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Diogo Bhovan, 19 anos, meteu-se à Estrada para uma Aventura a que chamou “Vou Ali e Já Venho”.
Orçamento: um euro por dia. Num mês, foi a sete países.
A mãe disse que “estava maluco”, mas Diogo Bhovan não queria deixar o sonho “ficar na gaveta”. […] Não
queria deixar que as viagens pelo mundo com que andava a sonhar há quarto anos, desde que fez um
estágio na Holanda no ensino secundário, morressem entre linhas de programação de um future emprego
em Engenharia Informática. A família percebeu que “tinha esta ideia mais fixa e que estava a levar isto
bastante a sério”. Apoiaram […]
Ao longo do mês de Agosto, Diogo visitou sete países, de França a Itália. Dormiu num camião TIR e
descobriu “um bocadinho o mundo dos camionistas”, conheceu Berlim e Viena através do olhar de quem o
acolheu, reencontrou familiares em Luxemburgo, trabalhou uma noite num festival e até decidiu passer
pela “experiência de pedir esmola” para comprar um hamburger.
Em cada cidade, falava com centenas de desconhecidos sobre o projeto, pedia boleia, alojamento, comida
ou mesmo dinheiro. Recebeu “muitos ‘não’, muita indiferença”, mas também solidariedade. Depois de uma
noite de duas horas de sono na entrada de um hostel e de dois dias a percorrer Paris de lés-a-lés “para ver
se alguém o conseguia ajudar” a encontrar um sitio onde ficar, o português conheceu Catherine, uma
jornalista britânica a vive rem França. Convidou-o a ir com ela e um amigo a uma sesão de cinema ao ar
livre e depois ofereceu-se para o aloar naquela noite […]
No entanto, a experiência que mais o marcou foi a viagem de autocarro a caminho de Itália. Depois de
horas numa estação de serviço em Viena a pedir boleia na direção errada, viu um autocarro e pôs-se “quase
no meio da Estrada” com a placa branca que levava para os pedidos de boleia. O motorista teve pena, os
passageiros concordaram em levá-lo a bordo. “Todo o acolhimento foi fantástico. De repente tinha 60
italianos a fazerem-me perguntas, a dar-me donativos, consegui logo aloamento”, conta. A viagem
terminou em casa de uma das passageiras, que organizou um jantar com toda a família numa pizzeria
italiana. “Sentia-me um famoso”, confessa.
Contra quaisquer expectativas, o magro orçamento tornou-se lucro. As pessoas que lhe oferciam
alojamento “acabavam por oferecer também a alimentação”. Outras davam boleia, bilhetes de metro,
dinehiro. Partiu com 31 euros. Regressou com 183,02 euros – como descreve detalhadamente no Facebook
– e um novo vício: “falar com pessoas totalmente diferentes e conhecer as suas experiências de vida”. […]
Mara Gonçalves, Público, 15 de Fevereiro de 2013