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FICHA DE INTRODUÇÃO À FILOSOFIA 2023

(Para o uso exclusivo dos alunos da Escola Secundária Francisco Manyanga) 12a Classe

Filosofia Africana
Contextualização do debate sobre a Filosofia africana
O conceito filosofia é o primeiro dos problemas filosóficos. Mas a melhor forma de abordar a questão é falar de
filosofias do que da filosofia, porque existem muitas filosofias e cada filósofo define-a com base nos problemas do seu
tempo. A resposta de o que é a Filosofia depende dos problemas culturais, sociais, políticos e económicos. Filosofia é
um pensamento especulativo livre, crítico, profundo e autónomo, por isso, a sua definição não tem um denominador
comum como acontece com outras ciências.
O problema aumenta quando queremos definir a Filosofia africana.
Filosofia é um género literário universal. E porque é que queremos particularizar? Existe uma Filosofia africana?
Para responder à estas questões é necessário conhecer o ambiente sócio-político e cultural em que nasce a filosofia
africana. É preciso também conhecer a concepção do ocidente em relação a África.
África foi definida por pessoas exteriores, com pensamentos pejorativos, motivados por interesses políticos e
económicos. São os europeus em expansão em busca da matéria prima que definem a África. Os próprios nativos não
sabiam que eram africanos. A ciência, o poder europeu, começa a denegrir a imagem do africano.
Em que contexto histórico surgem então a filosofia africana?
O povo africano foi vítima da colonização europeia. Com as viagens chamadas de “descobrimento”, os europeus
conheceram outros povos e estes foram julgados em comparação com usos e costumes da cultura ocidental. Por isso,
houve uma série de filosofias feitas por ocidentais, que se esforçavam em denegrir a personalidade do negro no
mundo.
O estudo quer antropológico, quer sociológico preocupavam-se em provar, em todos os sentidos, a superioridade do
Ocidente, do branco, em relação aos outros povos, sobretudo os negros, sem que estes tivessem respostas imediatas
escritas, para contrapor as teses dos ocidentais. Africano foi visto pelo ocidente como um selvagem, inconsciente, com
mentalidade pré-lógica, tábua rasa, sem história.
Portanto, o povo africano foi vítima do colonialismo. Os ocidentais conceberam uma filosofia de dominação que gerou
um profundo complexo de inferioridade nos africanos em diferentes campos de saber: desde a teologia, a filosofia e o
direito.
Assim, a Teologia (ciência que estuda Deus), vai dizer que africano é filho de Caim, descendente de Cham, um sujeito
que viu a nudez do pai. Portanto, o negro aparece como símbolo de maldição e pertenceria a geração dos condenados
de Deus; A Filosofia do Iluminismo, vai dizer que africano, o negro, não é completo; Voltaire, na sua obra “História
do século XIV” vai dizer que o povo mais elevado em termos de evolução e desenvolvimento é francês e o mais baixo
é africano; Jean-Jacques Rousseau afirma que os africanos são bons selvagens; Hegel considera que o africano é o
homem sem História. Para ele, História é a consciência de um povo, e ao afirmar que africano não tem história quer
dizer que o africano é inconsciente; Levi-Brhul diz que africano tem mentalidade pré-lógica; Montesquieu define
África como sociedade sem leis; Kant chega à conclusão de que os africanos são povos sem interesse por não ter a
racionalidade; Morgan e Tylor vão dizer que a África é uma sociedade morta; Luís XIV, considerado o rei do Sol,
escreveu o código negro “le code noir”, uma espécie de direitos dos senhores sobre os negros; George Padmore diz
que este facto provocou uma crise no pensamento, na palavra e no agir do homem africano.
Neste sentido, o europeu quando vai a África tem como objectivo levar o africano a ser um homem completo através
do trabalho. Por isso que os africanos serão levados como instrumentos de trabalho. Nesta concepção, não é possível
entrar o africano no debate da Filosofia, visto que pensar que os africanos têm filosofia, era sinónimo de considerar-
lhes e encarar como homens iguais aos europeus. Afirmar a existência da filosofia africana seria afirmar a autonomia
do homem africano e seria dizer que o africano é um homem completo como o europeu e implicava exigir a igualdade
dos direitos e respeito entre os africanos e os europeus. E, por conseguinte, a igualdade dos direitos pode por sua vez, a
abolição da escravatura.
Portanto, o ocidentalismo promovia, directa ou indirectamente, uma antropologia triunfalista, cujas teorias e doutrina
exaltavam uma classe que se auto-proclamava herdeira exclusiva da humanidade inteira. Por essa razão, se arrogava o
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direito de destruir, assumir ou “esmagar” outros povos. Este tipo de antropologia poderia ser classificado de
verdadeiro “vandalismo” cultural, narcisista, agressivo, destruidor, como defende Lecrec na sua obra Crítica da
Antropologia.
Só mais tarde, as ciências sociais e humanas realizaram novas abordagens e adoptaram uma visão em relação às
outras, reconhecendo que toda a cultura representa uma determinada civilização, independentemente da sua situação
geográfica, histórica, social e económica. Hoje, o filósofo africano, partindo da sua própria história, tem um papel
muito importante de projectar o futuro homem africano, reabilitando a imagem do negro, reativando a sua auto-estima
e mostrar que o negro é igual ao branco.
Um longo período de colonização influenciou a mentalidade europeia, como também deixou marcas na mentalidade
do próprio povo negro, pois a sua auto-estima ficou afectada.
Por isso, é importante a intervenção do filósofo africano, para projectar o futuro do homem africano, partindo da sua
própria história. A Filosofia africana vem recuperar a auto-estima que o homem negro tinha perdido com o tratamento
esclavagista.
Foi para responder a esta preocupação que alguns pensadores africanos desenvolveram debates acesos sobre a
existência ou não da Filosofia Africana.
Portanto, a filosofia africana nasce para negar a mentalidade errada do ocidente sobre a África. Ou seja, a filosofia
africana surge para negar todos os atributos negativos sobre o homem africano e a partir de aí desenhar um projecto de
emancipação.
O que é Filosofia africana?
Filosofia africana é a resposta que o africano dá `a concepção errada do ocidente. Filosofia africana é a busca da
liberdade, da autonomia, da autodeterminação dos africanos. Filosofia africana é Filosofia de gente que pensa dos
problemas dos africanos.
Resumo
Nesta lição você aprendeu que: A filosofia africana nasce para negar a mentalidade errada do ocidente sobre a
África. Africano foi visto pelo ocidente como um selvagem, inconsciente, com mentalidade pré-lógica, tábua rasa, sem
história. A filosofia africana surge para negar todos os atributos negativos sobre o homem africano e a partir daí
desenhar um projecto de emancipação.
Actividades
Responda às questões com base na lição que acabou de estudar:
1. Identifique o pensamento do ocidente no período da sua expansão no que diz respeito ao reconhecimento da
dignidade do homem africano.
2. Dê pelo menos dois exemplos da falta de reconhecimento da dignidade do africano como ser humano.
3. Identifique o motivo do aparecimento da filosofia africana.
4. Fundamente a posição de Hegel ao afirmar que africano é homem sem História.
5. Qual era a mentalidade teológica que se tinha perante o negro?
6. Como é que Lévi-bhrul define africano.

A existência ou não da filosofia africana


O que é Filosofia africana?
A discussão sobre a existência ou não da filosofia africana emergiu quando muitos estudiosos, africanos e não
africanos, apresentaram ao mundo estudos sobre etnias africanas, denominando-os “Filosofia Africana”, como
Anyanw, Placide Tempels, Alexis Kagame, Mbit, entre outros. Portanto, existe uma controvérsia em torno da
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“Filosofia Africana”, pois as razões para a sua afirmação não superam as razões para a sua negação: os que a afirmam,
sublinham a dimensão particular de filosofia e os que a negam, sublinham a dimensão universal de filosofia. Portanto,
é preciso que se faça uma distinção entre filosofia africana e pensamento africano:
O pensamento africano não é a filosofia africana acabada, mas o início da filosofia africana, esta se caracteriza pela
sistematização; contudo, se for tido como busca constante da verdade; que constitui essência da filosofia, então é já
filosofia africana. O africano desde sempre buscou respostas para os problemas que a vida lhe coloca. Estas respostas
estão em forma dos dizeres tradicionais, contos folclóricos, etc.
Os críticos como Hountondji, Franz Chahay, E. Boulaga, M. Towa, Werudu, entre outros, colocam a seguinte questão:
pode-se falar de Física ou Química africanas da mesma forma que se fala da Filosofia africana? Podem ser
considerados filosóficos os provérbios, contos tradicionais, os dizeres dos sábios africanos? E será que os mesmos
expressam conteúdos filosóficos? A discussão fundamental é do objecto de estudo da filosofia africana.
Estas perguntas dividiram a reflexão em duas escolas:
A 1ª Escola: Sustenta que a filosofia africana repousa nós provérbios, nas máximas, nos costumes que os africanos de
hoje herdaram dos seus antepassados através da tradição oral. Por isso, a função do filósofo africano no que se refere à
filosofia africana é a de coleccionar, interpretar e difundir os provérbios, contos folclóricos, mitos e outro material
deste tipo.
Os representantes desta escola são: Anyanwo, John Mbiti, Alex Kagame, Kwazi Wiredu,etc. K.C. Anyanwu
Anyanwu: começa por atacar o pensamento de Hountoundji ao dizer: “há peritos que acreditam que a filosofia é a
mesma em África, na Ásia, na Europa e afirmando que uma filosofia distintamente africana, não existe”. Pelo
contrário, toda a filosofia é filosofia cultural, isto é, é filosofia condicionada e limitada pela cultura, ou por outras
palavras, o universal é sempre particular, local. A filosofia africana tem que partir do dado concreto, isto é, a vida de
cada dia, a prática dos costumes religiosos e morais, o trabalho e o tempo de lazer. Na visão de Kwasi Wiredu o
pensamento africano tradicional contém elementos que são filosóficos.
A 2ª Escola sustenta que, a filosofia africana é uma reflexão racional sobre as ideias e os princípios fundamentais
inerentes à vida humana e o seu ambiente. Assim, a filosofia torna-se o resultado do pensamento abstracto de
pensadores africanos individuais, sejam eles tradicionais, como modernos. Esta escola supera a primeira pelo facto de
acentuar a interpretação de textos tradicionais, na medida em que advoga a função crítica da filosofia.
É nesta linha que Hountondji salienta que “trata-se de demonstrar que os nossos provérbios, os quais normalmente se
faz referência, não exprimem uma investigação, mas são o resultado de uma investigação, não uma filosofia, mas sim
uma sabedoria” (HOUNTONDJI, Filosofia africana, Mito e Realidade, apud NGOENHA, 1993: pp. 92).
Os defensores desta escola são: Paulin Hountondji, Marcien Towa, Eboussi Boulaga, atc.
Tendo como o ponto de partida do conceito da própria filosofia, os críticos negam o adjectivo “africano” na filosofia,
ora vejamos: Paulin Hountoundji: começa a sua análise com a questão - que sentido queremos dar à palavra filosofia?
Se por filosofia entendemos como uma disciplina científica, teorética e individual, assim como a álgebra, a física e a
linguística, não podemos chamar filosofia a qualquer colecção de crenças populares, práticas tradicionais ou ao
comportamento colectivo e inconsciente dum povo qualquer. Isto seria um abuso. A filosofia não pode ser identificada
com o mito, e a religião tradicional, como pretendeu fazer Placide Tempels.
Assim, para Hountondji, a filosofia como disciplina científica, teorética e individual emergiu sempre em oposição ao
mito, as religiões tradicionais e as suas perspectivas dogmáticas e conservadoras; a Filosofia Africana é um tipo de
literatura produzido por africanos e que versa sobre os problemas da África.
Principais correntes da Filosofia africana
Etnofilosofia
A etnofilosofia ou a corrente tradicionalista considera todos os elementos do africano presente nos contos, lendas,
fábulas, mitos, nos provérbios nas tradições africanas como sinais de existência da filosofia africana . Esta corrente
(etnofilosofia) percebe-se melhor com a respectiva contextualização, ela deriva da etnologia que, esta, por sua vez,
deriva de etnia. Entende-se etnia ao conjunto de indivíduos unidos por características somáticas, culturais, linguagens
comuns, etc.

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Isto é, a etnologia é uma ciência recente, que se emancipou da História. A História para Hegel, devia estudar as
sociedades que teriam contemplado o espírito absoluto, que são caracterizadas por terem um Estado. Estas sociedades
são os povos europeus. Para ele, “a África está fora do movimento da história universal, porque nela e dela não
emergiram nem a razão nem a liberdade. A África «é o país da infância», e o negro «representa a natureza no seu
estado mais selvagem»”.
A tese deste pensador é a de que no continente africano não vislumbram traços da racionalidade, nem existem
instituições políticas consistentes, organizações sócio-políticas complexas para além de predominar a tradição oral.
Este preconceito ocidental em relação ao africano não termina por aqui, conhece-se também o pré-logismo de Lévy-
Bruhl.
Ou seja, a etnologia devia estudar as sociedades primitivas, de costumes selvagens, sem religião, ou no mínimo
animista, sem escrita, sem arquivos, nem Estado. É nesta senda que nasce a Etnofilosofia. Como se pode notar, a
etnofilosofia é um ramo da Filosofia africana versado para interpretar os costumes, as crenças, as lendas, os contos, os
mitos, os provérbios, etc. Então, a filosofia africana começa com um trabalho de etnologia com pretensão filosófica.
Portanto, a Etnofilosofia é uma corrente de pensamento que defende que as tradições africanas espelham a
racionalidade do africano, podendo estas serem consideradas Filosofia africana (mitos, provérbios, etc.) Para os
etnofilósofos, toda a filosofia é uma filosofia cultural, ou seja, ninguém faz a filosofia sem se basear em alguma
cultura. A etnofilosofia, considera todos os elementos da cultura africana como manifestação da existência da filosofia
africana. A Filosofia Africana está presente nos contos, lendas, fábulas, mitos, provérbios, poesias divulgadas nas
culturas tradicionais africanas. Esta Filosofia é uma visão geral de uma tribo ou grupo étnico particular sobre o mundo.
Trata-se de uma compilação da história natural do pensamento popular tradicional sobre questões centrais da vida
humana. É uma Filosofia cultural. Para Anyanw, a missão do filósofo africano é compreender e explicar os princípios
sobre os quais se baseia cada uma das culturas africanas.
O Papel do filósofo é de compreender e explicar os princípios sobre os quais se baseia cada uma das culturas africanas.

A africanidade consiste no objecto de reflexão, que deve ser a cultura africana ou uma das culturas africanas ou um
dos aspectos dela.

A relação com o mito e a religião tradicional é de arquivista, perpetuação, protectora e conservadora desse passado
popular.

Principais representantes (Africanos e africanistas) são: Bzik Anyanw, Placide Tempels (A Filosofia Bantu),
Alexis Kagame (A Filosofia Bantu Ruandesa de Ser), Cheik Anta Diop (historiador afrocêntrico senegalês) e John
Mbiti (Religião Tradicional Africana).

As críticas da etnofilosofia são várias, mas dentre elas podemos destacar as seguintes: os filósofos da etnofilosofia
descreviam práticas habituais de alguns povos africanos e chamavam-os de Filosofia africana; tais estudos, enquanto
feitos por intelectuais não africanos, denegriam o africano (por exemplo, o sacerdote belga Placide Temples que falava
duma lógica menor do africano).
E para os filósofos, Paulin Hountondji, Marcien Towa, Oruka, Weredu defendem que Filosofia africana é uma
etnologia com pretensão filosófica. Para falar da etnologia eles recorrem a dois parâmetros: a escrita e a não escrita.
Eles defendem que a história se conta através da escrita, e por isso mesmo, os povos sem escrita são considerados
primitivos, selvagens, sem história. Ao contrário dos povos com escrita, são nobres, têm história.
Portanto, em Houtondji as sociedades sem escrita são negadas. A história se interessa pelo passado das sociedades
europeias e a etnologia fala dos povos selvagens. A capacidade abstrativa dos africanos não se põe em causa.
Este pensamento será rejeitado por um grupo de filósofos como, Placide Tempels, Anyaw, Alex Kagame, John Mbiti.
Para eles, os africanos têm os seus acontecimentos nas crenças, mitologias e tradições dos seus antepassados.
A Filosofia africana é um pensamento especulativo que se encontra nos provérbios, nas máximas, nos costumes que os
africanos herdaram dos seus antepassados através da tradição oral.
Para isso, a função do Filósofo africano é de coleccionar, revelar, interpretar e difundir os provérbios, os contos
folclóricos. Assim estaríamos em pé de igualdade com o europeu. Estes pensadores são da opinião de que os nossos
contos morais, as nossas lendas didácticas não exprimem uma investigação, mas o resultado de uma investigação, não
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é uma Filosofia, mas uma sabedoria. Portanto, podem servir para uma reflexão crítica e marcar o início do problema
filosófico.
Tempels dizia que existe uma filosofia do negro, sempre existiu filosofia africana, só que ela é diferente na forma e no
conteúdo da filosofia europeia. O padre Placide Tempels no seu livro intitulado “La Philosophie bantue”, que sonha
com uma cristianização acelerada, tem por objectivo pôr ao lume a sabedoria popular e os sistemas de pensamento
tradicionais e contribuir assim para a edificação de uma Filosofia Africana.
Para Anyanw, a missão do filósofo africano é de compreender e explicar, os princípios sobre os quais se baseia cada
uma das culturas africanas. O método da filosofia Africana segundo Anyanwu consiste na análise da experiência
africana, da sua cultura e princípios que os rege.
Alexis Kagame, (Padre católico do Ruanda), considerado pai da etno-filosofia por Hountondji, inspirando-se na
filosofia aristotélica, escreveu uma obra intitulada, A Filosofia Bantu Ruandês do ser, onde desenvolvia a sua reflexão
trazendo à tona as categorias aristotélicas do ser.
Cheik Anta Diop (historiador afrocêntrico senegalês) teve como instrumento étnico a cultura. Em “ Nações Negras e
Cultura”, Diop esforça-se em mostrar as influências das culturas africanas na formação da cultura grega que deu
origem à filosofia. Ele recorda que o próprio Tales, Pitágoras, Heródoto fizeram viagens até ao Egipto. Ele defende
que “a civilização universal foi essencialmente uma civilização africana negra, não só, descobriu muitas semelhanças
entre o Antigo Egipto e as culturas africanas, como também, encontra inclusive, pontos comuns entre as línguas
faraónicas antigas e as línguas africanas modernas. Sustenta ainda que as civilizações europeias derivam do Antigo
Egipto.”
John Mbiti (teólogo queniano) fala da filosofia africana numa dimensão religiosa do africano, onde diz que o africano
não sabe existir sem religião. No fim ele diz que “quem quer ser africano deve pertencer à comunidade e envolver-se
na participação das crenças, nos ritos e nas festas africanas”. Segundo John Mbiti, a Etnofilosofia pode ser considerada
Filosofia porque na tradição oral subjaz um pensamento especulativo que subjaz nos provérbios, nas máximas e nos
costumes que os africanos herdaram dos seus antepassados através da tradição oral.
Críticas: Figuram na lista dos críticos da etnofilosofia: Hountondji, Franz Crahay, E. Boulaga, M. Towa, Oruka,
Weredu, entre outros. A questão que os críticos colocam é: Uma simples catalogação de mitos, crença e provérbios
pode-se considerar filosofia africana?
Pode-se falar de Física ou Química Africanas, da mesma forma que eles falam da Filosofia Africana. Como
obviamente a resposta é não, eles negam a ideia da existência de uma Filosofia Africana. As abordagens feitas por tais
intelectuais descreviam, na sua maioria, práticas habituais dos africanos, afirmando como filosofia africana.
As críticas formuladas por P. Hountondji na problemática da existência da Filosofia Africana têm a ver com a
colectividade, misticidade e oralidade dos africanos. Para Hountondji, o termo etno-filosofia significa um trabalho
desenvolvido por etnólogos com pretensão filosófica.
Hountondji usou o termo “etno-filosofia” para reagir à ideia da existência da filosofia africana de Temples, que na
visão de Hountondji, Temples parte dos dados etno-filosóficos concernentes à cultura bantu e se serve do modelo
filosófico da Escolástica (Aristóteles e S. Tomas) cuja finalidade era de evangelizar, libertar teologicamente e civilizar
o homem africano; a intensidade da aspiração da vida dos bantu, a fecundidade, a união constituíra para Temples
elementos fundamentais para aprofundar o seu pensamento para defender a tese de que o comportamento dos bantu
deve ser.
Uma das grandes controvérsias entre J. Mbiti e Paulin Hountondji é acerca do papel do estatuto da oralidade
compreendido como um comportamento racional, que se apoia num sistema coerente do pensamento.
Com a crítica de Hountondji aos pressupostos de Temples na defesa da ideia da existência da filosofia africana, surge a
questão de se saber se a oralidade como veículo para a transmissão do pensamento entre os africanos pode ser
legitimamente filosófica.
Contra - críticas:
K.C. Anyanwu: começa por atacar o pensamento de Hountondji ao dizer: “há peritos que acreditam que a filosofia é a
mesma em África, na Ásia, na Europa e afirmando que uma filosofia distintamente africana, não existe”. Pelo
contrário, toda a filosofia é filosofia cultural, isto é, é filosofia condicionada e limitada pela cultura, ou por outras

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palavras, o universal é sempre particular, local. A filosofia africana tem que partir do dado concreto, isto é, a vida de
cada dia, a prática dos costumes religiosos e morais, o trabalho e o tempo de lazer.
Na visão de Kwasi Wiredu o pensamento africano tradicional contém elementos que são filosóficos, visto estarem
relacionados com o homem e o mundo.
Para Olabiyi BabaidaYai, é necessário fazer uma discussão racional com Hountoundji, que pela sua definição
eurocêntrica da filosofia, nega a filosofia africana. Assim, como o mito foi a base da filosofia grega, pode-se dizer que
a base da filosofia africana é a cultura com os seus mitos e crenças.
Segundo A. Ndaw, a Filosofia Africana precisa ter em conta a tradição a fim de que o homem negro reencontre a sua
identidade. O interesse pelos contos, provérbios, ritos de iniciação, pelos mitos deve ser objecto da ontologia com
objectivo claro de “encontrar um pensamento que nos une é comum e evitar uma confusão entre o que pende ao
racismo e um pensamento aberto, sobre o universal”. O autor acrescenta: através dos mitos negro-africanos, “o que
nós queremos atingir não são as ideologias, mas as palavras de vida que nos permitem compreender a nós mesmos”.
Resumo
Nesta lição você aprendeu que: Os defensores da etnologia afirmam que não existe filosofia africana porque em
África os conhecimentos são transmitidos por meio da oralidade. Estes conhecimentos encontram-se nos contos,
provérbios, lendas, mitos. A etnologia é ciência dos povos sem escrita, sem história. O que existe na Africa é
etnologia, não Filosofia. Os defensores da existência da Filosofia africana afirmam que os contos, as lendas, os
provérbios trazem dentro deles um conhecimento. A missão do filósofo africano é de coleccionar, revelar, interpretar e
difundir estes contos, mitos, provérbios através da escrita. Para os etnólogos, África não tem Filosofia porque não
escreveu os seus conhecimentos, eles transmitem-se pela oralidade. O ocidente tem história porque escreveu. Os seus
conhecimentos são obtidos pela escrita.
Actividades
Responda às questões que se seguem:
1. Mencione o nome de um pensador defensor da Filosofia africana.
2. Justifique porque é que a Filosofia africana é negada por alguns filósofos.
3. Sobre o debate da existência da Filosofia africana, mencione os defensores da etnologia.
4. Justifique porque África foi considerada selvagem, sem civilização.

Filosofia profissional e crítica à Etnofilosofia


Para os críticos da etnofilosofia, não podemos confundir o emprego do termo filosofia, usando-o no sentido
ideológico. Filosofia é uma palavra que se utiliza para designar uma ciência rigorosamente científica. Reivindicar que
os africanos têm a sua própria filosofia seria cair nas mãos dos colonizadores, que querem dar ou manter a ilusão de
que os africanos têm uma filosofia, porque o que nós temos realmente são mitos, crenças e provérbios.
Portanto, esta corrente entende que a filosofia existe quando haja filósofos singulares, conscientes da pesquisa
filosófica, pois ser filósofo comporta em lançar-se na pesquisa livre e permanente da verdade que se expressa e não
contemplada, como acontece na religião.
Em África, a Filosofia é vista como uma disciplina académica e profissional. É também vista como uma ideologia
importada e tem a função importante de analisar e interpretar a realidade em geral, com relação à realidade africana.
Ou seja, filosofia em África é uma disciplina científica, teorética e individual que emerge em oposição ao mito, às
religiões tradicionais e ao seu respectivo dogmatismo e conservadorismo. A reflexão, a crítica e a fundamentação são
características fundamentais da Filosofia. A Filosofia é tida como um pensamento crítico, fruto de longos séculos de
História, mas não como crítica do pensamento. Portanto, o Papel do filósofo é de analisar, criticar e compreender a
racionalidade daqueles aspectos da sabedoria cultural do povo africano.

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A africanidade consiste na pertença do filósofo ao continente africano; consiste na partilha e na conversa entre
africanos: o filósofo deve ser natural e oriundo de um povo e cultura africana.

Um dos grandes críticos é Paulin Hountondji, na sua obra: African Philosophy, Mythe and Reality, de 1971:
reivindicar a filosofia africana é cair na ratoeira colonialista, pois a filosofia africana obriga-nos a definir África em
relação à Europa; a filosofia é uma disciplina científia, teorética e individual; todo o projecto de edificar uma filosofia
africana é um projecto europeu de demarcar a todo o custo a civilização africana da do ocidente e, o papel criador da
Filosofia africana não pode nascer do nada, mas que necessariamente parte da herança cultural.
Acima de tudo, a ideia da filosofia africana deve ser aliada a um projecto de crítica e reflexão de africanos sobre os
problemas de África.
Principais críticas à Etnofilosofia

Falta de rigor na terminologia (“Filosofia” a visão do mundo duma dada população). Os métodos de pesquisa, de
análise e de interpretação desses estudos nem sempre respondem às exigências da disciplina de Filosofia. Os etno-
filósofos projectam a sua própria filosofia na linguagem banthu. A ligação ao passado nos desvia das tarefas actuais:
(transformação da cultura para a adaptá-la às exigências do mundo contemporâneo.

Não podemos confundir o emprego do termo filosofia usando-o no sentido ideológico. Filosofia é uma palavra que se
usa para designar uma ciência rigorosamente científica.
Reivindicar que os africanos tenham a sua própria filosofia seria cair nas mãos dos colonizadores, que querem dar ou
manter a desilusão de que os africanos têm a sua filosofia, porque o que nós temos são mitos, crenças e provérbios. Os
filósofos africanos não devem ter como intenção final convencer à Europa sobre a originalidade da filosofia africana,
mas de ajudar os africanos na pesquisa essencial sobre e para a África.
Em outras palavras, cabe aos filósofos africanos a missão de contribuir para a realização existencial dos africanos e de
toda a humanidade seja qual for a sua etnia, nação e continente.
Principais representantes (Africanos): Paulin Houtoundji, Odera Oruka, Kwasi Wiredu, Mercien Towa, Serverino
Ngoenha e Paulino José Castiano.

A relação com o mito e a religião tradicional é uma relação de continuidade, transformação consciente, crítica e
contínua da tradição do povo face aos desafios do que o povo tem de presente e do futuro.

Destaca-se nesta corrente, a preocupação pela busca dum lugar para a filosofia e para o filósofo em África. As figuras
retóricas por nós seleccionadas são: Christian Neugebauer, Severino E. Ngoenha, Henry Odera Oruka (filósofo
keniano), e Kwai Wiredu (Ghana) pela sua contribuição.

De acordo com Chrstiam Neugebauer, filósofo que escreve sobre África, existem três lugares possíveis para a
Filosofia e para o Filósofo em África, a saber: estar no governo (a defender a política governamental); estar no
estrangeiro (como um grande místico); estar no túmulo (como herói morto).
Num continente onde o deserto se alastra, onde os homens morrem de fome e de subnutrição, é justo perguntar qual
será o papel da filosofia em África? Fazer filosofia não é só aprender a fazer discursos, estudar nos livros os
pensamentos dos outros, mas é também ter uma ligação com a realidade. África não precisa de discursos, precisa antes
da prática. O ser humano ou grupo dos seres humanos, devem possuir a sua visão do mundo, isto é, ter uma concepção
geral acerca do mundo, acerca dele próprio e dos diversos membros da sociedade.
O outro desafio que se coloca é em relação a produtividade, que tem sido o centro das atenções dos povos africanos.
Severino Ngoenha (filósofo e professor moçambicano), é um exemplo, no meio de tantos que podemos citar, de
filósofo interventivo no seu país (Moçambique). Influenciou a actual política centrada no distrito. Ele escreveu, numa
das suas obras que, “para se devolver aos homens o direito à iniciativa, deve começar-se de baixo. Devem ser os
distritos a exercerem as funções estatais primordiais e depois passa para as estâncias superiores”.
A Filosofia africana existe. Em África há pensadores individuais académicos africanos e não africanos que procuram
livre e continuamente a verdade que se abrem ao universal. A Filosofia deve ter o mesmo significado em todas as
culturas, mesmo que os conteúdos que aborda e os métodos que usa sejam variados e contextualizados. Não podemos
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aceitar que haja uma Filosofia africana que claramente nega a Filosofia em geral. A reflexão, a crítica e a
fundamentação são características fundamentais da Filosofia.
A filosofia africana deve estar ao serviço da liberdade, da dignidade humana na sua totalidade; a filosofia africana
deve essencialmente ser destinada como toda a filosofia, ao serviço do homem, homem africano oferecendo-o
possibilidades de saber descobrir pessoalmente a verdade tornando-o autónomo.
Resumo
Nesta lição você aprendeu que: A filosofia em África somente é vista como uma disciplina académica, isto é, que
somente se estuda na escola e não tem nenhum impacto na vida das pessoas. O filósofo em África tem três lugares: no
túmulo (como herói morto); No estrangeiro (como um grande místico); No governo (a defender as políticas
governamentais). O papel verdadeiro do filósofo é de ser um analista crítico da sociedade em que se encontra, de si
mesmo e do mundo em geral, na tentativa de busca de soluções dos diversos problemas que apoquentam a
humanidade, como é o caso das guerras, da fome, desertificação…
Actividades
Responda às questões que se seguem com base no que aprendeu na lição:
1. Como é vista a filosofia em África?
2. Qual é o papel da filosofia em África?
3. Identifique os problemas actuais para os quais os filósofos devem buscar soluções alternativas.
4. Porque é que a filosofia não é bem-vinda nas sociedades africanas?

Corrente Ideológica ou Filosofia Política Africana


A colonização dos africanos e a sua consequente escravização fez com que o povo negro fosse visto como um povo
inferior. Esta situação levou o homem negro a definir-se, desde cedo, como um guerreiro pela liberdade. Vários
intelectuais empenharam-se em investigar o passado africano com o intuito de encontrar bases para fundamentar o seu
valor. Criaram-se movimentos, como o pan-africanismo e a negritude, que serviam como meio de união dos africanos
no que se refere aos domínios políticos e cultural, respectivamente.
Assim, a filosofia social e política africana, no âmbito das mudanças sociais, enterrou as bases defendidas inicialmente
por muito filósofos célebres, como Platão, que advogava as virtudes como fundamentos para o bom governo, exigindo
a justiça, a sabedoria, a coragem e a temperança.
Portanto, a corrente ideológica é fundamentalmente uma filosofia sócio-política que inclui dentro de si, a negritude, o
pan-africanismo, o socialismo africano, entre outros, e busca, por meio da libertação mental, um regresso ao
verdadeiro humanismo e socialismo africano, uma verdadeira e significativa liberdade para o africano. Os africanos
foram alienados da sua identidade cultural colectiva.

A Filosofia política é entendida como uma actividade intelectual que procura construir um sistema de valores e ideias
dos indivíduos duma sociedade africana e justificá-los através da razão.

A preocupação fundamental da Filosofia Política Africana

Três factores estão na origem da filosofia política africana: escravidão, colonialismo e o racismo. De entre estes
factores o racismo foi o mais pernicioso e deu origem aos outros dois. Os negros eram considerados racialmente
inferiores, culturalmente não civilizados. David Hume, afirma que “dificilmente houve uma acção civilizadora naquela
cor, nem mesmo algum indivíduo eminente em actos e especulações… Não há arte, não há ciência… é homem tábua
rasa, homem sem história, e, portanto, sem civilização”.
A preocupação fundamental da Filosofia Política Africana tem a ver com a luta pela liberdade das nações africanas,
busca da identidade e ainda se preocuparam na criação de um futuro sócio-económico, político e socialista para a
África independente; responder aos problemas referentes ao colonialismo, às independências, ao fim da escravatura e
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exploração do homem africano. Muitos pensadores africanos optaram pelo socialismo, como forma conveniente os
países africanos, motivados por concepção de que a unidade da família e da riqueza está para o povo. A filosofia
Política Africana actualmente está preocupada com: a independência económica africana, o tribalismo, a ditadura e a
democracia.
A primeira forma de rebelião contra a alienação cultural tomou a forma de filosofia de negritude e a segunda forma de
rebelião contra a alienação cultural foi o pan-africanismo. Considera a filosofia como um saber virado para a
libertação e emancipação da África nos contextos políticos, económico e social. Neste contexto a filosofia africana
entende-se como uma ideologia que acompanha todo o processo histórico e de desenvolvimento das sociedades a nível
universal. Opõe-se diante de todos os prejuízos ou das teorias que justificam o racismo e o colonialismo.
Valoriza o pan-africanismo, a negritude, a filosofia dos movimentos de libertação, O “Black Renaissance”, “African
Renaissance”, a personalidade africana, o consciencismo de Nkrumah, o humanismo africano e o socialismo africano.
Principais representantes da Filosofia Política Africana:

Kwame Nkrumah, Léopold Senghor, Julius Nyerere, W. E. Dubois, Eduardo Mondlane, Samora Machel, Keneth
Kaunda e Alberto Lithuli.

Pan-africanismo versus negritude

O Pan-africanismo e a Negritude permitiram a difusão da mensagem dos mentores dos movimentos de libertação dos
africanos. O pan-africanismo e a negritude são dois movimentos com o objectivo comum de lutar pela liberdade, mas
sob pontos de vistas diferentes: enquanto o Pan-africanismo lutava pela emancipação política de todos africanos, a
Negritude lutava pela unidade dos negros sob o ponto de vista cultural.

Pan-africanismo
O movimento pan-africanismo surge como manifestação da solidariedade entre os africanos e os povos de
descendência africana. O seu objectivo principal era a unidade política dos Estados africanos. Este movimento lançou
as bases da filosofia política africana. A primeira conferência pan-africana foi realizada em Londres, em 1900 com o
objectivo de procurar uma forma de protecção contra os agressores imperialistas brancos e contra a política colonial
que até então submetia os negros.
Portanto, o pan-africanismo é uma aspiração nacionalista dos africanos, que têm como base o passado comum e a
soberania em forma do Estado. Inicialmente o pan-africanismo foi um movimento que pretendia congregar todos os
escravos negros libertados da América para em seguida levá-los de regresso à África como pretendia Marcus Garvey.
Ou seja, O movimento do renascimento negro, passa testemunho ao panafricanismo. A negritude e o renascimento
negro trazem dentro de si uma questão de identidade: QUEM SOU EU? Os Negros dão-se conta que estão na
América, mas também são negros. Portanto, não só são americanos, mas também são africanos de origem. Por isso são
chamados afro-americanos. O que difere o negro africano do afro-americano somente é uma questão geográfica.
Du Bois começa a ficar interessado com o mundo negro, isto é, o negro do mundo, o estatuto do negro de todo o
mundo. Daí o termo pan-africanismo.

É preciso notar que o aparecimento do Pan-africanisno coincide com o final do comércio dos escravos e com o
começo do colonialismo (LARANJEIRA, 1995, pp. 49) e o seu ponto elevado foi a Primeira Guerra Mundial.
Foi assim, que antes do Pan-africanismo explícito desenvolveu-se uma ideia de personalidade africana, por Edward
Blyden com o propósito de encontrar um passado sobre o qual devia fundar a dignidade humana dos africanos ao
querer mostrar ao Ocidente que o africano era uma raça e tinha uma história e cultura das quais devia–se orgulhar.
Assim, em 1900, nos EUA, foi realizado o primeiro encontro pan-africano. Henry Sylvester Williams – (tio de Georg
Padmore) que foi o primeiro a lançar a ideia de solidariedade fraterna entre os africanos dos povos de descendência
africana.
Este congresso discutiu a situação dos negros tanto residentes no solo africano, quanto os da diáspora, isto é, procurar
uma forma de proteger os africanos do imperialismo e colonialismo ocidentais. Portanto, o pan-africanismo seria uma
via para que os africanos conquistassem o direito à sua própria terra e à sua personalidade. Em última análise, era uma

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luta do direito de todos africanos serem tratados como homens, daí o conceito pan-africanismo; não só, neste encontro
histórico, foi estruturada a ideologia necessária para unir os africanos oprimidos e escravizados. Como projecto de unir
todos os africanos, foram realizados cinco congressos orientados por Edward Willims Dubois, como foram os casos:
1º, em 1919 realizou-se em Paris o primeiro congresso Pan-africano onde participaram 57 representantes das várias
colónias africanas bem como dos Estados Unidos e das Antilhas. Neste congresso a tónica dominante foi a protecção
internacional dos nativos africanos; 2º - Em 1921 em Londres foi realizado o segundo congresso pan-africano,
reunindo 113 delegados. 3º - em 1923 outra vez em Londres o terceiro Congresso Pan-africano, tendo apelado a
representação dos africanos no seu próprio governo; reclamou o direito à terra e aos seus recursos. Começava-se deste
modo a se compreender o aspecto político da justiça social; 4º - em 1927 foi realizado em Nova Iorque o quarto
congresso com a participação de 128 delegados; 5º - em 1945 realizou-se o quinto Congresso em Manchester onde os
conceitos “Pan-africanismo” e “Nacionalismo africano” receberam uma expressão verdadeiramente concreta.
Tendo reunido mais de 200 delegados, pela primeira vez, insiste-se na necessidade da existência de movimentos bem
organizados, e firmemente unidos, como condição do sucesso da luta pela liberdade nacional em África. “O quinto
congresso Pan-africano conclama os intelectuais e trabalhadores das colónias a tomarem consciência das suas
responsabilidades.
Movimento do pan-africanismo
Antenor Firmont, negro sociólogo de Haiti, que trabalhou na Etiópia, convoca uma reunião em Londres, em 1900. Mas
os africanos são pouco aceites nesta reunião.
Silvestre williamn encontra-se com Antenor Firmont. Em vez de discutir o problema da África, vão discutir os
problemas da raça. Era o primeiro congresso pan-africano.
O pan-africanismo teve uma palavra de ordem: “Unir-se para resistir”. Esta conferência tinha como secretário Du bois.
E o pan-africanismo teve vários congressos, dos quais o 5o congresso esteve sob a presidência de Du Bois. Neste
congresso, ele reivindica a independência dos africanos. É por isso que ele é considerado pai do panafricanismo. E
ainda neste congresso Du Bois faz a passagem de liderança do congresso para Kwame Nkrumah (de Ghana). Foi a
passagem de liderança do afro-americano para africano.
O sonho de Nkrumah foi de fazer os EUA (Estados Unidos de África), na sua obra «África deve unir-se». Para isso
significava ter a mesma moeda, ter o mesmo militarismo.
Quando Ghana fica independente em 1957, neste mesmo ano realiza-se um congresso em Ácra. Daí, começam as
independências da África.
Resumo
Nesta lição você aprendeu que: Pan-aricanismo visava lutar pela causa dos negros de todo o mundo. Pan-africanismo
teve seu início em Londres em 1900. Du Bois passa a liderança do pan-africanismo a Kwame Nkrumah. O primeiro
líder pan-africanista africano foi Kwame Nkrumah. Com Nkrumah os países africanos começaram com a luta para as
suas independências.
Actividades
1. Porque é que Du Bois é considerado o pai do pan-africanismo.
2. Qual foi o papel de Du Bois no primeiro congresso?
3. Qual foi a palavra de ordem do pan-africanismo?
4. Quantos congressos teve o pan-africanismo?
5. Em que congresso Du Bois faz a passagem de liderança para Kwame Nkrumah?

A filosofia cultural (Negritude)

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A negritude insere-se no espírito pan-africanista da união e solidariedade entre os africanos, com a simples diferença
de se revestir de um carácter cultural e literário. Trata-se de um movimento de união dos africanos do ponto de vista
cultural.
Foi a partir das circunstâncias do desprezo do negro que surgiu a negritude para reivindicar os direitos humanos para
os africanos, reivindicar a dignidade do africano como pessoa, reivindicar a liberdade no processo de descolonização
política e económica em forma de luta contra o racismo. Por isso, a Negritude pode ser definida como afirmação da
personalidade africana e rejeição da assimilação cultural ocidental; é o conjunto de valores culturais do mundo negro.
Senghor, o qual define a negritude como "a soma total dos valores culturais do mundo negro".

“Portanto, a Negritude não é uma afirmação científica, é um protesto, uma bandeira, o símbolo de um orgulho; a
negritude é a totalidade dos valores da civilização que caracterizam o povo negro. A negritude, enquanto um manifesto
cultural e político mobilizador, transformou a identidade sócio-cultural dos povos africanos numa arma emancipadora
e um projecto de renascimento. Ela lutou contra o euro-centrismo, o racismo e os preconceitos, a incompreensão,
arrogância das potências coloniais. Ela rejeitou a aculturação, a assimilação e a alienação. Dessacralizou o paradigma
cultural ocidental considerado como critério referencial e afirmou o direito a diferença e familiarizou os negros com a
noção do relativismo cultural.
O objectivo da negritude não foi de separar o negro do branco, mas afirmar; melhor renovar este mundo e lançar as
bases para uma nova humanidade. Foi por isso, que se procurou em recusar a assimilação e se prospectou uma
cooperação entre as culturas e se adoptou uma nova forma de convivência – a civilização do Universo. Na
manifestação da negritude, de acordo com os seus objectivos podemos destacar as seguintes concepções:
O termo “Negritude” aparece pela primeira vez escrito no livro de poemas de Aimé Cesaire, - Cahier d´un Retour au
Pays Natal”. Coube a Aimé Césaire o mérito de ser considerado o grande impulsionador deste termo. A ele cabe a
paternidade do termo negritude. E o marco inicial do Movimento da Negritude foi a publicação da revista Légitime
Défense, em 1932, por um grupo de estudantes africanos, em Paris.
A negritude é um movimento de protesto contra a submissão do negro ao branco, e tem a sua origem em W. E. B. Du
Bois e L. Hunghes.
Para Ngoenha, a negritude surge como um movimento de protesto contra a submissão do negro, começando a partir de
uma viragem particular da história europeia que se caracterizou pelo relativismo cultural, isto é, em termos filosóficos
coincide com o surgimento da Pós-Modernidade, que se centrou no sujeito, pela tomada de consciência subjectiva e
privilegiando o concreto em oposição à tradição abstracta e universal como foi na Modernidade.
- Negritude como sofrimento e revolta: esta forma manifestou-se por meio da negação do deus branco, da beleza
ocidental, das línguas europeias, pois preconizava a preparar o processo de resistência, a questão da identidade, isto é,
restituir o orgulho do seu passado, afirmar o valor das suas culturas, rejeitar a assimilação que sufocou a personalidade
do negro. O paradigma neste contexto era a ideia da identidade, fidelidade e solidariedade.
- Negritude como política e independência nacional: virada para a luta de libertação nacional e conquista da
independência. O teor de Senghor aqui vem se evidenciar. Este filósofo era da opinião de que "a libertação cultural é a
condição preliminar da libertação política".
- Negritude como cultura e humanismo: constituiu um desejo de ascender à cultura universal através da reconciliação e
solidariedade com o branco, um repúdio ao ódio e desenvolver o diálogo entre culturas. Mostra-se claramente a boa
intenção da negritude.
Severino Ngoenha, escreve que: de tudo o que afirmamos sobre a negritude podemos evidenciar que ela é uma
revelação do património cultural, dos valores e sobretudo do espírito da civilização negro-africana vinculada a uma
atitude reflectida e crítica reorientada para o protesto contra o colonizador e para a recusa da ingerência dos dados
culturais europeus. Em última análise, a negritude fica como uma forma dos negros recuperar a sua identidade e os
seus valores que tinham sido ignorados durante séculos pelos colonizadores brancos europeus e a consequente luta
pela igualdade dos negros aos brancos.
A Negritude surge com o (como) o surgimento da consciência e do orgulho de ser negro, o que dará origem a um
importante surto de nacionalismos que desembocaram nas independências africanas dos anos 60. É muito mais do que
uma renovação cultural. Desencadeia um movimento muito amplo de consciência histórica, cultural e política, por sua

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vez propulsor de uma autêntica revolução política, que leva o negro a passar de vítima a motor da história, pelo
derrube da situação colonial tornada insustentável.
Movimentos que originaram a Negritude

Os movimentos que deram origem a Negritude foram: Black to Movement/regresso à África, de Marcus Garvey,
que defendia a separação entre os brancos e os negros. Fala do princípio de que se a Europa é dos europeus a África é
para os africanos. Ele (Garvey), primeiro evidenciou e criticou o fracasso do integracionismo de Dubois. Vendo que
não era possível uma igualdade entre os negros e brancos nos EUA, Marcus Garvey fomentou o regresso a «África
terra mãe». Reza a história que, Garvey chegou a recolher o contributo em dinheiro e comprou um navio e fez duas
viagens de América à África, trazendo negros e tendo os deixados na Libéria e na Serra Leoa, territórios já
independentes na altura. Na Europa a negritude foi definida por Jean-Paul Sartre no seu livro "Orphée Noir", como
sendo um "momento negativo de uma progressão dialéctica contra a afirmação, teórica e prática, da supremacia do
branco". Como se pode ver, para este pensador, a negritude é um movimento racista, isto é, o negro nega a
superioridade do branco. Desenvolvimento segregado de Booker T. Washington que lutava pela divisão nos EUA.
Defende a teoria dos cinco dedos na mesma mão; este pensador foi mais tradicionalista, continuando com a ideia da
segregação racial. Segundo relatos, chegou a construir escolas e uma faculdade de Direito só para negros. É preciso
salientar que Booker Washington usando a metáfora de “uma mão com cinco dedos diferentes” quis perpetuar a
dependência dos negros aos brancos e a defender a superioridade destes, portanto uma nova forma de colonização na
sociedade norte-americana. E Black Renaissance/renascimento negro de William E. Du Bois que defendia a
integração dos negros nos EUA. Este, resgata a ideia da supervalorização da raça negra. Proclamou, precisamente em
1903 que "sou negro e tenho glória deste nome. Sou orgulhoso do sangue que me corre nas veias". Mais tarde, na
mesma perspectiva Langston. Hughes (1926) afirma: “Nós criadores da nova geração negra, queremos exprimir a
nossa personalidade negra, sem vergonha nem temor. Se isto agrada aos brancos, ainda bem; se não lhes agrada, não
importa”. Assim, eles estavam apostados na igualdade de raças nos EUA. Porém, Dubois sendo muito intelectual, não
conseguiu mobilizar a massa dos "ghetos". O seu pensamento ficava circunscrito ao mundo das elites.

Os maiores precursores da Negritude foram:


Aimé Césaire (martinicano/ antilhano), fundou e passou a editar a revista “L’etudiant noir” (O estudante negro de
1934). É no terceiro número desta revista em que aparece pela primeira vez a expressão NEGRITUDE, entendido nas
palavras de Césaire por “Nada além da consciência de ser negro”. E a tomada da consciência de ser negro significava o
reconhecimento de um facto que implicava aceitação, um assumir do seu próprio destino, da sua história, da sua
cultura; Léopold Sédar Senghor (senegalês), esforça-se na descoberta, defesa e ilustração do património racial e do
espírito da civilização, Senghor, o qual define a negritude como "a soma total dos valores culturais do mundo negro".
E Leon Damas (ganês), a sua doutrina manifestava-se na negação da assimilação e defendia as qualidades do negro.
Estes resumiram o projecto em três conceitos: identidade - consiste em o negro assumir plenamente a sua condição;
fidelidade- atitude que traduz a ligação do homem negro à terra-mãe; solidariedade - sentimento que liga secretamente
todos os irmãos negros. Estes, resumiram o projecto da Negritude em três conceitos: identidade, que consiste em o
negro assumir plenamente a sua condição; fidelidade, é atitude que traduz a ligação do homem negro à terra-mãe; e a
solidariedade, que é o sentimento que liga secretamente todos os irmãos negros.

Resumo
A negritude surge como movimento de reivindicação da condição do homem negro na luta pelo seu reconhecimento,
como ser humano. O movimento da negritude começa em 1934 com um grupo de estudantes negros afro-americanos.
A expressão negritude é da autoria do Aimé Césaire, na sua edição de 1938, “Cahier d’un retour au pais natal”. A
Palavra negritude significa que o próprio negro deve reconhecer a sua condição de ser negro. Os fundadores da
negritude são: Leon Damas; Aimé Césaire e Leopoldo Senghor.
Actividades
Responda às questões que seguem com base na lição que acabou de aprender.

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1. Qual foi a missão principal do movimento da Negritude?


2. Mencione os percursores da Negritude.
3. Mencione os representantes máximos da negritude.
4. Mencione o autor da Palavra negritude.
5. Qual é o significado da expressão negritude?

Renascimento Negro
O povo africano conheceu várias humilhações, facto que o levou a se sentir inferior perante outros povos, sobretudo os
europeus que o escravizaram durante séculos. Até hoje, africanos há (até entre vós alunos) que se sentem inferiores
perante outros povos. Para tal era preciso que se desenvolvesse a ideologia que levasse o homem africano a renascer e
sentir-se homem igual aos outros. Portanto, o renascimento negro teve como intenção dar a possibilidade aos negros
de lutar arduamente pela sua causa, pôr em causa a alienação do negro. Renascer significa tornar a nascer. Depois do
nascimento biológico, o africano precisava de tornar a nascer psicologicamente para recuperar a autoestima extirpada
pelos colonizadores.
Du Bois dizia que se o branco mata um negro, o negro deve matar cinco brancos. No renascimento negro pede-se a
igualdade entre o negro e branco; procura-se a emancipação do negro.
A partir do renascimento negro, todos os poetas, romancistas, historiadores, pintores, músicos, arquitectos e escultores
se inspiram no passado histórico ou pré-histórico dos africanos para revelar tesouros de arte e de literatura que os
investigadores, sociólogos, filósofos interrogaram as nossas origens, os nossos monumentos, os nossos costumes, a
nossa língua vernacular para explicar anossa maneira de ser, de crer, a nossa razão e na nossa esperança.
Resumo
Nesta lição você aprendeu que: O renascimento negro aparece como movimento que a exemplo da negritude luta
pela igualdade entre o negro e o branco. O representante máximo do renascimento negro é Du Bois. O renascimento
negro manifestou-se em grande parte no campo da arte: Escultura; pintura; literatura; poesia; música em que em todas
essas obras a mensagem patente era sobre os feitos gloriosos do passado histórico da África.
Actividades
Responda às questões que seguem com base na lição que aprendeu:
1. Diga o nome do representante máximo do renascimento negro.
2. Quais eram as ideias do representante máximo do renascimento negro?
3. Explica o significado da expressão proferida por Du Bois: “Se um branco mata um negro, o negro deve matar dois
brancos”.
4. Em que aspectos se manifestou o Renascimento negro?

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