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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objectivo abordar sobre a Filosofia Africana, que é
a área de estudo que se dedica a compreender e analisar as tradições filosóficas dos povos
africanos, suas ideias, conceitos e perspectivas sobre a existência humana e o mundo.

A expressão Filosofia Africana é usada de múltiplas formas por diferentes


filósofos. Embora diversos filósofos africanos tenham contribuído para diversas
áreas, com a metafísica, epistemologia, filosofia moral e filosofia política, uma
grande parte dos filósofos discute se a filosofia africana de fato existe.

Um dos mais básicos motivos de discussão sobre a filosofia africana gira em


torno da aplicação do termo “africano”, ou seja, se o termo se refere ao conteúdo da
filosofia ou à identidade dos filósofos.

Na primeira visão, a filosofia africana seria aquela que envolve temas


africanos ou que utiliza métodos que são distintamente africanos. Na segunda visão,
a filosofia africana seria qualquer filosofia praticada por africanos ou pessoas de
origem africana.

A filosofia africana remonta a milhares de anos atrás, com raízes profundas nas
tradições orais e culturais do continente. Diferente da filosofia ocidental, que se baseia
principalmente na escrita, a filosofia africana valoriza a oralidade como forma de
transmitir conhecimento e sabedoria. Essa tradição oral permitiu que as ideias filosóficas
africanas fossem preservadas ao longo dos séculos, mesmo em sociedades sem tradição
escrita. Além disso, a filosofia africana foi influenciada por diversas correntes de
pensamento, como o animismo, o panteísmo e o humanismo. Essas influências se
refletem nas diferentes abordagens filosóficas encontradas em diferentes regiões do
continente.

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OS PRINCIPAIS PENSADORES DA FILOSOFIA AFRICANA E
SUAS CONTRIBUIÇÕES

A filosofia africana possui uma rica tradição de pensadores que


contribuíram para o desenvolvimento do campo. Entre eles, destacam-se nomes como
Kwame Nkrumah, Frantz Fanon, Cheikh Anta Diop e John Mbiti. Kwame Nkrumah, líder
político e filósofo ganês, foi um dos principais defensores do pan-africanismo, uma
ideologia que busca a unificação e a libertação do continente africano. Sua obra
“Consciência Africana” é considerada uma das bases do pensamento filosófico africano
contemporâneo. Frantz Fanon, psiquiatra e filósofo martinicano, é conhecido por suas
reflexões sobre a descolonização e a luta contra o racismo. Sua obra “Os Condenados da
Terra” analisa os efeitos psicológicos da colonização e propõe estratégias de resistência.
Cheikh Anta Diop, historiador e filósofo senegalês, defendeu a ideia de que a civilização
egípcia antiga era de origem negra. Sua obra “Origem Africana da Civilização: Mito ou
Realidade?” desafiou as narrativas eurocêntricas sobre a história africana. John Mbiti,
teólogo e filósofo queniano, é conhecido por sua abordagem da religião africana
tradicional. Sua obra “Teologia Africana: Uma Visão Holística” busca integrar as crenças
e práticas religiosas africanas na teologia cristã.

Uma das características distintivas da filosofia africana é sua abordagem única


sobre questões de identidade e cultura. Ao contrário da filosofia ocidental, que muitas
vezes busca uma universalidade abstrata, a filosofia africana valoriza a diversidade
cultural e reconhece a importância das experiências locais na construção do
conhecimento. A filosofia africana também destaca a interconexão entre o indivíduo e a
comunidade. A noção de ubuntu, por exemplo, enfatiza a importância das relações
humanas e da solidariedade na construção de uma sociedade justa e equitativa.

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A IMPORTÂNCIA DA ORALIDADE NA FILOSOFIA
AFRICANA: MITOS, PROVÉRBIOS E HISTÓRIAS

A oralidade desempenha um papel fundamental na filosofia africana. Mitos,


provérbios e histórias são transmitidos oralmente de geração em geração, carregando
consigo conhecimentos e ensinamentos filosóficos. Os mitos africanos, por exemplo,
não são apenas histórias fantásticas, mas também narrativas que explicam a origem do
mundo, a natureza humana e as relações entre os seres humanos e os deuses. Esses
mitos fornecem uma base para reflexões filosóficas sobre a existência e o propósito da
vida. Os provérbios africanos são outra forma importante de transmitir sabedoria
filosófica. Essas expressões concisas contêm ensinamentos sobre ética, moralidade e
valores fundamentais da sociedade africana. As histórias africanas também
desempenham um papel crucial na filosofia africana. Essas narrativas muitas vezes
apresentam personagens e situações complexas, permitindo reflexões sobre questões
éticas, políticas e existenciais. Em suma, o fascinante mundo da filosofia africana
oferece uma perspectiva única sobre a existência humana, a identidade e a cultura. Com
sua rica história, influências diversas e abordagem única, os pensadores africanos têm
contribuído para o enriquecimento do campo filosófico global. Através de sua
valorização da oralidade e da diversidade cultural, a filosofia africana nos convida a
refletir sobre questões fundamentais da vida de uma maneira profunda e significativa.

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Uma das principais características da filosofia africana é a ênfase na oralidade,
transmitindo conhecimento e sabedoria através de histórias, provérbios e tradições orais.
A filosofia africana valoriza a comunidade e o coletivo, colocando ênfase nas relações
sociais e no bem-estar da comunidade como um todo.

A filosofia africana nos convida a refletir sobre questões fundamentais da


existência humana, como identidade, justiça, liberdade e espiritualidade.

Estudar a filosofia africana nos permite ampliar nossa compreensão do mundo e


desafiar perspectivas eurocêntricas e coloniais.

AS PRINCIPAIS CORRENTES DA FILOSOFIA AFRICANA


A filosofia africana engloba diversas correntes, como o ubuntu, que enfatiza a
interconexão e a humanidade compartilhada; o pensamento sagrado, que valoriza a
espiritualidade e a conexão com o divino; e o pensamento crítico, que analisa questões
sociais e políticas.

IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA AFRICANA


A filosofia africana desafia as narrativas eurocêntricas dominantes e oferece
perspectivas únicas sobre questões filosóficas fundamentais. Ela também contribui para
o fortalecimento da identidade africana e para o desenvolvimento de soluções para os
desafios enfrentados pelo continente. A filosofia africana traz perspectivas inovadoras
para o pensamento contemporâneo, desafiando conceitos estabelecidos e oferecendo
alternativas aos modelos dominantes. Ela também promove a inclusão e a diversidade
no campo da filosofia. A filosofia africana desempenha um papel fundamental na
construção de identidades africanas, ao valorizar e resgatar as tradições e conhecimentos
ancestrais. Ela também promove o orgulho e a valorização da diversidade cultural do
continente.

A filosofia africana também desempenha um papel importante na luta contra o


racismo, ao desafiar os estereótipos e preconceitos sobre a África e suas culturas. Ela
também oferece uma base intelectual para a resistência e a promoção da igualdade
racial.

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A filosofia africana contribui para a construção de um mundo mais justo e
igualitário ao promover o respeito pela diversidade cultural, ao questionar as estruturas
de poder opressivas e ao buscar soluções para os desafios enfrentados pelas sociedades
africanas.

FILOSOFIA AFRICANA ANTIGA


Joseph i. Omoregbe define um filósofo como “aquele que dedica boa parte
de seu tempo refletindo sobre questões fundamentais sobre a vida humana ou sobre o
universo físico, e que faz isso de maneira habitual”, e diz que não existe nenhuma
filosofia africana articulada e documentada, ainda que exista uma tradição filosófica
africana. simplificando, mesmo que não existissem filósofos africanos conhecidos, a
filosofia foi, de fato, praticada na áfrica. uma forma de filosofia natural sempre esteve
presente na áfrica desde tempos muito antigos. se tomarmos a filosofia como sendo um
conjunto coerente de crenças, mas não como um sistema de explicar a unidade do
entendimento de todos os fenômenos, então praticamente todas as culturas possuem
filosofia.

FILOSOFIA AFRICANA MEDIEVAL


Na tradição islâmica, ibn bajjah filosofou junto com linhas neoplatônicas no
século xii. o sentido da vida humana, de acordo com bajjah, era a busca da
felicidade, e essa felicidade verdadeira só é atingida através da razão e da filosofia,
até mesmo transcendendo os limites da religião organizada. ibn rush filosofou
segundo as linhas aristotélicas, estabelecendo a escolástica do averroísmo.
notavelmente, ele argumentou que não havia conflitos entre a religião e a filosofia,
uma vez que existem diversos caminhos para deus, todas igualmente válidas, e que
o filósofo está livre para tomar o caminho da razão, enquanto que as pessoas
comuns só eram capazes de tomar o caminho dos ensinamentos repassados a eles.
bom, em contrapartida

Ibn sab’in discordou dessa ideia, alegando que os métodos da filosofia


aristotélica eram inúteis na tentativa de entender o universo, porque elas não
refletiam a unidade básica com deus e consigo mesma, de modo que o verdadeiro
entendimento necessário requereria métodos diferentes de raciocínios.

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FILOSOFIA AFRICANA CONTEMPORÂNEA
Em termos de filosofia política, a independência da Etiópia e o exercício da
independência dos nativos africanos frente ao colonialismo europeu serviram como gritos de
guerra no final do século XIX e início do século XX, e foram determinantes para os
movimentos de independência de grande parte dos países africanos durante o século
XX.

O filósofo queniano Henry Odera Oruka (1944-1995) distinguiu o que ele


chama de quatro tendências na filosofia africana contemporânea: Etnofilosofia,
Sagacidade Filosófica, Filosofia Ideológica Nacionalista e Filosofia profissional. Mais
tarde, Oruka adicionaria mais duas categorias: a Filosofia Literária – Artística, que teve
representantes como Ngugi wa Thiongo, Wole Soyinka, Chinua Achebe, Okot
p’Bitek, e Taban Lo Liyong; e a Filosofia Hermenêutica na qual Maulana Karenga
destaca-se como um dos principais filósofos. Ele escreveu um livro de 803 páginas
intitulado “Maat, o ideal moral no Egito Antigo”. Vale destacar, também, o movimento
da Black Philosophy (“filosofia negra”), que estuda a cultura africana e seus reflexos
por exemplo na crítica literária.

ETNOFILOSOFIA E SAGACIDADE FILOSÓFICA


O termo “etnofilosofia” tem sido usado para designar as crenças encontradas
nas culturas africanas. tal abordagem trata a filosofia africana como consistindo em
um conjunto de crenças, valores e pressupostos que estão implícitos na linguagem,
práticas e crenças da cultura africana. um dos defensores desta proposta é placide
tempels, que argumenta que a metafísica do povo bantu está refletida em sua
linguagem. segundo essa visão, a filosofia africana pode ser melhor compreendida a
partir a realidade refletida nas línguas da áfrica.

Um exemplo deste tipo de abordagem é a defendida por e. j. algoa, da


universidade nigeriana de port harcourt, que defende a existência de uma filosofia
da história decorrente dos provérbios tradicionais do delta do níger, em seu
artigo “uma filosofia da história africana na tradição oral”. algoa argumenta que,
na filosofia africana, a idade é vista como um fator importante na obtenção de

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sabedoria e de interpretação do passado. em apoio dessa tese, ele cita provérbios
como “mais dias, mais sabedoria” e “o que um velho vê sentado, o jovem não vê em
pé“. a verdade é vista como eterna e imutável (“a verdade nunca apodrece”), mas as
pessoas estão sujeitas ao erro (“mesmo um cavalo de quatro patas tropeça e cai”),
por exemplo.

Outra aplicação mais controversa dessa abordagem está incorporada no


conceito de negritude. léopold sédar senghor, um dos criadores desse conceito,
argumentou que a abordagem nitidamente africana para a realidade é baseada mais
na emoção do que na lógica, se manifestando através das artes e não através da
ciência e da análise. cheikh anta diop e mubabinge bilolo, por outro lado, embora
concordem que a cultura africana é única, contestam essa opinião, destacando que o
antigo egito estava inserido na cultura africana quando deu grandes contribuições
para as áreas da ciência, matemática, arquitetura e filosofia, fornecen do uma base
para a civilização grega.

Os críticos dessa abordagem argumentam que o verdadeiro trabalho


filosófico está sendo feito pelos filósofos acadêmicos, e que palavras de uma
determinada cultura podem ser selecionadas e organizadas de muitas maneiras, a
fim de produzir sistemas de pensamentos muitas vezes contraditórios.

A sagacidade filosófica (sage philosophy, literalmente “filosofia do sábio”) é


uma espécie de visão individualista da etnofilosofia, foi criada na década de 1970
por henry odera oruka e consiste no registro das crenças dos “sábios” das
comunidades tradicionais africanas. a premissa aqui é que, embora a maioria das
sociedades exija algum grau de conformidade de crença e comportamento de seus
membros, alguns desses membros (os sábios) chegam a níveis superiores de
conhecimento e entendimento de suas culturas e visão de mundo. em alguns casos,
o sábio vai além do mero conhecimento e compreensão, atingindo a reflexão e o
questionamento – tornando-se, então, exemplo de sagacidade filosófica. os críticos
dessa abordagem argumentam que nem todos os questionamentos e reflexões são
filosóficos. além disso, se a filosofia africana for definida apenas em termos de
sagacidade filosófica, então os pensamentos dos sábios não poderiam se enquadrar

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na filosofia africana, pois não foram obtidos de outros sábios. também, por esse
ponto de vista, a única diferença entre os antropólogos não africanos e os filósofos
africanos seria apenas a nacionalidade do pesquisador.

A finalidade dos autores não é necessariamente de afirmar a existencia de


uma filosofia africana, mas assinalar a presença do saber tradicional africano.

A filosofia africana é um campo fascinante que muitas vezes é negligenciado nas


discussões acadêmicas e populares. No entanto, essa tradição filosófica rica e
diversificada tem muito a oferecer para o entendimento do mundo e da condição
humana.

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CONCLUSÃO

A filosofia africana é uma área de estudo que busca compreender e analisar as


tradições filosóficas dos povos africanos. Essa área de estudo é muitas vezes
negligenciada e subestimada, mas possui uma riqueza e diversidade de pensamento que
merece ser explorada. A filosofia africana abrange uma variedade de temas, como a
concepção de tempo, a relação entre o indivíduo e a comunidade, a espiritualidade e a
ética. Uma das principais características da filosofia africana é a sua abordagem
holística, que busca compreender o mundo de forma integrada, considerando a
interconexão entre os seres humanos, os animais e a natureza. Os pensadores africanos
também têm contribuído para debates contemporâneos, como a crítica ao eurocentrismo
na filosofia ocidental e a busca por uma abordagem mais inclusiva e diversa no campo
da filosofia. Alguns dos principais filósofos africanos incluem Kwame Nkrumah, Frantz
Fanon, Achille Mbembe e Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí. A filosofia africana oferece uma
perspectiva única e enriquecedora para a compreensão do mundo e pode contribuir para
a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

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