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A.Campos - Ode Triunfal

Português (StuDocu University)

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ESCOLA BÁSICA/SECUNDÁRIA DE CAMINHA


Português - 12ºano

“Ode Triunfal”

Estrutura interna: título


• «Ode» é um cântico grandioso, dedicado a alguém ou a algum acontecimento.
• O adjetivo «triunfal» amplifica o significado de «ode», remetendo simbolicamente para as ideias de Força,
Exuberância e Excesso.
• Assim, «ode» porque é uma composição poética destinada a cantar uma matéria elevada; «triunfal», porque é a
celebração da modernidade, do triunfo da civilização técnica e industrializada.
• O título do poema confere um tom épico à exaltação do Moderno que percorrerá todo o poema.

O título é reiterativo: a ode, é, só por si, um canto em tom sublime, escrito num discurso entusiástico, que exalta
alguém ou alguma coisa. Ao acrescentar-lhe o adjetivo “triunfal”, Campos entra quase no domínio do pleonasmo,
anunciando, logo no título, o tom hiperbólico com que vai celebrar o triunfo da civilização moderna.

Estrutura interna:
➢ 1ª parte (introdução): Localização espácio-temporal (contextualização do canto) – vv. 1-4
«À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica» (v. 1) – numa fábrica, rodeado de
máquinas, à noite e sob a luz forte das «grandes lâmpadas elétricas».

➢ 2ª parte (desenvolvimento) – vv. 5-239:


Exaltação da modernidade, nas suas várias vertentes (indústria, técnica, comércio, sociedade), visando a
identificação com tudo.
➢ 3ª parte (conclusão) – v. 240:
Constatação do fracasso (impossibilidade de identificação com tudo).

1ª estrofe
▪ O sp escreve “mergulhado” no interior de uma “fábrica” iluminado por “grandes lâmpadas elétricas”. A
realidade que o cerca provoca-lhe um estado febril violento “escrevo rangendo os dentes”, resultante de
sensações contraditórias: a “beleza” do que o rodeia é “dolorosa”.
não a beleza tradicional, mas a beleza totalmente
desconhecida dos antigos (estética não aristotélica)
▪ Ação do sujeito poético («proposição»)
«Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, / Para a beleza disto totalmente
desconhecida dos antigos.» (vv. 2-3) – o ambiente inspira-o a escrever (violentamente) um
cântico novo sobre a beleza da civilização moderna. A realidade que o cerca provoca-lhe
sensações contraditórias. Se, por um lado, se deleita a apreciar a beleza do que o rodeia no
interior da fábrica, por outro, essa mesma beleza causa-lhe dor («À dolorosa luz», v. 1).

2ª estrofe
▪ Estado de espírito do eu lírico
Marcas do estado febril, doentio, delirante, que o sp anunciou na estrofe 1 («Tenho febre e escrevo.» (v. 2) e
que estão na origem do seu delírio - vv. 10-12, 15: «Tenho os lábios secos» (v. 10); «E arde-me a cabeça» (v.
12); «Em febre» (v. 15)
Esse delírio tem origem nos excessos do ambiente em que o sp se insere (os movimentos “em fúria” e os
“ruídos” “demasiadamente perto” das máquinas da fábrica) e no excesso emocional (resultado de uma
emoção excessiva, devido ao desejo de acolher todas as sensações, e do seu orgulho em ser moderno,
contemporâneo de uma realidade industrial).

Ano letivo 2021-2022 Profª Luciana Ribeiro

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Português - 12ºano

Sensações
Todos os sentidos concorrem para o estado de alucinação
▪ visuais – vv. 5. 16, 23;
▪ gustativos – vv. 9-10;
▪ auditivos – vv. 10, 11, 24,
▪ olfativos – vv. 30-31;
▪ táteis – v. 25

3ª estrofe
▪ A “Natureza Tropical” é caracterizada como sendo “estupenda, negra, artificial e insaciável!” pondo-se, assim,
em evidência as características da civilização mecânica e industrial, simbolizada pelos motores: ao mesmo
tempo admirável e insondável, sofisticada e sôfrega.
▪ vv. 18-23
– o sp exalta a abolição das fronteiras entre passado, presente e futuro = tempo único, englobante e dinâmico.
- o sp transporta para o presente e para o futuro grandes personalidades do passado – Platão, Virgílio, Alexandre
magno, Ésquilo – estabelecendo entre elas surpreendentes relações de interdependência e de causa e efeito:
se não tivessem existido no passado figuras impulsionadoras como estas, o presente não seria o que é e o futuro
seria diferente. O presente inclui o passado e possibilita o futuro.

Cantar = celebrar.

Ao contrário dos outros futuristas, que rejeitavam todo o tempo que não o futuro, A. Campos defende a fusão
das 3 épocas num só momento.

▪ V. 25
Sintonia perfeita com uma realidade profundamente marcada pela energia, mecânica e pela força.

4ª estrofe
Desejo de total identificação com as máquinas – vv. 26-27 – símbolo da modernidade – ou, na impossibilidade de
concretizar este desejo, “ao menos” poder estabelecer com elas uma relação estranha, eufórica, que chega a raiar
um erotismo delirante e doentio (marcas de sadomasoquismo) – vv. 29-30.

v. 72 (parentético)
Confirma o Sensacionismo de Campos: manifesta o desejo de sentir tudo de todas as maneiras.

vv. 92-104
Procura abarcar, no seu canto, todas as realidades contemporâneas, independentemente do seu interesse.

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Português - 12ºano

Questão 5, p. 102
Poema – incide na exaltação do Moderno
Mas:
➢ Momento em que o sujeito poético reflete sobre a vida e sobre a infância – vv. 182-190
Marcas linguísticas
do arrebatamento
do canto
Progressos - Civilização mecânica e - Léxico relacionado
da ciência e industrial com a indústria e a
da técnica (vv. 5-27, 32, 38-42, 48-51, sociedade moderna
85-92, 102-104, 113-114, (fábrica, máquinas,
197-198, 215-226, 234) incluindo muitos
empréstimos)
- Comércio (vv. 52, 93-100,
- Recursos expressivos
119)
que humanizam as
- Meios de transporte (vv. máquinas e sugerem a
28, 33-37, 149, 153, 192- força e a energia que
Aspetos 196, 215) delas emanam, bem
positivos Entusiamo como o ritmo
- Cidades (vv. 43-47, 53-55, alucinante da
57, 119-120, 127, 215) sociedade:
- Pessoas (vv. 58-71, 154- • apóstrofes (vv. 97-
155, 158-159) 98, 101-104)
• metáforas (vv. 12,
Escândalos da - Hipocrisia /mentira (vv.
16, 19, 30-32, 41…)
Aspetos modernidade 67-68, 79-80) Ironia
• enumerações (vv.
negativos (desencanto do crítica
- Corrupção (vv. 59-61, 73- 113-114…)
quotidiano (denúncia do lado
Exaltação do 78, 121-125) • comparações (v. 26)
citadino, sob o negativo do
moderno • gradações (v. 24)
ponto de vista - Pobreza/miséria (vv. 157, desenvolvimento)
Matéria • aliterações (vv. 3,
do homem da 166, 171-177)
épica 16, 24…)
cidade)
vv. 1-181 - Crime (vv. 81-82) • interjeições e
vv. 191-240 onomatopeias (vv.
- Roubo/pilhagem (v. 168) 5, 119-121, 141,
- Falhanços da técnica, 145, 151, 225,
catástrofes e guerras (vv. 227…)
199-205) - Por outro lado, a
- Pedofilia (v. 69) marcar uma atitude
crítica, a ironia,
concretizada pelo uso
expressivo do:
• advérbio (vv. 59,
61; v. 103)
• adjetivo (vv. 66-67,
73-74)
Aparte Marcas linguísticas
Evocação do tom intimista
nostálgica - discurso parentético
da infância
* - léxico relacionado
vv. 182-190 com a infância e a
natureza

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Português - 12ºano

- frases
inacabadas/uso de
reticências

* Assistimos a uma pausa no ritmo alucinante do poema. Os temas abordados são a fatalidade da morte e a
evocação nostálgica da infância. O sp. parece ter necessidade de “descansar” e, para isso, faz uma “incursão”
através de um ambiente calmo, tranquilo e natural.
O recurso ao discurso parentético justifica-se pelo caráter intimista que o discurso assume (espécie de “aparte”).
Na globalidade do poema, funciona como nota dissonante. A estrofe constitui uma chamada de atenção para a
inconstância do sp. Num poema de apologia impetuosa da força e da modernidade, inclui reflexões pessoais que
denunciam a sua incapacidade de se integrar plenamente no tempo que exalta, refugiando-se na memória do
passado e avançando com observações de tonalidade pessimista que antecipam a sua fase mais intimista e
abúlica.

A partir daqui e até à penúltima estrofe, retoma-se o ritmo alucinante que tinha sido interrompido. Este
desenvolve-se numa gradação crescente (visível nas apóstrofes, interjeições, repetições anafóricas, enumerações,
onomatopeias).

A última estrofe – um monóstico – pode interpretar-se como a confissão, a constatação do fracasso: é evidente a
impossibilidade de realização do desejo expresso pelo sp de total identificação com a realidade que o circunda.

• Relação com a introdução


«Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!» (v. 240) – desejo frustrado de abarcar por inteiro toda a realidade e
toda a humanidade, apesar de todo o esforço literário empregue no cântico. A apetência para experimentar tudo
de todas as maneiras leva-o a querer ser toda a gente ao mesmo tempo. Esta (com)fusão de identidades é o
resultado da vida moderna que assiste à compressão do tempo e do espaço, com as consequências que se
adivinham ao nível da personalidade.

Relação de circularidade: o mal-estar final de frustração assemelha-se ao estado desassossegado


e febril da introdução. O reconhecimento da impossibilidade de «ser […] toda a gente e toda a
parte» leva o eu poético a denunciar a sua desilusão, acabando por concluir o seu texto na mesma
situação em que o iniciou: apenas como observador e cantor épico de uma realidade que lhe é
exterior.

Traços futuristas
➢ Cântico da era moderna e do progresso
«E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso / De expressão de todas as minhas sensações, / Com
um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!» (vv. 12-14); «Ó coisas todas modernas, / Ó minhas
contemporâneas, forma atual e próxima / Do sistema imediato do Universo! / Nova Revelação metálica e dinâmica
de Deus!» (vv. 109-112); …
Elogio, à maneira futurista, da agitação e do movimento próprios da vida moderna; apologia da força, enquanto
critério primordial da beleza, que a obra escrita deve reproduzir. Cântico da civilização moderna, dos avanços
tecnológicos, em que tudo e todos têm lugar na poesia, pelo simples facto de existirem. A Modernidade como nova
“religião”, que merece ser enaltecida, através da poesia.

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Português - 12ºano

➢ Fusão de todas as eras no Momento presente


«Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro, / Porque o presente é todo o passado e todo o futuro»
(vv. 17-18); «Eia todo o passado dentro do presente! / Eia todo o futuro já dentro de nós!» (vv. 223-224); …
O Instante presente é a congregação de todos os tempos: o presente é o resultado de esforços científicos passados
e catalisador dos feitos futuros.

➢ Fusão do eu com a máquina


«Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! / Ser completo como uma máquina!» (vv. 26-27);
«Engatam-me em todos os comboios. / Içam-me em todos os cais. / Giro dentro das hélices de todos os navios.»
(vv. 229-231); «Amo-vos carnivoramente. / Pervertidamente e enroscando a minha vista / Em vós, ó coisas grandes,
banais, úteis, inúteis» (vv. 105-108); …
Declara-se o desejo de identificação com as realidades tecnológicas contemporâneas; concretizando a atitude
provocatória dos futuristas, ao procurar associar o ser humano à revolução técnica. Vontade de fazer parte da
máquina, símbolo da era moderna; relação perversa e erótica com os mecanismos (v. 139, 150).

➢ Fusão de todos os génios nos maquinismos


«E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes elétricas / Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio
e Platão, / E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta, / Átomos que hão de ir ter febre para o
cérebro do Ésquilo do século cem, / Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes
volantes» (vv. 19-23); …
Todos os génios e conquistas do passado contribuíram, de alguma forma, para o avanço civilizacional, daí circularem
nos maquinismos atuais. O tempo é um contínuo: a civilização moderna é o resultado de uma acumulação de
saberes e experiências que o atravessaram como uma herança. O progresso atual é consequência de sucessivas
invenções no passado.

➢ Universalidade
«E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios / De todas as partes do mundo»
(vv. 193-194); …
O eu expande-se numa identificação com todos os locais urbanos: a
era moderna é cosmopolita e sem fronteiras geográficas, daí a
evocação de vários espaços das grandes metrópoles.

➢ Valorização de uma nova forma de beleza «totalmente desconhecida dos antigos»


«Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, / Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.»
(vv. 3-4); «Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical» (v. 15); «Olá tudo com que hoje se
constrói, com que hoje se é diferente de ontem! / Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos! /
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos! / Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos,
aeroplanos!» (vv. 101-104); …
Valoriza-se a «beleza» da civilização moderna, diferente da beleza aristotélica tradicional. O novo conceito de Belo
relaciona-se com as ideias de Força, Dinamismo, Excesso, Modernidade, …

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Português - 12ºano

Traços sensacionistas
➢ Presença dos cinco sentidos
- visão: «e olhando os motores» (v. 15), «Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!» (v. 32);
- paladar: «Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!» (v. 9), «Tenho os lábios secos» (v. 10);
- audição: «r-r-r-r-r-r-r eterno» (v. 5), «ruídos modernos» (v. 10), «Rugindo, rangendo, ciciando» (v. 24);
- olfato: «perfumes de óleos» (v. 31);
- tato: «Fazendo-me um excesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.» (v. 25), «calores» (v. 31).

- vv. 86-91: resumem a importância das sensações na forma como apreende o real.
- v. 91: síntese do Sensacionismo.
No estado de alucinação do sujeito poético intervêm os sentidos, através dos quais o eu lírico procura captar as
sensações provocadas pelas máquinas. Evocação de todos os sentidos, essenciais à produção do canto.

➢ Simultaneidade e exacerbação sensoriais.


«E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso / De expressão de todas as minhas sensações» (vv.
12-13); «Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto, / Rasgar-me todo, abrir-me completamente,
tornar-me passento / A todos os perfumes de óleos e calores e carvões» (vv. 29-31); …
A pluralidade sensorial («Sentir tudo de todas as maneiras») enquanto método de conhecimento da dinâmica
da vida moderna. A intensidade e o sincronismo conferem maior capacidade de captação sensitiva, já que esta
se caracteriza pela sua fugacidade e fragmentação.

Traços disfóricos
➢ Identificação de momentos disfóricos
«(Na nora do quintal da minha casa / O burro anda à roda, anda à roda, / E o mistério do mundo é do tamanho
disto. / Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente. / A luz do sol abafa o silêncio das esferas / E
havemos todos de morrer, / Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo, / Pinheirais onde a minha infância era outra
coisa / Do que eu sou hoje...)» (vv. 182-190) − momento de quebra disfórica no poema.

➢ Temas abordados
Abordam-se os seguintes temas: a rotina diária e a dimensão do mistério do mundo; o descontentamento da
classe trabalhadora; a inevitabilidade da morte; a nostalgia da infância; …

➢ Simbolismo associado a esses momentos


Intercalados nos devaneios frenéticos da ode, estes momentos disfóricos representam o retorno do eu lírico à
dura realidade: a rotina inalterável e monótona; a incapacidade de atingir a verdadeira dimensão do mistério
do mundo; o reverso da medalha do progresso industrial e as duras condições de vida dos trabalhadores; a
evasão para a infância irremediavelmente perdida.
Num poema de apologia impetuosa da força e da modernidade, estes momentos incluem reflexões pessoais
que denunciam a incapacidade do sujeito poético de se integrar plenamente no tempo que exalta, refugiando-
se na memória do passado e avançando com observações de tonalidade pessimista que antecipam a sua fase
mais intimista e abúlica.

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Estrutura, linguagem e estilo

▪ Estrutura externa
Classificação da composição poética – Ode

Classificação estrófica, métrica e rimática - Irregularidade em todos estes parâmetros

▪ Linguagem
▪ Diferentes registos de língua
- Linguagem corrente - «Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!» (v. 26); «Mas, ah outra
vez a raiva mecânica constante!» (v. 191);
- Literária - «O burro anda à roda, anda à roda, /E o mistério do mundo é do tamanho disto.» (vv. 183-184);
- Intercalada com momentos linguísticos marcados pelo excesso, como, por exemplo - «Poder ao menos
penetrar-me fisicamente de tudo isto, /Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento/A
todos os perfumes de óleos e calores e carvões/Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!» (vv.
29-30).
Todos estes diferentes registos têm o intuito de aproximar linguisticamente a poesia à realidade que
exprime, bem como escandalizar, no caso da excessividade linguística.

▪ Campos lexicais
Predominam os campos lexicais de «Indústria»/«Mecânica»:
«Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado! / Ó cais, ó portos, ó
comboios, guindastes, ó rebocadores!» (vv. 197-198).

▪ Estilo
Inovação poética
Rutura ao nível do conteúdo:
- o uso de palavras completamente prosaicas (comuns ou vulgares);
- o canto excessivo da civilização industrial (a «flora estupenda, negra, artificial e insaciável!» [v. 32] das fábricas)
- e a ousadia de abordar alguns aspetos negativos da sociedade («Progressos dos armamentos gloriosamente
mortíferos! / Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!» [vv. 103-104]).

Apresenta rutura ao nível da forma:


- irregularidade estrófica, métrica e rimática, que infringe os cânones literários até então;
- o uso excessivo da coordenação;
- a catadupa de recursos expressivos (onomatopeias ousadas, apóstrofes e enumerações exageradas);
- discurso aparentemente caótico, a sugerir a exaltação descontrolada do eu lírico e a ideologia de que uma nova
realidade pede um novo tipo de poesia.

Estruturas rítmicas
Apesar do comprimento dos versos, predomina o ritmo rápido e frenético, sobretudo devido à pontuação, às
interjeições e às onomatopeias: «Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,» (v. 24); «Ó fazendas nas
montras! ó manequins! ó últimos figurinos!» (v. 97); «Eh-lá-hô» (v. 202);… No entanto, há momentos em que
verso longo confere um ritmo lento à ode («Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão, / E
pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta, / Átomos que hão de ir ter febre para o cérebro do
Ésquilo do século cem» (vv. 20-22); …

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Recursos expressivos/linguísticos/estilísticos (exemplos)


- Apóstrofe – «Ó coisas todas modernas, / Ó minhas contemporâneas, forma atual e próxima (vv. 109-110); …
- Aliteração – «de ferro e fogo e força» (v. 16); …
- Anáfora – «Olá grandes armazéns com várias secções! / Olá anúncios elétricos que vêm e estão e desaparecem!
/ Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem! (vv. 99-101)»; …
- Metáfora – «flora estupenda, negra, artificial e insaciável» (v. 32); «sou o calor mecânico e a eletricidade!» (v.
233); …
- Enumeração – «Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado! / Ó cais, ó portos, ó comboios, ó
guindastes, ó rebocadores!» (vv. 197-198); …
- Gradação – «Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento» (v. 30); «Ruído, injustiças,
violências, e talvez para breve o fim» (v. 204).
- Onomatopeia – «r-r-r-r-r-r-r eterno» (v. 5); «Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá! / Hé-la! He-hô! H-o-o-o-o! / Z-
z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!» (vv. 237-239)
- Interjeição – «Ó» (v. 34); «Ah» (v. 72); «Olá» (v. 101); «Eh» (v. 102), «Eia» (v. 219), …
- Empréstimo – «beton» (v. 102); «rails» (v. 234); …
- Neologismo – «submarinos» (v. 104); «aeroplanos» (v. 104); «árvore-fábrica» (v. 226); …
- Pontuação – Exclamativas e interrogativas: «Eia! sou o calor mecânico e a eletricidade» / Eia! E os rails e as
casas de máquinas e a Europa!» (vv. 233-234); «Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?» (v. 209); …
- Parênteses: «(e quem sabe o quê por dentro?)», v. 66; «(Na nora do quintal da minha casa / O burro anda à
roda, anda à roda […] / E havemos todos de morrer)», vv. 182-190. Os parênteses funcionam como apartes,
desabafos ou expressam reflexões do eu lírico;…
- Tempos verbais – predomínio do presente do indicativo (concatenação/ ligação de todos os tempos) «Nem sei
que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me. / Engatam-me em todos os comboios. / Içam-me em todos
os cais. / Giro dentro das hélices de todos os navios.» (vv. 228-231); …
- Construções sintáticas:
. nominais: «Ó fazendas nas montras! ó manequins! ó últimos figurinos!» (v. 97); …
. gerundivas: «Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando»? (v. 24);…
. infinitivas: «Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime! / Ser completo como uma máquina!»
(vv. 26-27); «Galgar com tudo por cima de tudo!» (v. 236); …

O arrebatamento do canto é conseguido através de…


Além das temáticas que constituem a matéria épica (a exaltação e a celebração da civilização Moderna;
a universalidade dos antropónimos e topónimos; a compressão no Momento presente de todos os
tempos, a integração de todos os tipos sociais na arte poética), o arrebatamento do canto é conseguido
através de vários mecanismos linguísticos e estilísticos, nomeadamente: poema longo com versos
livres e amplos; grandiloquência (visível nas frases exclamativas e interjeições); ritmo esfuziante e
torrencial; exaltação épica do mundo mecânico e cosmopolita (visível nas apóstrofes e enumerações);
abundância de recursos expressivos; euforia épica (visível, por exemplo, nas onomatopeias); …

(in Mensagens 12)

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Português - 12ºano

Questão 6, p. 102

Perfil marcado pela oscilação entre duas atitudes:

➢ Euforia – inspirado pela fábrica (v.1), canta o Moderno de forma febril, entusiasta, enérgica e arrebatada;
sensacionista, pretende sentir tudo, identificar-se com tudo (pessoas, máquinas, tempos), num misto de volúpia
e vertigem.
➢ Descrença/pessimismo – evoca nostalgicamente a infância; mesmo no arrebatamento do canto, revela
criticamente os aspetos negativos da sociedade moderna (mesmo identificando-se com eles).

Questão 7, p. 102 - Relação entre a “Ode triunfal” e a lírica tradicional

Relação de contraste/rutura no plano do/da

Conteúdo: Forma:
Exaltação dos aspetos positivos e negativos - Irregularidade estrófica, métrica e rítmica;
do Moderno, encarado como matéria épica – - opção pela coordenação em detrimento da
máquina, civilização industrial. subordinação;
- predomínio de vocabulário técnico, destituído de
valor poético.

Nota:

Diferença entre
- as odes de Ricardo Reis: poemas líricos, divididos em estrofes semelhantes entre si pelo número e medida de
versos
e
- a “Ode triunfal”: composição em longos versos brancos, alternados com versos curtos, sem métrica regular.

Questão 7.1, p. 102 - Expressividade das onomatopeias


As onomatopeias representam os ruídos modernos, intensificando o arrebatamento do canto. Trata-se de
onomatopeias arrojadas, que contribuem para a rutura em relação à literatura tradicional.

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