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DESENVOLVIMENTO
Começando por Lisboa, capital de Portugal, Hyland resume o país a partir da sua cidade
mais importante, símbolo de um passado repleto de glória, terra que é, simultaneamente,
um museu vivo. Há, também, um sentimento muito inglês nisto tudo, porque os
britânicos, sobretudo os ingleses, vitoriam as memórias significativas do passado como
se fossem delas contemporâneos, trazendo ao cimo a veia tradicionalista da sua cultura.
Como o título sugere, é a partir do Rio Tejo, curso geográfico e lógico da viagem, que
Hyland penetra na (presente) realidade do país.
Contudo, a viagem de Paul Hyland não se cose de modo aparentemente sequencial: não
há, de todo, qualquer tipo de propensão aliada à procura de destinos que estão
identificados como sendo atracções turísticas. Hyland transforma a sua jornada num
“moto” de interacção e contacto entre ele próprio e as pessoas (o povo), assim como
com os espaços com que se vai deparando. É dessa sequência pouco sequencial que o
autor produzirá as suas próprias conclusões.
Hyland não teme a contradição, talvez por identificá-la como parte integrante do ser e
sentir tão portugueses, prometendo apresentar o país da forma que o mesmo a ele se
apresentar.
O Autor recorre, à medida em que é confrontado com diferentes “memórias”, sejam elas
ostensivas ou não, a trechos da História de Portugal. Nessas alturas, tenta estabelecer
algumas associações entre o que lhe é apresentado e o que teria, efectivamente, ocorrido
no passado. Há uma comparação que é desenhada entre a figura do “Rei-Menino”, Dom
Sebastião, de quem se dizia não querer casar, e o contemporâneo, ao livro, enlace de
Dom Duarte Pio, pretendente ao extinto trono lusitano, com Isabel de Herédia.
Estas variações não são factuais, no sentido em que não há ligação aparente: vivem do
momento (e da vontade do autor). Hyland consegue, em pouco tempo, depois de uma
breve exemplificação de um certo tipo de patriotismo (ligado ao futebol), traçar um
paralelo entre o local onde a testemunhou, a Avenida General Humberto Delgado, com
a figura, após pesquisa, do General em si, oposicionista em relação ao Estado Novo (ou
outra forma de patriotismo que compreende a luta pela democracia, tendo por
consequência a própria vida).
CONCLUSÃO
Numa “voyage autor de ma chambre” muito peculiar, Hyland demonstra que é possível
ser-se, ou tentar-se ser, português sem o ser pelo nascimento (ou por laços mais ou
menos lógicos).
Emaranhando-se na história, na crença e, sobretudo na identidade que é estado de
espírito/sentimento, Hyland mostra aos portugueses, e não só, de que modo pode um
estrangeiro irmanar-se de uma veia que não é, aparentemente, sua, mostrando-a, original
e renovada, aos que a quiserem ver através dos seus olhos e do seu sentir.
Não parece desligada disto tudo, como já foi, aliás, escrito, a ideia de uma certa
contradição, até paradoxo, inerente à natureza de Portugal. Que a mesma nos seja
apresentada por alguém de “fora” é, igualmente, contraditória: pelo valor que
conferimos àquilo que é de outras paragens, como validação, ou, ao mesmo tempo, ser
possível desvalorizar a conclusão por não lhe atribuirmos conhecimento de causa.