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ANAIS
orgs.
Fernando Atique | Thais
Cristina Silva de Souza |
Denise Geribello | Regina
Helena Vieira Santos |Claudia
Muniz | Mariana Tonasso |
Maíra de Camargo Barros |
Yasmin Darviche
Centro Internacional para a Conservação do Patrimônio
CICOP BRASIL - PRESIDÊNCIA
Prof.º Dr. Paulo Roberto Masseran (UNESP) - Presidente Cicop Brasil
Prof.º Dr. Vladimir Benincasa (UNESP) - Vice-presidente Cicop Brasil
COORDENAÇÃO DO EVENTO
Profa. Dra. Thaís Cristina Silva de Souza IFSP
Prof. Dr. Fernando Atique UNIFESP
ORGANIZAÇÃO GERAL
Prof.ª Ms. Aline Silva Santos (IFSP)
Ms. Claudia Muniz (doutoranda FAU USP)
Profa. Dra. Claudia Regina Plens (UNIFESP)
Profa. Dra. Denise Geribello (UFU)
Prof. Dr. João Fernando Blasi de Toledo Piza (IFSP)
Prof. Dr. Julio Moracen Naranjo (UNIFESP)
Prof. Dra. Lucília Santos Siqueira (UNIFESP)
Profa. Dra. Marcia Eckert Miranda (UNIFESP)
Arq. Maíra de Camargo Barros (mestranda UNIFESP)
Ms. Mariana Tonasso (doutoranda FAU USP)
Prof. Dr. Odair da Cruz Paiva (UNIFESP)
Dra. Regina Helena Vieira Santos (pesquisadora FAU USP)
Arq. Yasmin Darviche (mestranda FAU USP)
APOIO
Beatriz Quartim de Moraes Ribas (graduanda UNIFESP)
Carolina Borges Lisbão (graduanda IFSP)
Débora Cristina Segantini Natucci (graduanda UNIFESP)
Fabiane Larissa Lisboa Goulart (graduanda UNIFESP)
Gabriela Pires dos Santos (graduanda UNIFESP)
Laís Tomasi Stanich (graduanda- FAUUSP)
Larissa Leite de Aguiar (graduanda UNIFESP)
Thomas Edson Filgueiras Filho (DPE/SPO/IFSP)
APOIO INSTITUCIONAL
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo - IFSP
Diretoria Geral do Campus São Paulo - SPO/IFSP
Diretoria de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação - DPE/SPO/IFSP
Departamento da Construção Civil - DCC/SPO/IFSP
ANAIS
orgs.
Fernando Atique
Thais Cristina Silva de Souza
Denise Geribello
Regina Helena Vieira Santos
Claudia Muniz
Mariana Tonasso
Maíra de Camargo Barros
Yasmin Darviche
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Vários organizadores.
ISBN 978-65-87312-23-1
21-87881 CDD-363.690981
O Centro Internacional para a Conservação do Patrimônio (CICOP) é uma entidade sem fins
lucrativos que visa a solidariedade e a cooperação internacional para proteção, conservação,
restauro, gestão e promoção do Patrimônio Cultural. Ele incentiva estudos, pesquisas e o in-
tercâmbio de informações para a salvaguarda do Patrimônio Cultural Mundial.
O III Congresso Nacional para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural - CICOP Brasil 2021, é or-
ganizado pelo curso de Arquitetura e Urbanismo do Instituto Federal São Paulo- IFSP, Campus
São Paulo, e pelo Departamento e pelo Programa de Pós-Graduação em História da Escola de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, com o
tema Patrimônio cultural: fragmentos, somas, construções e distopias. A iniciativa conjunta
do IFSP e da UNIFESP de sediar o III congresso em São Paulo partiu da percepção de que o
estado de São Paulo tem iniciativas a discutir no campo da preservação, levando em conta,
inclusive, a formação específica que o curso de bacharelado em História da UNIFESP fornece
sobre patrimônio cultural, bem como a dimensão formativa sobre o restauro e o inventário
arquitetônico praticados pelo IFSP.
O III CICOP ocorre totalmente em ambiente virtual, com acesso pela Plataforma RNP com trans-
missão em streaming pelo YouTube, entre os dias 09 e 12 de novembro de 2021. Tal opção foi
decorrência da pandemia de COVID 19, e conta com uma programação variada, entre sessões
temáticas, mesas redondas, e um evento preparatório, o Fórum de Mapas de Danos.
Ao todo o CICOP Brasil 2021 conta com 4 mesas redondas, com três convidados e um mediador
em cada uma delas, 70 artigos completos, com apresentações divididas em 15 sessões temáti-
cas, além de aproximadamente 300 inscritos como ouvintes, o que revela o grande interesse
da comunidade acadêmica e de atores da seara do patrimônio cultural pelo debate em prol da
preservação.
LT 01- Fragmentos
Fragmentos:parte de um todo ou fração, algo que se quebrou ou rasgou. Idealizamos essa linha
para experiências, pesquisas e estudos de casos que incidam luz, questionem e problema-
tizem as fronteiras no campo do patrimônio cultural. As fronteiras disciplinares, territoriais,
sociais, políticas e simbólicas como impeditivos ou dificultadores das ações de preservação
de bens e manifestações culturais. As experiências individuais, exitosas ou frustradas, de
restauro e preservação cultural em municípios do Brasil e os entraves técnicos e legais nas
ações de Conselhos e Órgãos Municipais de Preservação. Os conflitos jurídicos, éticos e es-
téticos da preservação. As dificuldades encontradas por coletivos independentes em prol da
preservação de seus patrimônios e suas relações com os órgãos de preservação.
LT 02- Somas
Nesta linha temática são bem vindos trabalhos, estudos de caso, experiências e pesquisas que
apresentem e discutam projetos, programas, iniciativas, atividades e metodologias que foram
efetivamente trans/multi/interdisciplinares. Propostas de resolução de problemas preserva-
cionistas, envolvendo órgãos públicos, academia, entidades sem fins lucrativos e sociedade
civil organizada. Ações coletivas e/ou conjuntas de educação patrimonial, inventários, regis-
tros, divulgação e identificação de bens e manifestações culturais diversas.
LT 03- Construções
LT 04- Distopias
Este eixo temático tão atual e contemporâneo, esperamos trabalhos que reflitam sobre difer-
entes realidades projetadas para o patrimônio. Proposição de novas categorias, novas formas
de compreensão e interpretações. Discussões que gravitam em torno das atuais adversidades,
como o fracasso preservacionista em face dos regimes totalitários. As preocupações com a
mobilização do patrimônio cultural como ferramenta discursiva não-inclusiva. Os patrimônios
e memórias difíceis. O patrimônio cultural e sua preservação no mundo dos dados e no contex-
to digital. As suas representações em suportes diversos: do livro à gravura; da reminiscência
ao mundo digital.
COMISSÕES
COMISSÃO CIENTÍFICA
Adriana Capretz Borges da Silva Manhas - UFAL
Ana Lucia Duarte Lanna – FAU USP
Andréa de Oliveira Tourinho - USJT
Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno – FAU USP
Camila Warpechowski - UFRGS/PMPA
Carolina Pulici - UNIFESP
Claudia dos Reis e Cunha - UFU
Cristiane Souza Gonçalves - UFMG
Cristina Meneguello - UNICAMP
Danilo Celso Pereira - USP
Deborah Neves - UPPH-CONDEPHAAT
Denise Puertas de Araújo - FDUSP
Diógenes Rodrigues de Sousa - PUC-SP
Douglas Luciano Lopes Gallo - IFSP
Eduardo Romero de Oliveira - UNESP
Eneida de Almeida - USJT
Felipe Bueno Crispim - UNICAMP
Fernanda Viana Buga - UniEduK
Flávia Brito do Nascimento – FAU USP
Flavia Taliberti Peretto – FAU USP
Francisco de Carvalho Dias de Andrade - Museu Paulista/USP
Hugo Segawa - FAU USP
Inês Cordeiro Gouveia - IEB USP
Ivone Salgado - PUC-Campinas
Juliana Harumi Suzuki - UFPR
Juliana Silva Pavan – FAU UFRJ
Juliano Veraldo da Costa Pita - IFSP
Kelly Cristina Magalhães - UNESP
Lara Melo Souza - Alexander von Humboldt Foundation
Lia Motta - IPHAN
Licia Mara Alves de Oliveira Ferreira - FAUUSP/ DPH-PMSP
Luciano Migliaccio - USP
Marcio Novaes Coelho Jr - FAAP
Maria Angela P. C. S. Bortolucci - IAU USP
Maria Sabina Uribarren - UNIP
Mariana Kimie da Silva Nito – FAU USP/ REPEP
Mateus Rosada - Escola de Arquitetura – UFMG
Natalia Miranda Vieira de Araujo - UFPE
Paulo César Garcez Marins - USP
Philippe Arthur dos Reis - UNICAMP
Renata Maria De Almeida Martins – FAU USP
Renato Cymbalista – FAU USP
Rodrigo Almeida Bastos - UFSC
Rosío Fernández Baca Salcedo - UNESP
Sabrina Studart Fontenele Costa - Escola da Cidade
Samir Hernandes Tenório Gome - UNESP
Samira Bueno Chahin - Centro Universitário Facens
Silvia Ferreira Santos Wolff – FAU Mackenzie
Vanessa Gayego Bello Figueiredo - FAU PUC-Campinas
Vladimir Benincasa - FAAC-UNESP
sumário
A prática da visitação guiada no casarão do século XIX solar barão do Guajará em Belém do
Pará | 23
Guia da cidade e arquitetura de São João Del-Rei (MG): documentação e caracterização dos
imóveis religiosos | 103
Habitação, Gênero e História: uma análise das transformações tipológicas da casa e sua
relação com o papel da mulher na sociedade | 379
Decolonizando a Vila Matilde: um outro olhar sobre o território a partir da memória do Largo
do Peixe | 539
Patrimônio urbano, memória e identidade: uma análise sobre a Avenida Frei Serafim,
Teresina – PI | 597
Prédio Central 95 anos: uma ação comemorativa em uma instituição tombada no Capão
Redondo | 683
Fazenda da Tafona - uma casa no mundo de dentro: Furando a bolha da História oficial | 701
O patrimônio arquitetônico e a sua percepção pelo indivíduo: o caso do Edifício “A Noite” | 717
Patrimônio cultural de Ijuí, RS – Brasil: o conjunto de edifícios concebidos pela família Glitz |
781
A casa de ópera de São Paulo no século XVIII: Construção, usos e uma hipótese de
reconstituição arquitetônica | 845
Três cidades, quatro teatros e cinco vales: as transformações dialéticas da paisagem cultural
do Vale do Anhangabaú e do Theatro Municipal de São Paulo (séculos XIX-XX) | 909
Pátio ferroviário da estação Nova de Campina Grande, PB: degradar ou consumir? proteger
ou usar? | 957
A Igreja Matriz de São José das Três Ilhas: evolução dos danos de 2009 a 2021 | 1051
O processo de restauro da casa do Barão do Rio Branco: a casa como elemento da
multidisciplinaridade no curso de Arquitetura e Urbanismo da UERJ, Campus Petrópolis/RJ |
1065
Construções
RESUMO
Este artigo pretende descrever o trabalho de resgate histórico, memória e identidade que
vem sendo realizado no bairro Ponte Alta, localizado na cidade de Guarulhos, na
Grande São Paulo. A partir da história do bairro conhecida por relatos de moradores
antigos da região, e do livro Revelando a História do Bonsucesso e Região: Nossa
Cidade, Nossos Bairros, além da consulta de documentos, mapas, e fotoíndices, é
proposta uma lista dos patrimônios edificados e patrimônios naturais identificados do
bairro, passando pela discussão da relação que as pessoas mantêm com esses locais,
listando os patrimônios e as conexões que a comunidade tem com cada um deles. A
proposta de um inventário patrimonial, e ações de ensino de conhecimento local nas
escolas municipais e estaduais do bairro é discutida ao final, além de como pode ser
feita a preservação e aproximação dos moradores com os patrimônios culturais
materiais e natural do bairro para preservação da história, memória e identidade da
comunidade.
ABSTRACT
This article intends to describe the work of historical recovery, memory and identity that has
been carried out in the Ponte Alta neighborhood, located in the city of Guarulhos, in Greater 747
São Paulo. Based on the history of the neighborhood known by reports from former residents of
the region, and the book Revealing the History of Bonsucesso and Region: Our City, Our
Neighborhoods, in addition to consulting documents, maps, and photo indexes, a list of built
heritage is proposed. and identified natural heritages of the neighborhood, going through the
discussion of the relationship that people maintain with these places, listing the heritages and
the connections that the community has with each one of them. The proposal for a heritage
inventory, and actions to teach local knowledge in the district's municipal and state schools is
discussed at the end, as well as how the preservation and approximation of residents with the
material and natural cultural heritage of the neighborhood can be done to preserve the history,
memory and identity of the community.
Keywords: Cultural Heritage, Material and Natural Heritage, History, Bairro Ponte Alta,
Guarulhos.
1. Introdução
A memória e a identidade de um povo é um dos seus maiores tesouros, dos quais se
unem e mantêm vivo sua cultura, sua história e todo o seu saber passado, e que a cada
geração que renova e passa adiante todo o conhecimento preservado. Das suas
edificações que ultrapassaram o poder do tempo, se mantém de pé para contar a uma
nova geração os feitos antigos, e que ali estão evidenciados pelos chamados patrimônios
culturais. Um povo sem memória, sem identidade, está consequentemente fadado ao
esquecimento e a perda de suas raízes e de seu próprio destino. No contexto e lugar em
que esse artigo é escrito, a necessidade de um resgate histórico nunca foi tão necessária
como nunca, principalmente pela cidade de Guarulhos onde se encontra o bairro Ponte
Alta. Bairro esse periférico e esquecido, localizado nas margens de uma das maiores
cidades do Brasil e que vê com o tempo, sua história sendo perdida e apagada, e ao
mesmo tempo desconhecida por parte da comunidade. Na única obra que conta a
história da comunidade de forma muito breve, e que está como referência neste artigo, o
contexto periférico em que o Ponte Alta e muitos outros bairros periféricos da cidade de
Guarulhos se encontram, as palavras dos autores OLIVEIRA et. al (2010) vem como
um choque de realidade e um alerta da triste realidade que ainda continua tão presente:
O local onde habita e estuda nossa gente é retratado pelos modernos meios de
comunicação social como inseguro e feio. As imagens tidas como belas
mostram o círculo de convivência dos chamados incluídos no alto mercado
de consumo. Os moradores dos bairros são “bombardeados” cotidianamente
com notícias sobre as periferias que só mostram o lado negativo: crimes,
enchentes, assassinatos, assaltos, brigas, estupro, etc, raramente divulgando
alguns aspectos vistos como positivos. Os programas campeões de audiência
nada contribuem para o desenvolvimento de uma política de preservação do
748 patrimônio cultural e ambiental dos locais de moradia dos trabalhadores.
(OLIVEIRA et al. 2010, pg. 67)
III Congresso Nacional para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural – São Paulo/SP – 09 a 12 de nov. 2021
Esse artigo vem como uma iniciativa própria de registro e divulgação da história do
bairro Ponte Alta, e do que pode ser feito para que os patrimônios culturais, a memória
e identidade dessa comunidade não se perca completamente.
2. Metodologia
Nesta pesquisa foi usado uma abordagem mais qualitativa dos relatos obtidos dos
moradores do bairro Ponte Alta para entendimento da relação deles com os patrimônios
materiais e naturais do bairro. Também foi realizada uma pesquisa documental e
bibliográfica em sites com informações complementares, como o DataGEO Sistema
Ambiental Paulista, EMPLASA, Prefeitura de Guarulhos e Arquivo Histórico
Municipal de Guarulhos. Foi utilizado também imagens aéreas de diferentes anos para a
descoberta e análise de edificações antigas na comunidade, fotoíndices e mapas antigos.
Por fim, o uso do único livro como uma referência, que conta a história do bairro, a obra
Revelando a História do Bonsucesso e Região: Nossa cidade, nossos bairros dos autores
Antônio Ferreira de Oliveira, Celso Luiz Pinho, Daniel Carlos de Campos, Elton Soares
de Oliveira, José Abílio Ferreira, Luciana da Silva, Irmã Lucila Martina Martendal e
Padre Renato Bernardes Duarte. Essa obra em destaque, é a única que se tem registrada
a história do bairro de forma breve, sendo uma referência indispensável para esse
trabalho.
III Congresso Nacional para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural – São Paulo/SP – 09 a 12 de nov. 2021
Pádua) e chegaram ao “bairro Jardim” em 1943. Acredita-se que, antes do bairro ser
conhecido como Ponte Alta, Bairro Jardim era sua antiga denominação. De acordo com
Geraldo, foi nessa época que os seus pais compraram uma chácara na região para poder
garantir o sustento da família com algumas atividades agrícolas. Ainda hoje, é possível
ver em alguns pontos do bairro, pequenas chácaras e fazendas, como é o caso da
pequena fazenda localizada na Rua Norte A. A partir de 1950, Guarulhos passou por um
processo de expansão urbana que influenciou diretamente na formação do Ponte Alta
que se conhece hoje. No contexto da história do bairro, essa expansão se deu através da
compra das terras pela Família Matarazzo, que, já em 1970 vendeu para uma empresa
de loteamento chamada Esquadra, que era a responsável pelo loteamento no bairro. Na
pesquisa realizada no site do DataGEO, que é um grande catálogo com informações
ambientais atualizadas onde os dados são provenientes de órgãos públicos que
compõem o Sistema Ambiental Paulista, foram encontrados mapas antigos da extinta
EMPLASA (Empresa Paulista de Planejamento Urbano). Tais mapas, datado de 1973 já
mostravam as vias abertas dentro do futuro loteamento, que viria através do Decreto n°
7056 de 20 de dezembro de 1979 (GUARULHOS, 1979) ser oficializado como Ponte
Alta.
750
III Congresso Nacional para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural – São Paulo/SP – 09 a 12 de nov. 2021
Figura 1: Fotoíndice de 1980 do bairro Ponte Alta
Com relação à década de 1980 no bairro, PAULINO (2021) argumenta que algumas das
características urbanas do bairro começam a ganhar corpo, e destaca entre outras
características [...] “a abertura de vias no bairro. O fotoíndice de 1980 é o primeiro a
mostrar um Ponte Alta mais consolidado” (PAULINO, p. VI). No período da década de
80 no Ponte Alta, apesar de ser pouco conhecida e documentada, o estudo de processos
administrativos relacionados à nomeação de ruas no bairro, têm descrito algumas
características territoriais da época. No Processo Administrativo n° 2675/91 que foi
1
estudado, trechos da folha 17 por exemplo, descreve a região de um lugar chamado
"SÍTIO PONTE ALTA” que se localizava nos arredores do bairro, sendo descrito
1 Assim se descreve a área denominada Sítio Ponte Alta: “[...] Principia no Ponte Alta sobre o Rio Aracahú, segue pelo caminho geral até chegar
no Tanque de Dona Joaquina Alves, e por este acima até um aterradinho, e deste sobe em rumo direito pelo lado esquerdo até uma palmeira que
existe dentro de um capão de mato onde divide com terrenos de Claudino Ezequiel e daí sobe a direita até o caminho e segue por este acima
dividindo com terras de Dona Escolástica Bebiano de Castro, até a Encruzilhada do Machado, próximo a um pau de Gunhuvira, e segue a direita
dividindo com terras de Benedito Xavier da Silva, contínua subindo até a cabeceira junto a vertente do Córrego da Raposa, dividindo com terras de
Dona Paula Maria de Jesus, e descendo córrego abaixo, divide com terras de Dona Antônia Lourenço até encontrar o Rio Aracahú, e desce por este 751
rio até a Ponte Alta.” Folha 17 do Processo Administrativo n° 2675/91.
III Congresso Nacional para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural – São Paulo/SP – 09 a 12 de nov. 2021
detalhes naturais como o Córrego da Raposa, e citado nomes de proprietários e
proprietárias de terras como o caso de Dona Paula Maria de Jesus, Dona Antônia
Lourenço, Dona Escolástica Bebiano de Castro, e o senhor Benedito Xavier da Silva.
Este último, foi homenageado com uma rua em Ponte Alta.
Em meados das décadas de 1980 e 1990 se iniciava uma organização popular para lutar
por direitos sociais como saúde, educação, transporte, moradia, água encanada, esgoto,
asfalto. OLIVEIRA et al. (2010) conta que, cinco bairros da região do Bonsucesso
podem ser considerados como os núcleos básicos das lutas sociais, e o Ponte Alta é um
deles. Podemos considerar que, tais lutas e engajamento da comunidade nessa época
resultaram em grandes conquistas e, eventualmente elas se tornaram com o passar dos
anos, um símbolo e um elo entre o passado e o presente. A Escola Estadual Antonio
Rosas da Silva Galvão é um grande exemplo disso, pois desde a chegada dos moradores
ao futuro loteamento, educação sempre foi uma prioridade. Com a chegada da Escola
Estadual Antonio Rosas da Silva Galvão em 1991, os moradores acabaram por não
depender mais de caminhar pela Estrada de Itaberaba até chegar à Escola Estadual
Estevam Dias Tavares no Bonsucesso para ter acesso à educação digna. Já atravessando
os anos 2000, o Ponte Alta continuou o seu rápido processo de crescimento. Vias
importantes começaram a mostrar uma rápida evolução tanto econômica como
populacional, como é o caso da Avenida José Rangel Filho que passou de uma via
modesta nos anos de 1980, a principal via de comércio da região, considerada o
“centro” do Ponte Alta. Em meio a todo esse crescimento que a comunidade vem
passando, seus patrimônios ainda permanecem de pé. Neles, estão pequenos
fragmentos, do que foi, de um pequeno loteamento, a um dos maiores bairros da cidade
de Guarulhos.
III Congresso Nacional para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural – São Paulo/SP – 09 a 12 de nov. 2021
pelo mundo. Hoje, vivemos em uma sociedade que preza pouco pelo patrimônio
construído, natural e imaterial. Porém, muitas das vezes tal comportamento ocorre ora
por falta de engajamento, ora por falta de organização e até interesse por parte da
população. PLENS e FRANCISCO (2016) argumentam que embora na teoria haja
preocupações com a conservação, manutenção e preservação de patrimônios, na prática
a história é outra. [...] “a proteção efetiva dos bens culturais assim como envolvimento
da sociedade do seu patrimônio, não aconteça de maneira concreta, levando ao
crescimento dos debates e críticas [...]” (p. XII) e assim vai persistindo um ambiente
menos efetivo e harmonioso dentro da preservação dos patrimônios pelas comunidades
locais.
754
III Congresso Nacional para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural – São Paulo/SP – 09 a 12 de nov. 2021
2 ,
Capela São Geraldo: Fundada aproximadamente em 1985 é considerada a igreja
mais antiga do bairro. De arquitetura simples e modesta, esta igreja é frequentada pela
comunidade católica do Ponte Alta há mais de três décadas. Alguns moradores que
construíram suas vidas na comunidade foram batizados e alguns até casaram nesta
capela. Desde a sua existência, o bairro passa por um fenômeno de aumento de templos
católicos, sendo considerado por alguns, um dos bairros mais religiosos de Guarulhos3
Abaixo, uma imagem da fachada da capela vista da Rua Sebastião Vieira:
2 Foi consenso da maioria dos moradores que a data de fundação mais próxima da Capela São Geraldo é do ano de 1985. Entretanto, faltam
evidências para que a data seja realmente reconhecida como da fundação da capela. Dos fotoíndices de 1989 do acervo do Instituto Geográfico e
Cartográfico do Estado de São Paulo (IGC SP), por exemplo, não é possível identificar construções que possam indicar que a capela estava
construída nesse período.
3 Com relação a este fenômeno, apesar de não descrito inicialmente, é muito perceptível os números de templos católicos, e em especial os 755
evangélicos no Ponte Alta.
III Congresso Nacional para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural – São Paulo/SP – 09 a 12 de nov. 2021
Escola Estadual Antonio Rosas da Silva Galvão: Antigamente denominada “Ponte
Alta I” e conhecida pelos moradores como “barracão”, foi fundada em 1991. É a escola
mais antiga do bairro. De todas as quatros escolas estaduais localizadas na região, foi a
última a ser construída em alvenaria. Essa escola guarda uma particularidade em relação
ao seu atual nome: Antonio Rosas da Silva Galvão, que foi diretor e professor da escola,
foi homenageado ainda em vida com o nome na escola. O curioso é que fato semelhante
ocorreu em meados de 1910 com o então Prefeito da cidade de Guarulhos na época,
Gabriel Alves Pires, que em vida, foi homenageado com uma rua no centro de
Guarulhos.
Antiga Casa dos Italianos (Destruída): Conhecida pelos moradores como a “casa do
4
casal de italianos ”, era uma pequena casa localizada entre as esquinas das Ruas
Sebastião Vieira, Avenida José Rangel Filho e Mário Luiz Macca. A residência ficou
abandonada por um longo período e veio a ser totalmente destruída no ano de 2020. A
casa era conhecida por parte dos moradores como mal assombrada e perigosa. Um dos
motivos inclusive da destruição das ruínas da casa, foi devido a casos de estupro
ocorridos no local e consumo de drogas recorrente. No mapa da EMPLASA de 1978, há
uma pequena sinalização no mesmo local onde existia a casa, podendo indicar que se
tratava de uma das casas mais antigas do bairro que ainda estavam de pé. Atualmente o
local abrigará uma futura praça chamada Praça Manoel Oliveira da Hora. Abaixo uma
foto do local onde se localizava a antiga casa dos italianos. A fotografia foi tirada a
partir da Rua Sebastião Vieira
756 4 Acredita-se que o casal em questão seria o Senhor Luiz Zanotti e a senhora Maria Bertollatti. Ambos imigrantes italianos nas cidades de Pádua e
Veneza.
III Congresso Nacional para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural – São Paulo/SP – 09 a 12 de nov. 2021
Figura 3: Praça Manoel Oliveira da Hora no Ponte Alta
III Congresso Nacional para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural – São Paulo/SP – 09 a 12 de nov. 2021
grafia do nome consta como GUARACAHÚ. Abaixo, o Mapa de 1932 da cidade de
Guarulhos, considerado o mais antigo da cidade. Em amarelo está circulada a área que
corresponde ao atual bairro Ponte Alta.
Figura 4: Mapa da Cidade de Guarulhos de 1932 modificado pelo Geógrafo Willian de Queiroz
III Congresso Nacional para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural – São Paulo/SP – 09 a 12 de nov. 2021
pandemia de COVID-19, muitos encontraram na natureza ao ar livre, formas de realizar
exercícios físicos, passar o dia em campo aberto seguindo também os protocolos de
segurança. Essa relação nova ajuda a preservar, e compreender esse processo de
descoberta e conhecimento dos moradores com o patrimônio natural do bairro. Essa
ligação se faz necessária também para ajudar na preservação desse bioma importante
para o bairro e para a cidade de Guarulhos no geral.
III Congresso Nacional para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural – São Paulo/SP – 09 a 12 de nov. 2021
na sociedade vem desempenhando um papel significativo nas decisões por exemplo, de
tombamento de patrimônios por partes de órgãos de preservação:
No Ponte Alta, algumas ações para preservação dos patrimônios e aproximação dos
moradores com sua história podem ser realizadas através das escolas municipais e
estaduais da região. Iniciativas por parte da coordenação, ou do corpo docente dessas
instituições de ensino para incentivo do conhecimento da cultura e história do bairro
podem ajudar principalmente os mais jovens que justamente são os que mais
desconhecem a história do Ponte Alta. Hoje o bairro dispõe de sete escolas, e não há
nenhuma ação de formação dos professores para o ensino da cultura local. Então como
isso pode ser feito?
III Congresso Nacional para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural – São Paulo/SP – 09 a 12 de nov. 2021
auxílio e na organização dos moradores locais com os professores das escolas, além de
contistas guarulhenses e até pesquisadores locais. Rodas de conversa, seminários, ou
reuniões online seriam formas de encontro para troca de conhecimento desses
moradores com os professores. É interessante que, alguns professores até conhecem um
pouco a respeito da história do bairro, justamente aqueles que lecionam a mais tempo
nas escolas do bairro, mas devido até mesmo a falta de interesse e organização por parte
das escolas da região acabam por não ocorrer essa troca de conhecimento que o
professor tem do bairro com os alunos.
6. Conclusão
Ainda que ações de preservação do patrimônio e da memória e identidade do bairro
estejam muito prematuras e inexistentes, isso não significa que ações ainda não podem
ser tomadas para que esse cenário mude futuramente. O inventário dos patrimônios
materiais e naturais por exemplo, é uma das formas de se manter viva a história do
bairro Ponte Alta, e pode vim como uma das ações de longo prazo para que a
preservação desses locais sejam em parte, garantidas. O redescobrimento desses
patrimônios culturais material e natural ajudam a compreender em parte o processo
histórico ocorrido na comunidade. A preservação tanto do físico, como da memória dos
moradores que ajudaram a construir o local, são importantes para que a cultura de uma
localidade se mantenha viva, e gerações e mais gerações possam conhecer e cuidar do
bem maior de um povo, que é a sua cultura, sua memória e identidade.
761
5 Endereço do Blog: https://petersonmendespaulino.medium.com/
III Congresso Nacional para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural – São Paulo/SP – 09 a 12 de nov. 2021
Estudos futuros e mais técnicos sobre os patrimônios como a Capela São Geraldo e a
Escola Estadual Antônio Rosas da Silva Galvão podem ajudar no conhecimento e
reconhecimento de ambos, bem como na sua preservação, e eventualmente ocasionar
em ações de órgãos de preservação para tombamento desses edifícios do bairro.
Aprofundamento de ações por parte das escolas municipais e estaduais junto com
moradores antigos e que conheçam a história do bairro também poder ser muito bem
vindas. O blog por exemplo tem sido uma boa ferramenta de contribuição para
divulgação e registro das conquistas e fatos históricos da comunidade, mas melhorias
ainda precisam ser feitas e mais ações de preservação serem tomadas.
REFERÊNCIAS
AAPAH, Associação Amigos do Patrimônio e Arquivo Histórico. Guarulhos, 8 de outubro de
2021. Disponível em <https://aapah.org.br/nossa-historia/> Acesso em: 8 de out. de 2021.
IDESP. Infraestrutura de Dados Espaciais do Estado de São Paulo. São Paulo, 11 de agosto
de 2021. Disponível em:< http://www.idesp.sp.gov.br/>. Acesso em: 30 de jul. de 2021
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III Congresso Nacional para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural – São Paulo/SP – 09 a 12 de nov. 2021
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