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PEDAGÓGICO
FICHA DE TRABALHO Nº 13 – PORTUGUÊS 11 ºANO
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APRECIAÇÃO CRÍTICA

Facada sublime
Discos Pop
Divine Comedy
Foreverland
DC Records


Um disco assombrado por uma canção de génio que abafa tudo.
João Bonifácio

Não se escolhe um futebolista por um vídeo com fintas no YouTube, não se acaba uma relação à
conta da sms errada. Mas como ultrapassar isto? Isto, esta facada sublime, este dedinho masoquista a titilar a
ferida, isto, estes 5 minutos e 16 segundos que To the rescue, a sexta canção de Foreverland, o mais recente
álbum dos Divine Comedy, demora a dar cabo de todo o coração que se lhe atravesse no caminho. Como
explicar isto? São só palavras, caramba, mas que palavras: lidas com calma, revelam uma das mais
ponderadas reflexões sobre a coisa amorosa alguma vez posta em canção; enleadas nesta voluta de cordas
com os metais em fundo, são mais que isso, tornam-se arrebatador hino à fé no amor, sem abdicar da
maturidade e da contenção. Como ultrapassar isto? É um milagre por canção: não é a melodia, não são os
arranjos, não são as palavras, é a absurda elegância com que o pragmatismo se vai despindo até restar apenas
a fé no amor; é a precisão com que cada arranjo sublinha a melodia.
Desde o break de bateria que abre a canção que sabemos que não temos chances, vamos ser
arrastados para este pequeno mundo em que o amor é tantas traições, tantas desilusões, tantos recomeços,
tantas tentativas. E nada aqui condescende – o que aquele break de bateria nos diz é que a vida não para,
estamos já em andamento e a guitarrinha entra em contratempo ao cravo, um assomo de metais e estamos no
refrão pasmados com as cordas a subir e a recuar e a subir de novo, porque não haveria beleza em subir se às
vezes não se descesse, até que atingimos o ponto monumental da canção: “But I’ll march behind
you/Wherever you may go/And I’m more proud of you/Than you can ever know”. Depois da sucessão de
espalhos no cimento, este assomo romântico é a estocada de florete, a queda no colchão da cama. To the
rescue (toda tristeza, toda perda, toda esperança) quase abafa um disco escrito sob influência de Gainsbourg,
elegante, clássico, perfumado, que segue a tradição da torch song – um disco de arranjos extraordinários, seja
na combinação de sinos, palmas, banjo e cordas da Gainsbourgeana Napoleon Complex ou nas cordas
monumentais de Catherine the Great. E é injusto para as restantes canções que To the rescue seja tão
extraordinária, porque o acordeão que passeia por The pact merece atenção, os coros de I joined the Foreign
Legion (to forget) devem ser elogiados e, caramba, não há muitos discos que abarquem tantos géneros, que
usem tamanha instrumentação e nunca percam o bom gosto.

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Perdoem isto: queria descrever cada uma das cantigas mas não consigo, não me apetece, já não
tenho idade para tretas: Foreverland é um belo disco mas To the rescue é extraordinária e estou a pensar em
separar-me só para gostar ainda mais dela. É como se no sistema que Foreverland compõe as restantes
cantigas fossem pequenos planetas em torno do Sol que é To the rescue. Numa simples metáfora, se
Foreverland fosse o Barcelona, To the rescue era o Messi. Vai para o cânone, mas mais importante que isso:
nunca mais sai dos nossos corações.

Ípsilon, sexta-feira, 7 de outubro de 2016

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