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E
O violoncelo, um cordofone que peÊence à família do violi-
no, apareceu na ttália durante o século xVI. De som pene-
E

í
trante e insinuante, as suas características formais e sonoras Ê

foram se adaptando tanto às necessidades do repeÊório, I


pouco abundante no início, como às dos instrumentistas. §

Durante os séculos xVil e xvll, um número considerável de t


virtuosos italianos tornou conhecido o violoncelo nas cortes §

e nos teatros de ópera do resto da Europa, difundindo com §


a sua arte as inúmeras possibilidades expressivas do instru- ã

mento. Durante o período barroco, o violoncelo afirmou-se


nos agrupamentos de música de câmara e passou a sei
§

í
de forma regulaç objeto de atenção por parte dos compo- §

sitores. Como consequência da sua Ienta implantação nos I


circuitos musicais eruditos, o século xvul foi uma época de ã

mudanças para este instrumento, e não apenas nos seus


aspectos formais, mas também quanto à interpretação.
A progressiva estilizaçáo do corpo do instrumento, bem
como a substituiçáo das cordas tradicionais por outras mais
resistentes, as melhorias introduzidas no arco e âs novas
técnicas que os intérpretes colocavam em prática culmina-
ram, durante o romantismo, no que se poderia chamar a sua
"emancipação" musical. Com efeito, durante o século xlx o
violoncelo começou a ser apreciado realmente como instru-
mento solista, um reconhecimento de que goza ainda hoje.
O violoncelo I História

D00 nce
A força das cordas
Primo do violino, o violoncelo, Chamar as coisas
cordofone cujo som também se pelo nome
obtém pelo contato das cordas Apesar de o violoncelo ter adquiri-
com um arco, apareceu na Itália do uma forma reconhecível como
durante o século xvt. Não se sabe tal a partir do século xvt, o seu no-
quem foi o seu inventor nem me só foi adotado um século mais
quem construiu o primeiro exem- tarde. A princípio, o violoncelo era
plar. Mas, apesar destas lacunas, designado com o nome dado por
pode-se afirmar que o violoncelo Ludovico Zacconi errl 1592: basso
nasceu como membro baixo da di viola da braccio, que indicava que
família dos violinos e, por isso, era o baixo da família dos violinos
posteriormente ao instrumento e não das violas, embora estas, tal
do qual derivou o seu nome. como o violoncelo, fossem tocadas
Certamente, e visto que o violino apoiadas no chão entre as pernas.
O violoncelo rísticas que ainda
moderno conserva. Acima, surgiu no início do século xvl, no Michael Praetorius retomou a
No século xvrrr, o um exemplar do mesmo século que o violoncelo, denominação deZacconi e referiu-
violoncelo modifi- ano 1744 fabricado
cou o aspecto e em Barcelona por os músicos logo devem ter sentido se ao violoncelo em 1618 como
adotou as caracte- Salvador Bofill. a necessidade de desenvolver um bass geig da braccio (Praetorius
registo mais grave e cheio. Assim, referia-se a um modelo de cinco
o aparecimento do violoncelo foi cordas).
mais o resultado de um imperativo Pouco depois, em meados do
musical do que a simples evolução século xvtt, Athanasius Kircher
formal de modelos precedentes. chamou-o de forma indistinta

w
L
Uma renomenação violino. Ao lado,
cônstante
Entre o seu apare-
uma imagem bucó-
lica de um grupo
E3 @
cimento no século de músicos numa
xvreoséculoxvtrt, pintura anônima
o violoncelo adotou do século xvt, na
diversos nomes. qual se destaca um <a
ti
A princípio era
conhecido como
violoncelo primitivo.
A direita, uma pági- * C
-
basso di viola da na da Misurgia + * (
braccio. Mais universalis, de
I
(
\6----,T,f-ror
tarde, Athanasius
Kircher nomeou-lhe
Athanasius Kirche[
que mostrâ a fisio- ,*t
c'í
)

violone e chelys logia do ouvido hu- *T \


maior, distinguindo- mano e de outros b
{ d
o claramênte do animais.

74
TECN ICA I NTERPRETATIVI\

fl
I Durante os séculos xvt e xvn o violoncelista podia tocar sentado com o violon-
I celo entre as pernas, de É com o instrumento reclinado contra o corpo, com o .3=l§
violoncelo colocado sobre um escabelo ou até numa posição totalmente hori-
zontal. Ao longo do século xvrr, sobretudo no Norte de ltália, este instrumento
participou das procissÕes religiosas. Nesses casos, os violoncelistas faziam um .1-::--::=

orifício na paÊe posterior do instrumento pelo qual passavam uma correia que t-

penduravam no pescoço. Finalmente, no início do século xvrrr estabeleceu-se a

violone e chelys maior, distinguindo- Os primeiros violoncelos: na


o do violino, conhecido como variedade é que está o gosto
chelys minor. Na Irança era conheci- Deixando de lado a nomenclatura,
do como basse de violon, enguanto a primeira descrição do violoncelo
na Inglaterra subsistiu o nome de aparece no tratado Musica Instru-
violino baixo durante grande parte mentalis Deutsch (1,528), do teórico
do século xvll. Na Itália eram alemão Martin Agricola. Tratava-se
frequentes outros termos, como neste caso de um instrumento de
bassetto, bassetto di mano ou basso três cordas afinadas em fá, dó e sol,

Basso di viola da braccio, o nome que receberam os primeiros


violoncelos, indicava que era o baixo dos violinos e não das violas.
di violino. Neste país, o vocábulo às quais mais tarde se acrescentou
violoncelo apareceu pela primeira o si bemol. Em 1.532, Hans Gerle
vez nas doze Sonate a due, a tre referiu-se à afinação atual (dó, sol,
de Giulio Cesare Arresti, de 1,665. ré,1á) na sua Alusica Teutsch. Quase
um século depois, a segunda parte
do Syntagma musicum de Michael
No século xvil, a Praetorius descrevia tanto a afina-
segunda parte do ção modema como outra com
Syntagma musicum uma quarta superior (fá, dó, sol,
de Michael Praeto-
rius descrevia um ré), bem como um instrumento de
instrumento de cin- cinco cordas quase tão grave como
co cordas que era
quase táo grave a o contrabaixo moderno. Provavel-
como o contrabaixo r mente, este último protótipo devia
moderno, possivel-
mente semelhante ser demasiado grande para ser to-
ao que aparece cado entre os joelhos.
neste quadro à
direita de Pieter A afinação moderna, mais aguda,
Claesz intitulado parece ter sido habitual na Itália
Naturezas-mortas até o início do século xvlt, enquan-
com instrumentos
musicais (1623).
\ to a mais grave foi própria do

75
CORDAS OU PERCUSSÃO?
p€-ãffion
Apesar de o violoncelo náo ser um §

instrumento que tenha dado lugar {


a varaantes, existe um instrumento ê

semelhante na música popular I


dos países do Leste da Europa: o ã

gardonou ütõgardon Utitizado pe- $

los ciganos da Romênia e da Hun- i


gria, costuÍnava ser fabricado a É

t pr*i. de um único bloco de ma-


I ! aeira. Atualmente, o seu corpo é
§ parecido com o do violoncelo, em-
§ uora com formas um pouco mais violino baixo inglês e do basse violon francês, que a man-
§ retas, aberturas menos pronuncia- tiveram até ao início do século XVIu.
E Oas e aparência um tanto tosca. Embora o acolhimento do violoncelo no seu país natal,
i O c.arelhame está dispsto de a Itália, possa considerar-se positivo, alguns estudiosos
§ forma contínua sobre o braço e discordam desta afirmação argumentando que a sua in-
E estende-se quase até ao início do corporação nos grupos de câmara foi lenta. Por muitas
§ corpo. Têm três ou quatro cordas, vezes "apagar" o som do violino, numerosos grupos eram
§ ae acorOo com o modelo, todas contra a sua integração nos mesmos.
i elas afinadas em ré. O executan-
ê

I te, que pode tocar de pé ou sen-


I tado, golpeia duas das cordas O violoncelo é semelhante ao violino e à viola: todos eles
T

I com um pau de madeira ou um ar- possuem uma afinação em quintas. No entanto, como o
§ co sem cerdas e dedilha a tercei- seu tamanho era maior não se podia aplicar a digitação
I ra. Oe fato, pelo som resultante e própria destes dois instrumentos. De fato, este foi um
í p"lo proprio método de execução, dos principais inconvenientes que apresentava, visto que
o gardan não era utilizado para re- | a interpretação de passagens rápidas tornava-se uma
produzir melodias, mas sim conce- I autêntica proeza. Por volta de 1,660 começaram em Bolo-
fl bido como um instrumento de per- nha as primeiras experiências para criar um violoncelo com
I cussáo. tem
Originário dos Cárpatos, o
sido recuperado por
dimensões mais reduzidas. Talvez essa evolução na for-
§ Eardon ma tenha sido um dos elementos gue contribuíram para
I inúmeros grupos musicais dos paí- a plena aceitação do instrumento durante a segunda
ses do Leste da
t formaçao húngaraEuropa, como a metade do século XVII, momento a partir do qual os
I semble, que aparece The Tâtros En- compositores começaram a apostar regularmente nele.
§ nesta ima- Um dos primeiros a dedicarlhe atenção foi o bolonhês
gem com um gardon O obietivo Domenico Gabrielli, o "Menghino dal vioioncello", que
desses grupos é recolher e pre- em 1.684 publicou os seus Balletti, Cighe, Correnti, Saraban-
servar o legado musical das clas- de, A due violini e Violoncello com basso continuo e, dois anos
ses populares autóctonês. mais tarde, os Ricercare yer violoncello solo.
A partir da Itália, o violoncelo viajou para França e Ingla-
* !.- \ ,
terra, onde gaúou lugar tanto na corte como na ópera
:.E l e nos circuitos restantes de música erudita. Os monarcas,
como Carlos tx da França, encomendavam instrumentos
- aos violeiros italianos. Entre os séculos xvfl e xvtll, os
violoncelistas ganharam o relevo dos músicos de viola
de gamba. Este instrumento era pouco apropriado para
os concertos públicos, que precisavam de palcos maiores
e, por isso, de instrumentos de maior sonoridade.
d.i'
\
O violoncelo I História
Bach e a surte solo (1720), de de gamba. À medida que o século
de vieloncelo Johann Sebastian avançava, o arco foi-se curvando
No início do século Bach. Na página No século xvrrr
xvil foram fixadas anterior aparece, foram construídos e o intérprete foi ganhando contro-
aformaeotama- à êsquêrda, um violoncelos com ca- le sobre ele. Na década de 1780, o
nho do violoncelo. dos retratos mais racterísticas seme-
Foi entáo que se famosos de Bach, lhantes aos atuais. violeiro francês François Tourte
escreveram as pri- pintado por Elias Abaixo pode"se ob- introduziu um arco côncavo
meiras obras impor- Gottlob Haussmann servar um exemplar
tantes consagradas em 1746, e, à direi- construído por de pau-brasil e fixou o seu
a este instrumento, ta, a primeira pági- Nicolaus Duclos, comprimento em 72 cm.
como as Seis suí- na manuscrita das discípulo de Stradi- Além disso, o aumento do
tes para violoncelo Sels suífes. varius, em 1760.
número de cerdas e a maior resis-
tência da vareta tinham como re-
sultado uma sonoridade mais
cheia. Outras das mudanças
na forma que ocorreram
Quanto à Alemanha, no início ao que se coúece hoje. durante o século xvIII re-
do século xvttt existia já uma certa Por outro lado, até a dé- sultaram no prolonga-
tradição, mas foram sem dúvida cada de 1720, período mento e estilização da
os músicos italianos que mais favo- em que se começou a voluta e da escala, na
receram a difusão do violoncelo. impor a posição modema elevação do cavalete e
Como era, porém, o violoncelo ca- da mão esquerda, os intér- na introdução de cordas
racterístico da épocaÇ O instrumen- pretes não se apercebe- mais finas e compactas,
to a que nos referimos apresentou ram do potencial do po- de maior tensão. A par-
uma grande variedade de formas legar esquerdo para tir deste momento, a
desde o seu aparecimento até o agir como barra que se estrutura física e so-
final do século xvti. Não obstante, podia colocar sobre as nora do instrumento
as representações iconográficas cordas e que permitia manteve-se com pou-
permitem adivinhar características obter uma sonoridade cas variações até os
comuns em todos estes modelos: mais profunda. Todas nossos dias.

Um dos primeiros exemplares de violoncelo conhecidos é o que


Andrea Amati construiu em 1572 a pedido do papa Pio V.
o braço era largo e mais curto do essas mudanças coincidem com A emancipaçáo
que atualmente, enquanto a barriga as primeiras composições para vio- do violoncelo
era mais larga e o cavalete mais loncelo que excluíam outros instru- Os primeiros anos do século xx
baixo, o que no conjunto lhe dava mentos. Neste sentido, as Seis foram marcados pela confluência
um aspecto pouco elegante. suites Vara violoncelo a solo (1720) das modalidades de interpretação
de Johann Sebastian Bach não do violoncelo. Antes do tratado de
O violoncelo representam apenas a primeira Jean-Louis Duport intitulado Ensaio
renova sua imagem obra conhecida destinada ao instru- sobre a digttação do violoncelo e sobre
Por volta de 171.0, o tamanho do mento como solista, constituindo a ?assagem do arco (c. 1813), não
corpo do instrumento foi fixado também uma contribuição para o existia outro método de aprendiza-
em75 cm e foram abandonados os repertório por parte de alguém que gem e as diferenças entre escolas
modelos com mais de 78 cm. Essa não era propriamente violoncelista. eram consideráveis.
inovação, que historicamente se A técnica do arco também evoluiu A evolução formal do violoncelo
atribui a Antonio Stradivari, deu-se ao longo do século xt'ttl, paralela- durante o Romantismo não foi de-
simultaneamente ao estreitamento mente à digitação. Os testemunhos masiado significativa. Uma das
dos ombros e da barriga, com o gráficos anteriores mostram que o mudanças que sofreu tinha a ver
que se obteve um violoncelo muito arco era segurado com a palma da com a posição adotada para tocar:
mais harmonioso, semelhante mão para cima, como o da viola a partir desse momento já não se

77
O violoncelo I História
prendia entre os joelhos, passando o registo mais agudo, ou os dois
a apoiar-se sobre um espigão me- Sextetos de Brahms constituem
Nos últimos anos,
e graças à grande evo- tálico que assentava no chão. Na exemplos claros dessas duas fun-
luçáo da informática, mesma época, o arco tiúa adquiri- ções básicas. Tâmbém se destacam,
foram desenvolvidos
modelos de violoncelo do já o perfil côncavo desenvolvido quanto ao repertório orquestral do
elétrico, os chamados nos finais do século xvttt e era mais século xIX, a abertura de Guilherme
silent cello, que gra-
curto e grosso do que o do violino Tell, de Rossini, a de Russlan e Lud-
ças a um chrp permi-
tem recriar de um ou o da viola. Uma das consequên- milla de Glinka, ou o "Ofertório"
modo virtual toda do Requiem de Verdi.
cias lógicas e imediatas desta evo-
a riqueza do timbre e
tom do violoncelo acús- lução toi o papel progressivo que
tico.Éocasodesses o violoncelo adquiriu como solista. O violoncelo
dois modelos fabrica-
dos pela Yamaha. Formações como os quartetos de contemporâneo
cordas permitiram que o violoncelo Durante o século xx proliferaram
adquirisse um lugar de importância as obras escritas para violoncelo.
crescente. O instrumento tam- Entre elas destacam-se os concertos
bém se estabeleceu na orquestra de Edward Elgar (L9t9) e Dmitri
sinfônica, embora não fosse fre- Chostakovitch (1959 e 1.96Q, bem
quente os compositores tirarem como os dos polacos Krzystof Pen-
partido da sua capacidade co- derecki e Witold Lutoslawski. Zol-
mo solista. Todavia, existem al- tán KodáIy escreveu uma Sonata
gumas exceções, como a Sinfo- para violoncelo e Viano'Oy. 4 em
nia no 4 3 (1763) e a Sinfonia n" Çf 1.910, quatro anos antes do Drei
(1791), ambas de Haydn, ou a ária Stücbe de Anton von Webem.
"Batti, Batti" da ópera Don Ciovan- Em 1930 e 1944 Heitor Villa-Lobos
ni, de Mozart. O violoncelo desem- compôs as Bachianas brasileiras, par-
penhava, portanto, duas funções tes das quais são escritas para oito
de acordo com o contexto em que ou mais violoncelos. Na segunda
era empregado. Por um lado, podia metade do século >o< destacaram-se
exercer a função tradicional de as composições de Benjamim Brit-
manter a linha do baixo na música ten(Sinfonia Vara violoncelo, de 1.963)
orquestral e na de câmara e, por ou Mauricio Kagel, em cuja peculiar
outro, conferia a sua capacidade obra Match (L964), para percussão
melódica, queiá começava a des- e dois violoncelos, os dois solistas
pontar e que foi adotada pelos se vestem como se fossem tenistas
compositores do Romantismo. e tocam à frente um do outro.
O Quinteto de cordas com dois violon- Além das composições contempo-
celos, de Schubert,no qual o segun- râneas, a partir do século >o< surgiu
do mantém o baixo do conjunto um interesse pela redescoberta do
enquanto o primeiro se eleva até repertóÍio dos séculos xut e xuII.

importante ao vio-
loncelo na abertura
De Bach, Haydn de Russlan e Lud-
ou Mozart até os milla. À direita,
nossos dias, muitos Dmitri Chostako-
r
compositores es-
creveram música
para violoncelo.
Ao lado, à esquer-
vitch (1906-I975),
um dos expoentes
máximos da música
russa do século xx,
En'É)
I
r
da, o russo Mihail numa fotografia
Glinka (18O4-1857), tirada em 1966. \ - ê
considerado o pai Chostakovitch deu
da escola naciona- relevo ao violoncelo
lista russa, que nos seus concertos
conferiu um papel de 1959 e 1966. \

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Os trabalhos que irã,o conücionar o sorn do instrurnento
O trabalho de construção de um violoncelo Também a fabricação da barra harmônica,
começa pelo tampo, euê é construído com de abeto, implica um processo artesanal mui-
duas peças de madeira, modeladas com goi- to complexo, visto que essa pêÇâ, chave pa-
vas e formóes, que sáo depois coladas. O lu- ra o som final do violoncelo, deve ajustar-se
thier ufiliza a goiva para dar à madeira a cur- à curvatura do tampo ou mesmo superá-la,
vatura precisa. Este procedimento, o trabalho para fomentar a tensão desta.
das abóbadas, decidirá, em grande parte, as Uma vez construído o corpo do instrumento,
características sonoras do violoncelo. Feito is- depois de colar tampo, fundo e ilhargas, é o
to, incrustam-se os filetes, que cumprem ao momento de talhar o braço (em geral de ma-
mesmo tempo uma funçáo decorativa e pro- deira de ácer) e a voluta e, posteriormente,
tetora, já que evitam que as eventuais fissu- limar a base da escala, de ébano, para que
ras se propaguem pelo tampo ou pelo fundo. ajuste à caixa.
Em seguida, através da aplicaçáo de calor e Um dos últimos passos consiste em polir a
servindo-se de um molde, o artesáo dá forma madeira e aplicar-lhe o verniz, que pode ad-
às ilhargas, reforçadas no interior por ripas quirir matizes muito diversos de acordo com
(modeladas à quente), gue nos instrumentos o gosto do luthier e, sobretudo, segundo as
de qualidade encaixam nos ângulos. características sonoras que se quer obter.
Construído iá o tampo harmônico, procede-se Finalmente, falta apenas fixar as cravelhas
à abertura dos Fs. A acústica do instrumento (de ébano, jacarandá ou buxo) no cravelha-
deve-se, em parte, à simetria desses ouvidos, me, perfurado com uma verruma, colocar o
cuja forma ficou tipificada durante os primei- cavalete (de ácer) e inserir a alma, a peça ci-
ros tempos da arte de construção de violinos líndrica de abeto que transmite as vibrações
na ltália. do tampo harmônico ao fundo, através do F.
O violoncelo I Partes do instrumento

0s se a
s O cavalete é uma
peça de madeira colo-
cada sobre o tampo
harmônico, sobre a

celo
qual repousam as cor-
das. Sob o pé direito
do cavalete encontra-
sê a barra harmônica,
uma peça de madeira
que ajuda o corpo do
O violoncelo, ao contrário do que acontece, instrumento a suportar
a tensáo a que é
por exemplo, com o contrabaixo, possui uma submetido.
caixa de ressonância com ombros altos, :, .: i,
formada pelo tampo harmônico, pelo fundo O arco do violoncelo, ao con-
trário do que se possa pensaf
e pelas ilhargas, tendo uma cintura bastante é menor do que o do violino e
pronunciada. Na altura desta situam-se, no o da viola. Até à segunda me-
tampo, os Fs ou orifícios de ressonância pró- tade do século xvil os arcos
eram retos ou convexos.
prios da família do violino. A caixa é, em rela- Na década de I 78O, François
TouÊe introduziu um arco
çáo à do violino e à da viola, maior e mais de vareta côncava cujo
profunda, o que permite a obtenção de sons comprimento foi fixado
mais graves e cheios. A escala, que pela em 72 cm (as cerdas
deviam estar entre 60
parte inferior acaba na altura da ponta e 62 cm).
angular superior da cintura, termina no seu Cintura
extremo superior no cravelhame que, remata-
do com uma voluta (durante os séculos xvrr
e xvnr era frequente ganhar a forma de uma
cabeça de madeira talhada), acolhe as quatro F

cordas, enroscadas nas cravelhas. As cordas


são atadas, na parte inferio6 ao estandarte,
uma peça que chega até a pestana inferior

EsDrgea
O espigáo é uma peça metálica
que separa o instrumento do
cháo. Trata-se de um FÉ ajustávêl
que pode encolher-se quando o
violoncelo náo é utilizado. Quanto
mais comprido for o espigáo,
menos veÊical é a posiçáo e,
portanto, a mâo esquerda tem
mais liberdade de movimento.

-a

80
Cravelhame
a: rr€r,:1aÊ
As cravelhas, situadas no
cravelhame, sáo utilizadas
par a af inaÍ corretamente
as cordas, embora para uma
afinação ótima se recorra
muitas vezes a pequenos
Escala parafusos situados no
estandarte, mais precisos,
As cravelhas estáo dispos-
tas de forma perpendicular
à escala.

Voluta

Ombro
Características técnicas da caixa, com vários tacos angu-
o O violoncelo é um instrumento lares de madeira.
de cordas que pertence à famflia o O som é obtido geralmente fric-
do violino, dentro da qual exerce cionando-se as cordas com um
a função de baixo. arco que se pode deslizar tanto
. Apresenta, tal como os outros para a esquerda como para a
componentes da sua família, direita, embora às vezes também
harmônico
forma de pera. No total, o seu possam ser dedilhadas.
comprimento é de pouco mais o A escala do violoncelo não pos-
de 1.,20 m. A caixa de ressonância sui trastes, é lisa. O executante
era inicialmente um pouco maioç pressiona as cordas com a mão
embora já no século xvttt a sua esquerda para obter a nota de-
medida tenha se fixado em cerca sejada, enquanto movimenta o
de75 cm. arco com a outra mão para que
. Tâl como o violino e a viola, o as cordas vibrem e produzam
violoncelo possui quatro cordas o som.
que se afinam por quintas: dó, o O violoncelo possui o registo
llharga
sol, ré e 1á. O som resultante é tímbrico mais amplo de todos os
uma oitava abaixo do da viola. instrumentos de cordas. Assim,
O comprimento das cordas oscila o som pode ser penetrante, quen-
atualmente entre 68 e 69,5 cm. te, profundo ou suave, de acordo
o O seu grande tamanho impede com a intenção do compositor e
que se possa seSurar como um o domínio técnico e a capacidade
violino, de modo que se apoia expressiva do intérprete.
no chão através de um espigão e O violoncelo caracteriza-se por
meúlico de comprimento ajustá- ter uma ampla extensão sonora
vel e prende-se entre as pemas. de quase quatro oitavas.
*á* Estanclarte O intérprete, que toca sentado, o O som do instrumento pode
utiliza o arco com a mão direita. adotar os matizes mais sutis gra-
O estandaÉe é preso na base do
o Possui uma cintura em forma de ças às suas enornes qualidades
instrumento através de duas peças C bastante semelhante à da viola melódicas e à força do seu som.
de uniáo. Se essas peças tocassem
diretamente na madeira poderiam e do violino, embora proporcio- Essa versatilidade permite-lhe
danificá-la. A funçáo da pestana nal ao tamanho (mede entre L 1 integrar-se sem problemas tanto
inferiof colocada entre o corpo do
instrumento e as unióes, evita que
e 1.4 cm) do violoncelo: ambas as em formações reduzidas como
isso aconteça, peças são reforçadas, no interior na orquestra sinfônica.

81
O violoncelo I lntérpretes

u Cosek
e os virtuosos do violoncelo
Os primeiros violoncelistas profis- da implantação do violoncelo na
G sionais começaram a destacar-se no orquestra da Ópera de Paris.
século xvll. Entre eles sobressaiu a Na Alemanha, o correspondente
figura de Giuseppe Jacchini, com- a Cervetto na Inglatera e a Stuck
F- positor e violoncelista da orquestra na França foi Evaristo Felice
da capela de São Petrônio, em dall'Abaco, que difundiu o violon-

Er \\\ tu q!
Boloúa, na qual enüou como subs-
tituto de Domenico Gabrielli. Tam-
bém Petronio Franceschini, discípulo
celo por terras germânicas desde
que, em 1704, se estabeleceu em
Munique. Em Bruxelas nasceu o
NL de Giacomo Antonio Perti, Giovan- seu filho Joseph Clémens, desta-
ni Maria Bononcini e Giovanni Bat- cado violoncelista que ultrapassou
tista Cirri tocaram nessa formação. mesmo a mestria do seu progeni-
tor. Também na Alemanha, con-
A supremacia italiana cretâmente ao serviço do príncipe
[, Durante os séculos xvl e xv[, o Leopoldo de Anhalt-Kôúen, entre
reinado musical dos italianos foi os anos 1730 e 1740 deve-se
indiscuúvel. Desde então, virtuosos situar Christian Ferdinand Abel
como Ciorgio Antoniotti e Ciaco- e Bemhard Christian Linigke, um
\ mo Cervetto difundiram o violon- dos quais poderia ter sido, segundo
celo na Inglaterra. O trabalho de paÍece, o destinaúrio das Seis suites
vicçóes dêsse músi-
difusão que levaram a cabo deu os Vara violoncelo de Bach.
cor que esteve exi- seus frutos: não tardaram a surgir Johann Striemeç Johann Georg
O violoncelista, di- lado durante a
retor de orquestra e Guerra Civil espa-
virtuosos ingleses do violoncelo co- Schet§ ]ohann Kriegck, Anton
compositor catalão nhola devido às mo Bartholomew Johnson, William Fitz e, posteriormente, Bemhard
Pau Casals (1878- suas ideias políti- Paxton e, no final do século xvru, Romberg foram outros nomes que,
1973) foi um dos cas, deu alento a
grandes músicos do uma nova geração John Crosdill, John Gun ou Joseph durante a segunda metade do sécu-
século xx. As con- de violoncelistas. Reinagle. lo xvtit, ficaram ligados para sem-
I Jean-Louis Duport, tratadista do século xx, costuma ser considerado
I pelos especialistas o fundador da escola moderna do violoncelo.

Tâmbém na França foi um italiano pre à história do violoncelo. Na


que empreendeu o trabalho de mesma época sobressaiu o nome
difusão do violoncelo: Giovanni do italiano Antonio Vandini, a
Battista Stuck. Nascido no final quem Ciuseppe trtini destinou
do século xvtl, Stuck é recordado o seuConcerto em Ré maior, bem
como o principal impulsionador como os de Carlo Ferrari, Salvatore

82
O violoncelo I lntérpretes
Lanzetti e Ciovanni Battista Cana- ni foi, além de um brilhante intér-
vazzo, que se instalou na França. prete, um compositor incansável.
Canavazzo, cujo apelido mudou Entre suas obras figuram cerca de
para Canavas depois da sua mu- trinta sonatas para violoncelo e
dança, escreveu Six sonates Vour baixo contínuo, quase cem quarte-
le violoncelle, em 7767 , e, seis anos tos e trios, onze concertos e mais
mais tarde, Sonates your le violoncelle de cento e trinta quintetos com
avec la basse continue. dois violoncelos.
Piene-Philip pe l' Abb é, Jean Barriê-
re, Pierre l'Abée, Martin Berteau
No final do século, Francesco
Alborea introduziu a técnica que I
I
e M. Corrette, todos eles autores utiliza o polegar como pestana,
de diferentes métodos para violon- recurso extremamente útil na exe-
celo, foram outros instrumentistas cução, numa só corda, das notas
que contribuíram para f.azer da agudas. Francischello, nome por 'l
França um dos centros mais rele- que era conhecido o genovês, con- I
vantes para a história do violon- seguiu assim dotar a mão esquerda
celo. De fato, a grande maioria des- de maior mobilidade.
ses músicos exerceram a docência Neste contexto, o virruoso britâ-
e formaram, como é o caso de nico Robert Lindley, cuja técnica
Berteau, discípulos evidentemente e brilhante execução o tomaram
privilegiados, como Jean-Baptiste conhecido em todo o continente,
Aimé ]anson, o seu irmão Louis- atuou no final do século diante do
Auguste, François Cupis (mestre, príncipe regente e, em 1826, tinha
ao mesmo tempo, de ]ean-Baptiste se convertido no primeiro violon-
.i
Bréval e Jean-Henri Levasseur) ou celo da Opera Italiana em Londres.
o próprio Jean-Pierre Duport. Por sua vez, o célebre tratadista
Jean-Louis Duport, considerado
A evolução da interpretaçáo por muitos o fundador da escola
Desde o seu aparecimento, o vio- modema do violoncelo, tocou co-
loncelo foi ganhando progressi- mo violoncelista nas cortes da
vamente mais importância nos Espanha e da Prússia. Esta última
grupos de música de câmara até foi também testemunha do talento
chegar a seç durante o século xvttl, do seu irmão Jean-Pierre, a quem ilrq l 0

uma parte fundamental de qualquer se dirigiam as Sonatas Oy. 5 de N t. {


tr)...,
formação. Dali ao seu reconheci- Beethoven, embora depois as t. t' I (:l
mento como instrumento solista tenha dedicado ao patrão de
foi só um passo, uma pequena Duport, Frederico Guilherme II. Y
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distância que compositores como O intérprete mais conhecido de-
Luigi Boccherini se propuseram pois dos Duport foi, sem dúvida,
encurtar. Boccherini é considerado o alemão Bemhard Romberg, autor
o expoente máximo do violoncelo de diversas obras de violoncelo mênto a solo, che-
na Europa do século xvm. Formado solo, bem como o Méthode de vio- gando a escrever
O músico italiano para ele quatro
com Domenico Francesco Vannuci, loncelle, escrito em 1840. Um pouco
Luigi Boccherini concertos, Acima,
depois de ampliar os seus conheci- mais tarde, o tcheco David Popper (1743-l8O5) foi um um retrato de
mentos em Roma e Viena regres- alargou o repertório para violonce- dos compositores Boccherini tocando
que durante o sécu- violoncelo e a capa
sou a Lucca para tocar violoncelo lo com o já clássico Elfentaruz e com lo xvilr prestou mais original da sua obra
na Capela Palatina. Em 1767 tocou o Requiem OV. 66 yara três violonce- atençáo ao violon- Vinte e quatro
celo como instru- novos quintetos.
no Concert Spirituel de Paris, antes los e orquestra (1,892), o único no seu
de se mudar para a Espanha e estar gênero desprovido de vozes.
ao serviço de Luís Antônio de Bour- Ao longo do século xx destacaram-
bon, irmão de Carlos III. Boccheri- se também as figuras do italiano

83
/.r*fi l

Além de Pau Ca-


o francês Pierre
Fournier que se
evidenciou pela bo-
v I
sals, o século xx nita sonoridade que
deu ao mundo ou- soubê êxtrair do
tros violoncelistas seu instrumento (ao
extraordinários. Por centro); ou Mstislav
exemplo, a portu- Rostropovitch (à
guesa Guilhermina direita), oriundo do
Suggia (ao lado), Azerbaijáo, um dos
Ff,.
que foi a primeira grândês mêstrês
mulher de Casals; vivos do violoncelo.

Alfredo Piatti e do alemão Julius era uma virtuosa do violoncelo. a esclerose múltipla) uma forma de
Klengel, que também compuseram Em meados do século despontaram tocar própria que serviu de modelo
algumas peças próprias para vio- as figuras do russo Gregor Piati- a muitos que vieram depois. Du
loncelo. Do mesmo modo, o russo gorsky, que inspirou algumas obras Pré, recordada pelas suas eletrizan-
Karl Davidov, professor do Con- deHindemiú, e os franceses Pierre tes interpretações, estudou com
servatório deLeipzig e depois dire- Foumier e Paul Tortelier. Este últi- Casals, William Pleeú, Tortelier
tor do de São Petersburgo, foi um mo expressou na sua obra O violon- e Rostropovitch.
dos primeiros a conciliar a técnica celo assim interyreto, Assim ensino No final do século )o( destacaram-
do violoncelo com os aspectos físi- -
(1975) quais pensava que deveriam se as figuras dos britânicos Steven
cos e anatômicos da encenação. ser as características de um intér- Isserlis e Raphael Wallfisch, a ar-
prete que se prezasse. mênia Karine Ceorgian, os escan-
Uma nova dimensâo musical Entre os seus sucessores, o nome dinavos Frans Helmerson e Truls
Com o século )o( e a eclosão dos que aparece com mais evidência Mork, os norte-americanos Ralph
grandes violoncelistas chegou Pau é o de Mstislav Rostropovitch, a Kirshbaum, Lynn Harrell e Yo Yo
Casals, sem dúvida o promotor in- quem Chostakovitch dedicou os Ma, o russo Mischa Maisky, o es-
discuúvel do violoncelo na época seus dois concertos, e o de Britten panhol Lluís Claret e, em Portugal,
contemporânea. Possuidor de mag- com a sua Sinfonia Vara violoncelo, Clélia Vtal, que fezparte do Gru-
níficos dotes para a interpretação, uma sonata e três suítes. po de Música Antiga de Lisboa e
Casals defendia o instrumento A presença feminina umbém se foi fundadora do Trio Bomtempo
como meio de expressão, mais do destaca na história do violoncelo. e do Quarteto de Cordas de Lisboa
que uma finalidade em si mesma. Neste sentido, Jacqueline du Pré (este último em plena atividade),
Também a sua primeira esposa, estabeleceu durante a sua curta atuando presentemente em duo
a porhrguesa Guilhermina Suggia, carreira ativa (terminada devido com o pianista Michel Gal.

MUSTCA E RETVTNDTCAÇÂO SOCTAL

paz
Pau Casals distinguiu-se, além de ser talvez o maior virtuoso do violoncelo de todos os
tempos, por transmiti6 onde quer que fosse, uma mensagem de paz. Exilado na França
desde 1938, Casals negou-se a tocar para Hitler durante a ocupação nazi e a regressar
à Espanha enquanto Franco estivesse no poder. Em 1971, com 94 anos, subiu à assem-
bleia da ONU para dirigir o Hino à paz. Anteriormente, tinha expressado por escrito
no mesmo fórum internacional a sua vontade de os governos e os seus dirigentes
procurarem a paz em vez da "desumanidade e inutilidade da guerra". Até a sua mor-
te, em 1973, manteve uma atitude vital de firme compromisso. Reeonhecido in-
ternacionalmente, escolheu a música como meio de comunicação e utilizou-a de
forma magistral para expressar a sua firme opinião nos conflitos políticos inter-
t"I rllt nacionais e a crença de que um mundo melhor é possível.
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