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Realização editorial:
Dosbé
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ISBN: 978-85 -6342t-00-5
Colaboradores na realizaçáo desta obra coletiva: Impressão: Eskenazi Ind. Gráfica Ltda.
Agnês Bosch (coordenação), André Luiz Rizzi Saraiva
(tradução), Rosemary Lima (preparação de texto) Impresso no Brasil
e Diego da Mata Ramos (reúsão).
--1s§,,-
Fotografias:
Agência Fotográfica Luisa Ricciarini (Milão), AISA, Album,
Antonio Picado, Antônio Suárez Weisse, Arquivo Dosbé,
Arquivo fotográfico do Museo de Bellas Artes de Bilbao,
Arquivo Salvat, Arpas Célticas, Awatinas, Banda da Guardia
Urbana Montada de Barcelona, Bobby Sanabria, Casa
Parramón, Castagnari, Cati Plana, Conn-Selmer, Conservatório
Superior de Música do Liceu (Barcelona), Contifoto,
Corbis/Cover, Cordon Press, cortesia Liu Fang, Costel Puscoiu,
Cuarteto Corniloquio, El Pont d'Arcús, Eugenia Sequeiro,
Euromúsica (Júpiter), Euskal Herriko Tiikitixa Elkartea, Eva
Maria. Alvarez, Fender, Fender Gibson, George Gao, Giorgio
Ferraris, Gratiniano Murcia, Guennady Kalmikov, Hohner,
Index, Fototeca,Jeff Berlin,Joaqún Valle, José Oliver Bisbal,
Juan Carlos Martínez, Juan Carlos Rivera, Kepa Junkera, Larry
Porter, Latin Percusion Inc., Luis Martínez Pérez e Lorena
Reinaldo Lusquifios, Mariano Dallapé & Figlio, Museu de la
Música (Barcelona), New Phono, Nigel North, Orquestra del
Notadceditorc
Gran Teatre del Liceu (Barcelona), Orquesta Experimental de Todos os direitos reserodos. Esta publicação náo pode seÍ
Instrumentos Nativos (Bolívia), Palau de la Música (Barcelona), ou trmsmitida, total ou pucialmente, por qualquer
dados da editon.
Pere Prat, Phüppe Bolton, Plural Entertainment e Pentagrama
forma da obm
Films, Püchner, Rafael Escoté, Ricardo Sanchos Carpio, Sergio habituâis dos editores que creditos
Riccio/Glossamusic, The Deering Banjo Company, The Selmer Alguns comPonentes da coleçáo ser modificados se a ciÍmstânciâs
Company Inc.,The Silo Road Project,Totore Chessa,Tiío témicm resim o deteminucm. noma do cditor é utilia papéis fabricadc
com 6brm natumis, rcnováreis e :
Antonio Rivas, Trío Edelweiss, Vandoren, Viüan Xia, Xaüer quc Posswm
Bonet, Xavier Moreno/Arquivo Aire, Xaüer Vidal i Roca, O editor espem que su
Yamaha-Hazen. matérias-primas
E
O violoncelo, um cordofone que peÊence à família do violi-
no, apareceu na ttália durante o século xVI. De som pene-
E
í
trante e insinuante, as suas características formais e sonoras Ê
í
de forma regulaç objeto de atenção por parte dos compo- §
D00 nce
A força das cordas
Primo do violino, o violoncelo, Chamar as coisas
cordofone cujo som também se pelo nome
obtém pelo contato das cordas Apesar de o violoncelo ter adquiri-
com um arco, apareceu na Itália do uma forma reconhecível como
durante o século xvt. Não se sabe tal a partir do século xvt, o seu no-
quem foi o seu inventor nem me só foi adotado um século mais
quem construiu o primeiro exem- tarde. A princípio, o violoncelo era
plar. Mas, apesar destas lacunas, designado com o nome dado por
pode-se afirmar que o violoncelo Ludovico Zacconi errl 1592: basso
nasceu como membro baixo da di viola da braccio, que indicava que
família dos violinos e, por isso, era o baixo da família dos violinos
posteriormente ao instrumento e não das violas, embora estas, tal
do qual derivou o seu nome. como o violoncelo, fossem tocadas
Certamente, e visto que o violino apoiadas no chão entre as pernas.
O violoncelo rísticas que ainda
moderno conserva. Acima, surgiu no início do século xvl, no Michael Praetorius retomou a
No século xvrrr, o um exemplar do mesmo século que o violoncelo, denominação deZacconi e referiu-
violoncelo modifi- ano 1744 fabricado
cou o aspecto e em Barcelona por os músicos logo devem ter sentido se ao violoncelo em 1618 como
adotou as caracte- Salvador Bofill. a necessidade de desenvolver um bass geig da braccio (Praetorius
registo mais grave e cheio. Assim, referia-se a um modelo de cinco
o aparecimento do violoncelo foi cordas).
mais o resultado de um imperativo Pouco depois, em meados do
musical do que a simples evolução século xvtt, Athanasius Kircher
formal de modelos precedentes. chamou-o de forma indistinta
w
L
Uma renomenação violino. Ao lado,
cônstante
Entre o seu apare-
uma imagem bucó-
lica de um grupo
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cimento no século de músicos numa
xvreoséculoxvtrt, pintura anônima
o violoncelo adotou do século xvt, na
diversos nomes. qual se destaca um <a
ti
A princípio era
conhecido como
violoncelo primitivo.
A direita, uma pági- * C
-
basso di viola da na da Misurgia + * (
braccio. Mais universalis, de
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(
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tarde, Athanasius
Kircher nomeou-lhe
Athanasius Kirche[
que mostrâ a fisio- ,*t
c'í
)
74
TECN ICA I NTERPRETATIVI\
fl
I Durante os séculos xvt e xvn o violoncelista podia tocar sentado com o violon-
I celo entre as pernas, de É com o instrumento reclinado contra o corpo, com o .3=l§
violoncelo colocado sobre um escabelo ou até numa posição totalmente hori-
zontal. Ao longo do século xvrr, sobretudo no Norte de ltália, este instrumento
participou das procissÕes religiosas. Nesses casos, os violoncelistas faziam um .1-::--::=
orifício na paÊe posterior do instrumento pelo qual passavam uma correia que t-
75
CORDAS OU PERCUSSÃO?
p€-ãffion
Apesar de o violoncelo náo ser um §
I com um pau de madeira ou um ar- possuem uma afinação em quintas. No entanto, como o
§ co sem cerdas e dedilha a tercei- seu tamanho era maior não se podia aplicar a digitação
I ra. Oe fato, pelo som resultante e própria destes dois instrumentos. De fato, este foi um
í p"lo proprio método de execução, dos principais inconvenientes que apresentava, visto que
o gardan não era utilizado para re- | a interpretação de passagens rápidas tornava-se uma
produzir melodias, mas sim conce- I autêntica proeza. Por volta de 1,660 começaram em Bolo-
fl bido como um instrumento de per- nha as primeiras experiências para criar um violoncelo com
I cussáo. tem
Originário dos Cárpatos, o
sido recuperado por
dimensões mais reduzidas. Talvez essa evolução na for-
§ Eardon ma tenha sido um dos elementos gue contribuíram para
I inúmeros grupos musicais dos paí- a plena aceitação do instrumento durante a segunda
ses do Leste da
t formaçao húngaraEuropa, como a metade do século XVII, momento a partir do qual os
I semble, que aparece The Tâtros En- compositores começaram a apostar regularmente nele.
§ nesta ima- Um dos primeiros a dedicarlhe atenção foi o bolonhês
gem com um gardon O obietivo Domenico Gabrielli, o "Menghino dal vioioncello", que
desses grupos é recolher e pre- em 1.684 publicou os seus Balletti, Cighe, Correnti, Saraban-
servar o legado musical das clas- de, A due violini e Violoncello com basso continuo e, dois anos
ses populares autóctonês. mais tarde, os Ricercare yer violoncello solo.
A partir da Itália, o violoncelo viajou para França e Ingla-
* !.- \ ,
terra, onde gaúou lugar tanto na corte como na ópera
:.E l e nos circuitos restantes de música erudita. Os monarcas,
como Carlos tx da França, encomendavam instrumentos
- aos violeiros italianos. Entre os séculos xvfl e xvtll, os
violoncelistas ganharam o relevo dos músicos de viola
de gamba. Este instrumento era pouco apropriado para
os concertos públicos, que precisavam de palcos maiores
e, por isso, de instrumentos de maior sonoridade.
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\
O violoncelo I História
Bach e a surte solo (1720), de de gamba. À medida que o século
de vieloncelo Johann Sebastian avançava, o arco foi-se curvando
No início do século Bach. Na página No século xvrrr
xvil foram fixadas anterior aparece, foram construídos e o intérprete foi ganhando contro-
aformaeotama- à êsquêrda, um violoncelos com ca- le sobre ele. Na década de 1780, o
nho do violoncelo. dos retratos mais racterísticas seme-
Foi entáo que se famosos de Bach, lhantes aos atuais. violeiro francês François Tourte
escreveram as pri- pintado por Elias Abaixo pode"se ob- introduziu um arco côncavo
meiras obras impor- Gottlob Haussmann servar um exemplar
tantes consagradas em 1746, e, à direi- construído por de pau-brasil e fixou o seu
a este instrumento, ta, a primeira pági- Nicolaus Duclos, comprimento em 72 cm.
como as Seis suí- na manuscrita das discípulo de Stradi- Além disso, o aumento do
tes para violoncelo Sels suífes. varius, em 1760.
número de cerdas e a maior resis-
tência da vareta tinham como re-
sultado uma sonoridade mais
cheia. Outras das mudanças
na forma que ocorreram
Quanto à Alemanha, no início ao que se coúece hoje. durante o século xvIII re-
do século xvttt existia já uma certa Por outro lado, até a dé- sultaram no prolonga-
tradição, mas foram sem dúvida cada de 1720, período mento e estilização da
os músicos italianos que mais favo- em que se começou a voluta e da escala, na
receram a difusão do violoncelo. impor a posição modema elevação do cavalete e
Como era, porém, o violoncelo ca- da mão esquerda, os intér- na introdução de cordas
racterístico da épocaÇ O instrumen- pretes não se apercebe- mais finas e compactas,
to a que nos referimos apresentou ram do potencial do po- de maior tensão. A par-
uma grande variedade de formas legar esquerdo para tir deste momento, a
desde o seu aparecimento até o agir como barra que se estrutura física e so-
final do século xvti. Não obstante, podia colocar sobre as nora do instrumento
as representações iconográficas cordas e que permitia manteve-se com pou-
permitem adivinhar características obter uma sonoridade cas variações até os
comuns em todos estes modelos: mais profunda. Todas nossos dias.
77
O violoncelo I História
prendia entre os joelhos, passando o registo mais agudo, ou os dois
a apoiar-se sobre um espigão me- Sextetos de Brahms constituem
Nos últimos anos,
e graças à grande evo- tálico que assentava no chão. Na exemplos claros dessas duas fun-
luçáo da informática, mesma época, o arco tiúa adquiri- ções básicas. Tâmbém se destacam,
foram desenvolvidos
modelos de violoncelo do já o perfil côncavo desenvolvido quanto ao repertório orquestral do
elétrico, os chamados nos finais do século xvttt e era mais século xIX, a abertura de Guilherme
silent cello, que gra-
curto e grosso do que o do violino Tell, de Rossini, a de Russlan e Lud-
ças a um chrp permi-
tem recriar de um ou o da viola. Uma das consequên- milla de Glinka, ou o "Ofertório"
modo virtual toda do Requiem de Verdi.
cias lógicas e imediatas desta evo-
a riqueza do timbre e
tom do violoncelo acús- lução toi o papel progressivo que
tico.Éocasodesses o violoncelo adquiriu como solista. O violoncelo
dois modelos fabrica-
dos pela Yamaha. Formações como os quartetos de contemporâneo
cordas permitiram que o violoncelo Durante o século xx proliferaram
adquirisse um lugar de importância as obras escritas para violoncelo.
crescente. O instrumento tam- Entre elas destacam-se os concertos
bém se estabeleceu na orquestra de Edward Elgar (L9t9) e Dmitri
sinfônica, embora não fosse fre- Chostakovitch (1959 e 1.96Q, bem
quente os compositores tirarem como os dos polacos Krzystof Pen-
partido da sua capacidade co- derecki e Witold Lutoslawski. Zol-
mo solista. Todavia, existem al- tán KodáIy escreveu uma Sonata
gumas exceções, como a Sinfo- para violoncelo e Viano'Oy. 4 em
nia no 4 3 (1763) e a Sinfonia n" Çf 1.910, quatro anos antes do Drei
(1791), ambas de Haydn, ou a ária Stücbe de Anton von Webem.
"Batti, Batti" da ópera Don Ciovan- Em 1930 e 1944 Heitor Villa-Lobos
ni, de Mozart. O violoncelo desem- compôs as Bachianas brasileiras, par-
penhava, portanto, duas funções tes das quais são escritas para oito
de acordo com o contexto em que ou mais violoncelos. Na segunda
era empregado. Por um lado, podia metade do século >o< destacaram-se
exercer a função tradicional de as composições de Benjamim Brit-
manter a linha do baixo na música ten(Sinfonia Vara violoncelo, de 1.963)
orquestral e na de câmara e, por ou Mauricio Kagel, em cuja peculiar
outro, conferia a sua capacidade obra Match (L964), para percussão
melódica, queiá começava a des- e dois violoncelos, os dois solistas
pontar e que foi adotada pelos se vestem como se fossem tenistas
compositores do Romantismo. e tocam à frente um do outro.
O Quinteto de cordas com dois violon- Além das composições contempo-
celos, de Schubert,no qual o segun- râneas, a partir do século >o< surgiu
do mantém o baixo do conjunto um interesse pela redescoberta do
enquanto o primeiro se eleva até repertóÍio dos séculos xut e xuII.
importante ao vio-
loncelo na abertura
De Bach, Haydn de Russlan e Lud-
ou Mozart até os milla. À direita,
nossos dias, muitos Dmitri Chostako-
r
compositores es-
creveram música
para violoncelo.
Ao lado, à esquer-
vitch (1906-I975),
um dos expoentes
máximos da música
russa do século xx,
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I
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da, o russo Mihail numa fotografia
Glinka (18O4-1857), tirada em 1966. \ - ê
considerado o pai Chostakovitch deu
da escola naciona- relevo ao violoncelo
lista russa, que nos seus concertos
conferiu um papel de 1959 e 1966. \
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Os trabalhos que irã,o conücionar o sorn do instrurnento
O trabalho de construção de um violoncelo Também a fabricação da barra harmônica,
começa pelo tampo, euê é construído com de abeto, implica um processo artesanal mui-
duas peças de madeira, modeladas com goi- to complexo, visto que essa pêÇâ, chave pa-
vas e formóes, que sáo depois coladas. O lu- ra o som final do violoncelo, deve ajustar-se
thier ufiliza a goiva para dar à madeira a cur- à curvatura do tampo ou mesmo superá-la,
vatura precisa. Este procedimento, o trabalho para fomentar a tensão desta.
das abóbadas, decidirá, em grande parte, as Uma vez construído o corpo do instrumento,
características sonoras do violoncelo. Feito is- depois de colar tampo, fundo e ilhargas, é o
to, incrustam-se os filetes, que cumprem ao momento de talhar o braço (em geral de ma-
mesmo tempo uma funçáo decorativa e pro- deira de ácer) e a voluta e, posteriormente,
tetora, já que evitam que as eventuais fissu- limar a base da escala, de ébano, para que
ras se propaguem pelo tampo ou pelo fundo. ajuste à caixa.
Em seguida, através da aplicaçáo de calor e Um dos últimos passos consiste em polir a
servindo-se de um molde, o artesáo dá forma madeira e aplicar-lhe o verniz, que pode ad-
às ilhargas, reforçadas no interior por ripas quirir matizes muito diversos de acordo com
(modeladas à quente), gue nos instrumentos o gosto do luthier e, sobretudo, segundo as
de qualidade encaixam nos ângulos. características sonoras que se quer obter.
Construído iá o tampo harmônico, procede-se Finalmente, falta apenas fixar as cravelhas
à abertura dos Fs. A acústica do instrumento (de ébano, jacarandá ou buxo) no cravelha-
deve-se, em parte, à simetria desses ouvidos, me, perfurado com uma verruma, colocar o
cuja forma ficou tipificada durante os primei- cavalete (de ácer) e inserir a alma, a peça ci-
ros tempos da arte de construção de violinos líndrica de abeto que transmite as vibrações
na ltália. do tampo harmônico ao fundo, através do F.
O violoncelo I Partes do instrumento
0s se a
s O cavalete é uma
peça de madeira colo-
cada sobre o tampo
harmônico, sobre a
celo
qual repousam as cor-
das. Sob o pé direito
do cavalete encontra-
sê a barra harmônica,
uma peça de madeira
que ajuda o corpo do
O violoncelo, ao contrário do que acontece, instrumento a suportar
a tensáo a que é
por exemplo, com o contrabaixo, possui uma submetido.
caixa de ressonância com ombros altos, :, .: i,
formada pelo tampo harmônico, pelo fundo O arco do violoncelo, ao con-
trário do que se possa pensaf
e pelas ilhargas, tendo uma cintura bastante é menor do que o do violino e
pronunciada. Na altura desta situam-se, no o da viola. Até à segunda me-
tampo, os Fs ou orifícios de ressonância pró- tade do século xvil os arcos
eram retos ou convexos.
prios da família do violino. A caixa é, em rela- Na década de I 78O, François
TouÊe introduziu um arco
çáo à do violino e à da viola, maior e mais de vareta côncava cujo
profunda, o que permite a obtenção de sons comprimento foi fixado
mais graves e cheios. A escala, que pela em 72 cm (as cerdas
deviam estar entre 60
parte inferior acaba na altura da ponta e 62 cm).
angular superior da cintura, termina no seu Cintura
extremo superior no cravelhame que, remata-
do com uma voluta (durante os séculos xvrr
e xvnr era frequente ganhar a forma de uma
cabeça de madeira talhada), acolhe as quatro F
EsDrgea
O espigáo é uma peça metálica
que separa o instrumento do
cháo. Trata-se de um FÉ ajustávêl
que pode encolher-se quando o
violoncelo náo é utilizado. Quanto
mais comprido for o espigáo,
menos veÊical é a posiçáo e,
portanto, a mâo esquerda tem
mais liberdade de movimento.
-a
80
Cravelhame
a: rr€r,:1aÊ
As cravelhas, situadas no
cravelhame, sáo utilizadas
par a af inaÍ corretamente
as cordas, embora para uma
afinação ótima se recorra
muitas vezes a pequenos
Escala parafusos situados no
estandarte, mais precisos,
As cravelhas estáo dispos-
tas de forma perpendicular
à escala.
Voluta
Ombro
Características técnicas da caixa, com vários tacos angu-
o O violoncelo é um instrumento lares de madeira.
de cordas que pertence à famflia o O som é obtido geralmente fric-
do violino, dentro da qual exerce cionando-se as cordas com um
a função de baixo. arco que se pode deslizar tanto
. Apresenta, tal como os outros para a esquerda como para a
componentes da sua família, direita, embora às vezes também
harmônico
forma de pera. No total, o seu possam ser dedilhadas.
comprimento é de pouco mais o A escala do violoncelo não pos-
de 1.,20 m. A caixa de ressonância sui trastes, é lisa. O executante
era inicialmente um pouco maioç pressiona as cordas com a mão
embora já no século xvttt a sua esquerda para obter a nota de-
medida tenha se fixado em cerca sejada, enquanto movimenta o
de75 cm. arco com a outra mão para que
. Tâl como o violino e a viola, o as cordas vibrem e produzam
violoncelo possui quatro cordas o som.
que se afinam por quintas: dó, o O violoncelo possui o registo
llharga
sol, ré e 1á. O som resultante é tímbrico mais amplo de todos os
uma oitava abaixo do da viola. instrumentos de cordas. Assim,
O comprimento das cordas oscila o som pode ser penetrante, quen-
atualmente entre 68 e 69,5 cm. te, profundo ou suave, de acordo
o O seu grande tamanho impede com a intenção do compositor e
que se possa seSurar como um o domínio técnico e a capacidade
violino, de modo que se apoia expressiva do intérprete.
no chão através de um espigão e O violoncelo caracteriza-se por
meúlico de comprimento ajustá- ter uma ampla extensão sonora
vel e prende-se entre as pemas. de quase quatro oitavas.
*á* Estanclarte O intérprete, que toca sentado, o O som do instrumento pode
utiliza o arco com a mão direita. adotar os matizes mais sutis gra-
O estandaÉe é preso na base do
o Possui uma cintura em forma de ças às suas enornes qualidades
instrumento através de duas peças C bastante semelhante à da viola melódicas e à força do seu som.
de uniáo. Se essas peças tocassem
diretamente na madeira poderiam e do violino, embora proporcio- Essa versatilidade permite-lhe
danificá-la. A funçáo da pestana nal ao tamanho (mede entre L 1 integrar-se sem problemas tanto
inferiof colocada entre o corpo do
instrumento e as unióes, evita que
e 1.4 cm) do violoncelo: ambas as em formações reduzidas como
isso aconteça, peças são reforçadas, no interior na orquestra sinfônica.
81
O violoncelo I lntérpretes
u Cosek
e os virtuosos do violoncelo
Os primeiros violoncelistas profis- da implantação do violoncelo na
G sionais começaram a destacar-se no orquestra da Ópera de Paris.
século xvll. Entre eles sobressaiu a Na Alemanha, o correspondente
figura de Giuseppe Jacchini, com- a Cervetto na Inglatera e a Stuck
F- positor e violoncelista da orquestra na França foi Evaristo Felice
da capela de São Petrônio, em dall'Abaco, que difundiu o violon-
Er \\\ tu q!
Boloúa, na qual enüou como subs-
tituto de Domenico Gabrielli. Tam-
bém Petronio Franceschini, discípulo
celo por terras germânicas desde
que, em 1704, se estabeleceu em
Munique. Em Bruxelas nasceu o
NL de Giacomo Antonio Perti, Giovan- seu filho Joseph Clémens, desta-
ni Maria Bononcini e Giovanni Bat- cado violoncelista que ultrapassou
tista Cirri tocaram nessa formação. mesmo a mestria do seu progeni-
tor. Também na Alemanha, con-
A supremacia italiana cretâmente ao serviço do príncipe
[, Durante os séculos xvl e xv[, o Leopoldo de Anhalt-Kôúen, entre
reinado musical dos italianos foi os anos 1730 e 1740 deve-se
indiscuúvel. Desde então, virtuosos situar Christian Ferdinand Abel
como Ciorgio Antoniotti e Ciaco- e Bemhard Christian Linigke, um
\ mo Cervetto difundiram o violon- dos quais poderia ter sido, segundo
celo na Inglaterra. O trabalho de paÍece, o destinaúrio das Seis suites
vicçóes dêsse músi-
difusão que levaram a cabo deu os Vara violoncelo de Bach.
cor que esteve exi- seus frutos: não tardaram a surgir Johann Striemeç Johann Georg
O violoncelista, di- lado durante a
retor de orquestra e Guerra Civil espa-
virtuosos ingleses do violoncelo co- Schet§ ]ohann Kriegck, Anton
compositor catalão nhola devido às mo Bartholomew Johnson, William Fitz e, posteriormente, Bemhard
Pau Casals (1878- suas ideias políti- Paxton e, no final do século xvru, Romberg foram outros nomes que,
1973) foi um dos cas, deu alento a
grandes músicos do uma nova geração John Crosdill, John Gun ou Joseph durante a segunda metade do sécu-
século xx. As con- de violoncelistas. Reinagle. lo xvtit, ficaram ligados para sem-
I Jean-Louis Duport, tratadista do século xx, costuma ser considerado
I pelos especialistas o fundador da escola moderna do violoncelo.
82
O violoncelo I lntérpretes
Lanzetti e Ciovanni Battista Cana- ni foi, além de um brilhante intér-
vazzo, que se instalou na França. prete, um compositor incansável.
Canavazzo, cujo apelido mudou Entre suas obras figuram cerca de
para Canavas depois da sua mu- trinta sonatas para violoncelo e
dança, escreveu Six sonates Vour baixo contínuo, quase cem quarte-
le violoncelle, em 7767 , e, seis anos tos e trios, onze concertos e mais
mais tarde, Sonates your le violoncelle de cento e trinta quintetos com
avec la basse continue. dois violoncelos.
Piene-Philip pe l' Abb é, Jean Barriê-
re, Pierre l'Abée, Martin Berteau
No final do século, Francesco
Alborea introduziu a técnica que I
I
e M. Corrette, todos eles autores utiliza o polegar como pestana,
de diferentes métodos para violon- recurso extremamente útil na exe-
celo, foram outros instrumentistas cução, numa só corda, das notas
que contribuíram para f.azer da agudas. Francischello, nome por 'l
França um dos centros mais rele- que era conhecido o genovês, con- I
vantes para a história do violon- seguiu assim dotar a mão esquerda
celo. De fato, a grande maioria des- de maior mobilidade.
ses músicos exerceram a docência Neste contexto, o virruoso britâ-
e formaram, como é o caso de nico Robert Lindley, cuja técnica
Berteau, discípulos evidentemente e brilhante execução o tomaram
privilegiados, como Jean-Baptiste conhecido em todo o continente,
Aimé ]anson, o seu irmão Louis- atuou no final do século diante do
Auguste, François Cupis (mestre, príncipe regente e, em 1826, tinha
ao mesmo tempo, de ]ean-Baptiste se convertido no primeiro violon-
.i
Bréval e Jean-Henri Levasseur) ou celo da Opera Italiana em Londres.
o próprio Jean-Pierre Duport. Por sua vez, o célebre tratadista
Jean-Louis Duport, considerado
A evolução da interpretaçáo por muitos o fundador da escola
Desde o seu aparecimento, o vio- modema do violoncelo, tocou co-
loncelo foi ganhando progressi- mo violoncelista nas cortes da
vamente mais importância nos Espanha e da Prússia. Esta última
grupos de música de câmara até foi também testemunha do talento
chegar a seç durante o século xvttl, do seu irmão Jean-Pierre, a quem ilrq l 0
83
/.r*fi l
Alfredo Piatti e do alemão Julius era uma virtuosa do violoncelo. a esclerose múltipla) uma forma de
Klengel, que também compuseram Em meados do século despontaram tocar própria que serviu de modelo
algumas peças próprias para vio- as figuras do russo Gregor Piati- a muitos que vieram depois. Du
loncelo. Do mesmo modo, o russo gorsky, que inspirou algumas obras Pré, recordada pelas suas eletrizan-
Karl Davidov, professor do Con- deHindemiú, e os franceses Pierre tes interpretações, estudou com
servatório deLeipzig e depois dire- Foumier e Paul Tortelier. Este últi- Casals, William Pleeú, Tortelier
tor do de São Petersburgo, foi um mo expressou na sua obra O violon- e Rostropovitch.
dos primeiros a conciliar a técnica celo assim interyreto, Assim ensino No final do século )o( destacaram-
do violoncelo com os aspectos físi- -
(1975) quais pensava que deveriam se as figuras dos britânicos Steven
cos e anatômicos da encenação. ser as características de um intér- Isserlis e Raphael Wallfisch, a ar-
prete que se prezasse. mênia Karine Ceorgian, os escan-
Uma nova dimensâo musical Entre os seus sucessores, o nome dinavos Frans Helmerson e Truls
Com o século )o( e a eclosão dos que aparece com mais evidência Mork, os norte-americanos Ralph
grandes violoncelistas chegou Pau é o de Mstislav Rostropovitch, a Kirshbaum, Lynn Harrell e Yo Yo
Casals, sem dúvida o promotor in- quem Chostakovitch dedicou os Ma, o russo Mischa Maisky, o es-
discuúvel do violoncelo na época seus dois concertos, e o de Britten panhol Lluís Claret e, em Portugal,
contemporânea. Possuidor de mag- com a sua Sinfonia Vara violoncelo, Clélia Vtal, que fezparte do Gru-
níficos dotes para a interpretação, uma sonata e três suítes. po de Música Antiga de Lisboa e
Casals defendia o instrumento A presença feminina umbém se foi fundadora do Trio Bomtempo
como meio de expressão, mais do destaca na história do violoncelo. e do Quarteto de Cordas de Lisboa
que uma finalidade em si mesma. Neste sentido, Jacqueline du Pré (este último em plena atividade),
Também a sua primeira esposa, estabeleceu durante a sua curta atuando presentemente em duo
a porhrguesa Guilhermina Suggia, carreira ativa (terminada devido com o pianista Michel Gal.
paz
Pau Casals distinguiu-se, além de ser talvez o maior virtuoso do violoncelo de todos os
tempos, por transmiti6 onde quer que fosse, uma mensagem de paz. Exilado na França
desde 1938, Casals negou-se a tocar para Hitler durante a ocupação nazi e a regressar
à Espanha enquanto Franco estivesse no poder. Em 1971, com 94 anos, subiu à assem-
bleia da ONU para dirigir o Hino à paz. Anteriormente, tinha expressado por escrito
no mesmo fórum internacional a sua vontade de os governos e os seus dirigentes
procurarem a paz em vez da "desumanidade e inutilidade da guerra". Até a sua mor-
te, em 1973, manteve uma atitude vital de firme compromisso. Reeonhecido in-
ternacionalmente, escolheu a música como meio de comunicação e utilizou-a de
forma magistral para expressar a sua firme opinião nos conflitos políticos inter-
t"I rllt nacionais e a crença de que um mundo melhor é possível.
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