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AVALIAÇÃO 2023.

1
MOÇAMBIQUE
COM SLIDES SELECIONADOS PARA AS
RESPOSTAS
INFORMAÇÕES SOBRE A AVALIAÇÃO
ATENÇÃO:
1) A avaliação poderá ser respondida individualmente, em duplas ou em
trios. As equipes podem ser formadas por alunos de turmas diferentes.
2) O ALUNO (ou equipe) DEVE ESCOLHER UMA QUESTÃO DE CADA
BLOCO DE PERGUNTAS (UMA entre as questões 01, UMA entre as
questões 02 e UMA entre as questões 03), perfazendo, assim, 3 (três)
questões no total.
3) Peço que não utilizem CAIXAS DE TEXTOS E NOTAS DE RODAPÉ, pois
isso dificulta incluir todos os textos em um único arquivo. NÃO É
NECESSÁRIO FAZER CAPA (ela ser eliminadas com a padronização que
faço).
4) Após responder a avaliação, envie-a em formato WORD (não envie em
PDF), ANEXO (não copie diretamente na página do e-mail) para
profstelio@yahoo.com.br NÃO ENVIE PARA OUTRO E-MAIL ALÉM
DESSE.
5) Prazo final para envio: 18 de junho, domingo (até meia-noite).
6) Para evitar que eu confunda o aluno com outro que tem o mesmo
prenome, não abreviem os nomes dos componentes da equipe (utilizem o
nome que é informado no diário da turma).
7) Na parte final deste documento, são listados vários problemas que
costumo detectar na escrita dos meus alunos. Eles serão considerados para
efeito de definição das notas (por isso, peço que os analisem com atenção).
BLOCO 01 – QUESTÃO 01-A
1ª Questão A. Com base nos PowerPoint sobre o negritudismo literário (parte final
dos slides Introdução à Literatura Africana), aponte (comentando-os) os elementos
desse movimento presentes no poema abaixo, do angolano Augustino Neto (1922-
1979). Resposta digitada com mínimo de 15 linhas.

VOZ DO SANGUE eu junto


Palpitam-me ao vosso canto
os sons do batuque a minha pobre voz
e os ritmos melancólicos do blue os meus humildes ritmos.
Ó negro esfarrapado Eu vos acompanho
do Harlem pelas emaranhadas áfricas
ó dançarino de Chicago do nosso Rumo
ó negro servidor do South Eu vos sinto
Ó negro de África negros de todo o mundo
negros de todo o mundo eu vivo a vossa história
meus irmãos.
SLIDES PARA A RESPOSTA
A NEGRITUDE
DEFINIÇÃO E OBJETIVOS DO MOVIMENTO:
• Negritude (Négritude em francês) foi o nome
dado a uma corrente literária que agregou
escritores negros de países que foram
colonizados pela França. Os objetivos da
Negritude são a valorização da cultura negra em
países africanos ou com populações afro- René Maran
descendentes expressivas que foram vítimas da
opressão colonialista.
• Considera-se geralmente que foi o martinicano
René Maran (1887-1960), autor do
romance Batouala (1921), o precursor da
negritude.
• Todavia, foi seu conterrâneo Aimé Césaire (1913-
2008) quem criou o termo em 1935, no número Aimé Césaire
3 da revista L'étudiant noir ("O estudante
ORIGENS DO MOVIMENTO DA NEGRITUDE
• A Negritude têm as raízes históricas firmadas nas
décadas de 10, 20 e 30 do século passado;
• Desde aqueles anos, assiste-se a uma luta
organizada em defesa do Renascimento Negro,
cujo objetivo geral era o reencontro dos valores
culturais africanos;
• A Negritude tem seu berço no Haiti, Cuba e Estados
Unidos, países onde há uma grande concentração
de população descendente dos escravos vindos da
África;
• O termo negritude apareceu com esse nome,
pela primeira vez, em 1939, no poema Cahier
dún Retour au Pays Natal ("Caderno de um
regresso ao país natal"), escrito pelo antilhano
Aimé Césaire:

Minha negritude não é nem torre nem catedral


Ela mergulha na carne rubra do solo
Ela mergulha na ardente carne do céu
Ela rompe a prostração opaca de sua justa
paciência.

• Na sua fase inicial, o movimento da negritude


tinha um caráter cultural. A proposta era negar
a política de assimilação à cultura (conjunto dos
padrões de comportamento, das crenças, das
instituições e dos valores transmitidos
• Com o conceito da negritude, assim, pretendia-
se em primeiro lugar reivindicar a identidade
negra e sua cultura perante a cultura
francesa dominante e opressora, e que, ademais,
era o instrumento da administração colonial
francesa.
• O conceito foi retomado mais adiante pelo
senegalês Lépold Sédar Senghor (1906-2001),
que defendia existir uma "alma negra" inerente à Caderno dum retorno
estrutura psicológica do africano. A "alma negra" ao país natal
teria uma natureza emotiva em detrimento à
racionalidade do branco.
• Trata-se de um conceito de negritude
essencialista em que "a emoção é negra como a
razão é grega". Ou seja: enquanto a civilização
europeia seria fundamentalmente materialista,
os valores negro-africanos estariam fundados na
vida, na emoção e no amor. Lépold Sédar Senghor
• O movimento reuniu jovens intelectuais negros de
várias partes do mundo, e conseguiu a adesão de
intelectuais franceses como Jean Paul Sartre
(1905-1980), o qual veio a definir a negritude
como a negação da negação do homem negro.
• Segundo Senghor, a negritude é o conjunto de
valores culturais da África negra. Para Césaire, esta
palavra designa em primeiro lugar a repulsa.
Repulsa ante a assimilação cultural; repulsa por Jean Paul Sartre
uma determinada imagem do negro tranquilo,
incapaz de construir uma civilização. O cultural
está acima do político.
• Posteriormente, alguns escritores negros e
mestiços criticaram o conceito, ao considerar que
era demasiado simplificador. Afinal, como
defendeu o escritor nigeriano Wole Soyinka
(1934), o tigre não declara sua "tigritude". Salta
sobre sua presa e a devora. Wole Soyinka
• O próprio Césaire se distanciou do termo, ao
considerá-lo quase racista.
• De qualquer forma, se tratou de um conceito
elaborado num momento em que as elites
intelectuais indígenas de raça negra, tanto antilhanas
quanto africanas, se encontravam na metrópole, e
tinham pontos em comum bastante difusos (cor de
pele, idioma do colonizador, etc.) e sobre os quais não
bastava simplesmente estabelecer vínculos.
• Por outro lado, o discurso da negritude, transmitindo
uma visão um tanto idílica e uma versão glorificada
dos valores africanos, foi a base ideológica que veio a
impulsionar o movimento independentista na África.
TRÊS VISÕES DISTINTAS DO MOVIMENTO
No intuito de impulsionarem a luta pela
negritude, três líderes do movimento
optaram por caminhos diferentes:
• Aimé Césaire lançou mão da
agressividade (a denúncia das
relações entre colonialismo e
racismo);
• Léopold Sedar Senghor recorreu ao León Damas
ecumenismo (conciliação com o (1912-1978),
nascido na Guiana
branco; a essencialidade negra); Francesa
• León Damas valeu-se do sarcasmo
(uso do humor e da ironia como forma
CARACTERÍSTICAS DA POESIA DE FEIÇÃO NEGRITUDISTA
• A temática é o negro (enquanto sujeito, e não como objeto). Ao
mesmo tempo, muitas vezes o negro é o interlocutor (o eu-lírico
se dirige a ele);
• Dá representação ao negro genérico, ou seja, para aquele que
não pertence nem a um país específico e nem a uma era
específica: trata-se do negro em geral, filho de todas as terras e
de todos os tempos;
• Ligação afetiva do eu-lírico para com o negro: através de termos
como “meu irmão” ou do uso do possessivo no plural (“nossa
luta”, “nossa dor”, etc.), a voz poética deixa claro seu afeto para
com o negro;
• Apesar de muitas vezes tratar da opressão do negro (em vários
lugares e era), a obra negritudista também traz a utopia da
libertação, referindo-se a uma era em que o negro alcançará
• Há frequentemente uma alusão a diferentes culturas
que têm o negro como protagonista, a qual pode ser
estabelecida, por exemplo, fazendo alusão a danças
(ou instrumentos) de origem negra de diferentes
país, como o samba (Brasil), o batuque (África), o
jazz (Estados Unidos), etc.
• Alguns termos são frequentes em poemas
negritudistas: raça, negro/branco, sangue negro,
África, mama África, batuque, samba, jazz, tambores,
orixás, etc.
• Dependendo da linha que o autor adote, o branco
pode aparecer como vilão, como opressor, cabendo
ao negro o papel de protagonista, seja como vítima,
seja como figura em processo de empoderamento.
ELEMENTOS LIGADOS À ESTÉTICA DA NEGRITUDE NO
POEMA VOZ DE SANGUE
VOZ DO SANGUE  O elemento biológico: a negritude está no sangue
Palpitam-me  Ligação afetiva do eu-lírico com os negros: os elementos da
cultura negra ecoam dentro do eu-lírico (pronome “me”)
os sons do batuque  Batuque: referência a aspecto da cultura (o ritmo
“batuque”) de uma sociedade em que o negro é protagonista (A África)
e os ritmos melancólicos do blue  Blue: referência a aspecto da cultura (o
ritmo “blue”) de uma sociedade em que o negro é protagonista (os EUA)
Ó negro esfarrapado  o vocativo “ó” transforma o negro em interlocutor: a
voz poética fala sobre e com o negro
do Harlem
ó dançarino de Chicago
ó negro servidor do South
Ó negro de África
negros de todo o mundo  O negro genérico, indicando que os negros se
irmanam (principalmente pelo estigma da opressão)
ELEMENTOS LIGADOS À ESTÉTICA DA NEGRITUDE NO
POEMA VOZ DE SANGUE
eu junto
ao vosso canto
a minha pobre voz
os meus humildes ritmos.  toda a estrofe fala sobre a ligação afetiva entre
eu-lírico e os negros

Eu vos acompanho
pelas emaranhadas áfricas
do nosso Rumo  toda a estrofe fala sobre a ligação afetiva entre eu-lírico e
os negros

Eu vos sinto
negros de todo o mundo
eu vivo a vossa história
meus irmãos.  toda a estrofe fala sobre a ligação afetiva entre eu-lírico e os
negros, principalmente: a) pelo uso do pronome possesivo no plural e b) pelo
fato de o eu-lírico chamar os negros de irmãos.
BLOCO 01 – QUESTÃO 01-B
1ª Questão B. Discorra, ilustrando com exemplos na literatura
africana de língua portuguesa, sobre os quatro momentos que,
segundo Manuel Ferreira (Texto 3 – DEPENDÊNCIA E
INDIVIDUALIDADE NAS LITERATURAS AFRICANAS DE LÍNGUA
PORTUGUESA), marcaram a relação dos escritores da África
lusófona com a cultura do colonizador, indo desde um “estado quase
absoluto de alienação” até a eliminação total da “dependência dos
escritores africanos”, com a consequente reconstituição “da sua
plena individualidade”. Resposta digitada com mínimo de 15
linhas.
SLIDES PARA A RESPOSTA
OS QUATRO MOMENTOS DESTACADOS POR
MANUEL FERREIRA NO REFERIDO TEXTO SÃO:
• Para ilustrar cada um desses momentos com referências a
exemplos na literatura africana de língua portuguesa,
pode-se indicar:
A) Momento primeiro (completa alienação):
• O poema “A uma virgem”, de Campos de Oliveira:
reprodução dos modelos românticos herdados de Portugal
• O livro Espontaneidades da minha alma (1849), do
angolano José da Silva Maia Ferreira (1827-1881), que traz
poemas em louvor dos colonizadores
B) Momento segundo (literatura regionalista):
Exemplo: a literatura “tarzanística”, dos safáris, em
que o escritor menciona a exuberância da fauna e
da flora. Nessa literatura, o negro africano é só mais
um elemento exótico, com sua cultura sendo
apontada com algo estranho. Não há nesse tipo de
obra a denúncia social, o questionamento das ações
do colonizador.
Entre esses textos, poder-se-ia apontar o romance
Uanga (Feitiço), de Óscar Ribas, que traz ao leitor
elementos da cutura angolana (principalmente no
terreno das superstições)  ver outros exemplos
na próxima página
• Em Cabo-Verde, o movimento claridoso
(principalmente em sua primeira fase) tem
esse caráter de trazer a “cor local”: a
língua, lendas, etc.
• A despeito de uma escrita laboriosa e
quase laboratorial, o escritor Fausto Duarte
descreveu a Guiné com um olhar novo de
grande desvelo pela paisagem, com rigor
no registro das tradições, destacando os
contrastes de uma Guiné onde a
aculturação se transformou num problema
maior da civilização. É uma pequena joia
literária e merecia ser reeditada tanto em
Portugal como na Guiné-Bissau.
C) Momento terceiro (a literatura de ruptura):
É o que se viu a partir do fim da Segunda Guerra
Mundial, com a geração de autores que esteve
ligada às Casas de Estudantes do Império. Os nove
poemas que compõem o livro Poesia Negra de
Expressão Portuguesa, (1953) são representações
dessa ruptura com a poesia colonial.
D) Momento quarto (literatura pós independência
com a afirmação da individualidade dos autores):
Exemplo e a literatura que surgiu após 1975, mais
claramente a partir da década de 80 do século
passado. Inclui-se nesse novo tipo de literatura
obras como a do poeta moçambicano Eduardo
White (1963-2014), em que é tratada sobre as
singularidades de seu país, único banhado pelo
Índico entre as cinco ex-colônias de Portugal na
África.
BLOCO 01 – QUESTÃO 01-C
1ª Questão C. Ainda antes dos países se tornarem independentes, a
questão da permanência (ou não) da língua portuguesa como língua
oficial nas colônias de Portugal na África foi colocada em discussão.
Discorra sobre isso, enfatizando o papel dos escritores no processo
de reinvenção da língua imposta pelo colonizador português. (Sugiro
tanto recorrer ao PowerPoint sobre o tema na Introdução à Literatura
Africana como ao tópico 3 do texto 2 – Língua portuguesa, línguas
nativas, o crioulo). Resposta digitada com mínimo de 15 linhas.
SLIDES PARA A RESPOSTA
A QUESTÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA
• Ainda antes dos países se tornarem independentes, alguns
líderes pretendiam que seus povos deixassem de falar o
português;
• Estes, entretanto, foram convencidos a continuarem
falando a língua portuguesa, pois este traria muitas
vantagens, entre elas:
a) A visibilidade: o português é falado por cerca de 250
milhões de pessoas;
b) A língua de uma cultura tecnológica avançada;
c) A língua comum às várias tribos;
• A solução, então, foi ficar com a língua portuguesa, mas
reinventá-la. Para isso, os escritores tiveram um papel
muito importante.
Um exemplo: O TRATAMENTO DA LINGUAGEM EM LUANDINO
VIEIRA (português que viveu muitos anos em Angola)
• Para “reinventar” a língua e) Ampliação de locuções
portuguesa, introduzindo nesta a adverbiais (“com devagar”, “com
oralidade luandense, Luandino faz depressa”, “como assim”, etc.);
com que o idioma luso se ajuste às f) Uso do verbo “ter” em lugar de
estruturas sintáticas do quibundo “ser”;
(como se esta fosse a forma, e o g) Uso da preposição “em” como
português fosse o recheio); pronome de complemento indireto
• Desse modo, a linguagem literária (“Deu razão em vavó”);
de Luandino apresenta, entre h) Passagem do discurso indireto
outros processos... para o direto sem qualquer indicação
a) Aglutinação ou fusão de termos; para o leitor;
b) Adjetivação do substantivo ou i) Supressão, troca ou acréscimo de
particípio passado; preposições, perturbando a sintaxe.
c) Inversão de palavras na frase, Exemplo:
criando uma sintaxe estranha; “O João lhe bateram na mãe dele”
d) Elipse de artigo, preposição, tem o sentido de “O João apanhou da
conjunção “que” e do verbo haver; mãe”.
BLOCO 02 – QUESTÃO 02-A
2ª Questão A. A POESIA DE MOÇAMBIQUE: RUI DE NORONHA: A
poesia de Rui de Noronha (1905-1943) recebe nítidas influências do
Romantismo português, principalmente da terceira fase desse
movimento estético, na qual os escritores já incorporam a crítica
social, ainda que ingênua e ainda fortemente marcada pelo
subjetivismo. Discorra sobre essa questão, ilustrando seus
argumentos com referências a trechos de poemas do autor.
Resposta digitada com mínimo de 15 linhas.
SLIDES PARA A RESPOSTA
MARCAS DA POESIA DE RUI DE NORONHA
• Como comprova sua obra Sonetos (1946), recolha póstuma de seus
poema, foi tributário da poesia da terceira geração romântica
portuguesa, coincidente esta com o impulso renovador do Realismo
que se aproximava;
• Observa-se isso, por exemplo, na crítica social ingênua no poema
“Surge et ambula”, no qual sugere que o marasmo da África se origina
no mero desinteresse do continente em relação ao progresso, sem
mencionar que a Europa e os Estados Unidos querem que o continente
negro fique exatamente sem o progresso para ser melhor explorada;
• Já em “Carregadores”, o que caracteriza o poema como texto
influenciado pelo Romantismo é o fato de que, embora denuncie a
condição terrível da vida dos carregadores, o eu-lírico se prende mais á
própria dor vendo a dor dos carregadores (Ou seja, o registro da
realidade passa primeiro pelo “eu”, pela subjetividade da voz poética,
ao contrario da objetividade do Realismo).
POEMAS DE RUI DE NORONHA
SURGE ET AMBULA
Dormes! e o mundo marcha, ó pátria do mistério.
Dormes! e o mundo rola, o mundo vai seguindo...
O progresso caminha ao alto de um hemisfério
E tu dormes no outro o sono teu infindo...

A selva faz de ti sinistro ermitério,


onde sozinha à noite, a fera anda rugindo...
Lança-te o Tempo ao rosto estranho vitupério
E tu, ao Tempo alheia, ó África, dormindo... VOCABULÁRIO:
• Eremitério: Lugar
Desperta. Já no alto adejam negros corvos afastado, solitário,
Ansiosos de cair e de beber aos sorvos onde vivem eremitas.
• Vitupério: Insulto,
Teu sangue ainda quente, em carne de sonâmbula...
injúria.
• Adejar: Bater as asas,
Desperta. O teu dormir já foi mais do que terreno... voar.
a voz do Progresso, este outro Nazareno • Aos sorvos: Aos goles.
Que a mão te estende e diz: — África surge et ambula! • Surge et ambula: Em
latim, “surge e anda”.
CARREGADORES
A pena que me dá ver essa gente
Com sacos sobre os ombros, carregadíssima!...
Às vezes é meio-dia, o sol tão quente,
E os fardos a pesar, Virgem Santíssima!...
À porta dos monhés*, humildemente,
Mal a manhã desponta a vir suavíssima,
Vestindo rotas sacas, tristemente
Lá vão 'spreitando a carga pesadíssima...
Quantos, velhinhos já, avós talvez.
Dez vezes, vinte vezes, lés a lés**
Num dia só percorrem a cidade!
Ó negros! Que penoso é viver
A vida inteira aos fardos de quem quer
E na velhice ao pão da caridade...
Detalhe de “Café”, de
Cândido Portinari (1903-
*Monhés: comerciantes indianos (também designa
1962)
mestiço de árabe com negro).
BLOCO 02 – QUESTÃO 02-B
2ª Questão B. A POESIA DE MOÇAMBIQUE: NOÊMIA DE SOUSA:
Ilustrando seus argumentos com referências a trechos de poemas de
Noêmia de Souza (1926-2002), discorra sobre PELO MENOS DUAS
entre das principais temáticas da escrita oralizada da poeta
moçambicana, as quais Ana Mafalda Leite (1998) enumera como
sendo: a) exaltação dos valores africanos e do espírito de
fraternidade (p. 102); b) consciência coletiva e denúncia colonial (p.
102); c) diálogo com a Bíblia (p. 105); d) a prostituição; e) o trabalho
forçado nos cais, nas minas e nos campos de algodão (p. 105); f) a
acusação e ameaça do colono (p. 105); g) diálogos com a tradição
literária moçambicana, com a literatura brasileira e com a música
americana (p. 105); h) referências diversas à escravidão, à raça e à
terra mãe [ou seja, um negritudismo intuitivo]. (Sugiro que, além dos
PowerPoints sobre a autora, consultem a primeira parte do texto 11
da disciplina). Resposta digitada com mínimo de 15 linhas.
SLIDES PARA A RESPOSTA
ASPECTOS DA POESIA DE NOÊMIA DE SOUSA
• Noémia de Sousa representa a voz de uma nova geração da poesia
moçambicana, que surge no fim da década de 40 do século passado;
• Pioneirismo: antecede a maioria dos poetas moçambicanos (e da África
lusófona) na abordagem de temas ligados à exaltação dos valores
africanos, espírito de fraternidade e consciência coletiva e denúncia
colonial;
• Apesar de sua poesia ter sido considerada espontaneísta e sem
qualidade estética por alguns setores críticos moçambicanos durante o
tempo colonial, vários analistas acentuaram as virtudes da obra da
autora;
• Na introdução da obra Poesia Negra de Expressão Portuguesa, Mário
Pinto de Andrade refere-se à poesia da autora nos seguintes termos:
"Noémia de Sousa, que 'traz sempre uma dádiva maravilhosa em cada
mão' e 'um veneno de lua que a dor injetou nas suas veias' é a voz da
circunstancial idade negra de Moçambique. É a voz singular das moças
das docas, das irmãs do mato, dos que voltam das minas do Rand,
• Em sua Antologia Temática de Poesia Africana, Mário Pinto de Andrade
circunscreve a poesia da autora aos temas da Evocação da Infância
("Poema da Infância Distante), bem como no da Africanidade (Poemas
"Negra", "Sangue Negro" e "Deixa passar o meu Povo") e na área de
Protesto, salientando-se o tema da Identificação (Poema "Se me
quiseres conhecer") e o do Caminho do Contrato ("Magaíça").
• Manuel Ferreira, por seu turno, chama a atenção para as "raízes
profundamente africanas" da poetisa, que, segundo palavras suas,
"abriu os caminhos da exaltação da Mãe-África", de par com José
Craveirinha.
• Religiosidade: na poesia de Noêmia, observam-se determinadas figuras,
temas, ou até discursividade das escrituras e dos evangelhos, evocando
uma dimensão sacrificial da trajetória do negro. Esse aspecto se
evidencia, por exemplo, através do uso da voz colocada, à maneira da
oração ou do canto religioso, como é visível no poema Deixa passar o
meu Povo - Let My people go - uma recuperação do "spiritual" negro, ou
ainda as alusões ao tema da Terra Prometida (livre, independente) que
nos são dadas nos seguintes poemas: "Se este poema fosse", "Poema da
• Sobre a obra poética da autora, Pires Laranjeira comenta:
a) "A poesia de Noêmia de Sousa situa-se na interseção do
Neorrealismo com a Negritude. Embora a poetisa não conhecesse a
Négritude francófona quando escreveu os poemas (segundo o seu
testemunho), a específica situação colonial de Moçambique, mais dada à
discriminação racial do que Angola, e o seu conhecimento de língua
francesa e inglesa, permitiriam que as mesmas fontes (Black Renaissance
norte-americana, Indigenismo haitiano e Negrismo cubano), associadas à
divulgação do Neorrealismo e do Modernismo em Moçambique,
originassem um discurso da Negritude intuitiva" (Pires Laranjeira,
Literaturas de expressão portuguesa, 1995, p. 269-270);
b) "Ora Noêmia, na sua poesia, lança uma ponte aos "irmãos
brancos", ao contrário de Agostinho Neto, em cuja poesia eles não têm
qualquer lugar positivo. Assim, podemos concluir que a Negritude, em
Noémia, é veemente, emotiva, devido à sua expressividade, mas o
Neorrealismo sustenta ideológica e esteticamente a sua poesia, como
primigénio [primordial], profundo texto de sustentação" (Pires Laranjeira,
Literaturas de expressão portuguesa, 1995, p. 272);
QUESTÕES PRESENTES NA POESIA DE NOÊMIA DE SOUSA
No texto “Voz, Origem, Corpo, Narração: Poesia de Noémia
de Sousa” (1998, p. 105), Ana Mafalda Leite assinala a
presença das seguintes problemáticas desenvolvidas na
poesia de Noêmia, na qual observa referências diversas à
escravidão, à raça e à terra-mãe:
• A prostituição (Poema "Moças das Docas");
• O trabalho forçado, nos cais, nas minas, no algodão
(Poemas "Cais" e "O Homem morreu na terra do
algodão");
• A acusação e ameaça ao colono (Poemas "Poema",
"Bayete" e "Patrão");
• A exortação à luta (Poemas "Abri a porta companheiros"
• Poemas relacionados com a tradição literária
moçambicana ("Poema a Rui de Noronha" e "Godido");
• Poemas relacionados com a literatura brasileira (“Poema
a Jorge Amado");
• Poemas relacionados com a música negra americana
(Poemas "A Billie Holliday, cantora" e "Deixa passar o
meu povo").
MAGAÍÇA  poema sobre o drama dos trabalhadores (poesia neorrealista)
A manhã azul e ouro dos folhetos de propaganda
engoliu o mamparra,
entontecido todo pela algazarra
incompreensível dos brancos da estação e pelo resfolegar trepidante dos comboios
Tragou seus olhos redondos de pasmo,
seu coração apertado na angústia do desconhecido,
sua trouxa de farrapos
carregando a ânsia enorme, tecida
de sonhos insatisfeitos do mamparra.
E um dia,
o comboio voltou, arfando, arfando...
oh nhanisse, voltou,
[Continua...]
Vocabulário
• Mamparra: indivíduo contratado para trabalhar nas minas da África do Sul.
Figurativamente, é o mesmo que ignorante.
• Resfolegar: Tomar fôlego, respirar com dificuldade
e, com ele, magaíça,
de sobretudo, cachecol e meia listrada
é um ser deslocado
embrulhado em ridículo.
Às costas – ah onde te ficou a trouxa de sonhos, magaíça?
trazes as malas cheias do falso brilho
do resto da falsa civilização do compound do Rand.
E na mão,
magaíça atordoado acendeu o candeeiro,
à cata das ilusões perdidas,
da mocidade e da saúde que ficaram soterradas
lá nas minas do Jone...

Vocabulário:
• Magaíça: Trabalhador que regressa das minas da África do Sul, não raro
“esquecido” de seus traços culturais.
• Compound: barracão onde são instalados os trabalhadores na África do Sul.
• Rand: Local onde ficam as minas.
DEIXA PASSAR O MEU POVO  Negritudismo
Nervosamente,
Noite morna de Moçambique
e sons longínquos de marimbas chegam até mim sento-me à mesa e
– certos e constantes – escrevo...
vindos nem eu sei donde.
(Dentro de mim,
Em minha casa de madeira e zinco,
abro o rádio e deixo-me embalar...
oh let my people go...)
Mas as vozes da América remexem-me a alma e deixa passar o meu povo.
os nervos.

E Robeson e Maria cantam para mim E já não sou mais que


spirituals negros do Harlem.
Let my people go
instrumento
– oh deixa passar o meu povo, do meu sangue em
deixa passar o meu povo –,
turbilhão
dizem.
com Marian me ajudando
E eu abro os olhos e já não posso dormir.
Dentro de mim soam-me Anderson e Paul com sua voz profunda –
e não são doces vozes de embalo. minha Irmã.
Escrevo... Todos se vêm debruçar sobre o meu
Na minha mesa, vultos familiares se ombro,
vêm debruçar. enquanto escrevo, noite adiante,
Minha Mãe de mãos rudes e rosto com Marian e Robeson vigiando pelo
cansado olho luminoso do rádio
e revoltas, dores, humilhações, – let my people go,
tatuando de negro o virgem papel oh let my people go.
branco.
E enquanto me vierem do Harlem
E Paulo, que não conheço
vozes de lamentação
mas é do mesmo sangue e da mesma
seiva amada de Moçambique, e meus vultos familiares me visitarem
e misérias, janelas gradeadas, adeuses em longas noites de insônia,
de magaíças, não poderei deixar-me embalar pela
algodoais, e meu inesquecível música fútil
companheiro branco, das valsas de Strauss.
e Zé – meu irmão – e Saul, Escreverei, escreverei,
e tu, Amigo de doce olhar azul, com Robeson e Marian gritando
comigo:
pegando na minha mão e me obrigando
a escrever Let my people go,
OH DEIXA PASSAR O MEU POVO.
Vocabulário
• Marimba: instrumento musical formado por placas de madeira ou de
metal, graduadas em escala sobre cabaças, que se percutem com baquetas.
• Robeson: Alusão a Paul LeRoy Bustill Robeson (1898-1976). Ator, atleta,
cantor, escritor e ativista americano dos direitos políticos e civis. Robeson
foi o primeiro ator negro a interpretar o Otelo, de Shakespeare, na
Broadway.
• Maria: Alusão à cantora negra americana Marian Anderson (1897-1993).
Além de grande cantora de ópera, também celebrizou-se por suas
interpretações de canções tradicionais americanas, incluindo spituals.
• Spiritual: Canto religioso dos negros norte-americanos, em língua inglesa, e
que nasceu da fusão de certos elementos da tradição musical africana com
a inspiração cristã.
• Harlem: Bairro nova-iorquino onde predominam negros.
• Let my people go: Deixe passar meu povo (na Bíblia, frase de Moisés ao faraó,
com o fim de que este permitisse aos hebreus deixar o Egito rumo a Canaã)
• Anderson e Paul: Ver “Robeson” e “Maria”
• Marian: Ver “Maria”
A BILLIE HOLLIDAY – CANTORA  Negritudismo
Era de noite e no quarto aprisionado em
escuridão
apenas o luar entrara, sorrateiramente,
e fora derramar-se no chão.
Solidão. Solidão. Solidão.
E então,
tua voz, minha irmã americana,
veio do ar, do nada nascida da própria
escuridão...
Estranha, profunda, quente,
vazada em solidão.
E começava assim a canção:
“Into each heart some rain must fall...” *
Começava assim
* Into each heart some rain must fall: e era só melancolia
Dentro de cada coração alguma chuva do princípio ao fim,
deve cair…
como se teus dias fossem sem sol
e a tua alma aí, sem alegria...
Tua voz irmã, no seu trágico sentimentalismo, O meu povo transportando para a
descendo e subindo, música,
chorando para logo, ainda trémula, começar rindo,
para a poesia,
cantando no teu arrastado inglês crioulo
esses singulares “blues”, dum fatalismo os seus complexos, a sua tristeza
rácico que faz doer inata, a
tua voz, não sei porque estranha magia, sua insatisfação...
arrastou para longe a minha solidão...
Billie Holiday, minha irmã
No quarto às escuras, eu já não estava só! americana,
Com a tua voz, irmã americana, veio
continua cantando sempre, no teu
todo o meu povo escravizado sem dó
jeito
por esse mundo fora, vivendo no medo, no
Magoado
Receio
de tudo e de todos... os “blues” eternos do nosso povo
desgraçado...
O meu povo ajudando a erguer impérios Continua cantando, cantando,
e a ser excluído na vitória... sempre
A viver, segregado, uma vida inglória,
cantando,
de proscrito*, de criminoso...
até que a humanidade egoísta ouça
em ti nossa voz,
*Proscrito: banido, exilado
Nota:
• A cantora norte-americana Billie Holliday viveu entre 1915
e 1959.
• É por muitos considerada a maior de todas
as cantoras do jazz.
• Menina americana negra e pobre, Billie passou por todos
os sofrimentos possíveis.
• Aos dez anos foi violentada sexualmente por um vizinho, e
internada numa casa de correção para meninas vítimas de
abuso.
• Aos doze, trabalhava lavando o chão de prostíbulos.
• Aos quatorze anos, morando com sua mãe em Nova York, caiu
na prostituição.
• Sua vida como cantora começou em 1930: estando mãe e filha
ameaçadas de despejo por falta de pagamento de sua
moradia, Billie sai à rua em desespero, na busca de algum
dinheiro.
• Entrando em um bar do Harlém, ofereceu-se como
dançarina, mostrando-se um desastre.
• Penalizado, o pianista perguntou-lhe se sabia cantar.
MOÇAS DAS DOCAS  o drama das Viemos…
mulheres
Somos fugitivas de todos os bairros Fugitivas dos telhados de zinco
de zinco e caniço. pingando cacimba,
Fugitivas das Munhuanas e dos
do sem sabor do caril de
Xipamanines,
viemos do outro lado da cidade amendoim quotidiano,
com nossos olhos espantados, do doer espáduas todo o dia
nossas almas trançadas, vergadas
nossos corpos submissos e sobre sedas que outras
escancarados.
exibirão,
dos vestidos desbotados de
De mãos ávidas e vazias,
chita,
de ancas bamboleantes lâmpadas
vermelhas se acendendo, da certeza terrível do dia de
de corações amarrados de repulsa, amanhã
descemos atraídas pelas luzes da retrato fiel do que passou,
cidade, sem uma pincelada verde forte
acenando convites aliciantes
falando de esperança.
como sinais luminosos na noite.
BLOCO 02 – QUESTÃO 02-C
2ª Questão C. A POESIA DE MOÇAMBIQUE: JOSÉ CRAVEIRINHA:
Com base nos Slides/comentários de sala de aula sobre a poesia de
José Craveirinha (1922-2003), e nos textos 11 (segunda parte) e 12
da disciplina (que estão no SIGAA), discorra sobre dois movimentos
da poética do autor com o fim de afirmar a identidade cultural
moçambicana, a saber: a “autoafirmação como
africano/moçambicano e os respectivos distanciamento e
desvalorização dos traços da europeidade/portugalidade” (Gilberto
MATUSSE, “A representação literária da identidade moçambicana:
Craveirinha”). Ilustre seus argumentos com referências a trechos de
poemas do autor. Resposta digitada com mínimo de 15 linhas.
ASPECTOS DA POESIA DE JOSÉ CRAVEIRINHA
• A produção literária do poeta José Craveirinha enquadra-se entre duas
culturas diversas – a moçambicana e a portuguesa – fazendo integrar
nesta última elementos que vêm da primeira;
• A sua escrita em língua portuguesa é, por isso mesmo, modelada por
interferências provenientes da língua ronga (língua materna do
poeta), e interferências também das formas e tradições que essa língua
consigo veicula;
• Por essa razão, observa-se em sua obra, um trabalho de contaminação
linguística, que é também de remodelação poética e retórica: a
utilização de termos e empréstimos sintáticos trazidos da língua-mãe
moçambicana e as particularidades do uso de português;
• Opera-se ainda a interpenetração dos modelos europeus e africanos.
Nesse processo, as 'interferências' são empregues na forma pura
(encontram-se palavras de praticamente todas a classes da língua
ronga: nomes de pessoas, terras, animais, frutos, etc.), ou cruzada,
resultando palavras portuguesas formadas de acordo com a
morfologia ronga e o inverso;
• Em síntese, José Craveirinha transplanta para a língua
portuguesa o germe linguístico-poético moçambicano e
procura criar harmonicamente uma nova fala, resultante do
confronto e da transformação parcial dos dois sistemas
linguísticos;
• Do ponto de vista da afirmação da cultura moçambicana, o
poeta recorre constantemente a fórmulas da oralidade de seu
povo como modo de reinventar ou subverter os paradigmas
europeus;
• Por exemplo: ao utilizar a expressão própria dos contadores de
histórias Karingana ua Karingana (“Era uma vez”, em língua
ronga) para dar título a um poema e a um seus livros,
Craveirinha introduz, propositadamente, a primeira indecisão
na classificação genérica: trata-se a obra de poesia ou de
conto?
• A recorrência às fórmulas orais moçambicanas são também um
• Novo exemplo: o autor recorre à antiga tradição
da poesia panegírica, própria dos povos bantu do
sul de África, com o fim de tecer em sua poesia o
elogio da sua terra e da sua cultura, apontando
crítica e indignadamente alguns dos episódios, dos
fatos históricos e do quotidiano, que dentro e fora
do seu país são um resultante da opressão e da
injustiça;
• Observa-se ainda na poesia de Craveirinha um
esforço de exaltar um 'herói' coletivo, que muitas
vezes é individualizado pela sua profissão, ou pelo
nome próprio, ou pelos dois simultaneamente (o
magaíça, a prostituta, o trabalhador do cais,
• Por fim, mas não menos importante, Craveirinha se vale
de dispositivos retóricos (a grande frequência de
onomatopeias e da aliteração, o paralelismo frásico e
sintático, a repetição, o emprego de refrão, etc.) com o
fim de aproximar seus poemas do canto, algo bastante
característico da poesia primitiva moçambicana;
• Nesse pormenor, é importante destacar que seus
poemas obedecem com frequência a uma estrutura
estrófica que oscila fundamentalmente entre o ritmo
binário, ternário e quaternário, típico das formas
populares orais.
• O mais curioso neste tipo de desenvolvimento estrófico
é que a primeira estrofe (a maioria das vezes de três
versos) funciona como tema, que é desenvolvido e
retomada musicalmente pelas repetições.
Fabrício Carpinejar, José Craveirinha: antiquíssimos astros
da África. Cf.
http://www.revista.agulha.nom.br/ag34craveirinha.htm)
VOCABULÁRIO DOS POEMAS A SEGUIR
Poema GULA Poema UM CÉU SEM ANJOS DE ÁFRICA
• Insidioso: Traiçoeiro, • Fulvo: De cor amarelo-tostado;
enganador. alourado.
• Hiena: carnívoro que se • Maçaroca: feixe, espiga de milho, rolo
alimenta sobretudo de carne de cabelo. Figurativamente, é
de animais mortos e mexerico, confusão.
putrefatos. • Munhuana:
• Sanha: ira, fúria, rancor, ódio. grande bairro suburbano do Maputo
(a palavra vem de inunho, sal).
• Escabroso: difícil, árduo,
inconveniente. • Coval: Divisão do terreno dum
cemitério na qual se podem abrir
• Quizumba: hiena;
covas ou sepulturas.
designação pejorativa.
• Arminho: mamífero das regiões
• Beiça: Lábio inferior (no polares cuja pele é macia e alvíssima
contexto do poema, equivale a no inverno.
lâmina).
• Catana: pequena espada (ou Poema MOÇAMBIQUICIDA
faca comprida e longa). • Sacarina: Açúcar dos diabéticos
• Capulana: pano típico, estampado,
Poema OUTRA BELEZA de prestígio, com que as mulheres se
• Insólito: Estranho, incomum. vestem, até aos tornozelos.
POEMAS DE JOSÉ CRAVEIRINHA
GULA UM HOMEM NUNCA CHORA
Uivam Acreditava naquela história
as suas maldições do homem que nunca chora.
as insidiosas hienas Eu julgava-me um homem.
própria sanha. Na adolescência
Rituais meus filmes de aventuras
de tão escabrosa gulodice punham-me muito longe de ser
que até nos esfomeados cobarde
aldeões da tragédia na arrogante criancice do herói de
a gula das quizumbas ferro.
se baba nas beiças Agora tremo.
das catanas, E agora choro.
dos machados.
Como um homem treme.
Como chora um homem!
REZA, MARIA (1a versão) e nem crias nem vermes são
Suam no trabalho as curvadas mas aleijados meninos sem
bestas casa, Maria!
e não são bestas Do ódio e da guerra dos homens
são homens, Maria!
das mães e das filhas violadas
Corre-se a pontapés os cães na das crianças mortas de anemia
fome dos ossos e de todos os que apodrecem
e não são cães nos calabouços
são seres humanos, Maria! cresce no mundo o girassol da
esperança
Feras matam velhos, mulheres e
crianças Ah! Maria
e não são feras, são homens põe as mãos e reza.
e os velhos, as mulheres e as Pelos homens todos
crianças e negros de toda a parte
são os nossos pais
põe as mãos
nossas irmãs e nossos filhos,
Maria!
e reza, Maria!
UM CÉU SEM ANJOS DE ÁFRICA Olhos cerrados suavemente
À Guilhermina e ao Egídio boneca Detinha dos seus pais
Detinha adormeceu de tétano para sempre
a menina de cinco anos mãozinhas postas sobre o peito
tinha pai e tinha mãe um vestido de renda branca
e tinha duas irmãs, Senhor! mais um anjo nosso partiu
Detinha no adeus silencioso de boneca
a menina de cinco anos verdadeira num fúnebre berço branco
tinha uma filha de retalhos de chita nossa Detinha tão pura na Munhuana
e fazia duas covinhas de ternura na face que até ainda não sabia que era mulata.
quando sorria, Senhor! Oh! África!
Detinha Quantos anjos já nasceram das tuas
Munhuanas
a menina de cinco anos
de amor
tinha uma filha de ágeis pernas de
e quantas Detinhas partiram para sempre
pano dos
olhos brilhantes de cabeças de alfinete teus braços
e fulvos cabelos de maçarocas maduras e quantos filhos inocentes deixaram o teu
que a febre derradeira da Detinha colo
geraram rios e rios de lágrimas no teu Para o tal céu onde existe o tal Deus que
rosto escravizado não sabe
e dormiram sem pesadelos na vasta línguas de África línguas de África línguas
solidão de África
de um coval mínimo de criança e só sorriem anjos brancos de asas
infelizmente impossíveis de arminho
sem as duas covinhas na face precisamente onde esse arminho só pode
ser algodão de sofrimento
quando sorriam, Senhor?
ainda não há lugar para meninas puras da
cor
E ainda não temos um talhão de céu
azul para todos das meninas filhas e netas de mães e avós
pretas
e novamente uma África para amar à
da nossa Detinha que partiu ainda boneca
nossa imagem
e tão pura que ainda não sabia que era
num anjo verdadeiro anjo também cor
mulata.
da nossa pele
e da mesma carne mártir de feitiços E brinquedos de trapos não se misturam na
estranhos Munhuana
e o nosso sangue vermelho vermelho com bonecas loiras de sapatos e tudo
quente porque os pais arianos rezando nas
como o sangue vermelho de toda a catedrais
não deixam, Senhor!
MOÇAMBIQUICIDA GRITO NEGRO
Das incursões bem sucedidas aos povoados Eu sou carvão!
sobressaem na paisagem as patrícias E tu arrancas-me brutalmente do chão
sacarinas capulanas de fumaça e fazes-me tua mina, patrão.
e uma fervura de cinco Eu sou carvão!
tabuadas e uns onze E tu acendes-me, patrão,
- ou talvez só dez - para te servir eternamente como força
cadernos e um giz motriz
espólio das escolas destruídas.
mas eternamente não, patrão.
Sobrevivos moçambiquicidas Eu sou carvão
imolam-se mesclados e tenho que arder sim;
no infuturo. queimar tudo com a força da minha
combustão.
OUTRA BELEZA Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração
Uns exibem insólitos perfis
de outra beleza
arder até às cinzas da maldição
maquilhada arder vivo como alcatrão, meu irmão,
no mato. até não ser mais a tua mina, patrão.
Eu sou carvão.
ou Tenho que arder
do viés Queimar tudo com o fogo da minha
ou de frente combustão.
perfeitos modelos de caveira Sim!
KARINGANA UA KARINGANA E derrotas de fome
Este jeito nas minhas mãos de bronze
de contar as coisas florescem languidamente na velha
à maneira simples das profecias e nervosa cadência marinheira
— Karingana ua karingana do cais donde os meus avós negros
é que faz a arte sentir embarcaram para hemisférios da escravidão.
o pássaro da poesia.
Mas se as madrugadas
E nem das minhas órbitas violentadas
de outra forma se inventa despertam as raízes do tempo antigo ...
o que é dos poetas mulher de olhos fadados de amor verde-claro
nem se transforma ventre sedoso de veludo
a visão do impossível
lábios de mampsincha madura
em sonho do que pode ser.
e soluções de espasmo latejando no quarto
— Karingana!
enche de beijos as sirenas do meu sangue
que meninos das mesmas raízes
CANÇÃO NEGREIRA e das mesmas dolorosas madrugadas
Amo-te esperam a sua vez.
com as raízes de uma canção
negreira VOCABULÁRIO:
na madrugada dos meus olhos Mampsincha: fruto silvestre avermelhado e comestível,
O MEU ROSTO GUERRA
Logo pela manhã Aos que ficam
resta o recurso
dizem-me carrancuda a expressão
de se vestirem de luto
da minha face. …………………………………
Escarninho não respondo. Ah, cidades!
Para quê as palavras Favos de pedra
ante a evidência das rugas? macios amortecedores de bombas.
A esferográfica escreve AFORISMO
o que sinto Havia uma formiga
e explícita a face hostil compartilhando comigo o isolamento
reduz a mim mesmo e comendo juntos.
a tristeza do que nos sucede. Estávamos iguais
com duas diferenças:
Depois... Não era interrogada
é só passar à maquina. e por descuido podiam pisá-la.
Mas aos dois intencionalmente
NEM DESCONFIA podiam pôr-nos de rastos
mas não podiam
Todo o poeta quando preso
ajoelhar-nos.
é um refugiado livre no universo
de cada coração PENA
na rua. Zangado
O chefe da polícia acreditas no insulto
de defesa da segurança do estado e chamas-me negro.
sabe como se prende um suspeito Mas não me chames negro.
mas quanto ao resto Assim não te odeio.
Porque se me chamas negro
não sabe nada.
encolho os meus elásticos ombros
MANIFESTO apodrecendo na manhã nova
Oh! cantando a cega-rega inútil das cigarras
Meus belos e curtos cabelos crespos obesas.
e meus olhos negros como insurrectas Oh! E meus belos dentes brancos de
grandes luas de pasmo na noite mais marfim espoliado
bela puros brilhando na minha negra
das mais belas noites inesquecíveis das reencarnada face altiva
terras do Zambeze. e no ventre maternal dos campos da
Como pássaros desconfiados nossa indisfrutada colheita de milho
incorruptos voando com estrelas nas o cálido encantamento selvagem da
asas meus olhos minha pele tropical.
enormes de pesadelos e fantasmas Ah! E meu
estranhos motorizados corpo flexível como o relâmpago fatal da
e minhas maravilhosas mãos escuras flecha de caça
raízes do cosmos e meus ombros lisos de negro da Guiné
nostálgicas de novos ritos de iniciação e meus músculos tensos e brunidos ao sol
dura da velha rota das canoas das tribos das colheitas e da carga
e belas como carvões de micaias e na capulana austral de um céu
na noite das quizumbas. intangível
E a minha boca de lábios túmidos os búzios de gente soprando os velhos
cheios da bela virilidade ímpia de negro sons cabalísticos de África.
mordendo a nudez lúbrica de um pão Ah!
a lua Ah! Outra vez eu chefe zulo
o suor amadurecendo os milhos eu azagaia banto
a grande irmã água dos nossos rios eu lançador de malefícios contra as
moçambicanos insaciáveis
e a púrpura do nascente no gume azul dos pragas de gafanhotos invasores.
seios das montanhas. Eu tambor
Ah! Mãe África no meu rosto escuro de Eu suruma
diamante
Eu negro suaíli
de belas e largas narinas másculas
Eu Tchaca
frementes haurindo o odor florestal
e as tatuadas bailarinas macondes Eu Mahazul e Dingana
nuas Eu Zichacha na confidência dos ossinhos
na bárbara maravilha eurítmica mágicos do tintlholo
das sensuais ancas puras Eu insubordinada árvore de Munhuana
e no bater uníssono dos mil pés descalços. Eu tocador de presságios nas teclas das
Oh! E meu peito da tonalidade mais bela timbilas chopes
do bréu Eu caçador de leopardos traiçoeiros
e no embondeiro da nossa inaudita E xiguilo no batuque.
esperança gravado E nas fronteiras de água do Rovuma ao
o tótem mais invencível tótem do Mundo Incomáti
e minha voz estentórea de homem do Eu-cidadão dos espíritos das luas
Tanganhica,
carregadas de anátemas de
do Congo, Angola, Moçambique e Senegal.
ÁFRICA Ajoelham-me aos pés dos seus deuses de
Em meus lábios grossos fermenta cabelos lisos
a farinha do sarcasmo que coloniza minha e na minha boca diluem o abstracto
Mãe África sabor da carne de hóstias em milionésimas
e meus ouvidos não levam ao coração seco circunferências hipóteses católicas de pão.
misturada com o sal dos pensamentos
a sintaxe anglo-latina de novas palavras. E em vez dos meus amuletos de garras de
Amam-me com a única verdade dos seus leopardo
evangelhos vendem-me a sua desinfectante benção
a mística das suas missangas e da sua a vergonha de uma certidão de filho de pai
pólvora incógnito
a lógica das suas rajadas de metralhadora uma educativa sessão de ‘strip-tease’ e
e enchem-me de sons que não sinto
meio litro
das canções das suas terras
de vinho tinto com graduação de álcool de
que não conheço.
branco
E dão-me exacta só para negro
a única permitida grandeza dos seus um gramofone de magaíza
heróis um filme de heróis de carabina a vencer
traiçoeiros
a glória dos seus monumentos de pedra
selvagens armados de penas e flechas
a sedução dos seus pornográficos Rolls-
e o ósculo das suas balas e dos seus gases
Royce
lacrimogéneos
e a dádiva quotidiana das suas casas de civiliza o meu casto impudor africano.
Efígies de Cristo suspendem ao meu pescoço e já não entendem o gorjeio romântico das aves de
em rodelas de latão em vez dos meus autênticos casta
mutovanas de chuva e da fecundidade das virgens instintos de asas em bando nas pistas do éter
do ciúme e da colheita de amendoim novo. infalíveis e simultâneos bicos trespassando sôfregos
E aprendo que os homens inventaram a infinita côdea impalpável de um céu que não existe.
a confortável cadeira eléctrica E no colo macio das ondas não adivinham os vermelhos
a técnica de Buchenwald e as bombas V2 sulcos das quilhas negreiras e não sentem
acenderam fogos de artifício nas pupilas como eu sinto o prenúncio mágico sob os
de ex-meninos vivos de Varsóvia transatlânticos
criaram Al Capone, Hollywood, Harlem da cólera das catanas de ossos nos batuques do mar.
a seita Ku-Klux-Klan, Cato Manor e Sharpeville* E no coração deles a grandeza do sentimento
e emprenharam o pássaro que fez o choco é do tamanho ‘cowboy’ do nimbo dos átomos
sobre os ninhos mornos de Hiroshima e Nagasaki desfolhados no duplo rodeo aéreo no Japão.
conheciam o segredo das parábolas de Charlie Chaplin
Mas nos verdes caminhos oníricos do nosso desespero
lêem Platão, Marx, Gandhi, Einstein e Jean-Paul Sartre
perdoo-lhes a sua bela civilização à custa do sangue
e sabem que Garcia Lorca não morreu mas foi
ouro, marfim, améns
assassinado e bíceps do meus povo.
são os filhos dos santos que descobriram a Inquisição
perverteram de labaredas a crucificada nudez E ao som másculo dos tantãs tribais o Eros
da sua Joana D’Arc e agora vêm do meu grito fecunda o húmus dos navios negreiros…
arar os meus campos com charruas ‘Made in E ergo no equinócio da minha Terra
Germany’ o moçambicano rubi do nosso mais belo canto xi-ronga
mas já não ouvem a subtil voz das árvores e na insólita brancura dos rins da plena Madrugada
nos ouvidos surdos do espasmo das turbinas a necessária carícia dos meus dedos selvagens
não lêem nos meus livros de nuvens é a tácita harmonia de azagaias no cio das raças
o sinal das cheias e das secas belas como altivos falos de ouro
e nos seus olhos ofuscados pelos clarões metalúrgicos erectos no ventre nervoso da noite africana.
extinguiu-se a eloquente epidérmica beleza de todas
as cores das flores do universo
SLIDES PARA A RESPOSTA
BLOCO 03 – QUESTÃO 03-A
3ª Questão A. A PROSA DE FICÇÃO DE MOÇAMBIQUE –
BERNARDO HONWANA. Ilustrando seus argumentos com
referências a PELO MENOS TRÊS CONTOS da obra Nós matamos
o cão tinhoso, de Bernardo Honwana (1942), comente: “Pelas vozes
narrativas dos contos de Honwana, revela-se um quadro social onde
o lugar de cada indivíduo e grupo, desde a infância até à velhice, se
encontrava previamente definido e sempre em prejuízo dos africanos
negros e mestiços. (...). No entanto, em todas essas narrativas estão
latentes o sopro da resistência e o germe da luta armada.” (Sueli
SARAIVA, “Desventura e rotina: Luís Bernardo Honwana e o mito do
lusotropicalismo na África”). Resposta digitada com mínimo de 15
linhas.
SLIDES PARA A RESPOSTA
O CARÁTER DE RESISTÊNCIA DA OBRA

SUELI SARAIVA
In: Desventura e rotina: Luís Bernardo Honwana e o mito do
lusotropicalismo na África
ONDE SE VÊ NOS CONTOS O GERME DA RESISTÊNCIA (A POTÊNCIA AINDA
NÃO VIROU ATO; O COPO AINDA NÇÃO TRANSBORDOU

• Conto 01 – Nós matamos o Cão Tinhoso: a menina Isaura, considerada por


todos como “maluquinha”, é a única que demonstra amor ao cão (que
representa a cultura moçambicana);
• Conto 02 – Inventário de Imóveis e Jacentes: o conto mostra a inadequação da
casa às condições de Moçambique (móveis e revistas velhas; casa pequena
para o tamanho da família, etc. O menino Ginho que narra a história mostra a
consciência disso);
• Conto 03 – Dina: Nesse texto, os trabalhadores querem bater (ou até matar) o
feitor branco que se deita com a filha do velho Madala. Este, porém, não
permite qwue eles façam isso sabendo o que certamente aconteceria depois: o
massacre dos negros;
• Conto 04 – A Velhota: Descreve o drama de um jovem negro que é surrado em
um bar por um branco, mas que é incapaz de reagir (ou seja, ainda se trata de
um momento da História do país em que os colonos “davam as cartas”).
Nocauteado e oprimido pelo corpo do adversário (metaforicamente, o corpo
social colonialista), o rapaz, acaba encontrando nos braços da velha mãe
(alegoria da mãe-terra) um lenitivo para suas dores.
• Conto 05 – Papá, Cobra e Eu: O pai da criança que
conta a história, apesar de consciente da injustiça,
decide ressarcir o dono do cão morto por uma cobra
por saber que, não fazendo isso, a família (negra
assimilada) poderia ser denunciada, perdendo seu
status de assimilado.
• Conto 06 – As Mãos dos Pretos: Descreve a não
aceitação, pot parte do narrador, de uma série de
explicações para o fato de os negros possuírem a palma
das mãos brancas. Essas explicações acabam reforçando
estereótipos desabonadores dos negros (a cor negra da
pele sempre associada a visões pejorativas, afirmando
uma equivocada inferioridade dos negros). Ele, porém,
tem que se manter calado, pois se tratam de ideias
• Conto 07 – Nhinguitimo: Narra o esforço do
negro Vírgula Oito de produzir milho em uma
terra devoluta.
• O sucesso de seu esforço, porém, atiça a cobiça
de um colono branco, que decide expropriar a
terra cultivada pelo negro.
• Ao final, Vírgula Oito acaba assassinando uma
pessoa, o que leva à decisão de um grupo de
pessoas (atiçadas por um comerciante local) de
perseguir e matar o lavrador.
BLOCO 03 – QUESTÃO 03-B
3ª Questão B. A PROSA DE FICÇÃO DE MOÇAMBIQUE – MIA
COUTO: A reflexão sobre a identidade nacional moçambicana é
questão central na obra de Mia Couto (1955). Em seu romance Terra
sonâmbula, essa questão é especialmente tomada como objeto de
reflexão, tendo em vista ter sido a obra escrita quando o país vivia
uma guerra civil, a qual durou dezesseis anos e levou à morte de um
milhão de moçambicanos. Discorra sobre esse tema, o da identidade
nacional moçambicana, no referido romance, ilustrando seus
comentários com PELO MENOS TRÊS PASSAGENS da obra.
Resposta digitada com mínimo de 15 linhas.
SLIDES PARA A RESPOSTA
A IDENTIDADE MOÇAMBICANA EM TERRA SONÂMBULA
• Ao discorrer sobre Moçambique, Michael Cahen (Em “Une
Afrique lusophone libérale? La fin des premières republiques”,
1995, p. 97) reafirma a multiplicidade cultural que faz com que
não haja, neste país, uma identidade banta una.
• Ao contrário, este autor afirma que esta se divide em
consciências múltiplas que se associam às diversas etnias ali
presentes, como macuas, ma­condes, tchopes etc., que se
somam, por sua vez, às influências deixadas por árabes,
indianos, muçulmanos e portugueses.
• Tal característica resulta inega­velmente de fatores históricos a
que se somam outros de natureza geopolíti­ca, de viés
econômico e administrativo, exacerbados, sobretudo, pelo
regime colonial, de modo que o Estado moçambicano vem
tentando construir aquilo que poderíamos definir como
identidade nacional.
• Em Mia Couto, a discussão da identidade nacional passa pela
reinvenção da língua portuguesa, o que se efetiva, por
exemplo, através da criação de novas palavras
(abensonhadas, administraidor, etc.).
• Os neologismos em Mia Couto, assim, devem ser vistos para
além do mero jogo verbal de fundo lúdico: esta é uma forma,
por exemplo, do autor demonstrar que o vocabulário
deixado pelo colonizados não dá conta de nuances da
cosmovisão africana.
• Por isso, é preciso criar novas palavras para dar corpo a
sentimentos, perspectivas, pontos de vistas, etc. que a
racionalidade europeia, ocidental, cristã, cartesiana, etc. não
consegue ver (Nesse sentido, qualquer associação com o
pensamento selvagem de Strauss não seria mera
coincidência).
• Logicamente, a discussão da identidade nacional moçambicana
(e, por extensão, africana) em Mia Couto não se esgota no mero
exercício de criação de novas palavras. Pois embora o autor fuja
dessa palavra (identidade), o tema é constante em sua obra.
• Nessa perspectiva, uma das marca das obras de Mia Couto é a
condição de personagens nascidos em Portugal que, posto em
contato com a África, acabam por penetrar no mistério das
coisas.
• Ou seja, ao contrário dos antigos colonizadores, que não tinham
interesse real pela cultura da África, as personagens portuguesas
são colocadas numa condição em que não há como fugir de uma
nova forma de olhar pro mundo representada pela cosmovisão
africana. (Cf. os romances Venenos de Deus, remédios do diabo, O
último voo do flamingo e A varanda do frangipani, por exemplo).
• Outra forma de questionar os paradigmas ocidentais é a
insistência num realismo mágico, no fantástico, explorando
ordens não ligadas à racionalidade, pois se inserem mais
• No processo de discussão sobre a identidade africana, Mia Couto
constantemente nos obriga a fugir de dicotomias (e até de formulações
maniqueístas). Ou seja,
através de constantes polarizações complementares (nunca excludentes):
tradição/modernidade, oratura/escritura voz/letra, velho/novo,
campo/cidade, região/país, local/global, nacional/universal,
natureza/cultura, mesmo/outro, e suas mestiças combinações a partir
das quais o escritor constrói uma verdadeira sinfonia do diálogo entre
diferentes. (Inocência da MATA, In: FONSECA et CURY, 2008, p. 9).
• A inserção dessas polarizações na escrita de Mia Couto, portanto,
expressa um entendimento de nação da parte do escritor. Segundo seu
ponto de vista, a identidade da nação se formula enquanto "diálogo
entre diferentes", ou seja, como negociação. Dizendo de outro modo e
sintetizando: o autor não vê um modelo de identidade nacional
moçambicana nos mesmos moldes do ocidente; antes, Moçambique (e,
por extensão, toda a África) precisa construir um modelo próprio de
identidade, a qual deve estar em constante processo de negociação
entre os diferentes segmentos que compõem a sociedade daquele país.
• O tema da identidade nacional é discutido já em seu romance de
estreia, Terra sonâmbula, publicado em 1992.
• Já o título da referida obra trata metaforicamente da questão
identitária, pois a instabilidade (o sonambulismo) da terra trata
exatamente de uma país em busca de si mesmo. Nessa perspectiva, a
obra insere discussões ligadas à errância, às diásporas, a relação entre
movimento espacial e viagem ao interior do ser, etc.
• Ainda em relação a esse romance, é importante dizer que as figuras
centrais são um velho (representante das raízes, da tradição, da memória
da tribo) e uma criança (símbolo do futuro da nação, do horizonte, do rumo
e até da utopia do país). Mas o interessante é que se trata de um velho
desmemoriado e de uma criança órfã, deixando claro o caráter alegórico
das personagens.
• Ademais, a obra tem como pano de fundo a guerra civil que ocorreu
após a independência de Moçambique, mostrando um país retalhado
pela briga entre grupos étnicos, mostrando a dificuldade de construção
de um modelo de identidade nacional suficientemente elástico, flexível,
que possa abrigar as diferenças culturais entre os vários grupos étnicos
do país.
Sobre Terra sonâmbula, vejam esse
comentário de Maria Nazareth S. FONSECA e
Maria Zilda F. CURY Mia Couto: espaços
ficcionais (2008, p. 25):
Já em Terra sonâmbula (...), algumas constantes
se configuram: uma escrita transgressora, o
diálogo com o universo da oralidade, a palavra
escrita ocupando papel de mediação e
conservação das tradições e dos rituais das falas.
Num mundo que se fragmenta, palco de guerras e
deslocamentos, descaracterizações, a palavra
escrita assume-se como local privilegiado de
conservação e reinvenção da memória. Além disso,
ela, escrita, se converte em possibilidade de
retomada do espaço de pertença, de um espaço
em que o homem possa se reconhecer.
BLOCO 03 – QUESTÃO 03-C
3ª Questão C. A PROSA DE FICÇÃO DE MOÇAMBIQUE – MIA
COUTO: Identifique as principais marcas da escrita de Mia Couto nos
dois contos estudados em sala de aula: “A confissão de Rosa
Luaneira” e “Mulher de mim” (ambos os contos se acham
disponibilizados no SIGAA: o primeiro deles acaba de ser enviado
pelo canal do Zap e pelo Sigaa, e o segundo é o texto n° 14). Ilustre
seus argumentos com passagens dos dois contos. Resposta
digitada com mínimo de 15 linhas.
SLIDES PARA A RESPOSTA
CONTO 01 – MULHER DE MIM
• “Mulher de mim” é um dos 11 contos que compõem a obra
Cada Homem é uma Raça, publicado em 1990;
• A narrativa traz o inusitado encontro de um homem com um
mulher misteriosa, que chega ao quarto dele em uma noite de
insônia. Depois da partida dela, ele passa a se perguntar sobre
quem ela seria. Chega à conclusão de que se tratava de alguém
enviado para levá-lo desta vida, permitindo que o corpo dele
viesse a ser ocupado por alguém que ainda não nascera. Em
um segundo encontro com a tal mulher, ele expõe a conclusão
a que chegara, momento em que ela se revela: na verdade, se
tratava da metade mulher dele, tendo vindo para que ele
permitisse que ela “nascesse nele”, tornando-o completo.
• A obra reúne algumas das características do estilo miacoutiano
antes destacadas.
• De início, o texto evidencia a criatividade e inventividade da
linguagem miacoutiana, marcada por vários neologismos e por
constantes transgressões à norma culta (vindo a imprimir no texto um
diálogo com a oralidade).
• No tocante aos neologismos, são exemplos as seguintes palavras
presentes no conto em foco:
a) os verbos sonambular, tremurar, irrealizar-se, meninar, ninhar-
se, penumbrar-se e malvorar-se (formado pelo advérbio “mal” e pelo
verbo inventado “alvorar-se”), tranquilar-se, senhorar e incompletar;
b) os adjetivos lendável, irrazoável, transvisível, infranatural (o
oposto de sobrenatural), calcaladas e futurível;
c) os advérbios (ou locuções adverbiais) Nesse enquanto e
avemente;
d) Os substantivos expectância e omniausência (contrário de
onipresença)
• Já em relação às transgressões à norma culta, cabe destacar o uso de
próclises no início das orações, sendo exemplos: Me veio, me
levantei, me chegou, me adveio e lhe disse.
• Em segundo lugar, é clara no conto a presença do mágico, do
maravilhoso, do imaginário ancestral e do fantástico,
figurada na obra pela presença da mulher misteriosa e das
alusões do narrador a lendas, como a do ser andrógino
(difundido na obra O Banquete, de Platão), o das viagens
extracorpóreas, a da mulher que viria acender a lua, testando
a capacidade de resistência à tentação dos homens, e a ideia
de que “os mortos, os viventes e os seres que ainda esperam
por nascer formam uma única tela”, sendo que “nos sonhos
todos nos encontramos num mesmo recinto”.
• Nesse pormenor, observa-se uma apenas aparente
contradição: ao mesmo tempo em que o sobrenatural invade
o conto, Mia Couto se vale desse maravilhoso para tratar de
questões profundamente terrenas, reais, existenciais: a
necessidade de nos reinventarmos sempre (a morte-estação),
buscando a cada dia nos completarmos, nos aperfeiçoarmos.
• Nesse sentido, renascermos como um ser
andrógino, permitindo que nosso oposto “nasça
em nós” aponta para a necessidade de nos
despirmos dos preconceitos e buscar a conciliação
entre a dimensão racional (o machado da epígrafe,
a civilização, o controle, o masculino) e a
dimensão do sonho, da fantasia, da imaginação (a
enxada da epígrafe, a natureza, o caos, o
feminino).

• Por fim, mas não menos importante, o texto


também franqueia ao leitor uma reflexão sobre a
identidade nacional e/ou cultural moçambicana:
tal como a personagem do conto, cabe a
Moçambique (e à África, em geral) trabalhar para
conciliar as várias vozes que compõem seu tecido
nacional (várias etnias, línguas, religiões, a
influência dos indianos, dos árabes, etc., o embate
entre tradição/modernidade, entre o oral e o
Platão (428/427 – Atenas, 348/347 a.C.)
In: O Banquete (c. 380 a.C.)
CONTO 02 – A CONFISSÃO DE ROSA LUANEIRA
• Ainda inédito em livro, o conto “A Confissão de Rosa Luaneira” foi
publicado no Jornal de Letras, Artes e Ideias – JL, de Lisboa, em 22 de
junho de 2004.
• Tal como o conto anterior, a narrativa em questão também apresenta
várias das marcas caracterizadoras da escrita de Mia Couto;
• No plano linguístico, por exemplo, o conto traz os neologismos
desconsiderável e disposicionar.
• Também recria antigos provérbios e expressões: a) Alma despenada;
b) À noite todos os gatos são leopardos; c) Prometia-me
mundos sem fundos.
• No tocante à transgressão à norma gramatical, Mia Couto outra vez
usa a próclise na abertura de frases: “Me contemple” e “Lhe peço
cuidados, excelência”.
• Embora esparsamente, Mia Couto também insere no conto a
sobrenaturalidade, o fantástico, como se vê na passagem em que
Rosa Luaneira faz alusão aos mortos que a visitam com frequência em
• A despeito disso, trata-se um conto marcadamente assentado
no chão duro da realidade, tratando da vida difícil de uma
prostituta/travesti (e, por extensão, dos excluídos em uma
sociedade dominado pelo colonizador europeu);
• O humor se evidencia timidamente no conto, podendo ser
apontados como exemplo:
a) O nome do guarda anterior, que aponta para a questão
do masculino/feminino: Eva-risto;
b) O nome da protagonista, afirmadora de uma feminilidade
que termina por ser negada: Rosa;
c) A quebra das expectativas em torno da sexualidade da
personagem: embora afirme-se como mulher ao longo de quase
todo o conto, no último parágrafo essa autodefinição se anula
com a informação de que os elementos físicos de sua
feminilidade são falsos: a cabeleira, as unhas, os seios, os enfeites
todos “que faz[em] o mundo acreditar que [ela é] (...) mulher”.
• Por fim, o texto também permite leituras que assinalam uma
dimensão alegórica (e política) da obra: tomando-se Rosa Luaneira
como representação do continente africano, pode-se observar no
conto em foco a abertura de um debate sobre a histórica imposição
de uma imagem imposta pelo Ocidente à África (estereótipos).
• Rosa Luaneira/África, assim, procura(m) se esmerar para se
ajustar(em) aos estereótipos que lhe(s) impõe o Ocidente,
representados no texto pelos ornamentos que a personagem utiliza
para fazer com que os outros acreditem que ela é algo que, na
realidade, não é.
• A sexualidade da personagem, assim, problematiza o dualismo
homem/mulher, podendo sugerir a quebra de paradigmas ocidentais
através dos quais a África sempre foi narrada pelos não-africanos.
• Nessa perspectiva, é emblemática a decisão de Mia Couto de fazer
com que apenas a personagem prostituta-mulher-negra-pobre-
travesti tenha voz, apontando para o desejo de dar voz a alguém que
representa os que historicamente foram relegados ao silêncio pelo
colonizador-elite-homem-branco-rico-heterossexual.
APÊNDICE:
PROBLEMAS FREQUENTES QUE
DETECTO NAS PROVAS DOS MEUS
ALUNOS
I – PROBLEMAS DE ORTOGRAFIA: antes de enviar a prova, leia com cuidado suas
respostas. Geralmente, o word destaca em vermelho a palavra escrita erroneamente.
Tenha cuidado, por exemplo, com a ausência de espaço entre duas palavras. Utilize
o recurso de Revisão Ortográfico Word. Nesses casos, a palavra escrita
equivocadamente são marcadas em vermelho por mim

II – PROBLEMAS GRAMATICAIS
2.1) Utilize “onde” para lugar (casa onde moro; escola onde estudo). Nas demais
situações, utilize expressões como “em que”, “no qual”, etc. Exemplo: Na página 15,
na qual o autor trata da separação das personagens...
2.2) Do mesmo modo, procure utilizar “quando” em situações relacionadas com o
tempo (Toda manhã, quando acordo...; Na primavera, quando as flores se abrem...).
Ao se referir a trecho de obra, utilize expressões como “em que”, “no qual”. Exemplo:
No trecho final do romance, em que o autor faz um balanço dos incidentes da vida de
Gregor Samsa, observamos que...
2.3) Lembre-se: “falar” ou “dizer” são verbos ligados à expressão oral, e não à
escrita. Dessa forma, em sua resposta, utilize em lugar desses verbos termos como
“acentuar”, “enfatizar”, “defender”, etc.
2.44) Utilize inicial maiúscula para as denominações de escolas literárias: Barroco,
Arcadismo, Romantismo, etc. Faça o mesmo quando se referir a disciplinas
acadêmicas (Literatura, Geografia, Matemática, Psicanálise, etc.) ou correntes do
pensamento (Marxismo, Liberalismo, Feminismo, etc.).
III – PROBLEMAS DE NORMATIZAÇÃO TÉCNICA (ABNT)
3.1) Quando trouxer uma citação, traga a identificação do autor entre parênteses:
SOBRENOME em CAIXA ALTA, ano de publicação da obra citada e página da citação.
Exemplo: (LARANJEIRA, 1995, p. 17).
3.2) Em títulos de obras (Romances, Livros de Contos ou livro de poemas, etc.), use
itálico (ou negrito). Em contos ou poemas isolados, ponha o título entre aspas.
3.3) Quando a citação está destacada (em uma linha diferente do parágrafo do texto que
a antecede e com margem específica de 4 cm a partir da margem) não se usam mais
aspas.
3.4) Não se deve encerrar seção (capítulo ou tópico) de trabalho acadêmico com citação:
devem ser as palavras do autor do trabalho que devem fechar as seções.
3.5) As citações (mesmo a de trechos de poemas ou de contos/romances) devem estar a
4cm da margem esquerda, com tamanho 10 (enquanto o tamanho do texto é 12), com
espaçamento simples, com alinhamento justificado (nunca centralizado) e sem margem
de parágrafo. Se o poema tiver um a formatação especial (por exemplo, os poemas
concretistas), deve ser obedecida essa formatação (inclusive, procure manter a divisão
em versos, preferindo isso à utilização de barras inclinadas para a separação dos versos).
Lembro ainda que se a citação (com exceção de trechos de poemas) que apresentar
menos de 4 linhas deve ficar na mesma linha do texto, separada deste por aspas (ou seja,
não será destacada em linha e tamanhos diferentes do texto).
3.6) As Referências:
a) Não devem trazer o adjetivo Bibliográficas (pois podem ser listadas referências de
filmes, de pinturas, etc.);
b) Devem trazer as obras pela ORDEM ALFABÉTICA DO SOBRENOME DOS AUTORES;
c) Quando houver uma sequência de obras do mesmo autor, a ordem alfabética deve ser a partir
DO TÍTULO DAS OBRAS DO AUTOR, e o nome e sobrenome do autor deve ser substituído pelo
traço longo (_______) a partir da segunda obra informada;
d) a ordem dos dados da publicação e os destaques (negrito) deve ser a seguinte: 1)
SOBRENOME, Nome do autor. 2)Título: subtítulo [se houver. Fica sem negrito]. 3) Edição (se for a
primeira, não se informa nada; e não se usa o ordinal. Exemplo: 2. ed., 3. ed., etc.). 4) Trad.
(tradutor). 5) Cidade de publicação: 6) Nome fantasia da editora (por exemplo, em vez de Editora
Ática, se informa apenas Ática), 7) ano de publicação.
e) Exemplo 01: WARNER, Maria. Da fera à loira: sobre os contos de fadas e seus narradores. 2.
ed. Trad. Thelma Médici Nóbrega. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
f) Se se tratar de um artigo (ou capítulo de livro) constituinte de um livro, a ordem é: 1)
SOBRENOME, Nome do autor do artigo. 2) Título e subtítulo do artigo [sem negrito). 3) In: 4)
SOBRENOME, Nome do organizador (Em caso de revista, pode não ser informado). 5) Nome do
livro ou revista em que está o artigo [em negrito], 6) volume e/ou número da revista, 7) página inicial
e final do artigo, 8) instituição a que pertence a publicação, 9) mês (opcional) e 10) ano de
publicação da revista.
g) Exemplo 02: NOGUEIRA, Antonio Gilberto Ramos. Literatura de cordel: folclore, coleção e
patrimônio imaterial. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 72, p. 262-275, USP, abr.
2019. (não se usa In: entre o título do artigo e o da revista)

IV – OUTROS PROBLEMAS
4.1) Aprofunde a análise, contemplando outras questões presentes no trecho citado.
4.2) Em vez de trazer a íntegra do poema, deveria ir apresentando-o aos poucos, comentando cada
trecho.
4.3) Quando o pesquisador apresenta uma citação, deve “explorá-la”, o que implica em fazer pelo
menos uma das seguintes ações: comentá-la, relativizá-la, contextualizá-la, rebatê-la, compará-la
com outra citação, etc.

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