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Filosofia africana pré-moderna[editar]

Joseph I. Omoregbe define um filósofo como "aquele que dedica boa parte de seu tempo
refletindo sobre questões fundamentais sobre a vida humana ou sobre o universo físico, e
que faz isso de maneira habitual", e diz que não existe nenhuma filosofia articulada e
documentada, ainda que exista uma tradição filosófica. Simplificando, mesmo que não
existisse filósofos africanos conhecidos, a filosofia foi praticada na África. Isso pode ser
apoiado através da observação da literatura grega Ilíada e outros em que os conceitos
filosóficos como a arrogância, o heroísmo e a superioridade da cultura grega vigentes
antes do período final da Antiguidade Clássica Grega. Assim, uma forma de filosofia
natural sempre esteve presente na África desde tempos muito antigos.

Se tomarmos a filosofia como sendo um conjunto coerente de crenças, mas não como um
sistema de explicar a unidade do entendimento de todos os fenômenos, então poucas ou
quase nenhuma cultura carece de filosofia.

A visão padrão da ascensão do pensamento filosófico (e científico) é que provavelmente


exigiu um certo tipo de estrutura social, mas que mesmo dada essa condição, há mais um
conjunto de fatores necessários.

A filosofia na África tem uma história rica e variada, que data do Egito pré-dinástico,
continuando até o nascimento do cristianismo e do islamismo. Sem dúvida, foi
fundamental a concepção do "Ma'at", que traduzido, significa aproximadamente "justiça",
"verdade", ou simplesmente "o que é certo". Uma das maiores obras de filosofia política
foi o Maxims de Ptah-Hotep, que foi empregado nas escolas egípcias durante séculos.

Filósofos egípcios antigos deram contribuições extremamente importantes para a filosofia


helenística, filosofia cristã e filosofia islâmica.

Na tradição helênica, a influente escola filosófica do neoplatonismo foi fundada pelo


filósofo egípcio Plotino, no terceiro século da era cristã.

Na tradição cristã, Agostinho de Hipona foi uma pedra angular da filosofia e da teologia
cristã. Ele viveu entre os anos 354 a 430, e escreveu a sua obra mais conhecida "Cidade
de Deus", em Hipona, atual cidade argelina de Annaba. Ele desafiou uma série de ideias
de sua idade incluindo o arianismo, e estabeleceu as noções básicas do pecado original e
da graça divina na filosofia e na teologia cristã.

Na tradição islâmica, Ibn Bajjah filosofou junto com linhas neoplatônicas no século XII.
O sentido da vida humana, de acordo com Bajjah, era a busca da felicidade, e essa
felicidade verdadeira só é atingida através da razão e da filosofia, até mesmo
transcendendo os limites da religião organizada.

Ibn Rush filosofou segundo as linhas aristotélicas, estabelecendo a escolástica do


Averroísmo. Notavelmente, ele argumentou que não haviam conflitos entre a religião e a
filosofia, uma vez que existem diversos caminhos para Deus, todas igualmente válidas, e
que o filósofo está livre para tomar o caminho da razão, enquanto que as pessoas comuns
só eram capazes de tomar o caminho dos ensinamentos repassados a eles.

Ibn Sab'in discorda dessa ideia, alegando que os métodos da filosofia aristotélica eram
inúteis na tentativa de entender o universo, porque elas não refletem a unidade básica
com Deus e consigo mesma, de modo que o verdadeiro entendimento necessário requer
métodos diferentes de raciocínio.

Houve também filosofia pré-modernista na África Subsaariana. O ganês Anton Wilhelm


Amo é um importante representante. Ele foi levado pela Companhia das Índias Orientais
para a Europa, onde adquiriu diplomas nas áreas da medicina e da filosofia, chegando a
lecionar na Universidade de Jena.

Em termos de filosofia política, a independência da Etiópia e o exercício da


independência dos nativos africanos frente ao colonialismo europeu serviram como gritos
de guerra no final do século XIX e início do século XX, e foram determinantes para os
movimentos de independência de grande parte dos países africanos durante o século XX.

Filosofia africana moderna[editar]


O filósofo queniano Henry Odera Oruka distinguiu o que ele chama de quatro tendências
na filosofia africana moderna: etnofilosofia, sagacidade filosófica, filosofia ideológica
nacionalista e filosofia profissional. Mais tarde, Oruka adicionaria mais duas categorias: a
filosofia literária/artística, que teve representantes como Ngugi wa Thiongo, Wole
Soyinka, Chinua Achebe, Okot p'Bitek, e Taban Lo Liyong; e a filosofia hermenêutica.
Maulana Karenga é um dos principais filósofos. Ele escreveu um livro de 803 páginas
intitulado "Maat, o ideal moral no Egito Antigo".

Etnofilosofia e sagacidade filosófica[editar]

O termo etnofilosofia tem sido usado para designar as crenças encontradas nas culturas
africanas. Tal abordagem trata a filosofia africana como consistindo em um conjunto de
crenças, valores e pressupostos que estão implícitos na linguagem, práticas e crenças da
cultura africana e como tal, é visto como um item de propriedade comum. Um dos
defensores desta proposta é Placide Tempels, que argumenta em filosofia bantu que a
metafísica do povo Bantu são refletidas em suas linguagens. Segundo essa visão, a
filosofia africana pode ser melhor compreendido como surgindo a partir dos pressupostos
fundamentais sobre a realidade refletida nas línguas da África.

Um exemplo deste tipo de abordagem é a palavra de E. J. Algoa, da universidade


nigeriana de Port Harcourt, que defende a existência de uma filosofia da história
decorrentes dos provérbios tradicionais do Delta do Níger, eu seu artigo "Uma Filosofia
da História Africana na Tradição Oral". Algoa argumenta que, na filosofia africana, a
idade é vista como um fator importante na obtenção de sabedoria e de interpretação do
passado. Em apoio desa tese, ele cita provérbios como "Mais dias, mas sabedoria" e "O
que um velho vê sentado, o jovem não vê em pé". A verdade é vista como eterna e
imutável ("A verdade nunca apodrece"), mas as pessoas estão sujeitas ao erro ("Mesmo
um cavalo de quatro patas tropeça e cai"). Também é perigoso julgar pelas aparências
("Um olho grande não significa uma visão aguçada"), mas em primeira mão, ela pode ser
confiável ("Aquele que vê, não erra"). O passado não é visto como fundamentalmente
diferente do atual, mas a história é vista como um todo ("Um contador de histórias não
falam de épocas diferentes"). Segundo eles, o futuro vai além do conhecimento ("Mesmo
um pássaro com um longo pescoço não poderá prever o futuro"). No entanto também é
dito "Deus vai sobreviver a eternidade". A história é vista como sendo de importância
vital ("Um ignorante em sua origem não é um humano"), e os historiadores, conhecidos
como "filhos da terra" são altamente respeitados ("Os filhos da terra possuem os olhos
aguçados de uma píton. Esses argumentos representam apenas um lado da vasta cultura
africana, constituída por patriarcados, matriarcados, monoteístas e animistas.

Outra aplicação mais controversa dessa abordagem está incorporada no conceito de


negritude. Leopold Senghor, um defensor da negritude, argumentou que a abordagem
nitidamente africana para a realidade é baseada mais na na emoção do que na lógica, se
manifestando através das artes e não através da ciência e da análise. Cheikh Anta Diop e
Mubabinge Bilolo, por outro lado, embora concordem que a cultura africana é única,
contesta essa opinião, destacando que o Antigo Egito estava inserido na cultura africana
quando deu grandes contribuições para as áreas da ciência, matemática, arquitetura e
filosofia, fornecendo uma base para a civilização grega. Essa filosofia também pode ser
criticada por ser excessivamente reducionista, devido ao apoio óbvio nas realizações
egípcias.

Os críticos dessa abordagem argumentam que o verdadeiro trabalho filosófico está sendo
feito pelos filósofos acadêmicos, e que palavras de uma mesma cultura podem ser
selecionados e organizados de muitas maneiras, a fim de produzir sistemas de
pensamentos muitas vezes contraditórios.

A sagacidade filosófica é uma espécie de visão individualista da etnofilosofia, que é o


registro das crenças de certos membros de uma comunidade especial. A premissa aqui é
que, embora a maioria das sociedades exigem algum grau de conformidade de crença e
comportamento de seus membros, alguns desses membros chegam a níveis superiores de
conhecimento e entendimento de suas culturas e visão de mundo. Em alguns casos, o
sábio vai além de mero conhecimento e compreensão para reflexão e questionamento -
estes tornam-se alvos de sagacidade filosófica.

Os críticos dessa abordagem argumentam que nem todos os questionamentos e reflexões


são filosófica, além disso, se a filosofia africana for definida apenas em termos de
sagacidade filosófica, então os pensamentos dos sábios não poderiam se enquadrar na
filosofia africana, pois não foram obtidos de outros sábios. Também, por esse ponto de
vista, a única diferença entre os antropologistas não-africanos e filósofos africanos
parecem ser apenas a nacionalidade do pesquisador.
Filosofia profissional[editar]

Filosofia profissional é a visão europeia de pensar, refletir e raciocinar, já que tal forma é
relativamente nova na maioria da África. Essa visão seria a resposta mais comum da
maioria dos filósofos ocidentais. A filosofia africana tende a crescer em termos de
trabalho filosófico e aplicação.

Filosofia ideológica nacionalista[editar]

A filosofia ideológica nacionalista pode ser visto como um caso especial de sagacidade
filosófica. Ela também pode ser vista como uma forma de filosofia política. Em ambos os
casos, o mesmo tipo de problema surge: é preciso manter uma distinção entre ideologia e
filosofia, entre conjuntos de ideias e uma maneira especial de raciocínio. Muitos filósofos
se destacaram nesta área, como Kwame Anthony Appiah, Kwame Gyekye, Kwasi
Wiredu, Oshita O. Oshita, Lansana Keita, Peter Bodunrin, e Chukwudum B. Okolo.

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