Você está na página 1de 8

Reconhecer o compromisso das literaturas africanas de língua portuguesa com os

movimentos de emancipação dos Negros;

Trabulo sublinha o papel que a escrita desempenhou no processo para a autodeterminação e


independência dos respetivos povos.

"A literatura e outras formas de cultura são fundamentais para o desenvolvimento de uma
consciência política. Todos os estudantes de Coimbra naquele tempo leram a literatura marxista,
a literatura revolucionária ligada a Léopold Senghor e à negritude e também Frantz Fanon. A
minha república funcionou, de certo modo, como um viveiro de quadros", recorda o autor.

Libertação política

A literatura cumpriu a sua função. Desempenhou um papel fundamental, contribuindo


positivamente para a luta de libertação política, reconhece Delmar Gonçalves, da Associação
dos Escritores Moçambicanos na Diáspora.

Orlando Piedade, escritor são-tomense:

"Havia os proto-nacionalistas e os nacionalistas. Os primeiros já escreviam sobre esta questão


da possível luta pela independência", refere. "Primeiro uma tentativa de luta pacífica para a
conquista da independência e, caso não fosse possível, a única via seria a luta armada. Foram os
intelectuais que falaram primeiramente nisso."

Delmar Gonçalves lembra também muitos dos escritores moçambicanos das gerações mais
velhas, que viveram nos anos 60, já passavam a mensagem aos mais novos de que era preciso,
de facto, fazer alguma coisa no sentido da mudança. "Nos anos 60, muitos dos textos que
aparecerem depois da independência já tinham sido escritos nessa altura e andavam a ser
difundidos clandestinamente nas cidades pelos intelectuais moçambicanos ou por aqueles que
sentiam a moçambicanidade antes da independência".

Embora também não tenha vivido esse período, Dulce Braga, escritora luso-afro-brasileira não
tem dúvidas sobre o contributo da literatura. "Sempre se provocaram grandes revoluções, que
tiraram pessoas de ditaduras, do esclavagismo, através da cultura e das letras", afirma.

"A literatura é, sem dúvida, uma das formas mais importantes para promover esse tipo de
revolução e de consciencialização", defende a autora, que na próxima semana publica
"Ndapandula Mama África" e "Sabor de Maboque", dois títulos sobre a influência da cultura
angolana no Brasil.
Geração pós-independência

"Naquela altura, a literatura desempenhou um papel bastante importante, como desempenha


ainda hoje", concorda o jovem escritor são-tomense Orlando Piedade, que nasceu em 1974,
pouco antes do 25 de Abril, data da Revolução dos Cravos em Portugal. Atualmente, lembra,
"temos liberdade de expressão e respeitando os outros podemos dizer aquilo que nos vai na
alma, mas naquela altura não foi bem assim."

Delmar Gonçalves, da Associação dos Escritores Moçambicanos na Diáspora

Já Delmar Gonçalves considera que é necessário aprofundar os estudos sobre aquele período
histórico para a formação da jovem geração do pós-independência. Até porque há muita gente
que não conhece a verdadeira dimensão do que é ser independente.

"É importante que os jovens olhem para trás e tirem daí uma lição. Os nossos antepassados, os
nossos pais tiveram de lutar para nós termos essa possibilidade que agora nos é oferecida, de
termos o que quisermos, de lutarmos por um futuro melhor", defende o membro da Associação
dos Escritores Moçambicanos na Diáspora.

A DW África registou estes depoimentos à margem do 4º Encontro com Escritores Lusófonos,


que decorreu esta quinta-feira (21.05), em Lisboa. Um evento promovido em parceria com a
Casa de Angola no âmbito do Festival da Lusofonia, na semana em que decorrem vários
eventos na capital portuguesa em homenagem à Casa dos Estudantes do Império e do seu
contributo para a liberdade dos países africanos de língua portuguesa.

- Definir o conceito de Negritude;

Os objetivos da Negritude são a valorização da cultura negra em países africanos ou com


populações afro-descendentes expressivas que foram vítimas da opressão colonialista.

Considera-se geralmente que foi René Maran, autor de Batouala, o precursor da negritude.
Todavia, foi Aimé Césaire quem criou o termo em 1935, no número 3 da revista L'étudiant noir
("O estudante negro"). Com o conceito pretendia-se em primeiro lugar reivindicar a identidade
negra e sua cultura, perante a cultura francesa dominante e opressora, e que, ademais, era o
instrumento da administração colonial francesa (Discurso sobre o colonialismo, Caderno dum
retorno ao país natal etc). O conceito foi retomado mais adiante por Léopold Sédar Senghor, que
o aprofunda, opondo a razão helênica à emoção negra.
Por outro lado, a negritude é um movimento de exaltação dos valores culturais dos povos
negros. É a base ideológica que vai impulsionar o movimento independentista na África. Este
movimento transmitirá uma visão um tanto idílica e uma versão glorificada dos valores
africanos.

O nascimento deste conceito, e o da revista Présence Africaine (em 1947) de forma simultânea
em Dakar e París terá um efeito explosivo. Reúne jovens intelectuais negros de todas as partes
do mundo, e consegue que a ele se unam intelectuais franceses como Jean-Paul Sartre, o qual
definirá a negritude como a negação da negação do homem negro. Um dos aspectos mais
provocativos do termo é que ele utiliza para forjar o conceito a palavra nègre, que é a forma
pejorativa de intitular os negros em francês, em lugar do vocábulo-padrão noir, muito mais
correta e adequada no terreno político.

Segundo Senghor, a negritude é o conjunto de valores culturais da África negra. Para Césaire,
esta palavra designa em primeiro lugar a repulsa. Repulsa ante a assimilação cultural; repulsa
por uma determinada imagem do negro tranquilo, incapaz de construir uma civilização. O
cultural está acima do político.

Posteriormente, alguns escritores negros e mestiços criticaram o conceito, ao considerar que era
demasiado simplificador: o tigre não declara sua "tigritude". Salta sobre sua presa e a devora
(Wole Soyinka). O próprio Césaire se distanciou do termo, ao considerá-lo quase racista. De
qualquer forma, se tratou de um conceito elaborado num momento em que as elites intelectuais
indígenas de raça negra, tanto antilhanas quanto africanas, se encontravam na metrópole, e
tinham pontos em comum bastante difusos (cor de pele, idioma do colonizador etc.) e sobre os
quais não bastava simplesmente estabelecer vínculos.

- Caracterizar a evolução da literatura moçambicana;

1º período

Esse primeiro período da Literatura Moçambicana vai desde as suas origens até mais ou menos
o ano de 1924, ano em que os portugueses se retiraram da região. Em 1925, houve o lançamento
de O livro da dor, de João Albasini que marcou um novo período dessa rica literatura.

O grande marco desse período foi a introdução do prelo no ano de 1854, porém, com menos
sucesso do que teve em Angola. Podemos dizer que até a década de 20 do século XX não houve
grande atividade literária em Moçambique. Um dos textos que mais se destacam nesse período é
o de Campos Oliveira (1847 a 1911).

2º Período

Esse é um período com uma produção um pouco mais extensa que o anterior e começa com o
lançamento de O Livro da Dor de João Albasini no ano de 1925 até o final da Segunda Guerra
Mundial.
Outro destaque desse período são os poemas de Rui de Noronha (1905 a 1943) publicados na
década de 30 de forma dispersa. No ano de 1946 foi lançado um livro chamado Sonetos com
uma compilação um tanto incompleta desses poemas, mas que serve de registro.

3º Período

O período tido como o 3º da literatura moçambicana vai de 1945/48 a 1963 e se caracteriza por
ser um período de formação dessa literatura. Passa a existir uma consciência de grupo entre
esses escritores. Além disso, é nesse período que Noémia de Sousa escreve todos os seus
principais poemas.

No ano de 1951 o livro Sangue Negro é publicado com 43 poemas dessa escritora. Outro nome
muito importante nesse período é o de José Craveirinha além de outros como Rui Guerra, Rui
Knopfli, Fonseca Amaral, Rui Nogar, Virgílio de Lemos, Orlando Mendes, entre outros.

4º Período

Esse período da literatura de Moçambique se inicia em 1964 e vai até o ano de 1975. Esse
também é o período da guerra civil que tinha como objetivo libertar o país. O ano de 1964 foi
marcante pelo lançamento de Luís Bernardo Honwana publica Nós matámos o cão-tinhoso que
marca o começo da presença da prosa em detrimento da poesia.

As décadas de 60 e 70 são marcadas pela presença de muitos escritores de qualidade em


Moçambique. Dentre os principais nomes podemos destacar Heliodoro Baptista, Rui Knopfli,
Guilherme de Melo, Jorge Viegas, Sebastião Alba, Eduardo Pitta, Glória de Sant’Anna, João
Pedro Grabato Dias, Lourenço de Carvalho, Eugénio Lisboa, Ascêncio de Freitas.

5º Período

Esse é o período da consolidação da literatura moçambicana e vai de 1975 a 1992. Nesse


período não existem mais dúvidas a respeito da existência de uma literatura própria desse país.
O livro Silêncio escancarado (1982), de Rui Nogar (1935-1993) é um dos principais marcos
dessa época.

A literatura de Moçambique é uma parte importante da literatura da África como um todo e


perpassa pela história de luta civil desse país. Trata-se de um conjunto de obras muito
importante e que tem uma grande variedade de temáticas importantes para esse povo.

- Interpretar manifestações artísticas moçambicanas;

Os nossos antepassados deixaram-nos uma herança coletiva muito diversificada. Actualmente


existe pouca literatura acerca da história da arte moçambicana, apesar da sua vastidão e riqueza,
sendo de destacar as oberas que têm, ao longo dos anos, o património artístico nacional.

A pintura, a escultura, a cerâmica e a cestaria são algumas das manifestações artísticas que
integram o universo cultural moçambicano.

Nos últimos tempos, a atuação do Homem, com o aumento do número de indústrias, o


aparecimento de meios de transporte motorizados e a guerra, tem vindo a afetar e a provocar
alterações ou até mesmo a destruir este legado, pondo, desta forma, em perigo o património.
Algumas contribuições que cada um de nós pode dar ao nível do património podem ser Ações
de sensibilização sobre o valor do património, ajudando a identificar elementos do nosso
património ainda desconhecidos participando na sua inventariação e em ações de restauro e
conservação.

Pintura

Como é já sabido, sabido a pintura é uma representação que resulta da aplicação de tinta numa
superfície. A realização da pintura requer sempre a presença de um suporte de tinta e, se
possível, de fixador. Todo o trabalho de pintura caracteriza-se pela presença de cor.

Região de Moçambique

A pintura como obra de arte, em Moçambique, é relativamente nova em relação a escultura,


pois esta durante muito tempo esteve ligada à pintura corporal, isto é, tinha como suporte ou
superfície o corpo humano. As pessoas pintavam o seu corpo com fins rituais ou estéticos -
basta lembrar o rosto pintado de mussiro – e assim se representava a pintura que podia incluir
todo o corpo.

A pintura como obra de arte começa a enraizar-se em Moçambique de forma pronunciada a


partir do século XX, com a imigração de alguns pintores ou descendentes de colonos vindo da
Europa (Portugal) ou Ásia (India Portuguesa-Goa), mas é com fundação do Núcleo de Arte da
antiga Lourenço Marques, atual Maputo, que se vai popularizar esta arte, chegando a ganhar
mais destaque com a entrada de pintores como Malangatana Ngwenya, Jacob e outros.

Joalharia e Ourivesaria o Ibo

É a arte de produção de joias que envolve todos os aparatos ornamentais, tipicamente feitos com
gemas e metais preciosos como prata, ouro, platina e paládio. Hoje, porém, com o
desenvolvimento do design, a joalharia pode ser feita com praticamente qualquer material como
titânio e nióbio além de resinas e outros polímeros .

Escultura Maconde

É um tipo de arte escultórica surgido na província de Cabo Delgado, em Moçambique, que ao


longo dos tempos se estendeu por todo o território nacional. Esta escultura revela grande
domínio da técnica do trabalho em madeira mas também grande poder de criação artística,
representando animais e seres humanos, normalmente em atividades do dia-a-dia da sociedade.

Em muitas das suas criações, embora procurando partir da configuração de tronco de árvores,
compõe outras formas fazendo a combinação de cores da parte interna e externa do tronco
escolhido.

Na escultura Maconde existem dois estilos mais usados, que são:

v Shetani: aquela que apresenta figuras fantásticas ou do mundo imaginário, geralmente estas
esculturas são de madeira perfumada como se fossem desenhos feitos em forma linha em pau-
preto.

v Ujamaa: aquela que apresenta esculturas com rigor técnico de representação anatómica, isto
é, respeita as formas naturais para representar os seres humanos e ou animais.
Dança Nyau

É uma dança de elevado valor artístico cultural, praticado em Moçambique e em alguns países
vizinhos, e está relacionada com a manifestação de poder, resistência revindicações,
contextuação contra a inovação externa, o que faz com que seja uma dança essencialmente
masculina cuja a participação feminina é recente e menos ativa. Em Moçambique é praticada
fundamentalmente em 8 distritos da província de Tete. O Nyau foi a 25 de novembro de 2005
proclamada pela UNESCO, obra-prima do património oral e material da humanidade.

Mussiro

Pintura na cara com pó branco, é utilizado como perfume, creme, amaciador de pele e balsam
tradicional e combate ao surgimento doença de borbulhas e ao envelhecimento da pele.

Xilogravura

É uma prática existente na cultura Maconde e em outras espalhadas em grandes centros urbanos
e desenvolvidas pelos artistas. É uma Acão de escavar uma superfície de madeira criando relevo
e produzindo imagens na superfície não escavando que para tal é pintada e prensada.

Temos grandes representantes da xilogravura, entre eles, o escultor Matias Ntundo natural de
Nandimba-Mueba em cabo delgado em 1948, que se dedica também a escultura de pau-preto

Região Centro

Cestaria

A cestaria moçambicana tem como principias referências a produção de objetos utilitários


como: cestos, carteiras, peneiras, chapéus, celeiros, mascaras, malas esteiras de palha.

Os cestos são objetos que testemunham a vida dos seus fazedores, assim como a dos
utilizadores. Estes objetos, e a criatividade dos artistas que as produzem e também as historias,
as vivencias e a vida social da comunidade. Actualmente, esta arte secular do nosso país tem
evoluído de modo a adaptar-se ao contexto atual, aparecendo com uma nova forma ou design,
sendo que as restantes para livros, as cadeiras de descanso, as bases de mesa os porta-vasos e
outros constituem exemplos vivos desta adaptação aos tempos de hoje.

Região Sul

Xidzalas

É um cesto bem típico da província de Inhambane, mais concretamente do distrito do Vilankulo.


É tradicionalmente produzido pelas mulheres e transmitida a sua técnica de mãe para filha de
modo a preserva-se a sua manufaturação e para que nunca falte em nenhuma casa como
utensilio domestico usado para guardar essencialmente os alimentos secos e mesmo alguns
alimentos líquidos ou bebidas de fabrico caseiro (com a malha mais fechada).

O processo de fabricação deste cesto bastante demorado, porque a malha tem de ficar bem
apertada e porque as mulheres que o produzem só podem dedicar-se a este trabalho nas suas
horas livres.

É essencialmente utilitário, mas mesmo assim tem decorações que lembram flores, figuras
geométricas e motivos abstratos algum dos quais com recurso à casca de arvore. Gradualmente
vão se introduzindo desenhos contemporâneos e criando novas formas com outras utilidades
para ir de encontro ao agrado de um mercado cada vez mais exigente.

Timbila

A m´bila (Timbila) é um instrumento de percussão do tipo xilofone. Pode ser encontrada em


várias dimensões. É feita com placas de madeira, tendo como caixas de ressonância as cascas de
massalas.

A Timbila é uma expressão representativa da diversidade cultural e de um património cultural,


cujo valor ultrapassa as fronteiras da etnia chope da zona de Zavala em Moçambique.

Após a independência iniciaram-se esforços tendentes a proteção e valorização da cultura


tradicional. Em 2005 sob a proposta do Governo de Moçambique, a UNESCO declarou a
timbila como «Património da Humanidade».

Escultura

O ato de esculpir está ligado ao aparecimento dos primeiros instrumentos de trabalho. Um dos
materiais a serem esculpidos terá sido a pedra e os grandes mestres conhecidos na atividade
esculpir são os gregos, no caso da Europa, donde sobressaem nomes de escultores como Fídias,
enquanto em África foi a madeira como é o caso de Moçambique. Esta arte apareceu como um
trabalho de equipa, chegando a ser de caracter individual como é hoje. Ao longo da história,
nem sempre o observador foi solicitado, perante um escultura, a tornar-se um observador móvel.

Na idade media, por exemplo, as esculturas aparecem associadas à arquitetura. Muitas das
estátuas produzidas na época eram estatuas-colunas, não havendo, por isso, necessidade nem
xos-relevos, que também se encontravam incorporadas na arquitetura.

Batik

A partir das experiencias adquiridas sabemos que as técnicas têxteis são muito mas é possível
não conhecer a técnica relacionada com o batik.

Batik é uma técnica sobre têxteis aplicadas para tingimento e decoração de tecidos.

Existem vários processos de produção de batik, por exemplo, batik de cera, para a produção de
este tipo de processo utilizam-se materiais como: uma panela, vela, fosforo, luvas de borracha,
tinta de tingir, ferro de engomar papel absorvente e pano.

Aplicar o conceito de pós-colonialidade à obra de Mia Couto.

Os estudos pós-colonialistas, emergentes da crítica literária e dos estudos culturais advindos do


contexto anglo-saxão, vêm reunindo obras ficcionais, fílmicas, televisivas e na web que, ao se
tornarem objeto de estudo da sociologia da comunicação contribuem para uma nova feição da
organização da historiografia como narrativa para pesquisas de ex-colônias europeias. Valendo-
se de um repertório teórico sobre pós-colonialismo, examina-se, dentre os autores ‘des-
colonizados’, o moçambicano Mia Couto. O corpus, constituído por orações de sapiência,
intervenções, entrevistas, à parte de seus textos ficcionais, representa a realidade, assume-se
como um marcador histórico-cultural em registros díspares. Evidencia-se a estreita relação
existente entre as discussões especulativas e metódicas em busca de teorias (ou de críticas) e o
testemunho do renomado escritor africano de língua portuguesa em apreciações contundentes
sobre noções de pós-colonialismo, lusofonia, hibridismos, mestiçagens, tradições, história e
verdades, memória, tríade temporal.

O autor moçambicano Mia Couto, em seu romance Venenos de Deus, remédios do Diabo,
representa o confronto e a tensão provocados pelos conflitos resultantes da política colonial.
Sendo assim, notamos como a literatura pós-colonial se preocupa com o peso histórico do
colonialismo e com a persistência do projeto colonialista na mentalidade e na ideologia dos
sujeitos que vivem em países que antes foram colônia. Este estudo pretende discutir a função da
literatura no projeto de construção da identidade nacional africana, bem como analisar os
embates identitários entre o sujeito africano e o europeu na obra citada. A partir da análise da
presente obra, também apontaremos para discussões que dão conta de fenômenos recorrentes
em nossa atualidade, a exemplo da desconstrução de identidades cristalizadas pela tradição e o
deslocamento do sujeito.

Pós-colonialismo (ou póscolonialismo) é um conjunto de teorias que analisa os


efeitos políticos, filosóficos, artísticos e literários deixados pelo colonialismo tanto nos países
colonizados quanto nos colonizadores, ainda que suas obras fundadoras dediquem maior atenção às
sequelas herdadas pelos primeiros.
Como teoria literária (ou abordagem crítica), lida com a literatura produzida em países que outrora
foram colônias de outros países, especialmente das potências coloniais europeias Grã-
Bretanha, França e Espanha; em alguns contextos, inclui países ainda em situação colonial. Também
lida com a literatura escrita em países coloniais e por seus cidadãos, que possuam integrantes das
colônias como tema. Nativos das colônias, principalmente do Império Britânico, frequentaram
universidades britânicas; seu acesso à educação, ainda indisponível nas colônias, criou uma nova
forma de crítica, particularmente literária, e especialmente em romances. A teoria pós-colonial
tornou-se parte dos recursos do críticos nos anos 1970; o livro Orientalism de Edward Said é tido
como a obra fundadora.
Mia Couto apresenta inúmeras situações de forma figurada, com referências aos mitos, às lendas
e ao folclore nacional. Pelo realismo fantástico das suas narrativas, é comparado a nomes como
Gabriel Garcia Márquez, Guimarães Rosa e Jorge Amado.

Assim como alguns de seus contemporâneos, preocupa-se com a identidade dos povos
africanos e busca solidificar a independência do seu país. Sua obra mostra o conflito entre a
imposição dos valores coloniais e os valores tradicionais, que, mesmo reprimidos, conseguiram
se preservar por meio de situações inusitadas que os colonizadores jamais conseguiram dominar
ou compreender. Essas situações, que aparecem nos livros de Mia Couto, refletem uma maneira
de pensar e viver típica e são uma forma de resistência cultural e manutenção da identidade do
povo negro moçambicano.

Você também pode gostar