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Síntese das características da "Mensagem"

"Mensagem" foi o único livro em português que Fernando Pessoa publicou em vida. Contém 44
poemas escritos entre 21 de Julho de 1913 e 16 de Março de 1934.

"Mensagem" representa, no universo poético pessoano, uma linha temática do nacionalismo,


sebastianismo e uma linha estética simbolista.

A obra "Mensagem" contém marcas simultaneamente épicas e líricas devido ao facto de


Fernando Pessoa exprimir uma concepção transhistórica e mítica sobre as diversas figuras que
decorrem na obra, prefigurando o surgimento da pátria cultural portuguesa que constituiria o Quinto
Império.

Estrutura da "Mensagem"

 Os 44 poemas que constituem a “Mensagem” encontram-se agrupados em três partes, ou seja,


as etapas da evolução do Império Português nascimento, realização e morte.

 Em "Brasão", estão os construtores do Império. Esta primeira parte começa pela localização de
Portugal na Europa e em relação ao Mundo, procurando atestar a sua grandiosidade e o valor
simbólico do seu papel na civilização ocidental ("O rosto com que fita é Portugal!"). Depois
define o mito como um nada capaz de gerar os impulsos necessários à construção da realidade;
apresenta Portugal como um povo heróico e guerreiro, construtor do império marítimo; faz
referências à fundação da nação e às figuras históricas que construíram o país; e refere as
mulheres portuguesas, mães dos fundadores, celebradas como "antigo seio vigilante" ou
"humano ventre do Império".

 Em "Mar Português", surge o sonho marítimo e a obra das descobertas. Esta segunda parte
inicia-se com o poema "Infante", onde o poeta exprime a sua concepção messiânica da
História, mostrando que o braço do herói é movido por Deus como causa primeira, o Homem
como agente intermédio e a obra como efeito. Nos outros poemas evoca a época dos
Descobrimentos com seus heróis (figuras incorpóreas e simbólicas) que são símbolos de
atitudes, as glórias e as tormentas, considerando que valeu a pena, ao desbravarem os mares,
dando "novos mundos ao mundo". O último poema da segunda parte é a "Prece", onde renova
o sonho. No "Mar Português" procura simbolizar a essência do ideal de ser português
vocacionado para o mar e para o sonho.

 Desde o início, mas com especial incidência na segunda parte ("Mar Português"), Mensagem
faz a apologia de um passado português grandioso e heróico, revestindo-o de um carácter
místico na medida em que o considera o tempo do cumprimento de uma missão determinada
por Deus.

 A sintonia entre a vontade divina e o sonho humano funda uma atitude de incessante busca,
representada pelo desejo de chegar mais além, pela firmeza com que o Português representado
por diversos heróis – combate o medo e vitoriosamente reclama o domínio do mar e dos
mundos antes desconhecidos. .
 A persistência no cumprimento da sua missão, a capacidade de enfrentar os riscos e de aceitar
o sofrimento justificam a glorificação do povo que, com ousadia e «esforço», tornou
«português» o «mar sem fim».

 Em "O Encoberto", há a imagem do Império moribundo, com a fé de que a morte contenha em


si o gérmen da ressurreição, o espírito do império espiritual, moral e civilizacional na diáspora
lusíada. Nesta terceira parte, há uma expressão latina "Pax in excelsis" (Paz nos céus), que
marcará o Quinto Império. O poema termina com um "Valete Frates" (Felicidades, irmãos),
acreditando no desígnio de um reino de fraternidade, graças ao Quinto Império, e assumindo
um carácter de incentivo ("Força, irmãos") para a construção desse novo Portugal.

 A terceira parte da obra é "messiânica e sebastianista". Perante o mito sebastianista: crença


popular no regresso, em manhã de nevoeiro, do rei D. Sebastião desaparecido em Alcácer
Quibir (1578), mas cujo corpo nunca chegou a ser identificado com segurança - a expectativa
do Encoberto converte-se em mito, na esperança de melhores dias, de felicidade nacional, de
justiça e de grandeza -, Pessoa propõe um sebastianismo aberto para o futuro, decididamente
virado para a construção de um império da língua e da cultura portuguesas.

O ocultismo na "Mensagem"

O ocultismo remete para um sentimento de mistério, indecifrável para a maioria dos mortais. Só
alguns aparecem predestinados a decifrar o sentido das sombras do mundo sensível (influência
platónica). O nosso mundo sensível e Portugal só se cumprirão por força e vontade criadora do mundo
inteligível, onde está a ideia como verdadeira realidade perpétua e essencial. O ocultismo é utilizado na
Mensagem para criar o herói, o Encoberto, que se apresenta como D. Sebastião. Surge assim uma certa
legitimação da existência de um poder absoluto, de um chefe excepcional, detentor do privilégio
esotérico, capaz de realizar o sonho do Quinto Império.

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