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Educação a Distância
SOCIEDADE, EDUCAÇÃO E
CULTURA
UNIASSELVI
2013
NEAD
Copyright UNIASSELVI 2013
Elaboração:
Prof. Everaldo da Silva
Prof. Vilmar Urbaneski
370.1
S586s Silva, Everaldo da
Sociedade, educação e cultura / Everaldo da Silva e Vilmar
Urbaneski. Indaial : Uniasselvi, 2013.
200 p. : il
ISBN 978-85-7830-736-3
1. Educação – Filosofia.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
APRESENTAÇÃO
Caro(a) acadêmico(a)!
Todas essas questões são uma preocupação da Sociologia, disciplina que desempenha
um papel importante na sociedade moderna. A Sociologia estuda a vida social humana, dos
grupos e das sociedades. Ela é instigante, porque trabalha com o nosso próprio comportamento
como seres humanos. Uma das funções da Sociologia é estudar como as sociedades continuam
funcionando ao longo do tempo e as mudanças que sofrem.
Várias pessoas são atraídas pela Sociologia, sendo fascinante, provocativa e aplicável,
principalmente quando a sociedade passa por mudanças drásticas, como, por exemplo, o
processo de industrialização. Assim, possui importantes consequências práticas, permitindo
compreendermos um determinado conjunto de acontecimentos sociais, aumentando nossa
sensibilidade cultural e possibilitando o autoconhecimento.
iii
Não podemos refletir sobre a vida social sem discutirmos temas importantes como
cultura, diferenças sociais, moral, ética, política, poder, entre outros temas que são objeto
de estudo dessa ciência. Os intelectuais e, sobretudo, os sociólogos são mais do que nunca
necessários. Eles são capazes de desempenhar o papel de ouvidores, de dizer tudo aquilo
que o discurso dominante sufoca e oculta.
Enfim, este Caderno de Estudos busca instigar você, caro(a) acadêmico(a), a pesquisar
mais sobre os assuntos aqui tratados. Desejamos sucesso na sua caminhada em busca do
conhecimento!
UNI
Oi!! Eu sou o UNI, você já me conhece das outras disciplinas.
Estarei com você ao longo deste caderno. Acompanharei os seus
estudos e, sempre que precisar, farei algumas observações.
Desejo a você excelentes estudos!
UNI
iv
SUMÁRIO
v
AUTOATIVIDADE ............................................................................................................ 80
vi
3 EDUCAÇÃO: PREOCUPAÇÃO PARA COM O TRABALHO .................................... 159
4 CONHECIMENTO: UMA DAS FINALIDADES DA EDUCAÇÃO ............................... 163
5 AS GERAÇÕES NA ESCOLA: DESAFIOS PARA O PROFESSOR ........................ 164
LEITURA COMPLEMENTAR 1 ...................................................................................... 167
5.1 GERAÇãO Z ............................................................................................................ 169
6 EDUCAÇÃO, VIDA URBANA E VIOLÊNCIA ............................................................. 171
LEITURA COMPLEMENTAR 2 ...................................................................................... 174
RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................................ 177
AUTOATIVIDADE .......................................................................................................... 178
vii
viii
UNIDADE 1
UM CONVITE À SOCIOLOGIA:
CONCEITOS E APLICAÇÕES
Objetivos de aprendizagem
PLANO DE ESTUDOS
TÓPICO 1
SOCIOLOGIA:
OS PRIMEIROS PASSOS
1 INTRODUÇÃO
Nas conversas do dia a dia é muito comum as pessoas opinarem sobre a sociedade,
emitindo desde críticas ou até mesmo pareceres com sofisticação ou não, sobre determinados
setores específicos. Podemos até dizer que algumas destas pessoas podem ter um parecer
com maior consistência teórica, outras podem buscar fatos e dados estatísticos para comprovar
a sua versão sobre a sociedade ou, ainda, alguns não conseguem sustentar com fundamento
algum o seu parecer sobre propostas de mudanças ou anomalias no interior da sociedade.
E nestas opiniões sobre a sociedade podem se fazer presentes elementos como: família,
poder, política, educação, dentre outros, que retratam sobre o funcionamento, as anomalias e
os possíveis impactos na sua área de atuação ou na educação.
A Sociologia é uma das áreas de estudo que surgiu no início da modernidade com o
propósito de compreender a sociedade de um modo geral (é claro, os primeiros sociólogos
tinham cada qual o seu entendimento sobre a sociedade).
Desta forma, podemos afirmar que na Idade Média, de um modo geral, a religião teve
um papel relevante na vida das pessoas. Influenciava na política, na educação, na economia,
na cultura, na organização da sociedade e até mesmo no entendimento sobre a mesma. A
visão de certa forma predominante na Europa era a visão teocêntrica do mundo. Ou seja,
do grego (théos: Deus), e neste sentido, o teocentrismo medieval significava que Deus era
o centro das atenções e/ou ainda, Deus era a medida de todas as coisas. Inclusive, em tal
cenário, as igrejas medievais, de certa forma, frente à sua imponência, tornavam o homem
inferior frente a Deus.
No âmbito social, a sociedade medieval era composta pelo clero, a nobreza e os servos.
Era assim porque era “a vontade de Deus”. Ou seja, a sociedade era desta forma porque Deus
quis assim. Se a sociedade deveria ser organizada de outra maneira, Deus teria feito o mundo
de outra maneira.
Neste sentido, na mentalidade medieval tinha-se a percepção de que o mundo era como
era porque Deus quisera assim, ou seja, era sua vontade. E se deveria ser de outra maneira o
mundo, Deus o teria feito de outro modo. Pode-se dizer que a crença que se tinha no período
medieval era de que a sociedade era imutável e para isso buscavam-se justificativas das mais
variadas, mas tendo como o ponto de sustentação a vontade de Deus.
Neste sentido, a cultura teocêntrica perde espaço para a cultura antropocêntrica (antropo:
homem: medida de todas as coisas, ou homem sendo o centro das atenções). Pode-se dizer que
UNIDADE 1 TÓPICO 1 7
uma nova forma de ver, agir e pensar aparece, lentamente, entre os homens daquele período
e que de certa forma contribuiu para impulsionar diversas transformações que estavam se
fazendo presentes naquela época e que tiveram consequências nas diversas áreas do saber.
Veja, por exemplo, Leonardo da Vinci e as suas invenções, que é um retrato da nova postura
do homem frente ao mundo. Ou seja, um homem que cria, inventa, transforma o mundo do
qual faz parte.
Idade Média, o comércio começou a ser reativado, e dentre os fatores que contribuíram estão
as cruzadas e a produção excedente. Além disso, outros fatores estiveram presentes neste
período, como: ascensão do capitalismo, incremento do sistema bancário, o mercantilismo
e o surgimento de uma nova classe social: a burguesia.
torno dos castelos medievais. Contudo, com o renascimento comercial, surgem os burgos
(pequenas vilas), onde as pessoas se encontravam para comercializar e trocar ideias, e
lentamente começam a surgir as cidades, inicialmente chamadas de burgos.
da Gama chega às Índias (1498) e Pedro Álvares Cabral chega ao Brasil (1500). Foram fatos
que contribuíram para ampliar o mundo conhecido e eliminar as ideias de que o mundo era
plano, ou ainda, que houvesse monstros nos mares, dentre outras ideias. E, além disso,
enalteceu a noção de que o homem era capaz de atravessar os mares e conquistar outros
continentes e inclusive colonizá-los: como a África e a América (Novo Mundo).
Reforma religiosa ou Reforma Protestante: que foi, a grosso modo, um movimento com
características religiosas, políticas e econômicas e que iniciou com Lutero na Alemanha, no
século XVI (vale destacar que outros pensadores já estavam criticando a Igreja anteriormente).
Esta reforma provocou a separação de uma parte da comunidade católica da Europa, dando
origem ao protestantismo.
UNI
Caro(a) acadêmico(a), você pode se perguntar: como era a
educação medieval? Você deve ter em mente que os aspectos
religiosos tinham muita importância neste período, ou seja, a
educação era objeto de reflexão, principalmente de pensadores
que, de forma direta ou indireta, pensavam de acordo com as
ideias vigentes naquele contexto.
Neste sentido, para efeito de registro, diz Suchodolski (1992, p. 20): “a verdadeira
educação cumpre ligar ao homem a sua verdadeira pátria, a pátria celeste, e destruir ao mesmo
tempo tudo o que prende o homem à sua existência terrestre”. Ou ainda, Craver e Ozmon
(2004, p. 65) apontam que para Santo Agostinho, um dos pensadores medievais: “o grande
objetivo da educação [...], é a perfeição do ser humano e a derradeira reunião da alma com
Deus. [...] uma educação adequada direciona o aprendiz para um conhecimento que conduz
ao verdadeiro ser, progredindo de uma forma inferior para uma forma mais elevada”. Ou seja,
é aceitável mencionar que os propósitos educacionais deste período não destoavam com a
mentalidade então vigente.
NOT
A!
As primeiras tentativas de se introduzir a Sociologia no Brasil deram-
se por meio de sua inserção nos currículos secundários. Antes de
1920 já haviam sido tomadas algumas iniciativas para introdução
da Sociologia, na forma de Sociologia da Educação ou da sociologia
associada à moral, nos cursos secundários, com forte orientação
positivista, isto é, buscando-se análise objetiva para a compreensão
da realidade, tendo por padrão o pensamento durkheimiano sobre
a educação. Mas foi durante os anos 20, precisamente entre 1925-
1928, que a Sociologia passou a integrar os currículos secundários
(MAZZA, 2004, p. 97).
UNIDADE 1 TÓPICO 1 11
Caro(a) acadêmico(a), frente ao exposto acima, você percebeu uma nova forma do
homem pensar e entender o mundo no início da modernidade.
Neste sentido, o homem busca na razão e na ciência caminhos que possam assegurar
mais confiança nos seus conhecimentos do que até então adotados, ou seja, abandona as
explicações que tinham alicerce em Deus para buscar explicações que tenham a ciência como
guia. E neste contexto, a Sociologia surge amparada nos conhecimentos científicos para as
suas investigações. É importante ressaltar que, neste período, pensadores como Descartes,
Galileu, Copérnico, dentre outros, debruçaram seus estudos sobre o conhecimento científico.
E neste contexto, a busca do conhecimento não estava vinculada às tradições religiosas, à fé
ou até mesmo à Bíblia.
UNI
Comte primeiramente colocou o nome desta disciplina de Física
Social. Mais tarde, em 1836, alterou o nome para Sociologia,
que vem do latim “socius” e do grego “logos”, significando o estudo
do social.
Diante do cenário exposto, a Sociologia, de um modo geral, pode-se dizer que nasceu
num ambiente de profundas mudanças sociais, políticas e econômicas. E esta Nova Ciência,
que tem como objeto de estudo a sociedade, foi construída paulatinamente desde o século XVI
e estabelecendo relações com diversas correntes de pensamento, dentre elas o racionalismo,
o iluminismo, o marxismo, dentre outras.
3 CONCEPÇÕES DE SOCIOLOGIA
Você pode se perguntar: o que faz a Sociologia? Ao se debruçar sobre tal temática,
diversas concepções de Sociologia e sua finalidade, você poderá encontrar:
A Sociologia é uma das formas de compreender o ser humano no aspecto social. Mas
não enfoca na personalidade do indivíduo como causa do seu comportamento, mas sim, na
interação social, nos padrões sociais, a exemplo: os papéis sociais, a classe social, o poder
político, a cultura. A sociologia, neste sentido, tem como âncora a ideia de que o homem deve
ser entendido no contexto da sua vida social e como somos influenciados pelos padrões sociais
(CHARON, 1999).
IMPO
RTAN
T E!
A sociologia não é a única ciência social envolvida com a
compreensão da vida social moderna. Ao longo deste período,
praticamente toda a reflexão sobre a ordem política, econômica
e cultural procurou adaptar-se ao surgimento da ciência (SELL,
2006, p. 32).
Assim como toda ciência, a Sociologia pretende explicar a totalidade dos fe-
nômenos que lhe cabem, embora isto não seja objetivamente possível, mas
a partir de fenômenos micros busca construir generalizações teóricas,, assim
como, ao contrário, a partir de enfoque teórico genérico, busca compreender
os acontecimentos e fatos sociais numa dimensão micro. Assim, hoje os soci-
ólogos pesquisam as estruturas referentes à organização da sociedade, como
raça ou etnia, classe social ou gênero, além de instituições, como é o caso da
família e da educação (BONETI, 2008, p. 1).
Caro(a) acadêmico(a), além das concepções acima, você poderá encontrar outras,
inclusive mencionando sobre as finalidades da sociologia e as suas áreas temáticas. Por isso,
Charon (1999) menciona que os sociólogos diferem sobre as temáticas, o qual aponta, a saber:
sociedade, organização social, instituições ou sistemas institucionais, interação face a face e
problemas sociais.
NOT
A!
A explicação que o senso comum apresenta a respeito da sociedade
não tem a objetividade que muitos, sem discussão, acreditam que
elas possuam. Mas se é verdade que a Sociologia, como qualquer
outra ciência, pode errar nas suas explicações, as teorias desta
disciplina são demonstravelmente mais confiáveis do que as
elaborações intelectuais espontâneas de qualquer povo sobre si
mesmo, em razão dos cuidados de que o sociólogo procura se cercar
para formular as suas teorias (VILA NOVA, 2000, p. 26).
UNIDADE 1 TÓPICO 1 13
Enfim, como já foi mencionado, a Sociologia, como ciência, teve a sua origem na
modernidade, e desde o seu início até os dias atuais, diversas foram as concepções de Sociologia
e suas finalidades. Portanto, será comum você encontrar diversos autores apresentando o seu
parecer sobre a Sociologia e suas finalidades, objeto de estudo e que, para isso, buscam
construir teorias das mais diversas ordens. Contudo, salienta-se que mesmo com a diversidade
de concepções de Sociologia e seus propósitos, também são diversos os ramos da Sociologia,
e um deles é a educação, como mencionada acima por Charon (1999).
4 SOCIOLOGIA E EDUCAÇÃO
De acordo com Tura (2004), a Sociologia tem uma importante contribuição a dar para
o entendimento da organização da educação. O entendimento da educação, a partir dos
parâmetros sociológicos, envolve questionamentos amplos a respeito da natureza humana e
da sociedade e, além disso, a compreensão das formas de justificação e legitimação de ações
e políticas educacionais, e também envolve nestas discussões os mecanismos de transmissão
e assimilação de conhecimentos e diferentes processos de socialização.
Boneti (2008) destaca que a origem da Sociologia da Educação iniciou no século XIX
com o sociólogo Émile Durkheim, com seu livro “Educação e Sociologia”, o qual considerou
a educação como fato social e objeto primordial de investigação da Sociologia.
Você deve estar pensando: entre o século XV e o XVI, muitos fatos e eventos
aconteceram. Isso deve ter contribuído para mudar a forma de pensar das pessoas. Sim, muitas
pessoas começaram a pensar diferente, escrever outras ideias, buscar outras explicações
para os fatos e eventos. Todavia, é salutar pensar sobre que ideias ainda fazem parte, nos
dias atuais, tanto da mentalidade medieval como da mentalidade moderna, inclusive no campo
educacional. Para efeitos de ilustração, lembre-se de que o conhecimento científico ganhou
espaço no período moderno e, de certa forma, tem estado presente em boa parte dos conteúdos
lecionados nas escolas.
ÇÃO!
ATEN
LEITURA COMPLEMENTAR
* Na mentalidade medieval, o ser humano era visto com certo desprezo, pois este era
um pecador. E desta forma, o homem deveria aceitar o sofrimento, pois o homem merece sofrer
porque é pecador. Já na mentalidade moderna, o homem é a mais perfeita das criaturas (feito
à sua imagem e semelhança), porém, capaz de fazer coisas maravilhosas: máquinas, prédios,
viagens de descobertas, pinturas, estudo sobre a natureza e mudar o seu próprio destino, mudar
de classe social, por exemplo, e não aceitar as coisas como vontade divina.
* Na mentalidade medieval, a vida terrena, bem como os bens materiais e o corpo, tinham
pouca importância. O que era precioso era a salvação da alma. Fazer parte dos eleitos que
habitariam o céu (Paraíso). Já a mentalidade renascentista continua cristã, porém considera
que a vida material é muito importante, e, além disso, valoriza em muito o corpo.
* Na mentalidade medieval, tudo o que acontece na natureza deve ser explicado pela
vontade de Deus (a ordem social, castigos de Deus, pestes, terremotos). E devemos conhecer
o mundo para admirar a obra de Deus e louvá-lo pela sua criação. Já para a mentalidade
renascentista, os fenômenos da natureza devem ser explicados pelo homem, que, com o uso
UNIDADE 1 TÓPICO 1 15
*Na mentalidade medieval, as pessoas deveriam se conformar com o mundo tal como
ele é porque foi Deus que o quis assim. Se o mundo deveria ser diferente, Deus o teria feito. E
a única grande mudança possível seria o apocalipse. Entretanto, na mentalidade renascentista,
o homem pode e deve ser o criador, aventureiro, sonhador e dominador da natureza.
FONTE: URBANESKI, Vilmar. Filosofia da Religião. Indaial: Editora Uniasselvi, 2008, p. 50-51.
16 TÓPICO 1 UNIDADE 1
RESUMO DO TÓPICO 1
• Na Idade Média, Deus era o centro das atenções e, com o Renascimento, o Homem torna-
se o centro.
• Na mentalidade medieval, tudo o que acontece na natureza deve ser explicado pela
vontade de Deus. Já para a mentalidade renascentista, os fenômenos da natureza devem
ser explicados pelo homem, que com o uso da razão e da ciência consegue conhecer a
natureza.
• A Sociologia, dentre as suas diversas áreas de atuação, tem como propósito estudar os
fenômenos sociais, da ação ou influência mútua e da organização social.
• A Sociologia é uma área de estudo que surgiu no início da modernidade com o intuito de
compreender a sociedade de um modo geral, ou até mesmo nas suas peculiaridades.
IDADE
ATIV
AUTO
4 De um modo geral, pode-se dizer que Deus deixa de ser o centro do mundo medieval
e, lentamente, o homem torna-se o centro, e este é valorizado como um ser individual
e que busca descortinar as suas potencialidades humanas. Assim, o homem moderno
deseja superar os obstáculos e desenvolver-se enquanto ser humano e também o
mundo de que ele faz parte. De acordo com Andery et al. (1996, p. 175), “na nova
visão de mundo, que veio a substituir a medieval, o homem, no seu sentido mais
genérico, era a preocupação central”. Afirmação anterior refere-se à passagem. Assinale
a alternativa CORRETA:
I- A Sociologia é uma ciência que surgiu no final do século XVI com o intuito de sanar
os problemas de cunho social que envolviam a nobreza e o clero somente nos aspectos
religiosos e econômicos.
II- Estudar como as sociedades funcionavam e continuam funcionando ao longo do tempo
e de como a interpretação da vida humana e dos grupos sociais é função da Sociologia.
III- Uma das formas de definir a Sociologia é que esta é uma disciplina acadêmica que
examina o ser humano como um ser social, resultado de interação, socialização e padrões
sociais.
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Como você estudou no tópico anterior, a Sociologia surge com o intuito de compreender
a sociedade. E os pensadores desta área buscam, cada qual, apresentar o seu parecer
sobre o modo de ser da sociedade. Por isso, podemos afirmar que estes pensadores, ainda
na atualidade, têm-se feito presentes nas discussões, principalmente no âmbito acadêmico.
Porém, no âmbito da educação, cada qual tem as suas peculiaridades.
Neste tópico você estudará sobre Karl Marx e Marx Weber. Cada qual com a sua forma
de entender o mundo. Por isso, estude cada qual e depois faça as suas reflexões sobre como
cada um pôde contribuir para a compreensão da sociedade e da educação.
S!
DICA
Em termos gerais, a base para a sociedade, a sua formação, suas instituições e regras
de funcionamento, suas ideias, seus valores, são derivados das condições materiais. Desta
forma, a base da sociedade é o trabalho.
Enfim, o trabalho de Marx pode ser visto como uma interpretação de como o modo
capitalista de produção mercantiliza as relações, as pessoas e as coisas, como ele transforma
as próprias pessoas em mercadorias.
22 TÓPICO 2 UNIDADE 1
b) o modo de produção feudal, tendo como base a agricultura e a servidão (relação: senhor
feudal/servo);
O modo de produção, de um modo geral, pode ser entendido como a maneira como a
sociedade tem se organizado no decorrer da história em torno da sua produção de bens que
são necessários à sobrevivência do ser humano.
IMPO
RTAN
TE!
"A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história
das lutas de classe" (Manifesto Comunista).
Outras ideias são discutidas por Marx, como a infraestrutura e a superestrutura. Neste
sentido, podemos dizer que a base da sociedade é modo de produção material, seja a economia
ou a tecnologia que permitem a produção de bens (usando ferramentas, máquinas, terra,
matéria- prima, dentre outros), e é entendido como infraestrutura. Já a superestrutura constitui-
se das instituições jurídicas, aspectos políticos, normas, leis, que mantêm o ordenamento da
sociedade, principalmente no funcionamento da infraestrutura.
[...] existem duas formas principais pelas quais é possível extrair o lucro:
Mais-Valia Absoluta: o lucro obtido pelo aumento da jornada de trabalho, [...]
Mais-Valia Relativa: o lucro é obtido pelo aumento da produtividade. Nesse
processo o capitalista só precisa aumentar o tempo do trabalho. Basta fazer
o trabalho do operário render mais.
IMPO
RTAN
TE!
“Num certo estágio de sua evolução, as forças produtivas materiais
da sociedade entram em choque com as relações de produção
existentes. Inaugura-se, então, uma época de revolução social”.
(Marx, na Crítica da Economia Política).
[...] o marxismo tem contribuído de algum modo para entender a História, mas,
realmente, não o suficiente. Por exemplo, o marxismo vulgar diz que todas as
coisas ocorrem em virtude de fatores econômicos e, obviamente, isso não é
uma explicação adequada. Insisto que o importante é distinguir o marxismo
vulgar de uma interpretação mais sofisticada do sentido da obra de Marx ou,
em verdade, de Karl Marx por ele mesmo. Acho que o marxismo pode fazer
isso. Hoje, podemos falar sobre isso, como estamos fazendo, porque hoje
nós podemos distinguir aqueles trechos das análises marxistas que pareciam
ser válidos, mas claramente não o são. Por exemplo, se você realmente lê o
Manifesto Comunista de 1848, ficará surpreso com o fato de que o mundo,
hoje, é muito mais parecido com aquele que Marx predisse em 1848. A ideia
do poder capitalista dominando o mundo inteiro, como também uma sociedade
burguesa, destruindo todos os velhos valores tradicionais, parece ser muito
mais válida hoje do que quando Marx morreu. Por outro lado, por exemplo, a
previsão de que a classe trabalhadora ficaria cada vez mais pauperizada não
é verdade. Isso não quer dizer que a classe trabalhadora não tenha suficientes
boas razões para protestos. Uma coisa interessante que faz a análise marxista
bastante moderna é a análise das tendências de longa duração.
24 TÓPICO 2 UNIDADE 1
S!
DICA
FILME: Edukators.
Gênero: drama.
Sinopse
Jan (Daniel Brühl) e Peter (Stipe Erceg) são dois jovens que acreditam que podem
mudar o mundo. Eles se autodenominam "Os Educadores", rebeldes contemporâneos
que expressam sua indignação de forma pacífica: eles invadem mansões, trocam
móveis e objetos de lugar e espalham mensagens de protesto. Jule (Julia Jentsch) é a
namorada de Peter, que está passando por problemas financeiros e, por causa deles,
está saindo de seu apartamento alugado.
Empolgada com a notícia, Jule insiste que ela e Jan invadam a casa de Hardenberg
(Burghart Klaubner), o empresário que a processou. Após uma certa resistência, Jan
concorda.
Na casa, eles agem como os Educadores, mudando os móveis de lugar, mas cometem
um grave erro: Jule esquece no local seu celular. No dia seguinte, com Peter já
tendo retornado da viagem, mas sem saber do ocorrido, Jan e Jule decidem invadir
novamente a casa de Hardenberg, para recuperar o celular. No entanto, o que eles
não esperavam era que o empresário os surpreendesse dentro da casa, o que os força
a sequestrá-lo.
LEITURA COMPLEMENTAR 1
A ECOLOGIA DE MARX
Para ele, é justamente em O Capital que o filósofo alemão afirmava que o sistema
capitalista esgotava as forças do trabalhador e da Terra. Marx, nesta exposição, trata, de certa
forma, do conceito conservacionista, que vigora nos dias de hoje, de que a natureza não é algo
intocado, como por muito tempo os preservacionistas propuseram. Isso significa que o homem
é parte integrante do meio ambiente e deve ter um papel de guardião.
E o tema foi alvo de alguns estudos, como o do cientista político e professor de Sociologia
da Universidade de Oregon, John Bellamy Foster, que escreveu o livro A Ecologia de Marx -
Materialismo e Natureza. Foster analisa que Marx utilizou a ótica do ateniense Epicuro (341
a.C - 270 a.C.) para atribuir uma concepção materialista de que a natureza só é percebida
através dos nossos sentidos pela cognição, em um processo ao longo de nossas vidas.
A mesma análise é também feita por Foster. Ambos ilustram o trecho escrito pelo filósofo
alemão em Manuscritos econômico-filosóficos, de 1844: “O homem vive da natureza, isto é, a
natureza é seu corpo, e tem que manter com ela um diálogo ininterrupto se não quiser morrer.
Dizer que a vida física e mental do homem está ligada à natureza significa simplesmente que
a natureza está ligada a si mesma, porque o homem é parte dela” (MARX).
“O homem vive da natureza [...] e tem que manter com ela um diálogo ininterrupto se
não quiser morrer” (MARX).
Como base científica para explicar as relações sociais, Marx e Engels se debruçaram
sobre as pesquisas do naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882). Em uma de suas cartas
a Engels, Marx escreve, em 1862, o seguinte, sobre a obra “Origem das Espécies”: “É notável
como Darwin redescobre, no meio dos animais e plantas, a sociedade da Inglaterra com as
suas divisões de trabalho, competição, abertura de novos mercados, invenções e a luta pela
existência malthusiana. É a bellum omnium contra omnes de Hobbes”. Marx acreditava que
o cientista oferecia uma perspectiva materialista compatível à sua, embora aplicada a outro
conjunto de fenômenos, e fornecia uma base na ciência natural para a luta de classes (FOSTER,
2005, p. 274-275).
Por isso, devemos lembrar que Marx escreveu no período da Revolução Industrial
e os trabalhadores viviam em condições precárias nas cidades, submetendo-se a salários
irrelevantes, com jornadas de trabalho longas e sem amparo das leis trabalhistas.
Marx conclui que a educação dada às crianças operárias era tão precária
que só poderia servir para perpetuar as relações de opressão às quais essas
crianças e seus pais estavam sujeitos. O descaso era tanto que qualquer
um que tivesse uma casa e alegasse ser ali uma escola, poderia fornecer os
“atestados de frequência a aulas” de que as fábricas precisavam para livrar-
se da fiscalização.
A educação deveria ser um instrumento que deveria mobilizar a população (no caso, a
28 TÓPICO 2 UNIDADE 1
Enfim, caro(a) acadêmico(a), a obra de Marx é vasta, e as interpretações das suas ideias
são as mais diversas, tanto dos que são oponentes quanto dos que seguem as mesmas. Por
isso, sugere-se, a modo de seu interesse, aprofundar as ideias que podem estar presentes na
educação e fazer as suas devidas considerações, pois no âmbito educativo podemos encontrar
discursos que postulam que a educação deve ser transformadora, crítica e emancipatória, que
podem ter ou não fundamento em Marx.
A análise sociológica deveria ser isenta de juízos de valor, ou seja, deveria ser objetiva e
neutra em questões morais. De acordo com as ideias deste pensador, o objetivo da Sociologia
é identificar e compreender como e por que as regras nascem na sociedade e como elas
funcionam.
Outro aspecto no pensamento de Weber que deve ser mencionado são os três tipos
de dominação, que são: o legal, o tradicional e o carismático.
Dominação legal: obediência apoia-se na crença na legalidade da lei e
dos direitos de mando das pessoas autorizadas a comandar pela lei.
Dominação tradicional: sua legitimidade apoia-se na crença de que o
poder de mando tem caráter sagrado, herdado dos tempos antigos.
Dominação carismática: a legalidade da autoridade do líder carismático
lhe é conferida pelo afeto e confiança que os indivíduos depositam nele
(SELL, 2007, p. 211-212, grifos do autor).
1. Ação afetiva: aquela ação determinada de modo afetivo, ou seja, pelos afetos ou estados
sentimentais atuais.
3. Ação social: é aquela referente aos valores. A ação é determinada pela crença de valor
(ético, estético e religioso).
4. Ação social referente aos fins: a ação é determinada por expectativas quanto ao
comportamento dos objetos do mundo exterior ou de outras pessoas (SELL, 2007).
Enfim, caro(a) acadêmico(a), você estudou algumas ideias de Weber, as quais podem
contribuir ainda, nos dias atuais, para compreender o que está acontecendo na sociedade
atual. A título de exemplo: pode contribuir para entender as forças motrizes da sociedade atual,
o poder do Estado, o significado das leis nas relações sociais, o processo de urbanização
de populações nas cidades e as suas consequências. Além disso, os sistemas de crenças e
valores no cotidiano das pessoas.
Para Vilela (2002), Weber não produziu uma teoria do âmbito da Sociologia da Educação,
ou seja, não considerou a organização social da escola ou a instituição como objeto de análise.
Outrossim, há estudos significativos sobre Weber a respeito da educação, onde os sistemas
escolares se desenvolvem como um processo de imposição dos caracteres dos grupos
sociais e do poder estabelecido.
Neste cenário, a educação, para Weber, não é mais uma preparação para que o
membro de todo orgânico aprenda sua parte no comportamento harmônico do organismo
32 TÓPICO 2 UNIDADE 1
social, mas sim, tem como propósito despertar o carisma e preparar o aluno para uma conduta
de vida social.
As ideias de Weber exerceram influência no Brasil, e uma das formas foi na produção
acadêmica discente dos programas de pós-graduação nacionais.
UNIDADE 1 TÓPICO 2 33
LEITURA COMPLEMENTAR 2
MAX WEBER NOS PROGRAMAS NACIONAIS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO:
UM BALANÇO DA PRODUÇÃO ACADÊMICA DISCENTE NOS ÚLTIMOS 20 ANOS
Max Weber é um autor pouco citado na produção acadêmica discente dos programas
de pós-graduação nacionais. Em levantamento feito em um período de 20 anos, encontrei
apenas dez dissertações e uma tese que incorporaram as reflexões teóricas do autor.
O presente trabalho tem por finalidade refletir sobre a apropriação da teoria sociológica
weberiana nas pesquisas acadêmicas realizadas nos mestrados e doutorados em educação.
As principais questões que nortearam a minha investigação foram as seguintes: Quais os
temas pesquisados à luz da sociologia de Weber? Quais os aspectos da teoria sociológica
weberiana que são valorizados nas dissertações e teses defendidas nos programas de pós-
graduação em educação? Quais são as obras de Weber mais utilizadas? É frequente a leitura
de comentadores da obra do sociólogo alemão em substituição à leitura da obra do próprio
autor? Tal substituição, quando ocorre, acarreta uma compreensão equivocada da teoria
sociológica de Weber?
1
A racionalidade das políticas educacionais: o projeto da universidade do Tocantins - UNITINS, de
Verdana Medeiros de Barros, tese de mestrado em educação, defendida na Universidade de Brasília,
em setembro de 1995; Concepções de mundo, ideologia e ensino de qualidade, de Maria Medeiros da
Silva, tese de mestrado em educação, defendida na Universidade Federal de Pernambuco, em dezembro
de 1995; Relações de poder na escola pública de ensino fundamental: uma radiografia à luz de Weber
e Bourdieu, de Magali de Castro, tese de doutorado em Educação, defendida na Universidade de São
Paulo, em 1994.
34 TÓPICO 2 UNIDADE 1
Uma outra falha provável na busca dos trabalhos acadêmicos refere-se à falta de
amplitude das palavras descritoras selecionadas para localizar a totalidade dos trabalhos que
abordam Max Weber nos programas de pós-graduação nacionais. Ciente destas possíveis
lacunas, acredito ter obtido uma boa amostra da produção acadêmica que incorpora as reflexões
do sociólogo alemão nos últimos 20 anos: uma tese de doutorado e dez dissertações.
“Max Weber e a educação” é abordado em dois trabalhos, com os títulos de: Modernidade e
ação pedagógica em Max Weber e Educação e Desencantamento do mundo: contribuições
de Max Weber para a Sociologia da Educação. Os demais temas são: educação e religião,
em A educação luterana no Brasil: um estudo sobre desenvolvimento histórico, filosófico e
sociológico das escolas luteranas no Paraná (1853-1992); expectativas socioeducacionais
dos alunos, em Expectativas socioeducacionais de um grupo de alfabetizandos, jovens e
adultos no distrito federal; autoridade dos professores, em A autoridade do professor: um
estudo das representações de autoridade em professores de 1º e 2º graus; representações
das crianças e dos adolescentes, em Um estudo de caso: as representações das crianças e
dos adolescentes pobres de rua atendidos pela linha emergencial da associação beneficente
São Martinho da rua, da família, da escola e do trabalho; e educação e modernidade, em
Educação e Emancipação: Da Revolução à Resistência. [...]
Fátima (1997), Nunes (1999), Porto (1986) e Santos (1990) apresentam uma abordagem
da teoria sociológica weberiana de maneira superficial, não as vinculando às discussões
originadas do referencial teórico de Weber com as conclusões da dissertação. Em contrapartida,
Farias (2001) retoma conceitos de Weber nas conclusões, mas não incorpora as reflexões do
autor para pensar a educação. Outro exemplo de uma leitura apressada das formulações do
autor foi encontrado no estudo de Farenzena (1990), quando a autora responsabiliza Weber
pelo crescimento da burocracia nos sistemas educacionais.
RESUMO DO TÓPICO 2
• Diferente de outros pensadores da Sociologia em épocas passadas, Karl Marx não foi apenas
um pensador, mas também um revolucionário.
• O marxismo prevê que o proletariado se libertará dos vínculos com as forças opressoras e,
com isso, dará origem a uma nova sociedade.
• Em “O Capital”, Marx realiza uma investigação profunda sobre o modo de produção capitalista
e as condições de superá-lo, rumo a uma sociedade sem classes e na qual a propriedade
privada seja extinta.
• Para Marx, o homem é parte da natureza. Ele afirma que Darwin redescobre, em meio a
animais e plantas, o funcionamento da sociedade.
• A educação, para Marx, participa do processo de transformação das condições sociais, mas,
ao mesmo tempo, é condicionada pelo processo.
• Max Weber afirmou que a Sociologia deve sempre buscar compreender os fenômenos
“no nível do significado” dos atores, o que os atores veem e sentem durante suas ações
na sociedade. Também é necessário examinar o contexto cultural criado quando os atores
sociais interagem.
• Weber considera que resta ao homem moderno enfrentar o destino com coragem frente às
exigências do cotidiano e não ficar à espera de novos profetas e novos salvadores.
• O tema da educação ou da pedagogia em Weber fica mais claro em sua análise da política,
tanto como disciplina científica quanto como ação dos indivíduos.
IDADE
ATIV
AUTO
4 Weber afirmava que a análise sociológica deveria ser isenta de juízos de valor,
ou objetiva e neutra em questões morais. E, além disso, aponta que... Assinale a
alternativa CORRETA:
40 TÓPICO 2 UNIDADE 1
a) ( ) Agricultura e da escravidão.
b) ( ) Indústria e o trabalho assalariado.
c) ( ) Agricultura e indústria.
d) ( ) Indústria e o trabalho escravo.
b) ( ) O capital: não rende a cada ano ao capitalista um lucro; a terra: não rende ao
proprietário rural uma renda fundiária.
c) ( ) O capital: não rende a cada ano ao capitalista um lucro; e a força de trabalho em
condições normais e enquanto permanece útil, rende ao operário um lucro.
d) ( ) A terra: rende ao trabalhador rural uma renda fundiária; e a força de trabalho em
condições normais e enquanto permanece útil, rende ao operário muito dinheiro.
TÓPICO 3
DURKHEIM, BOURDIEU E
BAUMAN E A EDUCACÃO
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico você estudará sobre algumas ideias do pensamento de Durkheim, Bourdieu
e Bauman e as possíveis implicações para o campo educativo. Vale ressaltar que há outros
sociólogos, inclusive no cenário brasileiro, que contribuíram para a difusão da Sociologia no
Brasil. Dentre eles podemos destacar: Oliveira Viana, Octávio Ianni, Betinho, Alberto Guerreiro
Ramos, Ricardo Antunes, José Pastore, Fernando Henrique Cardoso, Francisco de Oliveira,
entre outros.
Émile Durkheim nasceu em 1858 e faleceu em 1917. Durkheim vive num período
da Revolução Industrial, iluminismo, Revolução Francesa, positivismo e, além disso, num
contexto de intelectuais, se faziam presentes ideias de pensadores como: Marx, Weber, Comte,
Montesquieu, Hegel, dentre outros, que, em termos intelectuais, produziram diversas teorias.
Durkheim (1973) sustentava a tese de que a explicação da vida social tem seu
fundamento na sociedade, e não no indivíduo. Esta afirmação não significa
que uma sociedade possa existir sem indivíduos, o que seria totalmente ilógico.
O que desejava ressaltar é que, uma vez criadas pelo homem, as estruturas
sociais passam a funcionar de modo independente dos atores sociais, condi-
cionando as sua ações. Para Durkheim, a sociedade é muito mais que a soma
dos indivíduos que a compõem (SELL, 2006, p.129).
Os fatos normais são aqueles fatos que não estão além dos limites dos acontecimentos
que são gerais de uma sociedade, ou seja, são aqueles valores e condutas que a maioria da
população aceita. Já o patológico são aqueles fatos que estão fora dos limites permitidos pela
ordem social e pela moral de uma determinada sociedade. “Durkheim afirma tacitamente que
o fato social normal representa um estado de saúde e que o fato social patológico um estado
de doença. O argumento é que um fato social é geral (e, portanto, normal) quando contribui
para a preservação da vida social” (SELL, 2006, p. 155).
Para entender o raciocínio de Durkheim (1978), o seu método pode ser sintetizado
em três ideias principais:
S!
DICA
Sinopse
François Marin (François Bégaudeau)
trabalha como professor de Língua
Francesa em uma escola de ensino médio,
localizada na periferia de Paris. Ele e seus
colegas de ensino buscam apoio mútuo na
difícil tarefa de fazer com que os alunos
aprendam algo ao longo do ano letivo.
François busca estimular seus alunos,
mas o descaso e a falta de educação são
grandes complicadores.
Quanto à educação, esta ocupa um lugar importante nas obras de Durkheim. De acordo
com a sua visão, era especialmente na escola, através da educação moral e cívica, que as
crianças deveriam ser socializadas e preparadas para o convívio social (SELL, 2006).
Nas ideias de Durkheim (1973) sobre a Educação, podemos notar que o papel das
atividades educativas é formar um cidadão que fará parte de um espaço público e não somente
o desenvolvimento individual de cada aluno em específico.
A educação é ação exercida pelas gerações adultas sobre as que ainda não
estão maduras para a vida social. Tem por objetivo suscitar e desenvolver na
criança determinados números de estados físicos, intelectuais e morais que
dele reclamam, por um lado, a sociedade política em seu conjunto e, por outro,
o meio específico ao qual está destinado (Durkheim, 1973, p. 44).
46 TÓPICO 3 UNIDADE 1
Em termos gerais, a educação tem como objetivo suscitar e desenvolver, nos indivíduos,
estados físicos, intelectuais e morais, neste sentido que fazem parte da sociedade em que
estes indivíduos fazem parte. Além disso, a ação educativa permite a integração do indivíduo
e também desenvolverá uma forte identificação com a sociedade de que este faz parte.
A educação nos permite viver em sociedade e é isso que permite que a sociedade
viva em nós. É só a educação que é capaz de nos fazer assim, pois a mesma é um processo
social (RODRIGUES, 2007).
UNI
AUTORIDADE DO PROFESSOR
E quanto aos fins da educação, está relacionada com a manutenção do que é comum
para a coletividade e a continuidade das estruturas sociais, com o intuito de garantir a
existência da própria sociedade. Por isso, a ação educativa deve, além de aperfeiçoar dons
inatos, buscar a integração dos alunos na organização social e que estes respondam às
expectativas dos diferentes meios sociais com os quais irão conviver.
UNIDADE 1 TÓPICO 3 47
Pierre Bourdieu nasceu em 1º de agosto de 1930. Em 1982 foi eleito para a cadeira
de Sociologia no Collége de France. Crítico acérrimo do liberalismo econômico. Faleceu em
23 de janeiro de 2002, em Paris, com 71 anos. Bourdieu é considerado uma das maiores
referências das ciências sociais no mundo contemporâneo.
b) Outra preocupação era permitir que a ciência fosse além dos clichês, estereótipos e
classificações dos doxa universalmente inquestionáveis e, como consequência, explicar as
relações de poder inscritas na realidade social, em um determinado campo social.
Nas ideias de Bourdieu encontramos uma série de conceitos, entre eles: habitus, capital,
legitimação, com os quais buscar compreender os mecanismos de perpetuação da sociedade
vigente nas suas variadas faces. Por isso, veremos a seguir alguns dos seus conceitos.
● Habitus: pode ser entendido como as disposições inculcadas no dia a dia das pessoas,
através das práticas familiares e sociais, que agem como automatismos nas maneiras de
agir e designam o comportamento regular sem ser conscientemente coordenado e regido por
alguma regra. O habitus, de certa forma, traduz os estilos de vida, aspectos políticos, morais
e estéticos do indivíduo, que são formados durante sua socialização. Desde o nascimento,
relacionamento familiar, educação, religião, trabalho, ou seja, todos os meios que contribuíram
para a formação do indivíduo e na sua forma de agir, pensar e ver o mundo.
O habitus está enraizado no corpo de tal maneira que perdura no decorrer da vida da
pessoa e opera de forma quase inconscientemente. Desta forma, podemos afirmar que as
estruturas mentais dos indivíduos sofrem condicionamento social em virtude de que há uma
dimensão do social inscrita nos indivíduos.
De acordo com Bourdieu (1983b, p. 65 apud SETTON, 2002, p. 62), habitus é aqui
compreendido como “[...] um sistema de disposições duráveis e transponíveis que, integrando
todas as experiências passadas, funciona a cada momento como uma matriz de percepções, de
apreciações e de ações – e torna possível a realização de tarefas infinitamente diferenciadas,
graças às transferências analógicas de esquemas [...]”.
S!
DICA
● Campo: podemos dizer que é o espaço social onde no seu interior ocorrem diferentes lutas,
sejam profissionais ou partidárias. E cada campo define suas maneiras específicas de
dominação e estabelece suas próprias regras. Ou seja, é espaço estruturado de posições,
onde os dominantes e os dominados lutam para manter e obter determinados postos.
Caro(a) acadêmico(a), para obter maior conhecimento, leia o texto a seguir: “A utilização
do conceito de habitus em Pierre Bourdieu para a compreensão da formação docente”,
de Maria Aparecida de Souza Silva.
UNIDADE 1 TÓPICO 3 49
● Capital: existem diferentes espécies de capital e não apenas o capital econômico, mas
também a riqueza material, dinheiro, bens, os quais são meios para a conversão em outros
capitais, como: o social, cultural, linguístico e escolar. Por exemplo:
● Poder simbólico: (poder invisível, conhecido como tal e reconhecido como legítimo):
designa não uma única forma, mas numerosas formas de exercício do poder, presentes na
vida social. Pressupõe como condição de seu sucesso que os indivíduos a ele submetidos
acreditem na legitimidade do poder daqueles que o exercem.
Em termos educacionais, podemos encontrar diversos estudos que têm como aparato
teórico as ideias de Bourdieu. Entretanto, dentre as ideias de Bourdieu destaca-se que a função
da educação pode ser um instrumento de legitimação das desigualdades sociais e a perspectiva
libertadora. A escola, sendo conservadora, manterá a dominação dos dominantes e será como
um instrumento que reforça as desigualdades e, além disso, reproduz os aspectos culturais,
segundo a origem cultural de cada classe.
A escola pode ignorar as diferenças socioculturais existentes entre as classes sociais e
selecionar conhecimentos que estão de acordo com os valores culturais das classes dominantes.
Além disso, a escola pode reproduzir, através de uma violência simbólica, as relações de
dominação existentes na sociedade e reproduzir a ideologia da classe dominante.
de valores e normas. Daí ser preciso, para que a ação pedagógica se efetive,
uma autoridade pedagógica, por parte das instituições de ensino. Ela é ne-
cessária para que a inculcação possa ocorrer, sob a fachada dissimulada de
uma alegada pedagogia (RODRIGUES, 2007, p. 73-74).
Quanto ao processo educativo, este pode ser uma ação coercitiva, em virtude de impor
predisposições de um certo código de normas e valores que pertencem a um certo grupo ou
uma classe dominante, desprivilegiando a classe dominada. Nos sistemas escolares, dentre
as suas funções está a de perpetuar a “ordem social” e formar hábitos.
No livro chamado Os Herdeiros, os autores (Bourdieu e colaboração com
Passeron) atacam o discurso dominante, segundo o qual a conquista de
uma “escola para todos”, de caráter igualitário, tornaria possível a realização
das potencialidades humanas. E o fazem colocando em evidência o que a
instituição escolar dissimula por trás de uma aparente neutralidade, ou seja,
justamente a reprodução das relações sociais e de poder vigentes. Encobertos
sob as aparências de critérios puramente escolares estão os critérios sociais
de triagem e de seleção dos indivíduos para ocupar determinados postos na
vida. [...]. O sistema de ensino filtra os alunos sem que eles se deem conta e,
com isso, reproduz as relações vigentes (RODRIGUES, 2007, p. 72).
Caro(a) acadêmico(a), como já foi mencionado, a produção acadêmica tendo como
aporte Bourdieu é ampla e, por isso, fica a sugestão de que você continue os seus estudos
deste autor pesquisando sobre o papel do professor e a escola, bem como outros assuntos
ligados ao campo da educação, e até mesmo tomar posição frente ao pensamento de Bourdieu
em educação.
S!
DICA
4 ZYGMUNT BAUMAN
Agora estudaremos Bauman, que nasceu na Polônia em 1925. Este sociólogo tem
se feito presente nas discussões acadêmicas brasileiras somente nos últimos anos, e muitas
das suas ideias são relevantes para o campo educacional, principalmente porque ele faz
diversas análises sobre a sociedade. Bauman é também conhecido por ser o profeta da
pós-modernidade, sendo reconhecido pela sua expressão intelectual, por intermédio de suas
diversas obras.
Outra obra de Bauman é “Modernidade líquida (2000)”, onde o sociólogo retrata que,
em oposição à modernidade sólida temos a modernidade líquida, que é leve, fluida e dinâmica.
A título de comparação, o sólido, via de regra, mantém-se em sua forma com facilidade, já o
líquido está propenso a mudar e adaptar-se devido à sua flexibilidade.
Os líquidos, diferentemente dos sólidos, não mantêm sua forma com facilidade
[...] Enquanto os sólidos têm dimensões especiais claras, mas neutralizam o
impacto e, portanto, diminuem a significação do tempo (resistem efetivamente
a seu fluxo ou o tornam irrelevante), os fluidos não se atêm muito a qualquer
forma e estão constantemente prontos (e propensos) a mudá-la (BAUMAN,
2005a, p. 8).
IMPO
RTAN
TE!
A violenta destruição da vida e da propriedade inerente à guerra, o esforço e o alarme
contínuos resultantes de um estado de perigo constante, vão compelir as nações mais
vinculadas à liberdade a recorrerem, para seu repouso e segurança, a instituições
cuja tendência é destruir seus direitos civis e políticos. Para serem mais seguras, elas
acabam se dispondo a correr o risco de serem menos livres.
Agora essa profecia está se tornando realidade. Uma vez investido sobre o mundo
humano, o medo adquire um ímpeto e uma lógica de desenvolvimento próprio e precisa
de poucos cuidados e praticamente nenhum investimento adicional para crescer e se
espalhar - irrefreavelmente. Nas palavras de David L. Altheide, o principal não é o
medo do perigo, mas aquilo no qual esse medo pode se desdobrar o que ele se torna.
A vida social se altera quando as pessoas vivem atrás de muros, contratam seguranças,
dirigem veículos blindados, portam porretes e revólveres, e frequentam aulas de artes
marciais. O problema é que essas atividades reafirmam e ajudam a produzir o senso
de desordem que nossas ações buscam evitar.
Os medos nos estimulam a assumir uma ação defensiva. Quando isso ocorre, a ação
defensiva confere proximidade e tangibilidade ao medo. São nossas respostas que
reclassificam as premonições sombrias como realidade diária, dando corpo à palavra.
O medo agora se estabeleceu, saturando nossas rotinas cotidianas; praticamente não
precisa de outros estímulos exteriores, já que as ações que estimula, dia após dia,
fornecem toda a motivação e toda a energia de que ele necessita para se reproduzir.
Entre os mecanismos que buscam aproximar-se do modelo de sonhos do moto-perpétuo,
a autorreprodução do emaranhado do medo e das ações inspiradas por esse sentimento
está perto de reclamar uma posição de destaque. É como se os nossos medos tivessem
ganhado a capacidade de se autoperpetuar e se autofortalecer; como se tivessem
adquirido um ímpeto próprio - e pudessem continuar crescendo com base unicamente
nos seus próprios recursos. [...]
FONTE: BAUMAN, Zygmunt. Tempos Líquidos. Trad. de Carlos Alberto Medeiros. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2007, p.15.
Na obra “Amor líquido: sobre as fragilidades dos laços humanos (2003)”, Bauman aponta
que a modernidade líquida tornou os laços humanos frágeis, tornando as relações humanas
inseguras, incertas e duvidosas. Inclusive transformou o amor em uma espécie de relação
líquida onde os laços de relações humanas são, via de regra, de curto prazo. Neste sentido,
as relações amorosas, de acordo com Bauman, têm novos contornos e são designadas de
relações líquidas e frouxas.
UNI
O Caderno de Pesquisa v. 39, nº 137 - São Paulo May/Aug. 2009
- apresenta Zygmunt Bauman: entrevista sobre a educação.
Desafios pedagógicos e modernidade líquida. Por isso, caro(a)
acadêmico(a), em virtude das suas ideias terem influência na
educação, leia uma parte da entrevista, na Leitura Complementar
a seguir.
LEITURA COMPLEMENTAR
Pergunta (P): A educação foi concebida desde o Iluminismo como um sistema fortemente
estruturado; em tempos mais recentes, a Bildung tem sido interpretada, primeiro, como um
processo, depois até como um "produto" para transmitir e conservar o conhecimento. No mutável
mundo de hoje, onde "correr é melhor que caminhar", onde triunfam entre os jovens a obviedade
e as ideologias, o senhor considera ainda plausível uma educação voltada para "fixar em uma
forma" a personalidade dos jovens através de um percurso formativo determinado?
Resposta (R): A história da pedagogia esteve repleta de períodos cruciais em que ficou evidente
que os pressupostos e as estratégias experimentadas e aparentemente confiáveis estavam
perdendo terreno em relação à realidade e precisavam, pois, ser revistos ou reformados.
Todavia, parece que a crise atual é diversa daquelas do passado. Os desafios do nosso tempo
infligem um duro golpe à verdadeira essência da ideia de pedagogia formada nos albores da
longa história da civilização: problematizam-se as "invariantes" da ideia, as características
constitutivas da própria pedagogia (que, incólumes, resistiram às mudanças do passado);
UNIDADE 1 TÓPICO 3 55
convicções nunca antes criticadas são agora consideradas culpadas de ter seguido o seu curso
e, portanto, precisam ser substituídas.
No mundo líquido moderno, de fato, a solidez das coisas, tanto quanto a solidez
das relações humanas, vem sendo interpretada como uma ameaça: qualquer juramento de
fidelidade, compromissos a longo prazo, prenunciam um futuro sobrecarregado de vínculos
que limitam a liberdade de movimento e reduzem a capacidade de agarrar no voo as novas e
ainda desconhecidas oportunidades. A perspectiva de assumir uma coisa pelo resto da vida
é absolutamente repugnante e assustadora. E dado que inclusive as coisas mais desejadas
envelhecem rapidamente, não é de espantar se elas logo perdem o brilho e se transformam,
em pouco tempo, de distintivo de honra em marca de vergonha.
A capacidade de durar bastante não é mais uma qualidade a favor das coisas. Presume-
se que as coisas e as relações são úteis apenas por um "tempo fixo" e são reduzidas a farrapos
ou eliminadas uma vez que se tornam inúteis. Portanto é necessário evitar ter bens, sobretudo
aqueles duráveis, dos quais é difícil se desprender. O consumismo de hoje não visa ao acúmulo
de coisas, mas à sua máxima utilização. Por qual motivo, então, "a bagagem de conhecimentos"
construída nos bancos da escola, na universidade, deveria ser excluída dessa lei universal? Este é
o primeiro desafio que a pedagogia deve enfrentar, ou seja, um tipo de conhecimento pronto para
utilização imediata e, sucessivamente, para sua imediata eliminação, como aquele oferecido pelos
programas de software (atualizados cada vez mais rapidamente e, portanto, substituídos), que
se mostra muito mais atraente do que aquele proposto por uma educação sólida e estruturada.
o primeiro desafio. O conhecimento sempre foi valorizado por sua fiel representação do
mundo, mas o que aconteceria se o mundo mudasse, recusando continuamente a verdade
do conhecimento ainda existente e pegando de surpresa inclusive as pessoas "mais bem
informadas"? Werner Jaeger, autor de estudos clássicos sobre as antigas origens dos conceitos
de pedagogia e aprendizagem, acreditava que a ideia de pedagogia (Bildung, formação) tenha
nascido de duas hipóteses idênticas: aquela da ordem imutável do mundo que está na base
de toda a variedade da experiência humana e aquela da natureza igualmente eterna das leis
que regem a natureza humana.
Segundo o que há muito observou Ralph Waldo, quando se patina sobre gelo fino a
salvação está na velocidade. Seria bom aconselhar àqueles que buscam a salvação a se
moverem bastante rápido, de modo a não arriscar pôr à prova a resistência do "problema". No
mundo mutável da modernidade líquida, onde dificilmente as figuras conseguem manter a sua
forma por tempo suficiente para dar confiança e solidificar-se de modo a oferecer garantia a
longo prazo (em cada caso, não é possível dizer quando e se solidificarão e com que pequena
probabilidade, no caso de isso ocorrer), caminhar é melhor do que ficar sentado, correr é melhor
que caminhar e surfar é melhor que correr. As vantagens do surf estão na rapidez e vivacidade
do surfista; por outro lado, o surfista não deve ser exigente ao escolher as marés e deve estar
sempre pronto a deixar de lado suas habituais preferências.
recipientes mantidos a uma devida distância dos cérebros (onde as informações armazenadas
poderiam subrepticiamente controlar o comportamento) parecia uma proposta providencial e
atraente.
Durante a fase "sólida" da história moderna, o cenário das ações humanas era criado
para emular, o quanto possível, o modelo do labirinto dos comportamentistas, no qual a diferença
entre os caminhos certos e errados era clara e fixa, de modo que aqueles que erravam ou
recusavam os caminhos certos eram constante e imediatamente punidos, enquanto aqueles
que os seguiam obediente e velozmente eram recompensados. Na época moderna as grandes
fábricas "fordistas" e o recrutamento de massas para os exércitos, os dois braços mais longos
do poder panótico, eram a personificação completa da tendência à rotina dos estímulos e da
reação aos estímulos. O "domínio" consistia no direito de estabelecer leis infringíveis, vigiar o
seu cumprimento, determinar obrigações para se seguir sob vigilância, realinhar os desviantes
ou excluí-los, no caso do fracasso do esforço de reformá-los. Esse modelo de dominação
exigia um compromisso recíproco e constante dos administradores e dos administrados. [...]
A modernidade "sólida" era verdadeiramente a era dos princípios duradouros e concernia,
sobretudo, aos princípios duráveis que eram conduzidos e vigiados com grande atenção.
Simplesmente, não havíamos estado até agora em situação semelhante. A arte de viver
em um mundo ultrassaturado de informações ainda deve ser aprendida, assim como a arte
ainda mais difícil de educar o ser humano neste novo modo de viver. [...].
RESUMO DO TÓPICO 3
• Para Durkheim (1978), a Sociologia deveria ser neutra e imparcial, e além disso, deveria
estar distante das lutas sociais e conflitos políticos. O papel da sociologia deveria apenas
analisar os fenômenos e descrever o funcionamento da sociedade.
• Bourdieu reafirma a importância da sociologia e esta deveria ser elevada a um alto grau de
cientificidade e de objetividade.
• Para Bourdieu (2001), a escola, sendo conservadora, manterá a dominação dos dominantes e
será como um instrumento que reforça as desigualdades e, além disso, reproduz os aspectos
culturais, segundo a origem cultural de cada classe.
• Ação pedagógica, portanto, é uma violência simbólica porque impõe, por um poder arbitrário,
um determinado arbitrário cultural. Dito de modo simplificado, esse arbitrário cultural nada
mais é do que a concepção cultural dos grupos dominantes, que é imposta a toda a sociedade
através do sistema de ensino.
• O poder simbólico surge como todo o poder que consegue impor significações, e impô-Ias
como legítimas.
• O sociólogo Bauman (2005) retrata que a modernidade líquida é leve, fluida e dinâmica, a
qual está em oposição ao que a modernidade sólida suplantou.
IDADE
ATIV
AUTO
a) ( ) A pré-modernidade.
b) ( ) A pós-modernidade.
c) ( ) O positivismo.
d) ( ) A modernidade.
4 Escreva algumas ideias de Bourdieu e Bauman que você considera relevantes para
o campo da Educação.
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62 TÓPICO 3 UNIDADE 1
IAÇÃO
AVAL
SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA E
EDUCAÇÃO
Objetivos de aprendizagem
refletir
sobre a influência das ideias modernas e pós-modernas na
educação;
refletir
sobre as instituições de ensino e a gestão escolar, através
das metáforas;
PLANO DE ESTUDOS
TÓPICO 1
EDUCAÇÃO: MODERNIDADE E
PÓS-MODERNIDADE EM DISCUSSÃO
1 INTRODUÇÃO
Na Unidade 1 você estudou que com a modernidade Deus foi substituído pela ciência.
No sentido de que a ciência torna-se o amparo para o homem entender o funcionamento do
mundo, e mais, até mesmo alterar muitas das estruturas existentes, com a física e a química,
por exemplo.
E assim, de certa forma, o homem moderno busca com a razão seguir os seus próprios
passos. Todavia, na atualidade muito se tem questionado se o que se postulava na modernidade
ainda é plausível de se aceitar. Ou seja, novas ideias estão surgindo, ou já surgiram, e substituem
as postuladas na modernidade.
Neste sentido, na atualidade tem se postulado, por muitos, que estamos vivendo em um
novo período, conhecido como pós-modernidade. É claro que esta posição não é unânime, no
entanto é possível encontrarmos referências da pós-modernidade no campo da Sociologia da
Educação, na educação ou ainda em outras áreas, com maior ou menor intensidade.
2 PÓS-MODERNIDADE
Além disso, estamos vivendo em um período no qual a privacidade das pessoas está
aberta ao público, como, por exemplo, as mídias sociais. Ou ainda, pode-se inclusive, sem
maiores dificuldades, saber muitas coisas da individualidade de uma pessoa: seu histórico
profissional ou pessoal, até mesmo aspectos da sua conduta moral, que estão abertos ao
mundo, que podem estar disponíveis nas mídias sociais.
Em seu livro de 1993, “The Moral Sense”, o sociólogo James Q. Wilson escre-
ve que as qualidades morais, universalmente importantes, derivam de e são
sustentadas por práticas e relacionamentos locais, na maioria em “famílias,
amigos e agrupamentos íntimos”. A despeito do que os cínicos e os pessimis-
tas nos querem fazer acreditar, a situação moral do mundo não está mais ou
menos frágil do que outrora. A diferença entre a segunda metade do século
XX, particularmente as duas últimas décadas, e todos os períodos anteriores
da história é que, atualmente, quando os padrões éticos ou morais são feri-
dos em qualquer lugar, todos ficam sabendo. As comunicações instantâneas
globais abriram as portas para todos nós. Uma janela para o mundo, através
da qual podemos observar tanto as coisas maravilhosas como aquelas que
nos espantam. No decorrer da história, alguns trilham a estrada do elevado
padrão moral e outros desafiaram os padrões morais até os últimos limites.
Perseguições, “limpezas étnicas”, corrupção, escândalos e falcatruas não são
monopólios do século atual (NAISBITT, 1994, p. 169-170).
O mundo pós-moderno, como diz Giddens (2004), não está destinado a ser como Marx
esperava, ou seja, socialista. Ao invés disso, o mundo é dominado pelas novas mídias, que nos
afastam do nosso passado. A sociedade pós-moderna é pluralista e diversificada. Entramos
em contato com muitas ideias e valores tendo pouca relação com a história de onde habitamos
ou até mesmo da nossa própria história. Tudo está num fluxo constante.
Conforme Castro (2007, p. 195), “o pós-modernismo implica uma ruptura com o passado,
imprimindo no espírito humano um estado dominante de ansiedade e confusão”. Ou ainda: as
pessoas são a mistura de diversos estilos, ou cada um tem o seu estilo, cada um tem o seu
gosto. O que interessa é viver o agora e aproveitar tudo o que a vida tem, sem se preocupar
com o futuro.
Para ilustrar as divergências quanto à modernidade e a pós-modernidade, leia parte do
texto do professor José J. Queiroz que fala sobre:
Sobre o pós-moderno pairam mais indagações do que certezas. Quando teve início?
Como se caracteriza? Qual a sua abrangência? Rompe com a Modernidade ou é apenas
um prolongamento dela? Frente a esses quesitos, variam as posições. Há os críticos que
manifestam inteira rejeição ao nome e ao conceito.
Há, entretanto, autores que admitem o pós-moderno como algo que veio para ficar,
embora estejam longe de um consenso sobre as suas características. Lyotard (1993) publica,
em 1979, a obra considerada pioneira, La condition postmoderne, na qual desconstrói os
pilares da ciência moderna e as suas narrativas e indica a ciência pós-moderna como jogo de
linguagem, no qual a instabilidade, o paradoxo e o dissenso prevalecem sobre as certezas.
Mas não há como negar que, nas profundezas da crise, algo novo desponta no
horizonte, uma realidade híbrida, mesclando verdades e ilusões. Vive-se uma atmosfera de
busca, uma fase heurística, que alia ao pessimismo, ao desalento e ao niilismo - sequelas
da profunda decepção pelas promessas frustradas da Modernidade - um vislumbre de
esperança.
Caro(a) acadêmico(a), com a leitura do texto de Queiroz você observou que não há
consenso sobre o tema em discussão, entre os diversos pensadores, sobre se estamos na
modernidade ou pós-modernidade, ou se é que atingimos a modernidade ou é este um período
de transição.
70 TÓPICO 1 UNIDADE 2
b) Hedonismo: o que tem se postulado é que o prazer se faz presente na vida das pessoas
e este tem que se fazer presente a qualquer preço, não importando, muitas vezes, as
consequências.
c) Permissivismo: de um modo geral, tem se aceitado que tudo é permitido, desde que você
se sinta bem.
d) Relativismo: neste cenário tem predominado a subjetividade, a qual dita as regras, ou seja,
nada é totalmente bom ou mau. Neste sentido, as verdades são oscilantes.
Não cabe, neste artigo, interrogar sobre o significado de outros termos derivados
do pós-moderno: pós-modernização, pós-modernidade e pós-modernismo. O que, de todo
modo, não seria tarefa das mais simples. Basta lembrar que nada há de homogêneo, nem há
um consenso sequer sobre a que se referem os conceitos de modernização, modernidade e
modernismo. Quanto mais sobre os que a eles se propõem 'pós'! Pode-se adiantar, todavia,
que tais termos traduzem a difícil e ingrata luta que o discurso pós-moderno trava com a
questão tipicamente moderna da periodização histórica.
Em seu desencanto sobre o que, a seu ver, constituiu o mundo moderno, o discurso
pós-moderno põe-se arauto da indeterminação total, do caráter fragmentário, desintegrado,
heterogêneo, descontínuo e plural do mundo físico e social, de nossa impossibilidade - até
porque tudo o que existe agora são "cacos de pequenas razões particulares" (Veiga-Neto,
1995, p. 13) - de experienciar este mundo como uma totalidade ordenada e coerente e,
portanto, de teorizar sobre ele. Nada mais há a ser objetivamente conhecido neste mundo
relativo e fugaz, avesso a qualquer 'grand récit' (Lyotard) ou interpretação totalizante. O
outro lado desta moeda é a negação do agir e da praxis do sujeito humano e sua redução
a uma subjetividade diluída, atomizada em redes flexíveis de jogos de linguagem. Enfim, o
que se propõe é a fala e o olhar do desejo e da sensibilidade em contraposição às ilusões
da racionalidade e da objetividade.
Além da professora Marcondes, que acima fez as suas considerações sobre o pós-
moderno, o professor Gatti (2005), em seu artigo “Pesquisa, educação e pós-modernidade:
confrontos e dilemas”, apresenta alguns pontos característicos da pós-modernidade que
foram sintetizados por Azevedo (1993). Veja a seguir:
Conforme Goldman (2001, p. 58), [...] “os tempos estão mudando. Em qualquer caso,
eu sou um defensor da tradição. Permaneço firme contra os hostes pós-modernismo e do
social-construtivismo, que tentam apagar qualquer vestígio de verdade e objetividade”.
UNI
Enfim, caro(a) acadêmico(a), como você viu, não há consenso
quanto às discussões em torno da pós-modernidade. Por isso, a
título de sugestão, para que você aprofunde os seus conhecimentos
nesta temática, busque investigar o que se tem discutido sobre
este tema na sua área específica e, posteriormente, formar sua
“opinião” sobre o assunto em tela.
Caro(a) acadêmico(a), leia a seguir uma parte do Resumo da Aula Inaugural no Programa
de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PPG-
Educação/PUC-Rio), em março de 2005, do professor Alfredo Veiga-Neto, intitulada: Educação
e pós-modernidade: impasses e perspectivas.
LEITURA COMPLEMENTAR
Alfredo Veiga-Neto
1. As dificuldades semânticas
a) educação: conjunto de práticas sociais cujo objetivo principal é trazida dos recém-chegados,
crianças, estrangeiros, estranhos etc.— para uma determinada cultura que “já estava aí”;
OBS: o texto foi tirado do artigo “Educação e Pós-Modernidade: Impasses e Perspectivas”,
Alfredo Veiga-Neto, ou seja, são ideias do autor, foi ele que escreveu desta forma.
talvez tudo o que possamos dizer com algum grau de segurança é o que o
pós-moderno não é. Certamente, não é um termo que designa uma teoria
sistemática ou uma filosofia compreensiva. Nem se refere a um sistema de
ideias ou conceitos no sentido convencional; nem é uma palavra que denota um
movimento social, ou cultural, unificado. Tudo o que podemos dizer é que ele
é complexo e multiforme, que resiste a uma explanação redutiva e simplista.
Além dessas duas alternativas, resta uma terceira, mais conservadora e, no meu
entender, bastante problemática: insistir que o mundo contemporâneo só difere do mundo de
ontem em termos quantitativos, isso é, não reconhecer que saímos da Modernidade. Nesse
caso, alguém poderia argumentar que a rigor e para usar a conhecida expressão de Latour
(1994) - afinal, “jamais fomos modernos”. Mas a questão não é bem essa. A questão é que
pensamos, durante um longo tempo, que éramos modernos e bastava pensar isso para
que nos sentíssemos como modernos... Pensamos que as metanarrativas iluministas eram
“verdades verdadeiramente verdadeiras”, pairando imutáveis acima de nós - porque estariam
enganchadas no céu, ou porque repousariam sobre rocha firme. Hoje, é preciso uma boa dose
de fé epistemológica para continuar acreditando nisso. Nesse caso, cada um coloque as fichas
onde quiser ou puder colocá-las...
Se mais acima me referi à crise da Modernidade como uma “assim chamada crise” é
UNIDADE 2 TÓPICO 1 75
Nas palavras de Hardt & Negri (2003, p. 93), “a própria modernidade é definida por crise”.
De um lado, e como muitos autores já demonstraram, a Modernidade já nasceu marcada por
uma vontade de ordem, segundo a qual a ambivalência - isto é, “a possibilidade de conferir a
um objeto ou evento mais de uma categoria” (BAUMAN, 1999, p. 9) - é vista como algo a ser
necessariamente superado.
Junto a tudo isso deve-se acrescentar o conflito que se estabeleceu entre as duas
Modernidades, ou seja, entre a primeira Modernidade, centrada na imanência, e a segunda
Modernidade, centrada na transcendência. A insistência kantiana na transcendência nunca
conseguiu se ajustar bem à imanência que, tendo marcado a ruptura do pensamento moderno
em relação ao pensamento medieval, ainda permanece como fonte da permanente crise da
Modernidade.
Em suma, falar em crise da Modernidade é um truísmo, mas isso não impede que se
reconheça que a Modernidade esteja, em seu esgotamento, nos mostrando, mais do que
nunca e de modo ameaçador e perturbador, sua face de múltiplas crises. Parece que, agora,
o acúmulo de tantas crises acabou por romper o delicado equilíbrio em que sempre esteve o
mundo moderno.
O que me parece mais interessante, aqui, é relacionar tal colapso com a educação,
principalmente a educação escolar, a fim de examinar, por exemplo, que têm diretamente a ver
76 TÓPICO 1 UNIDADE 2
b) teoria: não se trata de reconhecer apenas que estamos vivendo fortes embates entre
diferentes teorias, sejam elas antagônicas ou não; são os próprios conceitos de teoria que
parecem estar em crise. Se entendermos que uma teoria caracteriza-se por “uma ordenação
sistemática, sequencial, lógica e hierarquicamente encadeada de enunciados, princípios,
leis e respectivos processos metodológicos e recursos instrumentais” (VEIGA-NETO, 2006,
s.p.), então boa parte do que está sendo produzido no campo da pesquisa educacional não
parte de teoria nem institui alguma nova teoria. Isso em si não é problemático; não significa,
absolutamente, uma crise da teorização, mas uma crise do paradigma. Para aqueles que,
seguindo estritamente a paradigmatologia kuhniana, veem as ciências duras como exemplos
do que consideram ser a boa ciência, tal crise parece um retrocesso.
Mas nosso entendimento pode ser outro, de modo que mesmo a crise do paradigma
não é, em si, nada a lamentar e, talvez, até mesmo o contrário... Mas, por outro lado, é preciso
reconhecer que tal crise tem significado, em muitos casos, a abertura para um tipo de pesquisa
e atividades acadêmicas que correm o risco de cair no relativismo epistemológico do “tudo
vale” e, em consequência, de cair na falta de rigor, no achismo, na mesmice, no senso comum,
na literatice.
5. Os impasses
c) As culturas: como educar num mundo em que a palavra cultura não pode mais ser escrita nem
no singular nem com inicial maiúscula? Afinal, se já sabemos que há diferenças culturais, mas
não há supremacias culturais, que estamos diante de realidades multiculturais, interculturais,
transculturais etc., como vamos eleger esses ou aqueles conteúdos culturais para esses
ou aqueles grupos? Quem definirá o que é melhor para cada grupo social? E, talvez mais
complicado do que isso: como se organizarão os grupos, ou seja, quais os critérios a seguir
para formar os grupos sociais, de modo a disponibilizar a eles acessos mais justos e bem
distribuídos?
d) Como proceder à desconstrução daquilo que costumo denominar “as sete pragas da
pedagogia moderna” sem cair nem num tudo vale nem num niilismo pedagógico? As
doutrinas subjacentes ao pensamento pedagógico moderno, a saber: o transcendentalismo, o
finalismo, o catastrofismo (com seu correlato denuncismo), o salvacionismo, o prometeísmo,
o prescritivismo (com seus correlatos metodologismo e reducionismo) e o messianismo (com
seu correlato fundamentalismo), estão à espera de uma desconstrução que possa revelar
seu caráter não transcendente, mas construído e, por isso, arbitrário. Na medida em que
tais pragas interferem no entendimento de vários fenômenos educacionais e até mesmo na
consecução de algumas políticas pedagógicas, sua desconstrução poderá ter efeitos práticos
interessantes.
6. As perspectivas
c) qual a disposição de trabalhar num e para um presente melhor, sabendo que é nesse presente
que se estabelecem as condições de possibilidade para esse ou aquele devir.
78 TÓPICO 1 UNIDADE 2
Isso nada tem a ver com a pretensão de modelar o devir, na vã tentativa de transformá-lo
em futuro, isso é, em devir administrado. Não se trata de tentar uma engenharia para modelar
o devir, mas de viver o presente sabendo que é a partir dele que o devir se transformará em
futuro, sempre sabendo que tal transformação só acontecerá em ato. Já discuti, ainda que
sucintamente, a maior parte do que considero serem as perspectivas no entrecruzamento da
educação com a pós-modernidade.
Entre todas, as que me parecem mais importantes são a prática da hipercrítica, com
o correlato afastamento do niilismo, o desconstrucionismo e, talvez acima de tudo, o “estar
preparado”.
Não é raro ouvirmos o argumento de que todas essas discussões têm pouca aplicação
num país como o nosso, pois, ainda lutando contra carências tão gritantes, profundas e
dramáticas, estaríamos ainda distantes dos problemas e impasses que discuti. Atropelados
pelos muitos e enormes desafios que temos pela frente, não são poucos os que preferem
se dedicar a resolvê-los “à moda antiga”, como se já não estivéssemos vivendo num mundo
globalizado, dromológico, presentificado etc. Eis aí um bom exemplo de silogismo erístico:
apesar da verossimilhança das premissas, pelo menos uma delas é falsa; logo, a conclusão
também o é.
De fato, mesmo que ainda estejamos lutando contra carências tão básicas, disso não
se pode concluir que não estejamos também mergulhados nesse estado ou forma de vida que
chamamos de pós-moderna. Num mundo globalizado e apesar da celebração da feijoada - o
“estar preparado” vale para todos, em qualquer lugar.
RESUMO DO TÓPICO 1
• Segundo Habermas (1985), o projeto da Modernidade não está terminado, o que torna
inverídico atribuir o “pós” a uma realidade ainda em construção.
• De acordo com Latour (1994), jamais fomos modernos, e ele rejeita as pretensões pós-
modernas.
• Giddens (1991) não vê nenhuma ruptura ou descontinuidade que justifique um “pós” para
além do moderno.
• Para Moraes, o discurso pós-moderno, bem como as suas teorias, não expressam um corpo
conceitual coerente e unificado.
80 TÓPICO 1 UNIDADE 2
IDADE
ATIV
AUTO
3 Pesquise um texto na sua área que tenha como discussão modernidade ou pós-
modernidade e depois:
b. Escreva se você concorda ou não com as ideias discutidas no texto que você pesquisou.
Justifique com três argumentos.
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TÓPICO 2
EDUCAÇÃO E OS ASPECTOS
ORGANIZACIONAIS
1 INTRODUÇÃO
Assim, nesta unidade você estudará inicialmente uma das formas de se conceber as
organizações. No caso, como máquinas e posteriormente outras formas, tendo como guia as
postuladas por Morgan na obra “Imagens das organizações”. E neste sentido podemos nos
perguntar: Qual a melhor forma de administrar uma instituição de ensino para assegurar os
objetivos educacionais?
As organizações não podem ser observadas sob mais de um único ponto de vista, pois
devido à complexidade de cada qual, cada vez mais demanda um esforço sempre maior para
compreendê-las. Nas organizações existem diversos elementos que a compõem, a exemplo:
máquinas, pessoas, finanças, tecnologia, contabilidade, missão e visão, e ainda as necessidades
do mercado. Frente a este cenário, muitas organizações podem crescer e prosperar e outras,
simplesmente, desaparecer. Já no meio educacional, muitas escolas, no decorrer da história,
e muitas instituições de ensino, fecharam as suas portas. Outras, atualmente, têm dificuldades
para se manter e auto-organizar-se. Outras, ainda, não têm recursos financeiros para manter
o seu funcionamento.
84 TÓPICO 2 UNIDADE 2
Então, cada vez mais é primordial conhecer as organizações, bem como as instituições
de ensino, sejam seus pontos fracos ou fortes, seus limites, sua real capacidade de adaptação e
inovação. Por isso, é necessário usar o maior número de instrumentos para conhecer e planejar
estas organizações, a fim de que as mesmas alcancem o que se propõem e minimizem as
possibilidades de erros na tomada de decisão ou planejamento. E para isso é salutar que os
mentores ou gerenciadores, diretores das instituições de ensino, tenham conhecimento prévio,
ou sejam assessorados por pessoas de outras áreas do conhecimento para que possam atingir
com excelência os seus propósitos.
Neste sentido, Morgan (1996) postula que é necessário ler as organizações das mais
variadas formas e, para isso, na sua obra “Imagens da Organização”, apresenta metáforas
para as organizações, as quais são:
IMPO
RTAN
TE!
“Administradores eficazes e profissionais de todos os tipos e
estágios, não importa sejam executivos, administradores públicos,
consultores organizacionais, políticos ou sindicalistas, precisam
desenvolver suas habilidades na arte de “ler” as situações que estão
tentando organizar ou administrar” (MORGAN, p. 1999, p.15).
UNIDADE 2 TÓPICO 2 85
A divisão do trabalho postulada por Adam Smith, no seu livro “A Riqueza das Nações”
(1776), evidenciou-se no desenrolar da Revolução Industrial. Tornou-se crescentemente
especializada, à medida que os fabricantes buscavam aumentar a eficiência, reduzindo a
liberdade de ação dos trabalhadores em favor do controle exercido por suas máquinas e
supervisores.
- padronização de regulamentos;
- especialização de tarefas;
Com o passar do tempo, aprendemos a usar a máquina como uma metáfora para nós
mesmos e a nossa sociedade, adaptando o nosso mundo em concordância com princípios
mecânicos. Em nenhum lugar isso é mais evidente do que na organização moderna. Pode-se
perceber isso na vida organizacional moderna, a qual é constantemente rotinizada com a precisão
exigida de um relógio. Espera-se das pessoas que cheguem ao trabalho em determinada hora,
façam um conjunto predeterminado de atividades, descansem em horas marcadas e, então,
retomem as suas atividades até que o trabalho termine. Em muitas organizações, um turno
de trabalho substitui outro de maneira metódica, de tal forma que o trabalho possa continuar
continuadamente 24 horas por dia, todos os dias do ano. Desse modo, o trabalho se torna,
frequentemente, mecânico e repetitivo.
86 TÓPICO 2 UNIDADE 2
IMPO
RTAN
TE!
Ao agir mecanicamente, o indivíduo enfatiza a rapidez (tempo)
para o controle de tarefas (produção). Sendo assim, o profissional
é uma engrenagem e sua potencialidade corporal, neste momento,
fica engessada e o raciocínio semibloqueado.
A contribuição mais importante a essa teoria foi do sociólogo alemão Max Weber,
concluindo que as formas burocráticas rotinizam os processos de administração, exatamente
como a máquina rotiniza a produção. Weber definiu, primeiramente, a organização burocrática
como uma forma de organização que enfatiza a precisão, a rapidez, a clareza, a regularidade,
a confiabilidade e a eficiência, atingidas através da criação de uma divisão de tarefas fixas,
supervisão hierárquica, regras detalhadas e regulamentos.
UNIDADE 2 TÓPICO 2 87
UNI
Para Weber, o tipo puro de organização burocrática é o mais
eficiente no sentido técnico e o melhor aparelhado para exercer
dominação sobre os seres humanos. Pode ser aplicado a qualquer
tipo de situação e contexto. O seu traço mais racional é o exercício
do poder com base no saber técnico.
S!
DICA
Caro(a) acadêmico(a), para efeito de ilustração, sugiro que assista ao filme: “Vida de
inseto”. No filme pode-se ver as forças e as fraquezas da metáfora mecanicista.
Sinopse:
No mundo dos insetos, as formigas são manipuladas pelos
gafanhotos, que todos os anos exigem uma quantia de
comida, ameaçando atacar o formigueiro. É quando Flik, um
inseto (formiga) cansado da vida oprimida, sai em busca de
outros insetos dispostos a ajudar o formigueiro a combater
os gafanhotos. Flik é um inseto cheio de ideias que, em nome
dos oprimidos de todo o mundo, precisa contratar guerreiros
para defender sua colônia de um faminto bando de gafanhotos
liderado por Hopper. O inseto Flik recruta uma trupe de
artistas de um circo de pulgas, tomando-os por destemidos
mercenários...
Você já estudou que, mesmo com as forças apontadas por Morgan (1996), há uma
série de limitações. Neste sentido, a metáfora vista como máquina também sofre críticas,
principalmente em virtude de inibir a liberdade e a criatividade.
S!
DICA
Desta forma, como analogia, ao olharmos para o mundo dos negócios, ou até mesmo
nas instituições de ensino, veremos que algumas conseguem adaptar-se com mais facilidade
e flexibilidade às contingências externas ou internas, e outras simplesmente desaparecem por
não conseguir adaptar-se ou encontrar novos meios para sobreviver no seu habitat.
Enfim, as organizações vistas como organismo são uma forma de verificar que certas
organizações devem estar atentas às condições externas, para acompanhar as mudanças e
a fim de inovar-se adequadamente e atender às necessidades externas ou internas.
Caro(a) acadêmico(a), o que foi mencionado tem impactos no mundo dos negócios,
nos dias atuais. Então, leia atentamente o texto a seguir e faça a sua análise no sentido de
confrontar o que foi mencionado anteriormente com o que postula o texto.
AS EMPRESAS VIVEM
Se a sua parece não respirar, revitalize-a: basta que pessoas e grupos descubram
e incorporem conceitos arquetípicos ao seu jeito de ser e à sua atuação e, portanto, ao seu
processo de gestão. Esse é o segredo dos deuses.
Jair Moggi
As empresas são organismos vivos por excelência. Em primeiro lugar, porque, sendo uma
criação do ser humano, o ser vivo que é a obra-prima da natureza, podemos dizer –, tem com
ele uma ligação ontológica, ou seja, a criatura divide aspectos comuns com o criador. [...]
É verdade que os negócios são e devem ser competitivos, mas não é verdade que
precisam ser implacáveis ou canibalísticos, ou que “as pessoas têm de fazer qualquer
coisa para sobreviver”. Algumas metáforas de animais são, sem dúvida, encantadoras. Um
chefe ocasional pode ser um “ursinho de pelúcia” e um negociador combativo é um “tigre” -,
mas a maioria das vezes elas são aviltantes. Empregados, executivos e concorrentes são
descritos como cascavéis, ratos e uma ampla variedade de roedores. As corporações, por
sua vez, são associadas a tanques de peixes, ninhos de cobra e brigas de gato e, às vezes,
as imagens da flora da própria selva são invocadas. Mas, além de implicarem em um uso
errado da biologia e serem injustas com os animais, as metáforas da selva são ruins, em
particular para os negócios, que são (ou deveriam ser) tudo, menos incivilizados, desprovidos
de regras e governados pelo instinto assassino.
A partir dessa concepção, pensou-se na ideia de que é possível planejar tais organizações,
de forma que elas possam aprender a auto-organizar-se, como um cérebro em completo
funcionamento (MORGAN, 1996).
Neste sentido, o cérebro tem mostrado ter capacidade para se auto-organizar de diversas
maneiras e de acordo com as necessidades postas.
Caro(a) acadêmico(a), você tem percebido que com a “globalização” houve sobremaneira
aumento do comércio internacional e, também, pessoas de diversas culturas circulando por
diversos países, seja fazendo negócios, turismo, estudando, ou ainda fazendo um curso em
EAD por uma instituição de outro país. Desta forma, salienta-se que os profissionais de diversas
áreas estão atentos à cultura das empresas de outros países com os quais terão contatos, ou,
até mesmo, à cultura individual de cada membro que compõe a organização.
Por isso é importante perceber como cada indivíduo pensa ou raciocina, de que escola
de pensamento é oriundo, ou ainda, que aspectos culturais são importantes para aquele com
quem se deseja negociar ou entrar em contato.
Neste sentido, uma das formas de se ver as organizações é através da metáfora da
cultura. Em ressalva, destaca-se que a cultura deriva do verbo latino colore, que significa
94 TÓPICO 2 UNIDADE 2
cultivar, ideia de cultivo, do processo de arar a terra. Atualmente, a palavra cultura pode ser
utilizada de forma genérica e com muitos sentidos. Ou seja, cada povo pode ter, em períodos
históricos diferentes, mudado a sua maneira de pensar, ver e agir no mundo. Ou também,
podemos encontrar culturas milenares e, por outro lado, outras que passam rapidamente. Se
assim podemos dizer, em forma de modismo.
Assim, numa instituição de ensino podemos ter pessoas oriundas de diversas culturas.
Entretanto, em momentos de decisão ou de necessidades de mudanças ou, ainda, nas ações
do dia a dia, podem entrar em conflito, em virtude de suas percepções culturais.
Agora, no campo educacional tais reflexões podem ser cada vez mais instigantes,
por observarmos que, além de termos uma instituição de ensino, professores e dirigentes de
diferentes culturas, ainda, no caso específico da sala de aula, temos um professor oriundo de
uma determinada cultura, que pode ter alunos de diversas culturas, principalmente no Brasil,
onde há uma diversidade cultural.
Nos últimos anos é perceptível, devido a diversos fatores, encontrarmos em sala de aula
alunos de diversas culturas. Inclusive, os aspectos culturais têm suscitado pesquisadores a
refletirem sobre o tema. Um exemplo disso é o interculturalismo (que você estudará no Tópico
1 da Unidade 3).
UNIDADE 2 TÓPICO 2 95
Caro(a) acadêmico(a), você leu sobre quatro metáforas e agora estudará sobre os
aspectos políticos que envolvem as organizações, no nosso caso, as instituições de ensino.
No dia a dia dos professores e dirigentes é frequente falar sobre autoridade, disputa de poder
e relações entre superior-subordinado. No meio organizacional ou instituições de ensino, tais
assuntos, às vezes, não são tão evidenciados ou, outras vezes, são encobertos ou ignorados.
No entanto, podem suscitar conflitos de diversas ordens, como disputa de autoridade, ou o
poder de influenciar.
A política de uma organização é tão mais claramente manifestada nos con-
flitos e jogos de poder que, algumas vezes, ocupam o centro das atenções,
bem como nas incontáveis intrigas interpessoais que promovem desvios do
fluxo da atividade organizacional. [...] A política organizacional nasce quando
as pessoas pensam diferentemente (interesses) e querem agir também dife-
rentemente. Essa diversidade cria uma tensão que precisa ser resolvida por
meios políticos (MORGAN, 1996, p. 152).
3 GESTÃO ESCOLAR
Para concluir este tópico, traremos algumas reflexões sobre as maneiras de gerir
uma instituição de ensino. Você já estudou algumas das metáforas propostas por Morgan e
algumas reflexões para o campo da educação. Pois as instituições de ensino, para atingir os
seus propósitos educacionais, precisam de professores, infraestrutura, proposta pedagógica,
material didático, dentre outros. Neste âmbito, um aspecto que também tem recentemente
ganhado espaço nas escolas brasileiras é o aspecto da gestão escolar.
Um dos fatores que tem contribuído para tais mudanças é em virtude das solicitações
da nova Lei de Diretrizes e Bases, a qual prescreve, principalmente em âmbito público, a
necessidade de que cada instituição de ensino estabeleça o seu Projeto Pedagógico e seu
Regimento Escolar. E que também a gestão das instituições escolares seja democrática e
participativa.
Em face das exigências cada vez maiores no campo educacional, seja por um melhor
desempenho dos alunos ou até mesmo a cobrança da sociedade, é de primordial importância
compreender o funcionamento da estrutura de uma instituição de ensino, bem como as suas
responsabilidades civis, penais ou, até mesmo, as leis que a regem. Além disso, buscar as
melhores formas de gerir todo este aparato que faz parte de uma organização escolar pode
ser determinante para o sucesso da mesma.
[...] a organização escolar continua pouco conhecida [...] grande parte dos
estudos realizados tem se caracterizado pela adoção de uma perspectiva
burocrática da instituição, padecendo de uma visão parcial e acrítica de sua
realidade, o que obstaculiza a compreensão holística da escola, como unidade
dinâmica, e das relações sociais que ela encerra.
pode ser um propagador de ideias que tornem possível a transformação do ambiente escolar
num local democrático, participativo e que possibilite que novas concepções a respeito da
educação se tornem realidade.
Caro(a) acadêmico(a), para que este processo se efetive é necessário que existam
líderes capazes para orientar e conduzir. Entretanto, se observarmos a formação de educadores
UNIDADE 2 TÓPICO 2 99
e até mesmo em curso de licenciaturas, são raros os casos em que há preocupação com
conteúdos desta natureza, ou até mesmo para formação de gestores educacionais, exceto em
caso específico de cursos de pós-graduação.
UNI
Leia com atenção a entrevista a seguir, com a educadora Heloísa
Lück.
LEITURA COMPLEMENTAR 1
Para a educadora paranaense, somente uma escola bem dirigida obtém bons
resultados.
Na comunidade escolar é recomendável que essa liderança seja exercida pelo diretor.
Mas a educadora paranaense Heloísa Lück, diretora educacional do Centro de Desenvolvimento
Humano Aplicado (Cedhap), em Curitiba, e consultora do Conselho Nacional de Secretários de
Educação (Consed), vai além. Ela defende o estímulo à gestão compartilhada em diferentes
âmbitos da organização escolar. Onde isso ocorre, diz ela, nasce um ambiente favorável ao
trabalho educacional, que valoriza os diferentes talentos e faz com que todos compreendam
seu papel na organização e assumam novas responsabilidades.
100 TÓPICO 2 UNIDADE 2
Quando conceito de liderança, antes restrito ao âmbito empresarial, migrou para a Educação?
Heloísa Lück - Há algumas décadas, o ensino público era destinado a poucos e orientado
por um sistema administrativo centralizador. Nesse modelo, a qualidade era garantida com
mecanismos de controle e cobrança. A sociedade mudou e passou a exigir a Educação
para todos. Com isso, o ser humano se tornou o elemento-chave no desenvolvimento das
organizações educacionais, tanto como alvo do trabalho educativo como na condução de
processos eficientes e bem-sucedidos.
É nesse contexto que surgiu a necessidade de haver uma ou mais pessoas para dirigir as
ações que encaminham a escola para a direção desejada.
Como diferenciar uma escola que conta com essas pessoas de outra que não tem?
Heloísa - É fácil perceber isso. Onde não existe liderança, o ritmo de trabalho é frouxo e não
há a mobilização para alcançar objetivos de aprendizagem e sociais satisfatórios. As decisões
são orientadas, basicamente, pelo corporativismo e por interesses pessoais. Geralmente, são
instituições cujos estudantes apresentam baixo desempenho. Além dessas características,
há outras menos visíveis, mas que têm grande impacto. Uma estrutura de gestão debilitada
contribui para a formação de pessoas indiferentes em relação à sociedade. É alarmante
observar como os apelos destrutivos estão cada vez mais fortes, com os jovens se envolvendo
em arruaças e gangues e usando drogas. Isso se dá pela absoluta falta de modelos. A escola
deveria oferecê-los, pois é a primeira organização formal, depois da família, que as crianças
conhecem. Sem a canalização de esforços para que a aprendizagem ocorra e haja melhoria
e desenvolvimento contínuos, o ambiente escolar se torna deseducativo.
Que questões do cotidiano costumam assustar o gestor que é líder de sua comunidade?
Heloísa - Os dirigentes que desenvolveram as competências de liderança nunca se deixam
paralisar diante dos desafios. Os que não as têm, contudo, se sentem imobilizados diante
de pessoas que resistem às mudanças, sobretudo aquelas que manifestam de forma mais
veemente seu incômodo com situações que causam desconforto. Em vez de colocar energia
em atividades burocráticas e administrativas, fazendo fracassar os propósitos de criação de
uma comunidade de aprendizagem, cabe aos gestores e a todos os educadores, na verdade
- promover o entendimento de que as adversidades são inerentes ao processo educacional.
O enfrentamento delas implica o desenvolvimento da compreensão sobre si mesmo, sobre os
outros e sobre o modo como o desempenho individual e coletivo afeta as ações da organização.
Neste tópico estudamos sobre as metáforas e gestão escolar. Neste sentido, é pertinente
pensar sobre as diversas maneiras de lermos e interpretarmos, principalmente, sobre o papel
das instituições de ensino, a fim de que, buscando as melhores práticas da gestão escolar,
estudemos as ideias e os melhores propósitos educativos, para que estas práticas possam
efetivar-se.
S!
DICA
LEITURA COMPLEMENTAR 2
A gestão escolar constitui uma das áreas de atuação profissional na educação destinada
a realizar o planejamento, a organização, a liderança, a orientação, a mediação, a coordenação,
o monitoramento e a avaliação dos processos necessários à efetividade das ações educacionais
orientadas para a promoção da aprendizagem e formação dos alunos.
A gestão escolar, como área de atuação, constitui-se, pois, em um meio para a realização
das finalidades, princípios, diretrizes e objetivos educacionais orientadores da promoção
de ações educacionais com qualidade social, isto é, atendendo bem a toda a população,
respeitando e considerando as diferenças de todos os seus alunos, promovendo o acesso e
a construção do conhecimento a partir de práticas educacionais participativas, que fornecem
condições para que o educando possa enfrentar criticamente os desafios de se tornar um
cidadão atuante e transformador da realidade sociocultural e econômica vigente, e de dar
continuidade permanente aos seus estudos.
Gestão escolar é o ato de gerir a dinâmica cultural da escola, afinado com as diretrizes
e políticas educacionais públicas para a implementação de seu projeto político-pedagógico
e compromissado com os princípios da democracia e com os métodos que organizem e
criem condições para um ambiente educacional autônomo (soluções próprias, no âmbito
de suas competências), de participação e compartilhamento (tomada de decisões conjunta
e efetivação de resultados) e autocontrole (acompanhamento e avaliação com retorno de
informações).
A gestão escolar constitui uma dimensão importantíssima da educação, uma vez que,
por meio dela, se observa a escola e os problemas educacionais globalmente e se busca, pela
visão estratégica e as ações interligadas, abranger, tal como uma rede, os problemas que, de
fato, funcionam e se mantêm em rede.
Não se pode esperar mais que os dirigentes enfrentem suas responsabilidades baseados
em “ensaio e erro” sobre como planejar e promover a implementação do projeto político-
pedagógico da escola, monitorar processos e avaliar resultados, desenvolver trabalho em
equipe, promover a integração escola-comunidade, criar novas alternativas de gestão, realizar
negociações, mobilizar e manter mobilizados atores na realização das ações educacionais,
manter um processo de comunicação e diálogo aberto, planejar e coordenar reuniões eficazes,
UNIDADE 2 TÓPICO 2 105
FONTE: LÜCK, Heloísa. Dimensões de gestão escolar e suas competências. Curitiba: Editora
Positivo, 2009, p. 23 a 25.
106 TÓPICO 2 UNIDADE 2
RESUMO DO TÓPICO 2
• Para Morgan (1996), é necessário desenvolver habilidades na arte de ler as situações que
se está tentando organizar e administrar.
• A metáfora vista como organismo teve como inspiração a biologia, principalmente em virtude
da teoria da evolução de Darwin, da qual é possível se abstrair algumas analogias.
• Morgan menciona que até mesmo nas organizações racionais e democráticas pode haver
resultados dos modelos de dominação.
IDADE
ATIV
AUTO
I- Orgânica.
II- Mecanicista.
III- Cérebro.
a) ( ) I – I – I – III – II – II.
b) ( ) I – II – I – III – II – I.
c) ( ) II – I – I – III – III – II.
d) ( ) I – I – I – II – III –II.
( ) Do organismo.
( ) Da cultura.
( ) Da máquina.
( ) Do cérebro.
3 A Pizza Hut, uma das maiores cadeias americanas de fast-food, alterou seu cardápio
padrão internacional para incorporar na Bahia e em Pernambuco a “pizza baiana”, com
temperos picantes que a aproximam da apimentada culinária regional. Já a Kibon produz,
exclusivamente na região, sorvetes fabricados com frutas típicas, como: cajá, mangaba,
graviola e acerola. Tais sorvetes são os mais vendidos pela empresa no Nordeste.
FONTE: Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rae/v41n4/v41n4a08.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2012.
a) ( ) Cérebro.
b) ( ) Cultura.
c) ( ) Máquina.
d) ( ) Organismo.
4 Observe uma instituição de ensino, depois escreva aspectos que estão em consonância
com cada uma das metáforas a seguir:
a) Mecanicista:
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
b) Organismo:
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
c) Cultura:
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
UNIDADE 2 TÓPICO 2 109
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
d) Cérebro:
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
e) Política:
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
f) Dominação:
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
6 Na sua opinião, dado o cenário em que vivemos, qual deve ser o perfil ideal do professor
e de um gestor de instituição de ensino?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
110 TÓPICO 2 UNIDADE 2
UNIDADE 2
TÓPICO 3
APRENDER A APRENDER:
A QUINTA DISCIPLINA
1 INTRODUÇÃO
UNI
Caro(a) acadêmico(a), lembre-se: É fácil listar inúmeras práticas
que os gerentes insistem em levar adiante, mesmo que tenham
de admitir que não têm validade pragmática alguma. (Graham
Cleverley, em “Managers and Magic”).
2 A QUINTA DISCIPLINA
isso, frequentemente deixamos de ver as consequências dos nossos atos e perdemos também
o sentido de conexão com o todo maior.
1. Domínio pessoal.
2. Modelos mentais.
4. Aprendizado em grupo.
Contudo, vale salientar que, mesmo que estas disciplinas estão desenvolvidas em
separado, é crucial que cada uma delas faça parte do todo.
Aprender mais rápido é muito importante, tanto é verdade que as empresas do futuro
serão aquelas que descobrirão a capacidade de aprender das pessoas. O ser humano gosta de
aprender e todos nós já fizemos parte de um grupo de pessoas, de uma “grande equipe” que,
na busca de um objetivo comum, conseguiu produzir bons resultados. A isso se dá o nome de
organização em aprendizagem, isto é, a equipe aprendeu a produzir bons resultados, e para
isso precisamos superar as barreiras que bloqueiam nossa capacidade de aprender.
a) Domínio pessoal: através dele aprendemos a concentrar nossas energias, desenvolver nossa
paciência e encarar a realidade objetivamente, levando-nos a viver de acordo com nossas
aspirações. É a base espiritual da organização em aprendizagem. Este domínio implica um
alto grau de proficiência e capacidade de produzir os resultados desejados. Através dessa
disciplina aprendemos a esclarecer e a aprofundar continuamente nosso objetivo pessoal,
a concentrar nossas energias, a desenvolver paciência e, em geral, a abordar a vida como
o artista aborda o trabalho de criação.
Neste sentido, para que se faça presente o domínio pessoal em uma disciplina, dois
passos devem ser seguidos:
b) aprender continuamente a observarmos com mais clareza a realidade do momento da nossa vida.
b) Modelos mentais: são imagens ou ideias que influenciam nosso modo de encarar o mundo
e nossas atividades. Por exemplo, o que pode ou não ser feito na área administrativa, onde
muitas modificações não sejam postas em prática por serem conflitantes. Em termos gerais,
os modelos mentais são ideias que estão profundamente enraizadas, que influenciam a
forma de cada pessoa encarar o mundo e as suas atitudes. Inclusive, vale destacar que, às
vezes, não temos consciência de quais são os modelos mentais ou influências destes sobre
nosso comportamento.
c) Objetivo comum: é necessário que exista um objetivo concreto e legítimo para as pessoas
darem tudo de si e aprenderem. Para tanto, é preciso desenvolver a capacidade de transmitir
aos outros a imagem do futuro que pretendemos criar e, com isso, os resultados serão
positivos, porque os objetivos não foram impostos. Ele pode ser inspirado por uma ideia,
tornando-se concreto quando esta ideia for aceita por mais de uma pessoa, ganhando assim
força e focalizando suas energias para algo comum a ser atingido.
114 TÓPICO 3 UNIDADE 2
O objetivo comum dentro de uma organização é vital, pois é ele que definirá o sucesso
ou fracasso dentro da organização e que o objetivo comum seja compartilhado por pessoas
que trabalhavam em todos os níveis, sem distinção.
Os objetivos não devem ser necessariamente gerados pelos altos níveis hierárquicos e
repassados a seus inferiores, mas sim, ser feito um trabalho de sincronismo de objetivo geral,
pois, ao contrário, não será comum. Este trabalho é lento, devido à complexidade de objetivos
diversos interagir entre si.
O objetivo comum não deve ser lançado de maneira compacta e desconhecida, pois
gerará assim problemas em sua proliferação, tais como: discordância ideológica, desânimo
e outros. Este objetivo deverá ser algo mais forte, que seja feito através de um pensamento
sistêmico e introduzido como objetivo pessoal de cada um.
Não é fácil expor as rotinas defensivas, temos que reduzi-las enfraquecendo a solução
sintomática, ou seja, diminuindo a ameaça emocional que dá origem à resposta defensiva,
ou reforçar a solução fundamental. As equipes de aprendizagem precisam de “campos de
treinamento”, meios de praticarem em conjunto para poderem desenvolver suas técnicas de
aprendizagem em grupo.
UNIDADE 2 TÓPICO 3 115
e) Pensamento sistêmico: a chuva, por exemplo, provoca uma série de consequências, todas
elas interligadas, de modo que só se entenderá o sistema de chuvas se observarmos o
conjunto, não somente uma das partes. Tem por objetivo tornar mais claro todo o conjunto,
mostra-nos as modificações a serem feitas para melhorá-lo.
Muitas organizações têm perdido seu rumo e seu foco, pois não conseguem fazer com
que as cinco disciplinas sejam multiplicadas entre seus colaboradores. A não aplicabilidade
de uma delas pode levar uma organização ao fracasso. Eis uma das mais desafiantes metas
ao novo administrador: conseguir manter sua equipe rendendo bem, psicologicamente bem,
satisfeita com o que faz através da inserção e multiplicação das cinco disciplinas.
1. Eu sou meu cargo: todos somos treinados para sermos leais ao cargo que ocupamos.
Quando se pergunta a uma pessoa em que ela trabalha, geralmente ela descreve a tarefa
que executa no seu dia a dia, por exemplo, “eu sou um torneiro mecânico”, considerando
apenas sua responsabilidade limitada à área de sua função. Elas não se sentem responsáveis
pelos resultados quando todas as funções atuam em conjunto. Pode-se apenas presumir
que “alguém fez uma bobagem”.
2. O inimigo está lá fora: quando algo não dá certo, o normal é procurarmos alguém para
culparmos. Em algumas empresas isso é lei, sempre haverá um agente externo para
culpar. Na área de marketing é a produção. Dizer que o “inimigo está lá fora” é encontrar
um subproduto para “eu sou meu cargo”, que apresenta uma visão muito limitada do mundo
que nos cerca. Esse inimigo pode ser tanto o nosso concorrente, como os sindicatos, as
medidas do governo ou mesmo os clientes que compram produtos de concorrentes.
que surgem como resultado de decisões, mas um novo problema surge porque acaba
acontecendo a perda de contato entre as diversas funções.
Enfim, caro(a) acadêmico(a), pense sobre o que é possível abstrair das ideias até
aqui expostas para o campo educacional e depois continue os seus estudos sobre as leis da
quinta disciplina.
S!
DICA
DICA DE FILME
1. Os problemas de hoje provêm das soluções de ontem: devemos verificar que soluções
foram dadas a outros problemas no passado para sabermos a causa dos problemas de hoje.
O fato é que as pessoas que “resolveram” o problema no passado não são as mesmas que
estão com o novo problema.
118 TÓPICO 3 UNIDADE 2
2. Quanto mais se insiste, mais o sistema resiste: Senge (1990) cita o exemplo da mãe que
luta para que seu filho se dê bem com os colegas na escola e vive interferindo nos problemas
que surgem, sem deixar que o filho aprenda a resolvê-los. É um caso de “feedback de
compensação”, que é uma forma comum de reduzir os efeitos de uma intervenção.
4. A saída mais fácil geralmente nos conduz de volta à porta de entrada: costuma-se
aplicar soluções conhecidas para solução de problemas, e isso é um sinal de que se está
usando pensamento não sistêmico. Isso acontece quando se procura uma chave perdida
em determinado local, somente porque ali está mais claro.
5. A cura pode ser pior que a doença: uma solução fácil e ineficaz pode criar dependência.
É um típico caso de transferência de responsabilidade, onde os resultados não são os
melhores. Quando, por exemplo, usamos uma calculadora para realizarmos uma operação de
soma aritmética de dois algarismos, estamos iniciando uma transferência de responsabilidade
para a calculadora.
6. Mais rápido significa mais devagar: de nada adianta acelerar o ritmo do crescimento se
o ritmo não suportar o crescimento. Devemos, portanto, tentar descobrir qual é o ritmo de
crescimento ideal.
9. Dividir um elefante ao meio não produz dois elefantes pequenos: para se entender os
mais complicados problemas de uma empresa, é preciso ver por inteiro o sistema que gera
o problema. Para isso, é necessário que as pessoas percebam como as diretrizes de seus
departamentos interagem com as dos outros setores da empresa.
A realidade é feita de círculos, mas nós só vemos linhas retas, e é aí que começam
nossas limitações ao pensamento sistêmico. Para vermos as inter-relações de um sistema,
precisamos de uma linguagem feita de círculos.
A intenção de encher o copo de água cria um sistema que faz a água fluir para o copo
quando o nível está baixo e interrompe o fluxo quando o copo está cheio. O processo de feedback
faz com que se regule a posição do registro que ajusta o fluxo e altera o nível da água.
O feedback pode ser entendido de duas formas: é positivo quando se refere a elogios
e negativo quando se refere às más notícias. Acontece um feedback de reforço se um produto
é bom, aumentam as vendas, mais clientes satisfeitos e mais propaganda boca a boca. Se
o produto não é de boa qualidade, as vendas resultam em menos clientes satisfeitos, menos
propaganda e menos propaganda boca a boca.
● Solução sintomática: normalmente vem pronta, basta que se aplique. Ela mostra resultados
rapidamente e transfere a responsabilidade para outras pessoas ou para mais tarde. É um
tipo de solução que, como sugere o nome, age somente sobre os sintomas do problema.
Sabe-se que agindo somente sobre os sintomas não se cura a origem do problema. Um
exemplo claro de solução sintomática é a contratação de determinados consultores, que
apenas aplicam regras prontas. Eles só resolvem problemas sintomáticos. Quando eles vão
embora, o problema reaparece ou persiste.
● Solução fundamental: é aquela que busca sanar as dificuldades na origem do problema. Ela
é mais demorada, precisa de mais conhecimento e tempo para aplicá-la, porém, normalmente,
faz com que o mesmo problema não ocorra novamente.
Não resta a menor dúvida de que o paradigma mecanicista trouxe avanços científicos
e tecnológicos, jamais vistos na história das civilizações. Surgiu num momento em que era
necessário romper com dogmatismos e democratizar o conhecimento. Contudo, de alguma
forma, a ciência e o racionalismo quase se transformaram numa religião e, como todo
radicalismo é doente, o paradigma mecanicista trouxe também algumas consequências
drásticas para a humanidade.
A educação, hoje, acontece de forma muito mais interessante fora da escola, através
dos meios de comunicação e das necessidades reais da vida, do que dentro da escola, a qual
continua a reproduzir modelos antiquados que se propõem a instruir e adestrar. Enquanto se
cumpre tarefas mecanicamente e seguem-se regras sem questionar, atrofia-se a capacidade
de pensar, refletir, comparar, sintetizar e emitir opiniões. Precisamos descortinar o potencial
humano, a tecnologia nos permite alçar voos inimagináveis, mas é preciso colocá-la a serviço
do ser humano, com o objetivo de tornar sua existência plena de prazer e satisfação. A
questão é que nem mesmo o aspecto instrucional se está conseguindo atingir.
Caro(a) acadêmico(a), a escola foi vista por muito tempo conforme os moldes
mecanicistas, e com diversas consequências para a sociedade. Senge (2005) também faz as
suas reflexões em torno do tema, como tão bem foi apontado por Olbrzymek (2001).
Senge (2005) analisa que a escola está ancorada, conforme o sistema da Revolução
Industrial, com o propósito de amortecer ou impedir a consciência crítica dos atores do
processo educativo. Por isso, sugere que uma das alternativas é uma revolução no âmbito
sistêmico, no qual as escolas deveriam organizar-se em torno do conceito de sistema vivo e
não conforme os moldes mecanicistas. Entretanto, para tanto seria necessário, principalmente,
que a aprendizagem fosse centrada no aluno, não no professor; o respeito aos diversos estilos
de aprender e o envolvimento de todos os implicados no processo educativo.
A ideia de que a escola possa aprender tornou-se cada vez mais proeminente
nos últimos anos. Está ficando claro que as escolas podem ser recriadas,
vitalizadas e renovadas de forma sustentável, não por decreto ou ordem nem
por fiscalização, mas pela adoção de uma orientação aprendente. Isso signi-
fica envolver todos do sistema em expressar suas aspirações, construir sua
consciência e desenvolver suas capacidades juntos.
LEITURA COMPLEMENTAR
PETER SENGE E A GESTÃO DEMOCRÁTICA DA ESCOLA
Peter Senge e seu ideário oriundo de um estreito vínculo com uma concepção sistêmica
e não reducionista da realidade, assentada no complexo, causou grande impacto na esfera
empresarial, desde o início dos anos noventa do século passado. No que se refere à educação
em específico, as ideias de Senge foram aplicadas em vários casos relatados pela bibliografia
estudada. A interface entre escola e comunidade e sua maximização ficou evidenciada. Embora
não mostre uma diferenciação explícita entre administração e gestão educacional, devido, quiçá,
à sua formação na esfera empresarial, Senge mostra um apreço explícito pela participação
comunitária no processo decisório da escola ou dos sistemas escolares.
Tal pensamento é visto por Senge como aplicável a todos os tipos de organizações,
inclusive a escola.
Isso aponta para uma tentativa de ruptura com uma concepção fragmentadora do
conhecimento. Nos casos analisados por Senge nos EUA, a interface com o comunitário fez-se
presente na medida em que o mesmo apregoa que a escola é um sistema “aberto” dentro de
uma perspectiva orgânica, assentado fundamentalmente nas pesquisas de Maturana e Varela.
Nos casos com fulcro em precedente, a saber, em que houve uma melhora nos
resultados da escola, mediante a relação entre a mesma e a comunidade, pode-se aventar certa
congruência com a praxiologia freireana, embora Senge e Freire partam de lógicas distintas
(sistêmica em Senge, dialética em Freire).
UNIDADE 2 TÓPICO 3 125
Senge, no seu livro que aborda a especificidade da gestão escolar, historiciza e faz
análises sobre as ideias que deram substrato para que a escola se consolidasse tal como a
conhecemos no presente momento.
Segundo Senge (2005), deve-se ir além dos padrões, muitas vezes, subjacentes. Isso
implica, evidentemente, na capacidade do gestor escolar ver a escola como um sistema aberto
e orgânico, em constante troca com o meio externo. O veio democrático vem de tal prática, na
medida em que há uma inter-relação entre pais, alunos, professores, corpo gestor e comunidade,
partindo-se da premissa de que todos são interdependentes sob a ótica do sistêmico. Numa
contemporaneidade altamente complexa, volúvel e dinâmica, tal medida é imperiosa.
RESUMO DO TÓPICO 3
• Mais do que criarmos pessoas agindo como máquinas, devemos desenvolver nas pessoas
a capacidade de aprender sempre.
• São cinco disciplinas que vêm convergindo para facilitar a inovação nas organizações em
aprendizagem.
• A verdadeira aprendizagem está relacionada com o significado de ser humano. Por seu
intermédio, o homem se cria, torna-se capaz de fazer o que jamais conseguiu, adquirindo
uma nova visão do mundo e da sua relação com ele.
• As escolas podem ser recriadas, vitalizadas e renovadas de forma sustentável, não por
decreto ou ordem nem por fiscalização, mas pela adoção de uma orientação aprendente.
128 TÓPICO 3 UNIDADE 2
IDADE
ATIV
AUTO
IAÇÃO
AVAL
SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO:
TEMAS E TENDÊNCIAS
Objetivos de aprendizagem
PLANO DE ESTUDOS
TÓPICO 1
CULTURA E EDUCAÇÃO
EM DISCUSSÃO
1 INTRODUÇÃO
Além do termo cultura, outros termos ligados ao mesmo estão presentes no nosso dia a
dia, como: multiculturalismo, relativismo cultural, subcultura, diversidade cultural, cibercultura,
transculturalismo, interculturalismo. É claro que sobre estes termos não há unanimidade nos
seus conceitos. Entretanto, os mesmos podem aparecer em diversas áreas de estudo, com
maior ou menor intensidade. Como, por exemplo: a educação. Por isso, neste tópico você
estudará sobre os aspectos culturais diversos e as implicações no âmbito educacional.
Caro(a) acadêmico(a), se você perguntar a diversas pessoas o que cada uma entende
por cultura, as respostas serão as mais diversas, refinadas ou não.
Entretanto, para Machado (2002, p. 24), o conceito de cultura pode ser relacionado
aos seguintes pontos:
De acordo com DaMatta (1986), a cultura é um dos aspectos que nos faz humanos,
e ela é uma das mais importantes atividades humanas. Com ela nós criamos comunidades
linguísticas, costumes, valores, moral, nossa adaptação ecológica ao ambiente em que vivemos,
enfim, ganhamos nossa identificação étnica.
Para Giddens (2004), têm ganhado espaço as discussões referentes à consciência das
diferenças culturais. Neste sentido, uma das áreas de estudo que tem se preocupado com tal
temática tem sido a sociologia.
A sociologia permite que olhemos para o mundo social a partir de muitos pon-
tos de vista. Muito frequentemente, se compreendermos corretamente o modo
como os outros vivem, adquirimos igualmente uma melhor compreensão dos
seus problemas. As medidas políticas que não se baseiam numa consciência
informada dos modos de vida das pessoas que afetam têm poucas hipóteses
de sucesso. Deste modo, um assistente social branco, que trabalha numa
comunidade predominantemente negra, não irá ganhar confiança dos seus
membros, a não ser que desenvolva uma sensibilidade face às diferenças de
experiência social, que frequentemente separam os brancos e negros (GID-
DENS, 2004, p. 5).
Entretanto, podemos afirmar que diversas são as áreas que estudam a cultura e sua
influência nos diversos setores da sociedade. Mas, também nas diversas áreas podemos
encontrar várias percepções de cultura. No entanto, vale ressaltar que podemos encontrar
vários tipos de culturas. Citamos a seguir:
- a cultura erudita, que é monopólio da minoria, sendo de grande valia para a sociedade;
- a cultura vulgar, que é de domínio das massas, diferente apenas pelas culturas regionais,
onde encontramos a música popular e o futebol;
- a cultura elitista, que nos dá os espelhos em que nos mostramos, revelando-nos através da
música, da nossa literatura, nas artes gráficas e plásticas, sempre com a possibilidade de
nos alienarmos (RIBEIRO, 1995).
UNIDADE 3 TÓPICO 1 135
Temos que incentivar a cultura, como nos afirma Petrônio na sua bela frase: “A cultura
é um tesouro e uma habilidade que nunca morre”.
O antropólogo DaMatta (1986) aponta que é comum encontrarmos a cultura em dois
sentidos da palavra. No primeiro, usa-se cultura como sinônimo de sofisticação, de sabedoria, de
educação no sentido restrito do termo. Ou seja, quando falamos que “Maria não tem cultura”
e que “João é culto”, estas afirmações referem-se a um estado educacional das pessoas.
Cultura, neste contexto, está no sentido de volume de leituras, de títulos universitários, e pode
ser confundido com inteligência.
S!
DICA
Sinopse e detalhes
Segundo Brym (2006, p. 85), ¨[...] as pessoas tendem a considerar sua própria cultura
como um dado, pois ela nos parece tão “racional” e natural que raramente pensam sobre ela.
[...]. Ou seja, as ideias, as normas e as técnicas de outras culturas nos parecem estranhas,
irracionais ou até mesmo inferiores”.
Com o relativismo cultural, tem-se que os sistemas culturais são intrinsecamente iguais
em valor, e que os aspectos característicos de cada um têm de ser avaliados e explicados
dentro do contexto do sistema em que aparecem.
FONTE: Adaptado de: <www.notapositiva.com › Trab. Estudantes › Filosofia>. Acesso em: 27 abr. 2012.
Neste sentido, todas as culturas são consideradas de igual valor. Assim, há padrões
ou valores considerados certos em uma determinada sociedade e em outra não, mas isso não
significa que um hábito diferente em outra cultura deva ser repudiado ou inaceitável. Desta
138 TÓPICO 1 UNIDADE 3
forma, pode-se dizer que a posição cultural relativista postula que os indivíduos adquirem os
próprios valores e a sua própria integridade cultural no interior da sua sociedade, mas isso não
significa, necessariamente, que a sua cultura é inferior a outra cultura.
a) Todo e qualquer elemento de uma cultura é relativo aos elementos que compõem aquela
cultura, só tem sentido em função do conjunto; que sua validade depende do contexto
em que está inserido, de sua posição em meio de outros níveis e conteúdos da cultura de
que faz parte.
b) As culturas são relativas: não há cultura, nem elemento dela, que tenha caráter absoluto,
que seja, em si e por si, a perfeição. Será certa e boa para a sociedade que a vivencia e
na medida em que nela se realiza e em que a exprime. Não há, pois, um padrão absoluto
para julgar “a priori” o certo e o errado, o belo e o feio entre as culturas, pois cada vez
uma traz em si mesma seu padrão de medida.
c) As culturas são equivalentes, não se pode fazer uma escala em que cada cultura receba
uma nota, de acordo com critério que defina o que mais é mais ou menos perfeito [...] O
relativismo não é só uma suspensão do juízo, devido a não se encontrar critério decisivo
para classificar as culturas; é mais que isso: afirma positivamente que uma cultura é tão
válida como outra qualquer, por ser uma experiência diversa que o ser social faz de sua
humanidade.
De certa maneira, tem se almejado que as diferenças culturais não devem ser mais
obstáculos para que os povos convivam de forma harmoniosa e consigam respeitar a cultura
alheia nas suas peculiaridades.
IMPO
RTAN
T E!
FORMAS DE MULTICULTURALISMO
Atualmente, em face desta mistura étnica do Brasil, podemos perceber que há vários
brasis. Num mesmo país podemos encontrar povos diferentes, com culturas distintas e
que vivem em regiões diferentes, ou que se misturam, principalmente nas grandes cidades.
Entretanto, nem sempre esta aparente harmonia cultural se faz presente em sala de aula, ou,
às vezes, entre os próprios professores.
Como você observou, caro(a) acadêmico(a), a sociedade brasileira vem sendo formada
por povos de diversas origens. Historicamente, esses povos não necessariamente estiveram
em igualdade, frente às leis, ou eram respeitados.
LEITURA COMPLEMENTAR
EDUCAÇÃO INTERCULTURAL: UMA CONCEITUAÇÃO OPERACIONAL
A interação com uma cultura diferente contribui para que uma pessoa ou um grupo
modifique o seu horizonte de compreensão da realidade, uma vez que lhe possibilita
compreender ou assumir pontos de vista ou lógicas diferentes de interpretação da realidade
ou de relação social.
A educação intercultural se configura como uma pedagogia do encontro até suas últimas
consequências, visando promover uma experiência profunda e complexa, em que o encontro/
confronto de narrações diferentes configura uma ocasião de crescimento para o sujeito, uma
experiência não superficial e incomum de conflito/acolhimento. No processo ambivalente da
relação intercultural é totalmente imprevisível seu desdobramento ou resultado final. Trata-se de
verificar se ocorre, ou não, a "transitividade cognitiva", ou seja, a interação cultural que produz
efeitos na própria matriz cognitiva do sujeito; o que constitui uma particular oportunidade de
crescimento da cultura pessoal de cada um, assim como de mudança das relações sociais,
na perspectiva de mudar tudo aquilo que impede a construção de uma sociedade mais livre,
mais justa e mais solidária.
Ainda conforme Antonio Nanni (1998), a realização destes objetivos exige ao menos
três mudanças no sistema escolar:
RESUMO DO TÓPICO 1
• A cultura não é um código que se escolhe, simplesmente. É algo que está dentro e fora de
cada um de nós.
• A diferença entre a cultura entendida pelo senso comum, como um acúmulo de conhecimentos,
e a cultura do ponto de vista científico, considerada como tudo o que foi idealizado e construído
pelo homem no decorrer de sua vida.
IDADE
ATIV
AUTO
AFIRMAÇÃO I - Quanto às culturas, pode-se dizer que: não há cultura, nem elemento
dela, que tenha caráter absoluto, que seja, em si e por si, a perfeição. Será certa e boa
para a sociedade que a vivencia e na medida em que nela se realiza e em que a exprime.
Não há, pois, um padrão absoluto para julgar “a priori” o certo e o errado, o belo e o feio
entre as culturas, pois cada vez uma traz em si mesma seu padrão de medida.
AFIRMAÇÃO II - As culturas são equivalentes, não se pode fazer uma escala em que
cada cultura receba uma nota, de acordo com critério que defina o que mais é mais
ou menos perfeito [...] não é só uma suspensão do juízo, devido a não se encontrar um
critério decisivo para classificar as culturas; é mais que isso: afirma positivamente que
uma cultura é tão válida como outra qualquer, por ser uma experiência diversa que o
ser social faz de sua humanidade.
c) as culturas são equivalentes, não se pode fazer uma escala em que cada cultura receba
uma nota, de acordo com critério que defina o que mais é mais ou menos perfeito.
a) ( ) A nossa cultura é superior aos demais povos e, por isso, deve ser seguida.
b) ( ) A nossa cultura respeita as diferenças dos diversos povos.
c) ( ) A nossa cultura tem o mesmo valor que a sua, por isso respeitamos.
d) ( ) As culturas são equivalentes entre si.
4 O Brasil, por apresentar uma grande dimensão territorial, configura uma vasta
diversidade cultural no seu povo. Os colonizadores europeus, a população indígena
e os escravos africanos foram os primeiros responsáveis pela disseminação cultural
no Brasil. Em seguida, os imigrantes italianos, japoneses, alemães, árabes, entre
outros, contribuíram para a diversidade cultural do Brasil. Aspectos como a culinária,
danças, religião, são elementos que integram a cultura de um povo.
150 TÓPICO 1 UNIDADE 3
A partir do breve texto e das figuras que representam parte da cultura brasileira, assinale
a alternativa CORRETA:
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Frente ao breve cenário, Drucker (2002) afirma que a sociedade, em poucas décadas,
tem se organizado e mudado a sua visão de mundo, valores básicos fundamentais, a estrutura
social e política, as artes, dentre outras áreas. E além destas transformações ou inovações,
ainda é relevante mencionar as mudanças ou novas perspectivas que ocorrem no seio da
própria sociedade.
Como, por exemplo: as pessoas estão esquecendo ou dando pouca importância para
valores tidos como essenciais, como:
Por isso, este tópico tem como propósito possibilitar a reflexão sobre diversos temas
que fazem parte do nosso dia a dia e os impactos que possuem sobre a educação. Todavia, é
salutar mencionar que as discussões postas são de caráter preliminar e que incentivam o(a)
acadêmico(a) a aprofundar as suas reflexões, inclusive de outros vieses e autores, a fim de
sofisticar o seu entendimento sobre os assuntos em pauta.
Inclusive, o mercado oferece várias formas para a aquisição de produtos, seja cartão
de crédito, financiamentos a curto, médio e longo prazo, dentre outras maneiras. O mercado
apresenta incessantemente novidades, tanto em produtos como em serviços. Basta você fazer
um exercício mental e verificar se, na última década, quantos produtos novos ou serviços
foram lançados para satisfazer as necessidades humanas ou instigar o ser humano a ter novas
necessidades.
Muitas destas necessidades expostas podem ser encontradas nos shopping centers ou lojas
dos mais diversos setores. Imagine que muitos destes produtos estão na sala de aula e, às vezes,
tiram o foco do aluno frente aos propósitos que se tem com o mesmo em relação ao ensino.
Podemos dizer que, atualmente, vivemos no período onde não mais se diria Penso,
logo existo, mas sim, Consumo, logo existo. Ou seja, vivemos em uma era do consumo.
Everardo Rocha
a brancura terapêutica do sal de frutas seria ela facilmente distinta da brancura higiênica do
talco? O leite em pó do café da manhã não poderia passar pela farinha de trigo do bolo? E o
álcool de uso doméstico ao invés de cachaça de uso festivo? O universo dos medicamentos
seria simplesmente caótico, caso não fosse mortal. Pensando nos misteriosos produtos
gaseificados, quem seria capaz de separar vapores: remédios de garganta, desodorantes,
óleos ou, mais radicalmente, inseticidas e tintas - todos disfarçados pela mágica forma do
aerossol e pelas nuances discretas das fragrâncias.
Frente ao exposto, não podemos negar que o produto em si não tem sentido, mas é
necessário dar a ele sentido e até mesmo criar a ideia de que necessitamos dele. Para isso, áreas
do conhecimento têm buscado incessantemente entender as necessidades da sociedade, ou
até mesmo criar novas necessidades, a fim de incentivar o consumo. E, além disso, o mercado
busca novos consumidores, pessoas que tenham a capacidade financeira de poder comprar.
Assim, diante deste cenário vale a pena refletir, caro(a) acadêmico(a), como o
mercado tem influenciado no cotidiano escolar e inclusive no processo de aprendizagem.
Ou ainda, podemos encontrar uma variedade de inovações e novidades para as crianças
no campo educacional, como: mochilas, livros infantis, jogos, dentre outros, com fim
pedagógico ou não.
UNIDADE 3 TÓPICO 2 155
S!
DICA
Sugestão de filme:
Além disso, muitas das organizações que produzem podem não estar preocupadas
com as consequências maléficas que podem trazer ao meio ambiente, quando fazem usufruto
deste para produzir mercadorias. Por exemplo, se olharmos mais atentamente, poderemos
visualizar vários descasos com a natureza, a exemplo: poluição, desmatamento, uso irracional
dos bens renováveis ou não (SILVA, URBANESKI, 2010).
156 TÓPICO 2 UNIDADE 3
Estas questões têm deixado muitas organizações em alerta quanto às formas de usufruir
dos recursos naturais, face às exigências da sociedade, dos tratados ou da legislação, havendo
a tendência de redirecionar as suas condutas perante as formas de conduzir os negócios.
ambientais. Entretanto, não se conhece qual é essa capacidade, e será muito difícil conhecê-
la com precisão, sendo necessário adotar uma postura proativa. Neste sentido, é preciso
criar condições socioeconômicas, institucionais e culturais que estimulem não apenas um
rápido progresso tecnológico poupador de recursos naturais, como também uma mudança
na direção a padrões de consumo que impliquem o crescimento contínuo e ilimitado do uso
de recursos naturais per capita.
Um dos maiores desafios que o mundo enfrentará no próximo milênio será fazer
com que as forças de mercado protejam e melhorem a qualidade do ambien-
te, com a ajuda de padrões baseados no desempenho e no uso criterioso de
instrumentos econômicos, em um contexto harmonioso de regulamentação. O
novo contexto econômico caracteriza-se por rígida postura dos clientes, voltada
à expectativa de interagir com organizações que sejam éticas, com boa ima-
gem institucional no mercado e que atuem de forma ecologicamente correta.
Portanto, muitas das ações que têm impactos ao meio ambiente, de certa forma, podem
contribuir para aniquilar ou não as aspirações de gerações futuras, no sentido destas não
conseguirem atender às suas necessidades básicas. E neste sentido é salutar que a escola
também se posicione quanto a esta temática e tenha no rol de discussões o desenvolvimento
sustentável.
Nesse contexto, segundo Reigota (1998), a educação ambiental aponta para propostas
pedagógicas centradas na conscientização, mudança de comportamento, desenvolvimento
de competências, capacidade de avaliação e participação dos educandos. Para Pádua e
Tabanez (1998), a educação ambiental propicia o aumento de conhecimentos, mudança de
valores e aperfeiçoamento de habilidades, condições básicas para estimular maior integração
e harmonia dos indivíduos com o meio ambiente.
UNIDADE 3 TÓPICO 2 159
A relação entre meio ambiente e educação para a cidadania assume um papel cada
vez mais desafiador, demandando a emergência de novos saberes para apreender processos
sociais que se complexificam e riscos ambientais que se intensificam.
O desafio é, pois, o de formular uma educação ambiental que seja crítica e inovadora,
em dois níveis: formal e não formal. Assim, a educação ambiental deve ser, acima de tudo, um
ato político voltado para a transformação social. O seu enfoque deve buscar uma perspectiva
holística de ação, que relaciona o homem, a natureza e o universo, tendo em conta que os
recursos naturais se esgotam e que o principal responsável pela sua degradação é o homem.
FONTE: JACOBI, Pedro. Cadernos de Pesquisa, n. 118, p.189-205, março, 2003. Disponível em: <www3.
mg.senac.br/NR/rdonlyres/.../Educador%2Bambiental.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2012.
Entretanto, neste sentido, a educação, ao que tudo indica, terá um papel relevante,
pois de certa forma esta terá que conduzir o ser humano para um novo contexto do mundo do
trabalho, que ainda não sabemos nem ao certo como será. Por isso, você, como acadêmico(a),
pode se perguntar: o que ensinar e como ensinar, no contexto atual?
160 TÓPICO 2 UNIDADE 3
Ainda podemos encontrar na LDB/96, art. 2º, dos Princípios e Fins da Educação
Nacional, o qual menciona que a “Educação é dever da família e do Estado, inspirada nos
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, e tem por finalidade o
pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho” (BRASIL, 2012).
Atividades profissionais deixam de existir e outras aparecem num piscar de olhos. E neste
sentido, a educação para o trabalho é desafiadora, pois deve educar, conforme a legislação,
para o mercado de trabalho, o qual, em termos de futuro, não sabemos ao certo como será, e
o que será exigido do indivíduo.
UNIDADE 3 TÓPICO 2 161
E os que não conseguirem qualificar-se poderão fazer parte de uma grande massa
de desempregados. Portanto, é salutar que os profissionais, inclusive do âmbito educacional,
estejam em formação permanente. Por isso, reflita sobre a figura a seguir e como a educação
pode contribuir para mudar este cenário.
FIGURA 18 – DESEMPREGO
Ainda, de certa forma, tem se postulado que o ser humano almeja uma formação que
possibilite enfrentar com maior tranquilidade e prudência os desafios presentes e futuros,
ainda apresentando soluções criativas e viáveis e trabalhar num contexto de alta tecnologia,
automação industrial e de mudanças constantes.
162 TÓPICO 2 UNIDADE 3
Neste breve cenário apresentado, a educação não está imune. Entretanto, algumas
reflexões podem ser saudáveis no campo da educação, frente ao mercado de trabalho, como:
quais as contribuições da educação para o mercado de trabalho? Deve ser uma preocupação
central ou não?
UNIDADE 3 TÓPICO 2 163
Entretanto, podemos encontrar posições que afirmam que a educação está ligada às
questões do conhecimento.
Então, caro(a) acadêmico(a), reflita sobre isso. E se você quiser aprofundar as suas
reflexões, converse com os colegas sobre: quais deveriam ser as finalidades essenciais da
educação?
Uma das discussões que têm se feito presentes são as formas de pensar, agir e ver
o mundo das gerações atuais, principalmente as recentes, designadas de geração X, Y e Z e
que estão presentes na escola. A interação entre essas gerações pode ser frequente no âmbito
organizacional. Isso tem suscitado diversas discussões e até mudança de postura das empresas,
principalmente com a entrada da geração Y no mercado de trabalho. Na escola, podemos ter
professores da geração X e alunos da geração Y e Z, ou professores da geração X e Y.
166 TÓPICO 2 UNIDADE 3
Quanto aos que fazem parte da Geração X, podemos encontrar que eles nasceram,
aproximadamente, entre 1965 e 1978 (ver texto a seguir). Uma nova geração que está entrando
no mercado de trabalho, a conhecida Geração Y, por sua vez, nasceu entre 1980 e 1999. (Não
há consenso nestas datas).
A Geração Y é uma geração que está envolvida diretamente com a internet e, de certa
forma, é a primeira geração que teve contato com o processo de comunicação em alta velocidade
e online. Ou seja, conviveu com a multiplicidade dos canais de televisão, com a informação
instantânea, com o I-Pod, com computadores e telefones celulares e demais recursos.
Para Oliveira (2009), agora estes jovens estão chegando à vida adulta e ao mercado
de trabalho e começam a interferir de maneira mais direta nos destinos da sociedade e das
organizações.
UNIDADE 3 TÓPICO 2 167
Neste sentido, tanto as escolas como as organizações têm pela frente novos desafios
para entender a forma de pensar e agir, valores desta geração, bem como encontrar formas
de interagir com tal geração e outras que estão por vir.
LEITURA COMPLEMENTAR 1
QUEM É QUEM
A mera proximidade de idade não basta para considerar um grupo parte da mesma
geração. É necessário identificar um conjunto de vivências históricas compartilhadas,
obviamente, de caráter macrossocial, que determina alguns princípios de visão de vida, contexto
e, certamente, valores comuns. Sob essa lógica, podemos afirmar que estamos em um momento
em que quatro gerações trabalham e convivem nas empresas, cobrindo um espectro de mais
de 40 anos, cada uma com aspirações e contratos psicológicos diferentes com o empregador
(veja quadro na página seguinte).
Geração X
Foi a época dos últimos grandes estadistas, como Mikhail Gorbatchov, Ronald Reagan,
Margareth Thatcher... As pessoas X não veem o êxito da mesma forma que seus pais. Ao
contrário, nutrem certo cinismo e desilusão em relação aos valores deles. São mais céticas,
mais difíceis de atingir pelos meios de comunicação e marketing convencionais. É a geração
da MTV, do Nirvana, das Tartarugas Ninjas e da junky food.
Do ponto de vista social, alguns acontecimentos marcaram essa geração, entre eles,
o aparecimento da AIDS, em 1981. Essa doença provocou um posicionamento ideológico de
dimensões muito relevantes, provavelmente nunca associado a uma enfermidade, tendo assim
grande influência na mudança de pautas de comportamento da geração seguinte.
que as origens ideológicas de alguns de seus ícones culturais, como Matrix, venha diretamente
dessa visão apocalíptica e obscura, própria da evolução do movimento punk.
No final dos anos 80, o termo yuppie começou a incorporar conotações negativas, fruto
do esgotamento de um modelo e estilo de vida que propunha certo “vale-tudo” para o êxito
social e econômico.
Os yuppies que levaram ao extremo sua filosofia são os dinkies (double income no kids
yet, ou duas rendas, sem filhos ainda): casais que adiam a criação de uma família para se
dedicar exclusivamente a suas carreiras, porque não se sentem capazes de educar os filhos
ou simplesmente porque não gostam de crianças. Costumam ser profissionais de alto nível e
suas motivações estão relacionadas com a manutenção de seu nível socioeconômico.
Têm sido fortemente criticados pela atitude egoísta e hedonista, em que o consumismo
prevalece sobre outros valores, como os familiares.
Geração Y
A nova geração abrange os nascidos nos anos 80 e 90. Os mais velhos estão chegando
aos 25; os mais jovens acabam de sair da adolescência. Trata-se de uma geração de filhos
desejados e protegidos por uma sociedade preocupada com sua segurança. As crianças Y são
alegres, seguras de si e cheias de energia. É a geração dos Power Rangers e da internet, da
variedade, das tecnologias que mudam contínua e vertiginosamente.
batalhas de seus pais. Não deixam de se surpreender com o fato de que a geração anterior
tenha sobrevivido sob a tirania de poucas redes de televisão, sob controle governamental
estrito, e com telefones pregados na parede.
Na geração Y não ocorreu uma ruptura social evidente; não houve Woodstock nem maio
de 1968. Os Y são silenciosos e contundentes, parecem saber exatamente o que querem. Eles
não reivindicam: executam a partir de suas decisões, dos blogs e dos SMS.
5.1 GERAÇãO Z
Caro(a) acadêmico(a), você poderá encontrar diversos materiais sobre as três gerações
que estamos estudando, mas há de se ressaltar que poderá encontrar divergências quanto
às características e o período de cada geração. Entretanto, é importante aos que se dedicam
ao campo educativo estudar estas gerações, principalmente a geração Z, que, atualmente,
em grande parte está na escola. (Salienta-se que você poderá encontrar outras formas de
denominar as gerações)
A geração em termos gerais é formada por pessoas que estão conectadas ao mundo
digital, através de aparelhos portáteis e são nascidos entre 1990 e 2009 (não há consenso).
Esta geração cresceu em um período de desenvolvimento constante da tecnologia e por este
motivo, dentre outros, consegue com desenvoltura saltar da TV para o telefone; ou do MP4
para o e-book, do videogame para alguma rede social na web; ou do MP4 para o e-book. Os
mesmos também podem ser chamados de nativos digitais, e podemos afirmar, sem medo
de errar, que estes vão demandar muitas mudanças na política educacional, ou ainda, no
processo de ensino e aprendizagem. Em virtude desta geração estar ligada ao mundo digital,
as formas como as escolas se apresentam podem ser tidas como ultrapassadas para ela. Por
170 TÓPICO 2 UNIDADE 3
isso, uma questão que pode inquietar os educadores é: como educar esta geração? O que a
escola teria de atrativo? Reflita sobre isso.
Podemos dizer que esta geração já nasceu num mundo com computador, chats, telefone
celular, dentre outros aparelhos que surgem constantemente, ou seja, aprendeu a conviver com
esta tecnologia desde a infância. Então, frente a este cenário, o setor educacional terá que
buscar novos caminhos para conseguir estar em consonância com esta geração e, além disso,
cumprir o seu papel. Por isso, é comum muitas escolas buscarem novas propostas pedagógicas
para acompanhar a evolução destas gerações e cumprir o seu papel social e educacional.
Frente a esta discussão, leia o texto a seguir e faça as suas reflexões sobre o mesmo
e, ainda, procure conversar com os colegas para aprofundar o tema.
IMPO
RTAN
TE!
CONVIVER E ENSINAR PARA A CHAMADA “GERAÇÃO Z” PODE SER UM DESAFIO
PARA OS DOCENTES. FAZ-SE NECESSÁRIO UTILIZAR CONTEÚDOS CRIATIVOS
PARA A ADAPTAÇÃO DO ESTUDANTE
Esse conceito sociológico define todos aqueles que nasceram a partir da segunda
metade dos anos 90. São reconhecidos como nativos digitais, por crescerem em meio
à criação da World Wide Web (www) e à popularização de equipamentos eletrônicos
e utilitários tecnológicos, como celulares, YouTube, MP3 e MP4 players, redes sociais,
entre outros.
"É desde o ensino primário e secundário que a educação deve tentar vencer estes
novos desafios: contribuir para o desenvolvimento, ajudar a compreender e, de algum
modo, a dominar o fenômeno da globalização, favorecer a coesão social" (Relatório
para a Unesco da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. p. 152.
Cortez Editora. 1998).
De acordo com Jacques Delors, no Relatório para a Unesco sobre Educação para
o século XXI, o “aprender a ser” engloba as demais aprendizagens fundamentais,
sendo elas “aprender a conhecer, aprender a fazer e aprender a viver juntos”. O
Relatório ainda mostra a crescente necessidade de preparar as crianças para a vida e
ensinar a aplicar e transmitir conhecimentos, criando estímulo ao processo contínuo
de aprendizagem.
Com a diminuição das barreiras entre a escola e o mundo, torna-se mais flexível
a relação dentro de sala entre alunos e professores. Ao deixar de lado a superioridade
na educação, o educador presencia a crítica e confronta-se com novas atribuições:
propiciar a bússola da compreensão na fusão de informações e ser um elo entre as
matérias ensinadas e o cotidiano de seus estudantes. Isso transforma a sala de aula
em um lugar ainda mais atrativo para o estudante.
A vida urbana não pode ser considerada um “paraíso terrestre”, pois em grande parte
das cidades, de médio a grande porte, às vezes de pequeno, existem problemas a serem
sanados, principalmente em virtude das mesmas, às vezes, crescerem de forma desordenada.
Por exemplo: falta de saneamento básico, ausência de um plano diretor que tenha visão de
futuro da cidade, falta de planejamento adequado do trânsito, falta de policiamento ostensivo,
roubos ou furtos, homicídios, latrocínios, dentre outros problemas. E neste cenário está a
educação, com todas as consequências na sala de aula.
Entretanto, o desafio que tem se feito presente e exigido dos governantes é administrar
tal situação e buscar soluções dentro dos recursos disponíveis. Enfim, a vida urbana tem se
tornado cada vez mais complexa e plural (CARVALHO, NASCIMENTO, 2009). Frente a isso, a
questão que se instaura para o educador/professor é: a educação pode contribuir para melhorar
este cenário? Reflita sobre isso.
- poluição;
- congestionamento;
- alagamentos;
- crescimento desordenado;
- outro problema enfrentado nas cidades é a violência. A mesma pode ter diversas causas,
seja em virtude das drogas, falta de oportunidade, ou ainda:
As causas da violência, portanto, têm raízes sociais e históricas. Nas cidades,
por se constituírem centros mais dinâmicos do capitalismo, concentram-se no
mesmo espaço as contradições e os contrastes sociais: casas luxuosas lado
a lado com moradias precárias. A opulência do consumo versus a severidade
da escassez faz-se visível na cidade [...] (ARAUJO; BRIDI,;MOTIM, 2009, p.
198).
Leia o texto a seguir e depois reflita com os seus colegas sobre o cenário atual das
escolas brasileiras e a violência.
UNI
HOMEM INVADE ESCOLA, ATIRA CONTRA ALUNOS E MATA
11 NO RIO DE JANEIRO
Além dos assuntos antepostos, podemos encontrar outras discussões que estão
ligadas ao campo educativo, como, por exemplo: a questão do gênero, dentre outros temas.
Outrossim, uma discussão que tenha ganhado destaque é a gestão do gênero e as implicações
para a educação. No caso da questão do gênero, podemos observar que esta questão tem
ganhado espaço no campo educativo, principalmente se fizermos um inventário na história
da humanidade: as oportunidades e opções de vida das mulheres foram restritas em relação
às dos homens. E neste âmbito de discussão estão presentes a construção das identidades
sexuais, as relações de poder que se estabeleceram em âmbito social e que também se fizeram
presentes no campo da educação, a construção dos papéis sociais do homem e da mulher,
no decorrer da história.
LEITURA COMPLEMENTAR 2
O CONCEITO DE GÊNERO
O conceito de gênero, que norteará toda a nossa discussão, permite pensar em relações
que não são fixas, ao contrário, estão o tempo todo em tensão, de forma que homem e mulher
têm posições de relativa mobilidade no campo social.
O conceito de gênero, mais utilizado nos estudos de língua inglesa, também corrobora
essa ideia, buscando ultrapassar as definições da ‘categoria homem/mulher como uma oposição
binária que se autorreproduz... sempre da mesma maneira’, o que implica refutar sua constituição
hierárquica natural [...] (SCAVONE, p. 24, nota de rodapé n°9; 2004).
Segundo Butler, o gênero deve ser considerado como performativo, por não ser uma
afirmação ou uma negação, mas sim uma construção que ocorre através da repetição de
atos correspondentes às normas sociais e culturais. Sendo assim, um gênero é um modo de
subjetivação dos sujeitos, pois, “o ‘eu’ nem precede nem se segue ao processo de atribuição
de gênero, mas surge, apenas, no interior e como matriz das próprias relações de gênero”
(BUTLER, 1999, p. 153).
A autora argumenta ainda que o sexo, assim como o gênero, é materializado através
de práticas discursivas, de normas que nunca são finalizadas, pois permanecem num processo
constante de reafirmação. Este processo é indispensável para a hegemonia das leis reguladoras,
sob pena de enfraquecer e abrir espaços para a contestação dessas leis. Não podemos ignorar
os esforços feitos ao longo dos tempos para tornar essas relações mais igualitárias.
A história dos movimentos feministas se confunde com a própria história da luta pela
igualdade entre os sexos. É importante ressaltar que esta divisão histórica não é estanque,
como nos informa Scavone: embora possamos estabelecer esta relação temporal com períodos
e lutas distintos, estas fases não são fixas e dependem da situação histórica e política de cada
sociedade, o que nos leva a deduzir que a segmentação histórica não pode ser aplicada com
rigor às diferentes realidades (2004, p. 1516).
Dentro deste breve panorama histórico do movimento feminista, devemos atentar para
o fato de que a produção teórica conceitual acerca do tema tem início no pós 68, com autoras
feministas. Até então, as ciências sociais não haviam dedicado grandes esforços neste tipo de
discussão, e a partir deste momento a conceituação criada dentro do movimento feminista foi
incorporada ao espaço acadêmico, sendo-lhe atribuída maior relevância. O próprio conceito
de gênero passa por essa incorporação.
FONTE: PATRÍCIO, Daniela Silva. Educação e Gênero: uma discussão para além da inclusão
igualitária. Disponível em: <http://www.simposioestadopoliticas.ufu.br/imagens/anais/pdf/
CC06.pdf>. Acesso em: 10 set. 2011.
UNIDADE 3 TÓPICO 2 177
RESUMO DO TÓPICO 2
• O mercado procura incessantemente oferecer produtos para a sociedade, bem como criar
necessidades de consumo.
• A inovação constante de produtos para saciar as necessidades humanas tem sido uma
aspiração frequente das empresas e seus acionistas.
• Na legislação atual do Brasil, a educação tem como um dos propósitos preparar para o
mercado de trabalho.
• Que a violência tem chegado às escolas com muita frequência, principalmente nos grandes
centros urbanos.
178 TÓPICO 2 UNIDADE 3
IDADE
ATIV
AUTO
1 Atualmente, se por um lado vivemos em um período onde as pessoas têm como metas
consumir, por outro lado temos as necessidades de termos matérias-primas suficientes
para atender às necessidades humanas. Porém, muitas das matérias-primas não serão
suficientes para atender às grandes demandas de consumo ou, ainda, temos recursos
que não são renováveis. Frente a esta afirmação e às lições do Caderno de Estudos,
é correto dizer. Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) A consciência de que é necessário utilizar os recursos naturais, uma vez que estes
não se esgotaram rapidamente, tem mobilizado, com maior ou menor intensidade,
diversos setores da sociedade ou áreas de estudo, para difundir que o planeta suporta
o crescimento econômico em larga escala.
no mundo que querem ser mais inteligentes. Esses projetos urbanísticos inovadores
são alguns dos exemplos que surgiram nos últimos anos para uma adequação ao
fato de que a maioria das pessoas vai se aglomerar cada vez mais em cidades. “Os
velhos modelos urbanos não são mais sustentáveis”, diz Ryan Chin, pesquisador do
Massachusetts Institute of Technology, nos Estados Unidos. “As cidades inteligentes e
os novos modelos que elas estabelecem devem nortear o crescimento nos próximos
anos” (REVISTA EXAME, 2011).
5 A partir do que você estudou neste tópico, escreva os principais desafios para a
escola na atualidade.
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UNIDADE 3
TÓPICO 3
SOCIOLOGIA EM
EDUCAÇÃO EM FOCO
1 INTRODUÇÃO
Nas várias áreas de estudos podemos encontrar pesquisadores que buscam trazer
novidades, inovações, descobertas ou, ainda, apresentar novas teorias sobre determinadas
problemáticas. No caso específico do Brasil, no campo educacional existem diversas revistas
de cunho científico que trazem, via de regra, artigos de vanguarda ou, ainda, artigos que são
frutos de pesquisas oriundas de diversas áreas.
Caro(a) acadêmico(a), você pode encontrar pesquisas que buscam investigar quais são
as temáticas, problemas, autores, tendências de uma determinada área, em um determinado
período. No Brasil, no campo da educação, podemos mencionar Paraíso (2004), que no seu
artigo “Pesquisas pós-críticas em educação no Brasil: esboço de um mapa”, publicado
na Revista Cadernos de Pesquisa, apontou as tendências que vêm ganhando espaço nas
pesquisas no campo educacional.
182 TÓPICO 3 UNIDADE 3
Entretanto, além deste mapeamento feito por Paraíso (2004), podemos encontrar
também outros mapeamentos sobre as pesquisas científicas no âmbito educacional, com
foco mais específico, a título de exemplo: na Educação Física, na Pedagogia, Sociologia da
Educação, dentre outras áreas.
Neste sentido, com o mapeamento das pesquisas, podemos encontrar quais os autores
que têm sido citados. Quais as suas filiações teóricas, ou ainda, o que tem sido agenda de
discussão ou temas em voga das pesquisas numa determinada área e, em última instância,
qual está sendo a visibilidade internacional das investigações de uma determinada área.
S!
DICA
sua vez, discute as relações entre poder e conhecimento com base na noção
poder-saber de Michel Foucault.
existe uma espécie de contágio (Deleuze; Guattari) dessas teorias nas pesqui-
sas educacionais brasileiras, provocado pelas discussões iniciais. Aparece, no
terreno educacional, uma multiplicidade de pesquisas e trabalhos que pensam
a educação, a pedagogia, o currículo e outras práticas educativas de modo
diferente do que até então vinha sendo pensado. Tais trabalhos passam a uti-
lizar outras categorias para pensar e fazer a pesquisa em educação no Brasil.
De modo geral, eles apontam para a abertura e a multiplicação de sentidos,
para a transgressão e a subversão daquilo que anteriormente já havia sido
significado no campo educacional.
Além disso, Paraíso (2004) verificou alguns temas que se fizeram presentes nas
pesquisas de cunho pós-crítica na Educação no Brasil, as quais versam sobre temas,
como opção para explicações e narrativas parciais, ou ainda não há uma preocupação com
comprovações daquilo que já foi sistematizado na Educação.
Paraíso (2004) aponta que as teorias pós-críticas têm se expandido muito nas pesquisas
no âmbito educacional, sendo uma forte tendência e com expressão na Educação do Brasil,
inclusive se fazem presentes em muitos discursos educacionais, ou na fala de professores.
Para ilustrar, veja o que Paraíso diz quanto às linhas exploradas nas teorias pós-críticas
(2004, p. 289):
Então, caro(a) acadêmico(a), o que Paraíso (2004) encontrou com a sua pesquisa
de mapeamento, você poderá encontrar em muitas dissertações, teses, livros, artigos ou até
mesmo no interior de planos político-pedagógicos das escolas. Mas, para incentivar você a
pensar sobre a questão, busque identificar, no cotidiano escolar, falas de professores que estão
em sintonia com as discussões apontadas por Paraíso (2004).
Neste cenário de mapeamento das tendências em educação, podemos encontrar as
discussões de Moraes (2004), que retrata sobre agenda pós-moderna e as influências para a
Educação, e aponta que:
S!
DICA
Entretanto, é salutar mencionar que em cada edição da ANPED (reuniões anuais) podem
aparecer novas temáticas e autores novos no cenário da educação, enfocando temas atuais
ou antigos com nova roupagem. Por isso, se você quiser ficar atualizado, acesse o GT-14
(sociologia da educação) da ANPED, anualmente, para verificar o que tem sido apresentado,
bem como os autores e objetos de pesquisas.
Caro(a) acadêmico(a), para que você possa se familiarizar com as discussões, a seguir
apresentamos uma breve síntese de alguns trabalhos levados a diversas edições.
O professor também é uma das temáticas que tem se feito presentes nas discussões
ou pesquisas da Sociologia da Educação, como a exemplo do trabalho intitulado: “Vamos
conversar sobre os saberes docentes e diferença”?, que foi apresentado em pôster em
2009, de autoria de Cláudia Hernandez Barreiros (UERJ).
O foco do trabalho, segundo Barreiros (2009), “são os saberes docentes que professoras
da educação infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental vêm desenvolvendo para lidar com
a diferença nas escolas. Apostamos na possibilidade proposta por Tardif & Gauthier de “estabelecer
não uma ciência do ensino, mas uma ‘jurisprudência da pedagogia”. (2001, p. 202).
Além disso, a pesquisadora Marieta Gouvêa de Oliveira Penna (2009) retrata sobre “o
exercício docente nas primeiras séries iniciais do Ensino Fundamental: posição social
e relações com aspectos do capital cultural de professores”. A autora analisa as facetas
do capital cultural dos professores que atuam nos primeiros anos do Ensino Fundamental nas
escolas públicas, com o objetivo de evidenciar aspectos de sua posição social. A pesquisa
foi feita com dez professores do Ciclo I do Ensino Fundamental em duas escolas públicas da
rede estadual de São Paulo.
A preocupação em temas com aspectos relacionados aos professores também faz parte
das pesquisas da Sociologia da Educação, como vimos anteriormente, com as pesquisas de
Penna (2009) e Barreiro (2009). É claro, caro(a) acadêmico(a), que você poderá encontrar
outras pesquisas ou artigos que retratam estes aspectos na Sociologia da Educação ou até
mesmo em outras áreas do saber.
Este estudo teve como objetivo geral analisar se os fatores educacionais difi-
cultam e/ou impedem a inserção do jovem no mercado de trabalho. A pesquisa,
de cunho qualitativo, teve como instrumento de coleta de dados a entrevista
semiestruturada, aplicada a cinco empresários ou seus representantes, res-
ponsáveis pela seleção desses jovens. O estudo demonstrou que, no caso
dos jovens entrevistados pelos empregadores participantes desta pesquisa,
a trajetória escolar interfere na inserção do mesmo no mercado de trabalho.
Chama-se a atenção para a necessidade de uma revalorização epistemológica
do espaço escolar, de sua natureza e de suas transformações por meio das
experiências educativas e seus movimentos sociais, a fim de que o jovem co-
nheça a origem social de seu sofrimento de não conseguir adentrar o mercado
de trabalho (FRIGOTTO, 2003, p. 11).
UNIDADE 3 TÓPICO 3 189
LEITURA COMPLEMENTAR
Agora, caro(a) acadêmico(a), leia fragmentos do artigo: Sociologia da Educação: uma
leitura dos novos objetos de pesquisa, de Tânia Regina Raitz e Arivane Augusta Chiarelotto,
publicado na revista Contrapontos. V. 5, n. 1, p. 95-107. Itajaí, jan./abr., 2005.
Desde o referencial teórico de Bourdieu, no curso dos anos 1990, no Brasil foram
produzidas importantes pesquisas, basicamente de natureza qualitativa (ZAGO, 1994;
NOGUEIRA, 1998; SOUZA e SILVA, 1999; VIANA, 1998; BRANDÃO 1998; entre outros). Estas
pesquisas se destacam em razão da incorporação das relações família-escola. Apesar de ainda
não se ter um balanço da produção existente desde este objeto de estudo sociológico, nestes
últimos anos verifica-se, por intermédio do GT de Sociologia da Educação da ANPED, que
houve um aumento significativo de investigações abordando esta inter-relação.
circundavam as classes populares. Muito embora este movimento seja recente, dois estudos
já despontam como os precursores desta nova tendência, são eles: Almeida & Nogueira,
2002; Brandão, 2003. Eles se destacam pela construção de um novo olhar sobre este objeto;
focalizam o universo dos grupos sociais favorecidos em suas relações com a escola e com a
cultura dita “legítima”, o que implica abordar as diferentes formas de riqueza social nos destinos
escolares dos indivíduos. Estas autoras também privilegiam as análises de Pierre Bourdieu
quando partem de uma visão sobre a ordem social como um espaço hierarquizado de posições
as quais obedecem a princípios multidimensionais de divisão e diferenciação social (capital
cultural, econômico, social, simbólico).
Diante deste pressuposto, convém salientar que a sociologia da vida cotidiana tem sido,
muitas vezes, identificada como microssociologia. Segundo Pais (2003), em sua interessante
obra Vida Cotidiana: enigmas e revelações, essa ideia é polêmica, senão controversa, uma
vez que a sociologia da vida cotidiana ultrapassa as terminologias opositoras: as micro e as
macroestruturas, pois a ela o que interessa são os processos mediante os quais as micro e
as macroestruturas são produzidas. Deste modo, o autor argumenta que “nesta topologia
social e simbólica, os seus interstícios e margens não são subprodutos das estruturas sociais,
porém, partes integrantes dessa vida, dimensões dela, com o mesmo status ontológico que o
estrutural” (PAIS, 2003, p. 43).
Assim, reforça-se cada vez mais a coerência nas investigações, no sentido de ter como
preocupação a articulação dos métodos da macrossociologia e microssociologia, bem como
conceitos estruturas/interações, abandonando meras oposições fictícias. Nesta complexa
rede em que se insere o estudo das trajetórias escolares, cabe entender um pouco mais a
respeito do conhecimento integrado. Desta forma, o emprego do conceito de “trajetórias” pode
demonstrar-se um tanto complicado, porque, conforme alude Pais (2001), pode circunscrever-
se à linearidade.
Para ultrapassar o tratamento linear não basta estar atento simplesmente ao que se
passa com outros conceitos, como vida familiar, vida escolar, vida profissional, vida grupal. É
preciso entender que eles, sucessivamente, se incorporam mutuamente, quer em seu devir,
quer em suas conexões. Desta maneira, as trajetórias se cruzam às esferas da vida articulando
seus componentes.
UNIDADE 3 TÓPICO 3 191
Segundo Sposito (2002), as pesquisas mais recentes têm recorrido a estas novas
abordagens, incluindo aquelas que sinalizam os estudos às formas associativas e de
expressão cultural, por exemplo, dos segmentos juvenis. As novas formas de sociabilidade
estariam associadas a um novo entendimento dos processos socializadores contemporâneos,
diferentemente dos paradigmas abordados pela sociologia clássica, vista por Durkheim -
estudos sobre socialização - e Weber - estudos sobre as lógicas de ação. Muitos autores vêm
questionando a centralidade de agências tradicionais socializadoras como a família, a escola
e o trabalho, e as lógicas de ação ou de condutas que as orientam, estas estariam passando
por crises e ganhando novos significados (DUBET, 1996; ZALUAR, 1985; PAIS 1993, 2001;
2003; DAYRELL, 2002; SPOSITO, 1997, 2002).
RESUMO DO TÓPICO 3
• O campo educacional tem sido objeto de pesquisa da sociologia da educação, com assuntos
específicos.
UNIDADE 3 TÓPICO 3 193
IDADE
ATIV
AUTO
2 Qual deveria ser um assunto do seu dia a dia que você considera que deveria ser
pesquisado no âmbito da Sociologia de Educação? Justifique sua resposta.
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194 TÓPICO 3 UNIDADE 3
IAÇÃO
AVAL
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