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“O sentimento dum ocidental”,

de Cesário Verde

Análise do poema (4 partes) pelo 12.º D


Cesário Verde
(1855-1886)
Visão global e estrutura de «O sentimento dum
I ocidental»
II
“Ave Marias”
“Noite fechada”
Inicio da deambulação
Recolha de impressões
(exterior e interior) do
durante a digressão pela
sujeito poético pela
cidade, agora já de noite.
cidade de Lisboa, ao
entardecer.
III
IV “Ao gás”
“Horas mortas” Continuação da digressão
Fim da deambulação do do sujeito poético, à luz
sujeito poético na noite dos candeeiros a gás, a
profunda. iluminação pública de
então.
Parte I
Ave Marias

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Referência espacial: ruas da Fim da tarde
cidade (nossas – cumplicidade Referência temporal: toque
com o leitor/tom coloquial) dos sinos (as Ave-Marias),
às18:00
Fim do trabalho
Os operários regressam a
Nas nossas ruas, ao anoitecer, casa
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia Sentimentos de tristeza e
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer. melancolia – ambiente das
ruas
Enumeração de elementos
que provocam sofrimento no Caracterização do desejo pelo próprio
“eu” (sensações visuais, sujeito poético como “absurdo” (simpatia
auditivas, olfativas) pelas personagens que povoam o espaço
descrito e subjetividade)
Descrição do ambiente da cidade
(céu, gás, edifícios, turba)
Sensações visuais e olfativas
O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.
Estado de alma do “eu”
(narrador): enjoo, náusea,
tristeza, mal-estar
provocado pelo cheiro a gás
da iluminação e pela cor
Infere-se o aproximar da noite (iluminação a sombria da cidade
gás, edifícios onde se prepara o jantar,
pessoas a caminho de casa – turba/multidão)
Batem os carros de aluguer, ao fundo, Movimento/ação
Levando à via-férrea os que vão. Felizes! Os carros que batem –
Ocorrem-me em revista exposições, países: caos e ruído
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo! Direção: via-férrea:
comboios que partem e
levam os “felizes”
(subjetividade do “eu”)
Desejo de evasão
Também o Poeta
desejaria partir Cidades
europeias Partir = ser feliz;
civilizadas e Sair da “prisão” da
modernas cidade
Referência temporal: “ao
cair das badaladas”
Semelham-se a gaiolas, com viveiros, (velha tradição,
As edificações somente emadeiradas; anunciando o fim do
trabalho com o toque
Como morcegos, ao cair das badaladas, dos sinos)
Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.

Transfiguração do real
Comparações
Imaginário do Poeta

Descrição de um espaço social único: o da classe dos trabalhadores, dos operários


Casas de madeira que parecem gaiolas com viveiros = aprisionamento dos habitantes da
cidade
Os carpinteiros saem do trabalho = sugestão de abandono em massa do espaço de
trabalho, “de viga em viga”
Regresso dos
trabalhadores/operários a
Voltam os calafates, aos magotes, casa, “aos magotes”
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos; (multidão)
Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelo cais a que se atracam botes.
Descrição das personagens:
operários magros, sujos, cansados
O adjetivo “secos” reforça a dureza
Versos narrativos do repórter de rua do trabalho que não os deixa
Tom subjetivo e intimista, na 1.ª engordar; todos os adjetivos
pessoa, de um observador acidental, contribuem para o destaque da sua
atento aos espaços e ao movimento, condição social.
com recurso aos cinco sentidos

Deambulação do sujeito poético


pelos becos, boqueirões, cais
Expressividade do
E evoco, então, as crónicas navais: discurso
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado! Tom emocional do “eu”
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!

Exclamações denunciam
uma intenção crítica e
depreciativa do sujeito
Memória/reflexão do “eu” poético
poético face à atualidade
Tempo de evasão: o tempo dos
da escrita do poema
Descobrimentos

Imaginário épico
Intertextualidade com Camões e Os Lusíadas
E o fim da tarde inspira-me; e incomoda! Duas reações opostas
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinir de louças e talheres
Flamejam, ao jantar, alguns hotéis da moda.
O sujeito poético afirma
que se sente
Referências temporais incomodado com o fim
da tarde

Dois espaços: no mar/rio e em terra


Infere-se a presença de ingleses num couraçado
(navio de guerra)
Nuns hotéis serve-se um jantar requintado *
* Uma cidade de contrastes sociais
Descrição das ações de
Num trem de praça arengam dois dentistas; diferentes personagens
Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!
São várias as figuras
que o sujeito poético
observa do ponto em
que se encontra, na
rua.

O Poeta revela simpatia pelos


desfavorecidos e hostilidade para com
os bafejados pela sorte. Parcialidade do Poeta: defesa dos
desfavorecidos (contrastes sociais).
O “eu”, observador atento
da movimentação das
Vazam-se os arsenais e as oficinas;
ruas da cidade, no final da
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras; tarde, continua a
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras, enumerar as várias figuras
Correndo com firmeza, assomam as varinas. que vão deixando os
locais de trabalho.

Destaque para as varinas


Metáfora “cardume negro” = grupo enorme
vestido de preto; associação com o peixe que Os operários de
vendem arsenais, oficinas, as
mulheres trabalhadoras
e as varinas.

Parcialidade do Poeta: o sujeito poético mostra ter consciência da vida miserável das
varinas, mas também de que elas não têm consciência disso (a felicidade está na ordem
inversa da consciência).
Descrição e análise das
varinas
Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
As varinas são mulheres
Os filhos que depois naufragam nas tormentas. fortes e agitam as ancas
enquanto caminham.
Embalam os filhos, que
dormem nas canastras, à
O sujeito poético antevê a desgraça dos filhos, cabeça, onde costumam
quando estes crescerem. transportar o peixe.

O Poeta, consciente, sofre pelas varinas, que não


revelam ter consciência da realidade que as afeta.
Expressividade/emotividade do “eu”
Ainda sobre as varinas e os
espaços que frequentam
Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infeção!
Condição
social de
miséria e
Falta de condições de trabalho e de vida doença
deste grupo social: crítica do Poeta

Sinestesia: combinação ou fusão de diversas


impressões sensoriais (visuais, olfativas, auditivas,
gustativas e tácteis).
Atividade de pares (consultar Classroom):

1 Ler as estrofes selecionadas de «O sentimento dum


ocidental».
Analisar o conteúdo e a forma (responder a questões de
2 um guião). Organizar as informações em diapositivos
deste Google Slides.
Ler as estrofes e apresentar à turma a sua
3 análise.
Parte II
Noite fechada

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Referência espacial:
espaço de evasão locais onde ocorreram
práticas repressivas; (Inquisição)

Duas igrejas, num saudoso largo Relembra a


Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero história do clero,
com um ponto de
Nelas esfumo um ermo inquisidor severo
vista negativo;
Assim que pela história eu me aventuro e
alargo
Desejo de compensar o sofrimento
O poeta demonstra o que parece ser (realidade negativa) através da
história;
pouca simpatia pelas igrejas e clero
devido às práticas e acontecimentos
Francisco Medeiros
feitos no passado;
Guigas Figas Pas Amigas
Francisco Medeiros
Gui pato
Referência de tempo:
Aventura-se na história
até 1755;

Na parte que abateu no terremoto,


Muram-me as construções retas, iguais, crescidas;
Afrontam-me, no resto, as íngremes subidas,
Construções que
E o sinos dum tanger monástico e devoto
surgiram devido ao
terramoto.
(reconstruções da cidade
Sente-se murado, organizadas por Marquês
emparedado (na parte de Pombal);
Que lembra os mosteiros, reconstruída da cidade).
demonstrando desagrado à afrontados nas subidas
íngremes e ambiente
Igreja, pela audição;
religioso (toques dos sinos);
O poeta procura respostas para os
problemas no passado; Referência espacial:
Descrição de um jardim, um
lugar agradável;
Mas, num recinto público e vulgar,
Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras
Brônzeo, monumental de proporções guerreiras,
Um épico de outrora ascende, num pilar!

Apresentação de
uma estátua,
Estátua de representando uma
Camões feita em personagem épica
bronze (Brõnzeo) do passado, com o
objetivo de a
Francis dos barcos homenagear;
Guigas tens comidaa?
Parte III
Ao Gás

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E eu que medito um livro que exacerbe, O sujeito exprime o seu
Quisera que o real e a análise mo dessem; desejo de escrever um
Casas de confecções e modas resplandecem; livro que caracterize
Lisboa de forma realista,
Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe. ou seja, que tenha presente
os contrastes entre as
classes nobres e as menos
favorecidas e Lisboa
Contraste entre as “casas de despida da sua glória.
confecções e modas” que são
frequentadas pelas classes altas e
ricas com o “ratoneiro imberbe” (um
gatuno) que olha pelas vitrines, que
representa as classes menos
favorecidas.

Madalena e Luana
Longas descidas! Não poder pintar O sujeito poético expressa a
Com versos magistrais, salubres e sinceros, sua insatisfação em não
A esguia difusão dos vossos reverberos, poder “pintar” a cidade de
Lisboa com grande
E a vossa palidez romântica e lunar! esplendor, pois esta está
repleta de perigos.

O desejo do “eu” poético de escrever uma Lisboa real e que tenh

Madalena e Luana
Que grande cobra, a lúbrica pessoa,
Que espartilhada escolhe uns xales com debuxo! O sujeito poético fica
surpreso por esta
Sua excelência atrai, magnética, entre luxo, personagem feminina
Que ao longo dos balcões de mogno se amontoa. e pela forma que se
apresenta

Madalena e Luana
Enumeração de
Referência espacial elementos que
Caracterizando o tipo de descrevem as
locais que observava sensações visuais
do sujeito poético.

“Dó da miséria!… Compaixão de mim!…”


E nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso,
Pede-me sempre esmola um homenzinho idoso,
Meu velho professor nas aulas de latim!

Crítica social à sociedade


Que deixou um homem que trabalhava
Sentimento de arduamente e tinha uma profissão de prestígio
compaixão para com sem qualquer respeito ou reconhecimento pelo
o senhor seu trabalho. Tornando-se, tal como a cidade
outra imagem de decadência

Mariana e Matilde
Representa uma classe
E aquela velha, de bandós! Por vezes, social que são os pequenos
burgueses(cliente
A sua traîne imita um leque antigo, aberto, estrangeira de muito
Nas barras verticais, a duas tintas. Perto, importância)
Escarvam, à vitória, os seus mecklemburgueses.

Ostentação dos pequenos burgueses(vestido com traîne: acrescento farto e longo, a arrastar pelo
chão)
Desdobram-se tecidos estrangeiros;
Plantas ornamentais secam nos mostradores;
Flocos de pós de arroz pairam sufocadores,
E em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros.
Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes
Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco;
Da solidão regouga um cauteleiro rouco;
Tornam-se mausoléus aa armações fulgentes.
Parte IV
Horas Mortas

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Subtítulo Horas Mortas-Toda a população voltou a casa já não há movimento nem agitação, as ruas estão
vazias.

O teto fundo de oxigénio, de ar,


Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;
Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras,
Enleva-me a quimera azul de transmigrar.

Vontade de mudar de vida e acabar com o


sofrimento.

Mariana e Matilde
Por baixo, que portões! Que arruamentos!
Um parafuso cai nas lajes, às escuras:
Colocam-se taipais, rangem as fechaduras,
E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos.

Mariana e Matilde
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