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Índice

1. Filosofia .......................................................................................................... 3
2. Filosofia africana ........................................................................................... 4
2.1. A problemática da filosofia africana ................................................... 4
2.2. A Oralidade ............................................................................................ 6
2.2.1. Desafios na preservação da tradição oral ................................... 7
2.3. Evolução histórica da filosofia africana .............................................. 8
2.3.1. Filosofia africana antiga ............................................................... 8
2.3.2. Filosofia africana medieval........................................................... 9
2.3.3. Filosofia contemporânea - moderna ........................................... 11
2.4.1. Pan africanismo ........................................................................... 12
2.4.2. Negritude ...................................................................................... 14
2.4.3. Ubuntu.......................................................................................... 16
3. Filosofia africana lusófona ......................................................................... 18
Conclusão ............................................................................................................. 21
Bibliografia .......................................................................................................... 22

INTEGRANTES DO GRUPO Nº 01

Janaíma Fernando .......................................................................................... Nº14


Luzia Deolinda................................................................................................. Nº18
Mário Filipe ..................................................................................................... Nº21
Mercedes Categoria ........................................................................................ Nº23
Rosa Canivete .................................................................................................. Nº27
Introdução
A história da filosofia africana remonta a civilizações antigas, como a
egípcia, a etíope, a núbia, entre outras. Essas sociedades desenvolveram sistemas
de pensamento distintos, influenciados por suas interações culturais e contatos com
outras civilizações e a filosofia africana emerge como um campo de estudo crucial
para desvendar as tradições intelectuais e conceituais que têm moldado a
compreensão do mundo nas vastas e diversas culturas do continente africano.
Historicamente, a Filosofia Africana enfrentou desafios de invisibilidade e
marginalização, muitas vezes devido a narrativas eurocêntricas que negligenciavam
as ricas tradições filosóficas presentes nas sociedades africanas. A Filosofia
Africana não é homogênea; é caracterizada por uma notável diversidade de
tradições, influências e correntes de pensamento. Desde sistemas éticos baseados
em conceitos como Ubuntu, Negritude ou até abordagens cosmológicas que
permeiam diversas regiões, a Filosofia Africana revela uma riqueza intelectual que
merece atenção e estudo aprofundado.
Diante desse contexto, esta pesquisa busca compreender os desafios e as
raízes filosóficas africanas, analisar as contribuições dessa filosofia para o
pensamento global e investigar as perspectivas contemporâneas que moldam a
Filosofia Africana nos dias de hoje.

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1. Filosofia
Antes de definirmos a filosofia africana devemos entender o que é a
filosofia enquanto ciência do pensamento e o seu contexto histórico de uma forma
breve.
A filosofia nasceu na Grécia antiga, no início do século VI a.C. e Tales de
Mileto é reconhecido como o primeiro filósofo. A criação da palavra é atribuída ao
filósofo grego Pitágoras que definiu “que o papel daquele que ama o saber é não
aceitar passivamente nenhuma informação, é questionar e buscar um compreender
todas as coisas”, criando assim o termo "filosofia", uma junção das palavras "philos
- φίλος " (amor) e "sophia - σοφία" (conhecimento), que significa "amor ao
conhecimento".
A filosofia é uma ciência que busca compreender e questionar aspectos
fundamentais da existência humana, do mundo e do conhecimento. Ela se preocupa
em investigar questões como a natureza da realidade, a existência do ser humano, a
moralidade, a política, a estética, a epistemologia e a lógica. Os filósofos utilizam
a razão, a lógica e a argumentação para analisar e refletir sobre diferentes conceitos,
teorias e ideais. Eles desenvolvem sistemas de pensamento e abordagens críticas
que visam aprofundar a compreensão do mundo e da condição humana.
O surgimento da filosofia como ciência, pelo menos como um certo modo
de entender racionalmente o universo, em toda história do pensamento humano, é
uma conquista atribuída aos gregos. Tendo em conta a sua importância, alguns
teóricos afirmam que esta forma racional e rigorosa de pensar, atribuída aos gregos,
tem as suas bases na filosofia oriental. Deste modo, os teóricos dividem-se em duas
tendências: os defensores orientais (que atribuem a origem da filosofia grega a uma
imitação da filosofia oriental) e os defensores ocidentais (que alegam que nenhum
outro povo pensou tão racionalmente como povo grego, pelo menos até ao século
VI a.C.). Em torno desta discussão a filosofia é habitualmente estruturada em
Filosofia Oriental (dividida em Filosofia Indiana, Chinesa e Egípcia) e a Filosofia
Ocidental (dividida em Filosofia Grega, Patrística, Moderna e a Contemporânea).

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2. Filosofia africana
A Filosofia africana de forma geral tem sido definida como um campo de
estudo que se dedica à investigação, análise e interpretação das tradições filosóficas
que surgem no continente africano. Este campo abrange uma ampla diversidade de
perspectivas filosóficas, desde sistemas éticos, cosmovisões e até reflexões
metafísicas, todas fundamentadas nas experiências culturais, históricas e sociais das
diversas comunidades que compõem o continente africano.
A Filosofia africana não se restringe a um único conjunto de ideias ou
doutrinas, mas engloba uma multiplicidade de tradições filosóficas presentes em
diferentes regiões, cada uma contribuindo de maneira única para a compreensão do
mundo, da existência humana e das questões fundamentais da vida. Essas tradições
são transmitidas oralmente, por meio de escritos e expressões artísticas, formando
um corpo filosófico rico e complexo que tem influência não apenas localmente, mas
também em contextos globais.

2.1. A problemática da filosofia africana


A expressão Filosofia africana é usada de múltiplas formas por diferentes
filósofos. Embora diversos filósofos africanos tenham contribuído para diversas
áreas, como a metafísica, epistemologia, filosofia moral e filosofia política, uma
grande parte dos filósofos discute se a filosofia africana de fato existe. A dúvida
ronda em torno de três questões: na falta de matéria palpável, isto e, a falta de
provas que testemunhem de forma expressa esse conhecimento do africano; a
aplicação do termo “africano”, ou seja, se o termo se refere ao conteúdo da
filosofia ou à identidade dos filósofos,
Na primeira visão, a filosofia africana seria aquela que envolve temas
africanos ou que utiliza métodos que são distintamente africanos. Na segunda visão,
a filosofia africana seria qualquer filosofia praticada por africanos ou pessoas de
origem africana; e nas afirmações vindas de filósofos renomados como:
➢ Montesquieu: “o negro não tem alma”;
➢ Kant: desafiava “…qualquer um a citar um único exemplo em que os
negros tenham mostrado talento, entre centenas de milhares de negros (…)
não houve jamais um sequer que mostrasse algo grande em matéria de
ciência ou arte (…) Tão fundamental é a diferença entre ambas as raças
humanas. E essa diferença parece ser tão grande tanto na capacidade
mental como na cor”. (2010, p. 34).

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➢ Hegel: Em “Lições sobre a filosofia da história universal” divide a África
em três blocos: a África do Norte, o Egipto e a África ao Sul do Saara.
Assim ele descreve que esta última: “É a pátria de todo animal ferroz”,
uma terra que “desprende uma atmosfera pestilenta, quase venenosa” e que
está habitada por povos que “se mostraram tão bárbaros e selvagens como
para excluir toda possibilidade de estabelecer relações com eles”.
➢ No século XIX, Hegel “declara a inexistência da História em África
subsaariana, ou de sua insignificância para a humanidade. África, aqui, é
condenada ao esquecimento e à inferioridade”
➢ James Watson: “Pai da genética moderna” afirma que a raça branca é
superior em capacidade intelectual à negra.
Diante destas afirmações surge então a seguinte questão:
Seria o continente africano e os povos de origem africana incapazes de
formular algum tipo de conhecimento próximo daquilo que chamamos de
conhecimento filosófico ou tudo isso não passa de uma visão deturpada e
ideológica da realidade?
Se estamos diante de uma falsa visão da realidade ideológica, então é preciso
desconstruir essa ideologia ocidental que inviabilizou o conhecimento de diferentes
culturas, que não aquela do europeu “civilizado”, que tem sido predominantemente
hegemônico e tomado como paradigma e referência essencial na construção
identitária dos demais povos ao redor do mundo.
Ainda nesta senda, surge uma outra questão: porquê que os filósofos gregos
estudariam em África, mesmo sabendo da suposta inferioridade racial e
incapacidade de formular conhecimento filosófico do povo africano?
Egipto foi a capital cultural do mundo antigo por causa da sua rica cultura e
a extraordinária capacidade de pensar e questionar aspectos fundamentais da
existência humana, do mundo e do conhecimento. E o nascimento da filosofia, no
entendimento do pensamento africano, não se deu na Grécia, mas no Egipto, tal
como comprovam os estudos de Cheikh Anta Diop e Martin Bernal. Na percepção
de diversos pensadores africanos, o Egipto foi claramente o “berço” da filosofia, tal
como é descrito por um conjunto de sábios, desde Heródoto, Tales, Pitágoras,
Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, entre outros. Nos escritos destes autores, são
comuns as referências à sabedoria do antigo Egipto e à forma como estes foram
influenciados pelo saber egípcio. Quase todas as obras de filosofia africana
abordam criticamente este aspeto, transcrevendo as passagens mais evidentes de
filósofos que estiveram no Egipto, tecendo inúmeros comentários em relação às

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influências que estes receberam pela elite egípcia. Todos eles reclamam o
reconhecimento de África como detentor do saber europeu (e de outros continentes)
A verdade é que estamos diante de um epistemicídio que é a negação ou
morte do conhecimento que não pertence ao modelo eurocêntrico, este considerado
como modelo de legitimidade do saber
Por epistemicídio o filósofo Mogobe Ramose entende como “o assassinato
das maneiras de conhecer e agir”. Esse epistemicídio fomenta a invisibilidade do
conhecimento dos povos africanos, fruto de todo um processo de colonização dos
povos europeus (eurocentrismo) que impuseram a sua visão de mundo fazendo com
que os povos africanos passassem a não existir como sujeitos humanos e históricos.
O colonizador branco, europeu, é sem dúvida o principal responsável por
esse epistemicídio, invisibilizando as maneiras de conhecer e agir dos povos
africanos.

2.2. A Oralidade
A tradição oral desempenha um papel central na preservação e transmissão
do conhecimento filosófico nas culturas africanas. A natureza dinâmica e
multifacetada da Filosofia Africana enraizada na oralidade, destacada como os
mitos, provérbios e narrativas transmitidos oralmente desempenham um papel
fundamental na construção da compreensão filosófica na qual podemos destacar os
seguintes aspectos:
A Oralidade como Resistência Cultural na Filosofia Africana:
A oralidade desempenha um papel singular na Filosofia Africana, atuando
não apenas como transmissora de sabedoria e conhecimento, mas também como
uma forma intrínseca de resistência cultural. Neste segmento, exploraremos como
a oralidade, como um meio de expressão e preservação, tem sido uma poderosa
ferramenta de resistência contra opressões históricas e um veículo para a afirmação
identitária.
Resistência durante o Período Colonial:
Durante o período colonial, as culturas africanas enfrentaram sistemáticas
tentativas de supressão de suas línguas, tradições e sistemas de crenças. A oralidade
emergiu como uma resistência ativa, permitindo que as comunidades preservassem
suas histórias, mitos e valores, mesmo diante da imposição cultural estrangeira.

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Preservação da Identidade Cultural e Resistência à Supressão
Linguística:
A oralidade é uma forma de manter viva a identidade cultural africana,
resistindo à assimilação cultural imposta por colonizadores. Mitos, lendas e
histórias transmitidas oralmente serviram como instrumentos de preservação da rica
diversidade cultural, permitindo que gerações futuras mantivessem suas raízes
culturais. E durante o colonialismo, as línguas africanas foram muitas vezes
reprimidas em favor das línguas dos colonizadores. A oralidade serviu como um
meio de manter viva a riqueza linguística e, por extensão, a diversidade filosófica.
Resistir à imposição de línguas estrangeiras contribuiu para a preservação e
transmissão dos conceitos filosóficos africanos.
Provérbios e sabedoria prática:
➢ Exploração do papel dos provérbios africanos como expressões concisas de
filosofia prática.
➢ Análise de como os provérbios encapsulam normas éticas, conselhos e
lições de vida.
➢ Ilustrações de como a sabedoria contida nos provérbios orienta o
pensamento e o comportamento dentro das comunidades.

2.2.1. Desafios na preservação da tradição oral


A preservação da tradição oral é um desafio importante que envolve a
transmissão de conhecimentos, histórias e culturas de geração em geração sem o
uso da escrita. Com o avanço da tecnologia e a predominância da cultura escrita, a
tradição oral enfrenta diversos obstáculos e a preservação da tradição oral é crucial
para manter viva a riqueza das culturas e tradições transmitidas de geração em
geração. Existem diversos desafios que dificultam essa preservação, incluindo:
➢ Falta de Interesse das gerações Jovens: Em um mundo cada vez mais
digital e globalizado, as gerações mais jovens podem não estar tão
interessadas em aprender e preservar as tradições orais de suas
comunidades.
➢ Falta de Recursos: A documentação e preservação da tradição oral muitas
vezes exigem recursos financeiros e técnicos, que podem não estar
prontamente disponíveis em todas as comunidades.

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➢ Impacto da globalização: A influência da cultura dominante e a
homogeneização cultural podem ameaçar as tradições orais únicas de
diferentes comunidades.
➢ Mudanças ambientais e Sociais: Alterações no ambiente natural e
mudanças sociais podem afetar as práticas e histórias transmitidas
oralmente, levando à perda de conhecimento e compreensão das tradições.
➢ Falta de reconhecimento oficial: Em alguns casos, as tradições orais
podem não receber o reconhecimento oficial necessário para sua
preservação, o que pode levar a um menor apoio e recursos para sua
manutenção.
➢ Riscos de apropriação cultural: A tradição oral pode estar em risco de
apropriação cultural, onde elementos são adotados de forma inadequada ou
sem respeito às suas origens, o que pode impactar negativamente as
comunidades e a autenticidade das tradições.

2.3. Evolução histórica da filosofia africana


É correto afirmar que a filosofia africana não só existe, como comprova o
corpus teórico desenvolvido até a contemporaneidade, bem como a solidificação
quase unânime dos períodos de pensamento ao longo da sua história que à
semelhança da história da filosofia ocidental, já se encontra bem definida e
estruturada.
A colonização e a posição etnocêntrica radical do pensamento ocidental
abriu caminho para o desenvolvimento de uma posição de protesto do pensamento
negro tendo em consideração os valores e a identidade da cultura bantu, os
comportamentos e rituais de cada grupo etnolinguístico subsariano, o
desenvolvimento histórico e as tendências político-filosóficas de cada nação, deste
modo, a estruturação da filosofia africana e as suas correntes são importantes para
o avanço da história de resistência e libertação africana, no qual podemos elencar a
seguinte divisão com os principais pensadores de cada época:

2.3.1. Filosofia africana antiga


A filosofia em África tem uma história rica e variada, que data do Egito pré-
dinástico, continuando até o nascimento do cristianismo e do islamismo. Neste
período criou-se o conceito do “Maat, que significa basicamente “o real”, “a

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realidade”, isto é, aquilo que é genuíno e autêntico, em oposição ao artificial ou
espúrio. Maat é a realidade como um todo, isto é, a totalidade de todas as coisas que
possuem realidade, existência ou essência”. Uma das maiores obras de filosofia
política foi o Maxims de Ptah-Hotep, que foi empregado nas escolas egípcias
durante séculos.
Filósofos egípcios antigos deram contribuições extremamente
importantes para a filosofia helenística, filosofia cristã e filosofia islâmica. Na
tradição helênica, a influente escola filosófica do neoplatonismo foi fundada pelo
filósofo egípcio Plotino (205 d.C. -270 d.C.), no terceiro século da era cristã. Na
tradição cristã, Agostinho de Hipona foi uma pedra angular da filosofia e da
teologia cristã. Ele viveu entre os anos 354 à 430, e escreveu a sua obra mais
conhecida “De Civitate Dei” (A Cidade de Deus) em Hipona, atual cidade
argelina de Annaba. Ele desafiou uma série de ideias de sua era incluindo o
arianismo, e estabeleceu as noções básicas do pecado original e da graça divina
na filosofia e na teologia cristãs.
Na tradição islâmica, Ibn Bajjah (1085-1138 ) filosofou seguindo algumas
linhas neoplatônicas no século XII. O sentido da vida humana, de acordo com
Bajjah, era a busca da felicidade, e essa felicidade verdadeira só é atingida através
da razão e da filosofia, até mesmo transcendendo os limites da religião organizada.
Ibn Rushd (1126-1198) filosofou segundo as linhas aristotélicas,
estabelecendo a escolástica do Averroísmo. Notavelmente, ele argumentou que não
haviam conflitos entre a religião e a filosofia, uma vez que existem diversos
caminhos para Deus, todas igualmente válidos, e que o filósofo está livre para tomar
o caminho da razão, enquanto que as pessoas comuns só eram capazes de tomar o
caminho dos ensinamentos repassados à elas.
Ibn Sab’in (1217-1268) discorda dessa ideia, alegando que os métodos da
filosofia aristotélica eram inúteis na tentativa de entender o universo, porque elas
não refletem a unidade básica com Deus e consigo mesmo, de modo que o
verdadeiro entendimento necessário requer métodos diferentes de raciocínio.

2.3.2. Filosofia africana medieval


Após a filosofia antiga, surge a filosofia medieval, que por muito tempo
permaneceu relativamente desconhecida. No entanto, é hoje objecto de especulação
filosófica e tem dado origem a resultados surpreendentes, e os grandes nomes desse

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período são os de Ibn Khaldun de Tunis (1332-1406), Ahmed Baba de Timbuktu
(1556-1627), Zera Yacob de Nubia (1599-1692).
Ibn Kaldum, é mais conhecido por seu Muqaddimah (conhecido
como Prolegômenos no Ocidente), o primeiro volume de seu livro sobre a história
universal, Kitab al-Ibar. Ele é considerado um precursor de várias disciplinas
científicas sociais: demografia, história cultural, historiografia, filosofia da
história, e sociologia. Ele também é considerado um dos precursores da economia
moderna.
Ahmed Baba, afirma que, no que ele escreve, há "provas suficientes para
convencer os sábios e todos aqueles que se preocupam com a salvação de suas almas
e desejam escapar do perigo,” Portanto, com a leitura da obra de Ahmed Baba,
percebe-se que os problemas que dizem respeito à condição humana são perenes e,
ao mesmo tempo, históricos.
A filosofia de Yacob, baseada na razão, é apresentada em sua obra principal,
“Hatäta” (investigação). O livro foi escrito em 1667 e defende a igualdade entre os
seres humanos, homens e mulheres e o papel deles no casamento; era contra a
escravidão e fazia severas críticas às religiões e doutrinas existentes em sua época
(judaísmo, cristianismo, o islã, e religiões indianas) combinando com a sua crença
pessoal de um criador divino.
As “Meditações” de Descartes foram dedicadas “ao reitor e aos doutores da
sagrada Faculdade de Teologia em Paris”, e sua premissa era “aceitar por meio da
fé o fato de que a alma humana não morre com o corpo e de que Deus existe”.
Yacob, pelo contrário, propõe um método muito mais agnóstico, secular e
inquisitivo o que também reflete uma abertura ao pensamento ateu. O quarto
capítulo da Hatäta começa com uma pergunta inquisitiva: “Tudo que está escrito
nas Sagradas Escrituras é verdade?” Ele prossegue pontuando que todas as
diferentes religiões alegam que sua fé é a verdadeira. Tecendo dessa forma um
discurso iluminista sobre a subjetividade da religião, mas continua a crer em algum
tipo de criador universal. Sua discussão sobre a existência de Deus é mais aberta
que a de Descartes. Em suma: muitos dos ideais mais elevados do Iluminismo foram
concebidos e resumidos por um homem que trabalhou sozinho em uma caverna
etíope de 1630 à 1632.

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2.3.3. Filosofia contemporânea - moderna
O período contemporâneo tem vindo a ser um dos que mais suscita
discussões historiográficas e metafilosóficas, não há unanimismos, nem consensos.
Alguns historiógrafos associam-no ao florescimento de diversas instituições que se
consagram ao ensino, investigação e publicação de trabalhos académicos sobre a
filosofia africana. Para outros autores, tais como o nigeriano Joseph Omoregbe, a
filosofia africana contemporânea é basicamente formada por reflexões sobre a
situação sociopolítica da era pós-independência, predominando uma filosofia
política produzida por pensadores africanos.
Por sua vez, outros estudiosos sustentam que a evolução da filosofia africana
contemporânea se inscreve no correspondente período da história ocidental, a partir
da publicação do livro de Placide Tempels. É o chamado período dos "filósofos
africanos profissionais” de que fazem parte Henry Odera Oruka (1944-1995),
Kwasi Wiredu (1931-2022), C. S. Momoh (1943-2006) emtre outros.
Léopold Sédar Senghor, nascido em 1906, estudou na Sorbonne, de Paris, e
foi a primeira pessoa do continente a completar uma licenciatura na universidade
parisiense. Em 1960, o Senegal foi proclamado independente muito graças ao apelo
que Senghor dirigiu ao então presidente francês, Charles de Gaulle. Ele foi então
eleito presidente da nova república, cargo que ocupou até 1980. Senghor morreu
em 20 de dezembro de 2001, aos 95 anos, na França.
Henry Odera Oruka viveu entre 1944 e 1995 no Quênia e foi o principal
responsável por distinguir a filosofia africana em quatro grupos principais:
➢ A etnofilosofia, a abordagem que trata a filosofia africana como um
conjunto de crenças, valores e pressupostos implícitos na linguagem,
práticas e crenças da cultura africana;
➢ A sagacidade filosófica, espécie de visão individualista da etnofilosofia,
consiste no registo das crenças dos sábios das comunidades africanas;
➢ A filosofia ideológica nacionalista, uma forma de filosofia política;
➢ E a filosofia profissional, que seria uma forma mais europeia de pensar,
refletir e raciocinar, e nos anos 1970 iniciou um projeto para preservar o
conhecimento dos sábios de comunidades africanas tradicionais.
Cheikh Anta Diop, o antropólogo e historiador senegalês que estudou as
origens dos humanos e a cultura da África pré-colonial é tido como um dos maiores

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pensadores africanos do século 20. Foi um dos responsáveis por contestar a ideia
de que a cultura africana é baseada mais na emoção do que na lógica, mostrando
que o Antigo Egito estava inserido na cultura africana e deu grandes contribuições
para a ciência, arquitetura e filosofia. Ele viveu entre 1923 e 1986.
Entre as teorias do professor da Universidade de Port Harcourt, Ebiegberi
Alagoa nascido em 1933, é a de que “existe toda uma filosofia baseada em
provérbios tradicionais do Delta do Níger”. O provérbio “o que um velho vê
sentado, o jovem não vê em pé”, por exemplo, serviria para mostrar como na
filosofia e cultura africana a idade é um fator crucial para a sabedoria.
Uma das preocupações de Kwasi Wiredu ao definir a "Filosofia Africana"
era manter a filosofia africana colonizada numa categoria separada da África pré-
colonizada. Ele propõe que o filósofo africano tem uma oportunidade única de
reexaminar muitos dos pressupostos dos filósofos ocidentais, submetendo-os a um
interrogatório baseado nas línguas africanas. “Digamos, hipoteticamente, que um
africano nasceu e foi criado na China. Seus pensamentos e filosofia serão
influenciados pela cultura do idioma. Eles não apenas filosofarão naturalmente
nessa língua, mas também moldarão sua vida em torno dessa língua”.
Wiredu opôs-se às abordagens "etnofilosófica" e "sagacidade filosófica" da
filosofia africana, argumentando que todas as culturas têm as suas crenças populares
e visões de mundo distintas, mas que estas devem ser distinguidas da prática de
filosofar. Não que a “filosofia popular” não possa desempenhar um papel na
filosofia genuína; pelo contrário, ele reconheceu a sua dívida para com a história do
pensamento da sua própria cultura. Em vez disso, ele argumenta que a filosofia
genuína exige a aplicação a tal pensamento de análise crítica e argumentação
rigorosa.
2.4. As principais correntes filosóficas

2.4.1. Pan africanismo


É importante compreender que antes da formação do movimento Pan-
africano como movimento político, no seu início era apenas uma reduzida
manifestação de solidariedade, assim, os pensadores situavam-se entre dois eixos
principais: na América (onde o ponto central era o cenário pós-abolição da
escravatura e a preocupação com a subalternização do negro nas sociedades
americanas) e em África (onde ainda persistia a luta contra o neocolonialismo).

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Logo, é importante ressaltar que, até a primeira reunião Pan-Africana a
denominação “Pan-africanismo” não havia sido inserida, ficando a reunião
identificada como a “Conferência dos povos de cor”. A primeira “conferência dos
povos de cor”, pensada por Henry Silvester Williams em 1890, e devido aos
entraves burocráticos só aconteceu dez anos depois em 1900 na Inglaterra.
Henry Silvester Williams (1869-1911) graduou-se em Direito indo
trabalhar na África do Sul. É importante frisar que apesar do espaço ocupado por
Henry Silvester Williams na construção da ideologia pan-africana ele não foi o
“único” protagonista responsável por tal construção devendo-se outros autores de
grande relevância, como por exemplo o pai do pan-africanismo, William Dubois,
que contribuiu incomensurável para evolução e consolidação da ideia de unidade
pan-africana.
William Edward Burghardt Dubois
DuBois nasceu em Great Barrington, Massachusetts, e no recente contexto
segregacionista do início do século XX, foi o primeiro afro-americano a receber um
título de Doutor. Estudou na Universidade Fisk, uma das poucas instituições negras
de ensino superior da época, e concluiu seu Doutorado em sociologia pela
Universidade de Havard em 1896, realizando, posteriormente, especializações em
História e Ciências Sociais na Universidade de Heidleberg, Alemanha.
Segundo o autor, o negro possuía uma essência cultural que se contrapunha
à logica materialista ocidental, e nesse sentido, deveria se orgulhar de sua
criatividade e originalidade. Muitas ideias de Du Bois foram incorporadas à Lei dos
Direitos Civis um ano após a sua morte, em 1964.
Kwame Nkrumah
O venerado Kwame Nkrumah, nascido em Nkroful, Gana, em 1909,
influenciou a história e a unidade africana de maneira significante. Ele foi o mais
ativo e destemido defensor da liberdade e unificação de África contra o
imperialismo ocidental, bem como de uma série de ações que visavam à total
consolidação dessa liberdade. Em diversos discursos bem como em seus escritos,
Nkrumah era claro quanto à natureza do Estado africano, ou seja, uma União dos
Estados Africanos que zelasse por sua própria estabilidade, segurança e
independência. No nível filosófico, em seu livro “O Consciencismo”, afirma que
“África era capaz de evoluir sua própria ideologia e filosofia a fim de resolver a

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crise que afetava a consciência africana e estava afetando também sua sociedade”.
Ainda em conexão com o pan-africanismo filosófico, Nkrumah sugeriu que era
necessário para África harmonizar as três correntes culturais que existiam então nas
sociedades africanas, sendo elas a africana tradicional, a cristã europeia e a islâmica.
Ele acreditava que os polos culturais africanos eram capazes de levar à liberdade e
ao respeito entre os povos.
Porém, Nkrumah tem sido persistentemente criticado por forças divisivas e
antiunitárias dentro e fora do continente. Ainda há pessoas hoje, como no tempo de
Nkrumah, que demonstraram sentimentos bastante contrários aos “Estados Unidos
de África”. Eles argumentam que o continente é muito grande e diverso para ser
unido, e que também existem muitos idiomas. Acima de tudo, eles acreditam que
os países europeus não permitirão esta união, pois significaria a perda do controle
sobre suas ex-colônias. Outros ainda insinuam que negros e árabes não podem viver
juntos no continente, e que Qaddafi, como Nkrumah, queria ser o presidente dos
“Estados Unidos de África”.
Portanto o pan-africanismo dentro da comunidade da Diáspora tinha a
responsabilidade de dignificar o povo negro e servir como um elo político e cultural
à África, com a qual ele desejava estar unido sentimentalmente. Para os africanos
vivendo em solo africano, o pan-africanismo serviu como uma plataforma coletiva
de identidade e como uma luta onerosa contra o colonialismo.

2.4.2. Negritude
A palavra négritude em francês deriva de nègre, termo que no início do
século XX tinha um caráter pejorativo, utilizado normalmente para ofender ou
desqualificar o negro, porém o termo negritude para designar o movimento
apareceu pela primeira vez, em 1939, no poema Cahier d´um Retour au Pays Natal
(Caderno de um regresso ao país natal) escrito por Aimé.Césaire.
No contexto colonial, a história, a cultura e a identidade africana eram
negadas para justificar e legitimar a Missão Civilizadora. A saída dos africanos
estaria, segundo os próprios colonizadores, na assimilação dos valores culturais
ocidentais e na rejeição da ancestralidade, história, cultura e identidade africana.
Felizmente, o esforço para que eles se tornassem brancos não obteve o sucesso que
eles esperavam. Vestidos de forma europeia, de terno, óculos, e fazendo um esforço

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enorme para pronunciar adequadamente as línguas metropolitanas, eles não
deixavam de ser “macaquinhos imitando o Homem”.
Frantz Fanon, no seu bestseller “Pele Negra, Máscaras Brancas” expressa
claramente as consequências desse processo que levou à alienação total desses
jovens. Mas não demoraram para se darem conta de que sua verdadeira salvação
não viria da busca da assimilação dos valores ocidentais através do uso das
máscaras brancas que escondiam seus rostos negros, mas sim pela aceitação de seu
corpo, sua história, sua cultura e sua identidade negados pelo colonizador branco.
Em Paris, no período entre-guerras, um grupo de estudantes negros oriundos
dos países colonizados (Antilhas e África) iniciou um processo de mobilização
cultural, e em 1934, lançam a revista L´étudiant Noir (o Estudante Negro). Léon
Damas proclamava: "não somos mais estudantes martinicanos, senegaleses ou
malgaches, somos cada um de nós e todos nós, um estudante negro". Contrapondo-
se a política assimilacionista das potências européias e retomando a bandeira a favor
da liberdade criadora do negro, neste período adquiriram notoriedade os três
directores da revista: Aimé Césaire, Léon Damas e Léopold Sédar Senghor. Esse
movimento literário a favor da personalidade negra e de denúncia contundente da
dominação cultural e da opressão do capitalismo colonialista marcou a fundação da
ideologia da negritude no cenário mundial.
Aimé Césaire
Aimé Césaire nasceu aos 26 de Junho de 1913 no seio de uma família
numerosa que habitava na “Basse Pointe”, uma comuna do Nordeste da Martinica,
limitada pelo oceano Atlântico e faleceu em Fort-de-France no dia 17 de Abril de
2008 com a idade de 94 anos.
Conhecido como o pai da negritude, Césaire defendeu a negritude como
sendo o simples reconhecimento do fato de ser negro, a aceitação do seu destino,
de sua história e de sua cultura. Mais tarde, Césaire à definiu em três palavras:
identidade, fidelidade, solidariedade. A identidade consiste em ter orgulho da
condição racial, expressando-se, por exemplo, na atitude de proferir com altivez:
sou negro! A fidelidade é a relação de vínculo indelével com a terra-mãe, com a
herança ancestral africana. A solidariedade é o sentimento que une,
involuntariamente, todos os "irmãos de cor" do mundo; é o sentimento de
solidariedade e de preservação de uma identidade comum

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Léon Gontran Damas
Léon Gontran Damas (Caiena, 28 de março de 1912 - 22 de
janeiro de 1978) foi um escritor, poeta e político francês, nascido na Guiana
Francesa e falecido nos Estados Unidos. Era mestiço de negro, ameríndio e branco.
Para Damas, a Negritude é “a tomada de consciência de um estado de coisas
que se caracteriza por três elementos: a colonização, a assimilação, uma vontade de
integração humana”. Embora sempre mencionado com um dos três “pais
fundadores” do movimento, Damas acabou por ficar marginalizado e hoje goza de
uma posteridade menos brilhante que a dos outros companheiros.
Léopold Sédar Senghor
Léopold Sédar Senghor, intelectual senegalês e poeta do Movimento da
Negritude que se tornou deputado da Assembleia Nacional Francesa (1945) e
consolidou o processo de independência do Senegal dentro do escopo da África
Ocidental Francesa, definiu a negritude como o conjunto de valores culturais da
África negra e o conjunto dos conceitos e técnicas de uma dada pessoa num dado
momento da sua história.
O nigeriano Wole Soyinka criticou o papel de acomodação que
a négritude suscitava nos escritores negros. Ele dizia que o tigre não precisava
declarar sua “tigritude”, que bastava saltar sobre sua presa. Como Soyinka, o
filósofo camaronês Marcien Towa também criticava este sistema de ideias, que
tinha certa influência em seu país, temendo que seu caráter messiânico não
representasse uma resposta aos problemas de ordem nacional.

2.4.3. Ubuntu
A palavra Ubuntu tem origem nos idiomas zulu e xhosa do sul do continente
africano e tem como significado “a humanidade para todos”. Nesse sentido, a
Filosofia Ubuntu fundamenta-se em uma ética da coletividade, representada
principalmente pela convivência harmoniosa com o outro e baseada na categoria do
“nós”, como membro integrante de um todo social.
Na África do Sul, a noção de Ubuntu ligou-se também à história
da luta contra o Apartheid e inspirou Nelson Mandela na promoção de uma política
de reconciliação nacional. No Ubuntu, encontramos valores e princípios que
desempenham um papel essencial na construção de laços sociais sólidos e na
promoção da coexistência pacífica. A solidariedade é um lembrete constante de que

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nossas ações individuais têm impacto coletivo e que, ao estendermos a mão ao
próximo, fortalecemos todo o tecido social.
Mogobe Bernard Ramose
O filósofo sul-africano, afirma que filosoficamente, é melhor aproximar-se
deste termo como uma palavra hifenizada, ubu-ntu. Ubuntu consiste no prefixo ubu
e na raiz ntu. Ubu invoca a ideia da existência, ou seja, ubuntu é a raiz da filosofia
africana e a existência do africano no universo é inseparavelmente ancorada sobre
o mesmo. Semelhantemente, a árvore de conhecimento africano deriva do ubuntu
com o qual é conectado indivisivelmente. Ubuntu é, então, como uma fonte fluindo
ontologia e epistemologia africana.
Mogobe afirma também que para a filosofia ubuntu, “a comunidade é lógica
e historicamente anterior ao indivíduo” e por isso tem a primazia sobre este. Essa
comunidade é uma “entidade dinâmica” entre três esferas: a dos vivos, a dos
mortos-vivos (ancestrais) e a dos ainda não nascidos.
Se o ubuntu pode ser compreendido como uma ontologia, uma
epistemologia e uma ética, sua noção mais fundamental é “a filosofia do Nós”, ou
seja, em termos coletivos, o ubuntu se manifesta nos princípios da partilha, da
preocupação e do cuidado mútuo, assim como o da solidariedade. Dentro deste
contexto, o indivíduo não perde sua identidade pessoal e sua autonomia. A luta
contra a colonização em África se baseia justamente no reconhecimento da
autonomia individual e para Mogobe, a sua luta atual insere-se na “presença real e
visível” do ubuntu na Constituição sul-africana.
La philosophie Bantoue de Placides Tempels
Placide Frans Tempels (1906-1977), missionário franciscano belga na
província de Katanga do então Congo Belga (atualmente República Democrática
do Congo) de 1933 a 1962, nasceu em Berlaar, na província flamenga de Antuérpia,
na Bélgica. Entrou no seminário (noviciado franciscano) em 1924 e foi ordenado
sacerdote em 1930. Após uma breve etapa de ensino na faculdade em Turnhout, foi
enviado para o Congo em 1933. Sua permanência no Congo durou de Novembro
de 1933 à Abril de 1962, com dois períodos de licença na Bélgica.
A estadia de Tempels no Congo continua sendo uma das experiências
missionárias mais controversas e amplamente discutidas em África. A Filosofia
Bantu de Tempels deve ser entendida no contexto colonial de sua concepção à sua

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realização. Se Tempels é visto como alguém que inicialmente entendeu sua missão
como dirigida à “civilizar” os Bantu (povo) através da cristianização, então a ideia
de uma filosofia bantu expressa um espírito de rebelião posterior. Seu livro revela
um espírito de dúvida cultural sobre o atraso atribuído aos Bantu e a “descoberta da
humanidade do primitivo”. Começando com um reconhecimento do fracasso de
suas concepções originais e métodos de evangelização, Tempels passou a inferir a
ideia de uma filosofia bantu por uma simples dedução: “apenas os seres humanos
procuram resolver problemas fundamentais da vida e da morte aplicando
consistentemente os princípios de sua filosofia geral de vida, os Bantu parecem
aplicar consistentemente alguns princípios para a solução de seus problemas
fundamentais de vida e morte, os bantu devem ser humanos, e seus princípios
devem ter alguns ensinamentos filosóficos básicos neles expressos”.
Essas ideias levaram Tempels a concluir que a ontologia Bantu é
radicalmente diferente da aristotélica. Enquanto este último sistema baseia-se numa
ideia estática de “ser”, afirmou, os Bantu o pensam de forma dinâmica como
“força”.

3. Filosofia africana lusófona


Os trabalhos sobre filosofia africana comumente se prendem a distinção
entre a África de colonização anglófona e francófona, pressupondo o recorte entre
os povos negros abaixo do Saara e aqueles que pertencem ao norte do continente. A
filosofia africana de expressão portuguesa, entretanto, teve uma contribuição pouco
notável, ou atrasada[3], os países lusófonos, como Angola, Moçambique, Cabo
Verde, Guiné Bissau, Guiné Equatorial e São Tomé e Príncipe, são frequentemente
excluidos e minimizados em antologias do assunto. Apesar das dificuldades em seu
surgimento, em meio às lutas pela descolonização e guerras civis destrutivas, as
contribuições e especificidades da filosofia africana lusófona tem sido reconhecida
como merecedoras de atenção profunda e dedicada.
O surgimento da filosofia africana de expressão portuguesa se dá entre
círculos de alunos africanos em Lisboa no fim da década de 1940 e início
de 1950. [8] Com uma experiência similar à outros grupos estudantes africanos
enviados para à diáspora, logo formaram organizações estudantis dedicadas à
combater a ideologia imperial do Lusotropicalismo e o sistema colonial de exploração.
No qual podemos destacar os seguintes autores/filósofos:

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Amílcar Cabral
Amílcar Lopes Cabral, nasceu em Bafatá, Guiné Portuguesa, actual Guiné-
Bissau, aos 12 de setembro de 1924 e morreu aos 20 de janeiro de 1973, cuja obra
tem sido a mais reconhecida dentro do conjunto de autores e teóricos do movimento
anticolonial lusófono. Apesar de seu foco enquanto líder político, as publicações de
Amílcar Cabral são consideradas contribuições importantes para a filosofia política
Africana. Amílcar Cabral foi incluído no livro A Companion to the Philosophers (Um
compêndio dos filósofos).
Severino Elias Ngoenha
Nasceu em Maputo em 1962 e é um dos filósofos afro-lusófonos mais
reconhecidos e influentes da atualidade. Ele cumpriu um papel importante na
consolidação institucional e pública da filosofia africana em Moçambique, e é
amplamente reconhecido como o iniciador da filosofia moçambicana. Seus trabalhos
incluem - uma análise crítica do discurso sobre a filosofia na África; a crítica da
sociedade moçambicana contemporânea; contribuições à questões educacionais,
ecológicas e da justiça.
José P. Castiano
é um filósofo moçambicano nascido aos 14 de junho de 1962. É professor de
filosofia na Universidade Pedagógica de Moçambique. Segue a linha da sagacidade
filosófica elaborada pelo queniano Henry Odera Oruka, promovendo o diálogo entre a
filosofia acadêmica e a sabedoria filosófica tradicional
António Agostinho Neto
Nasceu no Ícolo e Bengo aos 17 de setembro de 1922 e morreu em Moscovo
aos 10 de setembro de 1979. Foi um médico, escritor e político angolano, principal
figura do país no século XX. Foi Presidente do Movimento Popular de Libertação de
Angola e em 1975 tornou-se o primeiro Presidente de Angola até 1979. Em 1975-
1976 foi-lhe atribuído o Prémio Lenine da Paz.
Fez parte da geração de estudantes africanos que viria a desempenhar um
papel decisivo na independência dos seus países naquela que ficou designada como
a Guerra Colonial Portuguesa. Foi preso pela Polícia Internacional e de Defesa do
Estado (PIDE), a polícia política do regime Salazarista então vigente em Portugal, e
deportado para o Tarrafal, uma prisão política em Cabo Verde, sendo-lhe depois
fixada residência em Portugal, de onde fugiu para o exílio. Aí assumiu a direcção
do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), do qual já era presidente
honorário desde 1960. Em paralelo, desenvolveu uma notável actividade literária,
escrevendo poemas. Poemas estes, que servem até hoje como referências históricas

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sobre o ocorrido e como bálsamo suave para o luto eterno da Africa Subsariana
(propriamente Angola).
Temos como exemplo, o poema criar de Neto publicado no caderno de
Poesia Negra de expressão portuguesa, em 1953, apresenta em sua estrutura uma
relação semântica construída a partir do verbo criar. Nesse sentido, tem-se uma
construção poética voltada aos aspectos da liberdade. Dessa forma, o poema em si,
traz a tona um momento histórico vivido pela negritude em Angola e, toma-se como
fator importante a criação, ou seja, uma clara manifestação da negritude angolana.

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Conclusão
Ao longo deste trabalho, exploramos as diversas tradições filosóficas
presentes no continente africano, desde a antiguidade até os debates
contemporâneos. Ao fazê-lo, percebemos a riqueza e a complexidade dessas
tradições, que abordam questões fundamentais sobre a existência, a moralidade, o
conhecimento e a natureza da realidade de maneira única e significativa.
Além disso, examinamos a importância da filosofia africana no contexto
global, destacando sua contribuição para o pensamento filosófico e cultural em todo
o mundo. Ficou evidente que a filosofia africana não apenas enriquece o panorama
filosófico global, mas também desafia narrativas eurocêntricas, promovendo uma
compreensão mais inclusiva e diversificada da experiência humana e através dessa
análise, reconhecemos a importância de integrar a filosofia africana nos currículos
acadêmicos e nos debates filosóficos atuais, a fim de promover um diálogo mais
equitativo e enriquecedor.
Portanto, concluímos que a filosofia africana é um campo de estudo vital e
dinâmico, cuja valorização e reconhecimento são essenciais para a promoção de um
pensamento filosófico mais diversificado e inclusivo. Ao reconhecer e valorizar as
contribuições da filosofia africana, podemos enriquecer não apenas o campo da
filosofia, mas também o entendimento global da riqueza da experiência humana e
da diversidade cultural.

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Bibliografia
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e%20um%20criador%20divino.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Zera_Yacob

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https://pt.wikipedia.org/wiki/Plotino

https://arteref.com/filosofia/a-filosofia-africana-que-voce-precisa-conhecer/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ibne_Caldune

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FILOSOFIA_NAS_ESCOLAS

https://umasulamericana.com/filosofia-da-libertacao-america-latina/
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_introdução_à_filosofia_africana.pdf

https://negre.com.br/google-celebra-o-ganense-anton-wilhelm-amo-primeiro-
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Fascículo de Filosofia do Professor Braulio Francisco Venâncio


Livro de Filosofia da 11ºClasse pág.06

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