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SUMÁRIO
À GUISA DE INTRODUÇÃO
ANEXOS
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
À GUISA DA INTRODUÇÃO
Os historiadores africanos, assim como, a maioria dos seus filósofos vêem espicaçadas
suas mentes com objecções como: Será que o africano pode filosofar? Existe, realmente,
uma Filosofia africana?
A tendência para a Filosofia faz parte da própria natureza humana, como é sabido, todo
ser humano por natureza é um filósofo, por isso, até certo ponto todo ser humano tem
uma inclinação natural para a Filosofia uma vez que está apto para reflectir e colocar
questões sobre a totalidade do Universo mesmo que estás questões não sejam tão
rigorosas como aquelas colocadas pelos filósofos profissionais. Questões como: Como
apareceu o mundo? Porquê é que anoitece? O porquê da morte? São problemas que o
homem comum (homem da rua) se coloca mas que, igualmente, são estudados com
maior rigor pelos filósofos de carreira. E questões como estas não são colocadas apenas
por homens e mulheres ocidentais, mas também por homens e mulheres de todo o
mundo incluindo africanos.
Deste modo, todo ser humano possui uma veia questionadora que o impele naturalmente
a filosofar. Se o africano faz parte a raça humana, é óbvio que, o africano está apto para
reflectir, como dissemos antes.
pelos africanos residentes em Nova York na cidade de Harlem (E.U.A) que lutavam
pela dignidade do homem Negro.
Se como afirmam alguns que a Filosofia «é uma forma de estar no mundo», então,
podemos também assegurar que qualquer comunidade ou povo, de qualquer raça e de
qualquer região ou cultura tem uma concepção própria de fazer Filosofia, típica da sua
forma de encarar o mundo e da sua realidade particular; visto que, nenhuma filosofia é
feita fora do contexto sócio-cultural do filósofo que a faz. Ela faz-se dentro de um povo,
de uma cultura, de um tempo, de um espaço. Assim acontece e continuará acontecendo
com a filosofia ocidental, assim acontece e continuará acontecendo com a filosofia
americana, assim acontece e continuará acontecendo com a filosofia africana, assim
acontece e continuará acontecendo com a filosofia oriental e com qualquer outro tipo de
filosofia que surgir.
Neste sentido está certo o filósofo Karl Jaspers quando afirma que “cada filosofia
defini-se a si própria pelo modo como se realiza”.
Em resposta a objecção levantada – existe sim, uma filosofia africana e o africano pode
filosofar. Visto que, A Filosofia é uma actividade racional e a racionalidade pertence a
todos os seres humanos (sem excepção).
Para o professor Moisés Quitari «hoje, o problema da Filosofia africana já não reside
no dilema da sua existência, mas sim na praticabilidade dos seus efeitos
transformadores, ou seja, o tema central da Filosofia africana já não é a sua plena
justificação frente as demais filosofias, nem tão pouco a defensiva racial, mas as metas
orientadoras do pensamento africano em virtude do progresso e do desenvolvimento da
África através do pensar africano».
Nesta panaceia, estamos de acordo que a África e os seus autênticos pensadores devem
preocupar-se em produzir conhecimentos a partir de suas cadeias de reflexão cultural, só
assim, poderemos ousar dizer em filosofia africana de carris científico e, eventualmente,
apresentar tal pensamento aos académicos de diversas áreas de investigação em culturas
tradicionais africanas. “Ser filósofo africano” – segundo professor Moisés Quitari –
«não é defender a ferro e fogo a África, mas racionalizar e criticar seus feitos».
Sendo Filosofia africana, um dos ramos da Filosofia, podemos defini-la como «o estudo
científico sobre a racionalidade africana tendo em conta seu modo de agir, de pensar,
de ser, dentro do contexto cultural».
Em resumo, entende o professor Moisés Quitari, como “uma reflexão sobre a dignidade
do homem negro em defesa da sua forma de pensar desde a antiguidade até a
A actividade filosófica está aberta a toda a espécie humana e é na base desta premissa
que a Filosofia se estrutura enquanto disciplina sistemática. Quando Placide Tempels
nos diz que «quem pretender que os povos primitivos não possuem um sistema de
pensamento, excluiu-os, como consequência, da categoria dos seres humanos» quer
demonstrar que todos possuem uma filosofia enquanto empreendimento realizado com
as capacidades da racionalidade. Neste itinerário, encontra-se o filósofo africano
Parrinder que alega: «dizer que os povos africanos não têm sistemas de pensamento
explícitos e assumidos, seria negar a sua humanidade» e negar a humanidade do
africano, simplesmente, através da cor da pele demonstraria a incapacidade racional do
europeu.
A investigação realizada pelos filósofos africanos, como Henry Oruka, tem evidenciado
com maior nitidez que, no pensamento tradicional africano, não existia apenas o nível
de primeira ordem da Filosofia, mas também o nível da segunda ordem.
Para Tempels «declarar a priori que os povos primitivos não têm ideias acerca da
natureza dos seres ou que eles não possuem uma ontologia e que estão totalmente
privados de lógica é simplesmente, virar as costas a realidade». Não há dúvida de que
existe uma contribuição cultural de cada povo, assim como do africano dentro dos temas
universais da Filosofia.
Cada povo tira do seu seio determinados elementos que oferece ao espírito universal.
Não se pode negar que um africano exposto a Filosofia ocidental clássica, como base
de sua formação filosófica, pense autenticamente como africano fruto do
enraizamento da fusão de pensamentos.
Por isso, segundo Paulin Hountondji “não chegaremos nunca a criar uma autêntica
Filosofia africana, uma Filosofia genuína, genuinamente africana”. A maior parte da
literatura escrita a respeito da Filosofia africana é relativamente recente; há indícios nas
culturas africanas, de opiniões acerca de algumas das principais questões debatidas na
Filosofia ocidental.
A Filosofia africana é de natureza racional, assim como, todas as outras filosofias e não
podemos nos apartar desta realidade que é visível em todos os seres racionais.
OBJECTO
MÉTODO DE ESTUDO
A África desde sempre foi entendida pelos historiadores europeus como continente sem
história alegando a perca de contribuição científica que vem acompanhando a
humanidade desde o período antigo. Se nos propusermos a analisá-lo do Egipto antigo,
passando pelas terras sudanesas, Kushitas até Mwana Mutapa (o grande Zimbambwé)
veremos que ela já havia feito descobertas importantíssimas ao esculpir metais para caça
e pesca fluvial.
A hierarquia das raças é a que mais preocupou desde muito cedo os pensadores
europeus. A raça passou a ser um sistema de classificação usado para categorizar os
seres humanos em grupos ou populações grandes e distintas divididas por aspectos
anatómicos, culturais, étnicos, genéticos, geográficos, históricos, linguísticos, religiosos
e sociais. Usando em primeiro lugar, para se referir a falantes de um idioma comum e,
posteriormente, para denotar filiações nacionais.
No século XVII, iniciou-se o uso do termo para relacionar os traços físicos observáveis
das pessoas. Tal uso promoveu hierarquias favoráveis a diferentes grupos étnicos.
A partir do século XIX, o termo passou a ser usado frequentemente, em um sentido
taxonómico, para designar as populações humanas geneticamente diferentes, definidas
pelo fenótipo.
Até os célebres pensadores ocidentais que, nem se quer passaram por ela, afirmam o
mesmo; dentre eles: Kant, Hegel e Levy-Bruhl.
Kant foi filósofo alemão nasceu em Konigsberg, Prússia oriental (actual Alemanha) em
22 de Abril de 1724 e morreu em 12 de Fevereiro de 1804, em sua cidade natal da qual
jamais saiu. Autor de várias obra, uma das quais se chamou “Sobre a Divisão das Raças
Humanas” onde fez uma passeata em torno do raciocínio dos diversos povos que
constituem a humanidade.
Nesta obra Kant tenta explicar a origem das raças afirmando que a “raça negra terá
surgido devido ao ar quente e húmido que batia na pele original”.
Por outro lado, afirmou entre as várias raças do género humano, a raça negra e a
ameríndia são as mais decadentes dentre todas podendo ser as mais vulneráveis da
humanidade.
Enquanto, a ciência ao dealbar das raças nos diz que a os primeiros hominídeos
apareceram em África, concretamente, na Etiópia, por isso, a África é tida como “Berço
da Humanidade”.
Uma vez que a história é a realização do divino e, como Hegel afirma: os africanos não
possuem divindade ou “consciência de algo superior” estes não são considerados
homens históricos, foram excluídos da análise histórica da razão por não possuírem
nada que a cultura europeia da época considerasse relevante para ser parte do “mundo
civilizado”.
Podendo citar Carolus Linnaeus e Carlos Lineu (1707 - 1778), em português Carlos
Lineu, e em sueco após nobilitação Carl Von Linné (23 de Maio de 1707 - 10 de janeiro
de 1778) foi um botânico, zoólogo e médico sueco, criador da nomenclatura binomial e
da classificação científica, sendo assim considerado o "pai da taxonomia moderna". Foi
um dos fundadores da Academia Real das Ciências da Suécia. Lineu participou também
no desenvolvimento da escala Celsius (então chamada centígrado) de temperatura,
invertendo a escala que Anders Celsius havia proposto, que tinha 0° como ponto de
ebulição da água e 100° como o ponto de fusão.
Em seu livro "sistema naturae" , Charles Linné, ele classifica o homo sapien como:
"... classificada em cinco variedades, cujas principais delas são: sumariadas em seguida:
a) Homem selvagem, quadrúpede, mudo, peludo.
b) Americano: cor de cobre, colérico, ereto, cabelo negro, liso, espesso, narinas largas,
semblante rude, barba rala, obstinado, alegre. pinta-se com finas linhas vermelhas e
guia-se por costumes.
c) Europeu: claro, sanguíneo, musculoso, cabelo loiro, castanho, ondulado, olhos azuis,
delicado, perspicaz, inventivo. Coberto por vestes justas, governado por leis.
d) Asiático: escuro melancólico, rígido, cabelo negros, olhos escuros, severos,
orgulhosos, cobiçosos. Coberto por vestimentas soltas. Governados por opiniões.
e) Africano: negro, fleumático, relaxados, cabelos negros, espesso, pele acetinada, nariz
achatado, lábios túmidos, engenhosos, indolente, negligente. É governado pelo capricho.
"
Para Hegel o Estado surge quando ordens subjectivas, que variam ao sabor do acaso,
são substituídas por ordens objectivas com maior fixidez. Diante disso, “Mnemósine,
com vistas ao fim perene de formar e constituir o Estado, é induzida a conferir o
perdurar da recordação” (Hegel, G.W.F. Filosofia da história, p. 58). O perdurar da
recordação se dá com o registo escrito das ordens. Produzir leis escritas é registar um
fato histórico. Baseado nas informações históricas que dispunha, Hegel julga que na
África não se produziu nenhuma organização política que visasse à liberdade. A
ausência do registro de ordens objectivas e a prática de escravidão vista como algo
comum por diversas tribos africanas, seria para Hegel fatos que comprovariam sua tese.
Na América o caso já é diferente, essa não faz parte da história por ser a terra do futuro.
Mesmo havendo ordens objectivas na América, estas para Hegel, são somente ecos das
ideias do velho mundo, e não resultado da consciência da liberdade por parte dos
americanos.
O que nos é incómodo é a seguinte questão: como é possível falar da América enquanto
terra do futuro? Ou seja, se nada mais há de se realizar na história a não ser o princípio
da subjectividade, como pode na América um dia parar de ecoar ideias do Velho Mundo
e surgir algo de novo? As lições sobre filosofia da história de Hegel não oferecem uma
resposta para esse problema. Destarte, o tema do fim (End) da história conserva esse
paradoxo dentro do pensamento de Hegel. Por um lado, o que havia de ser realizado
pelo Espírito na história já foi realizado na Europa. Mas, por outro lado, a América
aparece como um lugar que pode realizar algo de novo, mas o que é esse novo
permanece um enigma, visto que o Espírito já atingiu sua meta que é conhecer a si
mesmo e se efectivar na história.
De 1879 a 1882 leccionou filosofia no liceu de Poitiers e depois, entre 1882 e 1885 no
liceu de Amiens. Doutorou-se em filosofia em 1884 com a tese A idéia de
responsabilidade. No ano seguinte passou a leccionar no liceu Louis le Grand, de onde
saiu em 1895. Foi nomeado director de estudos na Sorbonne em 1900. Dois anos depois,
substituiu Émile Boutroux na cadeira de história da filosofia.
A grande contribuição de Lévy-Bruhl foi ter permitido uma compreensão dos factores
irracionais no pensamento e nas religiões primitivas. Diz ele: «É por isso que a
mentalidade dos primitivos tanto pode ser pré-lógica como mística. Temos aí antes dois
aspectos de uma mesma propriedade fundamental do que dois aspectos distintos. Essa
mentalidade será chamada mística se se considerar mais especialmente o conteúdo das
representações; pré-lógica, se se olhar antes para as ligações. Pré-lógica não deve
também fazer supor que esta mentalidade constitui uma espécie de estádio inferior, no
tempo, ao aparecimento do pensamento lógico. Existiram alguma vez seres humanos ou
pré-humanos cujas representações colectivas não tenham obedecido a leis lógicas?
Ignoramo-lo. Em todo o caso, é muito pouco verossímil. Pelo menos, a mentalidade das
sociedades de tipo inferior, a que chamo pré-lógica à falta de melhor nome, não
apresenta de modo algum esse carácter. Não é anti-lógica; também não é alógica.
Chamando-lhe pré-lógica, quero somente dizer que ela não se sujeita, antes de tudo o
mais, a abster-se de contradição. Primeiro obedece à lei da participação. Assim
orientada, não se compraz gratuitamente no contraditório (o que a tornaria
constantemente absurda para nós), mas também não pensa em evitá-lo. Na maioria das
vezes, é indiferente ao princípio de contradição. O que significa que é difícil de
acompanhar».
“O escravo moderno não difere do senhor apenas pela liberdade. Mas ainda pela
origem. Pode-se tornar livre o negro, mas não seria possível fazer com que não ficasse
em posição de estrangeiro perante o europeu. E isso ainda não é tudo: naquele homem
que nasceu na degradação, naquele estrangeiro introduzido entre nós pela servidão,
apenas reconhecemos os traços gerais da condição humana. O seu rosto parece-nos
horrível, a sua inteligência parece-nos limitada, os seus gostos são vis, pouco nos falta
para que o tomemos por um ser intermediário entre o animal e o homem”
(TOCQUEVILLE, 1977: pág. 262).
Nem mesmo na obra de um dos autores mais influentes sobre a sociologia
contemporânea como Max Weber, deixamos de encontrar expressões grosseiras e
racistas em referência aos negros. Weber, é o autor do livro A Ética Protestante e o
Espírito do Capitalismo, que foi considerado por alguns estudiosos brasileiros o melhor
livro de não-ficção do século XX (Folha de São Paulo 11/04/1999). Na segunda parte da
obra em que Weber mais trabalhou em sua vida, Economia e sociedade: fundamentos
da sociologia compreensiva, o autor discute de passagem a idéia de “pertinência à raça”,
e comenta que, “nos Estados Unidos, uma mínima gota de sangue negro desqualifica
uma pessoa de modo absoluto, enquanto que isso não ocorre com pessoas com
quantidade considerável de sangue índio” (WEBER, 1991: pág. 268). Até este ponto o
texto parece descritivo e é apresentado como uma constatação da situação existente
naquele país. Mas, logo a seguir, o Weber sempre tão cuidadoso em tentar controlar os
juízos de valor emitidos em sua obra afirma:
“Além da aparência dos negros puros, que do ponto de vista estético, é muito mais
estranha do que a dos índios e certamente constitui um factor de aversão, sem dúvida
contribui para esse fenómeno a lembrança de os negros, em oposição aos índios, terem
sido um povo de escravos, isto é, um grupo extra mentalmente desqualificado”
(WEBER, 1991: pág. 268).
Como podemos ler acima, além da “aparência dos negros puros”... que “certamente
constitui um factor de aversão” para o grande sociólogo alemão, ele também considera
que entre as “maiores diferenças raciais...”, “como eu pude observar”, argumenta Weber,
também deve constar o que ele denomina como “o propalado cheiro de negro”
(WEBER, 1991: pág. 272).
O pensamento clássico europeu não difunde representações depreciativas apenas sobre
negros e índios. Èmile Durkheim, por exemplo, outro autor considerado um dos
fundadores da sociologia na França, em seu livro Da Divisão do Trabalho Social, ao
tratar das diferenças entre os gêneros masculino e feminino, se baseou nas pesquisas do
cientista Lebon, para quem
“...o volume do crânio do homem e da mulher, mesmo quando se comparam pessoas de
igual idade, estatura e peso iguais, apresenta diferenças consideráveis em favor do
homem e esta desigualdade vai igualmente crescendo com a civilização, de maneira
que, do ponto de vista da massa do cérebro e, por conseguinte, da inteligência, a
mulher tende a diferenciar-se cada vez mais do homem. A diferença que existe, por
exemplo, entre a média dos crânios dos parisienses é quase o dobro daquela observada
entre os crânios masculinos e femininos do antigo Egito” (Lebon, citado por Durkheim,
1978: pág. 28).
Observemos que no raciocínio de Lebon, no qual Durkheim se baseia para elaborar a
sua teoria sobre a divisão do trabalho nas sociedades modernas, conforme um povo vai
crescendo em civilização maior o crânio e a quantidade de massa encefálica dos seus
membros e, também, maior a diferença de inteligência entre o homem e a mulher,
sempre em favor do homem.
Durkheim é também autor de As formas elementares da vida religiosa, que é uma obra
ainda hoje muito respeitada pelos estudiosos das disciplinas de sociologia e
antropologia. O que chama a atenção no texto são os adjetivos que o autor utiliza para
se referir às religiões não-européias. Para Durkheim, do seu ponto de vista, era
importante estudar “a religião mais primitiva e mais simples que atualmente seja
conhecida, fazer sua análise e tentar explicá-la”. O autor considera importante estudar
“as formas caducas de civilização”, mas não “pelo prazer de relatar coisas bizarras e
singularidades”, e sim para que seja revelado um “aspecto essencial e permanente da
humanidade”, que é o que ele chama de “natureza religiosa do homem”.
Embora Durkheim considere importante estudar o fenômeno religioso, ele não deixa de
considerar que existe uma hierarquia entre as religiões, “umas podem ser ditas
superiores às outras no sentido em que elas põem em jogo funções mentais mais
elevadas, são mais ricas em idéias e sentimentos, nelas figuram mais conceitos, menos
sensações e imagens, sua sistematização é mais engenhosa” (DURKHEIM, 1978: pág.
205-206).
No final da introdução de sua obra, Durkheim parece se desculpar por estudar as
religiões que considera “primitivas”, afirmando que não pretendida “atribuir virtudes
particulares às religiões inferiores [... ]. Ao contrário, elas são rudimentares e grosseiras.
[...] Mas a sua própria grosseria as torna instrutiva; pois elas constituem assim
experiências cômodas, onde os fatos e suas relações são mais fáceis de perceber”
(DURKHEIM, 1978: pág. 210).
Preocupado em demonstrar como as relações sociais de produção e o desenvolvimento
das forças produtivas são os fatores primordiais para entendermos os processos de
estruturação e mudança nas sociedades, Karl Marx abordou muito pouco o problema
das diferenças entre as supostas raças humanas em sua obra. O eurocentrismo do
pensamento de Marx pode ser constatado de outra maneira, como já demonstrou
Edward Said (1990: pág. 161-190). Em um texto de 1853, ou seja, de um Marx já
maduro, aparece uma reflexão sobre os “Resultados futuros da dominação britânica da
Índia”, com a qual é avaliada a atuação colonialista da Inglaterra na Índia e suas
conseqüências. Para Marx (1982: pág. 520) “a Inglaterra tem que cumprir na Índia uma
dupla missão: uma destrutiva, outra regeneradora – a aniquilação da velha sociedade
asiática e o estabelecimento dos fundamentos da sociedade ocidental na Ásia”.
Marx está considerando a ocidentalização da Índia como uma missão regeneradora, mas
ele ainda expõe de forma mais evidente o seu eurocentrismo ao comparar outras
civilizações como a indiana e a inglesa. Vejamos:
“Árabes, Turcos, Tártaros, Mongóis, que sucessivamente invadiram a Índia, cedo
ficaram indianizados, uma vez que, segundo uma lei eterna da história, os
conquistadores bárbaros são eles próprios conquistados pela superior civilização dos
seus súbditos. Os Britânicos foram os primeiros conquistadores superiores e, por
conseguinte, inacessíveis à civilização hindu. Destruíram-na, rebentando com as
comunidades nativas, arrancando pela raiz a indústria nativa e nivelando tudo o que
era grande e elevado na sociedade nativa. As páginas históricas da sua dominação na
Índia quase não relatam mais nada para além dessa destruição. A obra de regeneração
mal transparece através de um montão de ruínas. Apensar disso ela
começou”. (MARX, 1982: pág. 520).
Em um outro texto jornalístico de 1853, “A dominação britânica na Índia”, Marx não
deixava de denunciar a violência do colonialismo inglês, mas considerava tal violência
como necessária para a modernização e ocidentalização da civilização indiana. A
filosofia da história de inspiração hegeliana é evidenciada quando Marx afirma que “não
podemos esquecer que estas idílicas comunidades aldeãs, por muito inofensivas que
possam parecer, foram sempre o sólido alicerce do despotismo oriental, confinara o
espírito humano ao quadro mais estreito possível, fazendo dele o instrumento dócil da
superstição, escravizando-o sob o peso de regras tradicionais, privando-o de toda a
energia histórica” (MARX, 1982: pág. 517). Marx denuncia a violência das civilizações
da Índia, considerando a vida das populações indianas como “indigna, estagnada e
vegetativa”, uma “espécie de existência passiva”, que “desencadeava forças de
destruição selvagens, sem objectivos e sem limites, e tornavam o próprio assassínio um
rito religioso no Indostão”. Sobre as religiões da Índia, Marx também não economiza
expressões depreciativas, atribuindo-lhes “um culto da natureza brutalizador, que exigia
a sua degradação no fato de o homem, o senhor da natureza, cair de joelhos em
adoração de kanuman, o macaco, e Sabbala, a vaca”. Por tudo isso, Marx, ao final do
seu texto, como se fosse um colonialista absolve a violência do colonialismo Inglês:
“quaisquer que possam ter sido os crimes da Inglaterra, ela foi o instrumento
inconsciente da história ao provocar essa revolução” (MARX, 1982, pág. 517-518).
Como vimos, não encontramos nos textos mencionados acima, nenhuma distinção
relevante entre o pensamento de Marx e os dos filósofos Hegel e Kant, quando o
assunto são as populações não europeias e suas formas de vida material e religiosidade.
Apenas para ilustrar mais uma vez a semelhança de abordagem, no texto citado, em que
demonstra toda a sua arrogância eurocêntrica com relação aos negros, Kant também
desqualifica os indianos, em termos muito parecidos aos utilizados por Marx.
Para usarmos as palavras de Edward Said, “os filósofos podem conduzir suas discussões
sobre Locke, Hume e o empirismo sem jamais levar em consideração o fato de que há
uma conexão explícita, nesses escritores clássicos, entre suas doutrinas “filosóficas” e a
teoria racial, as justificações da escravidão e a defesa da exploração colonial” (SAID,
1990: pág. 25). Ainda, segundo o mesmo autor, “muitos humanistas de profissão são,
em virtude disso, incapazes de estabelecer a conexão entre, de um lado, a longa e
sórdida crueldade de práticas como a escravidão, a opressão racial e colonialista, o
domínio imperial e, de outro, a poesia, a ficção e a filosofia da sociedade que adota tais
práticas” (SAID, 1995: pág. 14).
Pieter Wilhem Botha nasceu no distrito de Paul Roux, Estado Livre de Orange, aos 12
de Janeiro de 1916. Foi jurista de profissão e presidente do Partido Nacional Sul-
Africano. Em 1948 foi eleito pela primeira vez para o parlamento como representante da
Georgia. Ocupou várias pastas ministeriais, entre as quais a da Defesa sobre a
presidência de F. Verwoerd, entre 1966 à 1978. Em 1978 tornou-se primeiro-ministro e
em 1984 graças a uma emenda constitucional, presidente.
Enquanto presidente da África do Sul Pieter Botha proferiu um discurso onde procurou
demonstrar a sua posição e a posição da Europa em torno da concepção dos negros.
Segundo Botha, «Pretória foi erguida pela mente branca para o homem branco. Não
somos obrigados a provar a qualquer um nem mesmo aos pretos que nós somos um
povo superior. Já demonstramos de mil e uma maneiras.
A República da África do Sul que nós hoje conhecemos não foi criada apenas de sonho.
Nós criamo-la a custa da inteligência, do suor e de sangue. Foram os Afrikaners que
tentaram eliminar os aborígenes Australianos? São os Afrikaners que descriminaram aos
pretos e os chamam Niggers nos Estados Unidos? Foram os Afrikaners que começaram
o comércio de escravos? Onde o homem preto é apreciado? Inglaterra descrimina os
seus pretos, a sua lei de “Sus” está para disciplinar os pretos. Canadá, França, Rússia e
Japão também descriminam.
Por que tanto barulho por nossa causa? Por que nos condenam a nós?
Eu estou tentando simplesmente provar a todos que não há nada incomum no que
estamos a fazer – diferente do que o mundo chamado civilizado está fazendo.
Nós somos simplesmente um povo honesto com uma Filosofia clara de como nós
queremos viver à nossa própria vida branca.
Nós não fingimos que gostamos conforme os outros brancos fazem. O facto de os
Negros parecerem como seres humanos não lhes faz necessariamente sensíveis a
seres humanos.
Para relações diplomáticas, todos nós sabemos que a língua deve ser usada e onde. Só
para provar o meu ponto de vista, camaradas, quem de vocês conhece um país branco,
sem investimento ou interesse na África do Sul? Quem compra o nosso ouro? Quem
compra nossos diamantes? Quem negoceia connosco? Quem nos está a ajudar a
desenvolver outra arma nuclear? A maior verdade é que nós somos o seu povo e eles
são nosso povo. É um segredo grande. A força da nossa economia é suportada pela
América, Grã-Bretanha, Alemanha, etc. É nossa forte convicção, consequentemente,
que o preto é a matéria-prima para o homem branco.
Assim, irmãos e irmãs juntem as mãos e lutemos contra este diabo preto. Eu apelo a
todo os Afrikaners a saírem com meios criativos de travar esta guerra.
Certamente, Deus não pode condenar os seus próprios povos que somos nós. Por agora
cada um de nós tem visto praticamente que os pretos não se podem governar.
Dê-lhes armas que eles vão se matar uns aos outros. São bons em nada mais do que
fazer barulho, dançar, casar com muitas esposas espojarem-se no sexo. Vamos
todos aceitar que o homem preto é o símbolo da pobreza, da mente inferior, do
perder e da incompetência emocional. Não é plausível? Consequentemente que o
homem branco é criado para governar o homem preto?
Desejo anunciar um conjunto de novas estratégias que devem ser postas em prática para
eliminar este “erro” preto. Devemos a partir de agora usar armas químicas.
Primeira prioridade:
1. “não deve permitir mais o aumento das populações negras, para que não nos
arrependamos mais tarde. Tenho a notícia emocionante dos nossos cientistas que
desenvolveram um novo material e eficiente. Estou a mandar mais
investigadores ao terreno para identificar quanto mais locais possíveis e onde as
armas químicas poderiam ser usadas para combater o aumento da população. O
hospital, por exemplo, é uma boa abertura estratégica e deve ser inteiramente
utilizado. A rede da fonte de alimento deve ser usada”.
Nós temos desenvolvido bons venenos que matam lentamente e excelentes destruidores
de fertilidade. Nosso medo é somente um, caso este material voltar-se contra nós! Nas
suas mãos podem começar a usar contra nós, é só parar e pensar quantos pretos
trabalham para nós.
Contudo, nós estamos a fazer de tudo para nos certificarmos de que o material
permaneça estritamente em nossas mãos.
Segunda prioridade:
E está aqui uma criatura com falta de carácter. Há uma necessidade de nós o
combatermos, a longo prazo para que não possa suspeitar.
O preto médio não planeia a sua vida para além de um ano: esse facto, por exemplo,
deve ser explorado.
Meu departamento especial está a trabalhar contra o tempo num projecto de operação ao
longo prazo, estou a fazer também um pedido especial a todas as mães Afrikaners para
dobrar a sua natalidade. Pode ser necessário desenvolver uma indústria de crescimento
da população, criando centro onde nós empregamos e suportamos homens novos e
mulheres inteiramente brancos para produzirem crianças para a Nação. Nós estamos
investigando também o mérito de aluguer de útero como meios possíveis de apressar-se
o crescimento da nossa população, por um tempo, nós devemos também activar uma
engrenagem muito sofisticada para assim certificar de que os homens pretos estão
separados das suas mulheres e multas impostas as mulheres casadas que geram crianças
ilegítimas.
Os meus cientistas desenvolveram uma droga que pode ser usada para efectuar o
envenenamento e destruição lenta de fertilidade. Trabalhar com as fábricas de bebidas a
fim de fabricarem bebidas, especialmente, para pretos, que podiam promover formas da
redução da população.
Não é uma guerra em que nós podemos usar a bomba atómica para destruir os pretos,
assim sendo, nós devemos usar a nossa própria inteligência para isso. O ataque de
indivíduos a indivíduos pode ser muito mais eficaz. Os registos mostram que os homens
pretos morrem para ir à cama com uma mulher branca, está aqui uma oportunidade
original.
O meu governo reservou um fundo especial para erguer hospitais e clínicas secretas
para promover este programa. O dinheiro pode fazer qualquer coisa para nós. Enquanto
nós o tivermos, devemos fazer o melhor uso dele. Entretanto, meus adoráveis
concidadãos brancos não levem a peito o que o mundo diz e não se envergonhem de
serem chamados racistas. Eu não me chateio por ser chamado de arquitecto e rei do
Apartheid.
O período que caracteriza o Antigo Egipto (império faraónico egípcio) entende-se desde
3 000 anos até 300 anos antes da era cristã (a.e.c) arco temporal que mede, de grosso
modo, a Filosofia Antiga da África.
O Egipto foi reconhecido por muitos primitivos proponentes da filosofia grega, e outros
escritores antigos, como o Berço da Filosofia. Assim afirmaram ao longo de suas
pesquisas: Tales de Mileto, Platão, Aristóteles de Estagira, Proclo, Santo Agostinho de
Hipona ao associarem o Antigo Egipto aos inícios da Filosofia.
Aristóteles, na Secção das Leis, apresenta o diálogo entre o ateniense e Clínias, onde o
ateniense reconhece que os antigos egípcios tinham, já há muito, identificado o
princípio que os gregos apenas então começavam a admitir a virtude na educação das
crianças. Disse ainda: “as artes matemáticas foram fundadas no Egipto; pois, ali, à
classe sacerdotal era permitido dedicar-se ao lazer”.
Platão, no Timeu, demonstra como Crítias narra como o grego Sólon esteve
maravilhado pelo imenso conhecimento dos sacerdotes egípcios. Crítias avança: “Sólon
descobriu que, tanto ele como qualquer outro grego não sabiam, por assim dizer, quase
nada sobre aquele assunto”.
Para o Bispo de Hipona, Platão encontrou no Egipto um conhecimento que lhe foi
benéfico para o seu próprio pensamento; conforme ele mesmo escreveu: “Dando-se
conta, porém, de que nem o seu próprio génio nem a formação socrática eram tão
adequados para desenvolver um sistema perfeito de Filosofia, ele atravessou longas
distâncias até onde quer que houvesse alguma esperança de encontrar algum
acréscimo válido ao conhecimento. Assim, no Egipto, ele dominou a sabedoria que ali
era tida em estima”. Prossegue Santo Agostinho: “Falando da Filosofia, a função
essencial desta disciplina é a de ensinar os homens a atingirem a felicidade. Não havia
nada deste género no Egipto até ao tempo de Mercúrio ou Trismegisto… Isto foi,
reconhecidamente, muito antes de aparecerem na Grécia os sábios e filósofos”.
A Igreja do Norte de África tinha sido latinizada nos seus Hábitos, leis e línguas uma
vez que essa região estava sobre domínio romano. Alguns de seus habitantes eram,
muito provavelmente, de origem Semita. Os Fenícios fundaram Cartago (Karthada,
Karchedon ou Carthago) cerca do ano 800 antes de Cristo, na actual Tunísia, na Costa
do Norte de África. Devido a sua posição estratégica, ligando a África, a Ásia e a
Europa, Cartago haveria, rapidamente, de rivalizar com a Roma. Acabou por ser
saqueada por esta, no ano 146 a.C., mas haveria de se reerguer, para se tornar um centro
próspero e importante do Cristianismo no mundo latino.
Na era cristã do século II da era cristã, Cartago tinha atingido uma importância somente
ultrapassada por Roma. Os vândalos procuraram destruí-lo no ano 439 e, finalmente
destruído pelos árabes muçulmanos em 647. Foi em África (Cartago e Alexandre) que o
domínio do pensamento cristão foi modelado e sobre seus ombros repousou a Teologia
Cristã.
Em Cartago surgiu a mais antiga tradução latina da Bíblia, a Ítala, a partir da qual São
Jerónimo baseou a sua Vulgata. O latim era a língua predominate, numa altura em que o
Grego ainda era falado em Roma, e foi, também em África que nasceu a teologia latina.
Nasceu em meados do séc. II, próximo do ano 150, em Cartago, onde vieveu até
a morte. Converteu-se ao Cristianismo, em adulto, depois de experimentar todos
os prazeres da carne (mundo). A conversão ocorreu depois de ter testemunhado
a coragem heróica dos cristãos em tempo de perseguição.
Segundo Minúcio “As coisas que são duvidosas devem ser deixadas como elas
são, e enquanto tantas das maiores inteligências estiverem indecisas, não
devemos precipitadamente e imprudentemente decidir em favor de alguma das
partes. De outro modo, uma crença religiosa própria de mulheres idosas toma
raiz ou toda a piedade é destruída”.
Nasceu cerca do ano 150 da era cristã, de pais pagãos, provavelmente em Atenas.
Converteu-se ao Cristianismo por influências de Panteno (líder da Escola
alexandrina), a perseguição de Septímio Severo, em 201-202, fê-lo fugir para
Cesareia, na Capadócea, tendo morrido em Jerusalém, entre os anos 211 e 215.
Como ele mesmo o disse: “Embora grande admirador desta eloquência, eu sabia
distingui-la da verdade das coisas que estava ávido de aprender, eu não reparava tanto
no prato do discurso, mas que comida me servia esse famoso Fausto, tão citado pelos
seus”.
Em 383, Santo Agostinho chegou a Roma com o fito de ensinar Retórica. Em Milão
teve um encontro com o Neoplatonismo através da obra de Plotino, Enéadas. Este
encontro ocorreu depois do contacto com a obra de Cícero, Hortênsio, como ele mesmo
diz: «já tinham decorrido muitos anos – talvez uns doze – desde que, aos dezanove anos,
lendo o Hortênsio de Cícero, me sentira atraído para o estudo da sabedoria».
O homem africano foi durante muito tempo chamado de: etíope (do grego homem de
rosto queimado), negro, núbio, nilótico, hamilita ou cuchita.
Dentro deste cinco escritos, os três primeiros são adaptações de obras transmitidas das
fontes gregas por meio de árabe e os dois últimos são obras originais de tom racionalista.
A identidade etíope destas obras de tradução, sustenta Claude Sumner, residem no facto
de que «os etíopes nunca traduziram literalmente… a tradução é uma adaptação: eles
acrescentaram, subtraem, modificam. Uma obra estrangeira torna-se autóctone, não
pela originalidade da invenção, mas pela originalidade do estilo». Acrescenta Claude
Sumner: “a resposta etíope à influência externa não representou uma adesão servil às
formas importadas, mas, antes, uma incorporação criativa”.
A Etiópia é tida como o berço do pensamento moderno em África pelo facto de, a sua
filosofia assumir papel preponderante para o crescimento da filosofia africana. O
estudioso que se preocupou em investigar sobre o pensamento etíope foi: Claude
Sumner.
O autor árabe egípcio Abba Mikhael ao escrever obras como: O Livro dos Sábios
Filósofos, o Tratado de Zar’a Ya’agob e o Tratado de Walda Haywat quis incorporar
no pensamento africano doutrinas pré-socrática, socrática, aristotélica, platónica e
neoplatónica. A título de exemplo, o Livro dos Sábios filósofos é uma colecção de ditos
ou um liber sententiarum que apresenta a quinta essência do que foi pronunciado por
diversos filósofos num determinado número de tópicos na sua maioria éticos.
O ser humano, em virtude da sua razão, pode chegar ao criador e pode vê-lo
mentalmente. Deus instituiu uma lei natural acessível ao ser humano pelas capacidades
da sua inteligência. A bondade da natureza criada ou asa leis da natureza constituem o
princípio básico de Ya gob semelhante ao papel desempenhado pelas ideias claras e
distintas de Descartes.
O primeiro filósofo africano a estudar e ensinar numa Universidade Europeia foi Anton
Wilhelm Amo (estudante de Jurisprudência, Psicologia racionalista, Lógica e
Metafísica), nasceu em 1703, em Axim, actual Gana. Assinava “Amo-Guinea-Afer ou
Guinea-Africanus”- Amo, o Guineense.
A primeira obra de Amo que se perdeu foi Dissertatio inauguralis de jure Maurorum in
Europa ou Dissertação inaugural acerca dos direitos dos Mouros (africanos) na
Europa (1726), - esta obra destinava-se a combater a escravatura e a sublinhar os
direitos dos africanos na Europa com recurso a antigas proibições demonstrando as
ligações de Roma com a África. A obra ajudou, igualmente, a inibir a escravatura
respondendo de forma erudita, criar um estatuto dos africanos como estrangeiros na
Europa, a reflectir o impacto das populações africanas na Europa metropolitana e a
desintegração da hegemonia do Sacro-Império Romano.
John Theodosius Meiner foi seu tutorando, na qual o ajudou a compilar a tese: Discurso
filosófico distinguindo entre o que diz respeito à mente e ao corpo vivo e orgânico.
Para Hountondji, “Anton Amo não deve ser tido como filósofo africano porque cresceu,
estudou e viveu uma boa parte da sua vida na Europa”. Ao passo que, o biógrafo
alemão Burchard Brentjes, “Amo foi um filósofo negro em Halle”. Já Osuagwu, na sua
obra citada, diz-nos que: “Amo tinha uma obra, ou ideias, que podem ser
autenticamente consideradas como filosofia africana e que lhe merecem o epíteto de
filósofo africano”.
Os filósofos africanos como Bilolo e Osuagwu, assim como muitos outros pensadores,
colocaram a filosofia africana no mapa académico da investigação filosófica formal e
A filosofia africana profissional é aquela feita por académicos que procuram atingir a
verdade suprema num autêntico espírito filosófico sem considerar a experiência real do
continente. Esta filosofia é uma crítica a etnofilosofia.
Seus maiores expoentes são: Placide Tempels e Leópald Sènghor, podendo ser
também encontrado autores como: Alexis Kagame, John Mbiti e Valentim Mudimbe.
A narrativa colectiva e a revelação dos conteúdos por meio de diversos códigos como:
os mitos, os sistemas simbólicos, as linguagens religiosas e comuns apresentam-se
como características fundamentais da ETNOFILOSOFIA.
Alexis Kagame deu continuidade a obra de Tempels ao apresentar uma formulação mais
rigorosa sobre a construção da filosofia subjacente à visão africana (ruandesa) do
mundo, na sua obra «A filosofia bantu-ruandesa do ser» publicada em 1956.
A cultura africana é única, como nos confirmou Cheikh Auta Diop e Mubabinge Bilolo,
ao destacarem que o antigo Egipto estava inserido na cultura africana quando deu
grandes contribuições para as áreas da Ciência como: Matemática, Arquitectura e
Filosofia que foi, de certa forma, a base civilizacional da Grécia.
Um dos críticos desta corrente foi Paulin Hountondji. Segundo ele, não se pode
confundir uma prática de ordem científica e académica com um conjunto de crenças e
práticas comum do quotidiano de uma etnia ou população. Sendo assim, Filosofia é
multiplicidade de pensamento e não sobrevalorização de formas simplistas de
pensamento.
A Negritude define-se como a soma total dos valores culturais da raça negra.
Seus maiores expoentes são: Aimé Césaire, Leon-Gontran Damas e Leópold Sènghor.
Para Julius Nyerere «a África tem de mudar as suas instituições para que a sua nova
aspiração se torne possível; o seu povo deve mudar de atitudes e práticas de acordo
com estes objectivos».
A par disto, fala-se do socialismo africano como retorno a república platónica na qual
os filósofos-reis africanos deveriam, de igual modo, governarem a África na base
racional sem quaisquer intimidação do Conselho da República.
O pensamento tradicional africano inclui uma atitude para com o ser humano que
apenas pode ser descrita na sua manifestação social, como sendo socialista.
O materialismo dialéctico herdado de Marx fez com que se estudasse uma teoria da
realidade primária da matéria que admitisse tanto a mente quanto a realidade espiritual
da experiência humana.
Seus maiores expoentes são: Kenneth Kaunda (fundador), Wiredu, Mazrui e Fanon.
Os oprimidos deviam partir pela violência para que pudessem elevar a sua humanidade.
Etimologicamente, [(Pan quer dizer todo), (african reporta-se àquilo que é concernente
a África) e (ismo exprime corrente ou doutrina)], assim definiremos Pan-africanismo
toda a corrente ou doutrina que procurava a unificar a África como um todo.
Os seus maiores expoentes são: William DuBois, Sylvestre William e Marcus Garvey
O Nacionalismo ao procurar criar uma teoria política única que colocasse a África ao
progresso apresentou a filosofia da libertação ideológica como um pensamento comum
tanto da Negritude quanto da Etnofilosofia.
O pai do pensamento político africano, Edward Blyden, partia do pressuposto de que era
necessário procurar o nosso próprio passado sobre o qual se pudesse fundar a nossa
própria dignidade ou personalidade africana. Visto que, a raça negra tinha uma história
e uma cultura das quais se podia orgulhar.
Na sua obra, sobre a Defesa da Raça Negra, publicado em 1857, refutou as teorias
acerca da inferioridade racial do homem negro. E na obra A história ancestral dos
Negros, de 1869, sustentou o papel desempenhado pelos negros na edificação da
civilização egípcia asseverando que as raças são diferentes entre elas, mas em
contrapartida negava a existência de uma possível hierarquia entre elas.
Ao contrário dos que o procederam, Blyden não tomava a Europa como ponto de
referência para explicar a África, mas pensava-o como entidade autónoma, como
referência imediata ao negro acreditando numa civilização africana milenária e viva,
animada por valores morais e espirituais elevadas.
A doutrina rastafari surgiu entre pessoas que estavam oprimidas e sentiam que a
sociedade não tinha nada para oferecê-los, senão mais sofrimento.
Rastas: são todos aqueles que buscam viver a cultura negra voltada à natureza, em
conformidade com a vida africana, que lhes foi roubada de seus ancestrais quando
foram obrigados a abandonar o continente em tempo de escravatura.
Surgimento do Rastafarianismo
O movimento é uma doutrina religiosa que adopta Haile Selassie I (antigo Imperador
da Etiópia) como Deus encarnado denominado Jah ou Jah rastafari. Ele é parte da
Santíssima Trindade dito pelos profetas na Bíblia e que aparecia como o Messias à
Terra. Rastafari é uma expressão que provém do Etíope «Ras, quer dizer, “Cabeça”
com equivalência de “Duque”e Tafari (Tafari Makonnem) aparece como o nome de
coroação de Haile Selassie I.
Este movimento apareceu, pela primeira vez, na Jamaica no século XX (na temporada
da década de 30). O reino da Etiópia é o único no continente africano
CONCLUSÃO
Como se constatou, foi com Placide Tempels que o pensamento africano começou a ser
divulgado com uma certa claridade, apesar de receber muita preconceituasidade pela
parte do ocidente. Assim sendo, é erroneo dizer a priori que os africanos não têm idéias
sobre as coisas, eles não têm ontologia. Placide ainda acrescenta, que a “etnologia, a
lingüística, a psicanálise, a ciência do direito, sociologia e estudos religiosos não podem
fornecer conclusões definitivas, após a filosofia e a ontologia do primitivo foram
totalmente estudados e descritos. De facto, se os primitivos têm uma visão particular de
ser e do universo, a "ontologia" vontade própria a um carácter especial, a cor local, suas
crenças e práticas religiosas, seus costumes ao seu direito , suas instituições e costumes,
suas reações psicológicas e, mais genericamente a qualquer comportamento.
Para Cheik Anta Diop, a origem da filosofia deve ser procurada em África,
especialmente na civilização egípcia, ou seja, o lugar que a Grécia ocupa na história do
pensamento científico filosófico, deveria ser ocupado pelo Egipto antigo. “O que a
Grécia explorou mais do Egipto foi porém o campo de ideias, particularmente o das
ideias filosóficas. Começa-se, por exemplo, pelos nomes dos deuses gregos que foram
emprestados do Egipto, seguindo-se também os conceitos, as conexões entre os
conceitos e até ambiente” Castiano, na sua obra Referenciais da filosofia africana,
salienta que é preciso desmitificar por exemplo, o mito de que Grécia é o berço do saber
universal mostrando como muitos gregos tiveram ímpeto de viajar para o Egipto porque
consideravam, naquela altura, este território como a fonte do saber e do conhecimento.
BIBLIOGRAFIA
Outras referêncais: