Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
alguém da Humanidade.
Fernando Pessoa,
Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação
E a nossa grande Raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no
espaço, em naus que são construídas «daquilo que os sonhos são feitos». E o
seu verdadeiro e supremo destino, de que a obra dos navegadores foi o
obscuro e carnal anterremedo, realizar-se-á divinamente.
Significado do título
Intenção do poeta
♦ Epígrafes da obra
A obra termina com a expressão “Valete, Frates” (“Adeus, irmãos”) que revela a crença no desígnio de um reino
de fraternidade, graças ao Quinto Império, assumindo um caráter de incentivo (“Força, irmãos”) para a construção
desse novo Portugal.
Mensagem, apesar de conter poesias breves, garante uma unidade histórica e lógica, sequencial e coerente. A
sua estrutura tripartida permite contar e refletir sobre a vida e o percurso de Portugal ao longo dos anos.
Assim, os poemas encontram-se agrupados em três partes que correspondem às etapas da evolução do Império
Português – nascimento, realização e morte. Mas esta morte não é definitiva, pois pressupõe um renascimento,
que será o novo império, futuro e espiritual – o Quinto Império.
Primeira parte
“Brasão”
A primeira parte é constituída por dezanove poemas, organizados em cinco
subdivisões, que relacionam temas e personalidades relevantes na formação
mítica e histórica de Portugal - reis, príncipes, heróis fundadores de Portugal.
Esta parte corresponde ao nascimento do Império Português, fazendo
referência aos mitos e figuras históricas até D. Sebastião, identificadas nos
elementos do brasão. Dá conta do Portugal erguido pelo esforço dos heróis e
destinado a grandes feitos. Começa pela localização de Portugal na Europa e em
relação ao Mundo, procurando atestar a sua grandiosidade e o valor simbólico do
seu papel na civilização ocidental, quando afirma “O rosto com que fita é
Portugal”. Depois, faz-se alusão ao sofrimento necessário para se alcançar a glória.
A seguir, define o mito como um nada capaz de gerar os impulsos necessários à
construção da realidade; apresenta o Portugal de um povo heroico e guerreiro,
construtor do império marítimo; valoriza os predestinados que construíram o
país; e refere as mulheres portuguesas, mães dos fundadores, celebradas como
“antigo seio vigilante” e “humano ventre do Império”.
Segunda parte
A segunda parte é constituída por doze poemas que recriam a saga dos
“Mar Português” Descobrimentos, incluindo mito e realidade factual. Contém os heróis
que, inspirados e motivados pelos príncipes e reis, foram os protagonistas
da expansão ultramarina portuguesa.
Nesta parte, surge a realização e a vida. Inicia-se com o poema “O
Infante”, no qual o poeta exprime a sua conceção messiânica da História,
mostrando que o sopro criador do sonho resulta de uma lógica que
implica Deus como causa primeira, o homem como agente intermediário
e a obra como efeito. Nos outros poemas, evoca a gesta dos
Descobrimentos, as personalidades e os acontecimentos que exigiram
uma luta contra o desconhecido e os elementos naturais, as glórias e as
tormentas, considerando que valeu a pena. O último poema é “Prece”, no
qual renova o sonho. Em “Mar Português”, Pessoa procura simbolizar a
essência do ideal de ser português vocacionado para o mar e para o
sonho.
Terceira parte
A terceira parte é constituída por treze poemas que traduzem a visão esotérica
“O Encoberto” de Pessoa, aquela que faz a síntese de história, mito e profecia.
Esta parte corresponde à desintegração, havendo, por isso, um presente de
sofrimento e de mágoa, pois “falta cumprir-se Portugal”. Encontra-se tripartida
em “Os Símbolos”, “Os Avisos” e “Os Tempos”. Com os primeiros, manifesta-se a
esperança e o “sonho português”, pois o atual império encontra-se moribundo.
Revela-se a fé de que a morte contenha em si o gérmen da ressurreição. Nos três
avisos, os três profetas: “Bandarra”1, “António Vieira”2, e um Terceiro, o próprio
poeta, uma síntese dos outros dois profetas do Quinto Império, que, perante a
situação dramática de Portugal, interpela o Messias de modo a provocar o seu
regresso. Com os cinco tempos traduz-se a ânsia e a saudade daquele
Salvador/Encoberto que, na “Hora”, deverá chegar, para edificar o Quinto Império,
moral e civilizacional.
Os títulos dos poemas desta última parte remetem todos eles para a natureza
espiritual da aventura, da tarefa empreendida pelo poeta – a universalidade do
império da cultura portuguesa.
1
Gonçalo (ou António Gonçalves) Anes Bandarra, sapateiro de Trancoso, cristão-novo dotado de cultura bíblica
que compôs trovas proféticas, impulsionadoras do Sebastianismo, que irão influenciar a obra messiânica do Pe.
António Vieira. Foi condenado num auto de fé a 23 de outubro de 1541 e as suas trovas proféticas foram proibidas
pela Inquisição.
2
Padre jesuíta português, defensor dos direitos dos índios e dos escravos negros, foi também grande diplomata e
orador, tanto na corte portuguesa como em cortes estrangeiras. Revelou a sua faceta visionária ao defender a
utopia do Quinto Império – império universal debaixo do poder espiritual do Papa e temporal do rei português D.
João IV.