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Mensagem, escrita entre 1913 e 1934, foi o único livro de poesia publicado em vida do autor.
Reúne um conjunto de 44 poemas escritos num momento de crise e de falta de iden dade nacional. O
poeta interpreta simbólica e liricamente a História de Portugal, mas também reflete os seus estudos
esotéricos, nomeadamente a Numerologia, a Ordem dos Templários, a Cabala, a fraternidade Rosa Cruz e
ainda as lendas Arturianas (Excalibur, do rei Artur e a Demanda do Santo Graal). O poeta valoriza a leitura
esotérica e mí ca em detrimento dos aspetos factuais e narra vos e assume-se como uma espécie de
mediador entre Deus e os homens, uma espécie de profeta dos mistérios divinos de Portugal.
O assunto de Mensagem é a essência de Portugal e a sua missão a cumprir. Não são os factos
históricos propriamente ditos sobre os nossos reis que mais importam; são sim as suas a tudes e o que
eles representam. Daí que se interpretem as figuras dos reis como heróis que se enquadram no plano que
Deus quis para Portugal, de acordo com uma visão providencialista da História humana, isto é a ação e o
des no dos povos obedece à vontade divina (“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce/ Deus quis que a
terra fosse toda uma,” (“O Infante”).
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sacri cios dos portugueses e das famílias para conquistar o mar “Ó mar salgado, quanto do teu
sal/ São lágrimas de Portugal”(“Mar Português”). A par desta faceta épica, emerge na obra uma
dimensão lírica e, como é caracterís co deste modo, encontramos um sujeito poé co que dá
conta do seu mundo interior, dos seus sen mentos, das suas reflexões sobre Portugal e o seu
des no. Há poemas que denunciam esta natureza lírica: o discurso é assumido por uma figura
histórica que sinte za a sua vida ou comenta o seu des no, como em “D. Sebas ão, Rei de
Portugal” ou ainda a manifestação dos sen mentos do poeta (“Screvo meu livro à beira mágoa”).
A obra, composta por 44 poemas, apresenta uma estrutura tripar da: etapas
do Império Português (teoria cíclica) com o NASCIMENTO (fundação da nação a
REALIZAÇÃO (vida, glória) e a MORTE à qual se seguirá a RESSUREIÇÃO, isto é, um
novo ciclo (como a Fénix renascida das suas próprias cinzas).
Nesta primeira parte, o Poeta faz uma interpretação poé ca e simbólica dos elementos que
cons tuem o Brasão de Portugal. Cada um dos elementos é encarnado por personagens históricas.
Em 19 poemas, desfilam os fundadores e construtores de Portugal e do Império marí mo e os
már res da Pátria. Os heróis lendários (Ulisses e Viriato) e as principais figuras históricas desde D.
Afonso Henriques, D. Dinis ou D. Sebas ão são conver dos em símbolos.
2º parte: “MAR PORTUGUÊS” – o domínio dos mares pelos Portugueses enquanto realização do
Sonho
Há a referência aos protagonistas e aos eventos mais importantes dos Descobrimentos. A
epopeia marí ma é vista como um percurso realizado por aqueles que ousam libertar-se da sua
condição animal através da loucura do sonho, como o Infante D. Henrique. Os 12 poemas são
marcados pela ânsia do desconhecido e pelo esforço e sofrimento heroico da luta contra o mar. O
Poeta realça a universalidade dos Descobrimentos; a conjugação do divino e do humano e a
missão divina de Portugal como a pátria eleita por Deus, isto é, como já foi referido, há nesta
obra, uma visão providencialista da História (crença filosófica que defende que o des no dos povos
advém da vontade de Deus). Esta parte termina com “Prece”, na qual o Poeta considera que a
epopeia resultou num fracasso de que apenas resta o silêncio “hos l” e a saudade. Todavia, Pessoa
não perde a esperança de ver a epopeia renovada num sen do alegórico, como escreveu na
revista A Águia “E a nossa grande raça par rá em busca de uma nova Índia, que não existe no
espaço, em naus construídas daquilo de que os sonhos são feitos”.
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A esperança e impaciência do poeta na vinda do Messias para a construção do Quinto Império, são
notórias (“Quando é o Rei? Quando é a Hora?” – “Screvo meu libro à beira-mágoa”). Apela à
mudança de a tude dos portugueses do séc. XX e a passagem do caos à fase do renascimento.
6. A Exaltação patrió ca
Há uma clara expressão do nacionalismo, já que Portugal, além de ser o herói cole vo, é o
centro da obra. Os poemas refletem sobre a iden dade portuguesa, a história e o des no da nação
e centram-se em grandes figuras da História de Portugal associadas às épocas da fundação e aos
Descobrimentos. D. Afonso Henriques, D. João Primeiro e os seus filhos, Vasco da Gama, entre
outros, foram os heróis que construíram gloriosamente o império. Este passado é celebrado em
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termos épicos, e o povo português é enaltecido pelos feitos que realizou. Os exemplos do passado
glorioso surgem como impulso para despertar a nação do presente que se encontra adormecida e
estagnada que urge despertar.
Na verdade, o presente, época em que Mensagem é escrita, caracteriza-se pela crise polí ca,
social, económica e de valores (os tumultos da Primeira República e o estado Novo). Estes
problemas acabam por ser simbolicamente representados na obra: Portugal atravessa a “noite” e
as trevas, sendo que o “nevoeiro” alude ao estado de indeterminação e de desorientação de quem
espera a regeneração (o próprio Pessoa).
No final, o Poeta anuncia o futuro, onde Portugal, a nação escolhida por Deus, cumprirá o seu
Des no e fundará e dirigirá um império espiritual - o Quinto Império. A regeneração do país e a
fundação de um império universal só se consegue com a mobilização de todo um povo, crença
implícita na exortação final “Valete Fratres!” ( Força irmãos).
7. Os mitos e os símbolos
Nesta obra pessoana, é manifestada a ideia de que o mito (“nada que é tudo”), a lenda, a
inspiração divina, isto é, forças sobre-humanas e transcendentes são da maior importância para
a ngir o impossível e para ultrapassar os limites humanos. São estas forças que fecundam a
realidade, tornam a vida ser digna de ser vivida.
Por outro lado, Pessoa acredita que Deus talhou o des no dos povos e nos momentos
decisivos, o braço do herói é movido pela vontade divina. O desejo divino de unir por via marí ma
a Terra levou à escolha e sagração do Infante D. Henrique que, com a sua ação, cumpriu a obra
espiritualmente concebida. O Infante é representante de Deus, concre zador da sua obra.
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Sebas ão não é, por certo, um mero cadáver adiado, ele é o arqué po do português ambicioso
que quer conquistar novas terras para engrandecer a Nação: «Levando a bordo El-Rei D.
Sebas ão, / E erguendo como um nome, ato o pendão / Do Império», lê-se em «A Úl ma Nau»,
um poema de Mensagem.
Bibliografia: “Entre nós e as palavras 12º ano” de Alexandre Dias Pinto e outros, San lhana (Seleção,
organização e adaptação: pela prof. Noélia André)
Consulta da obra na íntegra: h p://arquivopessoa.net/ (ponto 6)