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DISCIPLINA: Literatura Portuguesa – Renascimento

PROFESSORA: Lúcia Helena Marques Ribeiro


ALUNO: Guilherme C. da Fonseca
TURMA: 01
DATA: 20/10/2021

ESTUDO 3

Os poemas escolhidos para o trabalho são: Mar Português e D. Sebastião, Rei de


Portugal.

Conforme ao que aprendemos ao longo das aulas, o mito tem excelsa importância para a
identidade nacional de uma comunidade que partilha histórias. A Literatura, com o escorrer do
tempo, revelou-nos uma propriedade deveras íntima à formação de uma identidade nacional:
recriar perspectivas da história e dos heróis partícipes do imaginário popular. Para tanto, a
Literatura se vale de uma orientação voltada à transcendência do mundo, reerguendo, muitas
vezes, traços históricos obscurecidos pelo tempo e os reconstruindo sob forma de mito. A
importância de empreender tal resgate reverbera diretamente no imaginário da nação, cujos
heróis, consuetudinariamente nos dias de hoje, não alcançam qualquer tipo de transcendência à
vista da primeira adversidade, tamanha falsidade transparecida – circunstância alarmante, visto
que celebridades, conhecidas por serem conhecidas, tornaram-se exemplos de vida para nações
cuja população, muitas vezes, encontra-se sujeita a acatar docilmente tal natureza de inspiração,
afinal, não tem outro referencial imediato.

Segundo Joseph Campbell, o mito possui quatro funções. (1) Mística, pois apresenta ao
mundo o mistério; (2) cosmológica, porque inspira a ciência a buscar objetos de estudo; (3)
sociológica, visto que se faz de suporte para legitimar dada ordem social; e (4) pedagógica, uma
vez que podem ensinar ao homem o modo que lhe pode servir para viver. Convém partirmos
para os poemas. Ei-los:
D. SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL

Louco, sim, louco, porque quis grandeza

Qual a Sorte a não dá.

Não coube em mim minha grandeza;

Por isso onde o areal está

Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem

Com o que nela ia.

Sem a loucura que é o homem

Mais do que a besta sadia,

Cadáver adiado que procria?

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MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!


Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.

De antemão, é-nos possível captar certa continuidade que traduz os elementos da alma
portuguesa: o ímpeto sonhador que impele o homem a perseguir seus anseios. Nos versos de D.
Sebastião, Rei de Portugal, percebemos o rei acusando-se de loucura devido à sua vontade de
grandeza, embora deseje que esta loucura se passe adiante; enquanto nos versos de Mar
Português, temos a afirmação de que “Tudo vale a pena/ Se a alma não é pequena”. Realizado
certo paralelismo com os dois poemas, legitimar-se-ia a questão: para a identidade nacional
portuguesa, a loucura constituiria a grandeza da alma humana? Afinal, “Sem a loucura que é o
homem/ Mais do que a besta sadia,/ Cadáver adiado que procria?”. Trazendo-nos outros aspectos
quanto a alma portuguesa, D. Sebastião foi o rei que desapareceu depois da Batalha de Alcácer
Quibir, no deserto do Marrocos. Desde o ocorrido – e aqui não se supõe que este foi a gênese da
identidade portuguesa, mas antes um cooperador de sua construção –, parece-nos que a alma
portuguesa reside num constante estado de inquietação, de espera pela volta do rei, de um
messias e, inversamente, também se preocupam em agir, impulsionados ou pela insuportável
espera ou pela aspiração do porvir, senão por ambos.

O poema D. Sebastião, Rei de Portugal encontra-se, na obra, localizado n’As Quinas do


Brasão português. As Quinas simbolizam as cinco chagas de Cristo presentes na visão de Afonso
Henriques, antes da Batalha de Ouriques, de 1139. Assim como uma Quina, no Brasão,
representa uma chaga de Cristo, assim também o desaparecimento do rei D. Sebastião representa
uma chaga da nação portuguesa. O poema Mar Português, por seu turno, situa-se numa parte da
obra que enaltece mitos e símbolos surgidos da glória marítima do Império português. A
identidade portuguesa perpassa pela saudade, espera e, precipuamente, pelo símbolo sonhador.
Nos versos “Valeu a pena? Tudo vale a pena/ Se a alma não é pequena”, podemos compreender
o maior símbolo da alma portuguesa: o sonho.

A obra Mensagem é terminada com a expressão valete, frates!, de origem latina e muito
comum em meios esotéricos; significa “passai bem, irmãos!”. Pessoa, de fato, resgata os mitos
portugueses e, talvez, até mesmo elucidou a alma portuguesa para a posteridade em sua obra. Tal
iniciativa é digna de ser exemplo, a fim de resgatar os heróis da nação e afastar desta as
consequências nefastas do esquecimento da própria história, muitas vezes devido a insensatez de
volver o intelecto para falsos heróis.

A sua reflexão está bem construída!

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