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Contextua I ização

Leitura

1. Lê os dois textos que se seguem, anotando, no teu caderno, tópicos que sintetizem a
Leitura informação mais relevante;
L8.1. Selecionar criteriosamente in-

Os na ufrág ios nos sécu los XVI e XVII


formação relevante.
L8.2. Elaborar tópicos que sistemati-
zem as ideias-chave do texto, organi-
zando-os sequencialmente.
Entre o fim do século XVI e meados do século XVII, uma crise profunda e de vastass
dimensões afeta as estruturas básicas e ameaça a própria sobrevivência do sistema so- ~
cio económico português, essencialmente fundado no comércio com o ultramar. O des-
concerto generalizado que daí deriva tem obviamente, também, os seus reflexos ime-
5 diatos nos modos de gestão das rotas marítimas, setor onde a crise se manifesta por um

aumento considerável de naufrágios, devido ao mau estado de manutenção ou à pressa


com que se armavam as naus, à imperícia de quem as comandava e conduzia (visto que
o êxodo de oficiais e pilotos deixava espaço a inexperientes e presunçosos díletantes), à
especulação desenfreada que as sobrecarregava para além dos limites de segurança, à
10 indiferença pelas normas que regulavam os períodos e as rotas favoráveis e, finalmente,

aos ataques dos corsários ingleses, holandeses e franceses contra os quais as possibili-
dades de defesa eram mínimas por parte de navios mal conservados e pior armados.

dos Séculos XVI e XVII, Lisboa, lep, 1979 [pp. 28-29]

Os relatos de naufrágio
A longa rota percorrida pelos navios portugueses desde a viagem de Vasco da Gama,
entre Lisboa e a Índia, por via do Cabo da Boa Esperança, transformou-se, por vezes,
num palco de catástrofes. De acordo com as estimativas feitas, admite-se que nos sécu-
los XVI e XVII naufragou um navio em cada cinco dos que partiram com destino à Índia.
5 Se limitarmos o período ao século XVI e à primeira metade do XVII, a percentagem de

perdas atingiu quase 25%.


Quando a tragédia permitia que os náufragos chegassem a alguma terra ou ilha e
dali voltassem à Índia ou atingissem, caminhando, algum local onde pudessem recorrer
a outro navio, o acontecimento, depois de ter sido contado pelos sobreviventes, ficava
10 registado pelas próprias testemunhas ou por alguém que tivesse mais habilidade na re-

dação. Nas páginas das narrativas enumeravam-se as causas dos naufrágios [ ... ]. Tam-
bém se revelavam as situações psicológicas dos tripulantes e passageiros desorientados
e desesperados e o comportamento dos homens que tinham enfrentado os perigos, a
agonia e a morte, tanto na aflição do naufrágio, em que gritavam e recorriam ao socorro
15 divino na confusão do momento extremo, mostrando o individualismo dos homens ex-

posto na tentativa de salvação, como no sofrimento da peregrinação fatigante e perigoso


em terras africanas inóspitas. Desta forma nasceu um género literário característico,
que se baseia em experiências verdadeiras e que consistia nos relatos de naufrágios, ca-
tivando os leitores com os seus episódios impressionantes e aterrorizadores [ ... ].
20 Afirma-se que a História Trágico-Marítima se salienta de um modo específico na
Cultura Portuguesa, apresentando o seu lado escuro / sinistro, constituindo o reverso da

332

2.
3.

4.

Contextualizaçã 7. História Trágico-Marítima


o

Leitura I Educação Literária


Graça Morais (1948)
l7.2 Fazer inferências [ ... J.
l8.1. Selecionar criteriosamente in-
· Pintora, cenógrafa e
ilustradora por-
formação relevante.
tuguesa
E116.1. Reconhecer a contextualiza-
ção histórico-literária nos casos pre-
· Agraciada com o grau
Grande Ofi-
vistos no Programa.
cial da Ordem do Infante D. Henri-
que (1997)
· Temáticas principais:
retratos de mu-
Livro de Lisuarte de A breu [Livro
lheres, representações de brinque-
das Armadas}, 1563
· Códice com a relação
dos, temas ligados à lavoura e a vida
Uma História Trógico-Marítima
campestre
ilustrada das (2005)
armadas da Indla, desde Vasco da · Uma das pinturas
Graça
GamaMorais,
(1497)Uma História
até D, Jorge Trágico-Marítima,
de Sousa 2005 centrais da exposi-
(1563) ção "Os Olhos Azuis do Mar'; que
· Conteúdo: diários de abriu oficialmente o Centro de Artes
visão épica / heroica, mostrando-nos o aspeto sórdido do comércio, da conquista e da
viagem, lista de 5ines, em novembro de 2005
navegação perpetuados nas Décadas e nos Lusíadas e podendo ser considerada como
de governadores e vice-reis da lndia, Poderá ser consultada informação so-
2. Contexto dedas
representação produção
armadasdos rela- bre esta pintora no sítio do Centro de
uma "anti-epopeia dos Descobrimentos': [ ... )
tos: Arte Contemporânea - Graça Mo-
· publicados entre 1552 e rais: httpJ/centroartegracamorais.cm
25 Este género de literatura satisfez o gosto do público por diversas razões. Em primeiro
1602, após -braganca.ptlPageGen.aspx
os naufrágios; 1.1. a. Crise socioeconómica, com
lugar,
· o dramatismo do relato mais antigo, ou seja, o do naufrágio do galeão grande São
escritos por sobreviventes reflexos ao nível da gestão das rotas
João, impressionou os leitores de tal forma que, além de ter despertado o interesse por
ou por in- marítimas.
dividuos com alguma cultura que b. Mau estado de manutenção das
narrações deste tipo, ficou conhecido como um paradigma do género. Em segundo
ouviram o relato dos acontecimen-
naus; pressa com que se armavam as
tos feito por sobreviventes.
lugar, uma vez que todos os portugueses participavam quer direta quer indiretamente
Contexto de circulação dos relatos:
naus; imperícia dos pilotos; sobrecar-

30 na ·
ga das naus; indiferença pelas nor-
aventura do ultramar e nas suas catástrofes, desejava-se ansiosamente saber a descri-
inicialmente: publicados mas que regulavam os períodos e as
em folhetos
rotas favoráveis; incapacidade de de-
ção dos acidentes em que poderia estar envolvido algum familiar, conhecido ou amigo.
avulsos e divulgados após os naufrá- fesa relativamente aos ataques dos
gios;
Como
· terceira finalidade, podemos considerar a
século XVIII: compilados
pois as causas dos sucessivos
didática, corsários.
C. Causas dos naufrágios; situações
infortúnios cruamente apontadas serviriam de manual de naufrágios, para que outros
por Bernar-
psicológicas dos tripulantes.
do Gomes de Brito, em dois volu-
d. Emotiva (dramatismo dos aconteci-
se acautelassem contra futuros desastres e soubessem não só os perigos que poderiam
mes, publicados em 1735 e 1736;
· atualmente: originais
35 vir a enfrentar, dando ênfase aos riscos evitáveis, resultantes da enorme ganância e da
mentos narrados); sociológica (neces-
sidade de saber notícias de familiares
dispersos por
ou amigos); didática (ensinamentos
irresponsabilidade dos homens, como também às possíveis atitudes a tomar em caso de
várias bibliotecas nacionais e estran-
transmitidos aos futuros marinheiros).
geiras.
perdição e de peregrinação em terra desconhecida. Além disso, por descreverem o com-
2,1. Valor documental: caracteriza-
ção do contexto sociocultural da épo-
portamento humano, em que se misturam o orgulho, a arrogância, a cupidez, o egoísmo,
ca. Valor literário: representação do
o altruísmo e a renúncia, mostravam vivamente tanto a brutalidade como o heroísmo
perfil dos navegadores portugueses
do século XVI de forma original, com
40 nas situações que relatam.
base na articulação entre os níveis da
diegese (história) e do discurso (ex-
Kioko Koiso, http://cvc.instituto-camoes.pt/navegaport/f04.html [Consult. 03-1 0-2014, com supressões]
pressão/relato da história).

1.1. Com base nos dois textos lidos, completa o esquema abaixo, no teu caderno.

Contexto socioeconómico português (séculos XVI-XVII)

a.

Aumento de naufrágios

Causas: b.

Relatos de naufrágio

Conteúdo temático: c. I Funções (objetivos): d.


334 333
5.
Modelo-base Variante alternativa
1. Antecedentes: exposição, geralmente 1. Antecedentes: exposição, geralmente
sintética, dos acontecimentos que sintética, dos acontecimentos que 7. História Trágico-Marítima
precederam a partida da viagem precederam a partida da viagem funesta.
funesta. 2. Partida: circunstâncias em que se verifica a
2. Partida: circunstâncias em que se
1. Com base nos textos abaixo, explicita as principais características do contexto de
partida, condições da nau e características
2. verifica
Lê o texto abaixo,
a partida, quedatem
condições produ-
naucomo
e foco a organização da da
da carga; início matéria narrada nos relatos de
navegação.
características da carga; início da ção e circulação
naufrágio. dos relatosdescrição
3. Tempestade: integrados na Históriaem
da tempestade Trágico-Marítima.
3.1. Relatos de naufrágios como tex-
navegação. que a nau se encontra envolvida e dos danos tos caracterizados:
3. Tempestade: descrição da tempestade que daí derivam. · pela adoção de um
História
Modelo narrativo dos Trágico-Marítima
relatos de naufrágio
em que a nau se encontra envolvida e 4. Ataque corsário: relato da parcial modelo já exis-
tente, que leva a que tenham carac-
dos danos que daí derivam. destruição da nau por obra de navios terísticas comuns, ao nível do tema,
4. Naufrágio: narração do afundamento A Históriainimigos (respetivamente
Trágico-Marítima é holandeses,
uma coleção de nar- da estrutura
Jli.RM /\])'FJJeEC}Q>I'rn.ÊSJ\N
do estilo; OD 1\
da Os
nau,relatos de naufrágios
em seguida constituem, na literatura
aos danos sofridos. franceses eportu-
turcos). ·
S o~ ~,),.(1..,,..
pela apresentação de
~
rativas, conhecidas por "relações'; NAUFRAGIO
de naufrágios ocorri- características
5.guesa dos chegada
Arribada: séculosaXVI-XVII,
terra dos um corpus de5.textos
Captura:dotado de da nau portuguesa e
sequestro específicas, distintas das do modelo
sobreviventes e primeiro dos entre 1552 e 1602de
dificuldade com navios ~portugueses.
paJJoII Estas
uma notável homogeneidade no plano da organização da sobrevivência dos escapados.
JORGE DE ALBUQ.UERQ.UE
por que se regem (daí, por exemplo,
acampamento. "relações"6.eram normalmente
Impiedade publicadas
dos inimigos: COELHO em
descrição dasfolhetos a existência de uma variante).
matéria narrada, mas também de características específicas 3.2. Variante alternativa (na medida
6. Peregrinação: itinerário dos náufragos ações bárbaras e desumanas exercidas
5 pouco tempo após os naufrágios. Os que as escreve-
Vinda do Braz.il pelos
para tjle RrJflo fiO
em que inclui um ataque corsário -
5 que justificam perplexidades quanto à sua precisa definição
vencedores. afino de IS6S. -
ao longo da costa em direção à mais ver p. 343).
ram, ora são sobreviventes dos naufrágios, ora indiví-
nopróxima
âmbitopossessão
da história literária. Considerados
portuguesa. por vezes
7. Retorno: uma a salvo dos escapados e
chegada
7.expressão
Retorno: chegada duos de certa seucultura a quem foram contados os por-
menor adosalvo dos cronístico
género repatriamento.
[ ... ], outras vezes uma
escapados e seu repatriamento. menores dos mesmos por algum sobrevivente, No
particular modalidade da literatura de viagens, ou ainda uma
século XVIII, Bernardo Gomes de Brito decidiu reunir
literatura de consumo e, por isso mesmo, inferior, ou, enfim,
10 em dois volumes todas essas relações, sendo publicado
10 uma espécie de reportagem jornalística [ ... ], os relatos de ESCRITO
o primeiro em 1735 e o segundo em 1736, Dá-nos notí-
Poa BENTO TE1XE1RA P1NT-O
naufrágios sempre forneceram, todavia, matéria de reflexão ~c fc no d:t~o N2Ufr:tgio. 2COOU

cia Diogo Barbosa Machado que o compilador tinha


pelo favor de que gozaram junto do público português [ ... ].
prontos para impressão mais três volumes, que não Armada de Pedra Alvares Cabral,
Tais unidades de conteúdo ou elementos constitutivos do relato de naufrágio deli-
in Livro de Lisuarte de Abreu
chegou a publicar. O relato mais famoso é a Relação da
neiam-lhe o modelo narrativo e podem ser sumariamente indicadas como segue: [Livro das Armadas], 1563
15 mui notável perda do Galeão Grande S. João, que terá
Vocabulário náutico
influenciado Camões no Canto IV de Os Lusíadas.
Projeto Vercial, in http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/sepulved.htm [Consult. 07-10-2014]
Contextualização

Valor documental e literário


Os originais destes textos estão dispersos por várias bibliotecas nacionais e es-
trangeiras. Reproduzem, fielmente, as atribuladas viagens dos portugueses que dei-
xavam o reino ou a ele regressavam e descrevem, com grande pormenor realista e ci-
nético, os vastos cenários de impiedosas procelas e toda a sorte de padecimentos
5 físicos e espirituais que atormentavam os navegantes lusitanos, que enfrentavam a

fúria dos cruéis mares e ainda as penosas caminhadas por terras de cafres. [ ... ]
Estes textos, para além de interessantes documentos históricos, onde se obser-
vam e analisam vastos painéis socioculturais da época, que nos deixam entrever os
conceitos de vida, morte e sobrenatural das gentes do mar, constituem igualmente
10 um importante referente literário, capaz de retratar, com originalidade, através dos

níveis da diegese e do discurso, o perfil do navegante português de Quinhentos, objeto


primordial das atenções dos narradores, alguns deles testemunhas presenciais dos
episódios
Giulia Lanciani, que
Op. cit. [p. 24, relatam.
com supressões; esquema adaptado a partir das pp. 56-57]

Pedra Balaus Custódio, "História Trágico-Marítima'; in Biblos - Enciclopédia Verbo das Literaturas
3.1. Tendo em conta o sentido global do excerto, explícitadeaLíngua
informação
Portuguesa,veiculada pelaPaulo, Verbo, 1997 [pp. 1060-1061, com supressões]
VaI. 2, Lisboa/São
primeira frase (11.1-6).
2.1.integrados
3.2. Com base nos títulos dos textos A partir danesta
informação
unidadeapresentada no 347),
(pp. 338, 343, segundo texto, explicita o valor documental
indica
o modelo narrativo seguido em "Ase literário dosaventuras
terríveis relatos dedeviagem.
Jorge de Albuquerque
Coelho (1565)':
Informação 335
Cv. cevadeira (vela que pendia de uma verga A. amarra
atravessada no gurupés)
a. amantilhos
6. escotas
CH. chapitéu
E. escovém
7. gávea (G.g.- gávea grande; G.p. gávea de
9. enxárcias (conjuntos de cabos fixos que,
para um e para o outro bordo, aguentam
proa)
os mastros reais, descendo até às mesas)
8. traq uete (mais baixa e maior vela redonda e. escovém
do mastro de popa)
G. gurupés
V. G. vela grande
M. mesas das enxárcias
castelo de proa: parte extrema da proa
ponte: convés 10. verga (pau preso ao mastro do navio em que
beque: parte mais avançada da proa se prendem as velas)
V. G. verga grande
V. g. verga da gávea grande
V. T. verga do traquete

alijar: atirar; deitar fora. chicote: extremidade de qualquer cabo.


almadia: embarcação pequena e estreita, feita de cobertas: cada um dos diferentes pavimentos ou
uma só peça. andares do navio.
amainar (urna vela): colher uma vela, para que costado: parte exterior da nau, acima da linha
deixe de receber vento e de influenciar na marcha de flutuação.
do navio.
espadela: remo comprido empregado como leme.
amarra: cabo grosso que se prende à âncora, para esquife: embarcação pequena, menor do que o
fundear o navio. bate!.
arribar: afastar a proa do navio da linha do vento. estibordo: lado do navio que corresponde à direita
baixo: parte do mar em que a água é pouco
de quem está voltado para a proa.
profunda.
fazenda: bens; mercadorias.
barlavento: lado de onde sopra o vento.
batel: embarcação maior do navio, que ia tope: extremo superior do mastro.
acomodada no convés da nau. xareta: rede que se colocava ao longo do navio para
bombordo: lado do navio que corresponde à dificultar a entrada do inimigo.
esquerda de quem está voltado para a proa. zabra: embarcação pequena.
braça: medida de oito metros. zonchadura: ato de zonchar / dar à bomba.

336 Elaborado com base em História Trágico-Marítima, Narrativas de Naufrágios da Époco das Conquistas
(adapt. António Sérgio), Lisboa, Sá da Costa [pp. 136-143]
11.

Aventuras e desventuras dos Descobrimentos

Observa o texto analisado, em que se identifica o tema, as ideias principais e o universo de


Educação
referência de um excerto do capítulo V da História Trágico-Marítima. Educação Literária
Literária
EL 14.2. Ler textos literários portu-
A tempestade
0
gueses de diferentes géneros. per-

Educação Literária As Ilhas - 3· tencentes aos séculos XII a XVI.


EL 14.3. Identificar temas, ideias
Tema: tempestade prin-
Às dez, escureceu por completo; parecia noite. O negro cipais [ ... ] e universos de
1. Ouve
mar, em redor, todo se cobria de espumas brancas; o estrondo Universo de referência:
a
referência,
viagem de regresso de justificando.
era tanto, - do mar e do vento, - que uns aos outros se não ou- Jorge de Albuquerque e
leitura EL 14.4. Fazer inferências,
fundamen-
viam. dos restantes nautas a
tando.
Portugal, por mar, em 1565
Nisto, levanta -se de lá uma vaga altíssima, toda negra por EL 14.9. Identificar e explicitar o
valor
baixo, coroada de espumas; e, dando na proa com um borbo- expressiva do poema "As !ElPPT dos recursos expressivos
Ideias principais: Ilhas - menciona-
tão' do vento, galga sobre ela, a submerge, e arrasa. Estron- História Trágico-Marítima - Texto ana-
· Danos 3" de dos no Programa.
deando e partindo, leva o mastro do traquete com a sua verga provocados Sophia lisado
e enxárcia; leva a cevadeira, o castelo de proa, as âncoras; esti- pela tempestade de Mello Breyner Andresen.
(visualismo da descrição
lhaça a ponte, o batel, o beque", arrebatando pessoas, manti-
À luz do aparecer a

1
- enumeração;
mentos, pipas. Tudo se quebra e lá vai no escuro. A nau, até o presente histórico)
madrugada
mastro grande, fica rasa e submersa, e mais de meia hora de-
Iluminava o côncavo de
baixo de água.
ausentes
Os sobreviventes, que se arrastavam pávidos, confluem a · Reação dos
Velas a demandar estas
sobreviventes:
um padre que se acha a bordo e atropela as rezas e as confis-

1
desespero; confissões
1.1. Relaciona
sões. Um relâmpago risca, ilumina as ideias todos
atreva: veem-se expressas
de no poema com a temática desta unidade - Aventuras e
públicas de pecados
desventuras dos Descobrimentos.
joelhos, com as mãos no ar, a pedir misericórdia e a clamar por
Deus. paragens
Jorge de Albuquerque, como de costume, falava aos outros · Reação do
capitão,
para lhes dar coragem. Confiassem em Deus, - e ao mesmo Aqui desceram as âncoras
Jorge de Albuquerque
tempo fossem dando à bomba, esgotando a água que invadira (calma, firmeza na escuras
liderança)
o convés. Daqueles que vieram
paisa
História Trágico-Marítima, Narrativas de Naufrágios da Época das Conquistas
gens
procurando
(adapt. António Sérgio), Porto, Porto Editora, 2009 [p. 124]
EL 14.2. Ler textos literários portu- O rosto real de todas as figuras
L borbotão: lufada. 2. beque: parte mais avançada da proa. E ousaram - aventura a mais
gueses de diferentes géneros, per- românticas
tencentes aos séculos XII a XVI. incrível -
EL 14.3. Identificar temas, ideias prin-
1. Semelhanças entre o poema e o Viver a inteireza do possível
espírito dos Descobrimentos:
cipais, pontos de vista e universos de
1977
Integrado no capítulo V - "As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho (1565)';
Sophia de Mello Breyner Andresen,
este texto apresenta as seguintes características: Navegações, in Obra Poética, Lisboa,
Caminho, 2011
· foca um acontecimento verídico, com um carácter dramático, suscetível de emocionar
a opinião pública, associado às aventuras e desventuras dos Descobrimentos (neste
caso, uma tempestade em alto mar);

· os acontecimentos narrados apresentam semelhanças relativamente aos acontecimen-


tos contados noutros relatos de naufrágios (descrição da tempestade em que a nau se
encontra envolvida e dos danos que daí derivam, apresentação de cenas de desespero
e confissões públicas de pecados);

· em termos estilísticos, recorre-se ao presente histórico ("levanta-se", "leva'; "estilhaça'') e


à enumeração, frequentemente assindética ("estilhaça a ponte, o batel, o beque, arreba-
tando pessoas, mantimentos, pipas"), imprimindo ritmo e dramatismo ao relato.
ENCIOEPU2
337
· universo de referência: navegação,
referência, justificando. viagem;
EL 14.4. Fazer inferências, · atitudes humanas: gosto pela via-
fundamen- gem; ousadia; ânsia de descoberta
do desconhecido; aceitação e fruição
do carácter incerto da vida.

tando.
El14.S. Analisar o ponto de vista das
diferentes personagens.
El16.2. Comparar diferentes textos
no que diz respeito a temas, ideias e
valores.

William Turner (1775-1851)


· Pintor romântico inglês
· Facada em estudos sobre cor e
luz
· Temas predominantes:
William Turner, Amanhecer com monstros
marinhos, c. 1845
338 13. Lê o excerto inicial do relato "As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho

(1565)':

Antecedentes e início da viagem


Como se sabe, no tempo do rei D. João III foi o Brasil dividido em capitanias, cada
uma concedida a um donatário. A de Pernambuco, uma das que primeiro se povoaram
e que logo alcançou grande importância, coube a um fidalgo de reto espírito, nobre,
perseverante, trabalhador, que tinha por nome Duarte Coelho. Parece que dispunha de
5 consideráveis recursos e é de supor que esses seus haveres fossem o resultado de traba-

lhos longos que passou em África e no Oriente. Alcançada a mercê real, transferiu-se
logo para o Brasil, acompanhado de muitos dos seus parentes. Sob a sua hábil adminis-
tração, a capitania prosperou. Passados alguns anos, resolveu vir até à metrópole, a fim
de angariar colonos novos e contratar industriais competentes com que pudesse desen-
10 volver a sua empresa. Confiou a um seu cunhado, Jerónimo de Albuquerque, o governo

da capitania, e embarcou acompanhado de seus filhos: Duarte de Albuquerque Coelho


e Jorge de Albuquerque Coelho, que tivera de sua mulher, Dona Brites de Albuquerque.
Na metrópole veio a falecer Duarte Coelho em 1554; e, já no tempo em que a rainha
Dona Catarina, avó do rei D. Sebastião, governava Portugal durante a menoridade do
15 seu neto, chegou nova do Brasil, e especialmente de Pernambuco, de que a maior parte

das tribos indígenas se levantara ali contra os Portugueses, pondo cerco aos principais
lugares daquela colónia de Pernambuco.

14.
f
7. História
a
Trágico- ri
Marítima
-
35

n
Ordenou pois Dona Catarina que Duarte de Albuquerque Coelho, herdeiro da capi-
h
tania, a fosse sem demora socorrer; e, entendendo ele que lhe seria utilíssima a
a
cornpa-
d
20 nhia e ajuda de seu irmão, Jorge de Albuquerque Coelho, suplicou à rainha-regente
e
que
p
lhe desse ordem de o acompanhar; e assim ela fez.
a
Chegou em 1560 a Pernambuco, não contando mais de vinte anos de idade; e,
u
ha-
e
vendo chamado a conselho alguns padres da Companhia de Jesus e várias
f
personagens
r
entre as principais da terra, assentou-se entre todos, ponderado o lance, que se
u
elegesse
t
25 por chefe militar da capitania a Jorge de Albuquerque Coelho, o qual, como lhe
a
disse-
s
ram que cumpria ao bem público o aceitar ele e servir tal cargo, o aceitou, e se
e
aventu-
l
rou, e se esforçou muitíssimo, correndo risco de perder a vida no zeloso
v
cumprimento
a
dos seus deveres.
g
Começou o ataque aos inimigos naquele mesmo ano de 1560, com tropa de
e
solda-
m
30 dos e de criados seus, que alimentava, vestia e calçava à sua custa. Prosseguiu nas

ope-
d
rações de guerra através de montes e de desertos, durante verões e durante
a
invernos, de
q
noite e de dia, passando grandíssimos trabalhos, sendo ele e os seus soldados
u
feridos
e
pelo gentio' muitas vezes, e combatendo a pé e a cavalo. Frequentemente, não
l
tinham
e
mais para comer do que os caranguejos do mato que encontravam, cozinhados de
s
campos. Quando acampavam, faziam os escravos
choupanas de palma, em que se agasalhava toda a tropa. Com estes cuidados que
sem-
pre tinha e com as boas palavras que lhes dizia, consolava e contentava a sua
gente. En-
trada uma aldeia dos inimigos, corria logo sobre a mais próxima e a tomava assim
com
facilidade, por não terem tempo de se fazerem prestes.
40 Com esta diligência e brevidade pacificou em cinco anos a capitania. Quando
chegara, não ousavam os moradores da vila de Olinda sair mais que duas léguas
pela
terra dentro, e ao longo da costa, três ou quatro; ao fim daquele tempo, podiam ir
até
vinte pelo interior, e sessenta léguas ao longo da costa, - as que tinha a capitania
no seu
âmbito. 3
45 Então, deixando essa colónia conquistada, e os indígenas quietos e pacíficos 3
com 9
pedirem paz que lhes outorgaram, embarcou para a metrópole na nau "Santo
Antônio"
na qual viagem se deram os casos que nesta narrativa se contêm.

Carregada a nau de muita fazenda no belo porto da vila de Olinda, deu à vela
com
vento em popa a 16 de maio de 65. Não eram ainda bem saídos da barra quando
se acal-
50 mou o vento com que partiram; logo depois se lhes tornou contrário, os levou de

través
e os atirou para um baixo", onde permaneceram por quatro marés e se viram em
risco de
se perderem, o que lhes teria sem dúvida acontecido se fossem então os mares
mais
grossos.
Acudiram-lhes com presteza muitos batéis, que lograram salvar a gente toda e a
55 maior parte da carregação. Porém, nem assim descarregada se desencalhou, pelo

que
decidiram cortar-lhe os mastros; então, nadou e saiu dos baixos.
Tornada a nau ao porto da vila, foi examinada por oficiais para verem se
poderia se-
~ guir viagem; e, por acharem que não recebera dano que a impossibilitasse para a
nave-
~ gação, se tornou a preparar e a carregar.

1. gentio: pagão. 2. baixo: parte do mar em que a água é pouco profunda.

15.
16.
Ponto "Como os seus antepassados portugueses, há mais de cinco séculos
atrás,
Aventuras
Aventurase desventuras dosdos
e desventuras Descobrimentos
Descobrimentos 7. História Trágico-Marítima
quando desbravaram os mares: 'Que povo incrível, que coragem, que
fé:
Gramáticaexclama." (11. 63-66)
de partida
60Vários amigos de Albuquerque Coelho, vendo que ele pensava em reembarcar na
• Ousadia, coragem e fé como características do povo português que se
10. nau, quiseram
Lê as informações abaixo, em que se dissuadi-lo
distinguem de as
tal orações
procedersubordinadas
pelos maus princípios
adverbiaisque já tivera;Gramática
mas nem
Tópicosfinitas das não finitas. ele, nem os demais passageiros, quiseram
mantêm através dos tempos (os portugueses da época atual mantêm dar ouvidos a tais prognósticos, e tornaram a
G18.2. Dividir e classificar orações.
embarcar na "Santo Antônio" que largou enfim da vila de Olinda a 29 de junho deIdentificar
G 18.4. 65. orações subordina-
Informação vivos estesOrações
valores - ex.:subordinadas
personalidade do velejador
Cinco dias depoisadverbiais Ricardo
da largada mudouDiniz)
finitasoevento
não de maneira súbita, tornando-se
finitas
das.
tão
G18.5. Identificar oração subordí-
65 contrário e de tal violência que tratavam de alijar" fazenda" ao mar, por isso que a nau nante.
de reflexão As orações • Época dos Descobrimentos como momento determinante da
subordinadaslhesadverbiais
mareavafinitas
mal, são
pela introduzidas
muita carga porcomuma que conjunção
dali partira./ locu-
Pela tarde piorou ainda, e o a mercê real- oração
projeção internacional da cultura e dos valores do povo português 1.1. a. Alcançado
ção conjuncional subordinativa e apresentam o verbo nos modos indicativo ou conjuntivo. subordinada adverbial temporal (não
casco abriu água. Davam à bomba continuamente, às seis mil zonchaduras"finita entre noite
participial); Duarte Coelho trens-
Ex.: Quando atingiu um baixo,a nau encalhou. (sub. adv. temporal finita)
e dia. Pouco depois, um pé de vento" quebrou o gurupés. teriu-se para o Brasil- oração subordi-
Ainda que fosse descarregado, a nau não desencalhou. (sub. adv. concessiva finita) nante.
Finalmente, já nos doze graus de latitude norte, o vento acalmou. Andaram deza-
b. Duarte Coelho dirigiu-se a metró-
Os nautas descarregaram a nau para que conseguissem seguir viagem.(sub. adv. final pole - oração subordinante; a fim de
finita) 70 nove dias em calmarias, acompanhadas de trovoadas. angariar novos colonos - oração su-


bordinada adverbial final (não finita
infinitiva); Op. cit. [pp. 111-114]
As orações subordinadas adverbiais não finitas são construídas com recurso ao gerúndio c. Tornada a nau ao porto da vila _
(gerundivas), ao particípio (participiais)
3. alijar: atirar; ou
deitarao infinitivo
fora. 4.fazenda:(infinitivas).
bens; mercadorias. 5. zonchadura: ato de zonchar / dar à bomba. 6. péoração furacão;adverbial tem-
subordinada
de vento:
poral (não finita participlal); foi
Ex.: Atingindo um baixo,a nau remoinho.
encalhou. (sub. adv. temporal não finita gerundiva) examinada por oficiais - oração su-

Lições de um
Embora descarregado,a nau não desencalhou. (sub. adv. concessiva não finita participial)
Os nautas descarregaram a nau para seguirem viagem.(sub. adv. final não finita infini-
bordinante.
d. Ainda que a nau estivesse em mau

tiva) 3. estado - oração subordinada adver-


Na primeira parte do texto, apresenta-se o contexto histórico da viagem de Jorge de
bial concessiva (finita); Duarte Coelho
Albuquerque Coelho. Ver Síntese Informativa, p. 377 decidiu partir - oração subordinante.
3.1. a. Reinado de D. João 111; regên- e. O vento tornara-se tao contrário _
cia de D. Catarina (menoridade de 3.1. Explicita o contexto em causa, completando o esquema abaixo, nooração
teu caderno.
subordinante; que a nau ma-
D. Sebastião); divisão do Brasil em reava mal - oração subordinada ad-
capitanias.
1.1. Identifica e classifica as orações que constituem as frases abaixo. verbial consecutiva (finita).
b. Colonização em África, na Ásia e no f. Caso os ventos fossem favoráveis _
11. Contexto histórico
Alcançado a mercê real, Duarte Coelho transferiu-se para o Brasil. oração subordinada adverbial condi-
Brasil (expedições militares de carác- Antecedentes dos acontecimentos relatados cional (finita); a nau marearia melhor
12.
ter repressivo); revolta das tribos
Duarte indí- dirigiu-se à metrópole, a fim de angariar novos colonos.
Coelho - oração subordinante.
genas nas capitanias do Brasil.
13.
c. Missionação pelaTornada
Companhiaadenau ao porto da vila, foi examinada por oficiais.
Jesus no Brasil.
14.
3.2. Chefe militar deAinda
uma capitania,
navegador
que a nau estivesse em mau estado, Duarte Coelha decidiu partir.
Contexto Contexto Contextoleitura I Oral idade
que cumpre os seus deveres de for-
15. O vento
ma moralmente correta e militar- solitário
tornara-se tão contrário, que a nau mareava mal.
político social religioso 19.1. Exprimir pontos de vista susci-
b.
· 16.
mente bem-sucedida:
Caso os ventos fossem favoráveis, a nau marearia melhor. tados por leituras diversas, funda-
espírito de abnegação
(coloca os in- Já cruzou o Atlântico a. mentando. c.
05.2. Produzir textos seguindo tópi-
teresses da Coroa à frente dos inte- 3.2. Indica os principais traços da personalidade de Jorge de Albuquerque.
cos elaborados autonomamente.
resses pessoais; não demonstra am-
Leitura I Oralidade
bição de riqueza);
05.3. Produzir textos linguisticamen-
3.3. Com que intencional idade terá o autor articulado a explicitação do contexto histó-
· espírito guerreiro, mesmo
te corretos, com diversificação do vo-
cabulário e das estruturas utilizadas.
com pou- rico e a apresentação de Jorge de Albuquerque?
17.
cas condições Lêmateriais;
o artigo jornalístico da página seguinte, em que se apresenta um velejador com o Sugestão:
·
espírito
esforço e perseverança
aventureiro e o gosto pelas viagens característicos dos portugueses. Encontra-se disponível, no Caderno
na conquista
e na pacificação do território;
4. Na segunda parte do excerto, relata-se um incidente que marcacio
de Atividades (pp. 72-73), um exercí-
a de
partida da nau e que é
Escrita de exposição sobre o
·
1.1. Refletezeloacerca do
pelo bem-estar artigo, partindo, por exemplo, de uma ou mais
perspetivado de duas formas distintas. frases do texto. Or- tema da insatisfação humana.
material e ganiza
men- em tópicos o teu ponto de vista e apresenta-o à turma.
tal dos que de si dependem (solda- 4.1. Explicita e comenta os dois pontos de vista em causa.
Ex.:
dos, escravos).
3.3. Dar a conhecer o carácter nobre
e ilustre de Jorge de Albuquerque e
da sua ascendência, no seio do con-
5. Nos relatos de naufrágios, é comum introduzir dados negativos destinados a preparar o
texto histórico em que se enquadra leitor para o insucesso da viagem.
- construção da figura do protago-
nista individual, cuja personalidade 5.1. Quais, de entre os seguintes dados negativos, se aplicam ao início da viagem da nau
será determinante no decorrer dos
acontecimentos. "Santo António"?
4.1. Pontos de vista diversos:
· Jorge de Albuquerque - 6. Atraso na partida
desvaloriza 20
o incidente, mantendo a intenção
7. Sobrecarga da nau
de viajar na nau "Santo Antonio":
· alguns amigos de Jorge
8. Estado de deterioração da nau
de Albu-
querque - valorizam o incidente
9. Avidez de riqueza
(tentam dissuadir o amigo de viajar 5.1.1. Transcreve do texto expressões que fundamentem a tua resposta.
na nau em causa), encarando-o co-
340
mo um sinal premonitório de des- ginava, mas consegui 341
graça. quatro vezes, uma frieza que me
5.1.a.,c.
5.1.1. a.11. 48-53, 57-59. e as milhas que acumula ajuda melhor a sobreviver quando estou a
c.11. 54-56.
correspondem a três navegar durante tanto tempo'; confessa.

voltas ao Aprendeu a ser indiferente às temperaturas,


mundo. Ricardo Diniz é deixou de se compadecer com as suas debili-
um velejador solitário que aprende 25 dades. "Sou o ser humano normal, Ricardo

as lições no mar para as vir contar Diniz, que tem sentimentos e tirita quando
em terra tem frio mas, ali, no meio do oceano, consigo
ser um bicho estranhíssimo que desliga as
JOANA MADEIRA PEREIRA· 25-0UT-201 o emoções e just gets the job dane. Vem aí uma
30 tempestade? Que venha ela!"
Antes era assim: a onda vinha imensa,
Solitário de profissão - não de natureza -,
agreste, e virava-lhe o barco. Ele caía à água,
soube aos oito anos que queria dar uma volta
10 derrotado, magoado com o mar. Maldizia
ao mundo num barco à vela. Sozinho. Aos 33
aquele companheiro de viagens tão incerto e
anos, ainda não concretizou a aspiração, ape-
parecia-lhe injusta a sua sorte. Agora, Ricardo
35 sar das milhas que cole cio na serem o equiva-
Diniz já deixou de o levar tão a peito. O vele-
lente a três viagens de circum-navegação. Mas
jador português, que ganhou, entretanto,
já passou por quatro travessias transatlânticas
15 idade e experiência, desmistificou o mar.

Uma onda já não é um castigo, é apenas mais


um murro de água que o atinge na cabeça.
"Sofri muito quando percebi que o mar não
era aquele ser absoluto e romântico que íma-
Nesta sua expedição marítima não car- fazer melhor e, acima de tudo, servir melhor
(a primeira rega apenas uma ambição pessoal. Quer 55 os clientes'; atira.
aos 18 anos) levar a imagem de Portugal mundo fora, di- É pelo seu dinamismo, mas sobretudo
e prepara-se vulgando empresas, produtos, a história de pelo selo que se lhe colou de "velejador soli-
para, 45 um país. Tem dedicado os últimos anos "ao tário'; que é chamado a escolas, universida-
em outubro mar, à vela, ao empreendedorismo, a vender des e empresas para dar testemunho das suas
de 2011, Portugal': Impulsos que lhe têm valido incur- 60 aventuras marítimas. Fala sobre riscos calcu-
atravessar o sões pelo mundo das empresas e da lide- lados, a importância de querer ser bom no
planeta azul rança. [ ... ] Por agora, faz planos para entrar que se faz, não ter medo de ir à luta nem de
40 em vela
50 no negócio dos têxteis, vinhos e azeite. Tudo falhar. Como os seus antepassados portugue-
oceânica, em com carimbo nacional. "Tendo a entrar em ses, há mais de cinco séculos atrás, quando
solitário. áreas em que vejo que há muitas coisas mal 65 desbravaram os mares: "Que povo incrível,
[ ... ] feitas. Sinto sempre que, se calhar, consigo que coragem, que fé'; exclama.
http://expresso.sapo.pt/licoes-de-um-navegador-solitario=f611297#ixzz3FTg492Yq [Consult. 07-10-2014, com supressões]
17.

7. História Trágico-Marítima

Educação Literária

18. Com base no verbete enciclopédico abaixo, explica de que modo os corsários poderiam Educação Literária

determinar o destino das naus portuguesas associadas ao comércio ultramarino. EL14.2. Ler textos literários de dife-
rentes géneros pertencentes aos sé-
Informação culos XII a XVI.
El14.3. Identificar temas, ideias prin-
Corsários
cipais, pontos de vista e universos de
Os piratas (ladrões do mar) são tão antigos como a navegação; porém, os corsários são referência, justificando.
El14.4. Fazer inferências, fundamen-
relativamente recentes e surgiram no mundo ocidental. Os primeiros operam à margem de tando.
todas as leis, atacando a inimigos e a concidadãos; os corsários recebiam "patentes" ou "car- El14.S. Analisar o ponto de vista das
diferentes personagens.
tas de corso" das respetivas autoridades, ficando para seu proveito a maior parte das merca-
dorias. [ ... ] Nos séculos XVI e XVII, numerosos corsários ingleses e holandeses prosperaram
1. Captura por corsários - determina-
graças ao assalto às caravelas portuguesas e aos galeões espanhóis que regressavam das ção do fracasso da viagem (saque das
fndias.
mercadorias de valor vindas do ultra-
mar).
18.
19.
[pp. 169- 170, com supressões]

20. Lê O texto abaixo, em que se relata o ataque dos corsários franceses aos tripulantes da
"Santo Antônio'; no momento em que estes tentam regressar a Portugal.

Os corsários franceses 343


A 3 de setembro, navegando eles em demanda das ilhas 1, alcançou-os uma nau de
corsários franceses, bem artilhada e consertada, como costumavam. Vendo o piloto, o
mestre e os demais tripulantes da "Santo Antônio" que não iam em estado de se defen-
derem, pois mais artilharia não havia a bordo que um falcão" e um só berço" (afora as
5 armas que o Albuquerque trazia, para si e para os seus criados) determinaram de se
render. Jorge de Albuquerque, porém, opôs-se a isso com a maior firmeza, Não! por
Deus, não! Não permitisse Nosso Senhor que uma nau em que vinha ele se rendesse ja-
mais sem combater, tanto quanto possível! Dispusessem-se todos ao que lhes cumpria,
e ajudassem-no na resistência: pois somente com o berço e com o falcão tinha ele espe-
10 rança que se defenderiam!
Só sete homens, contudo, se lhe ofereceram para o acompanhar; e com esses sete, e
contra o parecer de todos os demais, se pôs às bornbardas" com a nau francesa, às arca-
buzadas", aos tiros de frecha", determinado e enérgico. Durou esta luta quase três dias,
sem ousarem os Franceses abordar os nossos pela dura resistência que neles achavam,
15 apesar de os combatentes serem tão poucos e de não haver senão o berço e o falcão, aos
quais Jorge de Albuquerque pessoalmente carregava, bordeava', punha fogo, por não vir
na viagem bombardeiro, ou quem soubesse fazê-lo tão bem como ele.
Ora, vendo o piloto, o mestre, os marinheiros, que havia perto de três dias que anda-
vam eles neste trabalho; que recebiam os nossos muito dano dos tiros disparados pelos
20 Franceses, e que já lhes ia faltando a pólvora, - pediram ao fidalgo e aos que o ajudavam

L ilhas: referência ao arquipélago dos Açores. 2.falcão: pequena peça de artilharia. 3. berço: peça de artilharia curta. 4. bom-
bardas: tiros de canhão. 5. arcabuzadas: tiros de arcabuzes (armas de fogo). 6.frecha: flecha. 7. bordeava: mudava de local.
65 ce
co
Aventuras e desventuras dos Descobrimentos
di;

rie
70 na que consentissem enfim na rendição, pois lhes era impossível o prosseguir na defesa:
não fossem causa de os matarem a todos, ou de os meterem no fundo! Responderam a
ilh
isto os combatentes que estavam decididos a não se renderem enquanto capazes para
nu
pelejar. Os outros, vendo-os assim determinados, deram de súbito com as velas em
vei
25 baixo, e começaram a bradar para os Franceses: entrassem, entrassem na nau, que se
se
~ lhes rendia!
75

no Os que combatiam, indigna-


ima dos, quiseram matar o piloto e o
mestre, pelo ato de fraqueza a que
aq
30 forçavam todos; não tardou,

8. br porém, que subissem e entrassem


dezassete franceses, armados de
nada
12.x, espadas, de broquéis", de pistole-
da li: tes", e alguns deles com alabar-
35 das". Num instante se assenho-
3. F
rearam da nau.
3 Verificando a maneira como
vinha esta, perguntaram com que
artilharia e que munições se ha-
40 viam defendido tantos dias, e o
número dos homens que comba-
tiam. Responderam-lhes que só
William Turner, Tempestade de neve, 1842
Jorge de Albuquerque fizera tudo,
para o carregarem a ele com toda a
45 culpa. Ouvindo isto, dirigiu-se o capitão dos Franceses a Jorge de Albuquerque Coelho

com o rosto soberbo e melancólico, e disse-lhe assim:


- Que coração temerário é o teu, homem, que tentaste a defesa desta nau tendo tão
poucos petrechos de guerra, contra a nossa, que vem tão armada, e que traz seis deze-
nas de arcabuzeiros?
50 Ao que respondeu o Albuquerque Coelho, bem seguro de si:
- Nisso podes ver que infeliz fui eu, em me embarcar em nau tão despreparada para
a guerra; que se viera aparelhada como cumpria, ou trouxera o que a tua traz de sobejo,
creio que tivéramos, tu e eu, estados diferentíssimos daqueles em que estamos. Aliás,
a boa fortuna que tivestes, agradece-a à traição desses meus companheiros - o mestre,
55 o piloto, os marujos, - que se declararam contra mim: pois se me houvessem ajudado,

como me ajudaram estes amigos, não estarias aqui como vencedor, nem eu como
vencido.
Contraveio o capitão francês:
- Não te desconsoles, amigo: é isto fortuna da guerra, que hoje favorece uns, amanhã
60 outros. Pelo bom soldado que tu és, far-te-ei muito boa companhia, e àqueles que te

ajudaram a combater: que tudo merece quem faz o que deve, cumprindo a obrigação da
sua pessoa.
Trazia a nau francesa uns oitenta homens, entre os quais muitos ingleses e escoce-
ses, e também alguns portugueses. Vinha toda ela maravilhosamente bem ordenada,
21.

7. História Trágico-Marítima
Aventuras e
desventuras dos Descobrimentos

cerrada e empavesada" da popa à proa com sua xareta" falsa, as gáveas consertadas
65
William Turner
com o maior primor, e tão limpa de costado" que parecia caiada e ser esse o primeiro Ver informação na p. 338.

dia que saía fora, havendo muitos meses que bordejava no mar, e tendo já roubado vá- 3.1. Disparidade de forças ao nível da
nau e do número de combatentes:
rios outros barcos. · portugueses: nau
Verificando os corsários franceses o valor da carga que levava a nau, começaram a despreparada para
a guerra (pouca artilharia e muni-
70 navegar para sua terra; e logo ao outro dia, que foram 6 de setembro, se avistaram as ções); poucos combatentes dispos-
I. Tempo. b. Fernão tos a lutar;
Causa ilhas do Faial e Pico, e mais a Graciosa. Era seu intento desembarcar os nossos, deixá-los Mendes · corsários franceses: nau
/Tempo. c.
numa ilha, e abalarem para França com a "Santo Antônio': Porém, como começasse a Pinto, o bem artilha-
Fi- irredu- da; número elevado de combaten-
ade. d. ventar rijo, desistiram de realizar a sua ideia. Resignaram-se a levá-los para o seu país, ortuquês" tes.
Tempo. e. 3.1.1. Evidencíar o valor guerreiro
Causa. seguindo ao nordeste com vento em popa.
dos portugueses, mesmo com condi-
75 O capitão dos Franceses, temendo-se de Jorge de Albuquerque Coelho, fechava-o de ções adversas.
3.2. Perfil psicológico de Jorge de AI-
Ira noite em um camarote, com três dos que o ajudaram a pelejar; mas tratava-o com a buquerque: coragem, firmeza, patrio-
IOralidade tismo, capacidade de liderança, deter-
maior cortesia e nunca começava uma refeição sem vir Jorge de Albuquerque primeiro,
minação; perfil em consonância com
5elecionar a quem sentava à cabeceira da mesa. o espírito inicialmente apresentado.
4.1. Atitude de cortesia, que denun-
Op. cito [pp. 116-120] cia o reconhecimento do valor guer-
criteriosame reiro e temerário do seu antagonista.
nte in- 8. broquéis: escudos pequenos. 9. pistoletes: pistolas pequenas. 10. alabardas: armas compostas de uma haste longa, termi- 5.1. Não - cf. atitude cavalheiresca do
sção capitão dos corsários; descrição valo-
nada em ferro largo e pontiagudo, e atravessada por outro ferro em forma de meia-lua. 11. empavesada: embandeirada.
relevante. rativa da nau dos inimigos.
12. xareta: rede que se colocava ao longo do navio para dificultar a entrada do inimigo. 13. costado: parte exterior da nau, acima
Exprimir Gramática
pontos de da linha de flutuação.
vista suscita-
18.1. Identificar funções sintáticas
IOr leituras diversas,
indicadas no Programa.
fundamen-
18.2. Identificar orações subordina-
I. 21. Foca a tua atenção no confronto entre os portugueses e os corsários. Ver Síntese Informativa,
das. p. 377
. Pesquisar
e selecionar 3.1. Mostra como esse confronto é marcado pela disparidade de forças. 1. indignados - modificador apositivo
informa-
do nome.
3.1.1. Explicita o objetivo que terá levado o autor a acentuar tal disparidade. o piloto e amestre - complemento
, Planificar
direto.
3
o texto oral,
elabo- 3.2. Traça o perfil psicológico de Jorge de Albuquerque neste momento da ação, compa- a que - complemento oblíquo.
da nau - complemento oblíquo.
) tópicos de rando-o com o perfil apresentado no início do relato. esta - sujeito.
suporte à
interven- 22. Atenta no diálogo entre Jorge de Albuquerque e o capitão dos corsários. que combatiam - modificador restri- 19.
tivo do nome.
4.1. Explicita e comenta a opinião do corsário relativamente a Jorge de Albuquerque.
o
2. a. piloto, o mestre e alguns mari-

lados
nheiros pediram-lhes que consentis-
20.
sem enfim na rendição. b. O piloto, o4
23. Os autores dos relatos de naufrágios compilados na História Trágico-Marítima tendem a mestre e alguns marinheiros pediram-
O
focar o comportamento negativo dos corsários. -no ao fidalgo e aos que o ajudavam.
fe
C. O piloto, o mestre e alguns marinhei- s.
5.1. Verifica-se essa perspetiva no relato em análise? Fundamenta a tua resposta. ros pediram-lho.
pesquisado 2.1. a. Complemento indireto. b. Com-
s: plemento direto. c. Complemento di-
IS possíveis reto e complemento indireto.
3. a. Naveganda eles em demanda das Gra
da cópía
ilegal:
Gramática ilhas. b. vendo-os assim determinados.
so gratuito a informação atuali- c. para o carregarem a ele com toda a
I e variada; 1.
culpa. d. Ouvindo isto. e. temendo-se Id
idade em 24. Identifica a função sintática desempenhada pelos constituintes frásicos sublinhados no de Jorge Coelho. ex
executar a excerto abaixo: 3.1. a. Quando eles navegavam em
cópia; demanda das ilhas, alcançou-os uma
ado preço de jogos, filmes, ál- nau. b. 05 outros, porque/quando 05
I de viam assim determinados, deram com
música, Os que combatiam, indignados,quiseram matar o piloto e o mestre,pelo ato de fra- as velas em baixo. c. Responderam-
livros, jogos -lhes que só Jorge de Albuquerque fize-
de ví- queza a que forçavam todos; não tardou, porém, que subissem e entrassem dezassete ra tudo, para que o carregassem a ele
com toda a culpa. d. Quando ouviu is-
franceses, armados de espadas, de broquéis, de pistoletes, e alguns deles com alabardas.
equêndas to, dirigiu-se o capitão dos Franceses a
possíveís Num instante se assenhorearam da nau. Jorge de Albuquerque Coelho. e. O ca-
pitão francês, uma vez que se temia de
da cópia Verificando a maneira como vinha esta, perguntaram com que artilharia e que mu- Jorge Coelho, fechava-o de noite num
I:
I pessoal: nições se haviam defendido tantos dias, e o número dos homens que combatiam.(11. 27-42) camarate.
punição legal (devido à
IÇão dos direitos de autor);
danos 345
omputador; 22.
económico: crise nas Rees
indústrias
creve
ltura (setor musical, cinemato-

as
o, editorial), por falta de recei-
frase
social: perda de valores/desva- s
ção da honestidade e da inte- abaix
ade. o,
IS possíveis do plágio em tra-
~s escolares:
pron
lonhecimento dos princípios do omin
~Iho intelectual (identificação aliza
fontes utilizadas; cumprimento ndo
normas de citação; elaboração
os
l bIiOgrafia);
ípio do facilitismo, que gera a const
ituint
Incia de esforço pessoal. es
as possíveis: subli
a legislação e propor nhad
alterações
tema de direitos de autor, pe-
os.
ndo os infratores (ex.: coima, 23.
· do acesso à
internet); O
bilizar os infratores de que a
a ilegal é um crime punível por piloto
moralmente reprovável (trata-
roubo); ,o
nover a divulgação dos princí-
do trabalho intelectual. mest
stão: re e
tra-se disponível, no Caderno
ividades (pp. 59·60), uma algu
ficha
ítura I Gramática com base no ns
marinheiros noite num camarote. E
pediram ao fidalgo 3.1. Reescreve as frases, transformando as orações subordinadas adverbiais não finitas
dl
e aos que o em orações subordinadas adverbiais finitas.
1.
ajudavam que con- 3.2. Explicita o nexo estabelecido entre as orações subordinadas identificadas e as ora- [
ções subordinantes. C
~
sentissem
enfim na rendição.
~
Leitura I Oralidade
24. O piloto, o
30. Embora surja associada, sobretudo, aos séculos XVI, XVII e XVIII, a pirataria e o
mestre e alguns
ato de
marinheiros
roubar, que lhe é inerente, são ainda uma realidade presente nos nossos dias.
pediram ao fidalgo
e aos que o 1.1. Reflete com os teus colegas sobre algumas formas atuais deste fenómeno:
ajudavam que con- · o download ilegal de jogos, músicas, filmes;
· a cópia ilegal de livros (fotocópias);
sentissem enfim · a utilização indevida de partes de obras em trabalhos escolares (plágio), etc.
na rendição.
Para preparares a tua intervenção oral, pesquisa informação relevante e adota um
25. O piloto, o ponto de vista crítico relativamente aos seguintes aspetos:
mestre e alguns
marinheiros
Dados pesquisados Ponto de vista
pediram ao fidalgo
e aos que o Que causas estão na origem da

ajudavam que con- proliferação das cópias ilegais


(downloads e fotocópias)?

sentissem enfim Quais são as consequências das

na rendição. cópias ilegais, a curto e longo prazo?


M
2.1. Identifica a Que causas estão na origem do ,

plágio em trabalhos escolares?


função sintática
Que medidas são / podem vir a ser 2.
desempenhada tomadas para atenuar estes C
pelos pronomes fenómenos? 5
1
que utilizaste

para 2

substituir
os constituintes
destacados.

c
Ver Síntese

Informativa, p. 373

26. Identifica
t
a oração
subordinada
adverbial não finita
presente em cada
uma das frases.
27. Navegand
o eles em
demanda das
ilhas, alcançou-os
uma nau.
28. Os
outros, vendo-os
assim
determinados,
deram com as
velas em baixo.
29. Responde
ram-lhes que só
Jorge de
Albuquerque fizera
tudo, para o
carregarem a ele
com
toda a culpa.
d, Ouvindo
isto, dirigiu-se
o capitão dos
Franceses a
Jorge de
Albuquerque
Coelho.
e. O capitão
francês,
temendo-se
de Jorge
Coelho,
fechava-o de
nim
pois
7. História Trágico-Marítima
com
5 em

forço
Bras
pen.
tão I
1
0 gonl

outr
brin

31.
32.

Educação Literária I Oralidade r~ ,n --;;;

33. Descreve a pintura abaixo, da autoria de Vieira da Silva, relacionando-a com o que já Educação literária I Oralidade

conheces das "Aventuras e desventuras" de Jorge de Albuquerque Coelho. El14.1. Ler expressivamente em voz
Maria Helena Vieira da Silva, História Trágico-Marítima ou Naufrage, 1944 alta textos literários, após preparação
da leitura.
E114.2. Ler textos literários portu-
34. Depois de terem sido capturados pelos corsários franceses, Jorge de Albuquerque e os gueses de diferentes géneros, per-
tencentes aos séculos XII a XVI.
seus homens são abandonados por eles, ficando desamparados na vastidão oceânica. El14.3. Identificar [oo.] ideias princi-
pais, pontos de vista e universos de
2.1. Lê a parte final do relato da viagem de Jorge de Albuquerque e sua tripulação e da referência, justificando.
El14.4. Fazer inferências, fundamen-
sua chegada à pátria. tando.
El14.5. Analisar o ponto de vista das
diferentes personagens.
El15.4. Fazer apresentações orais (5

Chegada a Lisboa a 7 minutos) sobre [ ... ] partes de


obras [ ... ] do Programa.
05.1. Produzir textos seguindo tópi-
cos fornecidos.
Assim seguiam, ao sabor do vento. Voltou a tortura de dar à bomba; vieram o desâ- 05.3. Produzir textos linquisticamen-
te corretos, com diversificação do vo-
nimo e a fome horrível. Jorge de Albuquerque, além dos trabalhos comuns aos outros _ cabulário e das estruturas utilizadas.
pois de todos irmãmente partilhava ele - tinha ainda o cuidado de prover a tudo, e o de
comandar, consolar, animar os homens, comunicar o seu fogo à companhia inteira; e
Maria Helena Vieira da Silva
em tão amigos, tão brandos, tão piedosos termos lhes falava sempre, que quase sem (1908-1952)
forças se levantava a gente: rediviva, pronta, retomava a faina. Embarcara doente no · Artista plástica portuguesa,
naturali-
Brasil; e agora, depois de tantas lutas e de tanto esforço, de tantas privações e de tantas zada francesa, muito conhecida in-
ternacionalmente
penas, jamais se lhe ouvia a menor das queixas. Tão são lhes parecia e tão bem-disposto, · Obra: pintura, cenografia,
tapeçaria,
tão prazenteiro, tão forte continuador dos seus trabalhos, que causava espanto e enver- vitral, ilustração
gonhava a todos. Para sugestioná-Ios, afirmava-se convicto de que iriam chegar, não a · Características estéticas:
articulação
outro porto, mas à própria Lisboa. Pensava-se, vendo-o e ouvindo-o, que era digno so- entre cores e formas; tendência para
as composições abstratas.
brinho do seu célebre tio, o grande Afonso de Albuquerque.
Poderá ser consultada informação
sobre esta pintora no sítio da Funda-
ção Arpad Szenes - Vieira da Silva:
http://fasvs.pt

1. Semelhanças ao ruvel do universo


de referência:
· representação de um
naufrágio imi-
nente, em alto mar, originado por
uma tempestade;
· representação das
consequências do
naufrágio: morte de seres humanos
(homens, mulheres, crianças);
· expressão do
sofrimento/desespero
humano motivado pela consciência
da proximidade da morte.

j
= 10


347
348
, eis que acabou de desapegar-se o leme, quebrando-se o ferro
15 que lhe restava e rompendo-se os cabos com que o tinham atado.
Aventuras e
desventuras dos Foi então o cúmulo do desespero. Deixaram-se cair todos no convés, desampa-
Descobrimentos
radamente, com a certeza absoluta de que morreriam de fome.
De súbito, Jorge de Albuquerque levantou-se rijo, com ledo aspeto; e, pegando
num livro que trazia consigo, tirou duas imagens de Cristo e da Virgem, pegou-as no
Co 20 mastro, chamou os companheiros para o pé de si, cada um por seu nome, e come-
m çou a pregar-lhes animadamente, afirmando-lhes a certeza de que se salvariam. Em
a redor, muitos dos outros - desgrenhados, magríssimos, nus, - ouviam-no já sem o
rij entenderem.
ez Depois, às escondidas, fez testamento; e, acrescentando a esse muitos outros pa-
a 25 péís, acomodou tudo num barril pequeno, que fechou e breou 1 o melhor que pôde,
do disposto a lançar o barrilinho à água quando visse chegado o derradeiro instante.
ve Mas isto o fez ele em tão grande segredo que nenhum dos outros por então o soube.
nto Entretanto, imaginou maneiras de substituir o leme, ordenando uma sorte de
, espadela", - da qual, aliás, pouco proveito conseguiram tirar.
ro 30 Chegados a 27 daquele mês, começou a necessidade de lançarem às ondas os
mp primeiros companheiros que morreram de fome. Certos homens, nesse transe, lem-
era braram-se de pedir a Jorge de Albuquerque a permissão de comerem aqueles cadá-
m- veres. Ao ouvir este horrível requerimento, arrasaram-se-lhe os olhos de água. Não,
se não podia ser; não o consentiria, enquanto vivesse; se morresse, porém, dava-lhes
as 35 licença de o comerem a ele.
vel O desespero, então, levou alguns a uma outra ideia: arrombar a nau para acaba-
as
rem de vez. Soube-o o Albuquerque, e impediu que o fizessem. O mais triste, porém,
qu é que estavam os míseros divididos em bandos, e sonhavam com brigas, - sendo
e
todos uns espetros tão vizinhos da morte, e quase não se podendo conservar de pé.
lev 40 Jorge de Albuquerque, com mágoa infinita, os chamou à razão e os acalmou.
av
A 29, pela manhãzinha, avistou-se uma nau. Fizeram-lhe sinais alvoroçada-
am mente; os da nau, porém, não lhes quiseram valer, e seguiram seu rumo.
;e
Mais três dias se passaram assim, no trabalho contínuo de dar à bomba. A 2 de
est outubro, entre a neblina, pareceu-lhes divisar arrumação" de terra. Cerca do meio-
an
45 -dia, dissipou-se a névoa. Maravilha! Deus louvado! Era a serra de Sintra! Lá estava,
do ao cimo das rochas a própria casa da Senhora de Pena!
ele
Mas não tinham maneira de se aproximar da praia. Iam numa carcaça sem go-
s verno algum.
na
Chegando-se o navio para junto da terra, muitos trataram de preparar umas
fai 50 pranchas, para se lançarem ao mar; outros fantasiavam construir jangadas. Loucura,
na
porque a costa ali é pedregosa e brava; e Jorge de Albuquerque dissuadiu-os de tal.
de Avistaram-se numerosas velas, que se afastaram.
90 co
Ao outro dia, 3 de outubro, amanheceram chegados ao cabo da Roca; e indo já a
ns
nau para dar à costa, passou perto uma caravela, que se dirigia para a Pederneira.
ert
55 Suplicaram-lhe socorro, pagar-lho-iam bem. - Que Jesus lhes valesse, responderam
á-
las
1. breou: cobriu de breu (escuro). 2. espadela: remo comprido empregado como leme. 3. arrumação: rumo; direção.
95

35.
p
7. História Trágico-Marítima
a
n
h
eles; nada, não queriam perder tempo na sua viagem ... E seguiram avante, sem ne- e
nhumdó. i
Pouco depois, felizmente, avistaram uma barca pequenina, que navegava para a r
Atouguia. Começaram a bradar-lhes, de joelhos, que lhes valessem; e estando a o
60 barca a um tiro de berço, logo lhes acudiu com muita pressa. s
Vinha a bordo dessa barca um Rodrigo Álvares de Atouguia, mestre e senhorio ,
dela, e uns parentes e amigos seus. Todos começaram a esforçar os da nau. ão te-
messem nada; não os desamparariam, ainda que com risco de se perderem eles pró- e
prios. E não desejavam por isso prémio algum.
65 Vendo o estado em que estavam os da nau, ficaram atónitos. Logo lhes deram d
pão, água e frutas, que para si traziam. i
O senhorio da barca, tanto que acabou de lhes dar de comer, passou-lhes um r
cabo de reboque com que afastaram a nau da rocha e a foram trazendo ao longo da i
costa até a baía de Cascais, aonde chegaram pelo sol-posto. Acorreram botes, em g
70 que se meteram; uns desembarcaram ali em Cascais; outros só em Belém tomaram i
terra. u
A nau, durante a noite, ficou amarrada à popa da barca, por não ter âncora com -
que fundeasse. No dia seguinte, o cardeal infante D. Henrique, que governava o s
Reino, fez expedir uma galé que a fosse trazendo pelo rio acima. Fundeou a nau, fi- e
75 nalmente, diante da igreja de S. Paulo, onde numerosa gente a foi visitar, espan-

tando-se do destroço em que a viam posta. e


Jorge de Albuquerque, antes de tudo, satisfez largamente o senhorio da barca e m
os que o haviam ajudado no salvamento. Desembarcou em Belém com alguns com-
romaria a Nossa Senhora da Luz, pelo caminho de assa
80 Senhora da Ajuda. Já os seus amigos e parentes tinham tido notícia de que chegara;

e D. Jerónimo de Mama, seu primo, e muitas outras pessoas amigas suas, trataram
logo de o ir buscar. Sabendo que desembarcara e que caminho levara, seguiram para
ali imediatamente, encontrando-se com o grupo dos que o acompanhavam. Sau-
dou-os então D. Jerónimo de Mama, inquirindo se eram eles, os do grupo, os que
85 com Jorge de Albuquerque se tinham salvo. E confirmando eles que de facto o eram,

perguntou D. Jerónimo:
- E Jorge de Albuquerque? Vai adiante? Fica atrás? Ou tomou por outro cami-
nho?
Jorge de Albuquerque, que se achava ali mesmo diante dele, lhe respondeu:
- Senhor, Jorge de Albuquerque não vai adiante, nem fica atrás, nem tomou por
outro caminho.
Cuidando D. Jerónimo que zombava, quase se houve por desconfiado, e lhe
disse que não gracejasse, e respondesse à pergunta.
E Jorge de Albuquerque:
- Senhor D. Jerónimo: se vísseis Jorge de Albuquerque, conhecê-Io-íeis?
- Decerto.
- Pois sou eu, Jorge de Albuquerque! E vós sais meu primo, D. Jerónimo, filho de
_ D. Isabel, minha tia. Iulgai dos trabalhos por que passei!
~ Só havia um ano que se não viam.
Op. cito [pp. 130-134]

349
e
Aventuras e desventuras dos Descobrimentos
q
a
a 25. Em trabalho de grupo, prepara uma intervenção em que faças a leitura expressiva e
20 a
dialogada do excerto, seguida de uma apresentação oral, considerando as linhas de
rr final da obra, corres-
v1omento
-nte ao regresso (chegada a leitura abaixo.
é
dos sobreviventes e seu repa-
mro).
lo
26. Breve apresentação do capítulo V da História Trágico-Marítima, com incidência na loca-
legação sem condições e sem lização do excerto lido na estrutura interna do relato.
Inça tãde sobrevivência (clímax
sespero. provocado pela des-
25
27. Síntese da ação narrada.
ql
l do leme e pela fome extre-
proxtmaçào de terra e pedido
tu 28. Explicitação da atitude das personagens face aos acontecimentos com que se depa-
dlio a várias embarcações; che-
ram e relação entre as várias atitudes.
na
los sobreviventes a terra, roma-
Jorge de Albuquerque e diálo-
tu
li deste com o primo.
29. Referência à expressividade que a enumeração e a adjetivação assumem na caracteri-
ar
udes das personagens face aos zação de Jorge de Albuquerque.
xirnentos:
30 na
! de Albuquerque: solidarieda- 30. Explicitação da função e da expressividade do diálogo entre Jorge de Albuquerque e
aternidade, capacidade de mo-
da D. Jerónirno,
ão e de liderança (apesar do

eu
nimo sentido em certos mo- 31. Relacionamento do excerto com a epopeia Os Lusíadas.
tos), sentido de justiça (recom- 1
sa
a aos que o ajudam), vivência 0
cristã; Guia de preparação da intervenção oral
nte tripulação da nau "Santo
nio": desespero (capaz de levar · Leitura do texto.
mibalismo ou ao suicídio), sem · Discussão das linhas fundamentais do excerto, com os restantes
cidade de discernimento (von- elementos
de lutar com os companheiros); do grupo (cf. linhas de leitura).
lação das primeiras embarca-
a quem é pedido auxilio: indi- Leitura · Anotação das emoções sugeridas pelo texto; associação das emoções a
Iça face ao pedido de auxílio, expressiva
de compaixão humana; marcações de voz.
Ilação da última embarcação a
e dialogada
n é pedido auxílio: solidarieda- · Distribuição das partes do texto pelos elementos do grupo, de acordo
prestabilidade. com
ge de Albuquerque: critérios definidos pelo grupo.
neração: "tinha ainda o cuidado
rover a tudo, e o de comandar, · Treino da leitura dialogada, em grupo.
otar. animar os homens, com uni- · Apresentação da leitura dialogada.
seu fogo" (11. 3-4);
tivação: "Tão são lhes parecia e
bem-disposto, tão prazenteiro,
arte continuador dos seus traba-
'(11. 8-9);
e da capacidade de motivação
liderança.
lfere vivacidade e verosimilhan-
relato; contribui para a caracte-
o dos aspetos negativos dos
orímentos (sofrimento e priva-
oassados pelos marinheiros nas
ns ultramarinas).
erto como reflexo de duas ver-
; dos Descobrimentos:
ições e perigos passados em al-
ar (dimensão antiépica); chega-
pátria e repatriamento - conse-
o do objetivo (dimensão épica).
vsiaoas - perigos da viagem de
o da Gama à India (ex.: Adamas-
-scorbuto. tempestade, etc.); re-
la sobre a fragilidade da vida
,a na (final do Canto 1); chegada
portugueses à India; recompen-
elo seu sucesso e regresso à pá-
dimensão épica).
36.

Ver Leitura em voz alta, p. 72

· Planificação do texto oral, distribuindo as tarefas a realizar pelos elementos

do grupo e elaborando tópicos de suporte à intervenção (cf. linhas de leitura).


Apresentação
· Apresentação das linhas de leitura do texto:
oral do texto
. seguindo os tópicos fornecidos;
(5-7 minutos)
. produzindo um texto bem estruturado (com introdução, desenvolvimento e
conclusão) e linguisticamente correto, com diversificação do vocabulário e
das estruturas sintáticas (recorrendo preferencialmente à subordinação).

FAUSYC>
Oralidade I Escrita <:PO •.••• CAS DA lEIltRA AkDoIi •.• lI.

32. Editado em 1994, o álbum Crónicas


da
Terra Ardente, de Fausto, baseia-se nos
relatos da História Trágico-Marítima, reu-
nidos por Bernardo Gomes de Brito.
Duas das músicas que o compõem são
"A tua presença" e "Na ponta do cabo':

1.1. Observa a capa do CD.

1.1.1. Com base no título, antecipa


os possíveis temas do álbum.
1.1.2. Interpreta a imagem da capa.
37.

7. História Trágico-Marítima

Teste formativo
Teste
2. Ouve e lê um excerto de cada uma das músicas referidas. (50 PONTOS)
formativo
(100 PONTOS) Oralidade I Escrita

i\ tua presença Na ponta do cabo ca FazerEste


01.4.Nota: inferências.
teste segue, dentro do
Lê o texto a seguir transcrito. Escreveratextos
Ell.1.possível, estruturavariados, res-edição
da última
peitando as do
marcas
exame donacional
género: de[ ...Portu-
]
Eu já nada sinto Amanhecemos (2014)
apreciação crítica.
guês, considerando o objeto de ava-
~ afinal na ponta do cabo E12.3. Redigir
liação (10.°um texto
ano, estruturado,
História Trágico-Marí-
Procela
eu gosto de não sentir nada dobrámos levando
que reflita
ciando
tima, uma
porum bom
três
planificação,
Capítulo V). Assim,eviden-
domínio dos meca-
grupos:
é constituído

sozinho na calma das horas passadas nossa viagem embora ·


nismos de coesão textual com marca-
Grupo I (100 pontos) - em
ção correta de parágrafos e utilização
Mas outro vagalhão se lançou sobre a nau. Cobrindo o convés, arrebatou o
agarrunchados que se
adequada de conectores.
:ão só numa outra quietude avaliam conhecimentos e capacida-
mastro grande, verga, vela, enxárcias, camarotes,cosidos borda; levou o mastro da rnezena' 1.1.1.des de Educação Literária e de Escri-
num sossego tão só sossegado Exemplo:
ta relacionados
através de itens comdeo construção
com o aparelho todo, uma parte da popa, e também comum osdos franceses
penedos e os dos de maior
calhaus
Temas Oriente
~ esquecido ("terra(avaliando-se
ardente"), a viagem,
apenas oconteúdos
mar e de
jerarquia. Os Portugueses que trabalhavam na bomba do cabo foram logo arrojados
do cabo do cabo doaqui
caboe com questões do quotidiano,
10.° ano relativos à unidade marca-
em cau-
eu me esqueça de mim das pela subjetividade ("crónicas'i.
sa);
1.1.2. Exemplo:
5 além; cobertos pelo mar, todos se convenceram deaquele que se casco
afogariam.
vai Levantaram-
lOS bocados ·
Imagem em que sobressai Grupo 11o (50 pontos) -
fundo
-se aos poucos, queixando-se este de que partira um obraço,
10 com bordoaquele uma
debaixo deperna.
água em que sedo mar e da viagem;
azul sugestão
adormece-me um sono dormente efeitoavaliam capacidades
de contraste de Leitura
relativamente ao e de
Ficou tudo mergulhado por algum tempo; e o mar, depois, dava ainda
mete de popa e de proa pelos joelhos título Gramática, através depossivel-
(cor fria), remetendo, itens de sele-
que aos poucos se apaga
mente, çãopara
e dea construção;
introspeção melancóli-
dos desgraçados. Mandou o Albuquerque alguémláàvai coberta, paraever
em pulos a água que
saltos ·
.im sonho qualquer Grupo 11Ide
ca (e não para a expressão (50 pontos) -
senti-
nela entrava. Só faltavam três palmos para chegarcom acima, e a encher
as tilhas de todo. Fuzi-
em baixo mentos emefusivos).
que se
nas não me acordes avaliamtambém
De destacar conhecimentos e capacida-
o amontoado
lO lavam relâmpagos; a força do vento, a imensidadeacode das ondas,
à velaaterravam os ânimos; des de Escrita (integrando
inferior daconheci-
não mexas de elementos na parte
imagem,mentosqueeparecem
capacidades de Educação
ser pedaços
a água que
não me embales sequerentrava vinha cheia de areia. Jorge15de
à Albuquerque,
bomba apesar de tudo, Literária), por meio de uma resposta
de madeira carbonizada, relacionan-
consolava
eu quero estaros tristes,como
mesmo afirmando-lhes
eu estou a esperança ao de leme
se saírem daquilo. do-seextensa.
com o título do álbum e suge-
rindo Visa-se,
a ideia de decadência.
assim, que o aluno treine a re-
O mastro grande, quando caiu, ficou preso na enxárcia;
quieramente ao remo
por debaixo de água,
[!DPPT
passara para a banda do barlavento": e de aí, jogado na vaga,
ausente ao bote aodava
bote choques
ao bote horrí- solução de testes com uma
História Trágico-Marítima estrutura
- Correção
semelhante
[!DÁudio à dos exames.
do teste formativo
15 veis de encontro ao costado, que tremia todo com som cavernoso. Enfim, vieram
assim [ ... ] arrecifes e mais
Excertos de canções do disco Crónicas

uns
1 maresque
viagem queeuo levaram
não vou para longe, e de mais esse tormento se viram livres. da Terra
GRUPOArdente,
I de Fausto.
20 são gemidos e medos 1. Devido à tempestade, foram arre-
nunca chegaPassadosaté aotrêsfim
dias, em que continuamente se deu à bomba, começou enfim a 2.1. "A tua presença" - alheamento/
são suspiros e prantos batados o mastro grande e o mastro
ausência, em articulação com a sau-
abonançar
~ longe a procela", da mezena e os respetivos aparelhos.
dade (da pátria).
e rezando demais Para além disso, a tempestade provo-
"Na ponta do cabo" - viagem / peri-
Dos pedaços da ponte que o mar abatera, e de três remos
longe do de
batel que escapa- cou ainda a morte de um dos corsá-
alijando menos gos da viagem (referência à iminência
rios franceses e ferimentos em diver-
20 ram do estrago, trataram logo de improvisar um mastro e armaram
tão longe e o maunele uma vela-
de um naufrágio provocado pelas ro-
vai o bom sos tripulantes portugueses, levando
chas de um cabo).
zinha.
que de repente tu chegas 25 este e aquele mundo
ainda a que os sobreviventes pensas-
Sugestão: Poderá ser referido o con-
sem que iriam morrer afogados.
traste temático das duas composi-
tu brilhas e luzes vai o barco e a nau Op. cit. [pp. 124-126] 2. Na segunda frase do texto, a enu-
ções, relacionando-as com o sofri-
meração confere visualismo ao acon-
na cor das laranjas
I. mastro da mezena: mastro da ré. vai a pique e ao fundo mento associado aos Descobrimentos
tecimento narrado, realçando, por
(mais passivo e interior em "A tua pre-
33. e tinges
tu coras barlavento: lado de onde sopra o vento. meio da concretização/exemplifica-
sença': mais ativo e físico em "Na pon-
34.
a mancha da marca
procela: tempestade.
salva
çào, os danos materiais provocados
ta do cabo").
pela tempestade.
2.2. Descrição sucinta do álbum/co-
3. Jorge de Albuquerque revela-se um
na alma da luz salva o corpo mentário crítico:
· capitão determinado,
duplo CD (20com capacida-
canções),
da sombra que finges 30 Ó corpo Santo de de liderança ("Mandou o Albuquer-
constituído
que alguém
por letras e músicasà coberta",
de FaustoI. 8).Bor-
Para além
~ tu1.jáRefere
não me oslargas
efeitos provocados pela tempestade salvana nau e nos marinheiros. (20 PONTOS) disso,
dalo Dias apesar da situação denos
e baseadas/inspiradas perigo
emdaque se encontra, mostra-se preo-
saudade [ ... ] relatos História Trágico-Marítima;
Fausto, Crónicas da Terra Ardente,
· cupado com os membros
temática da sua tri-
da diáspora
2. Explícita o valor expressivo da enumeração naSony
segunda frase do
Música (Portugal), excerto.
1994 [com supressões] (20 PONTOS) pulação, transmitindo-lhes ânimo e
portuguesa
motivação
(idêntica às dos ('1orge
álbuns de PorAlbuquerque,
Este Rio
Acimaapesar de tudo,
e Em Busca das consolava
Montanhas os tristes,
2.1.
35. Identifica o(s) tema(s)
Apresenta duas daspredominante(s) de cada um dos
características psicológicas excertos.
de Jorge de Albuquerque, Azuis);afirmando-lhes a esperança de se saí-
· rem daquilo.",
elevada11. 11-12).
densidade
fundamentando
2.2. Se puderes, aouve
tua resposta em referências
integralmente o álbum etextuais.
redige uma apreciação crítica do mesmo
(20 PONTOS) 4. Durante
narrativa e musi-a tempestade, os marinhei-
cal; ros revelam-se "desgraçados" e cons-
ou de uma das canções mencionadas. Escreve um texto bem estruturado, em que · cientes da tomiminência
dramático; da morte - ainda
36. estejaComenta
presenteauma
evolução do comportamento
descrição dos marinheiros
sucinta e um comentário críticoapresentada
do álbum ou da can- · assim, continuam a dar à bomba
ritmo e instrumentos
terruptamente.
da inin-
Terminada a procela,
música tra-
ao longo do excerto.
ção escolhida, tendo em conta a letra e a música.
(20 PONTOS)
reagem
dicional de forma positiva e determi-
portuguesa;
Ver Apreciação crítica, p.
40 · nada, tentando minimizar os danos
expressão de
provocados pela tempestade.
sentimentos humanos
~ S. Divide o texto
Nota: Para em
que o teu partes
texto lógicas
resulte bem e apresenta,
estruturado, para os
marca corretamente cada umaedelas,
parágrafos uma frase
utiliza conecto-
universais (medo, incerteza, desen- »
~ que res adequados.
sintetize o respetivo conteúdo. (20 PONTOS) canto, alienação depois de uma ex-
periência dolorosa). 351
Ver exemplo de apreciação crítica do ál-
ENClOEPU3
bum, p. 354. 353

« )4
o texto pode ser dividido em L
duas ê
Irtes/ógicas. Na primeira parte
(dois O
imeiros parágrafos), descreve-
se a
t
npestade bem como os danos
por
e
I provocados. Na segunda parte
x
rceiro e quarto parágrafos), t
desta- o
-se o fina/ da tempestade e a
reação
s
s marinheiros no sentido de
prosse-
e
irem viagem. g
uinte. causar no universo da música portuguesa.
Até então, apenas José Afonso conseguira (com Cantigas do Maio, em 1972)
5 elaborar uma obra tão radicalmente diferente de tudo o que existia e,
P simultanea-
o mente, tão cheia de novos caminhos por explorar.
Falo da música, mas também da poesia (ao nível da melhor que em terras
r lusas
se tem publicado) e, ainda, de um conceito estético que, na realidade, só
depois de
f Por Este Rio Acima tomou forma definitiva: a Música Popular Portuguesa,

a enten-
10 dida como uma forma de identidade cultural multi-expressiva e não, como

v preten-
diam os seus detratores, como um modelo de uniformização formal.
o Por tudo o que ficou dito, é fácil perceber a tendência (predominante em al-
r guma da chamada "crítica discográfica" nacional) para a comparação de cada
novo
, trabalho de Fausto com Por Este Rio Acima. ada mais lógico, mas também
nada
15 mais redutor. De resto, basta uma audição atenta de O Despertar dos
l Alquimistas
e ou de Para Além das Cordilheiras, para entender que, desde 82, a arte e o
pensa-
i mento de Fausto não pararam de evoluir.
a a duplo CD agora publicado, Crónicas da Terra Ardente, vai, decerto,
acentuar
m essa síndrome comparativa de que padecem os críticos menos atentos. a
próprio
20 Fausto, ao retomar a temática inesgotável da Diáspora, lhes facilitou de certa
e forma
s o "trabalho': Função inútil, creio eu, já que será difícil encontrar outros
pontos de
t contacto entre os dois discos, para lá do tema genérico e da filosofia
e musical do seu
autor.
s A densidade (narrativa e musical) assume, em Crónicas da Terra Ardente, uma
25 dimensão nunca antes experimentada por Fausto. Assim como o sentido do

trá-
d gico, assumido não como um destino, mas quase como uma condição.
Uma vez mais, Fausto surge perante nós como um navegador solitário contra
i as
s correntes dominantes da moda e do consumo. Os adeptos da "estética do
hambur-
c guer" decerto não vão gostar, mas também não foi a pensar neles que Fausto
o deu A
30 forma e som a estes "contos dos matagais, dos rios e das serras, de vales e :
s quebra-
das, lugares e caminhos por toda aquela terra adentro': [ ... ]
A verdade é que o tempo das certezas está definitivamente morto, e e
POR V
Fausto r
Quando sabe-o melhor que ninguém. E convém não esquecer que, embora tendo
editou Por como re-
Este Rio ferência fundamental uma obra literária do século XVI - a História Trágico- E
Acima, no já Marí- s
longínquo ano 35 tima - este trabalho não se limita a reinterpretar os relatos reunidos por

de 1982, Bernardo
Fausto Bor- Gomes de Brito, mas procura dar-lhes uma dimensão contemporânea -
p
dai o Dias como,
é
estaria longe aliás, aconteceu em Por Este Rio Acima, relativamente à Peregrinação, de
de imaginar a Fernão
verdadeira Mendes Pinto.
o
revolução que http://www.attambur.com/Noticias/20021t1FaustoJeiam_estes_d
esse seu disco l
iscos.htm
iria ‫ץ‬
[Consult. 09-1 0-2014, com supress es]
38.

7. História Trágico-Marítima

37. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.7., seleciona a opção correta. Escreve, --~'
~
na GRUPO 11
folha deEste
1.1. respostas, o número de
texto classifica-se cada item e a letra que identifica a opção escolhida.
como (5 PONTOS)
1.1. c.; 1.2. c.; 1.3. a.; 1.4. c.; 1.5. c.;
1.6. b.; 1.7. b.
38. síntese. 40. apreciação 2.1. a. Editado o álbum Crónicas da
crítica. Terra Ardente - oração subordinada
39. exposição sobre um tema. adverbial temporal (não finita partici-
41. relato de pial); comprei-o de imediato - oração
1.2. A obra que constitui o tema predominante deste texto é (5 PONTOS) subordinante.
viagem. b. Comprei o último álbum de Fausto -
42. Por Este Rio Acima. c. Crónicas da Terra Ardente. oração subordinante; para o ouvir
43. Cantigas de Maio. d. História Trágico-Marítima. otentamente - oração subordinada
adverbial final (não finita infinitiva).
c. A não ser que não tenha tempo - ora-
1.3. De acordo com a primeira parte do texto, o disco Por Este Rio Acima (5 PONTOS)
ção subordinada condicional (finita);
44. influenciou a música portuguesa. lerei as letras do álbum ainda hoje -
oração subordinante.
45. foi influenciado por ecos revolucionários.
46. teve mais êxito do que a obra Cantiga de Maio. GRUPO 11I
Apesar de terem sido produzidos
47. distingue-se ligeiramente das restantes músicas da época. em épocas aproximadas, Os Lusíadas e
a História Trágico-Marítima abordam
de diferentes formas a temática dos
1.4. Até à edição de Por Este Rio Acima, a música popular portuguesa era Descobrimentos.
concebida como (5 PONTOS) Em Os Lusíadas, os Descobrimen-
tos são perspetivados de forma dico-
48. forma de identidade cultural. 50. forma de padronização. tómica - privilegiando-se quer a sua

49. tendência estética subtil. 51. meio de vulgarização da dimensão épica quer a sua vertente
antiépica. Assim, como epopeia que
cultura. são, Os Lusíadas exaltam o povo por-
1.5. A comparação entre Por Este Rio Acima e Crónicas da Terra Ardente tuguês, divulgando os seus feitos
grandiosos e apresentando uma visão
é encarada por Viriato Teles como (5 PONTOS)
heróica do mundo - nesse sentido, a
52. abrangente. c. restritiva. viagem de Vasco da Gama é encarada
como um acontecimento de inestimá-
53. incoerente. d. ilógica. vel importância, representativo do va-
lor dos Portugueses. No entanto, nes-
1.6. Em "Fausto surge perante nós como um navegador solitário contra as ta obra perpassa também um espírito
de desencanto e descrença relativa-
correntes dominantes da moda e do consumo." (11.27-28) está presente uma (5 PONTOS)
mente às ações humanas. A prová-lo

54. enumeração. c. aliteração. está o discurso do Velho do Restelo,


no momento da partida das naus, ou
55. comparação. d. hipérbole. as reflexões que o poeta faz, peja das
de desencanto e deceção, a propósito
dos acontecimentos narrados.
1.7. Na última frase do texto estabelece-se um nexo de (5 PONTOS)
Na História Trágico-Marítima apre-
56. condição. c. finalidade. senta-se, sobretudo, o reverso dos
Descobrimentos. Embora nesta com-
57. concessão. d. consequência. pilação também sejam apresentados
relatos de viagens bem-sucedidas,
nela predominam relatos de tempes-
58. Responde ao item apresentado. (15 PONTOS) tades, de naufrágios e de ataques de
corsários. No caso do capítulo V ("As
2.1. Identifica e classifica as orações que constituem as frases abaixo. terríveis aventuras de Jorge de Albu-
59. Editado o álbum Crónicas da Terra Ardente, comprei-o de imediato. querque Coelho") evidenciam-se, so-
bretudo, os perigos e o sofrimento as-
60. Comprei o último álbum de Fausto para o ouvir atentamente. sociados às viagens ultramarinas.
Em síntese, ainda que ambas as
61. A não ser que não tenha tempo, lerei as letras do álbum ainda hoje. obras abordem os Descobrimentos a
partir de um ponto de vista dicotómi-
co - ambas representando o anverso e
o reverso da situação, as aventuras e
as desventuras - em Os Lusíadas des-
taca-se a vertente épica da Diáspora,
(50 PONTOS)
ao passo que na História Trágico-Marí-
tima prepondera a vertente antiépica
do fenómeno.
As aventuras e as desventuras dos Descobrimentos encontram-se representadas quer na
(243 palavras)
epopeia Os Lusíadas quer nos relatos que integram a História Trágico-Marítima.
Escreve um texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas
~ palavras, em que explicites a forma como os Descobrimentos são perspetivados nestas duas
~obras.
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