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É o sortilégio da literatura de viagens. "A que nos leva a imaginar que também podemos
viajar", sublinha Francisco Guedes. Por isso lemos, e, quando podemos, viajamos. E se
viajar tem tipologias diversas -por exemplo, numa sessão anterior do LEV, o escritor
angolano Ondjaki falou de uma viagem que fez entre a casa e o galinheiro da avó, e
Xavier de Maistre escreveu "Voyage autour de ma chambre" -, a viagem na literatura
não as tem menos.
Por isso, Mário Matos exclui da categoria de literatura de viagens os romances, mesmo
os "de viagem", que são lidos como ficções criadas pelos autores, ainda que muitas
vezes alimentados por "vivências, situações, personagens e paisagens factuais". No
entanto, não deixa de reconhecer como assunção mais ou menos consensual entre os
estudiosos actuais que, sendo um "género híbrido ou andrógino", vacila "entre a ficção e
o ‘real'", misturando-se "os mais diversos estilos de escrita e discursos oriundos de
múltiplas áreas disciplinares". O que significa, na prática, que um livro de viagens pode
ser narrativo, poético, epistolar, de reportagem.
É deste modo que Carlos Vaz Marques analisa a literatura de viagens. "Tudo o que fala
de locais, tudo o que possa eventualmente ter a geografia como personagem. Acho que
pode caber lá tudo". Os Lusíadas?, queremos saber. "Também. Mas se o conceito fica
tão lato, também fica lasso". A verdade é que Dublin pode ser conhecida, com muito
fôlego literário, com "Ulisses", de James Joyce na mão; e quem lê "O Ano da Morte de
Ricardo Reis", de José Saramago, não deixa de "perceber" Lisboa, por exemplo.