramos o estudo dessa disciplina na expectativa de ter acrescido em
seu conhecimento, neste tema atual, contudo, atemporal, pois sempre teremos alguém que
necessita ser incluído na sociedade.
Nesta perspectiva, desejo um bom aprendizado!
SUMÁRIO

UNIDADE I....................................................................................................... 5
Dimensões de Acessibilidade

UNIDADE II.................................................................................................... 24
Tecnologia Assistiva e Inclusão

UNIDADE III................................................................................................... 46
Tecnologia Assistiva Aplicada

UNIDADE IV................................................................................................... 67
Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e
Saúde e o Desenho Universal
UNIDADE I
Dimensões de Acessibilidade
Professora Aline Pedro Feza

Plano de Estudo:
● Introdução aos conceitos;
● Contextualizando acessibilidade;
● Legislação de acessibilidade;
● Compreendendo as dimensões de acessibilidade.

Objetivos de Aprendizagem:
• Conceituar e contextualizar conceitos como acessibilidade e metodologias ativas e
assistivas.
• Compreender os tipos de acessibilidade destinadas às pessoas com deficiência.
• Estabelecer a importância da conscientização social sobre a necessidade de propor
acessibilidade em todos os âmbitos.

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INTRODUÇÃO

Olá aluno(a), bem-vindo(a) à nossa primeira unidade. Aqui proponho a você um


aprofundamento dos conhecimentos e conceitos sobre o termo acessibilidade. Essa pala-
vra certamente já foi lida e pronunciada por você, aluno(a). Corriqueiramente acessibilidade
é confundida como facilidade e, de imediato, já é utilizada para caracterizar a pessoa com
deficiência.
Pois bem, se você pensava assim, sinto lhe informar que é totalmente o contrário.
O termo acessibilidade surgiu na sociedade com o advento da inclusão da pessoa com
necessidades especiais, contudo, não se destina somente a esse público.
A população pode usufruir da acessibilidade – pessoas com mobilidade reduzida
temporariamente, idosos e crianças que necessitam de acessibilidade. O conceito não
significa somente uma facilitação, mas sim tornar aquele espaço, percurso, evento e comu-
nicação acessível e destinada a todos os públicos, independentemente de estarem ou não
usufruindo do benefício no momento.
É importante, aluno(a), ressaltar dois pontos: a acessibilidade não é para ser propi-
ciada somente quando há uma pessoa com necessidade de tê-la, ela deve ser uma prática
contínua e permanente em todos os âmbitos sociais. Por fim, é importante ressaltar que
a acessibilidade é um recurso conquistado após muitas lutas, sofrimento e segregação,
principalmente da pessoa com deficiência.
Agora, convido você a aprofundar seus conteúdos e conceitos sobre o assunto.
Bons estudos.

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1 INTRODUÇÃO E CONCEITOS

Ao conceituar acessibilidade precisamos pensar na pessoa com deficiência, pois é


o público que comumente enfrenta limitações em sua vida diária. Essas limitações estão re-
lacionadas a problemas de falta de acessibilidade, ou seja, falta de condições que permitam
o exercício da autonomia, atuação e participação social da pessoa com deficiência. A falta
de acessibilidade nos diversos âmbitos pode prejudicar e atrapalhar o desenvolvimento
ocupacional, cognitivo e psicológico, gerando a exclusão social desse sujeito.
Foi por volta de 1940 que o termo acessibilidade surgiu no Brasil, com o intuito de
abordar o acesso da pessoa com deficiência em todos os espaços. Essa discussão cresceu
paralelamente com o surgimento de serviços profissionais especializados em reabilitar e
atender terapeuticamente esse público. Inicialmente a acessibilidade destinava-se somente
às questões de “mobilidade e eliminação das barreiras arquitetônicas e urbanísticas, numa
clara alusão às condições de acesso a edifícios e meios de transporte” (ARAÚJO, 2009, p.
79).
Contudo, muito além de quebrar barreiras físicas, a acessibilidade proporciona a
capacidade de a pessoa com deficiência ser cidadã ativa e atuar na sociedade em geral.
Assim, cada pessoa passa a ter equiparidade, ou seja, passa a ter as mesmas condições e
oportunidades que todos, conforme apresenta Araújo (2009).
O direito à acessibilidade fundamenta-se nos direitos humanos e de cidadania,
sendo regulamentado, no Brasil, pela Norma Brasileira 9.050 da Associação Brasileira de

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Normas Técnicas (ABNT, 2004). A Associação define-se como um direito universal, defi-
nido o modo constitucional de igualdade, representando uma concretização dos objetivos
determinados por Constituições, Declarações e Conferências de vários estados, desde a
Constituição de 1988.
Conforme Canotilho (2000, p. 45), “a igualdade não deve ser compreendida em um
sentido de igualdade formal, mas como uma isonomia de oportunidades sociais, acesso a
trabalho, educação e lazer”. Esse conceito de igualdade veio com os avanços da política
da inclusão social, bem como movimentos em prol da inserção e aceitação dos deficientes.
Pensar sobre aquele que apresenta limitações não consiste em uma prática social antiga.
Carvalho (2005), destaca que até a década de 90 as pessoas com deficiência eram
consideradas incapazes de atuar socialmente e sofriam com a segregação. Essa mudança
implica justamente a inclusão escolar, que, a partir daí, começou a se alavancar, afinal,
educação inclusiva é isso, mudanças significativas na estrutura e no funcionamento das
escolas, na formação humana dos professores e nas relações família-escola.
Para alcançar esse propósito da inclusão escolar, desde a educação infantil à
educação superior, a partir de 2003 foram implantadas estratégias para transformar “os
sistemas educacionais em sistemas educacionais inclusivos” (CARVALHO, 2005, p. 56).
Essas estratégias, como, por exemplo, políticas públicas e programas, são desenvolvidas
para atender as necessidades de aprendizagem de todas as crianças, disponibilizando
recursos à educação, de forma que a inclusão possa, de fato, acontecer.

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2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ACESSIBILIDADE

A criança com necessidades especiais, como qualquer outra criança, tem o direito
de cursar uma escola e ter expectativas em relação ao seu futuro. Mantoan (2003) destaca
que, infelizmente, ainda existe um preconceito exagerado por parte da sociedade, e o mais
grave: por parte daqueles que deveriam lutar e dar exemplos dentro de uma sociedade,
que são os educadores. Isto ocorre em todo o segmento educacional brasileiro. Mas ainda
existem pessoas e profissionais que trabalham para minimizar essa vergonha que é o pre-
conceito por parte dos educadores.
Para Mantoan (2003), a inclusão faz parte de um grande movimento pela melhoria
do ensino, e o primeiro passo para que isso, de fato, aconteça é olhando a educação com
outros olhos. É preciso entender que a inclusão não é apenas para crianças deficientes,
mas para todos os excluídos ou discriminados, para as minorias.
Quando se pensa em que tipo de benefícios a inclusão pode gerar, surge sempre
aquele pensamento de que as pessoas com deficiência têm mais chances de se desen-
volver, mas, na verdade, todos ganham com a inclusão, pois aprendemos todos os dias a
exercitar a tolerância e o respeito ao próximo, seja ele quem for.
Carvalho (2005) destaca que existem muitos motivos para que uma criança com
Necessidades Especiais tenha uma oportunidade de frequentar uma escola de ensino
regular. Além disso, a inclusão traz benefícios tanto acadêmicos quanto sociais. A inclusão

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bem-sucedida não acontece automaticamente, a atitude da escola como um todo é um fator
significativo nesse processo.
Uma das maiores barreiras para inclusão ainda é o preconceito, “geralmente o
preconceito é gerado por falta de informação, e até mesmo por insegurança por parte das
pessoas, o ser humano tende a temer aquilo que não conhece” (MANTOAN, 2003, p. 56).
É por esse motivo que a inclusão de crianças com deficiência nas escolas de ensino regular
é tão importante, pois essas pessoas serão introduzidas da maneira mais natural possível
na vida das crianças tidas como “normais”, assim criará um pensamento mais consciente.
Embora a ideia de ter uma sociedade mais consciente e com direitos iguais para
todos pareça uma utopia, estamos caminhando devagar, mas, aos poucos, se pode ir
alcançando os objetivos. Carvalho (2005) fala que estamos passando por um processo
de conscientização e isso leva tempo. Mudar a ordem natural das coisas exige compro-
metimento e esse comprometimento deve ser de toda a sociedade, a fim de que todos se
beneficiem por igual.
Nesse sentido, ressalto que é necessário repensar o espaço escolar. É necessário
haver conscientização de que para uma educação inclusiva não é o aluno que tenta se
adaptar à escola, mas a escola que tem essa função de se moldar para receber e manter os
alunos na escola, atendendo as necessidades de cada um, quer tenha deficiência ou não.
Quando as escolas respondem às diferenças individuais dos seus alunos, se ade-
quando e proporcionando atendimento especializado através de profissionais capacitados,
pode-se afirmar que a inclusão já está acontecendo. A fim de compreender melhor esse
conceito de acessibilidade, propomos o mapa conceitual a seguir:

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Figura 1 - Mapa conceitual sobre acessibilidade

Fonte: a autora.

Conforme a Constituição Brasileira, publicada em 1988, garante-se direitos sociais


à educação, moradia e cultura a todas as pessoas, inclusive àquelas com deficiência. Foi
somente em 24 de julho de 1991 que ocorreu a implantação da Lei de Cotas, que prevê co-
tas para pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Esta lei destina que as empresas
e comércios, que possuam entre 100 e 200 funcionários, reservem 2% de vagas a pessoas
com deficiência física, visual, auditiva, intelectual ou neuromotora.
Somente em 19 de dezembro de 2000 tivemos a implantação de uma lei totalmente
voltada à acessibilidade: a Lei 10.098, que estabelece “normas gerais e critérios básicos para
a promoção das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida” (BRASIL,
2000, s.p.). Passados quatro anos, temos um complemento que consiste no Decreto 5.296,
que reforça o conceito de acessibilidade, dando maior legitimidade à Lei 10.098 de 2000.
Conforme o Decreto 5.296 de 2004 reforça, a acessibilidade prevê a legislação
brasileira como um recurso que promove condição para utilização, com segurança e auto-
nomia, de maneira total ou assistida, dos “espaços, mobiliários e equipamentos urbanos,
das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comu-

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nicação e informação, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida” (BRASIL,
2004, s.p.).
Dessa forma, podemos definir acessibilidade sobre dez dimensões: atitudinal,
arquitetônica, comunicacional, instrumental, metodológica, programática, instrumental,
comunicacional, de transporte e digitais. Trataremos mais a fundo sobre essas dimensões
no tópico quatro desta unidade.
Assim, terminamos o estudo do nosso tópico temático sobre os conceitos de aces-
sibilidade. Nosso próximo tópico destina-se a explicar e descrever os aspectos legais desse
conceito.

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3 LEGISLAÇÃO DA ACESSIBILIDADE

Conforme apontado no tópico anterior, falar sobre a acessibilidade é historicamente


recente e não é possível se não falarmos sobre inclusão, pois um conceito surgiu atrelado
ao outro. A inclusão, da qual tanto falamos e de que tanto ouvimos falar, nada mais é do que
o anseio pela democracia, que hoje não é nada inclusiva.
O verdadeiro conceito de inclusão é dificilmente é utilizado. O que geralmente
ocorre é que a maioria acredita ser um tipo de prêmio, como, por exemplo, as cotas nas
universidades, assim, os excluídos acabam por se conformar e achar que estão incluídos.
Para Mantoan (2003), as pessoas com necessidades especiais recebem apoio as-
sistencialista de todas as formas, porém continuam na situação de excluídos na sociedade,
sem o direito sequer de saber expressar suas próprias opiniões acerca de sua situação.
Quando, no entanto, se fala em necessidades especiais, as referências não são apenas às
necessidades físicas ou mentais que um indivíduo pode vir a apresentar.
É interessante, porém, que se tenha em mente que a necessidade especial, seja
ela por uma causa genética ou adquirida, deve ser sempre trabalhada de maneira que não
se torne um empecilho na vida do sujeito. Esse seria, portanto, o verdadeiro objetivo do tão
discutido conceito de “inclusão social”, descrito por Mantoan (2003). A inclusão é percebida
como um processo de ampliação da circulação social que produz uma aproximação de
seus diversos protagonistas, convocando-os à construção cotidiana de uma sociedade que

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ofereça oportunidade variada a todos os seus cidadãos, possibilidades criativas a todas as
suas diferenças.
Como se sabe, o primeiro dos filósofos a distinguir entre diferença e alteridade
foi Aristóteles: a diferença das coisas supõe sempre uma determinação sobre aquilo em
que diferem. Alteridade, ao contrário, não significa determinação nenhuma: há outro ser e
não uma diferença entre dois seres (lembrando que, para Platão, a alteridade é o gênero
supremo).
Durante a década de 80 esses problemas dificultam os avanços da educação
básica em muitos países menos desenvolvidos. Em outros, o crescimento econômico per-
mitiu financiar a expansão da educação, mas, mesmo assim, milhões de seres humanos
continuavam na pobreza, privados de escolaridade ou analfabetos. E em alguns países
industrializados cortes nos gastos públicos, ao longo dos anos 80, contribuíram para a
deterioração da educação. Não obstante, o mundo estava às vésperas de um novo século,
carregado de esperanças e de possibilidades.
A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, vigente, a Educação Especial foi definida como uma modalidade de
educação escolar que permeia todas as etapas e níveis de ensino, permitindo desvincu-
lar “educação especial” de “escola especial”, tornando também a educação especial um
conjunto de recursos educacionais e de estratégias de apoio que estejam à disposição de
todos os alunos, oferecendo diferentes alternativas de atendimento.
A inclusão ganhou reforços com a Lei de Diretrizes de Bases da educação Nacional
(LDB), de 1996, e com a Convenção da Guatemala, de 2001. Sendo assim, manter crianças
com algum tipo de deficiência fora do ensino regular é considerado exclusão e crime. O
principal motivo das crianças irem para escola é que vão encontrar um espaço democrático,
onde poderão compartilhar o conhecimento e a experiência com o diferente.
O Brasil fez opção pela construção de um sistema educacional inclusivo ao con-
cordar com a Declaração Mundial de Educação para Todos e ao mostrar consonância com
os postulados produzidos em Salamanca (Espanha). É preciso esclarecer que o principal
documento sobre os princípios da Educação Inclusiva é a Declaração de Salamanca, de
1994 – estabelece que a escola inclusiva seja aquela que contempla muitas outras neces-
sidades educacionais especiais
crianças que têm dificuldades temporárias ou permanentes, que repetem o
ano, sofrem exploração sexual, violação física ou emocional, são obrigadas
a trabalhar, moram na rua ou longe da escola, vivem em extrema condição
de pobreza, são desnutridas, vítimas de guerras ou conflitos armados, têm

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altas habilidades (superdotadas) e as que, por qualquer motivo, estão fora da
escola (em atendimento hospitalar, por exemplo) (BRASIL, 1994, s.p.).

Sem esquecer-se daquelas que, mesmo na escola, são excluídas por cor, religião,
peso, altura, aparência, modo de falar, vestir ou pensar. Tudo isso colabora para que o
estudante tenha cerceado o direito de aprender e crescer.
A Declaração de Salamanca, de 1994, em seus pressupostos, afirma que
a tendência da política social durante as duas últimas décadas foi de fomen-
tar a integração e a participação e de lutar contra a exclusão. A integração
e a participação fazem parte essencial da dignidade humana e do gozo e
exercício dos direitos humanos (BRASIL, 1994, s.p.).

No campo da educação, essa situação se reflete no desenvolvimento de estratégias


que possibilitem uma autêntica igualdade de oportunidade. A experiência de muitos países
demonstra que a integração de crianças e jovens com necessidades educativas especiais
é alcançada de forma mais eficaz em escolas integradoras para todas as crianças de uma
comunidade.
É nesse ambiente que crianças com necessidades educativas especiais podem
progredir no terreno educativo e no da integração social. As escolas integradoras constituem
um meio favorável à construção da igualdade de oportunidade e da completa participação;
mas, para ter êxito, requerem um esforço comum, não somente dos professores e do pes-
soal restante da escola, mas também dos colegas, pais, famílias e voluntários.
Conforme Carvalho (2005, p. 45) “as necessidades educativas especiais incor-
poram os princípios já comprovados de uma pedagogia equilibrada que beneficia todas
as crianças”. Assim, entende-se que ser diferente é normal e que, para tanto, precisamos
“ajustar-se às necessidades de cada criança, ao invés de cada criança, se adaptar aos
supostos princípios quanto ao ritmo e a natureza do processo educativo uma pedagogia
centralizada na criança” (CARVALHO, 2005, p. 45).
Retomando os apontamentos do tópico anterior, temos várias leis e documentos
internacionais que estabelecem os direitos das Pessoas com Deficiência no nosso país, a
partir um caminho percorrido até alcançarmos tais leis destinadas diretamente à acessibili-
dade. Nesse referido percurso destacamos:
● 1988 - CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA - Prevê o pleno desenvolvimento dos
cidadãos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação; garante o direito à escola para todos; coloca como prin-
cípio para a Educação o “acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa
e da criação artística, segundo a capacidade de cada um” (BRASIL, 1988).

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● 1989 - LEI Nº 7.853/89 - Define como crime recusar, suspender, adiar, cancelar ou
extinguir a matrícula de um estudante por causa de sua deficiência, em qualquer
curso ou nível de ensino, seja ele público ou privado. A pena para o infrator pode
variar de um a quatro anos de prisão, mais multa.
● 1990 - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) - Garante o direito
à igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola, sendo o
Ensino Fundamental obrigatório e gratuito (também aos que não tiveram acesso
na idade própria); o respeito dos educadores; atendimento educacional especiali-
zado, preferencialmente na rede regular.
● 1994 - DECLARAÇÃO DE SALAMANCA - O texto, que não tem efeito de lei,
diz que também devem receber atendimento especializado crianças excluídas da
escola por motivos como trabalho infantil e abuso sexual. As que têm deficiências
graves devem ser atendidas no mesmo ambiente de ensino que todas as demais.
● 1996 - LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL (LDB) - A
redação do parágrafo 2º do artigo 59 provocou confusão, dando a entender que,
dependendo da deficiência, a criança só podia ser atendida em escola especial.
Na verdade, o texto diz que o atendimento especializado pode ocorrer em classes
ou em escolas especiais quando não for possível oferecê-lo na escola comum.
● 2000 - LEIS Nº 10.048 E Nº 10.098 - A primeira garante atendimento prioritário
de pessoas com deficiência nos locais públicos. A segunda estabelece normas
sobre acessibilidade física e define como barreira obstáculos nas vias e no interior
dos edifícios, nos meios de transporte e tudo o que dificulte a expressão ou o
recebimento de mensagens por intermédio dos meios de comunicação, sejam ou
não de massa.
● 2001 DECRETO Nº 3.956 (CONVENÇÃO DA GUATEMALA) - Põe fim às interpre-
tações confusas da LDB, deixando clara a impossibilidade de tratamento desigual
com base na deficiência. O acesso ao Ensino Fundamental é, portanto, um direito
humano e privar pessoas, em idade escolar, dele, mantendo-as unicamente em
escolas ou classes especiais, fere a convenção a Constituição.

Mas somente no ano 2000 que se criou uma lei destinada diretamente para a
acessibilidade. A Lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que determina “normas gerais e
critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência
ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências” (BRASIL, 2000, s.p.). Essa lei é

UNIDADE I Dimensões de Acessibilidade 16


constituída por 27 artigos, divididos em 10 capítulos, estabelecendo critérios aos governos
para o desenvolvimento da acessibilidade nas instâncias sociais, educacionais e políticas
conforme o artigo primeiro
Art. 1o Esta Lei estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção
da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade
reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e
espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios
e nos meios de transporte e de comunicação. (BRASIL, 2000, s.p.).

A legislação visa estabelecer e proporcionar autonomia para o desenvolvimento do


sujeito, para tanto, estabelece obrigatoriedades em diversas áreas de atuação. No artigo
segundo a lei prevê
I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com
segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos,
edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas
e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público,
de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na
rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida; (Redação
dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
II - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que
limite ou impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição
e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e
de expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à
circulação com segurança, entre outros, classificadas em: (Redação dada
pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços públicos e
privados abertos ao público ou de uso coletivo; (Redação dada pela Lei nº
13.146, de 2015) (Vigência)
b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios públicos e privados;
(Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e meios de transpor-
tes; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer entrave, obstáculo,
atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a expressão ou o
recebimento de mensagens e de informações por intermédio de sistemas de
comunicação e de tecnologia da informação (BRASIL, 2000, s.p.).

Desta forma, a Lei 10.098 apresenta novas atitudes que, combinadas com a expe-
riência acumulada de reformas, inovações, pesquisas, inclusive de leis que já antecederam,
podem apresentar um notável progresso da promoção de acessibilidade registrado no país.

UNIDADE I Dimensões de Acessibilidade 17


4 COMPREENDENDO AS DIMENSÕES DA ACESSIBILIDADE

Ao definir acessibilidade foi possível entender que se trata de um amplo conceito


de atuação, contudo, independente do espaço que necessita de acessibilidade, todas ação
visa propor uma autonomia e um desenvolvimento integral da pessoa. Dessa maneira,
podemos subdividir acessibilidade em dez grupos ou categorias.
Conforme Sassaki (2002), a acessibilidade por estar classificada em seis dimensões
diferentes. A acessibilidade atitudinal destina-se às relações humanas e à toda forma de
ver e agir com o outro sem preconceitos, estigmas, estereótipos e discriminações, ou seja,
define-se a toda e qualquer acessibilidade relacionada a atitudes sociais que impulsionam
a remoção de barreiras.
A acessibilidade arquitetônica é talvez a mais conhecida e pensada pela comunida-
de em geral, consiste na eliminação das barreiras ambientais físicas nos espaços públicos e
particulares de locomoção e atuação da pessoa com deficiência e/ou mobilidade reduzida.
A acessibilidade metodológica pode ser encontrada também na literatura como
acessibilidade pedagógica, define-se pela ausência de barreiras nas metodologias e práti-
cas de estudo, está diretamente ligada à prática docente em geral. Essa denominação de
acessibilidade é responsável pelas adaptações curriculares e metodológicas em todas as
modalidades de ensino.
A acessibilidade programática constitui na eliminação de barreiras das políticas
públicas, ou seja, nas alterações e reformulações das leis, decretos, portarias, normas,

UNIDADE I Dimensões de Acessibilidade 18


regulamentos, entre outras leis, de modo que abrangem a todos os públicos. Por sua
vez, a acessibilidade instrumental destina-se à superação das barreiras nos instrumentos,
utensílios e ferramentas relacionadas às práticas sociais e escolares em prol do bom rela-
cionamento e desenvolvimento do sujeito.
A acessibilidade de transportes destina-se a eliminar barreiras em qualquer meio
de transporte particular ou públicos, isso obriga montadoras automobilísticas a pensar em
modelos adaptáveis e acessíveis a pessoas com deficiência, bem como a criação de meios
de transportes públicos para esse mesmo público.
A acessibilidade de comunicação ou acessibilidade comunicativa destina-se, em
suma, a atender duas categorias de pessoas: os surdos e os cegos. Ela destina-se à elimi-
nação de barreiras comunicativas verbais ou de escrita, por meio dessa acessibilidade pro-
move-se a tradução de língua de sinais de maneira simultânea ou gravada para programas
televisivos ou de palco (como teatros, musicais, entre outros) e a tradução para o sistema
braille de revistas, jornais, literaturas e materiais impressos em geral, bem como a tradução
de placas de identificação pública e a audiodescrição em programas televisivos e de palcos
(como teatros, musicais, entre outros)
É a acessibilidade que elimina barreiras na comunicação interpessoal (face a face,
língua de sinais), escrita (jornal, revista, livro, carta, apostila etc., incluindo textos em braille,
uso do computador portátil) e virtual (acessibilidade digital), segundo Sassaki (2002).
Por fim, temos a acessibilidade digital, que disponibiliza acesso físico, de equipa-
mentos e programas adequados, de conteúdo e apresentação da informação em formatos
alternativos. A inclusão será, por sua própria característica, uma tarefa complexa, mas não
ameaçadora a essa clientela, podendo usufruir do direito de integração no sistema regular
de ensino.
Mantoan (2003) diz que a educação especial faz parte de “um todo” que é a edu-
cação, e ter o seu valor reconhecido é de fundamental importância para que os indivíduos
tenham seu crescimento e desempenho educacional satisfatório. Dessa forma, a acessi-
bilidade proporciona para que as pessoas se desenvolvam de maneira integral nas suas
habilidades e suas dificuldades. Como afirma Sassaki (2002), é muito importante que se
disponham de tudo o que for necessário para o desenvolvimento cognitivo, social e psico-
lógico de cada pessoa com deficiência.

UNIDADE I Dimensões de Acessibilidade 19


SAIBA MAIS

Muita tecnologia, pouca infraestrutura! Sobre o transporte público, a lei de inclusão é


clara em seu artigo 46, capítulo X, que define que é direito da pessoa com deficiência a
mobilidade em transportes públicos de forma igualitária. Em busca da efetivação desta
lei, as empresas de transportes, da grande maioria das capitais e grandes metrópoles,
incluíram em sua frota ônibus com plataforma para cadeirantes, assentos prioritários,
guias, intérpretes, portões diferenciados, rampas de acesso nas estações de metrô e
trens.
Muito bem, mas isso se faz necessário para promover acessibilidade na mobilidade?
Eu já lhe adianto que não. Atualmente a acessibilidade no transporte público esbarra na
falta de infraestrutura nas cidades, boas calçadas, sinalização adequada nas ruas, entre
outros fatores. Desta maneira, ter tecnologia acessibilizando o transporte não se torna
suficiente se não temos acessibilidade nas ruas, calçadas. Ter mobilidade no transporte,
mas não ter mobilidade na estrutura da cidade, não é acessibilidade.

Fonte: a autora.

REFLITA

“Somos diferentes, mas não queremos ser transformados em desiguais. As nossas vi-
das só precisam ser acrescidas de recursos especiais.”

Fonte: Peça de teatro: Vozes da Consciência, BH.

O fato de uma pessoa não enquadrar-se no padrão de normalidade apresentado


pela sociedade significa que ela não tem habilidades?

UNIDADE I Dimensões de Acessibilidade 20


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim findamos nossos estudos sobre o tema da acessibilidade, com o intuito de


ter levado você, aluno(a), a refletir e a entender melhor o conceito apresentado. Buscamos
proporcionar o entendimento de que a acessibilidade não é um mero conceito de facilitador
de espaços, mas sim uma forma de equiparar as possibilidades a todos. Conforme Man-
toan (2013, p. 7) a “inclusão é sair das escolas dos diferentes e promover a escola das
diferenças”. Nessa perspectiva que os estudos sobre a acessibilidade e iniciativas legais e
privadas vêm avançando.
A ligação do conceito de acessibilidade às condições das pessoas com deficiência
ou com mobilidade reduzida, propondo com segurança e autonomia, total ou assistida, o
direito ao acesso dos espaços públicos ou coletivos. Contudo, faz-se necessário refletirmos
que a acessibilidade surge por meio da preocupação da inclusão de pessoas com deficiên-
cia, entretanto, trata-se de uma medida que beneficia a qualquer pessoa; somos sujeitos a
apresentar necessidade temporárias ou permanentes.
Assim, concluímos que acessibilidade é a qualidade do que é acessível, atingível e
de acesso a todos. Esse fato torna-se uma preocupação, que deve ser constante nas áreas
de arquitetura e urbanismo. O direito à acessibilidade promove, por meio de órgãos públi-
cos ou privados, diversas mudanças nas condições de acesso aos espaços sociais. Mas
as construções de rampas, a adaptação dos equipamentos, do mobiliário, do transporte
coletivo e dos sistemas e meios de comunicação e informação não surtem resultados se a
infraestrutura das cidades e a aceitação e respeito da população forem também debatidos,
para que não só as pessoas com deficiência, mas todos com dificuldades temporárias ou
permanentes possam acessar serviços prestados à coletividade por espaços públicos e
privados.

UNIDADE I Dimensões de Acessibilidade 21


LEITURA COMPLEMENTAR

VLIBRAS NA TELINHA

As emissoras de TV têm prazo até 2020 para adotarem, na totalidade, os recursos


de acessibilidade; cinemas e casas de espetáculo aumentam programação com tradução
em língua de sinais, audiodescrição e presença de guias intérpretes.
Por enquanto, ainda é raro assistir a um programa de TV com aquela “janelinha”
que mostra a figura simpática do intérprete de Libras. Hoje, nos canais abertos, o recurso
só é obrigatório no horário político e em campanhas institucionais do governo e de utilidade
pública. Nas emissoras com sinal digital, é exigida a exibição de - parcas - duas horas por
semana com recurso de audiodescrição na programação.
Um quadro mais inclusivo deve ser vislumbrado a partir de 2020, quando, finalmen-
te, as emissoras de TV serão obrigadas a adotar os recursos de acessibilidade total, ou
seja: janela com intérprete de Libras, dublagem, audiodescrição e closed caption (sistema
de transmissão de legendas via sinal de televisão que permite às pessoas com deficiência
auditiva e surdos acompanhar os programas transmitidos).
O programa VLibras será referência para a transmissão de informações pela Lín-
gua Brasileira de Sinais nos programas veiculados pelas emissoras de televisão no País. O
dicionário VLibras foi desenvolvido em parceria do Ministério do Planejamento, Orçamento
e Gestão com a Universidade Federal da Paraíba e está disponível no Portal do Software
Público Brasileiro.
Quando o assunto é inclusão, as casas de espetáculos e salas de cinema brasileiras
parecem estar “correndo mais rápido”. De olho nos financiamentos públicos para projetos
arquitetônicos e de comunicação de acordo com o previsto no Decreto 5.296, os teatros
e casas de shows estão investindo em sistemas de sonorização assistida para pessoas
com deficiência auditiva, meios eletrônicos que permitam o acompanhamento por meio de
legendas em tempo real e locais próprios para a presença física de intérprete de Libras e de
guias-intérpretes, com a projeção em tela da imagem do intérprete de Libras sempre que a
distância não permitir sua visualização direta.
Desde 2014, uma norma da Ancine determina que todos os projetos de produção
audiovisual financiados com recursos públicos federais geridos pela agência deverão con-
templar nos seus orçamentos serviços de legendagem descritiva, audiodescrição e Libras.
O objetivo é estimular a universalização do acesso às obras audiovisuais, em especial as
nacionais.
Serviço: Conheça mais do projeto no www.vlibras.gov.br

Fonte: AME. Amigos dos Metroviários dos Excepcionais. Vlibras na telinha. Disponível em: http://www.ame-
-sp.org.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=623:vlibras-na-telinha&catid=5:acessibilida-
de Acesso 9 de Julho de 2020.

UNIDADE I Dimensões de Acessibilidade 22


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
• Título: O Município e a Acessibilidade urbana
• Autora: Janaína de Oliveira
• Editora: Lumen Juris
• Sinopse: O livro realizou uma análise sistematizada abre a atua-
ção da municipalidade para efetivação da acessibilidade no meio
urbano. Conforme a autora, ofertar cidades acessíveis a todos é
um dever dos municípios, pois a falta de acessibilidade afeta dire-
tamente a dignidade das pessoas, também representa um claro
desrespeito aos preceitos constitucionais de igualdade e liberdade
de locomoção. Concede pessoas com direito à acessibilidade às
gestantes, idosos, pessoas com deficiência e demais indivíduos
com mobilidade reduzida, pessoas que enfrentam diariamente
com obstáculos arquitetônicos e urbanísticos. Importante ressaltar
que é direito de todos de ir e vir sem obstáculos, a autonomia na
locomoção proporciona autonomia na vida.

FILME/VÍDEO
• Título: Meu nome é Daniel
• Ano: 2019
• Sinopse: Daniel Gonçalves é cineasta, tem 35 anos, lançou nos
cinemas brasileiros seu primeiro longa-metragem, o documentário
Meu Nome é Daniel. O filme é uma autobiografia que revela as
dificuldades enfrentadas pelo ator e produtor. Produtor formado, o
personagem do filme vai em busca de emprego e, para além das
dificuldades de locomoção, Daniel depara-se com os preconceitos
das pessoas sobre suas habilidades e conhecimentos na sua
profissão. Além de abordar a falta de acessibilidade como uma
das dificuldades, o filme faz uma crítica à postura de muitas pes-
soas que enxergam o deficiente como uma vítima e um coitado. O
filme é um longa-metragem de 83 minutos e está disponível nas
plataformas digitais com comunicação acessível, com legendas
descritivas e janela em libras.
• Link do vídeo: https://youtu.be/ejfKiX0H9Zc

WEB
• Sites dos ministérios públicos em geral apresentam legislações
e artigos sobre acessibilidade. Esses sites proporcionam acesso
a informações legais e sociais sobre o direito à acessibilidade no
contexto público e privado.
• Link do site: https://www.saude.gov.br/acessibilidade

UNIDADE I Dimensões de Acessibilidade 23


UNIDADE II
Tecnologia Assistiva e Inclusão
Professora Aline Pedro Feza

Plano de Estudo:
● Diagnóstico da inclusão;
● Impactos causados pela deficiência no ser humano;
● Tecnologias assistivas e metodologias ativas.

Objetivos de Aprendizagem:
• Contextualizar o processo histórico da inclusão.
• Compreender as etapas de aceitação vividas pela pessoa com deficiência.
• Apresentar a importância das metodologias ativas e tecnologias assistivas para desen-
volvimento da pessoa com deficiência.

24
INTRODUÇÃO

Olá aluno(a), bem-vindo(a) à nossa segunda unidade. Neste estudo convido você
a conhecer um pouco mais sobre três conceitos: inclusão, tecnologias assistivas e metodo-
logias ativas. Atualmente encontramos com facilidade a pessoa com deficiência inserida no
mercado de trabalho ou desfrutando do convívio social em geral, mas será que sempre foi
assim? Já lhe adianto que não.
A pessoa com deficiência passa a ser vista e inserida na sociedade a partir da
década de 90, após décadas de exclusão e segregação social. Os deficientes, antes mor-
tos e denominados aberrações da natureza, vêm recentemente alcançando espaço como
cidadãos, com direitos e deveres a serem cumpridos.
Para Mantoan (2013), a inclusão é uma área de conhecimento que visa promover
o desenvolvimento das potencialidades das pessoas com deficiências, da educação infantil
até a educação superior. Essa definição está relacionada a um movimento mundial baseado
nos princípios dos direitos humanos e da cidadania, em que o objetivo principal é eliminar a
discriminação e a exclusão, garantindo o direito à igualdade de oportunidades e a diferença,
modificando os sistemas educacionais, de maneira a propiciar a participação de todos os
alunos, especialmente aqueles que são vulneráveis à marginalização e à exclusão.
Pensar na inclusão foi pensar em maneiras de oportunizar igualdade de acesso e
de direto a todas as pessoas, independentemente de suas limitações. Agora convido a você
aprofundar seus conteúdos e conceitos sobre o assunto.
Bons estudos.

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 25


1 DIAGNÓSTICO NA INCLUSÃO

A inclusão veio para romper o paradigma existente e para romper com a estrutura
fechada, bem como a homogeneidade na sociedade. Depois de tantos anos de isolamento
e segregação, as pessoas com necessidades especiais estão sendo reconhecidas como
cidadãos e aceitas na escola comum. No sentido em questão, tomemos por definição Po-
líticas Públicas como um conjunto de ações do governo destinadas a atender determinada
demanda ou problemática. Em destaque, as políticas públicas, cujas medidas do Estado
garante recursos que contribuem para o desenvolvimento do deficiente.
Assim, ressaltamos alguns dos principais documentos e legislações que embasam
a Política Inclusiva. Até o século XIX, as necessidades especiais estavam associadas à
incapacidade e não havia nenhuma tendência em mudar esse quadro. Dessa forma, o
abandono e a eliminação dessas pessoas eram atitudes normais nessa época.
A ideia de inclusão surgiu a partir do século XX, quando três grandes fatores contri-
buíram para que se tornasse uma realidade. O primeiro fator foi o término das duas grandes
guerras mundiais, evento que elevou o número de indivíduos debilitados e com deficiên-
cias. O segundo fator foi o fortalecimento do movimento dos direitos humanos, a criação
dos programas sociais, tais como a Organização das Nações Unidas (ONU); Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), ambas criadas em
1945. O terceiro e último fator foi o avanço científico (carros, escola, computadores, aumen-

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 26


to do consumo de produtos industrializados, cinemas, supermercados), que se tornou mais
acessível à população, dando-lhes maior autonomia.
Em 1948 criou-se a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que afirma que
os alunos têm direitos iguais, independente das características, interesses e necessidades
individuais, que são diferentes. No Brasil, somente a partir de 1988 as políticas públicas
foram implantadas por meio da Constituição da República Federativa do Brasil, que esta-
belece
promover o bem de todos, sem preconceitos de origem , raça, sexo, cor,
idade, e quaisquer outras formas de discriminação” (art. 3°, inciso IV). Define
ainda, no artigo 205, a educação como um direito de todos, garantindo o
pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação
para o trabalho. No artigo 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições
de acesso e permanência na escola como um dos princípios para o ensino
e garante, como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional es-
pecializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208) (BRASIL,
1988, s.p.).

Em 1990 foi realizada a Conferência Mundial sobre a Educação para Todos, em


Jomtien, na Tailândia, onde se reuniram cerca de 1500 participantes, entre eles os dele-
gados de 150 países, incluindo especialistas em educação e autoridades nacionais que,
juntamente com representantes intergovernamentais e não-governamentais, analisaram,
em uma sessão plenária, aspectos sobre a educação. Ao término dessa conferência foram
criados dez artigos que se tornaram um marco para o movimento pela Educação Inclusiva,
tendo como base o art. 3°, inciso V, que diz:
As necessidades básicas de aprendizagem das pessoas portadoras de defi-
ciências requerem atenção especial. É preciso tomar medidas que garantam
a igualdade de acesso à educação aos portadores de todo e qualquer tipo de
deficiência, como parte integrante do sistema educativo (UNESCO, 1990, p. 4).

Tais mudanças na educação foram de grande valia para a inclusão social das pes-
soas com necessidades especiais, no entanto, não foi suficiente para que houvesse uma
real e total inclusão, ou seja, ainda faltavam políticas práticas, necessitava de uma maior
participação e responsabilidade do poder público para direcionar esse trabalho, a fim de
proporcionar um atendimento especializado e direcionado para cada tipo de necessidade
apresentada.
No intuito de amenizar tais problemas foi realizado pela UNESCO, em junho de
1994, em Salamanca, na Espanha, a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas
Especiais: acesso e qualidade, que aprovou a Declaração de Salamanca. Essa declaração
traz as estratégias nacionais, regionais e internacionais para a educação inclusiva, com
uma nova maneira de pensar a respeito das necessidades especiais, escolas, capacita-

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 27


ção de profissionais da educação e de outros aspectos educacionais, tornando, assim,
um referencial para a Educação Inclusiva, um marco na organização política dos países
envolvidos, inclusive no Brasil. Segundo a Declaração de Salamanca,
• Toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportu-
nidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem.
• Toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades
de aprendizagem que são únicas.
• Sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais
deveriam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta diversi-
dade de tais características e necessidades.
• Aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à
escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada
na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades.
• Escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios
mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades
acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação
para todos; além disso, tais escolas provêem uma educação efetiva à maioria
das crianças e aprimoram a eficiência e, em última instância, o custo da
eficácia de todo o sistema educacional (UNESCO, 1994, p. 1).

Com a opção de realmente ser um país que tem um sistema educacional inclusivo,
o Brasil passa a criar leis específicas que garantem o acesso direto e de qualidade ao ensi-
no. Instituída em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB - 9394/96)
estabelece no art. 4°, inciso III, como dever do estado garantir atendimento educacional
especializado gratuito aos indivíduos com necessidades especiais, preferencialmente na
rede regular de ensino e, ainda, dedica o capítulo V, que compreende os artigos 58, 59 e
60, para estabelecer como deve ser a educação especial:
Art. 58 . Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a moda-
lidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de
ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. §1º Haverá,
quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para
atender as peculiaridades da clientela de educação especial. §2º O atendi-
mento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados,
sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for pos-
sível a sua integração nas classes comuns do ensino regular. §3º A oferta da
educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária
de zero a seis anos, durante a educação infantil. Art. 59 . Os sistemas de
ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: I – currícu-
los, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para
atender às suas necessidades; II – terminalidade específica para aqueles que
não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental,
em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o
programa escolar para os superdotados; III – professores com especialização
adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem
como professores do ensino regular capacitados para a integração desses
educandos nas classes comuns; IV – educação especial para o trabalho,
visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições
adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho
competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como
para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística,
intelectual ou psicomotora; V – acesso igualitário aos benefícios dos pro-
gramas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino
regular. Art. 60 . Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 28


critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos,
especializadas e com atuação exclusiva em educação especial, para fins
de apoio técnico e financeiro pelo Poder público. Parágrafo único. O poder
Público adotará, como alternativa preferencial, a ampliação do atendimento
aos educandos com necessidades especiais na própria rede pública regular
de ensino, independentemente do apoio às instituições previstas neste artigo
(BRASIL, 1996, s.p.).

A política nacional da educação especial, na perspectiva da educação inclusiva, re-


força os documentos nacionais e internacionais e direciona a educação para que a inclusão
escolar realmente se concretize, desde a educação infantil até o ensino superior. Nesse
sentido, as diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica (BRASIL,
2001b) asseguram que o atendimento aos alunos com necessidades especiais deve ser
realizado em classes comuns de ensino regular, em qualquer etapa ou modalidade da
educação básica e que as escolas podem criar extraordinariamente “classes especiais”,
com organização fundamentada nas diretrizes curriculares para a educação básica.
Conforme Mantoan (2013), a educação inclusiva implica na implementação de polí-
ticas públicas, na compreensão da inclusão como processo que não se restringe à relação
professor-aluno, mas que seja concebido como um princípio de educação para todos e
valorização das diferenças, que envolve toda a comunidade escolar.
Assim destacamos que a inclusão social iniciou com políticas públicas voltadas
para o contexto educacional, eliminando as classes especiais e posteriormente as escolas
especiais que foram criadas com um caráter assistencialistas. Contudo, Mantoan (2013)
destaca que esses movimentos não foram o suficiente para inserir o deficiente na socieda-
de. Precisamos, até hoje, lutar para quebrar um paradigma de que o sujeito com deficiência
não é capaz de compor a sociedade em sua totalidade.

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 29


2 IMPACTOS CAUSADOS PELA DEFICIÊNCIA NO SER HUMANO

Ao longo dos tempos as pessoas com necessidades especiais eram percebidas de


diversos modos pela sociedade, esses modos tinham ligação direta com as concepções de
homem e de sociedade de cada época e estavam intrinsecamente ligados a valores éticos,
religiosos, morais e sociais de cada período.
No Antigo Egito ressaltaram a necessidade de se respeitar as pessoas com nanis-
mo e com outras deficiências. O Egito também ficou conhecido como a terra dos cegos, as
infecções nos olhos eram constantes e levava o povo à cegueira.
[…] a nossa história assinala políticas extremas de exclusão em relação à
pessoa com deficiência na sociedade. Exemplo disto ocorreu em Esparta, na
antiga Grécia, onde a beleza física e o culto ao corpo eram as condições para
a participação social. As crianças com deficiência física eram colocadas nas
montanhas e, em Roma, atiradas ao Rio Tibre. Estes casos eram vistos como
perigo para a continuidade da espécie (SASSAKI, 1997, p. 6).

No início do século XIX a igreja discursava sobre a existência do bem, do mal


e do pecado, com isso realizava práticas estranhas de exorcismo, tentando alcançar a
“cura”. No mesmo período a medicina também passou a estudar as deficiências, porém,
a mais exitosa conquista foi a descoberta das patologias, a partir de então o sujeito com
necessidades especiais passaram a frequentar os hospitais com o propósito de tratamento.
Esse era o cenário até o início do século XIX, em que ter uma necessidade especial era
sinônimo de incapacidade.

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 30


A sociedade, em todas as culturas, atravessou diversas fases no que se refere
às práticas sociais. Ela começou praticando a exclusão social de pessoas que, por causa
das condições atípicas, não lhe parecia pertencer à maioria da população. Em seguida
desenvolveu o atendimento segregado dentro de instituições, passou para a prática da
integração social e recentemente adotou a filosofia da inclusão social para modificar os
sistemas sociais gerais (SASSAKI, 1997, p. 16).
Na década de 60, o Brasil assistiu a uma explosão no número de instituições se-
gregativas especializadas. Os atendimentos estavam alinhavados ao tratamento clínico às
pessoas com necessidades especiais, e as atividades eram de caráter filantrópico, somente
no final dessa década aconteceu um movimento para a integração social que tinha por
intento “inserir as pessoas com deficiência nos sistemas sociais gerais como a educação, o
trabalho, a família e o lazer” (SASSAKI, 1999, p. 31), no entanto, foi na década de 80 que
esse processo foi melhor vivenciado.
Assim, a integração social nasce de uma necessidade: a de inserir o sujeito com
necessidades especiais, sem cobrar da sociedade uma mudança, todo o processo de
integração escolar foi de grande valia para as conquistas da educação inclusiva, mas não
atendia integralmente os direitos das pessoas com necessidades especiais.
Sabe-se que a história segregativa no mundo e no Brasil age como influenciadora
das práticas sociais vigentes da atualidade. “A ideia de que poderiam ser ajudadas em
ambientes segregados, alijadas do resto da sociedade, fortaleceu os estigmas sociais e
a rejeição” (STAINBACK; STAINBACK, 1999, p. 43). As práticas excludentes e precon-
ceituosas da atualidade são reflexos dessa história de aflição imposta às pessoas com
necessidades especiais.
Em pleno o século XXI, são muitos os desafios de uma sociedade para todos,
conforme é previsto na lei. A inclusão pressupõe o conhecimento de cada pessoa, respeita
as diferenças, assim como os limites individuais e promova intervenção para que se tenha
assim qualidade de vida.
Para que, de fato, uma sociedade se torne inclusiva, é necessário conhecer todos
os fatores que possam afetar o cenário, tanto no que se refere à atuação das pessoas em
geral quanto a atuação do deficiente. Só assim será possível uma intervenção que atenda
a diversidade, como é apresentada em documentos, por exemplo, na Declaração Universal
dos Direitos Humanos das pessoas com Deficiências, de 1948, e Declaração Universal dos
Direitos Humanos, de 1999.

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 31


Verificamos que, para se chegar às atuais constatações a respeito das pessoas
com necessidades especiais, foi preciso passar por períodos históricos diferentes, os quais
possuíam diversos olhares sociais em relação ao deficiente. Por muito tempo o deficiente
foi abandonado e rotulado, foi segregado e excluído da sociedade.
Atualmente ele é reconhecido como um ser humano que necessita de cuidados e
que, apesar das suas limitações, possui inúmeras potencialidades que precisam apenas de
estímulos para que se desenvolvam. Ao passo que essas potencialidades são reconheci-
das, percebemos o quão importante é o papel da sociedade, quantos benefícios ela pode
trazer a essas pessoas, e só é preciso conhecer um pouco mais a respeito das deficiências
e saber a forma adequada de se trabalhar.

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 32


3 TECNOLOGIA ASSISTIVAS E METODOLOGIA ATIVAS

Falar sobre a tecnologia consiste em imergir em um amplo tema de discussão, con-


tudo dividiremos essa etapa do nosso estudo em duas partes, primeiramente realizaremos
uma abordagem sobre a tecnologia no contexto educacional, espaço no qual inicialmente
implantou-se a inclusão e, em um segundo momento, abordaremos sobre o conceito de
tecnologia assistivas e metodologias ativas, como ambas podem ajudar no desenvolvimen-
to no processo de ensino e aprendizagem de cada educando.
A implantação das tecnologias no ambiente escolar ocorre com os avanços da
globalização no mundo atual. A implantação da comunicação em rede e a velocidade da
circulação das informações foram fatores que caracterizaram a implantação das tecno-
logias. Com a inserção dos Parâmetros Curriculares Nacionais, em 1998, a tecnologia é
associada à educação como um recurso educacional, a partir deste documento se inicia
uma discussão acerca da preparação do professor para trabalhar com esse recurso.
A implantação das diversas mídias educacionais, das chamadas tecnologias de
comunicação e informação, as TICS, passou a ser discutida pelo Ministério da Educa-
ção e Cultura (BRASIL, 1996) com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº
9.394/96. A necessidade desse debate nasceu dos desafios enfrentados pelos docentes
em saber utilizá-las, de modo a aperfeiçoarem suas práticas pedagógicas. O objetivo é
somar conceitos, além dos que eram apresentados pelos livros didáticos, do quadro, giz
e do material didático para o processo do aprendizado. As transformações ocorridas na

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 33


sociedade representam a necessidade de mudança, quando o professor tem conhecimento
sobre os potencias educacionais do computador e é capaz de modificar as atividades de
ensino-aprendizagem, assim como aquelas em que usa o computador apenas como meio
de transmitir a informação. Caso contrário, os educadores inibem-se quanto ao uso e aca-
bam por não inserir em suas aulas esta ferramenta.
Na educação especial, recursos tecnológicos como computadores e tablets – para
realizar escrita dos conteúdos – são utilizados no atendimento de pessoas com deficiên-
cias. Dentro da modalidade de educação especial, muitas vezes o docente se depara com
alunos com limitações reduzidas, para estes o ato de registrar o conteúdo por meio da
escrita é muito complexo; ponteiras para boca ou para cabeça são, muitas vezes, utilizadas
para substituir as mãos na digitação.
Para Amaral (2016), há recursos mais avançados e mais acessíveis a serem utili-
zados, como:
- Recursos mais avançados, como sistemas de identificação ocular, que realizam
a seleção das letras por meio dos movimentos direcionados aos olhos, são utilizados para
pessoas com mobilidade global comprometida.
- Recursos tecnológicos mais acessíveis são os mais comuns a serem encontrados
nas escolas, como os teclados ou telas ampliadas ou os aplicativos de leitor e tradução.
Os aplicativos de leitor são utilizados por alunos com visão reduzida ou cegueira total,
podendo ser adaptados em outros casos, pois esses aplicativos realizam a leitura de textos
e atividades.
Existem vários sistemas e aplicativos de leitor, mas o mais conhecido é o Dosvox.
Desenvolvido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, o sistema realiza leitura de
textos, estando disponível na versão de app para celulares. Ainda, há os aplicativos de
tradução do português escrito para a língua de sinais. O mais acessível é o HandTalk, por
meio do personagem Hugo é sinalizado o que está escrito em português para a língua de
sinais brasileira (Libras). Esse app é muito utilizado nos ambientes como secretarias das
escolar ou por membros das equipes pedagógicas nos atendimentos de pais ou alunos
surdos, tendo em vista que, no interior da sala de aula, o aluno surdo tem o direito, previsto
por lei, de um tradutor intérprete de língua de sinais (Tils).
Para Amaral (2016), a escola é um espaço de formação de conceito e de construção
do sujeito como agente ativo no contexto social. Por ser diretamente ligada à sociedade,
é importante acompanhar os avanços desta instituição, o que faz com que as práticas
pedagógicas se associem a novas atividades constantemente.

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 34


Segundo Moran (2007), é necessário que o professor perceba que o quadro negro
não é sua única opção de recurso. Não que tal recurso não deva mais ser utilizado, mas
incorporar outros recursos, como as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), por
exemplo, à sua aula faz com que seus objetivos, por meio deles, sejam de colaborar com
o ensino-aprendizagem dos alunos e, por consequência, colaborar nos resultados de sua
prática pedagógica.
Assim, a educação em todos os níveis sofre modificações e altera-se juntamente
com o meio no qual está inserida. A Lei de Diretrizes e Bases n. 9.394, em vigor desde 1996,
estabelece que a tecnologia como recurso deve ser associada a todas as etapas de ensino
(infantil, fundamental, médio e superior) e, além disso, define a modalidade educacional a
distância, inserindo a tecnologia no processo, pois as aulas conseguem abranger um maior
número de alunos devido a estar interligada em rede.
Para corresponder a esse novo contexto, com a implementação desse cenário, a
escola torna-se mais acessível tanto ao seu público quanto às suas práticas, descaracte-
rizando esquemas tradicionais e possibilitando ações e técnicas que permitam aulas mais
dinâmicas, alterando o conceito de práticas pedagógicas e espaço escolar, ao torná-los
mais flexíveis.
Para uma aprendizagem significativa o professor deve ter em mente que exerce
o papel fundamental no que se refere ao planejamento e desenvolvimento das situações
didáticas que visem a apropriação do saber escolar pelo aluno. Em seguida, deve planejar
também o uso dos recursos didáticos adequados à construção de saberes determinados
pelo aluno, haja vista que não é o manuseio do material que garante aprendizagem, mas a
reflexão do aluno, orientado pelo professor.
Nesse contexto, destaca-se mais um aspecto importante sobre as tecnologias da
informação: a importância de romper com preconceitos e construir novas possibilidades
destinados a educadores e educandos para abrilhantar o processo de ensino aprendizagem.
Assim como a tecnologia avança diariamente, acredita-se que a formação do educador
deve ser contínua. E, para isso, é necessário
Possibilitar um espaço em que não aprenda apenas a lidar com as tecnologias,
mas que possa refletir e ao mesmo tempo aprender a transpor esta aprendi-
zagem em uma linguagem que possa estar conectada às novas facetas do
modo de aprender dos educandos nesta era das conexões (GUERREIRO;
BATTINI, 2014, p. 68).

A inclusão veio destinar um acesso à educação a todas as pessoas. As limitações


comunicativas e de mobilidade não são mais barreiras para que as práticas pedagógicas,

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 35


incorporadas a tecnologias, cheguem ao público ao qual se destina. A tecnologia é uma
prática que a cada ano torna-se disponível a todos, entretanto, trabalhar com a tecnologia
ainda é uma barreira, que no caso dos professores pode tornar-se um empecilho de apro-
priação de conhecimento.
No âmbito desta discussão surgem duas novas terminologias que estão atreladas
ao contexto da tecnologia, que sãos as tecnologias assistivas e as metodologias ativas.
Mas sobre o que se trata essa terminologia e quais suas importâncias no contexto da
inclusão é o que discutiremos agora.
Segundo Amaral (2016), as tecnologias assistivas surgem primeiramente nos Esta-
dos Unidos, em 1988, e chegam ao Brasil em 1998 com o desenvolvimento da globalização.
Estas tecnologias aplicam-se para definir todo recurso e serviço que contribui para propor-
cionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e, consequentemente,
propiciar uma autonomia de vida e de aprendizagem, independente de políticas e ações
inclusivas.
A tecnologia assistiva visa valorizar as habilidades da pessoa com deficiência e tor-
nar a dificuldade imperceptível aos olhos da sociedade em geral. Não há modelos de tecno-
logias ou padrões, elas são desenvolvidas quase que de maneira individual para equiparar
cada necessidade apresentada pelo deficiente. Diferente da acessibilidade, destinada ao
meio, a tecnologia assistiva destina-se a cada indivíduo e ao seu desenvolvimento pessoal.
No Brasil, o  Comitê de Ajudas Técnicas - CAT, instituído pela  Portaria nº
142 de 16 de novembro de 2006, que propõe o seguinte conceito para a
tecnologia assistiva: “Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de
característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias,
estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade,
relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapa-
cidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência,
qualidade de vida e inclusão social”  (ATA VII - Comitê de Ajudas Técnicas
(CAT) - Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de De-
ficiência (CORDE) - Secretaria Especial dos Direitos Humanos - Presidência
da República, p. 1).

Assim, essas tecnologias visam atuar em dois aspectos nos serviços e nos re-
cursos. No âmbito de serviços destina-se aos profissionais que auxiliam diretamente a
promover melhorias no dia a dia da pessoa com deficiência, corresponde a profissionais
como fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psicopedagogos, psicó-
logos, arquitetos engenheiros, assistentes sociais, educadores, entre outros profissionais
que atuam utilizando um instrumento de tecnologia assistiva. Como exemplo podemos citar
avaliações, experimentação e treinamento de novos equipamentos.

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 36


Por sua vez, as tecnologias assistivas podem estar relacionadas a recursos tec-
nológicos destinados à pessoa com deficiência. Consiste em equipamentos realizados
sob medida para a dificuldade específica daquele deficiente. Esses recursos podem ser
ponteiras, próteses mecânicas, aplicativos de comunicação, comunicação ocular, roupas
adaptadas, computadores, softwares e hardwares especiais que contemplam questões de
acessibilidade, dispositivos para adequação da postura sentada, recursos para mobilidade
manual e elétrica, equipamentos de comunicação alternativa, chaves e acionadores es-
peciais, aparelhos de escuta assistida, auxílios visuais, materiais protéticos e milhares de
outros itens confeccionados ou disponíveis comercialmente (AMARAL, 2016).
Em busca de equiparar as diferenças e aplicar esses recursos tecnológicos no
processo de aprendizagem, torna-se necessário preocupar-se também com as práticas
docentes nesse processo. Nessa busca de propiciar maior interesse e participação dos
alunos, iniciam-se discussões acerca das metodologias ativas, que consistem em fazer
com que o aluno esteja diretamente envolvido em seu processo de aprendizagem.
Essa metodologia permite que o aluno trabalhe com tecnologias, com redes inter-
ligadas ou com grupos de colegas, entre outros recursos que promovam maior integração
do aluno. Na metodologia ativa o professor toma o papel de facilitador e o aluno passa
a ser quem conduzirá as práticas no processo de aprendizagem, conforme apresentam
Disel, Baldez e Martins (2017). O professor deixa de ser visto como o detentor de todo o
conhecimento e o único responsável pelo processo de ensino e aprendizagem e, assim, o
aluno torna-se um agente ativo também desse processo.
As metodologias ativas visam levar o aluno a desenvolver todos os pilares da
educação da UNESCO, elaborados pelo educador francês Jacques Delors, em 1999, e pu-
blicado em um relatório denominado Educação: um tesouro a descobrir, também conhecido
como relatório Delors.
Conforme Delors (1999), a educação está pautada em quatro pilares ligados ao
processo do aprender, que são: o aprender a conhecer, o aprender a conviver, o aprender
a fazer e o aprender a ser. Faz-se essa relação com as metodologias ativas pois buscam
que o educando aprenda a ser e a fazer, que esse aluno passe a ser mais do que um mero
agente captador de informações, mas sim seja atuante e questionador dessas informações
e conhecimento. A prática de aprendizagem ativa visa levar o aluno a debater e a ser crítico
na sociedade que vive.
Pensar em uma educação igualitária, consiste em uma educação de qualidade,
independente da condição física e intelectual do aluno. Em busca de defender este objetivo

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 37


as tecnologias assistivas visam desenvolver recursos que assistem os alunos com mais
limitações, equiparando-os no processo do aprender. Por sua vez, as metodologias ativas
visam estabelecer autonomia aos alunos nas práticas educativas.
Assim encerramos nossos estudos, na expectativa de instigar você, aluno(a), a ser
ativo(a) nessa sociedade que busca a inclusão e que está permeada de tecnologias que
precisam ser destinadas a diminuir as diferenças entre as pessoas.

SAIBA MAIS

As tecnologias permitem vários ambientes de aprendizagem para a procura de ativida-


des e aprimoramento de conteúdo a serem realizados pelo professor, como, por exem-
plo, o Banco Internacional de Recursos Educacionais, criado em 2010 pelo Instituto Na-
cional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC); Scielo Books;
FGV on-line; e-Aulas USP; Domínio Público. Consistem em recursos como sites de
complemento de conteúdo educacional nas diversas disciplinas do currículo, como fer-
ramentas de apoio pedagógico para professores com vídeos e links de curiosidades e
complementos curriculares e serviços (abas) de reforços de conteúdo, como a escola
Britânica (https://escola.britannica.com.br/) consiste em uma enciclopédia escolar gra-
tuita com os conteúdos separados por disciplinas.
Seguindo essa mesma ideia de recursos educacionais tecnológicos, temos Google
for Educaion (https://edu.google.com/intl/pt-BR/?modal_active=modal-video-c80cZMz-
0SOw), também de acesso gratuito. Consiste em um site com ferramentas de pesquisa
e interação promovendo recursos para professores e alunos no processo de aprendiza-
gem na educação básica e ensino superior. O mesmo site promove ferramentas como
G-Suite for Education, um conjunto de ferramentas desenvolvido para que professores
e alunos aprendam e inovem juntos, apresenta ainda possibilidades como: Google sala
de aula - possibilita organizar tarefas, Course kit - permite a criar coletar e avaliar as
atividades do curso, Chromebooks - uma ferramenta de compartilhamento de material,
Google Cloud - tecnologia de pesquisa avançada na nuvem do Google, Realidade vir-
tual e realidade aumentada - para todas escolas vivenciarem o conteúdo.
Citamos aqui dois exemplos de sites como recursos tecnológicos, entre tantos outros
que existem. Pesquise sobre eles e aprofunde seus conhecimentos!

Fonte: a autora.

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 38


REFLITA

As tecnologias assistivas tornam-se a voz de deficientes auditivos! As mídias e tecnolo-


gias vieram para romper barreiras e quebrar preconceitos. Com os avanços tecnológi-
cos, pessoas com necessidades especiais ganham a possibilidade de recursos comuni-
cativos mais eficazes. Um exemplo acontece com os surdos e os deficientes auditivos. A
simples tecnologia do telefone não se destinava a essas pessoas, pois com a ausência
do canal auditivo, o uso do telefone tornava-se inútil. Com os avanços, esse aparelho,
além de alcançar esse público, também se tornou importante para o processo de co-
municação deles, por meio de mensagem de SMS ou chamadas por vídeo, os surdos
somaram um recurso à eficácia da sua comunicação.
Você, enquanto ouvinte, já refletiu sobre a dificuldade da comunidade surda em comuni-
car-se? Como um surdo pode saber que seu filho se machucou na escola, por exemplo,
quando muitas vezes esses avisos são realizados por ligações telefônicas? Como o
surdo pode contactar um serviço de atendimento ao cliente (SAC) de uma loja ou banco,
quando são na grande maioria realizados via chamada telefônica?
Essas entre outras são questões, muitas vezes impensadas pelos ouvintes, são barrei-
ras que vêm sendo reduzidas com o acesso às tecnologias.

Fonte: a autora.

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 39


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se que o direito do aluno com necessidades educacionais especiais com


relação a políticas públicas tem caminhado rumo à educação de qualidade, no entanto, sa-
bemos da dificuldade que existe em operar essas leis no contexto escolar, devido a tantas
especificidades. A inclusão educacional exige que expliquemos dificuldades escolares, não
só tendo os alunos como foco, mas considerando-se as limitações existentes em nossos
sistemas de ensino e em nossas escolas. O desafio implica numa nova visão de necessida-
des educacionais especiais que, além das dos alunos, traduzem-se por necessidades das
escolas, dos professores e de todos os recursos humanos que nelas trabalham.
A educação inclusiva deve oportunizar um sistema educacional que respeite, va-
lorize e possibilite o acesso e a permanência de todas as pessoas, garantindo-lhes uma
escolarização com competência e qualidade e um aproveitamento do processo ensino-
-aprendizagem no seu rendimento escolar, demonstrando que a diversidade é inerente
à construção de toda e qualquer sociedade. Cabe ao professor constante atualização de
conhecimentos e competências na busca individual de novas ações necessárias para sua
formação tanto profissional como pessoal.
É imprescindível que o professor busque novas alternativas, como as tecnologias
assistivas e metodologias ativas apresentadas nesta unidade, que visam fortalecer dentro
desse novo quadro, devendo estar preparado para enfrentar as diversas situações que irão
surgir durante o processo educacional. Para tanto, o professor deve constituir e interpretar
sua prática pensando e analisando suas crenças, valores e teorias a respeito do processo
ensino-aprendizagem, principalmente junto às crianças com necessidades especiais, o que
lhe possibilitará reestruturar seu pensamento alicerçado numa base sólida de conhecimentos.

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 40


LEITURA COMPLEMENTAR

INTRODUÇÃO
Neste artigo é tratado o emprego das tecnologias assistivas nas metodologias ativas.
As metodologias ativas têm como objetivo promover no aluno uma concepção mais reflexiva
e crítica em que as suas habilidades e competências estarão sendo desenvolvidas para que
este encontre soluções adequadas para os problemas vivenciados na sua formação. Mas
também propor ao professor uma reflexão sobre a sua prática em sala de aula e uma refor-
mulação dos métodos utilizados para atender as especificidades dos alunos acompanhando
as mudanças sócio-políticas, financeiras e tecnológicas na sociedade moderna.
A Lei 13.146/16 – Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da
Pessoa com Deficiência), é destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade,
o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência. tecnologia
Assistiva é um novo conceito que contribui para proporcionar, ampliar e facilitar algumas
habilidades funcionais de pessoas com deficiência e logo promover maior independência e
Inclusão, principalmente a comunicação alternativa.
Portanto, o objetivo geral desta pesquisa é utilizar das tecnologias assistivas nas me-
todologias ativas. E para melhor desenvolvimento do estudo foram elencados como objetivos
específicos: compreender as metodologias ativas; averiguar as tecnologias assistivas.
Esta pesquisa se justifica por ter sido observado que algumas escolas incluem os alu-
nos por força da lei e desta forma o aluno fica excluído e assim sendo através da metodologia
ativa utilizando as tecnologias assistivas esta situação seria revertida.
Com esta pesquisa pretende-se que tanto as escolas e como os profissionais de
educação tenham a oportunidade de apropriar-se de um ambiente de aprendizagem mais
adequado aos alunos com necessidades educativas especiais, sejam elas físicas, cognitivas,
intelectuais, afetivas ou sociais.
A relevância do artigo se faz tanto para a comunidade escolar, o sistema de ensino,
os educadores quanto para os alunos com necessidades educativas especiais, pois mostra
maneiras de remover os conflitos que impedem e dificultam no processo ensino aprendiza-
gem e na participação dos alunos na escola e na vida social.

METODOLOGIAS ATIVAS
As metodologias ativas (MA) apresentam-se como um instrumento para a cons-
trução do conhecimento usando procedimentos analíticos e dialógicos. É uma concepção
educativa que estimula processos de ensino-aprendizagem crítico-reflexivos, no qual o

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 41


educando participa e se compromete com seu aprendizado. As MA propõem uma edu-
cação centrada no aluno, em que este é orientado por um professor que irá proporcionar
experiências estimuladoras que o levarão a buscar recursos interiores para interagir com
as situações desafiadoras do cotidiano. Portanto segundo essa abordagem as informações
só serão absorvidas pelos alunos se tiverem um significado. Assim realizarão uma conexão
com as suas experiências, sofrendo a influência do meio onde estes estão inseridos e
promovendo mudanças nas suas percepções sobre o mundo. Nas bases teóricas destas
metodologias podemos identificar princípios análogos defendidos por Dewey e Freire nas
décadas precedentes. Dewey formulou um ideal pedagógico (da Escola Nova) onde a
aprendizagem acontecia pela ação, o aprender fazendo. Preconizava a iniciativa, a origi-
nalidade e cooperação que promoveria as potencialidades dos indivíduos na construção
de uma ordem social aprimorada. E explicava que as experiências concretas da vida se
apresentavam diante de problemas que mobilizam o ato de pensar, possibilitando estágios
de reflexão, elaboração de soluções e ações para a resolução. Paulo Freire incentiva o
desenvolvimento de uma Pedagogia problematizadora em que “educador e educando
aprendem juntos, numa relação dinâmica na qual a prática, orientada pela teoria, reorienta
essa teoria, num processo de constante aperfeiçoamento” (GADOTTI,2006,p.253) Nesta
práxis o conhecimento utilizado seria o da realidade do educando, em que este seria de-
senvolvida uma conscientização para a sua autonomia. A implantação das metodologias
ativas requer uma análise do currículo que se pretende trabalhar para a formação do aluno
enfatizando tanto os conhecimentos específicos como a colaboração, interdisciplinaridade,
habilidade para inovação, trabalho em grupo 3 e educação para o desenvolvimento susten-
tável, regional e globalizado.
Por isso a clareza e objetividade do Projeto Político Pedagógico (PPP) instituído
pelo estabelecimento de ensino será fundamental para a escolha das metodologias ativas
a serem utilizadas no trabalho educacional. É necessário um mapeamento da clientela que
será atendida para buscar professores com formação adequadas ao perfil traçado pela
instituição. A metodologia de ensino que tem como meta a combinação e concretização
dos seguintes aspectos: relações entre professores e alunos, o ensino-aprendizagem,
objetivos de ensino, finalidades educativas, conteúdos cognitivos, métodos e técnicas de
ensino, tecnologias educativas, avaliação, faixa etária do educando, nível de escolaridade,
conhecimentos que o aluno possui, sua realidade sociocultural, projeto político-pedagógico
da escola, sua pertença a grupos e classes sociais, além de outras dimensões societárias
em que se sustenta uma dada sociedade.
Seguiremos reiterando a proposta das metodologias ativas com uma maior partici-
pação do aluno, a liberdade de escolha e contextualização do conhecimento; estimulando
atividades em grupo e usando diversos recursos para a socialização do conhecimento.
Entre as metodologias pode-se destacar: A aprendizagem baseada em problemas inicia a

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 42


aprendizagem criando a necessidade de resolver um problema não estruturado. Durante
o processo, os alunos constroem o conhecimento do conteúdo e desenvolvem habilidades
de resolução de problemas, bem como as competências de aprendizagem auto-dirigida. A
aprendizagem baseada em projetos tem sido caracterizada como um processo dinâmico,
participativo e interdisciplinar centrado na aprendizagem do aluno. Tendo como procedi-
mento primordial a conscientização do discente sobre o que ele necessita aprender e a
motivação pela busca de informações relevantes. Promove o estímulo à aprendizagem,
trabalho em equipe, a escuta do outro e a responsabilidade por suas atitudes. Na metodo-
logia da sala de aula invertida os assuntos e as indicações são direcionados aos alunos
antes dele ir para sala de aula através de materiais on-line. O aluno estuda os conteúdos
antes da aula, que se torna o lugar de aprendizagem ativa, onde há perguntas, discussões
e atividades práticas. o foco é o aluno que terá as suas dificuldades trabalhadas, ao invés
de apresentações sobre o conteúdo das disciplinas pelo professor.
O estudo do caso é uma metodologia onde um caso será discutido pelos alunos que
desenvolvem habilidades no processo de argumentação, pois lidarão com informações ou
perguntas inesperadas, assim como na experimentação de ideias e soluções. É um desafio
para o professor que tem de dominar fatos, questões, cálculos e outros materiais do caso
em questão. O Peer instruction é focado no aluno como construtor do seu conhecimento
juntamente com outros alunos. Serão formuladas questões destinadas a envolver os alunos
e descobrir dificuldades com o material. Oferece um ambiente estruturado para os alunos
exporem suas ideias e solucionar mal-entendido, conversando com seus pares. Tem como
característica um ambiente cooperativo onde todos trabalham em conjunto para aprender
novos conceitos e habilidades. O Blended learnig pode ser definido como um programa de
educação formal que mescla os momentos em que o aluno estuda os conteúdos e instruções
usando recursos online, e outros em que o ensino ocorre em sala de aula, podendo interagir
com outros alunos e com o professor. O material usado é elaborado especificamente para
a disciplina. Neste método a parte presencial será supervisionada pelo professor que irá
valorizar as interações e complementar as atividades on-line, favorecendo um processo de
construção do conhecimento eficiente.
A educação à distância tem como ponto principal uma relação de aprendizagem
em que professor e aluno estão separados fisicamente no espaço e/ ou no tempo utilizando
como recursos as tecnologias de informação e comunicação podendo ou não apresentar
momentos presenciais. Isso contribui para o acesso a aqueles que vêm sendo excluídos
do processo educacional por morarem em locais de difícil acesso, tendo uma relevância
social fundamental que contribuirá para o desenvolvimento econômico. As tecnologias
educacionais são um conjunto de ferramentas didáticas utilizadas no processo de ensino
aprendizagem que permitem aplicabilidades pedagógicas inovadoras, contribuindo para a
democratização do ensino.

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 43


Mas professor necessita de qualificação para manejar essas tecnologias, pois pode
utilizar desde a pesquisa em sites e plataformas educacionais. Segundo Amaral (2016), as
tecnologias de informação e comunicação estão proporcionando um novo campo de saber
para o mundo, caracterizando o corpo social pela globalização tecnológica e direcionando-a
para uma humanidade digital. Complementando a autora nos diz que o uso tecnológico no
ambiente educacional para a superação das dificuldades de aprendizagem, acentua-se
como um instrumento facilitador em sala de aula. O uso da tecnologia é um recurso que
modifica e transforma 5 o aprendizado, motivando a participação de todos da escola e
diminuindo a dificuldade que os alunos possuem em aprender.

TECNOLOGIAS ASSISTIVAS
De acordo com a definição proposta pelo Comitê de Ajudas Técnicas (CAT), tecno-
logia assistiva “é uma área do conhecimento”, de característica interdisciplinar, que engloba
produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover
a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, in-
capacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade
de vida e inclusão social (BRASIL, 2009). “Para as pessoas sem deficiência a tecnologia
torna as coisas mais fáceis. Para as pessoas com deficiência, a tecnologia torna as coisas
possíveis” (RADABAUGH, 1993). Com a chegada das tecnologias assistivas, o educador
deixa de ser o detentor do saber, para ser um transformador de conquistas, um mediador.
Em algumas escolas podemos presenciar mudanças, tanto nos profissionais, quanto na
estrutura escolar, os Atendimento Educacional Especializado (AEE ) com as Salas de re-
cursos multifuncionais (SRMF).
Segundo o site Assistiva (2014) às salas de recursos são espaços físicos localiza-
dos nas escolas públicas onde se realiza o Atendimento Educacional Especializado - AEE.
As SRMF possuem mobiliário, materiais didáticos e pedagógicos, recursos de acessibili-
dade e equipamentos específicos para o atendimento dos alunos que são público alvo da
Educação Especial e que necessitam do AEE no contra turno escolar [...]

Fonte: Amaral et al. (2017).

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 44


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: INCLUSÃO: Um Guia Para Educadores
Autores: Susan Stainback, William Stainback
Editora: Grupo A
Ano: 1999
Sinopse: O livro consiste em um guia para educadores em
geral, buscando contextualizar sobre a inclusão da pessoa com
deficiência no ambiente educacional. O livro apresenta uma
contextualização acerca da inclusão, define a inclusão educação
como uma mudança da perspectiva social. Segundo os autores, o
olhar educacional só irá contemplar a pessoa com deficiência se
a sociedade em geral também mudar seu ponto de vista, sabendo
que a pessoa com deficiência é tão capaz quanto qualquer outro
indivíduo, desde que seja proporcionado a ele as mesmas oportu-
nidades.

WEB
• O site Portal do professor do Ministério da Educação e da Cul-
tura visa proporcionar ideias para trabalhar com a temática da
deficiência, proporcionando, assim, uma compreensão dos alunos
acerca do tema, bem como uma maior aceitação da pessoa com
deficiência.
• Disponível em:
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?au-
la=38670

UNIDADE II Tecnologia Assistiva e Inclusão 45


UNIDADE III
Tecnologia Assistiva Aplicada
Professora Aline Pedro Feza

Plano de Estudo:
• Novas tecnologias e desenvolvimento humano.
• Descrevendo as categorias da tecnologia assistiva.
• Tecnologia assistiva aplicada à vida diária.
• Tecnologias assistivas aplicada aos recursos educacionais.

Objetivos de Aprendizagem:
• Discutir os diversos recursos utilizados na tecnologia assistiva.
• Apresentar a importância da tecnologia assistiva na autonomia das
atividades diária.
• Apresentar alguns recursos de tecnologias assistiva em prol da pessoa com
deficiência.

46
INTRODUÇÃO

Olá, aluno(a), bem-vindo(a) a mais uma unidade de nosso tema. Após conceituar-
mos brevemente a tecnologia assistiva, abordaremos neste estudo as aplicações desta
relacionadas ao desenvolvimento da pessoa com deficiência. A tecnologia assistiva visa
valorizar as habilidades da pessoa com deficiência para que esta possa ter a mesma auto-
nomia e desenvoltura que as demais pessoas da sociedade em geral.
Equiparar as capacidades das pessoas com deficiências com as das demais pes-
soas, atos simples do dia a dia, como se alimentar ou se locomover com autonomia, para
alguns deficientes, são limitados ou impossíveis. Esse é um dos principais objetivos das
tecnologias assistivas.
Como os avanços da tecnologia, o homem tem criado instrumentos e sistemas
que têm possibilitado que essas atividades diárias da vida de uma pessoa com deficiência
sejam possíveis sem o auxílio de uma outra pessoa. Proporcionar autonomia ao deficiente
é proporcionar aumento da expectativa de sua vida, consiste em proporcionar capacidades
de se olhar na sociedade e se sentir igual aos demais com mesmas capacidades e possi-
bilidades.
Nessa unidade definiremos o conceito de novas tecnologias que têm possibilitado
avanços na autonomia dos deficientes, principalmente no que se refere ao aspecto educa-
cional.
Desejo bons estudos!

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 47


1 NOVAS TECNOLOGIA E O DESENVOLVIMENTO HUMANO

A tecnologia acompanha a história humana. Desde a antiguidade, com a descoberta


e o manuseio do fogo, o homem não parou mais de criar e reinventar recursos que pudesse
proporcionar melhores condições de vida. Construiu moradias, confeccionou vestimentas,
descobriu a agricultura, a criação de animais e constitui-se como ser social.
Assim, desenvolveu estratégias, recursos e ferramentas que fundamentaram todo
o aparato tecnológico que se tem hoje (BADALOTTI et al., 2014, p. 6). Tal conhecimento era
passado de geração para geração através da oralidade, uma forma de ensino constituída
pela própria família. A linguagem oral predominou até a invenção da escrita, que possibilitou
avanços gigantescos na evolução social e cultural humana. Todavia não eram todos que
tinham acesso à cultura escrita; apenas as classes sociais mais favorecidas eram privile-
giadas de tal conhecimento.
No século XV, entretanto, com a invenção da imprensa, por Gutenberg, a divulgação
e circulação do conhecimento foi ampliada. Foi nessa época que a Ciência Moderna surgiu:
O avanço tecnológico caminhou a passos largos com o desenvolvimento
tecnológico e o aperfeiçoamento da fotografia, do cinema e dos recursos de
comunicação. As invenções do telégrafo, do telefone, do rádio e da televisão
revolucionaram a história. Mais tarde, a eletrônica, o fax, os computadores e a
criação de redes de comunicação a distância, como a Internet, trouxeram novos
avanços ao desenvolvimento da sociedade (BADALOTTI et al., 2014, p. 7).

A tecnologia está em função das necessidades criadas pelo homem, mas a tecnolo-
gia sozinha não altera a sociedade e a natureza, é o uso que se faz dela que se observa as

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 48


mudanças (BADALOTTI et al., 2014). As mudanças não ficam apenas nas esferas sociais,
elas estão presentes na vida das pessoas, na maneira de pensar, de ser, de agir etc. É por
meio da educação que esse conhecimento é transmitido, reconstruído e transformado. Eis
a importância, pois, da educação para a trajetória da humanidade.
O avanço tecnológico na educação ocorreu nas seguintes fases, observando as
necessidades e modificações de cada época, de acordo com Pedro Demo (2016, p.16,
apud BADALOTTI et al., 2014, p. 8):
A. comunicação simples face a face: é a forma mais antiga de ensinamento,
é a exposição oral.
B. introdução da representação simbólica (linguagem escrita): surge com
a escrita, são os textos escritos, as representações matemáticas, os
gráficos, etc.
C. introdução de ferramentas comunicativas: como o telefone, o rádio e a
televisão.
D. introdução das redes de computadores: o uso dos computadores e da
internet.
E. surgimento da infraestrutura cibernética com as tecnologias participati-
vas: nela, o indivíduo participa ativamente no ambiente cibernético.

É uma característica da sociedade atual a rapidez das transmissões da informação.


É instantâneo o fato e a produção da informação/notícia. Há de se ressaltar que a tecnologia
não é neutra e não abrange a todos. É a chamada sociedade do conhecimento que exige do
ser humano diversas competências e atitudes (BADALOTTI et al., 2014). Essa sociedade
também requer atualização constante. Quem não se atualiza, não tem informação e fica
excluído socialmente.
A escola, como instituição responsável por perpetuar o conhecimento na tecnologia,
visa propiciar vias de acesso ao conhecimento. Contudo é importante lembrar que, muitas
vezes, somente na escola o acesso às tecnologias será possível para alguns estudantes,
já que nem todos as têm na sua vivência cotidiana.

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 49


2 DESCREVENDO AS CATEGORIAS DE TECNOLOGIA ASSISTIVA

O termo tecnologia assistiva, também conhecido como TA, está sendo utilizado
como recursos e serviços a fim de proporcionar e aumentar as habilidades e funcionalidade
da pessoa com deficiência e, dessa forma, proporcionar uma vida mais independente e
autônoma, atingindo a eficácia da inclusão.
Para Moran (2007), as TA difundiram-se após a evolução da tecnologia, propician-
do, ao alcance das mãos, constantes ferramentas que tornam as nossas atividades comuns
do cotidiano mais fáceis, mais rápidas e objetivas. Desta forma, a tecnologia, numa visão
geral, também buscou facilitar a vida da pessoa com deficiência.
Conforme Lima (2007), a tecnologia assistiva vem desenvolvendo inúmeros equi-
pamentos, estratégias, serviços e práticas que trabalham diretamente com a dificuldade e
a inabilidade da pessoa com deficiência, destacando suas potencializado e equiparando
suas dificuldades.
O termo tecnologia assistiva chega ao Brasil em 16 de novembro de 2006, por meio
de uma Portaria nº 142, que instituiu um comitê de ajudas técnicas formado por profissionais
e órgãos do governo, com o intuito de apresentar políticas governamentais de assistência
à pessoa com deficiência.
A Secretaria Especial dos Direitos Humanos determinou, segundo a Portaria nº
142 (2006), que a oferta de tecnologia assistiva caberia a todas as esferas governamen-
tais, sendo ela federais, estaduais e municipais. Para tanto, cada uma dessas instituições

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 50


deveria criar e inserir cursos na área de tecnologia assistiva, para desenvolver estudos e
pesquisas relacionados sobre o assunto e essas criações visavam subsidiar futuramente
políticas públicas brasileiras em prol desse conceito.
As bases teóricas utilizadas pelo Brasil, eram internacional até o ano de (2006),
o conceito de tecnologia assistiva e ajudas técnicas criadas em prol das pessoas com
necessidade temporárias ou permanentes.
Os conceitos americanos trazidos ao Brasil, segundo Lima (2007), determinavam
que ajudas técnicas caracterizavam instrumentos e práticas de serviço utilizadas por pes-
soas com deficiência e pessoas idosas, visando evitar, compensar ou neutralizar a incapa-
cidade ou a desvantagem desses indivíduos.
Por sua vez, a tecnologia assistiva, por si só, incorporava-se em conceitos de equi-
pamentos físicos ou componentes técnicos, como aplicativos, software, entre outros para
equiparar as deficiências ou limitações.
Recursos são todo e qualquer item, equipamento ou parte dele, produto ou
sistema fabricado em série ou sob-medida utilizado para aumentar, manter
ou melhorar as capacidades funcionais das pessoas com deficiência. Servi-
ços são definidos como aqueles que auxiliam diretamente uma pessoa com
deficiência a selecionar, comprar ou usar os recursos acima definidos (ADA
- American with Disabilities ACT, 1994).

Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdis-


ciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas
e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade
e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade re-
duzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão
social (BRASIL - SDHPR. – Comitê de Ajudas Técnicas – ATA VII).

Vale ressaltar que todo ou qualquer equipamento, seja ele físico ou em sistema,
dentro do conceito de tecnologia assistiva, é produzido de maneira individual após analisar
cada pessoa. Em virtude disso não se encontra a tecnologia assistiva à venda no mercado.
Assim, entende-se que se encontram disponíveis ideias de tecnologias assistivas
já realizadas e destinadas a um ou outro padrão de pessoa. Mesmo que as dificuldades se
assemelham a mobilidades reduzidas, ausência de autonomia, independência, qualidade
de vida e comunicação social, há uma identidade única para cada deficiente. A busca pelas
tecnologias assistivas é a busca por uma liberdade, por uma autonomia, muitas vezes, em
atividades comuns do dia a dia.

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 51


3 TECNOLOGIA ASSISTIVAS APLICADA À VIDA DIÁRIA

Ao pensar na tecnologia assistiva precisamos pensá-la em todos os aspectos que


ela consiste, como nos aspectos da vida diária da pessoa com deficiência ou com quaisquer
limitações, também denominada AVD atividades de vida diária. Mantoan (2013), apresenta
as AVD como tarefas básicas, cuidados com o corpo, entre outras habilidades essenciais
e desenvolvidas na pessoa com todas as suas funções neurológicas e físicas íntegras
durante a infância.
Definir atividades de vida diária é muito mais do que enumerar atividades a serem
realizadas, pois possibilitam o desenvolvimento pleno e autonomia social de pessoas com
deficiência, pessoas idosas e pessoas com mobilidade reduzida. Entre as atividades de
vida diária destacam-se, conforme Mantoan (2013):
● Autocuidado, que consiste em cuidar-se e evitar expor-se a problemas e fatos
que podem lhe prejudicar a vida. O autocuidado vai desde ações simples, como
atravessar a rua em segurança, até atividades neurologicamente mais elabora-
das, como descartar um telefonema que possivelmente seria um trote.
● Mobilidade, que consiste na capacidade de se movimentar, sentar, levantar,
andar, pular, manter-se em pé e manter-se em equilíbrio.
● Alimentação, que consiste na habilidade de alimentar-se sozinho, no aspecto
motor de conduzir o talher até a boca, habilidades de selecionar o que deseja
comer, e de diferenciar os movimentos corretos de alimentação.

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 52


● Higiene pessoal, que consiste nas atividades de tomar banho e de controle de
esfíncteres com autonomia.
● Habilidade de vestir-se, bem como de despir-se, associada com a habilidade de
selecionar roupas adequadas para cada momento e para cada clima, habilidade
motora de fechar, abrir e abotoar cada roupa.

Para Magalhães et al. (1998), as atividades de vida diária, denominadas atividades


instrumentais da vida diária, são atividades que integram a pessoa a um convívio social,
bem como a capacidade de gerenciar uma casa e a sua própria vida com autonomia. Cor-
respondem a essas atividades:
● fazer compras;
● gerenciar o dinheiro;
● utilizar o telefone para receber ou para realizar chamadas e outros meios de
comunicação;
● limpar a casa e mantê-la organizada;
● cozinhar;
● utilizar transportes, sejam eles públicos ou particulares.

De posse desse conceito podemos trabalhar com a inserção da tecnologia assistiva


dentro das atividades de vida diária. Para isso precisamos entender que estas são classi-
ficadas de acordo com a sua função, ou seja, de acordo com e para quem ela se destina,
bem como a sua finalidade.
Conforme Magalhães et al. (1998), o sistema de classificação das tecnologias
assistivas adveio dos Estados Unidos, em 1998. As tecnologias assistivas voltadas a ativi-
dades de vida diária preveem autonomia de tarefas rotineiras e a independência de tarefas
sociais. Consistem em talheres modificados, suportes para utensílios e balcões adaptados,
roupas desenhadas para vestir e despir-se de forma diferenciada, com botões, maiores
velcros, zips com fechos maiores, promovendo, assim, independência em tarefas simples.
Outras tecnologias assistivas são direcionadas a independências comunicativas ou
de âmbito social. São os casos de sistemas instalados em casas de deficientes visuais, por
exemplo, que permitem a verbalização de relógios, calculadoras e termômetros corporais e
identificadores de luzes, se estão acesas ou apagadas, identificadores de cores de roupas,
entre outros sistemas.

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 53


Saussure (1970), destaca que outros sistemas a serem utilizados podem ser de
recurso para surdos, chamadas de telefones por vídeo, vídeos chamadas para órgãos
públicos com o auxílio on-line de tradutores intérpretes de língua de sinais, aplicativos e
dicionários on-line que captam a voz do ouvinte traduzido para língua de sinais por meio de
um avatar, por sua vez, o surdo irá digitar a sua pergunta ou resposta que será vocalizada
para o ouvinte no mesmo aplicativo; outros recurso são adaptações de campainhas e in-
terfones de sonoros para visuais, interligados ao sistema elétrico da residência da pessoa
com surdez
A comunicação e as tecnologias assistivas estão direcionadas também a pessoas
com autismo, que podem fazer o uso de aplicativos ou pranchas de comunicação instaladas
em tablets e celulares, capazes de transformar ícones em frases organizadas e verbaliza-
das. Tais meios ajudam autistas com limitações comunicativas a conviver melhor na família
e socialmente. Para Nunes (2001), o sistema de reconhecimento ocular, simbologia gráfica
de PCS vocalizadores, pranchas de produção de voz e outros equipamentos adaptados a
computadores, tablets e celulares constituem a tecnologia assistiva, também denominada
de comunicação alternativa.

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 54


4 TECNOLOGIA ASSISTIVAS APLICADA AOS RECURSOS EDUCACIONAIS

Ao pensarmos na tecnologia assistiva aplicada nos deparamos como uma gana de


campos. Devido à proximidade com o tema e a relação com a atuação e a formação dos
profissionais, abordaremos a tecnologia assistiva aplicada a recursos educacionais.
São inúmeras as contribuições da tecnologia para a educação, começando pelos
aparelhos, como a televisão, os equipamentos multimídia (Datashow), os computadores,
tablets, a internet, para que a aula não fique apenas restrita ao quadro-negro. O uso dessas
tecnologias possibilita que o aluno adquira novas habilidades e competências essenciais na
sociedade do conhecimento.
Segundo Abbad, Zerbini e Souza (2010), os avanços da tecnologia permitiram o
acesso ao conhecimento a muitas pessoas através do ensino a distância (EAD), que demo-
cratiza a educação superior a uma grande parcela da população que não tinha condições
a esse ensino. A concepção do uso da tecnologia define que o aprendiz se torna ativo,
responsável pelo conhecimento que está construindo. Não é mais um aluno passivo que
apenas recebe o ensinamento, torna-se partícipe no processo de ensino-aprendizagem.
Deste modo, alguns paradigmas educacionais são quebrados. É necessário efetivar
um novo paradigma educacional, uma vez que os tempos são outros e é função da escola
garantir a todos um ensino de qualidade compatível com as exigências contemporâneas.
Segundo Badalotti et al. (2014), a escola deve conceber uma nova postura do professor e
da escola, mudar as formas de ensinar, rever o papel do professor e do aluno, bem como

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 55


se postar diante das novas tecnologias. Sampaio e Leite (1999, p. 15 apud BADALOTTI
et al., 2014, p. 24) afirmam que “O papel da educação deve voltar-se à democratização
do acesso ao conhecimento, produção e interpretação das tecnologias, suas linguagens e
consequências”.
O professor deve estar preparado para utilizar as tecnologias em sala de aula, deve
pensar, em seu planejamento, modos e possibilidades para inserir a tecnologia em suas au-
las, para que estas se tornem mais interativas, produtivas e dinâmicas, sempre observando
os recursos que a escola disponibiliza. Também não adianta o professor planejar suas
aulas sem as ferramentas necessárias, ou ter que comprar o que a escola tem a obrigação
de ter. Os velhos e novos paradigmas educacionais, de acordo com Badalotti et al., (2014,
p. 25), afirmam que a tecnologia pode ser utilizada com as seguintes ferramentas:
● Pesquisas na internet, seja em computadores ou em celulares;
● Jogos educativos;
● Uso do rádio em aulas de línguas estrangeiras;
● Uso de slides – Datashow;
● Uso de microscópios nas aulas de Ciências/Biologia;
● Softwares educativos – exemplo de confecção de Histórias em Quadrinhos;
● WebQuest;
● Chat;
● Fórum de discussões;
● Blog;
● Correio eletrônico (e-mail);
● Uso das redes sociais para divulgação de informações pertinentes à aprendiza-
gem;
● Produção de curtas-metragens (filmes);
● Uso da televisão (exibição de filmes, documentários, conteúdos etc.);
● Escrita de trabalhos escolares.

Ao se observar a situação das escolas públicas brasileiras, nota-se que a edu-


cação não é a prioridade maior dos governantes, pois as instituições públicas de ensino
fundamental e médio encontram-se sucateadas, em estado de calamidade; muitas escolas
contam apenas com giz e quadro-negro. Para Badalotti et al. (2014), o investimento na área
da educação ainda é tímido, sobretudo na aquisição de materiais e aparatos tecnológicos.

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 56


Segundo dados do Censo Escolar de 2019, apenas 43,3% das escolas de ensino
fundamental e 78,1% das instituições de ensino médio contam com laboratório de informá-
tica, por sua vez, contam com acesso à internet: 69,6% nas escolas de ensino fundamental
e 95,1% nas escolas de ensino médio (BRASIL, 2019). Contudo, ao compararmos ao
número de matrículas, de 48,5 milhões nas 181,9 mil escolas, entendemos que não há
computadores em quantidade suficiente para todos os educandos, na maioria dos casos os
computadores são compartilhados.
Sabe-se que inovar é preciso, é necessário acompanhar as mudanças que ocorrem
na sociedade e no mundo. O novo, em algumas circunstâncias, é encarado com receio.
Mas, conforme visto no tópico anterior, muitas são as possibilidades de enriquecer, diver-
sificar e fomentar a ação docente com os atuais recursos que a tecnologia oferta. Nesse
sentido, falta formação continuada para os profissionais da educação, para aprimoramento
dos saberes construídos e para os que não sabem, é um novo aprendizado.
Uma questão que deve ser pensada é o desalinhamento entre o planejamento do
professor e a prática docente. Para Abbad, Zerbini e Souza (2010), muitas vezes a equipe
pedagógica cobra a inserção das novas tecnologias no plano de trabalho docente, mas o
professor, em algumas situações, não está preparado para trabalhar com a tecnologia. Ou
ele planeja, mas encontra dificuldade para colocar em prática o que planejou, levando-o à
frustração, resultando em desmotivação. Assim, seja a falta de infraestrutura, de preparo
dos professores, de equipamentos atualizados, o Brasil precisa dar maior ênfase à educa-
ção, permitindo que seus alunos tenham um ensino de qualidade, compatível com o mundo
em que se vive hoje, multiconectado e informatizado.
Não adianta abordar o assunto de inserção tecnológica nas escolas públicas sem
falar em amplo investimento na aquisição, treinamento e manutenção de equipamentos
tecnológicos. Como já foi afirmado anteriormente, grande parte das escolas contam com
aparelhos arcaicos, sem condições adequadas de funcionamento, pode, inclusive, gerar
risco de uso para os alunos e professores.
Deste modo, segundo Abbad, Zerbini e Souza (2010), é preciso ofertar compu-
tadores, impressoras, Datashows, acesso à internet de qualidade, microscópios, rádios,
televisores etc. Além disso, é importante que a escola conte com aparelhos suficientes
para que os alunos possam fazer mais uso dessas tecnologias, que elas façam parte do
cotidiano, não apenas serem usadas periodicamente.
Seguindo nesta linha de pensamento, os profissionais da educação precisam de
capacitação e formação continuada para que saibam utilizar as ferramentas tecnológicas.

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 57


Mesmo em pleno século XXI, muitos professores não sabem nem ligar um computador. Isto
gera o que se chama de conflito de gerações. A escola deve acompanhar os avanços da
sociedade, não pode ficar parada no tempo. Nas palavras de Kenski (apud BADALOTTI et
al., 2014, p. 33):
[…] não basta fornecer aos professores o simples conhecimento instrucional
e breve de como operar com os novos equipamentos para que se possa ter
condições suficientes para fazer do novo meio um precioso auxiliar na tarefa
de transformar a escola. Fica evidente também que, pela complexidade
do meio tecnológico, as atividades de treinamento e aproximação entre os
docentes e tecnologias deve ser realizada o quanto antes. O início desse
processo, de preferência, deve ocorrer nas licenciaturas e nos cursos de
pedagogia.

Como, todavia, muitos professores já são formados e não passaram pelo processo
de formação tecnológica, é preciso que se adequem às novas necessidades pedagógicas.
Assim, o professor deve incluir em seu plano de trabalho docente formas de trabalhar o
conhecimento, utilizando as novas tecnologias. Não se trata de subjugar o conhecimento
em face à tecnologia, mas fazer dela uma aliada para que o aluno consiga aprender mais
e melhor.
Entretanto o docente também deve ter o cuidado de não exagerar no uso dessas
tecnologias; ela é um meio e não um fim em si mesma. Em suma, é preciso haver infraes-
trutura e condições de trabalho, bem como formação pedagógica para que a escola se
transforme.
Conforme Nunes (2001), no aspecto da tecnologia assistiva não se difere da tec-
nologia em geral no contexto escolar. Há poucos profissionais que desconhecem e não
dominam os recursos da TA para trabalhar com o aluno, desta forma, muitos instrumentos
ficam ociosos ou mal utilizados pelas escolas. Outro aspecto a ser analisado sobre a TA
no contexto escolar é que muitas vezes esses equipamentos são custeados pelos próprios
pais dos alunos devido a falta de verba nas instituições ou devido a especificidades do equi-
pamento, sendo assim, mais uma vez repete-se a não inclusão da pessoa com deficiência.

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 58


SAIBA MAIS

Muitas pessoas não têm a possibilidade de ter contato a algum recurso de tecnologia,
entre esses destacam-se equipamentos (infravermelho, FM), aparelhos para surdez,
sistemas com alerta táctil-visual, celular com mensagens escritas e chamadas por vibra-
ção, software que favorece a comunicação ao telefone celular, transformando em voz
o texto digitado no celular e em texto a mensagem falada. Livros, textos e dicionários
digitais em língua de sinais. Sistema de legendas, aplicativos em libras. Um desses
aplicativos é o Hand Talk que consiste em uma plataforma que traduz simultaneamente
conteúdos em português para língua de sinais. Saiba mais sobre essa tecnologia que
permite acessibilidade comunicativa para surdos e deficientes auditivos.

Para saber mais sobre o aplicativo Hand Talk, acesse: https://play.google.com/store/apps/details?id=br.


com.handtalk&hl=pt_BR ou https://www.handtalk.me/br

Fonte: a autora.

REFLITA

Discutir sobre tecnologia assistiva é discutir sobre a possibilidade de enxergar o outro


sem limitações, para tanto leia com atenção a citação:

Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdis-


ciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e
serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e
participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzi-
da, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social
(GALVÃO FILHO; DAMASCENO, 2009, p. 26).

Refletir sobre a importância da tecnologia assistiva é uma ação de empatia, é pensar


que muitas ações que consideramos simples podem ser complexas ao outro. Convido
você agora a refletir sobre a hipótese de necessitar de uma tecnologia para tarefas coti-
dianas, como, por exemplo, se alimentar.

Fonte: Galvão Filho e Damasceno (2009).

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 59


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos realizados nesta unidade permitiram compreendermos que as tecno-


logias assistivas estão inseridas diretamente no contexto pedagógico em busca do êxito
da inclusão das pessoas com deficiência. As possibilidades pedagógicas de trabalho com
as ferramentas da tecnologia assistiva são amplas e permitem ao aluno uma experiência
mais rica, interativa, equiparada e dinâmica da aprendizagem, uma vez que o alunado de
hoje é nativo digital, ou seja, já nasceu na era digital. Quando o estudante se depara com
atividades em que a tecnologia está presente, a aula e a escola se tornam mais atrativas
para ele, já que a ponte sociedade-vida-escola é construída.
Nesse aspecto, o professor não é mais o único detentor do conhecimento, ele faz
a mediação entre o saber e o aluno. Mas isso não é algo ruim para o professor, significa
que o conhecimento não está mais restrito a uma parcela da população. Com o advento da
internet, o conhecimento se propagou ainda mais com a educação a distância, que permitiu
e permite a muitas pessoas estudarem sem saírem de casa e com um custo menor.
Portanto, há de se ressaltar que as tecnologias assistivas não são recursos pas-
sageiro, mais sim recursos que viabilizam recursos iguais a todos os alunos. Se elas não
estão mais presentes nas escolas é por falta de investimento nesta área, mas algum dia
todas as salas de aula terão computadores, datashows e outros recursos tecnológicos.
Assim sendo, os profissionais da educação não podem fugir ou se negar a aprender
as novas formas de trabalho com essas ferramentas. Parte-se do pressuposto que a escola
é um local de aprendizagem não somente dos alunos, mas também dos professores. Não
basta, obstante, fazer uso por fazer da tecnologia. Ela deve fazer sentido ao se trabalhar
determinado conteúdo. Ademais, é necessário sonhar com uma escola melhor, com uma
sociedade melhor.

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 60


LEITURA COMPLEMENTAR

TECNOLOGIA ASSISTIVA
Rita Bersch

1. Conceito e Objetivo
Tecnologia Assistiva - TA é um termo ainda novo, utilizado para identificar todo o
arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades
funcionais de pessoas com deficiência e conseqüentemente promover vida independente e
inclusão. (BERSCH e TONOLLI, 2006)
Num sentido amplo percebemos que a evolução tecnológica caminha na direção
de tornar a vida mais fácil. Sem nos apercebermos utilizamos constantemente ferramentas
que foram especialmente desenvolvidas para favorecer e simplificar as atividades do coti-
diano, como os talheres, canetas, computadores, controle remoto, automóveis, telefones
celulares, relógio, enfim, uma interminável lista de recursos, que já estão assimilados à
nossa rotina e, num senso geral, “são instrumentos que facilitam nosso desempenho em
funções pretendidas”.
Introduzirmos o conceito da TA com a seguinte citação: “Para as pessoas sem
deficiência a tecnologia torna as coisas mais fáceis. Para as pessoas com deficiência, a
tecnologia torna as coisas possíveis”. (RADABAUGH, 1993)
Cook e Hussey definem a TA citando o conceito do ADA - American with Disabilities
Act, como “uma ampla gama de equipamentos, serviços, estratégias e práticas concebidas
e aplicadas para minorar os problemas funcionais encontrados pelos indivíduos com defi-
ciências”. (COOK & HUSSEY, 1995)
A TA deve ser entendida como um auxílio que promoverá a ampliação de uma
habilidade funcional deficitária ou possibilitará a realização da função desejada e que se
encontra impedida por circunstância de deficiência ou pelo envelhecimento.
Podemos então dizer que o objetivo maior da TA é proporcionar à pessoa com defi-
ciência maior independência, qualidade de vida e inclusão social, através da ampliação de
sua comunicação, mobilidade, controle de seu ambiente, habilidades de seu aprendizado
e trabalho.

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 61


2. Tecnologia Assistiva – Conceito Brasileiro
Em 16 de novembro de 2006, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Pre-
sidência da República - SEDH/PR, através da portaria nº 142, instituiu o Comitê de Ajudas
Técnicas - CAT, que reuniu um grupo de especialistas brasileiros e representantes de órgãos
governamentais, em uma agenda de trabalho. O CAT foi instituído como objetivos principais
de: apresentar propostas de políticas governamentais e parcerias entre a sociedade civil e
órgãos públicos referentes à área de tecnologia assistiva; estruturar as diretrizes da área
de conhecimento; realizar levantamento dos recursos humanos que atualmente trabalham
com o tema; detectar os centros regionais de referência, objetivando a formação de rede
nacional integrada; estimular nas esferas federal, estadual, municipal, a criação de centros
de referência; propor a criação de cursos na área de tecnologia assistiva, bem como o
desenvolvimento de outras ações com o objetivo de formar recursos humanos qualificados
e propor a elaboração de estudos e pesquisas, relacionados com o tema da tecnologia
assistiva. (BRASIL – SDHPR, 2012)
Para elaborar um conceito de tecnologia assistiva que pudesse subsidiar as políti-
cas públicas brasileiras os membros do CAT fizeram uma profunda revisão no referencial
teórico internacional, pesquisando os termos Ayudas Técnicas, Ajudas Técnicas, Assistive
Tecnology, Tecnologia Assistiva e Tecnologia de Apoio. Alguns dos conceitos pesquisados
são citados e analisados no texto que segue.
De acordo com o Secretariado Nacional para a Reabilitação e Integração das Pes-
soas com
Deficiência (SNRIPD) de Portugal afirma:
Entende-se por ajudas técnicas qualquer produto, instrumento, estratégia,
serviço e prática utilizada por pessoas com deficiência e pessoas idosas,
especialmente, produzido ou geralmente disponível para prevenir, compen-
sar, aliviar ou neutralizar uma deficiência, incapacidade ou desvantagem e
melhorar a autonomia e a qualidade de vida dos indivíduos. (PORTUGAL,
2007, 135).

Nesta descrição percebemos a grande abrangência do tema, que extrapola a


concepção de produto e agrega outras atribuições ao conceito de ajudas técnicas como:
estratégias, serviços e práticas que favorecem o desenvolvimento de habilidades de pes-
soas com deficiência.
O conceito proposto no documento “Empowering Users Through Assistive Techno-
logy” - EUSTAT, elaborado por uma comissão de países da União Européia traz incorporado
ao conceito da tecnologia assistiva as várias ações em favor da funcionalidade das pessoas
com deficiência afirmando: “...em primeiro lugar, o termo tecnologia não indica apenas ob-

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 62


jetos físicos, como dispositivos ou equipamento, mas antes se refere mais genericamente
a produtos, contextos organizacionais ou modos de agir, que encerram uma série de princí-
pios e componentes técnicos”. (EUROPEAN COMMISSION - DGXIII, 1998)
Já os documentos de legislação nos Estados Unidos apresentam a TA como recur-
sos e serviços sendo que: “Recursos são todo e qualquer item, equipamento ou parte dele,
produto ou sistema fabricado em série ou sob-medida utilizado para aumentar, manter ou
melhorar as capacidades funcionais das pessoas com deficiência. Serviços são definidos
como aqueles que auxiliam diretamente uma pessoa com deficiência a selecionar, comprar
ou usar os recursos acima definidos”. (ADA - American with Disabilities ACT 1994.)
A partir destes e outros referenciais o CAT - aprovou, em 14 de dezembro de 2007,
o conceito brasileiro de Tecnologia Assistiva:
Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdis-
ciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas
e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade
e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade re-
duzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão
social. (BRASIL - SDHPR. – Comitê de Ajudas Técnicas – ATA VII)

3. Classificação em categorias
Os recursos de tecnologia assistiva são organizados ou classificados de acordo
com objetivos funcionais a que se destinam.
Várias classificações de TA foram desenvolvidas para finalidades distintas e citamos
a ISO 9999/2002 como uma importante classificação internacional de recursos, aplicada
em vários países. O Sistema Nacional de Classificação dos Recursos e Serviços de TA,
dos Estados Unidos, diferencia-se da ISO ao apresentar, além da descrição ordenada dos
recursos, o conceito e a descrição de serviços de TA.
A classificação HEART, é apresentada de forma adaptada no documento EUSTA-
T-Empowering Users Through Assistive Technology, que foi elaborado por um grupo de
pesquisadores de vários países da União Européia e é considerada por eles, como sendo
a mais apropriada para a formação dos usuários finais de TA, bem como para formação de
recursos humanos nesta área.
Ao apresentar uma classificação de TA, seguida de redefinições por categorias,
destaca-se que a sua importância está no fato de organizar a utilização, prescrição, estudo
e pesquisa de recursos e serviços em TA, além de oferecer ao mercado focos específi-
cos de trabalho e especialização. A classificação que segue foi escrita em 1998 por José
Tonolli e Rita Bersch e foi atualizada por eles para corresponder aos avanços na área a
que se destina. Ela tem uma finalidade didática e em cada tópico, considera a existência

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 63


de recursos e serviços; foi desenhada com base em outras classificações utilizadas em
bancos de dados de TA e especialmente a partir da formação dos autores no Programa de
Certificação em Aplicações da Tecnologia Assistiva – ATACP da California State University
Northridge, College of Extended Learning and Center on Disabilities. 4 Recentemente esta
classificação foi utilizada pelo Ministério da Fazenda; Ciência, Tecnologia e Inovação e
pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República na publicação
da Portaria Interministerial Nº 362, de 24 de Outubro de 2012 que trata sobre a linha de
crédito subsidiado para aquisição de bens e serviços de Tecnologia Assistiva destinados às
pessoas com deficiência e sobre o rol dos bens e serviços.

4.Categorias de Tecnologia Assistiva


4.1 Auxílios para a vida diária e vida prática
Materiais e produtos que favorecem desempenho autônomo e independente em
tarefas rotineiras ou facilitam o cuidado de pessoas em situação de dependência de auxílio,
nas atividades como se alimentar, cozinhar, vestir-se, tomar banho e executar necessidades
pessoais. São exemplos os talheres modificados, suportes para utensílios domésticos, rou-
pas desenhadas para facilitar o vestir e despir, abotoadores, velcro, recursos para transfe-
rência, barras de apoio, etc. Também estão incluídos nesta categoria os equipamentos que
promovem a independência das pessoas com deficiência visual na realização de tarefas
como: consultar o relógio, usar calculadora, verificar a temperatura do corpo, identificar
se as luzes estão acesas ou apagadas, cozinhar, identificar cores e peças do vestuário,
verificar pressão arterial, identificar chamadas telefônicas, escrever etc.

4.2 CAA - Comunicação Aumentativa e Alternativa


Destinada a atender pessoas sem fala ou escrita funcional ou em defasagem en-
tre sua necessidade comunicativa e sua habilidade em falar, escrever e/ou compreender.
Recursos como as pranchas de comunicação, construídas com simbologia gráfica (BLISS,
PCS e outros), letras ou palavras escritas, são utilizados pelo usuário da CAA para expressar
suas questões, desejos, sentimentos, entendimentos. A alta tecnologia dos vocalizadores
(pranchas com produção de voz) ou o computador com softwares específicos e pranchas
dinâmicas em computadores tipo tabletes, garantem grande eficiência à função comunicati-
va. Prancha de comunicação impressa; vocalizadores de mensagens gravadas; prancha de
comunicação gerada com o software Boardmaker SDP no equipamento EyeMax (símbolos
são selecionados pelo movimento ocular e a mensagem é ativada pelo piscar) e pranchas
dinâmicas de comunicação no tablet.

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 64


4.3 Recursos de acessibilidade ao computador
Conjunto de hardware e software especialmente idealizado para tornar o compu-
tador acessível a pessoas com privações sensoriais (visuais e auditivas), intelectuais e
motoras. Inclui dispositivos de entrada (mouses, teclados e acionadores diferenciados) e
dispositivos de saída (sons, imagens, informações táteis). São exemplos de dispositivos de
entrada os teclados modificados, os teclados virtuais com varredura, mouses especiais e
acionadores diversos, software de reconhecimento de voz, dispositivos apontadores que
valorizam movimento de cabeça, movimento de olhos, ondas cerebrais (pensamento),
órteses e ponteiras para digitação, entre outros. Como dispositivos de saída podemos citar
softwares leitores de tela, software para ajustes de cores e tamanhos das informações
(efeito lupa), os softwares leitores de texto impresso (OCR), impressoras braile e linha
braille, impressão em relevo, entre outros.

4.4 Sistemas de controle de ambiente


Através de um controle remoto as pessoas com limitações motoras, podem ligar,
desligar e ajustar aparelhos eletroeletrônicos como a luz, o som, televisores, ventiladores,
executar a abertura e fechamento de portas e janelas, receber e fazer chamadas telefôni-
cas, acionar sistemas de segurança, entre outros, localizados em seu quarto, sala, escri-
tório, casa e arredores. O controle remoto pode ser acionado de forma direta ou indireta
e neste caso, um sistema de varredura é disparado e a seleção do aparelho, bem como a
determinação de que seja ativado, se dará por acionadores (localizados em qualquer parte
do corpo) que podem ser de pressão, de tração, de sopro, de piscar de olhos, por comando
de voz etc.
As casas inteligentes podem também se auto ajustar às informações do ambiente
como temperatura, luz, hora do dia, presença de ou ausência de objetos e movimentos,
entre outros. Estas informações ativam uma programação de funções como apagar ou
acender luzes, desligar fogo ou torneira, trancar ou abrir portas. No campo da Tecnologia
Assistiva a automação residencial visa a promoção de maior independência no lar e tam-
bém a proteção, à educação e o cuidado de pessoas idosas, dos que sofrem de demência
ou que possuem deficiência intelectual. [...]

Fonte: Bersch (2017).

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 65


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: Tecnologia Assistiva: A Inclusão na Prática
Autor: Eromi Izabel Hummel
Editora: Appris
Ano: 2015
Sinopse: O livro consiste em estabelecer um paralelo com a tecno-
logia assistiva e sua aplicação da inclusão no contexto educacional
e social. O livro faz uma descrição também sobre a formação de
professores que atuam nas salas de recursos multifuncionais para
o uso de tecnologia assistiva.

FILME/VÍDEO
•Título: Tecnologia Assistiva - Tv Brasil
• Ano: 2016
• Sinopse: A apresentadora Juliana Oliveira recebe três convida-
dos para conversar sobre tecnologia assistiva: o especialista em
informática Antonio Borges, que coordena projetos voltados para
pessoas com deficiência, na UFRJ; Lília Martins, a presidente do
Centro de Vida Independente (CVI-Rio), instituição que promove
qualidade de vida e independência para pessoas com deficiência;
e a arquiteta Leila Scaf, amputada que utiliza os serviços do CVI.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8z_HTGMxf6A

WEB
• Essa área do conhecimento, de característica interdisciplinar, en-
globa produtos, recursos, metodologias e atividade e participação
de pessoas com deficiência, incapacidades. O site apresenta uma
discussão sobre o termo da tecnologia assistiva e alguns exemplos
de recursos.
• Disponível em:
https://institutoitard.com.br/tecnologia-assistiva-o-que-e-e-como-
-usar-na-escola-sem-saber-informatica/

UNIDADE III Tecnologia Assistiva Aplicada 66


UNIDADE IV
Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
e o Desenho Universal
Professora Aline Pedro Feza

Plano de Estudo:
● Modelos conceituais médicos e sociais;
● Aprendendo o desempenho universal;
● Compreender a incapacidade e a funcionalidade.

Objetivos de Aprendizagem:
● Elaborar um panorama histórico sobre a nomenclatura da pessoa com deficiência;
● Apresentar os conceitos de deficiência na visão social e médica;
● Discutir conceitos de incapacidade e funcionalidade.

67
INTRODUÇÃO

Olá, aluno(a), bem-vindo(a) à última unidade de nosso tema. Após conceituarmos


tecnologia assistiva e acessibilidade ao longo de nossa unidade, fecharemos nossos estudos
fazendo um panorama de nomenclaturas vivenciadas ao longo da história pelas pessoas
com deficiência. Estas passaram de incapazes e amaldiçoadas para pessoas capazes e
aceitas socialmente e, em alguns ambientes, até reconhecidas pelas suas capacidades por
trás de suas limitações.
Ser deficiente socialmente, hoje consiste em ser reconhecido como reconhecido
como cidadão em uma sociedade na qual antes escondia, menosprezava e matava este.
Faremos uma viagem no tempo, percebendo os diferentes fatos históricos que influencia-
ram na educação especial. Você perceberá que muitas concepções acerca das deficiências
remetem a questões religiosas e crenças populares que foram incorporadas ao longo do
tempo.
Compreender a origem da educação especial significa repensar as formas de en-
sinar o aluno com deficiência e, consequentemente, aprender com ele, afinal ser professor
é ser um eterno aprendiz. Por isso falaremos também sobre a formação do professor para
educação especial. Outra questão importante que presenciamos no nosso cotidiano é a
questão de acessibilidade, e aqui a abordaremos para além da questão arquitetônica.
Desta forma, desejo bons estudos!

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 68


1 MODELOS CONCEITUAIS MÉDICOS E SOCIAIS

A inclusão é permeada por fatos relacionados a concepções e crenças vinculadas


à pessoa com deficiência. Para Mantoan (2013), a deficiência concebida como algo so-
brenatural impedia a vida dessas pessoas, que eram marginalizadas e levadas à morte.
Um exemplo disso está nos livros A República, de Platão, e A Política, de Aristóteles, que
trataram do planejamento das cidades gregas, indicando as pessoas nascidas “disformes”
para a eliminação. A eliminação era por exposição, abandono ou, ainda, por serem atiradas
do aprisco de uma cadeia de montanhas chamada Taygetos, na Grécia.
Na idade média a deficiência era considerada uma doença que precisava de tra-
tamento médico e a educação tinha como caráter disciplinar o sujeito. A questão biológica
que provocava a deficiência, considerada por Philippe Pinel, a posicionava em diferentes
graus, havendo irrecuperabilidade.
As escolas tinham a mesma concepção de assistencialismo, ignorando possibili-
dades de uma educação efetiva. A educação para crianças com deficiência começa tomar
forma a partir dos estudos de Johann Heinrich Pestalozzi e Froebel, que acreditavam em
uma educação para todos. Criaram sistemas especiais de ensino adaptando materiais de
acordo com cada peculiaridade do sujeito, a busca pela autonomia do sujeito era algo
prioritário para esses autores.
Com a propagação de diferentes estudos, envolvendo autores como Montessori,
na produção de materiais alternativos para aprendizagem, bem como novas pesquisas na

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 69


área da medicina sobre o tema, a vertente de uma educação inclusiva começa a surgir.
O ensino obrigatório a todos favoreceu também o processo de inclusão dos alunos com
deficiência.
A medicina foi sendo substituída pela pedagogia e psicologia nos estudos refe-
rentes às deficiências e, com isso, surgiram novos olhares e propostas de intervenção
na busca por autonomia e educação desses sujeitos no ambiente escolar e em classes
especiais de ensino. Com a escola nova, na década de 30, novos avanços quanto a testes
de inteligência também puderam ser aplicados às crianças, verificando suas inteligências
e suas deficiências.
Para Mantoan (2013), a institucionalização das escolas especiais ocorreu de forma
gradativa, a partir do século XX. Instituições filantrópicas e organizações sociais também
iniciaram campanhas pela democratização do ensino para todos. Com o atendimento em
classes especiais houve uma segregação dos alunos com deficiência, o que de fato não
resultava no processo de inclusão almejado.
A partir das Diretrizes Curriculares para Educação Especial (BRASIL, 2001), salien-
tou-se o processo de inclusão na escola regular, onde o papel das classes especiais era
de apoiar o aluno com deficiência, sendo que este deveria retornar para escola regular. A
educação inclusiva é um processo contínuo de interação entre alunos ditos “normais” e alu-
nos com deficiências, em que se aprende através da diversidade e do apoio especializado.
A escola deve estar atenta ao processo de interação entre os alunos, pois isso fará
a diferença no processo de ensino e aprendizado de todos, indiscriminadamente. O con-
ceito de inclusão ficou ligado por muito tempo ao conceito de normalização, espera-se que
o sujeito consiga organizar-se na vida social e escolar estimulando suas potencialidades.
A definição das pessoas com deficiência que precisam de adaptações curriculares e de
atendimento diferenciado de ensino especificam-se nas políticas educacionais vigentes.
A Constituição Brasileira de 1988, no Capítulo III, Da Educação, da Cultura e do
Desporto, Artigo 205, prescreve: “A educação é direito de todos e dever do Estado e da
família”. Em seu Artigo 208 prevê: “[...] o dever do Estado com a educação será efetivado
mediante a garantia de: atendimento educacional especializado aos portadores de deficiên-
cia, preferencialmente na rede regular de ensino”.
O debate acerca da inclusão do aluno com deficiência está vinculado ao tipo de
comprometimento deste e como os professores em meio a tanta heterogeneidade de alu-
nos, conseguirá atender as necessidades especiais do aluno com deficiência.

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 70


Considerando as deficiências previstas no Decreto Federal nº 5.296, 02/12/2004
(Decreto de Acessibilidade), temos exemplos de deficiências: física, auditiva, visual, mental
e deficiência múltipla. A LDB 9394/96 trata a educação especial como uma modalidade
de ensino com garantia de didáticas, currículos e métodos adequados para atender as
deficiências.
A questão da terminalidade específica aos alunos que não atingiram os níveis de
ensino desejados, o texto deixa aberto os critérios para que a escola defina. Isso pode ser
perigoso quando não há conhecimento adequado sobre o tema.
A inclusão não é a fragmentação de currículos, mas a adaptação de conteúdos,
estratégias e metodologias que consigam ressignificar conceitos para o aprendizado eficaz.
Tratar a educação especial a margem da educação regular acarreta prejuízos ao processo
de inclusão dos alunos, pois segregam o atendimento.
Para o atendimento ser especializado a formação do professor torna-se imprescin-
dível. O conhecimento sobre as deficiências e o manejo de atividades e recursos possíveis
para a educação dos alunos atendidos compreendem o compromisso de inclusão das
pessoas excluídas ao longo do tempo. O professor da educação especial deve ter domínio
sobre conteúdos e o desenvolvimento das deficiências, sejam elas intelectuais, físicas ou
motoras. Assim como a prática pedagógica deve ser adequada, a interação professor/aluno
e a avaliação também serão dirigidas de forma diferenciada.
Segundo Skliar (2001), a escola inclusiva se constitui num espaço de consenso, de
tolerância para com os indivíduos considerados diferentes. A experiência no dia a dia, ao
lado dos colegas normais, seria vista como elemento de integração. Parece mais importan-
te a convivência com os colegas normais do que a aquisição de conhecimento necessário
para sua inserção social. Assim, é oferecido o mesmo espaço escolar, a mesma escola
para todas as crianças, como se isso fosse suficiente ou o mesmo que oferecer igualdade
de condições de acesso aos saberes.
A evolução do aluno com deficiência é gradativa e não deve limitar-se a compara-
ções com outros alunos, afinal cada um tem seu ritmo e tempo de aprendizado. A relação
professor/aluno torna-se fundamental no aprendizado em que emoção e cognição estão
intimamente ligadas, pois a cada avanço do aluno com deficiência o trabalho do professor
é ressignificado.
Cabe, então, a formação constante desse profissional para que possa atuar com
clareza e convicção nas suas ações. As universidades e demais instituições de ensino
estão aprimorando as práticas pedagógicas vinculadas à educação especial, através de

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 71


formações, especializações e aperfeiçoamentos dados aos profissionais desta área. O
trabalho multidisciplinar entre diferentes profissionais, como pedagogos, psicólogos, psi-
quiatras, médicos, fonoaudiólogos, entre outros, facilitam o planejamento de ensino para
cada aluno, obtendo resultados grandiosos em termos de aprendizado deste.
Outro ponto fundamental está no apoio familiar. A presença da família na esco-
la, bem como as orientações emitidas a ela, é enriquecedora do processo de autonomia
e emancipação do aluno com deficiência, pois cria-se um elo de apoio fortalecedor de
relações e convicções acerca do aprendizado e desenvolvimento deste. Tornar a escola
acessível à família do aluno e disponibilizar materiais para que o ensino seja reforçado
também no ambiente familiar possibilita a integração entre ambos, criando um ambiente de
pertencimento.
A acessibilidade na visão social, como a própria palavra nos diz, corresponde tornar
algo acessível a alguém, como a educação e a sociedade. O aluno com deficiência faz
parte da sociedade e precisa inserir-se no mercado de trabalho, como qualquer cidadão
que luta pela sua independência financeira. Incentivar ações de acesso ao mercado de
trabalho pode ser mola propulsora para o desenvolvimento acadêmico do aluno.
Um bom exemplo disso é a Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, lei de contratação
de Deficientes nas Empresas, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência e
dá outras providências a contratação de portadores de necessidades especiais.
Art. 93 - a empresa com 100 ou mais funcionários está obrigada a preencher
de dois a cinco por cento dos seus cargos com beneficiários reabilitados, ou
pessoas portadoras de deficiência, na seguinte proporção: até 200 funcioná-
rios 2%, de 201 a 500 funcionários 3%, de 501 a 1000 funcionários 4% e de
1001 em diante funcionários 5% (BRASIL, 1991, s.p.).

Em dimensões de porcentagem quanto a inclusão de pessoas com deficiência no


ambiente de trabalho ainda é uma margem pequena. A seleção e condução do trabalho
com esses funcionários também precisa ser diferenciada, por isso a necessidade de toda
sociedade estar preparada para integrar as pessoas de forma igualitária e democrática.
A Lei nº 10.098 de 19/12/2000, de Acessibilidade, colabora para inserção de pes-
soas no mercado de trabalho, mas ainda muitas vagas exigem qualificações o que dificulta
o ingresso do deficiente. A formação acadêmica e profissional deve fazer parte do contexto
da educação especial, pois uma efetiva inclusão se dá através de oportunidades de acesso
ao ensino. No Brasil, somente 0,9% de Pessoas com Deficiência (PCDs) estão empregadas
com carteira assinada. Isso representa muito pouco, sendo que cerca de 24% da população
possui deficiência, conforme o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 72


tica (IBGE) (2018). As pessoas com deficiência precisam de oportunidades, mas também
precisam de qualificação para trabalhar, o que por vezes dificulta a empregabilidade.
As expectativas das pessoas com deficiência são iguais as das pessoas ditas “nor-
mais”, o que muda são as práticas de inserção no mercado de trabalho. Alguns limitadores,
como distância de casa e falta de acessibilidade para ir até o trabalho, são consideradas
barreiras para que mais pessoas possam ingressar no mercado de trabalho. Várias empre-
sas e ações governamentais para aprimoramento na infraestrutura e logística estão sendo
realizadas em alguns estados brasileiros para que essa realidade possa ser eliminada.
A cooperação é outro fator determinante na condução do trabalho com pessoas
deficientes, assim como treinamento e aperfeiçoamento constante realizado também aos
demais funcionários.
Dessa maneira, a escola e demais instituições educacionais precisam estar atentas
a formação do aluno deficiente. Conhecimentos significativos e úteis para o desempenho
de funções e profissões almejadas por esses alunos são fundamentais para que possam
estar qualificados para o emprego. O mapeamento de funções e habilidades específicas
para cada cargo devem ser realizadas pela empresa contratante, enquadrando o perfil do
funcionário ao cargo requerido.
Lidar com a inclusão no ambiente empresarial requer um processo de sensibili-
zação e desmistificação de preconceitos com gestores e funcionários, além de algumas
adaptações de acordo com a deficiência do funcionário. Esse é o novo cenário para uma
educação especial na contemporaneidade. Perceber que as deficiências fazem parte da
diversidade dos sujeitos que fazem parte da sociedade e como tal precisam ser conside-
radas. O princípio da normalização instituído na sociedade, como se todas as pessoas
fossem homogêneas nas formas de aprender, conviver e se relacionar, não faz mais parte
do cenário atual.
É preciso delinear novos caminhos para a educação especial vinculada ao ensino
regular, compreendendo os aspectos relevantes no ensino aos deficientes e na sua inclusão
efetiva. Uma inclusão que não se limita aos muros escolares, mas que ultrapassa barreiras
históricas e sociais que limitavam o desenvolvimento desses sujeitos.

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 73


2 APRENDENDO UM DESEMPENHO UNIVERSAL

Segundo o Manual de Transtornos Psiquiátricos (DSM-V) (2019), para os crité-


rios para a Deficiência Intelectual, além da avaliação cognitiva, é fundamental avaliar a
capacidade funcional adaptativa e de vida diária a qual implica na reação das atitudes do
indivíduo frente às novas e mais complexas tarefas e sua desenvolturas nas atividades de
socializados e autonomia diária. Por sua vez, a deficiência física define-se pela ausência ou
dificuldade de realizar uma habilidade motora, entre as diversas deficiências desta catego-
ria, existente a paralisia cerebral, que atinge o maior número de indivíduos.
Por fim, encerramos esse tema falando da deficiência auditiva, caracterizada pela
ausência da compreensão sonora atrelada à dificuldade de comunicação oral. Uma das
peculiaridades dadas a estes deficientes é que eles se subdividem entre deficientes au-
ditivos e surdos, sendo os surdos marcados pelo uso da língua de sinais como meio de
comunicação.
Em pleno século XXI, são muitos os desafios de uma educação para todos, confor-
me é previsto na política nacional de educação inclusiva. Uma escola inclusiva pressupõe
o conhecimento de cada aluno, respeita as diferenças, assim como os limites individuais e
responde com uma intervenção pedagógica de qualidade.
Para que, de fato, uma escola se torne inclusiva, é necessário conhecer todos
os fatores que possam afetar o cenário educacional, tanto no que se refere à atuação
docente, quanto ao aprendizado discente, e só assim será possível uma intervenção que

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 74


atenda a diversidade, como é apresentada em documentos como a Declaração Universal
dos Direitos Humanos das pessoas com Deficiências, de 1948, e Declaração Universal dos
Direitos Humanos, de 1999 .
Verificamos que, para se chegar às atuais constatações a respeito dos portadores
de necessidades especiais, foi preciso passar por períodos históricos diferentes, que pos-
suíam diversos olhares sociais em relação ao deficiente. Por muito tempo o deficiente foi
abandonado e rotulado. Atualmente ele é reconhecido como um ser humano, que necessita
de cuidados e que, apesar das suas limitações, possui inúmeras potencialidades que preci-
sam apenas de estímulos para que se desenvolvam. Ao passo que essas potencialidades
são reconhecidas, percebemos o quão é importante o papel do educador, quantos bene-
fícios ele pode trazer a essas pessoas, e só é preciso conhecer um pouco mais a respeito
das deficiências e saber a forma adequada de se trabalhar.

2.1 Quais as Diferenças entre Doenças, Deficiências, Síndromes e Transtornos?


A questão das Necessidades Educacionais Especiais (NEE) ao longo da história
teve diferentes encaminhamentos. Costa (1995, p. 13) ressalta que:
Durante muito tempo, até um passado relativamente recente, a deficiência
mental foi considerada como um estado no qual as faculdades intelectuais
não se desenvolviam suficientemente, tornando a pessoa incapaz de adquirir
os conhecimentos necessários a uma vida normal [...] O olhar era voltado
para a deficiência e não sobre os graus de eficiência possíveis.

Segundo Amiralian (1986, p. 48), esse olhar diferenciado para com quem possuía
alguma deficiência está inteiramente associado com “os valores sociais, morais, filosóficos,
éticos e religiosos, isto é, relacionados ao modo pelo qual o homem é visto e considerado
nas diferentes culturas”. Desse modo, faz-se necessário realizar uma retomada histórica
para verificar como os deficientes eram vistos nos períodos da História da Humanidade.
Para ser inclusiva, a escola necessariamente tem que ser eficaz e competente na
sua tarefa de ensinar. Acreditamos que isso é possível por meio de uma prática mediadora,
que possibilite a apropriação da linguagem, dos signos e significados linguísticos, assim
como de informações contidas nos objetos e situações do meio no qual se vive.
Conforme estudos iniciais, o transtorno era resultado de uma “dinâmica familiar
problemática e de condições de ordem psicológica alteradas” (STAINBACK; STAINBACK,
2014, p. 65). Essa hipótese foi descartada. “A tendência atual é admitir a existência de
múltiplas causas para o autismo, entre elas, fatores genéticos, biológicos e ambientais.
No entanto, saber como o cérebro dessas pessoas funciona ainda é um mistério para a
ciência” (STAINBACK; STAINBACK, 2014, p. 68).

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 75


Assim, como não há uma certeza da causa do transtorno, não se conhece a sua
cura definitiva, como também não há um padrão de tratamento que possa ser aplicado
em todos os portadores do distúrbio. Cada paciente exige um tipo de acompanhamento
específico e individualizado que exige a participação dos pais, dos familiares e de uma
equipe profissional multidisciplinar visando à reabilitação global do paciente. “O uso de
medicamentos só é indicado quando surgem complicações e comorbidades” (STAINBACK;
STAINBACK, 2014, p. 68).
Geralmente, o diagnóstico de autismo traz sempre insegurança e sofrimento para
a família. “Por isso, as pessoas envolvidas, pais, irmãos, parentes, precisam conhecer as
características do espectro e aprender técnicas que facilitam a autossuficiência e a comu-
nicação da criança e o relacionamento entre todos que com ela convivem” (STAINBACK;
STAINBACK, 2014, p. 68). A intervenção precoce, intensiva e adequada facilitará, e muito,
o desenvolvimento da criança com o transtorno.
Na modalidade de educação especial inclusiva o professor ou o terapeuta precisa
entender bem o conceito de síndrome e transtornos. Pois bem: a síndrome é um conjunto de
sintomas que se desenvolvem durante o período pré-natal, ou seja, ocorreu uma alteração
genética no desenvolvimento do feto que está associado ao estado clínico associado com
um ou mais problemas de saúde. Os sintomas que compõem uma síndrome podem variar
de acordo com o quadro de desenvolvimento, podendo ser desde uma alteração discreta
na capacidade intelectual, até comprometimentos neurológicos, motores e intelectuais.
Segundo Stainback e Stainback (2014), com relação aos transtornos, pode-se de-
finir em termos genéricos, como um estado alterado da saúde normal e nem sempre está
vinculado à uma doença. Geralmente um transtorno está associado ao âmbito da saúde
mental, pois é nessa área que ele ocorre com mais incidência. Um transtorno mental pode
ser entendido como uma má adaptação que afeta os processos mentais.
Para Stainback e Stainback (2014), muitas vezes o termo distúrbio é utilizado como
uma forma de se referir a doenças cujas causas ainda não foram esclarecidas. No caso
dos transtornos mentais isso acontece muito, pois, na maioria das vezes, é difícil dizer se
o desequilíbrio químico causado por determinado transtorno é o que causa os sintomas ou
se são frutos da interação dinâmica entre a pessoa e o seu ambiente.

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 76


3 COMPREENDER A INCAPACIDADE E A FUNCIONALIDADE

Você já parou para pensar sobre o que é ser diferente? A definição de diferença é
apresentada por meio de uma heterogeneidade de marcadores definidos pela sociedade,
tais como gênero, classe social, características físicas, intelectuais, culturais e suas respec-
tivas conotações.
A diferença pode estabelecer um estigma negativo, gerando exclusão ou margina-
lização das pessoas que são definidas como “os outros” ou “os diferentes”. Mas será que
as deficiências nos fazem diferentes? Você é uma daquelas pessoas que acredita que o
sujeito com deficiência é aquela pessoa incapacitada em realizar atividades, principalmente
atividades que exigem o intelecto.
Apresentaremos, durante esse tema, a definição conceitual de algumas deficiên-
cias, pois pessoas com deficiência constituem o público heterogêneo que marca a diversi-
dade, que pode ser vista como enriquecedora ou não, especialmente em uma sociedade
carregada de práticas exclusivas por séculos.
Por sua vez, é inevitável falar sobre “inclusão” sem remeter ao papel de uma escola
para todos. Ao revisitarmos o passado, poderemos perceber que a escola se caracterizou
como um espaço de privilégio de um grupo, excluindo indivíduos considerados fora dos
padrões de normatização estipulados.
Definir deficiência ainda gera controvérsias. A princípio, trata-se de uma definição
muito abrangente e complexa, devido à diversidade de conceitos presentes na literatura.

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 77


Uma definição que tem perdurado consiste no conceito da deficiência atrelada à avaliação
do nível de inteligência do sujeito, conhecido como Quociente de Inteligência (QI). Trata-se
de um parâmetro para diagnosticar os déficits intelectuais e atrasos cognitivos, definindo,
assim, a deficiência como leve, moderada e profunda. A deficiência intelectual:
[...] se refere a limitações substanciais no funcionamento atual dos indivíduos,
sendo caracterizado por um funcionamento intelectual significativamente abai-
xo da média, existindo concomitante com relativa limitação associada a duas
ou mais áreas de condutas adaptativas, indicadas a seguir: comunicação,
autocuidado, vida no lar, habilidades sociais, desempenho na comunidade,
independência na locomoção, saúde e segurança, habilidades acadêmicas e
funcionais, lazer e trabalho (LUCKASSON et al., 1992, p. 39).

Sabe-se que as causas para a deficiência intelectual podem ocorrer durante três
etapas do desenvolvimento humano. O período do pré-natal pode apresentar fatores que
incidem, desde o momento da concepção do bebê até o início do trabalho de parto. Esses
fatores se caracterizam pelas alterações cromossômicas resultantes de erros inatos do
metabolismo. Outro fator que pode ocorrer no período pré-natal são situações materno/
fetal, ou seja, ações realizadas pela mãe que podem afetar o indivíduo.
Já a fase perinatal corresponde aos primeiros 30 dias de vida do bebê. Aspectos
que podem causar uma deficiência intelectual nesse período são a hipóxia ou anóxia (que
consiste na oxigenação cerebral insuficiente), no nascimento precoce ou prematuridade,
baixo peso referente à Idade Gestacional (PIG), bem como icterícia grave do recém-nascido.
Por fim, temos o período pós-natal, que vai até o final da adolescência. Desnutrição,
traumas e alterações metabólicas são fatores que podem provocar ou desenvolver uma
deficiência intelectual neste período de desenvolvimento do sujeito. Com o surgimento da
modalidade de Educação Inclusiva, o aluno com deficiência intelectual está inserido direta
ou indiretamente em todas as etapas educacionais, o que proporciona a socialização dos
conhecimentos adquiridos.
Atualmente temos a oportunidade de perceber a deficiência, um conceito formado
socialmente, atribuído a pessoas que apresentam qualidades que as tornam inaptas a de-
terminadas funções pré-estabelecidas pelo meio em que vivem. Teóricos, como Stainback
e Stainback (2014) e Mantoan (2013), afirmam que a deficiência pode ser culturalmente
estabelecida por meio das expectativas sociais pré-estabelecidas como normas, preconcei-
tos e valores evidentes na interação entre os sujeitos ditos normais e os deficientes.

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 78


SAIBA MAIS

O termo comorbidade consiste na existência de duas ou mais doenças em simultâneo


na mesma pessoa. Uma das características da comorbidade é que existe a possibilidade
de as patologias se potencializam mutuamente, ou seja, uma provoca o agravamento da
outra e vice-versa. A comorbidade pode dificultar o diagnóstico preciso, tendo em vista
que o médico precisa avaliar muito bem para saber qual a deficiência base apresentada
pelo sujeito e quais as deficiências posteriores.
Exemplo: o autismo é um dos transtornos mais estudados atualmente. Sabe-se que o
TEA apresenta em seu quadro comorbidades neurológicas. De acordo com pesquisas,
cerca de dois terços de pacientes diagnosticados com autismo apresentam transtornos
associados, como Transtorno de déficit de atenção, Transtorno Bipolar, Transtorno de-
safiador opositor entre outros. 

Fonte: Brites (2020).

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 79


REFLITA

A idade antiga foi marcada por negligência e falta de atendimento aos deficientes, sendo
eles abandonados, isolados, exterminados e até associados à imagem demoníacas.

Na antiguidade clássica as pessoas com deficiência foram consideradas pos-


sessas de demônios e de maus espíritos. [...]. Os modelos econômicos, sociais
e culturais impuseram às pessoas com deficiência uma inadaptação geradora
de ignorância, preconceitos e tabus que, ao longo dos séculos e séculos, ali-
mentaram os mitos populares da ‘perigosidade’ das pessoas com deficiência
mental e do seu caráter demoníaco, determinando atitudes de rejeição, medo e
vergonha (NASCIMENTO; SILVEIRA. 2013, p. 17).

As pessoas com deficiência física e mental, em algumas sociedades, como Roma antiga
e Grécia, eram consideradas desumanas, um ser sem alma, que precisava ser santifi-
cada quando elas não eram mortas. Acreditava-se que a deficiência era um castigo de
Deus e, assim, elas eram sacrificadas ou escondidas na sociedade.
O olhar para essas pessoas começou a mudar após o cristianismo, quando a sociedade
começa a vê-los como um ser que possui alma, e eliminá-las ou abandoná-las seria um
atentado contra Deus. Como a igreja pregava amor ao próximo, caridade e humildade,
são criados os hospitais e instituição para atender as pessoas com deficiência, com um
olhar de caridade.
Convido você a refletir sobre o caminho das pessoas com deficiência ao longo da his-
tória. Atualmente as pessoas com deficiência ainda lidam com situações de exclusão?

Fonte: a autora.

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 80


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebemos, por meio desse estudo, a luta pela inclusão das pessoas com neces-
sidades especiais na história da educação inclusiva. Observamos dois tipos de tratamento
às pessoas com necessidades especiais na época da exclusão e segregação, ou essas
pessoas eram exterminadas e rejeitadas ou eram vistas com um olhar de piedade e as-
sistencialismo. Após passar pelo período em que os deficientes eram vistos como “castigo
de Deus”, por isso elas eram mortas, veio o cristianismo, que mudou o olhar para essas
pessoas.

A igreja pregava o amor ao próximo e a caridade, isso contribui para a criação de


hospitais que acolhiam essas pessoas. A partir do século XV fortaleceram-se as ideias que
essas pessoas com deficiência deveriam ter um atendimento próprio, sendo assim, foram
criados locais específicos para atendimento dessas pessoas. Mas, a partir do século XX, as
pessoas com deficiência começam a ter uma assistência e atendimento muito maior, com
desenvolvimento de especialidades e programas de reabilitação, passaram também a ser
objetos de debates e ações públicas no mundo, apesar de ser em ritmos diferentes de um
país para o outro.

Na história da sociedade sempre existiram pessoas com deficiência, seja física ou


intelectual, mas durante muitos séculos essas pessoas foram ignoradas, por sentimentos
de preconceitos em todo tipo de sociedade e cultura. Mesmo com tudo isso, elas sobrevi-
veram, lutaram por um espaço na sociedade e, através dos movimentos sociais, das leis e
convenções, chegamos ao período da inclusão.

Observa-se que a discussões sobre educação inclusiva vem sendo feita há muitos
anos, mas a prática da inclusão nas escolas regulares de pessoas com necessidades espe-
ciais é recente e vem gerando dúvidas e medos. Temos poucos profissionais para atender
as pessoas com necessidades educacionais especiais e escolas ainda sem preparo e
estrutura para receber esses alunos.

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 81


Portanto é necessário que analisemos a capacitação dos profissionais e o ensino
que a educação inclusiva vem oferecendo aos deficientes no século XXI, quais os cami-
nhos que estamos obtendo para incluir o deficiente em uma sociedade e em um sistema
educacional apropriado para eles.

Temos o desafio de trabalhar por uma escola inclusiva, em que teremos um ensino
de qualidade, com responsabilidade e respeito. Devemos assumir um compromisso de
mudança, acreditando que uma transformação na sociedade e no ensino é possível para a
inclusão de pessoas com necessidades especiais no meio delas.

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 82


LEITURA COMPLEMENTAR

RELATÓRIO MUNDIAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA


Deficiência: incapacidades ou funcionalidade

A deficiência faz parte da condição humana. Quase todas as pessoas terão uma
deficiência temporária ou permanente em algum momento de suas vidas, e aqueles que
sobreviverem ao envelhecimento enfrentarão dificuldades cada vez maiores com a funcio-
nalidade de seus corpos. A maioria das grandes famílias possui um familiar deficiente, e
muitas pessoas não deficientes assumem a responsabilidade de prover suporte e cuidar de
parentes e amigos com deficiências (1–3). Todos períodos históricos enfrentaram a questão
moral e política de como melhor incluir e apoiar as pessoas com deficiência. Essa questão
se tornará mais premente conforme a demografia das sociedades muda, e cada vez mais
pessoas alcançam a idade avançada (4). As respostas à deficiência têm mudado desde
os anos 1970, estimuladas em grande parte pela organização das pessoas que possuem
alguma deficiência (5, 6), e pela crescente tendência de se encarar a deficiência como
uma questão de direitos humanos (7). Historicamente, as pessoas com deficiência têm em
sua maioria sido atendidas através de soluções segregacionistas, tais como instituições de
abrigo e escolas especiais (8). Agora, as políticas mudaram em prol das comunidades e da
inclusão educacional, e as soluções focadas na medicina deram lugar a abordagens mais
interativas que reconhecem que as pessoas se tornam incapacitadas devido a fatores am-
bientais e também por causa de seus corpos. Iniciativas nacionais e internacionais tais como
as Regras Padrões sobre Equiparação de Oportunidades para Pessoas com Deficiência,
das Nações Unidas (9), têm incorporado os direitos humanos das pessoas com deficiência,
culminando em 2006 com a adoção da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos
das Pessoas com Deficiência (CDPD). Esse relatório mundial sobre a deficiência fornece
evidências para facilitar a implementação da CDPD. Documenta as circunstâncias das pes-
soas com deficiência no mundo todo e explora as medidas para promover sua participação
social, abrangendo de saúde e reabilitação à educação e emprego. Este primeiro capítulo
fornece uma orientação geral sobre a deficiência, introduzindo conceitos chave– tais como
a abordagem de direitos humanos com relação à deficiência, o cruzamento entre deficiên-
cia e desenvolvimento, e a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e
Saúde (CIF) – e explora as barreiras que afetam as pessoas com deficiência [...]

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 83


Deficiência – uma visão global
Evidências sólidas ajudam a tomar decisões bem informadas sobre programas e
políticas públicas para pessoas com deficiência. Compreender o número de pessoas com
deficiências e suas circunstâncias pode melhorar os esforços para remover as barreiras
incapacitantes e prover serviços para permitir que as pessoas com deficiência participem
mais. Coletar os dados estatísticos e de pesquisas corretos a nível nacional e internacional
ajudará as partes da Convenção das Nações Unidas sobre Direitos das Pessoas com Defi-
ciência (CDPD) a formularem e implementarem políticas públicas para realizar os objetivos
de desenvolvimento acordados a nível internacional (1).
Este capítulo oferece um quadro da deficiência sobre o qual serão construídos os
capítulos seguintes. O presente capítulo apresenta estimativas da prevalência de deficiên-
cia, fatores que afetam as tendências relativas às deficiências (demografia, saúde, meio
ambiente), as circunstâncias socioeconômicas de pessoas com deficiência, suas carências
e necessidades não atendidas e os custos da deficiência.
Ele propõe os passos para melhorar os dados a nível nacional e internacional.
As evidências se baseiam em conjuntos de dados nacionais (tais como censo, pesquisas
populacionais e registros de dados administrativos), e internacionais, e um grande número
de estudos recentes. Cada fonte tem sua finalidade, pontos fortes, e pontos fracos. Os
dados encontrados aqui estão, em graus variados, em conformidade com a definição de
deficiência delineada no Capítulo 1. Dados e explicações metodológicas adicionais estão
nos apêndices

Técnicos (A, B, C, e D). Medindo a deficiência


A deficiência, uma complexa experiência multidimensional (veja o Capítulo 1), impõe
inúmeros desafios de mensuração. As abordagens para mensurar a deficiência variam entre
os diferentes países e influenciam os resultados. As medidas operacionais de deficiência
variam de acordo com o objetivo e a aplicação dos dados, a concepção de deficiência, os
aspectos da deficiência que se examina – deficiências, limitações para realizar certas ativi-
dades, restrições para participar de atividades, problemas de saúde relacionados, fatores
ambientais – as definições, os tipos de questões levantadas, as fontes de informação, os
métodos de coleta de dados, e as expectativas de funcionamento.
Os dados sobre deficiência não são um substituto adequado para as informações
sobre deficiência. Amplos “agrupamentos” de diferentes “tipos de deficiência” se tornaram
parte da linguagem sobre a deficiência, com algumas pesquisas procurando determinar

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 84


a prevalência dos diferentes “tipos de deficiência” direta ou indiretamente baseada em
avaliações e classificações. Geralmente, os “tipos de deficiência” são definidos utilizando-
-se apenas um aspecto da deficiência, como as alterações – sensoriais, físicas, mentais,
intelectuais – e outras vezes se confundem problemas de saúde com deficiência.
As pessoas com problemas crônicos de saúde, dificuldades de comunicação, e ou-
tras deficiências talvez não sejam incluídas naquelas estimativas, apesar de encontrarem
dificuldades na sua vida cotidiana.
Há um pressuposto implícito de que cada “tipo de deficiência” têm necessidades
específicas de saúde, educacionais, de reabilitação, sociais, e de apoio. Porém, respostas
diferentes podem ser necessárias – por exemplo, dois indivíduos com a mesma deficiência
podem ter experiências e necessidades muito diferentes.
Embora os países possam precisar de informações sobre as deficiências – por
exemplo, para ajudar a elaborar serviços específicos ou para detectar ou evitar discrimina-
ção – a utilidade de tais dados é limitada, porque as taxas de prevalência resultantes não
são indicativas de toda a extensão da deficiência.

Fone: Organização Mundial da Saúde (2012).

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 85


MATERIAL COMPLEMENTAR

LIVRO
Título: DSM V – Manual de Diagnósticos Estatísticos de Transtor-
nos Mentais
Autores: Associação Americana de Psiquiatria
Editora: Artmed
Ano: 2019
Sinopse: O Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais 5ª edição ou DSM-5 consiste em um manual diagnóstico
estatístico para diagnóstico de transtornos mentais e neurocog-
nitivos. Este foi feito pela Associação Americana de Psiquiatria,
é utilizado por diversos profissionais, como psicólogos, médicos,
psicopedagogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais no
processo de avaliação diagnóstica.

FILME/VÍDEO
Título: O óleo de Lorenzo
Ano; 1992
Sinopse: O filme foi lançado nos Estados Unidos em 1992 e
concorreu ao Oscar de melhor Roteiro por George Miller, também
diretor do filme. O filme conta a história real de Lorenzo, que, aos
cinco anos de idade, apresenta uma doença rara e degenerativa.
Seu pai, Augusto, e sua mãe, Michaela, persistem estudando por
sua própria conta e mudando a história da medicina encontrando
a cura do filho.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 86


WEB
• Título: A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapa-
cidade e Saúde: uma revisão sistemática de estudos observacio-
nais.
Autores: Luciana CastanedaI, Anke BergmannII, Ligia BahiaI
A OMS pretende incorporar também, no futuro, os fatores pessoais,
importantes na forma de lidar com as condições limitantes.

• Link do site: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&ln-


g=pt&nrm=iso&tlng=pt&pid=S1415-790X2014000200437

UNIDADE IV Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e o Desenho Universal 87


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CONCLUSÃO

Como se sabe, o primeiro dos filósofos a distinguir entre diferença e alteridade foi
Aristóteles: a diferença das coisas supõe sempre uma determinação sobre aquilo em que di-
ferem; alteridade, ao contrário, não significa determinação nenhuma: há outro ser e não uma
diferença entre dois seres (lembrando que, para Platão, a alteridade é o gênero supremo).
Neste estudo, discutimos sobre a inclusão, mais especificamente sobre o percurso
que a pessoa com deficiência percorreu até a conquista de serviços e recursos para uma
autonomia e desenvolvimento social. A inclusão é percebida como um processo de ampliação
da circulação social que produza uma aproximação de seus diversos protagonistas, convo-
cando-os à construção cotidiana de uma sociedade que ofereça oportunidade variada a todos
os seus cidadãos e possibilidades criativas a todas as suas diferenças.
Pensar em inclusão é pensar no atendimento a pessoas com deficiência em implan-
tação de serviços especializados e de todo um empenho, a fim de flexibilizar e proporcionar
acessibilidade para a instituição escolar e para além dela. Assim, tornou-se possível discutir
sobre acessibilidade e pensar nas pessoas com necessidades especiais, para que estas
recebam apoio assistencialista de todas as formas. Porém os estudos realizados permitiram
que percebêssemos que, mesmo diante das atuais discussões acerca das metodologias
ativas e tecnologias assistivas, a acessibilidade social está longe de ser alcançada por todos.
Assim, os deficientes e pessoas com dificuldades continuam na situação de excluídos na
sociedade, sem o direito sequer de saber expressar suas próprias opiniões acerca de sua
situação.
Para promover essa acessibilidade, discutimos dois conceitos ao longo da disciplina,
ambos com o mesmo objetivo principal: levar à pessoa com deficiência maior autonomia
em todos os âmbitos da sociedade. As tecnologias assistivas, em seus recursos e serviços,
apresentam-se de maneira individualizada para atender as necessidades de cada deficiente.
Por sua vez as metodologias ativas buscam promover um desenvolvimento integral e pleno
da pessoa com deficiência.
Todos os conceitos apresentados neste estudo visam atender um público que pode
ser considerado minoria ao comparar-se a sociedade em geral por fim, é importante sempre
relembrar que a acessibilidade consiste em um benefício não destinado somente a pessoas
com deficiência mas ao público em geral da sociedade. Todos estamos sujeitos a precisar de
uma condição acessível ao longo de nossas vida.

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