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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 4
3.1 As pessoas com deficiência e o tratamento dado a elas ao longo da história ..... 12
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6.3.2 Material pedagógico ......................................................................................... 39
8 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 47
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma per-
gunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que
esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta.
No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão
ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser se-
guida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
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2 O CONCEITO DE DEFICIÊNCIA
Fonte: buzzero.com
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Sócrates e Platão ressaltaram aspectos da deficiência em seus discursos. Pla-
tão deixou registrada, em seus escritos como Banquete e Fedro, a deficiência mani-
festa como Manikê, referindo-se ao delirante, para em seguida relacioná-la à arte di-
vinatória Mantikê. Assim, as deficiências e os modos de estar no mundo se manifes-
tavam por meio das diferenças — algo ao mesmo tempo especial e limitador (PEL-
BART, 1989).
O filósofo Hipócrates, considerado o “pai da medicina” (460–377 a.C.), conec-
tou o que denominou “loucura” a implicações orgânicas. Nesse sentido, foi pioneiro
ao propor uma interpretação conectada a doenças ou deficiências baseadas em ori-
gens e manifestações biológicas (PESSOTI, 1997).
Nesse sentido, surgiram no século XVI maneiras de tratar os diferentes, os que
não se encaixavam no cumprimento das regras, ao mesmo tempo em que eles foram
removidos do convívio social. Além de pensões e hospedarias específicas para esse
público, cujo intuito era retirá-los da circulação das ruas e ainda usá-los como objetos
de estudo, havia a chamada Nau dos Loucos. Tratava-se de uma embarcação que se
propunha a navegar pelas águas calmas de rios e canais da Europa como um depósito
para “loucos” e “leprosos” (FOUCAULT, 1978, p. 12).
Entretanto, foi somente no início do século XIX, depois de muita barbárie no
tratamento de pessoas com algum tipo de deficiência, que Philippe Pinel conseguiu
inserir uma evolução do conceito de loucura, ao caracterizá-la como doença mental
e, em seguida, como deficiência mental. Considerado o fundador da psiquiatria, Pinel
estabeleceu a necessidade de permitir que o modo de ser dos sujeitos pudesse se
expressar, determinando o desencarceramento dessas pessoas com deficiências in-
telectuais e indicando a criação de lugares específicos para tratamento com estímulos
adequados. Foi assim que Pinel se tornou também um dos fundadores da clínica mé-
dica (FRAYZE- -PEREIRA, 1993).
Apesar de todo o esforço para a condução de um tratamento moral das pessoas
com deficiência intelectual, houve, ao longo de todo o século XIX, um alastramento da
criação de asilos, os quais acabaram sendo concebidos como manicômios. Nesses
locais, os tratamentos visavam à cura e, para isso, não mediam esforços para aplicar
métodos que moldassem os comportamentos dos deficientes. Por meio de técnicas,
aparelhos e medicações, buscavam a contenção dos sintomas, sem considerar as
singularidades e peculiaridades de cada sujeito (DUARTE, 2018).
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Foi durante a transição do século XIX para o século XX que surgiu uma preo-
cupação com a linearidade das manifestações das deficiências. A partir disso, os fisi-
atras e estudiosos da época se preocuparam em contabilizar e categorizar as defici-
ências intelectuais sob o ângulo de suas funcionalidades. Então, estabeleceu-se na
América do Norte, em 1880, uma espécie de censo com o primeiro esboço de um
manual diagnóstico, no qual as deficiências intelectuais foram organizadas em sete
categorias: mania, melancolia, monomania, paresia, demência, dipsomania e epilep-
sia (BLACK; GRANT, 2015).
O primeiro esboço da formulação da declaração dos direitos humanos também
ocorreu nos Estados Unidos. O documento alertava para a necessidade de fiscalizar
e orientar as instituições que ofereciam tratamento às pessoas com deficiências inte-
lectuais, buscando inibir internações arbitrárias e maus tratos que poderiam estar dis-
farçados sob a forma de tratamento. Esses movimentos em direção à garantia de di-
reitos e tratamento digno promoveram avanços na psiquiatria enquanto ciência e con-
duziram inspirações para as ciências naturais. Além disso, auxiliaram no despertar de
descobertas médicas e bacteriológicas, da anatomia patológica e da então recente
neurologia, que se propunha a conectar os aspectos ligados à organicidade e à funci-
onalidade da estrutura cerebral aos comportamentos humanos (LAPLANTINE, 2010).
Com a demanda por compreensão dos sujeitos com deficiências e das suas
especificidades, tornou-se mais viável buscar tratamentos que se ancorassem no de-
senvolvimento das necessidades específicas de cada um. Despertou-se para a impor-
tância de conduzir tratamentos que escapassem de uma lógica que rotula e acaba por
aniquilar o princípio individual, enxergando apenas as limitações e os sintomas, e se-
guindo as suas intervenções somente na direção de uma normatização e um silenci-
amento das diferenças (FERREIRA, 2000).
No Brasil, até a construção da Constituição Federal de 1988, os termos “excep-
cional” e “deficiente” eram utilizados para definir as pessoas com deficiência. Entre-
tanto, por se tratar de uma definição limitada e por vezes pejorativa, implicava neces-
sidade de mudanças. Assim, a atenção às pessoas com deficiências aparece em mo-
mentos bem pontuais da Constituição, como consta nos seguintes artigos (BRASIL,
1988, documento on-line):
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, indepen-
dentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
[...]
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IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a
promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário
mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que
comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la
provida por sua família, conforme dispuser a lei. Art. 208. O dever do Estado
com a educação será efetivado mediante a garantia de:
[…]
III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
[…]
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um. Art. 227. É dever da família, da
sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convi-
vência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
[…]
II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os
portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração
social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o
trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços cole-
tivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos. § 2º A
lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de
uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de ga-
rantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência.
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com a normatividade, escapando das lógicas enclausurantes da normalidade. Nor-
matividade refere-se ao desenvolvimento de autonomia em conformidade com a sub-
jetividade e as especificidades de cada sujeito.
A partir dos anos 2000, o conceito de defi ciência passou a ser percebido de
maneira ampliada, buscando compreender o sujeito de maneira integrada ao seu con-
texto. Dessa maneira, as políticas que promovem o apoio e o assistencialismo buscam
se caracterizar como instrumentos de emancipação da pessoa com defi ciência (FON-
SECA, 2008). Desse modo, faz-se prevalecer o equilíbrio para assegurar condições
mínimas à efetiva inclusão social.
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência foi realizada na
sede das Nações Unidas, em Nova York, no ano de 2006. Nela, é a palavra respeito
que conduz o reconhecimento pleno do direito das pessoas com deficiência de viver
de forma autônoma e plena em sociedade — ou seja, nem desprezo, nem indiferença,
nem simpatia, mas simplesmente respeito. Essa convenção da ONU não visava à
criação de novos direitos, mas especificou os existentes, que preferencialmente de-
veriam se ater às condições individuais das pessoas com deficiência, para que elas
pudessem ter as mesmas oportunidades que a maioria dos seres humanos (FER-
REIA; OLIVEIRA, 2007).
Assim, a Convenção Internacional Sobre os Direitos da Pessoa com Deficiên-
cia, assinada em Nova York, em 30 de março de 2007, também refere um conceito de
deficiência muito mais adequado à contemporaneidade. Em seu primeiro artigo, des-
creve que pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo
de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diver-
sas barreiras, podem obstruir a sua participação plena e efetiva na sociedade em
igualdade de condições com as demais pessoas (ARAUJO, 2011).
Nesse sentido, consta em documentos como o Estatuto da Pessoa com Defici-
ência, instituído a partir da Lei13.146, de 6 de julho de 2015 (BRASIL, 2015), que os
direitos das pessoas com deficiência devem ser assegurados em conformidade com
as suas singularidades. Além disso, devem estar fundamentados nos princípios da
universalidade e da solidariedade. Para isso, o Estado é responsável por propiciar
condições mínimas para que as pessoas com deficiência possam de fato se inserir na
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sociedade, com participação plena e efetiva, em que seja possível viver com indepen-
dência e dignidade (BRASIL, 2015).
As políticas públicas da atualidade utilizam um conceito de deficiência, de forma
geral, no qual o sujeito possa conquistar espaço para existir, sem precisar se limitar
por barreiras arquitetônicas, estruturais, sociais, culturais ou econômicas que o colo-
quem em desvantagem em relação a quem não possui deficiência. Conforme o rela-
tório mundial sobre a deficiência (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2012), as
pessoas com deficiência representam 15% da população mundial, o que significa
cerca de um bilhão de sujeitos. Dessa maneira, configura-se na minoria mais presente
no planeta, sendo esse fato promovedor de urgências para a criação, priorização e
seguridade dos direitos, além do estabelecimento de políticas públicas específicas.
Outro ponto desse relatório pode ser relacionado às desigualdades encontra-
das pelas pessoas com deficiência, como carências no acesso à saúde e à educação,
além das constantes exposições a violências e à vulnerabilidade social e econômica,
impactando negativamente no desenvolvimento desses sujeitos. As deficiências cir-
culam pelos mais variados aspectos dos sujeitos, no que se refere aos tipos e graus
de deficiência. Em outras palavras, o sujeito pode apresentar desde alguma dificul-
dade ou uma grande dificuldade até incapacidade de locomoção, visual, auditiva ou
deficiência intelectual. É possível ainda apresentar deficiências múltiplas, com duas
ou mais deficiências associadas, como na paralisia cerebral, na qual é comum que a
pessoa apresente deficiência intelectual, dificuldades para locomoção e audição e, em
alguns casos, até mesmo na visão (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2012).
Tais aspectos tornam as pessoas com deficiências um grupo social extremamente
heterogêneo e com uma imensa diversidade de manifestações.
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os direitos sociais da pessoa com deficiência, bem como o combate à violação de
seus direitos (SCHMIDT, 1997).
Na atualidade, há uma preocupação para além das limitações impostas pela
própria deficiência: construir constantemente espaço para a superação de barreiras
ao pleno desenvolvimento do sujeito com deficiência. As políticas públicas direciona-
das às pessoas com deficiência, assim como as problematizações do contexto esti-
muladas pelas convenções sobre os seus direitos, buscam distanciar o conceito de
deficiência do de incapacidade, a fim de não restringir o conceito de deficiência a as-
pectos médicos. Ao mesmo tempo, são incorporados aspectos sociais, ou seja, a pes-
soa com deficiência deve ser compreendida para além dos aspectos físicos, sensori-
ais, intelectuais e mentais, destacando a conjuntura social e cultural em que o sujeito
com deficiência está inserido (FONSECA, 2008). Assim, o sujeito, visto além da defi-
ciência e de suas barreiras de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, pode
ser contemplado por meio de outros cenários para o desenvolvimento integral de suas
potencialidades.
Nesse sentido, as políticas públicas garantem à pessoa com deficiência o re-
cebimento de benefício assistencial (quando o indivíduo se encaixa em critérios soci-
oeconômicos), tendo garantia de benefícios como isenção de impostos como o IPI;
preenchimento do percentual de funcionários com deficiência em empresas com mais
de cem empregados; vagas destinadas às pessoas com deficiência em concursos
públicos; participação nas paraolimpíadas e atendimento prioritário (FONSECA,
2008).
Ademais, as políticas públicas promovem a garantia de espaço para que as
pessoas com deficiência possam demonstrar as suas potencialidades e os seus ta-
lentos, especialmente nas áreas em que possuem maior desenvolvimento. A partir
disso, o deficiente poderá encontrar uma maneira de ser visto enquanto sujeito inte-
gral, para além da deficiência (DUARTE, 2018).
Ao longo da história, o conceito de deficiência e a visão sobre a pessoa com
deficiência enfrentaram muitos percalços. Nem sempre foi possível priorizar o desen-
volvimento do sujeito integral, com respeito e construção da autonomia. No entanto,
toda essa bagagem conduziu à consideração de aspectos fundamentais e indispen-
sáveis, como a compreensão do sujeito em sua integralidade e singularidade (DU-
ARTE, 2018).
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Nesse sentido, constituiu-se na contemporaneidade um novo conceito de defi-
ciência, o qual expõe a evolução da cultura e da sociedade para o respeito às diferen-
ças e à diversidade nos modos de ser e existir. Oportunizou-se assim que as pessoas
com deficiência tenham livre acesso aos seus direitos, participando da vida social em
igualdade e equidade. Tais aspectos atuam para a destruição das barreiras e buscam
atuar em favor de uma inclusão íntegra e plenamente satisfatória para todos (DU-
ARTE, 2018).
Fonte: faculdadeippeo.edu.br
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pessoa com deficiência poderia ser curada, tratada ou desenvolvida de alguma ma-
neira que a aproximasse de um padrão de normalidade, atribuindo funcionalidade e
independência aos sujeitos (PIOVESAN, 2012).
No decorrer de todos os momentos históricos, da civilização mais arcaica até
bem recentemente, há registros de condutas excludentes e exterminadoras de pes-
soas com deficiência. Esses indivíduos foram eliminados por meio de assassinatos,
abandonados sem qualquer cuidado, encarcerados e expostos a experimentos e pes-
quisas desumanas — como visto em relatos da Segunda Guerra Mundial (LORENTZ,
2006).
O período entre guerras da primeira metade do século XX e a escassez da mão
de obra qualificada oportunizaram a necessidade de educar e desenvolver, de ma-
neira a construir a autonomia e as competências das pessoas com deficiência. Além
disso, também possibilitaram o surgimento de classes especiais de educação dentro
de escolas regulares, bem como o desenvolvimento de centros de reabilitação para
as mais variadas deficiências. De acordo com Canziani (1995), foi somente a partir da
segunda metade do século XX que as pessoas com deficiência puderam escapar da
concepção de invalidez e ser vistas como pessoas aptas ou inaptas — ideia que coin-
cidiu com a expansão do modelo econômico capitalista.
Conforme indica Lorentz (2006), a educação especial começou a ser delineada
por meio do assistencialismo de clínicas e locais para o desenvolvimento das pessoas
com deficiência. Nesses espaços, era priorizada a necessidade de ajustar, moldar,
condicionar e, ainda, almejar a cura das pessoas com deficiência, para somente de-
pois promover a sua inserção na sociedade. Nesse sentido, mesmo quando começa-
ram a surgir classes especiais dentro das escolas regulares, estas ainda tinham o
intuito de segregar, pois se compreendia, nessa época, que era preciso preparar a
pessoa com deficiência para o convívio social, para, numa fase posterior, permitir o
seu convívio com a sociedade.
A década de 1980 foi um marco importante para as pessoas com deficiência,
em especial para a construção de considerações relacionadas à sua educação. O ano
de 1981 foi declarado como o Ano Internacional da Pessoa Deficiente (como era de-
nominada a pessoa com deficiência nessa época) e deu o primeiro pontapé para as
tessituras da efetivação dos direitos humanos das pessoas com deficiência. Esse fato
produziu nas pessoas com deficiência consciência de si e de suas condições e poten-
cialidades, possibilitando, a partir disso, uma organização política (FIGUEIRA, 2008).
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Somente em 1986, a expressão “alunos excepcionais” foi substituída por “alu-
nos portadores de necessidades especiais”, conforme Bueno (1993). Nesse sentido,
a partir dessa apropriação das pessoas com deficiência, a sociedade passou a desen-
volver a sua aceitação e respeito, buscando superar a ideia de que esses indivíduos
deveriam ter superado as suas diferenças, para somente depois se inserirem no con-
vívio social.
Aos poucos, em meio ao crescente interesse de diversos estudiosos para a
construção de teorias da educação e a consciência de uma impossibilidade de cura
para muitas deficiências, foi se potencializando a necessidade de abertura de oportu-
nidades para as pessoas com deficiência, para a construção de seus direitos basilares
a partir de seus próprios discursos. Dessa maneira, a tolerância à pessoa com defici-
ência também foi consubstanciada na proteção e no paternalismo da sociedade em
relação esse grupo de pessoas, por meio de declarações como a de Salamanca, em
1994, sobre princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas es-
peciais, e as convenções internacionais da Organização das Nações Unidas (ONU)
de 1996 e 1997. Em essência, as lutas pelos direitos das pessoas com deficiência
implicaram fortemente na construção e no delineamento da educação especial. Con-
tudo, apesar de todo o embasamento legislativo e da conquista dos direitos das pes-
soas com deficiência, ainda se contemplava a ideia de que era a pessoa com defici-
ência que precisava se adaptar à sociedade, e não a sociedade que lhe propiciaria
meios de acessibilidade (PIOVESAN, 2012).
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são pouco escutadas e contempladas de acordo com as suas singularidades, sendo
muitas vezes encaixadas em códigos que só visualizam a doença, beirando a negação
da existência de uma pessoa única e pluralizada em sua subjetividade (SAVIANI,
1992). O Quadro 1 apresenta as diferenças entre os conceitos de inclusão, exclusão
e segregação.
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para que as turmas ocupassem um mesmo território, mas sem que houvesse uma
integração entre os alunos, impossibilitando o convívio mais efetivo entre as pessoas
com e as sem deficiência, salvo em momentos de chegada ou partida — ainda que
algumas instituições realizassem até mesmo esses momentos em horários separados
(BUENO, 1993).
A educação especial pretendia, dessa maneira, proteger a pessoa com defici-
ência e ainda oportunizar o seu desenvolvimento. Todavia, essa proteção ficava à
sombra de uma segregação ou exclusão e, por esses motivos, essa modalidade de
educação especial não é mais mantida na atualidade. Outra modalidade da educação
especial foi a criação de escolas específicas e exclusivas para as pessoas com defi-
ciência (DUARTE, 2018).
Hoje essas instituições ainda existem, mas são raras, e visam o pleno desen-
volvimento educacional das pessoas com deficiência, possibilitando o convívio com
os seus pares e estimulando a socialização. Por contarem com um espaço mais amplo
do que somente uma sala, como ocorria nas instituições com classes especiais, as
pessoas com deficiência podem ter acesso a uma estrutura com adaptações arquite-
tônicas e acessibilidade plena, podendo exercer livre circulação, exploração e apro-
priação dos espaços (DUARTE, 2018).
Desde os anos 1990, como explica Sassaki (1997), existe um esforço da soci-
edade para que se possibilite a efetiva inclusão das pessoas com deficiência. A partir
desse ideal, construiu-se a ideia da educação inclusiva, na qual pessoas com defici-
ência convivem na mesma turma de educação regular, mas com ensino adaptado às
suas singularidades, mediante a consecução de projetos de desenvolvimento especí-
ficos para cada sujeito. Essa acepção favoreceu transformações na mentalidade so-
cial, não só com relação às famílias das pessoas com deficiência, como também com
todas as pessoas com deficiência (SASSAKI, 1997).
No entanto, a trajetória inclusiva da prática educativa encontrou alguns percal-
ços. As pessoas com deficiência precisam ser compreendidas em sua individualidade,
e algumas necessitam de atenção integral e exclusiva de um agente educador. O
agente educador como mediador do processo educacional pode atuar de múltiplas
maneiras, podendo facilitar o processo e estimular o desenvolvimento. No entanto,
também pode causar prejuízos, como pressupor condutas vitimizadoras e limitantes
das pessoas com deficiência ou ainda inibir o convívio entre os pares. A educação
inclusiva em instituições regulares de ensino precisa ser acompanhada caso a caso,
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com todas as considerações singulares e subjetivas implicadas no processo educativo
de cada sujeito (PIOVESAN, 2012).
A educação inclusiva estimula o olhar sobre a diversidade social, que passa a
ser objeto de aceitação e desejo em um novo modelo de inclusão social. Assim, para
a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, deve haver a aceitação da
diversidade social como um aspecto do direito à igualdade, sobretudo nas atuais so-
ciedades multiculturais, nas quais a diversidade é a tônica social medular (ASSIS;
POZZOLI, 2005).
Uma consideração bem importante para a educação da pessoa com deficiência
é que ela deve, necessariamente, ser agente condutor de sua autonomia, e não mero
recebedor passivo de prestações alheias (FIGUEIRA, 2008). Em resumo, a pessoa
com deficiência deve ser protagonista e condutor de seu processo de inclusão.
Assis e Pozzoli (2005) inserem que a educação deve preferencialmente ser
vista como um todo, entre as pessoas com deficiência e as pessoas sem deficiência.
Ela necessita de uma integração verdadeira desde a sua base, na educação infantil,
estimulando as virtudes, a tolerância, a empatia e o apoio mútuo, assim como promo-
vendo e desenvolvendo a coletividade e a equidade. Conforme Lorentz (2006), a mera
tolerância da pessoa com deficiência não proporciona a dignidade humana. A verda-
deira inclusão é proveniente do tratamento de respeito pleno, da admiração e do sen-
timento de amor entre as pessoas, com base na igualdade e na aceitação plena.
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sua singularidade. Nesse sentido, o modo como as pessoas são vistas e nomeadas
reflete a sua integridade, o respeito, a atuação e apropriação de uma efetiva inclusão
social (DUARTE, 2018).
Fonte: produto.mercadolivre.com.br
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todas as pessoas possuem alguma necessidade especial em algum nível, não é re-
comendado para se referir especificamente às pessoas com deficiência (SASSAKI,
2003).
Outra terminologia bastante utilizada entre 1986 e 1996, como refere Sassaki
(2003), foi a expressão “portador de deficiência”. Todavia, não é adequado o uso
desse termo, já que a deficiência não é algo que possa ser portado, pois portar algo
implica a possibilidade de não portar, se assim se desejar, como uma bolsa ou outro
objeto. O termo mais adequado é, portanto, “pessoa com deficiência”.
Sassaki (2003) orienta que, ao proferir o termo “pessoa com deficiência”, a pes-
soa se posiciona antes da deficiência. Essa simples inferência destaca que o sujeito,
com as suas características singulares, é mais importante do que a deficiência. Assim,
é correto afirmar que existem pessoas com deficiência auditiva, pessoas com defici-
ência visual, pessoas com deficiência física, pessoas com deficiência intelectual.
É importante destacar que, para haver inclusão, as pessoas e a sociedade
como um todo — e o reflexo de seu espírito coletivo — devem preferencialmente se
propor à mudança, a ponto de compreender que, para aceitar as diferenças e oportu-
nizar a expansão da diversidade, faz-se imprescindível estar atento às formas de co-
municação. Dessa forma, elas se colocam a favor de construções e trocas permanen-
temente mútuas. Por meio dessa relação plena entre as pessoas — as suas diferen-
ças e diversidades, os seus modos de ser e existir singulares — e a sociedade, a
criação de oportunidades torna-se a base para se estabelecer o equilíbrio social. É
por meio dela que se asseguram os princípios da igualdade e da dignidade da pessoa
enquanto sujeito individual e coletivo, como está previsto na Constituição (DUARTE,
2018).
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4.1 História das políticas em educação especial
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de condições de acesso e permanência na escola é estabelecida como um dos prin-
cípios para o ensino e a oferta do atendimento educacional especializado, preferenci-
almente na rede regular de ensino (BRASIL, 1988).
A década de 1990 foi bastante significativa para as políticas da educação es-
pecial, com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (o ECA), criado a partir
da Lei nº. 8.069/90. Conforme consta no Artigo 55, todas as crianças em idade escolar
devem, obrigatoriamente, estar matriculadas na rede de ensino regular (BRASIL,
1990). Ainda nessa década, foi publicada a Declaração Mundial de Educação para
Todos (UNESCO, 1990), com o objetivo de promover a satisfação das necessidades
básicas de aprendizagem, bem como a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994),
sobre os princípios, as políticas e práticas na área das necessidades educativas es-
peciais. Em conjunto, esses acontecimentos influenciaram a formulação das políticas
públicas da educação inclusiva.
A diretriz intitulada Política Nacional de Educação Especial foi publicada em
1994, orientando um processo que condicionou o acesso às classes comuns do en-
sino regular aos educandos com deficiência, vistos com condições para acompanhar
e desenvolver atividades curriculares do ensino comum, sem prejuízos e no mesmo
tempo dos demais educandos. Tal diretriz acabou por distanciar ainda mais a inclusão
das pessoas com necessidades educativas especiais da escola regular (BRASIL,
1994).
A partir disso, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº.
9.394/96) foi atualizada em 1996 e, conforme o Artigo 59, assegura a flexibilização do
currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às necessidades
de aprendizagem de todos os educandos, sem exceção. Ela garante ainda a termina-
lidade específica aos educandos que não atingiram o nível exigido para a conclusão
do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências. Ademais define, como consta
no Artigo 37, “[...] oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as caracte-
rísticas do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos
e exames” (BRASIL, 1996, documento on-line).
Todavia, foi somente no ano de 1999 que o Decreto nº. 3.298 regulamentou a
Lei nº. 7.853/89, sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência. Ela definiu a educação especial como uma modalidade transversal a to-
dos os níveis e modalidades de ensino, reforçando a atuação complementar da edu-
cação especial ao ensino regular (BRASIL, 1999). A história da educação inclusiva no
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Brasil foi sempre acompanhada de muita reflexão e problematização, pelas vozes das
próprias pessoas com deficiência ou de seus representantes legais e educadores, em
uma luta que se constitui e permanecerá por meio da transformação da sociedade e
dos contextos.
Fonte: pedagogiacomrespeito.blogspot.com.br
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Esse movimento de mudança e ampliação da educação se inspirou também na
Convenção da Guatemala, a qual ocorreu em 1999. No Brasil, ela foi interpretada por
meio do Decreto nº. 3.956/2001, produzindo uma reinterpretação na educação espe-
cial e promovendo a eliminação das barreiras no acesso à escolarização (BRASIL,
2001c). A partir disso, a formação docente foi focada e redeterminada sob a perspec-
tiva da educação inclusiva, em conformidade com a Resolução CNE/CP nº. 01/2002,
que dispôs sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professo-
res da Educação Básica. Essa resolução definiu como responsabilidade das institui-
ções de ensino superior a organização curricular para a formação docente voltada
para a atenção à diversidade, contemplando saberes sobre as especificidades dos
alunos com necessidades educacionais especiais (BRASIL, 2002a; BRASIL, 2009).
Dois importantes marcos atuaram como diretrizes, a fim de definir a educação
inclusiva no Brasil: o Programa Educação Inclusiva e o documento O Acesso de Alu-
nos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular, de 2003 e 2004,
respectivamente — ambos sobre o direito à diversidade na educação (BRASIL, 2005a,
2004a). Tais diretrizes propuseram expandir o apoio à transformação dos sistemas de
ensino nos sistemas educacionais, para que estes efetivassem a inclusão, promo-
vendo um amplo processo na formação e instrumentalização dos gestores e educa-
dores. O seu objetivo era disseminar os conceitos e as diretrizes mundiais para a in-
clusão, reafirmando o direito e os benefícios da escolarização de alunos com e sem
deficiência nas turmas comuns do ensino regular.
Em 2004, o Decreto nº. 5.296/04, com o intuito de promover a inclusão educa-
cional e social, regulamentou a Lei nº. 10.048/00 e a Lei nº. 10.098/00, que dispõem
sobre normas e critérios para a promoção de adaptações arquitetônicas para a aces-
sibilidade das pessoas com deficiência. Esse decreto impulsionou o Programa Brasil
Acessível, desenvolvido com o objetivo de promover a acessibilidade urbana e apoiar
ações que garantam o acesso universal aos espaços públicos (BRASIL, 2004b).
Em 2002, o MEC criou a Portaria nº. 2.678/02, com diretrizes e normas para o
uso, o ensino, a produção e a difusão do sistema Braille em todas as modalidades de
ensino, compreendendo o projeto da Grafia Braille para a Língua Portuguesa e a re-
comendação para o seu uso em todo o território nacional (BRASIL, 2002b). Já em
2005, o Decreto nº. 5.626/05 regulamentou a Lei nº. 10.436/2002, para a inclusão de
educandos surdos no ensino regular, bem como o ensino de Libras como disciplina
24
curricular e a organização da educação bilíngue no ensino regular (BRASIL, 2002b,
2005b).
O chamado Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), elaborado pelo
MEC em 2007 e sustentado pelo Decreto nº. 6.094/2007, em conformidade com as
diretrizes do Compromisso Todos pela Educação, indicou que todos os educandos
com deficiência pudessem obter acesso e permanência no ensino regular e o atendi-
mento às suas necessidades educacionais especiais, fortalecendo o ingresso nas es-
colas públicas regulares. Dessa maneira, colocou a formação de educadores voltada
para a educação inclusiva, a implantação de salas de recursos, a acessibilidade ar-
quitetônica dos prédios escolares e o acesso e a permanência das pessoas com de-
ficiência na educação superior como metas para superar a oposição entre educação
regular e educação especial (BRASIL, 2007).
Implementada em 2008, a Política Nacional de Educação Especial na Perspec-
tiva da Educação Inclusiva (PNEEPEI) se equiparou à Convenção da ONU sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência (BRASIL, 2008b), a fim de garantir o direito à
educação inclusiva. A inclusão das pessoas com deficiência no ensino comum, sem
qualquer condicionalidade ou discriminação, e a efetiva participação em igualdade de
condições foram enfoque das medidas de apoio à inclusão escolar determinadas pela
PNEEPEI, institucionalizando o acesso à classe comum e a oferta do atendimento
educacional especializado, complementar ou suplementar à escolarização (BRASIL,
2008b).
É importante destacar que todas essas diretrizes acompanharam o processo
de profunda transformação e movimento de mudança na perspectiva da educação no
Brasil. A educação inclusiva acompanhou movimentos para a construção de uma so-
ciedade ancorada na dignidade e equidade (DUARTE, 2018).
25
educação é a ponte para a construção da cidadania, tendo na democracia a base para
a sua efetivação. Para isso, deve estar integrada com o diálogo, a atuação participa-
tiva, a valorização da educação e a consequente conscientização para a formação
integral dos sujeitos. Nesse sentido, os desafios das escolas brasileiras para se ade-
quarem às exigências da inclusão escolar no Brasil podem ser vistos sob as lentes da
cidadania constituída por meio das relações sociais e, portanto, compreendida de
acordo com os sujeitos que dela participam, com as suas características e especifi
cidades.
Em essência, a inclusão será delineada com esforço tenaz e enérgico para
atravessar o que está previamente instituído e precisa ser ajustado: o olhar sobre as
diferenças e diversidades. É necessário para isso que as instituições educacionais, os
educadores, gestores e especialistas se engajem também nas medidas necessárias
para a efetivação da educação inclusiva, com vontade e coragem para mudar a reali-
dade (SAVIANI, 2017).
As diretrizes, os planos e as metas estão postas há décadas. Os direitos das
pessoas com deficiência estão em diversos artigos da Constituição Federal brasileira.
Existem inúmeros esforços e construções para a instrumentalização e constante for-
mação dos educadores e gestores para a consolidação da educação inclusiva (MO-
REIRA, 2016). No entanto, apesar do desenvolvimento de um olhar sobre os direitos
humanos e de um conceito de cidadania fundamentado no reconhecimento das dife-
renças e na participação dos sujeitos, existe na sociedade certa identificação com
mecanismos e processos de hierarquização e diferenciação em relação a padrões
ideais de atuação e funcionamento dos sujeitos, operando para a regulação e conse-
quente reprodução de desigualdades.
Nesse sentido, a escola e os ambientes educacionais e formativos preferenci-
almente devem possibilitar espaço para a problematização dos processos normativos
de distinção dos sujeitos. Esses espaços podem atuar como esclarecedores das dife-
renças como potencialidades, permitindo o conhecimento da diversidade de caracte-
rísticas intelectuais, físicas, culturais, sociais e linguísticas, entre outras, como criado-
ras de rupturas dos modelos padronizados e como possíveis pontes para a ampliação
da diversidade, respeitando a igualdade e equidade (DUARTE, 2018).
Como um caminho para a adequação às exigências da inclusão escolar no
Brasil, a formação dos educadores e gestores deve se manter adequada e atualizada,
26
com efeitos de motivação e no sentido de atuar cooperativamente com toda a comu-
nidade escolar (SCHIMIDT, 1997). A aprendizagem cooperativa pode se apresentar
como uma metodologia capaz de proporcionar a interdependência e a reciprocidade.
Ao mesmo tempo, pode se configurar como uma possibilidade de os educandos
aprenderem e experienciarem os valores da cidadania democrática desde a mais
tenra idade e de maneira sistemática, de forma que absorvam o respeito às diferenças
e a diversidade nos modos de ser e existir.
A flexibilização das atividades e do currículo é outro quesito significativo que
constitui possibilidades educacionais de atuar em conformidade com as necessidades
específicas de aprendizagem dos educandos (MOREIRA, 2016). O envolvimento de
todos — educadores, gestores, família, comunidade — para dar voz aos educandos,
escutar as suas necessidades e percepções sobre o processo educacional é um pro-
cesso que atua como ação política. Por meio dessa ação, estimulam-se a criação e o
fortalecimento de práticas para a visibilidade das pessoas com necessidades educa-
cionais especiais, bem como para a garantia de seus direitos e melhoria na qualidade
de vida.
27
garantia do acesso pleno a todos os aspectos referentes ao desenvolvimento cognitivo
e educacional, sem fazer distinção em relação a características físicas, intelectuais,
sociais, econômicas, culturais ou espirituais.
Fonte: tecnologia-acessivel-para-todos.blogspot.com.br
28
considerem as singularidades de cada educando. Assim, é muito importante a rede
de apoio nas instituições de ensino em função da inclusão, sob a ótica da criação e
dos conceitos de entrelaçamento, cooperação e colaboração. Em outras palavras, a
educação só pode ser inclusiva quando a diversidade das necessidades educacionais
é contemplada. A partir do reconhecimento das diferenças e singularidades de cada
sujeito, são reconhecidas também as demandas de intervenção em termos de políti-
cas públicas, sejam elas assistenciais, de saúde, segurança, qualificação profissional,
entre outros (DUARTE, 2018).
Assim, o envolvimento e as responsabilidades da comunidade escolar e das
autoridades públicas que administram as escolas devem possibilitar a troca de expe-
riências, considerando todos os atores envolvidos no processo de educação inclusiva,
por meio da criação de espaços para a reflexão (STAINBACK; STAINBACK, 1999).
As redes de apoio também contribuem para a boa qualidade das relações no ambiente
escolar, fomentando o desenvolvimento de laços éticos, de confiança e de colabora-
ção.
29
Dessa maneira, um ambiente que proporcione a participação de todos é um
fator que contribui para a construção de redes de apoio, possibilitando assim vias efe-
tivas de comunicação, que colaboram para uma gestão democrática da educação e,
consequentemente, para a efetividade de uma educação inclusiva (BELLONI, 2001).
Historicamente, a formação de profissionais especializados em educação inclu-
siva tinha como enfoque a chamada educação especial, a qual estava voltada ape-
nas ao ensino das pessoas com deficiência — organizado, portanto, a partir de uma
vertente médica pedagógica (JANNUZZI, 2004). Esse fato acabava por negligenciar
os aspectos mais específicos dos educandos e não permitia que profissional desen-
volvesse um olhar mais inclusivo sobre os sujeitos, os quais precisavam ser compre-
endidos também a partir de seus aspectos contextuais.
Conforme Mendes (2006), a formação do profissional para a educação inclusiva
preferencialmente deve se expandir para além do aprendizado específico do edu-
cando e considerar o sujeito em desenvolvimento de suas capacidades e potenciali-
dades educacionais. A proposta da educação inclusiva diz respeito a todos aqueles
tradicionalmente excluídos. Dessa forma, a educação inclusiva, além de incluir pes-
soas com deficiência, também deve incluir as minorias: pobres, negros, indígenas,
imigrantes, pessoas expostas à vulnerabilidade social, em conflito com a lei, em situ-
ação de rua, entre outros.
Para isso, os educadores, orientadores e coordenadores educacionais, como
profissionais diretamente envolvidos no processo da educação inclusiva, buscam ma-
nifestar com as suas práticas uma flexibilização, uma escuta empática, um olhar
atento e aberto às mudanças e adaptações necessárias no ensino, sob a perspectiva
da inclusão. Por serem os profissionais mais diretamente ligados à educação inclu-
siva, eles buscam priorizar a interação e a cooperação nas suas práticas cotidianas
em sala de aula (SEKKEL, 2003), oportunizando equidade no desenvolvimento.
O papel do educador é imprescindível para a efetivação de uma educação le-
gitimamente inclusiva, pois a sua atuação rompe as barreiras do compartilhamento de
conhecimentos e se expande sobre a maneira como manifesta o seu ensino e a sua
relação com o saber. Munido de suas técnicas, mas não se restringindo a elas, ele se
engaja e se torna cúmplice no processo de aprendizagem do aluno, sempre por meio
de princípios éticos (CAMARGO, 2017).
30
Uma educação inclusiva e de qualidade coloca forte ênfase na efetivação de
uma aprendizagem cooperativa, por meio de um ensino colaborativo, em meio à inte-
ração, tanto em atividades cotidianas, no espaço físico, quanto entre os educandos,
educadores e entre eles, e a equipe gestora da instituição. Assim, Sekkel (2003) des-
taca como atitudes favoráveis dos educadores disponibilidade, persistência, confiança
em seu trabalho e presença para atuar no manejo das diversidades — ainda que tais
atitudes não devam ser encaradas como atos assistencialistas, considerando o de-
senvolvimento pleno de suas habilidades para ensinar todos os educandos.
31
sujeito, acomodando a diversidade de estilos e ritmos de aprendizagem e, ainda, as-
segurando uma educação de qualidade a todos, sem nenhuma exceção (BRASIL,
1994).
Para isso, o ambiente colaborativo atua de maneira a facilitar e mediar a criação
de um currículo apropriado, adaptado às necessidades individuais e coletivas, bem
como a cooperação entre as escolas e as instituições que com ela interagem. Estas
devem possibilitar a criação de diferentes arranjos organizacionais, usufruindo de uma
diversidade de estratégias de ensino, com o uso ampliado de recursos e, ainda, pro-
mover parcerias com as famílias e as comunidades. Essa relação de cooperação entre
as diferentes instituições tende a oferecer uma estabilidade na manutenção dos am-
bientes colaborativos e promotores de inclusão (AINSCOW; PORTER; WANG, 1997).
Conforme explanado por Aranha (2003), procedimentos de flexibilização, ade-
quação e adaptação dos métodos aplicados ao desenvolvimento da aprendizagem,
bem como os planos pedagógicos que visem a uma educação fundamentalmente in-
clusiva, devem se concentrar em práticas pedagógicas, com conteúdo e objetivos que
viabilizem as interações pessoais. Nesse sentido, a inclusão pressupõe que, por meio
do ambiente colaborativo, seja realizada, em conjunto, a adequação do currículo,
quando necessário, a fim de torná-lo adequado às peculiaridades dos educandos.
Assim, para que seja possível uma inclusão íntegra, sem rupturas segregantes
ou excludentes por falhas na rede de apoio ou no ambiente colaborativo, faz-se ne-
cessária a continuidade de recursos físicos, sociais e humanos, assim como a cons-
tante instrumentalização e capacitação dos educadores. A inclusão exige do ambiente
colaborativo um trabalho organizado estrategicamente, de forma que os resultados
sejam os melhores possíveis, impondo que se disponibilizem para análise e proble-
matização constantes e sistemáticas de seus métodos e suas práticas (SANT’ANA,
2005).
32
possa ter acesso e repensar o paradigma educacional vigente. O professor tem um
papel fundamental nesse processo, o qual ocorre tanto na sala de aula regular como
no ambiente de atendimento educacional especializado (AEE), pois ele medeia as
relações do estudante. Embora existam leis em vigor que garantam o acesso à edu-
cação do aluno com necessidades especiais, pesquisas mostram que ainda há diver-
sas dificuldades a serem superadas (LOPES, 2018).
33
ser inserida na sociedade, por isso, não se preza mais a homogeneidade das classes
regulares, que têm a primazia da transmissão do conhecimento com avaliações clas-
sificatórias (LOPES, 2018).
As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Especial na Educação Bá-
sica (BRASIL, 2001) fomentam uma nova postura para a escola regular, sendo que
seu projeto político-pedagógico, currículo, metodologia, avaliação e estratégias de en-
sino devem contemplar ações e práticas educativas diferenciadas que atendam a to-
dos os alunos. “Pois, numa escola inclusiva a diversidade é valorizada em detrimento
da homogeneidade” (GLAT; FERNANDES, 2005, p. 4). A educação especial:
[...] não visa importar métodos e técnicas especializados para a classe regu-
lar, mas sim, tornar-se um sistema de suporte permanente e efetivo para os
alunos especiais incluídos, bem como para seus professores ... um conjunto
de recursos que a escola regular deverá dispor para atender à diversidade de
seus alunos (GLAT; FERNANDES, 2005, p. 5).
Assim, o papel dos professores não é apenas ensinar, segundo Glat e Fernan-
des (2005) e Oliveira (2015), eles também precisam estar preparados para:
[...] o professor deve ter como base da sua formação, inicial e continuada,
conhecimentos gerais para o exercício da docência e conhecimentos especí-
ficos da área. Essa formação possibilita a sua atuação no atendimento edu-
cacional especializado e deve aprofundar o caráter interativo e interdisciplinar
da atuação nas salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos, nos
centros de atendimento educacional especializado, nos núcleos de acessibi-
lidade das instituições de educação superior, nas classes hospitalares e nos
ambientes domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de educação
especial (BRASIL, 2008, p. 17–18).
Vários esforços têm sido realizados para preparar em nível superior professo-
res e outros profissionais do ensino para a educação inclusiva, como o Programa Edu-
34
cação Inclusiva: direito à diversidade (BRASIL, 2005) e a Política Nacional de Educa-
ção Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, da Secretaria da Educação Es-
pecial do MEC (BRASIL, 2008).
O programa refere-se à formação de recursos humanos para atuação na escola
regular inclusiva, propõe disseminar a política de inclusão em todos os municípios do
país, bem como apoia a formação de gestores e educadores para efetivar a transfor-
mação dos sistemas educacionais. Já a política objetiva assegurar a inclusão de alu-
nos com diversas necessidades especiais e orienta as instituições para garantir o
acesso ao ensino regular, com a participação, a aprendizagem e a continuidade nos
seus níveis mais elevados e que se forme professores para o AEE (OLIVEIRA, 2015).
Além desses, existe o ensino de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e braile.
Com esse fim, o MEC desenvolve programas de capacitação para a formação
continuada de professores de educação especial da rede pública de ensino para atuar
nas salas de recursos multifuncionais e em classes comuns do ensino regular, por
meio de duas modalidades: educação a distância (EAD) e presencial (LOPES, 2018).
O processo de inclusão abrange todos os níveis de ensino, da educação infantil
à universidade, e traz uma profunda mudança de paradigma na educação. Cai por
terra a primazia ou a hegemonia do saber acadêmico e da homogeneidade do corpo
discente. Nesse novo contexto, os papéis do professor, da escola e da família, princi-
palmente do primeiro, que está em contato direto com os alunos, são repensados
(LOPES, 2018).
35
6.2.1 Professor de sala de aula regular
36
Embora exista um sistema que colabora com o professor — gestão e equipe
de apoio —, é somente ele que está em sala de aula, convivendo e atuando com seus
alunos, conhece o grupo e sua dinâmica, podendo eleger metodologias e atualizar
seu planejamento de acordo com a evolução do estudante (LOPES, 2018).
37
Sempre que o AEE for requerido pelos alunos com deficiência, transtornos glo-
bais do desenvolvimento ou altas habilidades/superdotação, as escolas públicas e
particulares devem disponibilizá-lo, não cabendo o repasse dos custos decorrentes
dele às famílias. O não cumprimento da legislação precisa ser encaminhado ao Minis-
tério Público, bem como ao Conselho de Educação (RODRIGUES, 2018).
38
com e sem necessidades educacionais especiais ou com deficiências. Contudo, os
profissionais não se sentem realmente preparados, pois muitos ficam inseguros e an-
siosos para garantir, na prática, o direito dessas crianças com necessidades especiais
que chegam à sua classe.
A pesquisa realizada por Oliveira et al. (2017), com 20 professores de duas
escolas públicas do Acre, obteve os seguintes resultados:
6.3.3 Avaliações
39
6.3.4 Sala de recursos e profissional capacitado
A proposta do novo modelo educacional parece não estar clara ainda (KU-
ZUYABU, 2016). Hoje, a escola trabalha com o modelo único de aluno e baseia suas
atividades em uma capacidade média de aprendizagem, o desempenho padrão.
Quando não consegue isso, justamente com os que são considerados diferentes, ela
julga que não tem o preparo adequado.
6.3.6 Ensino
40
7 A EDUCAÇÃO INCLUSIVA E O PROCESSO DE AVALIAÇÃO
Fonte: www.neipies.com
41
avaliações devem estar a serviço do apoio pedagógico ao progresso e sucesso da
aprendizagem (LOPES, 2018).
De acordo com Pacheco (2007), a avaliação serve para comparar a situação
antes e após a realização de um projeto, bem como nortear as decisões sobre ele e
seu desenvolvimento. Assim, a metodologia avaliativa deve, acima de tudo, permitir
que o aluno se desenvolva e que os professores ajustem a prática pedagógica.
42
• Listas de verificação: avaliam as competências e o desempenho ou servem
para registro de certo comportamento e interação social.
• Questionários: são usados para saber a opinião das pessoas.
• Registro diário do professor: é mantido por ele com anotações descritivas e
analíticas que mostrem continuidade e desenvolvimento dos trabalhos.
• Vídeos: possibilitam avaliar aspectos comportamentais, de comunicação e ou-
tras formas de interação social.
• Documentos disponíveis na escola: podem incluir currículos educacionais e
de ensino, resultados acadêmicos, boletins escolares e outros registros.
• Entrevistas: são usadas para analisar melhor uma situação bem definida que
deve ser observada em profundidade ou que seja atravessada por aspectos subjeti-
vos.
• Pesquisa de campo: é realizada para obter-se informações sobre o estudo, o
ensino, a interação e as relações sociais na turma.
• Reflexão: tem como objetivo aumentar a compreensão sobre uma questão ou
situação e a avaliação de uma necessidade, coordenar pontos de vista, fazer e imple-
mentar planos.
• Caderno diário: é a análise e avaliação dos registros da comunicação entre
professores e pais quanto à observação de atividades cooperativas e à interação fora
da escola.
A avaliação deve ser entendida como um processo bidirecional que avalia não
somente os alunos, como também os elementos inerentes ao processo de ensino e
de aprendizagem (didática do professor, metodologia de aula, organização dos con-
teúdos, síntese e planejamento) com o intuito de acompanhá-lo. Ao mesmo tempo em
que se deve conhecer mais particularmente as necessidades dos alunos, não se pode
esquecer o referencial pedagógico que se refere à proposta curricular da série na qual
eles estão inseridos, pois os estudantes com necessidades educacionais especiais
também precisam ser avaliados (LOPES, 2018).
43
sentido comparativo do antes e do depois da ação do professor, da valoriza-
ção dos avanços, por pequenos que sejam, em diversas dimensões, do de-
senvolvimento do aluno, perdendo, assim, seu sentido de faca de corte. A
avaliação se amplia pela postura de valorização de indícios que revelem o
desenvolvimento dos alunos, sob qualquer ângulo, nos conhecimentos, nas
formas de se expressar, nas formas de pensar, de se relacionar, de realizar
atividades diversas, nas iniciativas (SÃO PAULO, 2001, p. 15 apud AL-
MEIDA-VERDU, 2008, p. 22).
45
A pesquisa-ação é um instrumento que pode ser usado na melhoria do pro-
cesso de ensino-aprendizagem. Já as diferentes metodologias avaliativas são utiliza-
das na pesquisa preliminar e coleta de dados, fases 2 e 6, respectivamente. Seu be-
nefício está na apresentação do processo autoavaliativo do professor em sala de aula
a partir das avaliações multidimensionais de seus alunos (LOPES, 2018).
46
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