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Segundo o Dicio, Pátria é o País onde alguém nasce ou vive como cidadão, terra natal;
local do país onde alguém nasceu, lugar de origem de um grupo ou de uma
circunstância que interessa uma sociedade, ou que se sobressai por possuir uma grande
quantidade de coisas de mesma natureza, lugar definido por ser o melhor: sua pátria é o
oceano e designação da terra paterna.
Por muita atrocidade que lhe seja cometida, por muito pontapé que se lhe dê, a nossa
língua tem a capacidade de perseverar no tempo. Ainda que tenha de evoluir e sofrer
alterações, ainda que tenha de se adaptar, se lhe fizermos jus à alma, ao sentido que
cada palavra carrega, a nossa pátria será grande, a nossa pátria será eterna. Não vale a
pena prolongar as discussões sobre o Acordo Ortográfico, a sua utilização ou a
resistência à mesma. Tendo sido um opositor do AO, sou agora um utilizador, porque
compreendi que a força das palavras está no seu significado e na beleza do seu som,
mais do que na forma como se escrevem ou omitem letras ou hífens, ou se
maiusculizam ou não as palavras. E, também, porque me lembrei que no secundário a
minha professora de português me autorizava a utilizar os meus neologismos desde que
justificáveis, relevantes e aspados.
'Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos
tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real
não tem para mim interesse de nenhuma espécie — nem sequer mental ou de sonho —,
transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de
outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand,
fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente
quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria
perfeição de engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio
passivo de coisa movida. [...]
Não chóro por nada que a vida traga ou leve. Há porém paginas de prosa me teem feito
chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noute em que, ainda creança, li pela
primeira vez numa selecta, o passo celebre de Vieira sobre o Rei Salomão, "Fabricou
Salomão um palacio..." E fui lendo, até ao fim, tremulo, confuso; depois rompi em
lagrimas felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza
da vida me fará imitar. Aquelle movimento hieratico da nossa clara lingua majestosa,
aquelle exprimir das idéas nas palavras inevitaveis, correr de agua porque ha declive,
aquelle assombro vocalico em que os sons são cores ideaes — tudo isso me toldou de
instincto como uma grande emoção politica. E, disse, chorei; hoje, relembrando, ainda
chóro. Não é — não — a saudade da infancia, de que não tenho saudades: é a saudade
da emoção d´aquelle momento, a magua de não poder já ler pela primeira vez aquella
grande certeza symphonica.
Não tenho sentimento nenhum politico ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto
sentimento patriotico. Minha patria é a lingua portuguesa. Nada me pesaria que
invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incommodassem pessoalmente,
Mas odeio, com odio verdadeiro, com o unico odio que sinto, não quem escreve mal
portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada,
mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que
se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja
independentemente de quem o cuspisse.'
De acordo com os estudos feitos o poeta dizendo A minha pátria é a lingua portuguesa
quis mesmo dizer que não se importavam com as outras coisas relativamente a lingua
somento o modo como ela era expressada pelas pessoas, certa ou errada ele não se
importava desde que fosse de intuito comunicativo já era alegria para ele.