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1. Lê os textos seguintes, em que se retrata a época em que Gil Vicente viveu. rio da co
dos autos das três Barcas, evidenciando assim o desregramento social dominante sob o desejo de Impé- "Sétima
Vicente,
Um tempo de prosperidade como
20 Pi
represe9
Iniciada no reinado de D. João I a política de expansão ultramarina, que viria a cul-
deumid
minar, económica e geograficamente, com a fundação da feitoria' de São Jorge da Mina
Éu
(1482) e a ultrapassagem do cabo da Boa Esperança (1487) no reinado de D. João II e, no
poro de
de D. Manuel, com o descobrimento do caminho marítimo para a Índia (1498) e do Bra-
25 ri-se des
s sil (1500), Portugal tornara-se, numa Europa a que a Renascença e a Reforma estavam
tado na I
mudando a face, no elo de ligação entre o mundo antigo e o mundo novo. À corte de quer na
D. Manuel afluíam por igual fidalgos e burgue-
parecem
ses, uns e outros deslumbrados pela miragem do
Oriente. O país vivia, então, um dos períodos
exempl
10 mais florescentes e prósperos da sua história,
30 os frade
prenhe todavia de contradições. Essas contradi- preciso
ções viriam a exacerbar-se [ ... ]. país que
Gil Vicente [ ... ] participou em cheio dessa nhoma
1. feitoria:
época, das suas grandezas e das suas misérias, do e
15 que nela se vinculava ainda ao passado e do que 3. desemba
da Chronica de D. Afonso Henriques, de Duarte Galvão eclesiatismo burocrático de D. João I1I, mostrando um país já longe
da
"Sétima Idade do A sociedade na época de Gil Vicente
Mundo" dos tempos de
Com Gil Vicente, o povo entra na história da literatura, a arraia-miúda lisboeta das
Leitura I Educação Literária
mL8.1. Selecionar criteriosamente in-
crónicas de D. Fernando e D. João I de Fernão Lopes, o povo manhoso e generoso, hipó-
formação relevante. crita e honesto, traidor e leal, avarento e bondoso, cúpido e casto, pobre e rico, humilde
L8.2. Elaborar tópicos que sistemati- e rezingão, identificado com os mercadores, os labregos das aldeolas, as raparigas casa-
zem as ideias-chave do texto, organi-
zando-os sequencialmente. s doiras, os velhos luxuriosos, as viúvas pobres dos marinheiros das Índias, os bebedolas
EL 16.1. Reconhecer a contextualiza-
ção histórico-literária nos casos pre- sem eira nem beira, os fidalgos poltrões, as mexeriqueiras de bairro, as casamenteiras de
vistos no Programa.
verruga no queixo, os frades lúbricos", os desembargadores" corruptos, os judeus ava-
D. João I / Nuno rentos. Todos, como tipos sociais, possuem representação nos autos e farsas de Gil Vi-
Antônio de Holanda cente, encenados para a Corte como o grande fresco social e psicológico do povo portu-
(e. 1480/1500 - e. 1571)
10 guês do século XVI. Prolongamento do teatro devoto e moral medieval, acrescido de
· Miniaturista e iluminador
de desta- inéditas e inúmeras personagens profanas e populares e de novas e coevas situações
cada importância na corte de D. Ma-
nuel, provavelmente nascido nos sociais, Gil Vicente faz representar o novo Portugal Quinhentista, tão devoto na fé
Países Baixos quanto hipócrita e simulado nas relações sociais, tão moralista nos costumes públicos
· Principais obras:
iluminuras do Livro quanto devasso nos privados, governado menos pelo ardor da fé e mais pelo interesse
de Horas de D. Manuel, da Genealo-
gia dos Reis de Portugal e da Genea- 15 do dinheiro. Medievalmente, Gil Vicente estende a moralidade católica às personagens
representando as múltiplas e desvairadas gentes da cosmopolita Lisboa Quinhentista unidas pela falta
de um ideal nacional que lhes fosse maior. [ ... ]
É um Portugal solto, desregrado, cheirando alarvemente a dinheiro, os ricos por o terem, os pobres
por o desejarem, todos por nas Índias o espreitarem, as ocidentais e as orientais. Nas farsas, Gil Vicente
25 ri-se desse Portugal novo-rico, pagão (judeus, velhas casamenteiras aparentadas de bruxas), represen-
tado na corte - e a corte inteira ria dos broncos caricaturados pelo autor, concordando que quer na rua
quer na fidalguia dominava a omnipotência do dinheiro e o desvirtuamento da moral católica. De todos,
parecendo lamentar-se, ria-se mestre Gil, remedando" frades, fidalgos, mercadores, pregando pelo
exemplo teatral uma tolerância que não ganhará eco no Portugal de D. João 111. Não lhe bastará criticar
lO os frades místicos que em Santarém culpavam a comunidade judaica pelo surto de um terramoto, era
preciso evidenciar que o fanatismo é irmão siamês da ignorância e ambos concorrem para espelhar um
país que a si próprio se começa a amaldiçoar, confundindo realização espiritual (a descoberta do cami-
nho marítimo para a Índia, a descoberta do Brasil. .. ) com sucesso financeiro imediato.
Miguel Real, Introdução à Cultura Portuguesa. Lisboa, Planeta, 2011 [pp. 91-92, com supressões]
l.Jeitoria: entreposto comercial, estabelecido, em geral, em zonas costeiras, como local de comércio. 2.lúbricos: que tendem para a luxúria; lascivos.
3. desembargadores: juízes. 4. remedando: imitando .
. /~ 1.1. Copia °
esquema abaixo para o teu caderno e completa-o, de acordo com a informa-
ção apresentada nos textos.
1.1. a. Desenvolvimento da econo-
mia com base na expansão ultramari-
Portugal na primeira metade do século XVI na; procura de lucro no Oriente por
parte das classes sociais mais eleva-
das; clima de prosperidade.
b. Expansão ultramarina com novos
domínios geográficos (São Jorge da
a
lJr-- b•• ___________J
Mina, cabo da Boa Esperança, fndia,
Prosperidade e expansão Brasil); estatuto mediador de Portu-
gal entre a Europa e o Novo Mundo.
[_'cooó_mica
3. Hipocrisia social.
4. Devassidão em privado.
[ Geográfica _.
5. Diminuição da fé.
6. Desvario lisboeta.
( Grandes transformações J
8.
7.
Devoção religiosa vs. C.
J,
"um país que a si próprio se começa a amaldiçoar, confundindo realização espiritual [. .. ]
com sucesso financeiro imediato" (11. 31-33)
.J.,
Crise de valores
147
Contextualização
9.
10. 2. Lê O texto seguinte, para aprofundares os teus conhecimentos sobre Gil Vicente.
,
leitura I Educação literária I
Escrita
m3
Quem foi Gil Vicente?
E116.l. Reconhecer a contextualiza-
ção histórico-literária nos casos pre-
A sua biografia é mal conhecida e levanta vários problemas, sendo o principal o da 45
vistos no Programa.
l8.l. Selecionar criteriosamente infor- identificação do teatrólogo com um outro Gil Vicente, ourives célebre, que fez a Custódia
mação relevante.
l8.2. Elaborar tópicos que sistemati- de Belém (1506) com o ouro das "páreas'" entregues pelo rei de Quíloa e trazidas por s
zem as ideias-chave do texto, organi-
Vasco da Gama no regresso da sua segunda viagem à Índia. Tem-se discutido muito se são
zando-os sequencialmente.
Ell.l. Escrever textos variados, res- 5 uma e a mesma pessoa, ou se duas personagens diferentes. Anselmo Braancamp Freire
peitando as marcas do género: sínte-
se [ ... ]. sustenta que o homem de teatro é o ourives. Fundamenta a sua afirmação numa carta de
E12.3. Redigir um texto estruturado,
D. Manuel, datada de Évora a 4 de fevereiro de 1513, onde o rei nomeava Gil Vicente ouri-
que reflita uma planificação, eviden-
ciando um bom domínio dos meca- ves da rainha D. Leonor, sua irmã. No alto da carta anotada pela mão de um funcionário o
nismos de coesão textual com marca-
ção correta de parágrafos e utilização da Chancelaria Real vem a indicação "G. v., trovador mestre da balança': Para Braamcamp 4
adequada de conectores.
10 Freire,
esta menção é decisiva, e desenvolve uma argumentação muito persuasiva no sen-
E13.l. Pautar a escrita do texto por v
gestos recorrentes de revisão e aper- tido de provar que as duas funções eram exercidas pela mesma pessoa.
feiçoamento, tendo em vista a quali-
dade do produto final. O autor dos autos, tal como o ourives, esteve durante muito tempo ao serviço da "Ra-
inha Velha'; D. Leonor. Ela encontrava-se presente na câmara da rainha D. Maria, a 7 de
148
junho de 1502, quando ali foi apresentado o Monólogo do Vaqueiro, primeira obra conhe-
15 cidade Gil Vicente. Para D. Leonor foram compostos o Auto Pastoril Castelhano (1509), o
Auto dos Reis Magos (1510), o Auto de 5, Martinho (1504) e o Auto da Índia, representado
em Almada em 1509. Igualmente para ela, ou a seu pedido, foram escritos a Barca do In-
ferno (1517), o Auto da Alma (1518), a Barca do Purgatório (1518) e o Auto dos Quatro
Tempos (antes de 1521). Só em 1521 passa Gil Vicente diretamente para o serviço do rei,
20 D. Manuel I, continuando a exercer as suas funções durante o reinado de D. João IH.
A obra dramática de Gil Vicente é, portanto, um teatro de corte, que se conforma com
as regras e as práticas inerentes a esse género. Conhecemos a sua obra através da Copila-
çam de Todalas Obras de Gil Vicente (Lisboa, 1562), que foi postumamente publicada por
Paula Vicente e seu irmão Luís, filhos do segundo matrimónio do poeta. Existem, no en-
25 tanto, alguns autos que vieram a lume em folhas volantes" sob a orientação do autor, qual
3
é o caso da Barca do Inferno, e a colação" que entre este e o texto da Copilaçam se tem
feito não deixa dúvidas quanto às incorreções que nesta edição se contêm. Convém notar
que toda a obra de Gil Vicente é anterior ao estabelecimento da Inquisição em Portugal,
pois a sua primeira peça data de 1502 e a última de 1536. Com a sua obra se preocupou a
30 Inquisição, introduzida em 1536, que lhe proibiu algumas peças. Das que saíram em
forma de folhas volantes, três foram suprimidas, incluindo o auto do Jubileu de Amores,
representado em Bruxelas em 21 de dezembro de 1531 na Embaixada de Portugal. Por
outro lado, a Copilaçam apresenta uma divisão da obra de Gil Vicente que não é, de ma-
neira nenhuma, aquela que ele lhe atribui (comédias, farsas e moralidades) no prólogo,
35 em castelhano, de Dom Duardos (1522?). Uma segunda edição, saída em Lisboa, em 1586,
foi profundamente mutilada pela censura inquisitorial, nada de novo trazendo ao nosso
conhecimento do autor.
Obra complexa, muito rica na diversidade dos tipos humanos apresentados e nos
quais se encontra toda a sociedade portuguesa do início do século XVI, com exceção dos
40 mercadores, talvez porque a classe mercantil era essencialmente constituída por cristãos-
5€
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10 n
e
s
p
11.g
mundo - de que os Autos das Barcas e o Auto da Feira nos oferecem uma impressionante
visão -, são implacavelmente representados nas suas vaidades, loucuras e viciosa con-
duta, que suscitam o riso e impõem a reflexão. Mas Gil Vicente é também um poeta lírico
45 de fina sensibilidade e aguda perceção psicológica. As suas figuras femininas, como, por
A propósito da obra Dom Duardos
exemplo, Inês Pereira ou a princesa Flérída", têm uma vida interior que o tempo não con- "I ... ] Trata-se de uma tragicomédia na
seguiu esbater. qual Gil Vicente retrata com inigualá-
vel mestria a condição humana, as
"Gil Vícente" Centro de Documentação de Autores Portugueses, nossas inquietações, as nossas "misé-
in http://www.dglb.pt/sites/DGLB/Portugues/autores/Paginas/PesquisaAutores1.aspx?Autorld=68s6 [Consult. 02-12-2014) rias'; a eterna viagem que é a busca de
nós mesmos e que encontra a sua gé-
nese no nosso destino incontornável:
I. páreas: antigo tributo pago por um soberano a outro como sinal de obediência. 2.folhas volantes: folhas desligadas umas das
o amor. Alguns críticos, como Dâmaso
outras, presas a um cordel, que eram vendidas nas feiras, ruas, praças ou em romarias. 3. cotação: confronto, comparação.
Alonso, consideram-na "uma das
4. próceres: homens importantes da nação. 5. princesa Flérida: personagem da peça Dom Duardos, uma das onze peças que Gil
obras poeticamente mais belas da li-
Vicente escreveu exclusivamente em castelhano.
teratura em língua castelhana"
Esta é a história de D. Duardos, cavalei-
ro andante, filho do rei de Inglaterra,
2.1. Redige uma síntese do texto, com cerca de cem a cento e cinquenta palavras, redu- que se dirige a (onstantinopla para
exigir justiça sobre assuntos de vida e
zindo-o às ideias essenciais. Segue as etapas abaixo: morte. Aí encontrará a infanta Flérida
e o amor. Só então se inicia a verdadei-
ra viagem deste herói, uma viagem
Apresentação, por tópicos, das ideias-chave do texto: pelos sentimentos dos amantes até ao
mais profundo conhecimento de si
• aspetos biográficos de Gil Vicente próprios. [ ... l"
hltpJlwww.lealro-dmaria.pttpttcalenda-
Etapa 1 rio. traqkomeoia-de-d-duardos-qil-vicen-
• relação do dramaturgo com a Corte te! [Consult. 06-12-20141
2.1. Exemplo:
• dados relativos à sua obra Segundo o autor do texto, a dificulda-
de em elaborar a biografia de Gil Vi-
Etapa 2 Redação da síntese, integrando e articulando as ideias-chave selecionadas cente começa, desde logo, na possí-
vel, mas não confirmada, identificação
Revisão e aperfeiçoamento do texto, tendo em vista a qualidade do produto final e do poeta com o ourives da mesma
época.
incidindo nos seguintes aspetos: Gil Vicente esteve ao serviço da corte
de D. Leonor (tendo escrito várias pe-
Etapa 3 ças a seu pedido), de D. Manuel I e de
• clareza das ideias transmitidas D.Joâo111.
As obras vicentinas foram compiladas
• adequação do registo de língua, do vocabulário e dos conectores postumamente por dois dos seus fi-
lhos, embora apresentem uma divisão
diferente da que o dramaturgo teria
Ver Síntese, p. 46
proposto. Também a Inquisiçâo terá
tido um papel determinante na divul-
12. Lê os textos expositivos seguintes, em que se caracteriza o teatro vicentino, em geral, e a gação da obra vicentina, já que foi
responsável pela supressão de algu-
Farsa de Inês Pereira, em particular. mas peças do autor.
o teatro vicentino
Ainda relativamente à obra de Gil Vi-
cente, o autor do texto salienta o inte-
resse documental das personagens
vicentinas, realçando a vida interior de
algumas figuras femininas, como Inês
Pereira ou a princesa Flérida.
Está hoje posta de parte, pela moderna crítica literária, a tese romântica longamente (136 palavras)
enraizada segundo a qual o teatro português teria nascido nos alvores do século XVI, com
Gil Vicente, antes do qual não existiria. [ ... ] Não se compreenderia, com efeito, que as ma- Leitura I Educação Literária
nifestações dramáticas características da Idade Média, comuns a toda a Europa como mJ
L8.1. Selecionar criteriosamente infor-
eram, não houvessem chegado ao extremo ocidental da Península Ibérica. [ ... ] mação relevante.
EL16.1. Reconhecer a contextualiza-
A carência de textos escritos - e o carácter oral de todas as literaturas nos seus primór- ção histórico-literária nos casos previs-
dios pode muito bem explicá-la, com especial adequação no que ao teatro se refere - está tos no Programa.
em cuja obra, transfigurados pelo seu génio poético, os elementos principais desse teatro
subsistem. Gil Vicente não foi (e isto em nada diminui a sua grandeza) o criador do teatro
português; mas foi com ele que este abandonou o estado larvar, embrionário, em que ve-
getava desde o século XII, para assumir enfim uma existência literária. 149
Luiz Francisco Rebello, Op. cito [pp. 15-18, com supressões)
13.
a ordem social estabelecida
através do mecanismo da
sátira. [00']
Em suma, e farsa é um
género dramático menor que a
Características da farsa nível formal/estrutural se ca-
racteriza pela ausência de
[N]o século XVI a farsa era vista como um género dramático que autorizava uma
divisão em atos e de marcação
grande variedade temática, privilegiando a de natureza cómica, e que não encarava de
de cenas; pela despreocupação
forma muito rígida a sua configuração formal, nomeadamente, as unidades de tempo e de
lugar, tão valorizadas pela tradição clássica, e a divisão do texto em cenas ou pausas. [00']
total com as unidades de
Afarsa fazia também frequentemente uso da sua potencial possibilidade de subverter
tempo e de espaço; pela
utilização de parcos recursos cénicos;
10 pela colocação em palco de um reduzido número de personagens; pela abundância de
tipos sociais característicos da época; eventualmente pela presença de uma personagem
redonda que sofre ao longo da peça evolução psicológica e moral; pelo delineamento de
uma intriga com um nó,
Observa um excerto analisado da Farsa de Inês Pereira, em que se apresentam algumas das Obser
características das peças vicentinas.
desenvolvimento e
desenlace; pela presença
caract
de sátira, fonte de
cómico; e pelo recurso frequente a uma linguagem de conotações eróticas. A nível temá-
15 tico, afarsa privilegia a problematização da luta entre forças opostas, do relacionamento
humano, familiar e amoroso, da oposição dos valores tradicionais e convencionais a valo-
res individuais e pessoais e o recurso frequente ao equacionamento de um triângulo ReprE
amoroso. doq~
(comi
Teresa Gonçalves, "Farsa'; in E-Dicionário de Termos Literários, http://www.edtl.com.pt [Consult. 03-11-2014, com supressões]
casa
Anta
Mãe
-opo
eco
·
con
17.
a discrição que ele tem.
Inês Mostrai-ma cá, quero
Um pretendente para Inês ver.
Lia. Inês Pereira é concertada I Lia. Tomai. E sabedes vós
Representação Assunto: a
pera casar com alguém? ler?
do quotidiano alcoviteira lianor
(combinação de Mãe Até 'gora com ninguém Mãe Hui! E ela sabe latim, Vaz quer saber
casamento)
não é ela embaraçada. e gramática e se Inês está
comprometida,
Lia. Eu vos trago um casamento alfaqui",
Antagonismo pois encontrou
Mãe / Inês: em nome do Anjo bento . e tudo quanto ela um pretendente
· oposição de interesses
Filha, não sei se vos prazo quer. para a jovem
e conceções de vida Intervenientes
· conflito intergeracional
Inês E quando, Lianor Vaz? na ação:
Lia. Eu vos trago aviamento". Inês, lianor
Vaz, Mãe (de
Inês Porém, não hei de casar Inês)
senão com homem avisado",
Linguagem
ainda que pobre pelado", expressiva:
seja discreto em falar. · Cóm
ico de linguagem
Lia. Eu vos trago um bom marido, · Expr
rico, honrado, conhecido; essões
diz que em camisas vos quer. coloquiais
- em que surgem representados tipos sociais: jovem rapariga em idade de casar e que
deseja ascender socialmente (Inês), alcoviteira/casamenteira (Lianor); lEI PPT
Gil Vicente - Farsa de Inês Pereira -
· texto caracterizado por uma linguagem expressiva, de carácter popular, pelo cómico de Texto analisado
Educação Literária
~ft
25.
Autode Ines Pereira. 26. Observa o frontispício do Auto de Inês Pereira (ou Farsa de Inês Pereira), repre-
20
sentado pela primeira vez para o rei D. João 111, em 1523. Abaixo, podes ler o
j
texto que acompanha a ilustração das personagens vicentinas.
~.
Feito por Gil Vicente, representado ao muyto alto, e muy poderoso Rey dom
Ioam o terceyro no seu convento de Tomar: era do Senhor de M.D.XXlIJ. 25
O seu argumento he, hum exemplo comum que dizem: mais quero asno que
me leve, que cauallo que me derrube. As figuras sam as seguintes. Ines pereyra,
sua mãy, Lianor uaz, Pêro marquez, dous Judeus, hum chamado Latam, e
ftytopo! 61 9Iccntc.repmcncgdo.o mutto Glto,'f outro Vidal, hum escudeyro, com hum seu Moço, hum Ermitam .
muypodcro(o iRcr Dom :Voam o ta((!lo no (eu,~
DentO De 2:omar:l!riJ '0 (cnJ)OJ O( n&.~.uüj.te
(cu
IJI'gumencobt,t,umcrcmplo comum qucoí)(m: mtiP
quero 9(no quemc Icuc,qlK cauaUo que me 0trTUbc.
lI.flgur •• rom o.r'gufm •••. :iln<optrq>a, r"mãr.
l1anol W3, ~o marque" ooue Judeus,
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Educação Literária 30
1.1. Com base na ilustração do frontispício, antecipa algumas características das perso-
El14.2. Ler textos literários portu- nagens representadas.
gueses de diferentes géneros, perten-
centes aos séculos XII a XVI. 1.2. Complementa as informações anteriores com a leitura do início da farsa e explicita as
El14.4. Fazer inferências, fundamen-
tando. circunstâncias de criação da farsa.
El14.5. Analisar o ponto de vista das
diferentes personagens.
1.3. Interpreta o possível sentido da expressão: "Mais quero asno que me leve, que cavalo 35
El14.9.ldentificar e explicitar o valor que me derrube".
dos recursos expressivos menciona-
dos no Programa. 27. Lê a parte inicial da peça, em que se foca a insatisfação de Inês e, simultaneamente, ouve
E114.11. Reconhecer e caracterizar
textos quanto ao género literário: [ ... ]
farsa. a leitura dramatizada da mesma. Mã
E116.2. Comparar diferentes textos
no que diz respeito a temas, ideias e
valores.
152
Finge-se, na introdução, que Inês Pereira, filha de uma mulher de baixa sorte, muito
fantesiosa, está lavrando! em casa, e sua mãe é a ouvir missa. E ela diz:
28.
153
29.
A insatisfação de Inês
4. Gil Vicente, Farsa de Inês
Pereira
3. A farsa inicia-se com um monólogo de Inês, que evidencia o seu estado de espírito.
o
3.1. descontentamento de Inês é
motivado por circunstâncias diversas: 3.1. Apresenta-o, explicitando as motivações da personagem.
aborrecimento e enfado devido ao
trabalho que está a fazer (vv. 5-9); can-
3.2. Transcreve uma enumeração, uma interrogação retórica e uma comparação usadas
saço (vv. 7, 21); confinamento cons- para exprimir esse estado de espírito, comentando o seu valor expressivo.
tante ao espaço da casa (vv. 10-11,
17-18); impossibilidade de se divertir
como o fazem as raparigas da sua ida-
Informação Interrogação retórica
de (vv. 23-25).
3.2. Exemplos:
Interrogação para a qual não é esperada resposta, mas que confere vivacidade ao dis-
A enumeração (vv. 5-7) e a interroga-
ção retórica (vv. 14- 16) reforçam a ex- curso e que permite destacar, por exemplo, a incredulidade ou a admiração face a determi-
pressão de indignação e revolta da nada situação.
personagem, insatisfeita com a sua si-
tuação. A comparação com objetos Ex.: "Coitada, assi hei de estar / encerrada nesta casa / como panela sem asa, / que sempre
esquecidos e sem préstimo pretende
está num lugar?" (vv. 10-13) Ver Síntese Informativa, p.
destacar o absurdo da sua situação
(vv. 10-13). 381
4.1. A Mãe reage de forma irónica e
até um pouco agressiva (vv. 37-43, 4. O lamento de Inês é interrompido pela chegada da Mãe.
47); desconfiada relativamente ao fac-
to de a filha ter realizado as tarefas de 4.1. Como reage ela aos desabafos da filha? Exemplifica com elementos textuais.
que estava incumbida (vv. 37-40).
5.1. Argumentos de Inês: deseja sair
do seu "cativeiro"; considera que a vi-
5. Ao longo do diálogo que estabelecem, Inês e a Mãe falam sobre o casamento desejado
da de solteira "é mais que morto" e pela rapariga, apresentando, cada uma, a sua opinião sobre a questão.
que, sendo ela dedicada ("aguçosa').
não será difícil arranjar casamento. 5.1. Salienta os argumentos das duas personagens, tendo por base o texto.
Argumentos da Mãe: com fama de
preguiçosa, Inês não conseguirá ar- 6. Caracteriza psicologicamente Inês, neste momento da ação.
ranjar marido; a moça não se deve
apressar, pois rapidamente será con-
frontada com o casamento e com a Informação A moça solteira e o casamento
maternidade.
6. Caracterização de Inês:
· insatisfeita com a vida de Alguns dos mais conhecidos autos [ ... ] mostram ao espectador a figura da moça solteira
solteira;
que vive reclusa dentro de casa, sujeita à autoridade da mãe, obrigada ao modelo de virtude
· desejosa de uma
mudança que lhe feminina identificada com os afazeres caseiros, como varrer, fiar, bordar, sem poder sair à rua
permita
Gramáticasair do seu "cativeiro";
· ansiosa pelo casamento
à sua vontade. A arte do dramaturgo espelha-se na maneira como desenhou de forma credí-
para que vel essas figuras femininas com recorte socialmente mais realista, interpretando os seus an-
G18.2. Dividir e classificar orações.
consiga atingir os seus objetivos.
G18.4. Identificar orações subordi- seios à luz de uma psicologia que estava bastante marcada pela misoginia' tradicional. Nes-
nadas.
G18.S. Identificar oração subordi-
ses casos, o casamento aparecia como solução para esse apelo e atração que a rua exercia
nante. sobre a mulher, o que só podia ter cabimento no quadro cortês se fosse tratado em termos
1. a. Estou fechado nesta caso - ora- jocosos.
ção subordinante; como uma panela Jorge A. Osório, "Solteiras e Casadas em Gil Vicente';
sem asa - oração subordinada adver- in Península. Revista de Estudos Ibéricos, n.O 2,2005 [p. 124, com supressões]
bial comparativa.
b. A senhora permite - oração subor- 1. misoginia: desprezo ou repulsa relativamente às mulheres e às suas características.
dinante; que eu vá à janela - oração
subordinada substantiva completiva. Educação 2
c. Não tenhas pressa - oração subor-
dinante; porque antes do Páscoa vêm Gramática
os ramos - oração subordinada ad-
verbial causal.
6. Identifica e classifica as orações integradas nas frases abaixo.
d. Quando menos esperares - oração
subordinada adverbial temporal; te- 7. Estou fechada nesta casa como uma panela sem asa.
rás marido e filhos - oração subordi-
nante. 8. A senhora permite que eu vá à janela?
e. O Diabo me leve - oração subordi-
nante; se eu continuara bordar - oração 9. Não tenhas pressa, porque antes da Páscoa vêm os ramos.
subordinada adverbial condicional.
1.1. Exemplos:
10. Quando menos esperares, terás marido e filhos.
c. Não tenhas pressa, porquanto / 11. O Diabo me leve, se eu continuar a bordar.
uma vez que / já que / dado que an-
tes da Páscoa vêm os Ramos. 1.1. Reescreve as frases das alíneas c. e e., substituindo a conjunção por uma outra ou por
e. O Diabo me leve, caso eu continue
a bordar.
uma locução conjuncional com o mesmo valor.
Ver Síntese Informativa, pp. 377,
154 372
Literária
pardeus, lançou mão de mil Lia. Si, agora, eramá", • Pintor francês, sucedeu ao pai, em
1541, como pintor da corte de Fran-
cisco I
Não me podia valer, também eu me ria cá considerado o maior pintor e dese-
• É
15 diz que havia de saber das cousas que me dizia: nhista francês da segunda metade
do século XVI e um dos maiores no-
se era eu fêmea, se macho. chamava-me "luz do dia"; mes da Escola de Fontainebleau
Mãe Hui! Seria algum muchacho' 45 "Nunca teu olho verá!"!' • Notabilizou-se como retratista, pin-
tor de nus e de temas históricos e
que brincava por prazer? Se estivera de maneira mitológicos
1. muchacha: rapaz. 2. v. 19: Pois sim, para rapaz, era demasiado corpulento. 3. zote: idiota, tresloucado. 4. retouço: brincadeira.
S.Asso/verei: Absolverei. 6. breuiário de Braga: Breviário de Braga (Nota: Trata-se de um breviário que tinha muito prestígio).
_7. v. 31: Quando viu que os seus planos tinham saído gorados. 8. cabeção: gola larga. 9. guisa: maneira. 10. fogo: Inferno.
~ll. vv. 38-39: Deu-me tanta vontade de rir que nem me conseguia defender. 12. eramá: em má hora. 13. v. 45: Nunca brilharei
~para ele. 14. cadarrão: grande catarro. 15. peitogueira: tosse. 16. cor: vontade.
155
32.
Inê
1 17. ai: outra coisa. 18. chantou: meteu. 19. mesura: cortesia. 20. vv. 64-65: I ão tens os queixos arranhados, porque é
5 que te la-
mentas? 21. tosquiada: com o cabelo curto. 22. v. 69: Não tenho juízo suficiente para me defender? 23. requesta: luta. 3
6 24. homem de uma besta: almocreve. 25. Vasco de Fóis: alferes-mor que pertencia à Ordem de Cristo, em Tomar, onde !
a peça foi
4
representada pela primeira vez. 26. sois: tendes por costume. 27. Trama: doença. 28. boa: boa sova. 29. coroa: cimo da
cabeça.
,
4
30. maviosa: terna; meiga. 31. aquenta: aquece. 32. concertada: comprometida. 33. embaraçada: comprometida. 34.
1
avia-
mento: rapidez. 35. avisado: discreto. 36. pelado: sem vintém. 37. em camisa: sem dote. 38. alfaqui: sábio
5
muçulmano (a Mãe
pensa que esta palavra designa uma ciência difícil, por isso, não a utiliza adequadamente).
ç
i
33.
Mãe Pardeus, amiga, essa é ela!"
"Mata o cavalo de sela,
165 e bom é o asno que me leva:' 4. Gil Vicente, Farsa de Inês
Pereira
Lia. Filha, "No Chão do Couce",
quem não puder andar choute","
Lê Inês Pereira
"Mais a carta.
quero eu quem rn'adore,
que quem faça com que chore."
Inês "Senhora amiga, Inês Pereira,
170 Chamá-Ic-ei, Inês?
Pêro Marques, vosso amigo,
Inês Si,
que ora" estou na nossa aldeia,
130
venha
mesmoe veja-me
na vossaamercê
mi,
quero ver, quando me
m'encornendo'", e mais vir,digo,
sedigo
perderá o presumir"
que benza-vos Deus,
logo
que vos fez de tão aqui,
em chegando bom jeito".
175 pera
Bomme fartare de
prazer bomrir.proveito
Mãe
1lS vejaTouca-te",
vossa mãesede
cáVÓS.
vier,
42
· "Matanem tanto
o cavalo / e de mão. G18.2. Dividir e classificar orações.
fora
de sela,
(vv.64·65).
bom é o G18.4.ldentificar orações subordina-
das. Contradição do relato evidenciada
asno que me leva." (vv. 164-165);
· Lia. "No Chão do Couce, / G18.5. Identificar oração subordi-
Quereis casar a prazernante.
pela própria Lianor: identificação do
local onde a ação se terá passado -
quem não pu-
i5 no tempo d'agora, Inês?
derandarchoute."(vv.166-167); Lianor diz, inicialmente, que fora ata-
do texto vicentino
Expressividade c. d. Representação expressiva,
Oralidade I Escrita I Educação Literária
da representação extrapolando o universo de
0
dos recursos expressivos menciona-
forma simples que Inês se riu das I
dos no Programa.
pA
EL14.11. Reconhecer e caracterizar Pêro Marques, o pretendente suas palavras.
J
textos quanto ao género literário: [ ... ]
farsa.
8 In
Oralidade I Escrita I Educação
0
literária
12.
01.4. Fazer inferências.
15. 01.5. Distinguir diferentes intenções
comunicativas.
20. 01.6. Verificar a adequação e a ex-
sei pressividade dos recursos verbais e
28. não verbais.
32. 02.1. Tomar notas, organizando-as.
Ell.l. Escrever textos variados, res-
ENC peitando as marcas do género: [ ... ]
apreciação crítica.
4. Gil Vicente,
E12.1. Respeitar o tema.
Farsa de
49.
Inês Pereira E12.2. Mobilizar informação adequa-
da ao tema.
E12.3. Redigir um texto estruturado,
que reflita uma planificação, eviden-
ciando um bom dorrunio dos meca-
Chega a casa de Inês Pereira: nismos de coesão textual com marca-
ção correta de parágrafos e utilização
adequada de conectores.
10 Digo que esteis' muito embora. E13.1. Pautar a escrita do texto por
Folguei ora de vir cá. gestos recorrentes de revisão e aper-
feiçoamento, tendo em vista a quali-
Eu vos escrevi de lá dade do produto final. 65 In
uma cartinha, senhora: El15.7. Analisar recriações de obras
literárias do Programa, com recurso a
E as si que de maneira ... 2 diferentes linguagens (por exemplo,
15 Mãe Tomai aquela cadeira. música, teatro, cinema, adaptações a
séries de TV). estabelecendo compa- P
Pêro E que val aqui uma destas?" rações pertinentes.
Inês (Oh, Jesu! Que João das bestas!"
70
Olhai aquela canseira!")
I
50. Assentou-se com as costas pera elas e diz:
Pêro lEI
Mais gado tenho eu já quanto,
Vídeo
Excerto do documentá rio "A Mulher
3 e o em
maior de todo o gado,
Gil Vkente" do programa Memó-
0
Eu cuido que não estou bem ...
Pêro digo maior algum
fias do Teatro [2 min e 50tanto.
s]
Como vos chamais, amigo?
20 Mãe
2.1. b., a., d., e., c.
E desejo ser casado,
3. a. e b. Interpretação fiel ao texto
Eu Pêra Marques me digo,
Pêro prouguesse"
vicentino, semao Espírito
adaptação Santo,
da lingua-
como meu pai que Deus tem. gem à época atual, c. Representação
comexpressiva,
Inês; que eu m'espanto
feita dentro dos moldes
Faleceu (perdoe-lhe Deus, 3 quem me fez seu namorado.
convencionais/tradicionais. f. Cenários
5
que fora bem escusado) que refletem uma visão mais moder-
Parece moça de
na e conceptual do bem,
texto vicentino,
e ficamos
3.1. Com base na análise, redige25uma apreciação dousdas
crítica ereos":
duas representações: mantendo, no entanto
e eu de bem er também. a sua essencia-
10
lidade (confinamento da mulher ao
porém, meu é o mor gado".
· apresentando os objetos da tua apreciação; Oraespaço
vós er ideg. Trajes
casa). vendo que se coadu-
Mãe De morgado" é vosso estado? nam com a época representada. h. Fi-
se lhe vem melhor alguém,
· fazendo uma descrição sucinta do episódio
Isso viriae dos
um comentário
céus! crítico das cenas; gurinos coincidentes com a época
40 a segundo]
representada, loque
emboraeu entendo.
apresentados
· recorrendo a linguagem valorativa para veiculares a tua opinião; com uma maior liberdade interpreta-
Lexicologia
Observação
4.1. Preocupação com o tipo de noivo
Gramática e o tipo de vida que a filha deseja (vv.
W Lê os seguintes excertos da Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente: 135-138); valorização da importância
G19.1. Identificar arcaísmos. de casar com alguém que qaranta a
G19.2.ldentificar neologismos. segurança e uma vida estável (vv. 137-
G19.3. Reconhecer o campo semân- -138,143).
tico de uma palavra.
"Mas eu, mãe, sam aguçosa / e vós dois-vos devagar." 4.2. A qualidade que Inês mais valori-
G 19.4. Explicitar constituintes de cam- za no marido é a discrição (qualidade
de quem tem cuidado a falar e a agir,
pos lexicais. "Seria algum muchacho/ que brincava por prazer?" seguindo as convenções sociais).
4.2.1. Censura da conceção de vida
G19.6.ldentificar processos irregula-
"E saiba tanger viola,/ e coma eu pão e cebola. / Siquer uma idealizada pela filha; aconselhamento
res de formação de palavras. com base em expressões de cariz
cantiguinha!" popular e de carácter sentencioso
(vv. 137-138, 144).
4
Repara que:
· Atualmente, não utilizamos a forma verbal "som", tendo caído
Gramática
CB
em desuso. G 17 .3. Explicitar processos fonológi-
· Há certas palavras que usamos que têm origem noutras cos que ocorrem na evolução do por-
tuguês.
línguas; a Mãe de Inês, por exem-
1. a. Paragoge.
plo, refere o nome "muchacho", que provém do castelhano. 31. Aférese.
· Sigla: iniciais de várias palavras, pronunciadas uma a uma, de acordo com a designação
de cada letra.
Ex.: ONG (Organização Não Governamental)
· Acrónimo: letras ou sílabas iniciais de várias palavras, pronunciadas como uma palavra.
Ex.: ONU (Organização das Nações Unidas)
· Truncação: palavra que resulta do apagamento de parte da palavra que lhe dá origem.
Ex.: quilo (quilograma)
.. ~~
''t~'' r
••. !. •
53.
M ud ão no há senão na corte Lexicologia
Escudeiro, o pretendente
que cá não no achareis.
· Amálgama: palavra que resulta da junção de parte de duas ou mais palavras.
Ex.: você (vossa + mercê)
Educação Literária
· Empréstimo: palavra originária de outra língua.
Educação Literária
Ex.: bricolage 43. o excerto que vais analisar introduz novas personagens, assumindo particular importân-
El14.2. Ler textos literários portu- cia o Escudeiro.
·gueses de diferentes
Extensão semântica:
géneros, per- palavra que já existia na língua, mas que adquire um novo signifi-
tencentes aos séculos XII a XVI.
cado.
El14.4. Fazer inferências, fundamen-
1.1. Lê o texto seguinte, em que se apresenta informação sobre o Escudeiro enquanto
Ex.: rato
tando. elemento de uma classe social mais vasta - a nobreza.
El14.S. Analisar o ponto de vista das
·diferentes personagens.
Onomatopeia: palavra que
El14.9. Identificar e explicitar o valor
reproduz um som produzido por objetos, animais, fenóme-
nos naturais,
dos recursos etc. menciona-
expressivos
dos no Programa.
Os Escudeiros na obra vicentina
Ex.: dique
E114.11. Reconhecer e caracterizar
textos quanto ao genero literário: Senho
Nas categorias elevadas da sociedade civil encontra-se o Fidalgo, muitas vezes
I ... ]
4 Asfarsa.
palavras de uma língua podem integrar diferentes estruturas lexicais, de acordo com
acompanhado do seu Moço ou Pagem (Barca do Inferno, Farsa dos Almocreves,
as relações que mantêm entre si e com os diferentes significados que lhes podem ser
1.2. Escudeiro: carácter galanteador
Comédia de Rubena, Nau de Amores, etc.), o Conde, o Duque, o Rei, o Imperador
associados.
(tocado r de viola, versejador). ainda (Barca da Glória). No outro extremo da classe nobre encontramos o Escudeiro,
que pobre.
· Campo lexical: conjunto de palavras que estão associadas
também acompanhado pelo seuao mesmo
Moço, conceito
sempre ou reali-
amoroso, grande tocador de viola
e versejador. É geralmente tão pobre quanto pretensioso (Quem tem Farelos?,
dade. Auto da Índia, Auto de Inês Pereira, O Clérigo da Beira).
Ex.: agulha, tecido, dedal ... (campo lexical de costura) Paul Teyssier, Gil Vicente - O autor e a obra, Lisboa, ICLp, 1982 [p. 124]
· Campo semântico: conjunto de significados que uma palavra pode ter nos vários con-
textos em que ocorre.
Ex.: ser burro; andar de cavalo para burro;
1.2. Comvozes de informação
base na burro não chegam ao céuexplica
apresentada, ... (campo
em que medida um escudeiro poderá
semântico de burro) corresponder ao marido idealizado por Inês Pereira.
Exercícios 2. Lê, agora, o excerto da farsa em que entra em cena o Escudeiro Brás da Mata.
Lat. ra, fomos ... Agora falo, a eu
33. Identifica os arcaísmos presentes nos excertos seguintes, fundamentando a tua resposta.
Escudeiro, o pretendente
"O demo (e não pode 01 ser) / se chantou no corpo dele."
Exercícios
1. "at" (outra coisa; outra pessoa), "si-
"e siquaes sereis vós minha, / entonces veremos nós." quaes" (porventura), "entonces" (en-
tão).
30
2.1. Canto/dança ("tanger", "viola",
2. Atenta num outro excerto da Farsa de Inês Pereira: Vêm os Judeus casamenteiros, "cantiguinha", "boi/ar", "tanger'); ali-
mentação ("coma~ 'pão", 'ceboto", "fa-
ou falas tu? Pera vossa mercê ver
rinha", "comer", 'boteimo", "água').
"Inês [' .. J Mãe Sempre tu hás de bailar, o que2.2.nos encomendou".
Latão e Vidal, e diz Latão: 1 Exemplo: Alimento feito de massa
E saiba tanger viola, Lat. Ou de cá! Quem está lá? ele há de tanger? 5 Lat. O que
e sempre de farinha de cereais, ou de milho, co-
nos encomendou
zida em forno; sustento; alimento es-
e coma eu pão e cebola. Nome de Deus, aqui somos! será osencial;
que seara
houver de ser.
ou conjunto de searas;
Siquer uma cantiguinha! Vid. Não sabeis quão longe Se não fomos!
tiveres que comer, Todopão
pão ázimo; pão de forma; pão de leite;
este mundo é fadiga.
de queijo; pão integral; pão raIa-
Falámos
Discreto, feitoa em
Badajoz',
farinha, Corremos a ira má.o tanger te há de fartar? do; pão seco; pão sem sal; a pão e
Vós dixestes, filha amiga,
músico,istodiscreto, solteiro; Cada louco com sua teima.
laranjaIs); pão, pão, queijo, queijo;
porque me degola. Lat. Este e Inês
eu. 20 que vos buscássemos
amassar o pão com o suor logo
do rosto;...pôr
60 este fora o verdadeiro," Com uma borda de boleima a pão e água; tirar o pão a alguém.
mas soltou-se-nos da noz." Lat. Eu, e este. Vid. E logo pujemos fogo."
3. a. Acrónimo (Light Amplification Su-
Vid. Pela lama e pelo pó, e uma vez d'água fria, Cal'-te!
mu/ated Emission of Radiation) e em-
Fomos a Vilhacastirri'", préstimo.
Vid. que era pera havernão dó, quero mais cada dia." Lat. 39. ãoExtensão
queressemântica.
que diga?
2.1. Identifica dois campos
e falou-nos lexicais.
em latim: 11
com chuva, sol e noroeste. 40.
Não fui eu também Empréstimo.
contigo?
2.2. Constrói "Vinde cá daqui
o campo a uma de
semântico hora,pão. 41. Truncação (otorrino/aring
Foi a coisa de maneira, Tu e %gista).
eu não somos eu?
65 e trazei-me essa senhora." tal friúra e tal canseira, Vid. 42.
34. Classifica as seguintes palavras
1 quanto aos processos que as originaram. 25 Tu judeu e eu Sigla (Compact Disk
judeu,
Read) e em-
Inês Assi que é tudo nada enfim! 0
que trago as tripas maçadas: não somos
préstimo massa d'um trigo?'
a. laser d. otorrino f. Acrónimo (Imposto sobre oVo/ar
Dize, assi me fadem boas fadas I
Lat. Leixa - me falar.
35. janela 37. Acrescentado)
Vós c e
Vid.
quereis, Amor, marido o no
Lat.
mui discreto, e de viola? n va
Vid.
Esta moça não é tola, s s
Lat.
que quer casar per sentido. e tra
Judeu, queres-me leixar? l zei
40
Leixo, não quero falar. h s?
Buscámo-lo ... o O
Demo foi logo!" ma
Crede que o vosso rogo t rid
vencerá o Tejo e o mar. ' o
45 Inês a qu
Eu cuido que falo e calo: c e
Mãe falo eu agora ou não? o qu
Ou falo se vem à mão? n ere
ão digas que não te falo. s is,
Inês Não falará um de vós? e de
50 l
Já queria saber isso. viol
Que siso, Inês, que siso h ae
Mãe tens debaixo desses véus! a dess
Inês . a
Vid. Diz o exemplo da velha: sort
55 /10 que não haveis de comer e,
leixai-o a outrem mexe r." 6 J n
90
emos d'urn escudeiro
de feição d'atafoneíro",
4.
que virá logo essora,
Vicente,
quedefala,
Farsa Inêse como ora fala,
Pereira
qu'estrugírá" esta sala!
Vi E tange, e como ora tange,
d.
e alcança quanto abrange,
E e se preza bem da gala."
70 s
p Vem o Escudeiro e diz:
e
r
a Se esta senhora é tal
i como os Judeus ma gabaram,
, certo os anjos a pintaram,
75
e não pode ser i al.ls
a
g Diz que os olhos com que via
u foram de Santa Luzia,
a
r e cabelos de Madanela.
E
sc d Se fosse moça tão bela,
. a como donzela seria?
i
80 Moça de vila" será ela
o
r com sinalzinho postiço,
a e sarnosa no toutiço,
! como burra de Castela.
Eu, assi como chegar,
S
cumpre-me bem d'atentar
85 o
se é garrida, se honesta,
u
porque o melhor da festa
b
é achar siso e calar".
5. v. 38: Nós partimos imediatamente. 6. v. 51: Não te intrometas em assuntos que não te dizem respeito. 7. Badajoz: músico da
Corte de D. João 11I. 8. v. 60: Este era o mais indicado. 9. v. 61: Mas não revelou interesse. 10. Vilhacastim: músico castelhano ao
_ serviço da corte portuguesa. 11. v. 63: E falou-nos numa linguagem pouco clara. 12. ala Janeiro: muito ocupado. 13. estrugirá:
!i! atroará com gritos e músicas. 14. v. 75: e se preza de galante. 15. v. 79: E não pode haver nada melhor. 16. Moça de vila: de mau
~porte. 17. v. 93: pudor, respeito.
167
55.
Escudeiro, o pretendente
57.
§
~
o
~
~29. Perpinhão: praça disputada no final do século XV; neste verso, a palavra é utilizada metaforicamente, designando alguém
~raro e precioso. 30. sáfio: reles; rude. 31. bargante: homem sem vergonha e sem moral. 32. bem temperada: afinada. 33. v. 184:
169
v
"não tendes o que cozinhar. 34. v. 199: Isso tem uma certa piada ... 35. canaval: canavial.
58.
Escudeiro, o pretendente
•
4. Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira
Vid. Filha Inês, assi vivais Esc. Dai-me cá essa mão, senhora.
que tomeis esse senhor 275 Inês Senhor, de mui boa mente.
235 escudeiro cantador Esc. Per palavras de presente
e caçador de pardais, vos recebo desd'agora".
sabedor, revolvedor", 315
sola va y gritos daba. 340 pois que já Inês é vossa, discursiva de ambos;
A las orillas'" de um rio vossa mulher e esposa, 63. as características da
320 la garça tenia el nido'": encomendo-ve-Ia eu. linguagem usada;
ballesterc" la ha herido E, pois que dês que nasceu
64. o conteúdo da
en el alma; a outrem não conheceu,
informação relatada a Inês.
sola va y gritos dava:' 345 senão a vós, por senhor,
que lhe tenhais muito amor, 65. Terminado o relato
dos Judeus casamenteiros, entra em cena o Escudeiro Brás da Mata,
acompanhado de um Moço.
5.1. Traça o perfil psicológico do Escudeiro, com base nos seguintes tópicos:
66. forma como retrata Inês antes de a conhecer;
67. modo como se autocaracteriza;
68. forma como se relaciona com o Moço.
5.1.1. Retira do texto um exemplo de cómico que contribua para evidenciar os tra-
ços de carácter do Escudeiro.
5.1.2. Mostra como o recurso à metáfora e à hipérbole se encontram ao serviço da
caracterização psicológica de Brás da Mata.
171
Escudeiro, o pretendente
Informação Metáfora c
Associação entre duas ou mais entidades que, apesar de serem diferentes, apresentam 1.
aspetos em comum, através dos quais podem ser aproximadas.
Ex.: "6 esposa, não fa/eis, / que casar é cativeiro." (A palavra "cativeiro" é usada para realçar a
[!
forma como Brás da Mata encara o casamento, aqui identificado i
com a perda de
liberdade.)
)1(6.1. Classifica como verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações seguintes relativas ao en-
contro e ao casamento, corrigindo as falsas com elementos textuais.
6.1. a. F (vv. 129-151); b. V; c. F (vv.
166-169,183-191,196-200); d. F (vv.
a. O Escudeiro não parece corresponder ao ideal de marido desejado por Inês, pois, apesar
170-173, 179-182); e. V; f. V; g. V; h. F dos elogios que faz, fala incorretamente e revela antipatia.
(vv. 255-259, 265-266); i. F (vv. 303,
306);j. v. b. O pretendente de Inês exibe os seus atributos, dando a conhecer a sua ocupação, o seu
7.1. Encontro entre Inês e Brás da Ma-
ta e o projeto de libertação de Inês:
domínio das letras e a sua qualidade de músico.
· Inês encarava o casamento c. Enquanto o Escudeiro se apresenta a Inês, é notória a relação de cumplicidade e de
como a
2.
única forma de se libertar do "cati- lealdade que existe entre ele e o Moço.
veiro" da vida de solteira;
· a jovem pretendia casar com um d. O Moço vai tecendo alguns apartes que encerram elogios ao carácter do Escudeiro.
ho-
mem "avisado': discreto, com as ca- e. A Mãe de Inês intervém, revelando, uma vez mais, a sua desaprovação em relação às
racterísticas típicas de um homem
de corte; escolhas da filha.
· Brás da Mata parece
corresponder às f. Estando os Judeus atentos aos comentários da Mãe, Latão sugere a Brás da Mata que
exigências de Inês, aparentando ser
cante para Inês.
o meio de emancipação e de ascen-
são social. g. Terminada a canção do Escudeiro, Vidal reforça, junto de Inês, as grandes qualidades que
ela encontrará em Brás da Mata, se o aceitar como marido.
Gramática h. A Mãe de Inês reconhece as qualidades de Brás e aconselha a filha a casar com alguém de
1m
G19.4. Explicitar constituintes de estatuto superior para garantir conforto.
campos lexicais.
i. Após a celebração, Brás da Mata manifesta o seu contentamento por ter casado.
1.1.ldeal de mulher.
1.2. "fresca rosa", "despejo", "mui gra- j. A Mãe de Inês abençoa o casal e recomenda a Brás que trate bem a sua filha, que passa a
ciosa donzela", "discrição", "fermosura".
ser da sua responsabilidade.
172 l'
69. Como pudeste verificar na análise dos primeiros excertos da farsa, Inês tem como obje-
tivo libertar-se do "cativeiro", sendo o casamento uma forma de o conseguir.
7.1. Mostra de que forma o encontro de Inês Pereira com Brás da Mata assume uma im-
portância fukral nesse projeto de libertação.
1
~
Gramática
70. Atenta nos versos 129 a 146, em que o escudeiro Brás da Mata se dirige a Inês.
Ver Lexicologia, p.
164
71.
o mesmo aspeto e pompa, lastimo-o por pensar se não padecerá o mesmo que · palavra castelhana que
designava
eu vi sofrer àquele, a quem, por todas estas razões, com toda a sua pobreza, eu personagens de narrativas picares-
cas - personagens sem recursos, que
gostava mais de servir do que aos outros. Só tinha uma razão de queixa dele. viviam de artimanhas;
Preferia que não mostrasse tanta presunção, e que diminuísse um pouco as fan- · alguém malicioso,
esperto, ardiloso,
15 tasias, pelo muito que lhe crescia a necessidade. Mas, ao que parece, é uso e que vive de expedientes desonestos;
· anti-herói, marcado por
costume entre aquela gente. Mesmo que não tenham com que mandar cantar um percur-
so de vida difícil.
um cego, andam sempre de cabeça ao alto. Que o Senhor lhes ponha remédio,
visto que assim nasceram e assim hão de morrer. mi!POF
Guião de produção de síntese oral
Lazarilho de Tormes, Lisboa, Vega, 1993 [p. 78) disponível nos Recursos do Projeto e
1. gibão: casaco comprido. no Caderno do Professor - Materiais
de Apoio (versão impressa).
2.1. Escudeiros:
2.1. Compara a personagem apresentada no excerto com Brás da Mata. · vaidosos,
altivos/presunçosos e bem
vestidos;
· pobres, sem dinheiro para
comer.
173
11
73.
o Escudeiro, de
I pretendente a marido
Educação
Literária
Educação literária
74. Inês casa, finalmente, com o marido pretendido, o Escudeiro Brás da Mata. M
El14.2. Ler textos literários
o
portugue- 1.1. Com base nos acontecimentos anteriores, tenta antecipar o relacionamento das
ses de diferentes géneros, 60
pertencen- duas personagens.
tes aos séculos XII a XVI. E
El14.4. Fazer inferências, 1.2. Lê o excerto seguinte e, simultaneamente, ouve a leitura dramatizada.
fundamen-
s
tando. M
El14.5. Analisar o ponto de vista
o
M
se vós disso sois servido, Vós não haveis de mandar
OI
bem o posso eu escusar. em casa somente um pelo;
10 Esc. Mas é bem que o escuseis, se eu disser "isto é novelo';
e outras cousas que não digo.
40
havei -lo de confirmar.
E mais, quando eu vier
Inês Porque bradais vós comigo? de fora, haveis de tremer, M
OI
Esc. Será bem que vos caleís, e cousa que vós digais
e mais, sereis avisada não vos há de valer mais
75 Inêi
15
que não me respondais nada,
em que ponha fogo a tudo," 45 daquilo que eu quiser.
M
porque o homem sesudo Moço, às partes d'Além"
OI
traz a mulher sopeada". vou fazer-me cavaleiro.
Moço (Se vós tivésseis dinheiro,
Vós não haveis de falar
não seria senão bem ... )
80
20
com homem nem mulher que seja.
Somente ir à igreja 50 Esc. Tu hás de ficar aqui.
não vos quero eu leixar. Olha, por amor de rni,
Já vos preguei as janelas, o que faz tua senhora,
por que não vos ponhais nelas. fechá-Ia-ás sempre de fora.
25 Estareis aqui encerrada Vós lavrai, ficai per i. In
ês
nesta casa tão fechada, 55 Moço Co dinheiro que leixais
como freira d'Odivelas. não comerei eu galinhas ...
85
1. Bofé: Por minha fé. 2. v. 16: Ainda que faça os maiores disparates. 3. sopeada: humilhada; dominada. 4.
partes
d'Além: Marrocos.
90
174 5.
v.5(
reb
ola
13.
las
75.
Esc. vinhas.
Vai - te Que diabo queres mais?
tu per
essas Moço Olhai, olhai; como rima!"
60 E depois de ida a vindima?
Esc. Apanha desse rabisco". 4. Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira
Moço Pesar ora de São Pisco!?
E convidarei minha prima ...
E o rabisco acabado,
65 ir-rn' -ei espojar" às eiras? Vede que cavalarias,
vede já que mouros mata
Esc. Vae- te per essas figueiras,
95 quem sua mulher maltrata,
E farta-te, desmazelado!
sem lhe dar de paz um dia!
Moço Assi?"
Sempre eu ouvi dizer
Esc. Pois que cuidavas?
que o homem que isto fizer
E depois virão as favas.
nunca mata drago" em vale,
70 Conheces túberas da terra"?
100 nem mouro que chamem Ale;15
Moço I-vos vós embora à guerra,
e as si deve de ser.
que eu vos guardarei oitavas".
Moço Senhora, o que ele mandou Entra o Moço com uma carta e diz:
não posso menos fazer. Moço Esta carta vem d'Além,
75 Inês Pois que te dá de comer, creio que é de meu senhor.
faze o que t'encomendou. Inês Mostrai cá, meu guarda-mor,
Moço Vós fartai -vos de lavrar, e veremos o que i vem.
eu me vou desenfadar
com essas moças lá fora. Sobrescrito:
BO Vós perdoai-me, senhora,
5. v. 59: Olhai, olhai, o disparate! 6. rabisco: cachos que escapam à vindima. 7. v. 62: fórmula popular de juramento. 8. espojar:
rebolar. 9. Assi?: Ah, é assim? 10. túberas da terra: espécie de cogumelos. 11. oitavas: rendimentos. 12. s'anoje: se queixe.
13.lastimeiros: cruéis. 14. drago: dragão. 15. v. 100: Nem pratica boas ações.
17
5
-
b.
c.
"Como no início da representação, Inês, fechada em casa, borda, canta e renega um aspeto
sombrio da sua existência, logo imaginando uma forma de o superar:'
o Escudeiro, de pretendente a marido
"Na espontaneidade que o caracteriza, o discurso, onde passam a recusa do luto, o desprezo
pelo marido que acaba de perder e o imediato projeto de novo e mais vantajoso casamento, dá
a conhecer a nova face da moça:'
Lê a carta.
"Inês, que agora se julga livre, retoma espontaneamente os bordados e o canto amoroso. 3
O marido revela-se-Ihe então na sua tirania:'
"Muito honrada irmã,
d. "Por carta de seu irmão, vem Inês a saber da morte, nada gloriosa, do marido, às mãos de um
130 esforçai o coração"
pastor que o matou quando ele fugia da batalha. Despedido o Moço, seu carcereiro e único elo
e tomaipor devação
a prendê-Ia a Brás da Mata e à lembrança dele, Inês comenta a notícia:'
e. "Inês, confrontada com uma autoridade que não de querer
admite o que
réplica, é deDeus
novo -quer,""
mais do que nunca
E isto eque
- prisioneira: proibida de sair de uma casa cujas janelas quer
porta dizer?
estão cerradas, proibida de
cantar, de ir à missa, de ver e falar com quem quer que seja, vigiada pelo criado do marido,
condenada a bordar num total isolamento do mundo."Prossegue:
f. "Quando o tirano parte para África, em busca de uma nobilitação impossível, a voz de Inês
"E não vos maravilheis
volta,
"-, porém, a ouvir-se em novo canto, logo seguido de monólogo reflexivo:'
135 de cousa que o mundo faça,
2.1. c., e., f., a" d. b. que sempre nos embaraça
3.1. a. Em casa da Mãe, fechada.
44. Bordado e canto. com cousas. Sabei que indo
45. Insatisfeita com a vida,
vosso marido fugindo
lamentan-
do-se da sua sorte, da batalha pera a vila, Guardar de cavaleirão,
d. Renega o que está a fazer, queixa-
-se de estar fechada e promete que 140 a meia légua de Arzila, barbudo", repetenado'",
conseguirá forma de sair do seu "cati-
veiro", preferencialmente, casando; o matou um mouro pastor:' que em figura d'avisado
e. Homem "avisado", de boas manei-
ras, tocador de viola e versejador, que Moço Oh, meu amo e meu senhor! 155 é malino'" e sotrancão".
lhe proporcione uma vida com diver- Agora quero tomar, 4
são,
f. Em sua casa (que lhe foi dada pela
Inês Dai - me vós cá essa chave, pera boa vida gozar,
mãe, aquando do casamento), fecha- e i buscar vossa vida." um muito manso marido.
da,
46. 145 Moço Oh, que triste despedida!
Bordado e canto. Não no quero já sabido,
47. Insatisfeita com a vida, Inês Oh, que nova tão suave!
lamentan- 160 pois tão caro há de custar.
do-se da sua sorte, Desatado é o nó!" Gil Vicente, Op, cit. [pp. 53-63] s.
i. Renega o que está a fazer, queixa-
se
S'eu por ele ponho dó20,
de estar fechada e espera conseguir o Diabo m'arrebente! 16. v. 130: tende coragem. 17. vv. 132-133: Aceitai a vontade de Deus.
sair do "cativeiro" em que se encontra 18. v, 144: ide à vossa vida, 19. v, 147: Está desfeito o casamento. 20. dó:
depois de casada, arrependendo-se 150 Pera mim era valente,
luto, 21. caualeirão, / barbudo: homem orgulhoso e valente. 22. repete-
da decisão que tomou, e matou-o um mouro só. nado: insolente. 23. malino: maldoso. 24. sotrancão: hipócrita.
j. Homem insensível e tirano, que
quer mantê-Ia presa, não permitindo
que ela saia de casa ou olhe pela jane-
o
2. Apresenta-se abaixo um resumo desordenado do excerto lido.
la, 1
4.1. Morte do Escudeiro - Brás da Ma- ~2.1. Ordena os segmentos textuais, de modo a obteres um resumo coerente com o sen- .
ta foi morto por um pastor, quando tido global do excerto.
tentava fugir de uma batalha, em Arzi-
la.
4.2. Antítese, Realce da oposição de
sentimentos provocados pela morte
do Escudeiro ao Moço (tristeza, por fi-
car desamparado) e a Inês (alegria,
por se libertar do casamento que a
aprisionava),
5.1. O conceito de "libertação" alte-
rou-se para Inês:
· inicialmente: sinónimo de
casamen-
to com um homem da corte;
· após o casamento:
consciência de
que o casamento pode ser sinónimo
de cativeiro, subjugação;
· após a notícia da morte
de Brás: op-
ção por um "muito manso marido"
Oralidade
como forma de emancipação / liber-
CB
tação,
02.1. Tomar notas, organizando-as,
02.2. Registar em tópicos, sequen-
cialmente, a informação relevante,
»
176 ENCI(
76.
J, J,
cena, naturalmente, uma presença
correspondente de figuras femininas,
l
Visão que Inês tem Visão que Inês tem na medida em que a cultura de corte,
e. j. nas suas mais diversas formas de ex-
do futuro marido do marido
pressão, desde a poética à gestualida-
r
;t
J de, à arte dos comportamentos refi-
nados (por exemplo, saber falar, como
Cu Itu ra cortês a. e quando, saber rir, etc.), estava polari-
zada em torno da problemática do
sentimento amoroso, que implicava o
Características do marido ideal b. processo de enamoramento e as con-
sequências dele; e nisto a mulher era
,li central. Ora o teatro vicentino era par-
te integrante dessa cultura de corte e,
'fi c. , mal assimilada, sucumbe no confronto com por isso, compartilhava das respetivas
modalidades diversos pontos de vista,
a d. e a moça acaba por assumir a sua e. " ideias, modos de linguagem. Bastará
lembrar como em todos os casos em
me leve
J, me derrube."
que Gil Vicente representa a atuação
do homem que procura seduzir uma
(
49. 'flntes quero asno
Entretanto, que entra
o Moço emque cavalo
cena, comque
uma carta. mulher encontramos essa linguagem,
essa terminologia, esse modelo com-
4.1. Sintetiza o conteúdo da mesma. portamental frequentemente traba-
Informação e Aplicação lhado nos "cancioneiros" ou nos trata-
4.2. Identifica o recurso expressivo usado nos versos 145-146 para destacar as reação do dos de cortesania da época.
Jorge Osório, "Solteiras e Casadas em
Moço e de Inês à notícia que a carta traz, comentando a sua expressividade. Gil vicente" in Peninsula: Revista de Estudas
Ibéricos, n.O 2, 2005 [p. 116)
50. Etimologia
Inês entendia o casamento como uma forma de "libertação".
A cultura cortês, mal assimilada,
5.1. Mostra, com base no monólogo final do excerto (vv.147-l60), como o conceito de "liber- sucumbe no confronto com a cultura
tação" se alterou paraObservação
a moça. popular e a moça acaba por assumir a
sua verdadeira condição. Inês não
evoluiria - ou não evoluiria da mesma
forma - se o seu caminho não se ti-
vesse cruzado com o do Escudeiro
OralidadeG) que, atraiçoando as suas quimeras, a
fez cair na realidade e despertou nela
um secreto desejo de vingança, de
51. O modo de vida cortês ambicionado por Inês entra em conflito com o modo de vida que a união com Pêra Marques será o
popular característico do meio em que a protagonista se movimenta. instrumento. Depois de experimentar
o cavalo que derruba, Inês preferir-
1.1. Ouve dois textos expositivos sobre o modo de vida cortês e completa o esquema -Ihe-á o asno que a leve em seguran-
ça aonde ela quiser.
abaixo, no teu caderno, com base na informação apresentada. Cristina Almeida Ribeira, Inês, Lisboa,
Quimera, 1991 lp, 176)
[ o modo de vida cortês desejado por Inês J 1.1. a. "poética'; "qestualidade" "arte
dos comportamentos refinados'; "po-
larizada em torno da problemática
do sentimento amoroso". b. "saber
falar, como e quando, saber rir, etc"
c. "cultura cortês". d. "cultura popu-
lar': e. "verdadeira condição':
2. Possíveis tópicos a abordar:
Modo de vida popular:
· Representado pela
personagem Pêro
Marques
· Valores (século XVI):
ruralidade, rusti-
cidade, simplicidade, autenticidade,
trabalho
Modo de vida cortês:
· Representado pela
personagem Es-
52. Debate com os teus colegas a oposição entre o modo de vida cortês e o modo de vida cudeiro
· Valores (século XVI):
Cristina Almeida Ribeiro, Inês, Lisboa, Quimera, 1991 [pp. 19, 21-23, adaptado e com supressões]
popular patente na Farsa de Inês Pereira. ambiente corte-
ENC10EPU 2
são, "discrição'; culto da aparência, 177
dissimulação
E
dl
1.
N
sentido de marco que é deixada por
algo concreto ou por um desgosto ou
Lê as
Gramática
tristeza vivenciados. segui
G 17.4. Identificar étimos de b. óculo - instrumento composto de ntes
palavras. lente para auxílio da vista; olho - cada frase
G17.5. Reconhecer valores um dos dois órgãos da visão. se
semânti- Em ambas as palavras está presente o repar
cos de palavras considerando o res- ato de ver. a nas
petivo étimo. c. integro - algo inteiro ou alguém palav
honrado; inteiro - algo completo, in-
G17.6. Relacionar significados de ras
pa- tacto.
Em ambas as palavras está presente o
subli
lavras divergentes.
sentido de exatidão!completude. nhad
G17.7. Identificar palavras conver-
as:
gentes. Sugestões:
No Caderno de Atividades, apresen-
tam-se mais exercicios sobre este con- P
Exercí teúdo.
cios Encontra-se também disponível, no ê
1.a.atri Caderno de Atividades (pp. 51-53),
r
u. uma ficha de leitura I Gramática
77. clave. com base no texto "Os Bisturi, 7 ami- o
78. parabola. gos que queriam muito fazer teatro':
1.1. a. átrio.
b.clave. M
c. parábola.
2. a. Palavras divergentes. a
79. Palavras convergentes. r
80. Palavras divergentes.
81. Palavras convergentes. q
3. a. mácula - mancha que é visível
u
em algo ou desonra (em sentido
figu- e
rado); mágoa - dor, amargura.
Em ambas as palavras está presente
s
o
gostava de aquelas que apresentam a mesma forma, embora tenham 1
o
de Inês em pleno
Ex.: plenu cheio
dia.
pleno
Repara que: No caso das palavras divergentes, é importante não esquecer que o facto de estas
terem o
· As palavras
mesmo étimo as torna semanticamente ligadas. O exemplo apresentado comprova-o:
sublinhadas, no primeiro
caso, embora apresentem
ambas as palavras se relacionam com a ideia de totalidade.
a mesma forma, têm ori-
gens diferentes. Li
Exercícios a.
· As palavras
In
sublinhadas, no segundo 1. Atenta nas seguintes palavras e, com a ajuda de um dicionário, identifica o seu étimo.
êi
caso, embora apresentem
Li
formas diferentes, têm a a.
mesma origem. Inê
i
Regras e 5 Lia.
exemplos In
o étimo é a palavra ê
que deu origem a
outras palavras; a Li
a,
maior parte das
palavras portu-
guesas tem étimos 10
latinos.
Ex.: rivu -7 étimo da In
ê
palavra rio / plenu -7
étimo da palavra
pleno 15
2 As palavras
Li
convergentes são a
a. adro; b. chave; c.palavra.
178 1.1. Tendo em conta o étimo que identificaste, apresenta, para cada palavra, outra que 20
tenha a mesma origem e com a qual se relacione semanticamente.
85. Explica a relação que existe entre os significados das seguintes palavras
divergentes.
a. mágoa e mácula; b. óculo e olho; c. íntegro e inteiro.
86.
87.
88.
90. Lê a parte final da
farsa, que apresenta o
Educação Literária I Oralidade regresso de Pêro
Marques à cena e à vida de
89. Na imagem ao lado está representado um dos Barros de Inês Pereira.
Estremoz, intitulado O amor é cego.
Educação literária
1m
EL 14.2. Ler textos literários portu-
gueses de diferentes géneros, per-
tencentes aos séculos XII a XVI.
EL 14.4. Fazer inferências, fundamen-
tando.
EL 14.5. Analisar o ponto de vista das
diferentes personagens.
EL 14.9. Identificar e explicitar o valor
dos recursos expressivos menciona-
dos no Programa.
01.4. Fazer inferências.
Barros de Estremoz
· Manifestações artísticas de
cariz po-
pular, em que se retrata a cultura,
hábitos e costumes alentejanos
· Temas predominantes:
trabalhos e
vida do campo, profissões e ofícios,
ocupações domésticas, cenas do
quotidiano
Lia Vem Lianor Vaz visitá-la 1.1. Imagem que representa, de for-
ma metafórica, a cegueira do amor.
. e
Inê
Vai-se Lianor Vaz por Pêra 1.2. Relação de analogia entre a es-
cultura O amor é cego e Pêro
ela finge-se muito anojada. Marques. Marques
s (personagem marcada pela ingenui-
Lia Como estais, Inês Pereira? Inês Andar! Pêro Marques seja. dade relativamente ao amor e a
Inê Que fareis ao que Deus faz? 30 quem se tenha por ditoso
s Casei por minha canseira',
5 Lia.
Se ficastes prenhe, basta. de cada vez que me veja.
Inê Bem quisera eu dele casta",
s mas não quis minha ventura. Por usar de siso mero",
Filha, não tomeis tristura, asno que me leve quero,
Li que a morte a todos gasta. e não cavalo folão".
a. Antes lebre que leão,
O que havedes de fazer? 35
15
96. má hora: que Diabo!
querei ora a quem vos quer,
Lia.
dai ao demo a opinião.
97.
180
55 E eu convosco, pardelhas": Y ansi sin esperança
o Não cumpre aqui mais falar. de cobrar lo merecido, 135 In
E quando vos eu negar, 95 sirvo alli mi Dios Cupido
r que me cortem as orelhas. con tanto amor sin mudanza,
e Lia. Vou-me; ficai-vos embora. que soy su santo escogido.
g 60 Inês Marido, e sairei eu agora, Ó seriores,
r que há muito que não saí? los que bien os va d'amores,
140
e Pêra Si, mulher, saí-vos i, 100 dad limosna al sin holgura",
s qu'eu me sairei pera fora. que habita en sierra os cura,
s Inês Marido, não digo isso. uno de los amadores
o que tuvo menos ventura".
65 Pêra Pois que dizeis vós, mulher? EJ
Inês Ir folgar onde eu quiser. Y rogaré al Dios de mi,
d Pêra I onde quiserdes ir, en que mis sentidos traigo,
145
lOS
e
vinde quando quiserdes vir, que recibais mejor pago
h
estai onde quiserdes estar. de lo que yo recebi
P 70 Com que podeis vós folgar en esta vida que hago.
ê qu'eu não deva consentir? Y resaré
r "0 con grau devocion y fe, ISO
50 Lia.
Pêro
7.jeilar: deitar. 8. por riba: por cima. 9. como rima': que disparate! 10. Soma: Em suma. ) 1. pardelhas!: por Deus! 12.
Ermitão:
Lia. religioso que não vive em comunidade, mas num lugar isolado. 13./imosna: esmola. 14. contemplo: medito. 15.11oras:
Pêra choras.
16. holgura: felicidade. 17. ventura: sorte.
98.
165 Pêro Seja logo, sem deter!
Inês Ora este caminho é comprido, 4. Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira
contai uma história, marido.
Pêra Bofá" que me praz, mulher.
Inês
125 PassemosDeoprimeiro o rio.
gracias, mi senora!
170 Descalçai -vos. mata el pecado,
La limosna
Pêro y vos teneis Assi
buen há de ser?
cuidado
E pois
decorno?"
ser de mi matadora.
Inês E levar-me-eis no ombro,
Debéis saber,
130 não me corte
para a madre"
merced o frio.18
me hacer,
queàspor
Põe-se vos soy
costas errnitano,
do marido.
Y aun más os desengano
Inês Assi.
que esperança de os ver
Pêra me hizo vestir
Ides tal pano".
à vossa vontade?
175 Inês Como
135 Inês
estar no Paraíso.
140
145
150
55 Erm.
181
o regresso de Pêro Marques
pensando ingenuamente que ela vai mestres são I experiência dá lição." (vv. 23-24) ~
à ermida em romaria. Não só a leva às
costas e carrega duas pedras, como 4.1. Explicita o sentido das suas palavras.
também canta uma canção, a pedido
de Inês, em que se assume como ho- 4.2. Mostra de que forma o monólogo de Inês incorpora os ensinamentos de sua Mãe.
mem traído ("marido cuco", v. 187).
vada leitura
por Pêro Marques.
IOralidade 7.1. o conto popular:
63. · vida e de
Na Farsa de Inês Pereira abordam-se diferentes conceções de casamento.
motivo Será
da sua utilização
6.1. Sintetiza a ação representada, evidenciando os cómicos de situação que a caracteri-
l8.1. Selecionar criteriosamente in-
por Gil Vicen-
que estas conceções permanecem atuais? te: coloca em relevo a estupidez e a
zam.relevante.
formação
ingenuidade do marido retratado
19.1. Exprimir pontos de vista suscita- Reflete com os teus colegas sobre esta questão, considerando também os tópicos
que, maltratado, ainda carrega às cos-
99. dos por leituras diversas, fundamen-
tando. seguintes:
De acordo com alguns investigadores, a cena final da farsa foi inspirada no conto tradicio-
tas a mulher; através dele, o drama-
turgo estabelece uma relação entre o
nal
03.2. Planificar o texto oral, elaboran-
do intitulado"O
tópicos de suporteConto
·
de Domingos Ovelha':
à intervenção.
Como
Ouveseuma
caracterizam as relações
síntese deste conto. amorosas atuais? marido e Pêro Marques, também in-
génuo, enganado pela mulher;
04.1. Respeitar o principio de corte- · De que forma a ilusão e a experiência condicionam as relações amorosas? ·
relação com o provérbio:
7.1. Explica
sia: formas por que motivo
de tratamento e registosGil Vicente terá recorrido a este conto, relacionando-o com o
terminando
de língua.
100. 04.2.provérbio que serviu de mote obra.
Utilizar adequadamente recur-
à o
ponto de partida para a reflexão poderá ser a análise do cartoono econto
a leitura
e tambémdo excerto
a farsa com Inês
às costas do marido, é inevitável a li-
sos verbais e não verbais: postura, tom da crónica abaixo apresentados. gação desta cena com o provérbio
57. Comenta
de voz, a dimensão
articulação, ritmo, entoação, satírica que a cantiga final encerra, tendo em conta aspetos ternáti- que serviu de mote à farsa; efetiva-
mente, Inês consegue livrar-se de um
cos e linguísticos. Em caso de
expressividade. necessidade, consulta a informação abaixo. "cavalo" que a derrubava e consegue
1. Possíveis aspetos a abordar: Gil Há lugar para o amor nos dias de hoje? um "asno" que a carrega - metafórica
e literalmente.
· Mediação dos
Informação
relacionamentos pelas A dimensão satírica da obra vicentina 8. Aspetos temáticos: denúncia do
Texto de CARLOS
adultério BARROS
e da devassidão 03-06-2013
doIclero.
novas tecnologias: SMS, email, redes Aspetos linguísticos: recurso à metá-
sociais, ete. - que não criam necessa- fora ("Marido cuco'; v. 187; "Sempre
Um autor de intervenção
riamente proximidade entre as pes-
ou "tidendo castigat mores": Gil Vicente foi, já o dissemos, um
fostes percebido / Pera cervo", vv. 192-
lúcido
soas observador do seu tempo e disso nos dá notícia, recorrendo à sua veia satírica, nos -193) e à ironia ("Bem sabedes vós,
seus
· textos.
Condicionamento dos
Neles são fustigados os vícios dos seus contemporâneos, numa crítica a uma marido, quanto vos amo" - vv. 197-
relaciona- -198; "Pois assim se fazem as cousas",
sociedade
mentos pelo parasitária, de gente que desprezava o trabalho para viver de expedientes fáceis,
ritmo e estilo de vida vv. 186,189,196,203).
impostos pela sociedade moderna:
ludibriando
pressão para se osseroutros e usando muitas vezes da tirania e da corrupção. [ ... )
bem-sucedido Gramática
O registo cómico é uma constante nas peças de Gil Vicente, apresentando diversas mo-
profissionalmente Cl3
· Egocentrismo/egoismo, G17.5. Reconhecer valores semânti-
dalidades
falta de to- e meios de produção de tal cómico; a ironia (muitas vezes nos apartes ou comen- cos de palavras considerando o res-
lerância
tários aoe que
pouca seresistência
passa às ad-
- por exemplo, nos apartes da Moça do Auto da índia); o humor; o petivo étimo.
versidades, que podem ditar o fra- G19.6.ldentificar processos irregula-
sarcasmo (palavras do Parvo em relação aos juízes e ao Frade, no Auto da Barca do Inferno);
casso dos relacionamentos res de formação de palavras.
·
cómico de linguagem Importância do(nas falas cheias de trocadilhos, tiques, gírias profissionais, [ ... ) no lin- G19.7. Analisar o significado de pala-
relacionamento amo- vras considerando o processo de for-
guajar
roso: de crianças ou de judeus, nas rezas e esconjuros); cómico de situação burlesca em que mação.
- fonte de estabilidade afetiva
- meio para o autoconhecimento 1.1. Arriba, ribada. ribanceira, Riba-
se atinge
- forma depor vezes
realização o grotesco (como [ ... ) na inabilidade
pessoal de Pêro Marques na Farsa de Inês
Marija Dokmanovic, s/ título, World Press Cartoon, Lisboa, Texto Editores, tejo,
2012Ribamar.
[p. 342J
Pereira ao sentar-se na cadeira às avessas, ou procurando afanosamente no chapéu as peras 1.2. Arriba: ad- + ripam (palavra deri-
Sugestão:
vada por prefixação, no latim para a
No final do guião de análise do Auto
da Feira (p. 204), encontra-se uma
As camadas mais jovens já começam a ser moldadas e formatadas margem; para à lugar
hiper-superior) > costa
alta e escarpada; ribada: ripa + -ada
queproposta
levava como oferta
de Oralidade, a Inês Amélia
que integra Pereira [ ... ); cómico
-fragmentação
Pinto Pais,
de carácter ou
que vivemos;
História da Literatura
de
em Portugal-
personagem,
osUma paisPerspetiva
ou figurasmesmo em
de vinculação já(palavra
Didática dizem desde
derivada por sufixação) >
duas atividades:
· cedo
(VaI. I - Época Medieval e Época
apreciação crítica oral do aos filhos
Clássica), que
Porto, o
Areal, essencial é
2004 [pp. 78-80, estudar, é dar
com supressões] o tudo por tudo para
costa ser
alta o melhor
e escarpada; ribanceira: ri-
bança + -eira (palavra derivada por
figuras-tipo,
anúncio como o que acentua o contraste entre o ser e o parecer.
e adiar planos pessoais [ ... ], mesmo que isso possa trazer descontinuidades em e íngreme;
sufixação) > riba elevada
publicitário "Venha ao Teatro de Me-
outros aspetos igualmente importantes, como é o caso das Ribateja: simplificação
afetividades. Crê-se, e contração de
tro";
·
Gramática reflexão/debate sobre a desde tenra idade, que o céu é o único limite e que tudo pode ser
riba de Tejo > por cima do Tejo; Riba-
mar:alcançável,
simplificação e contração de ri-
importãn-
ba de mar> por cima do mar (os lo-
58. o desde que haja esforço desmedido
étimo latino ripa deu origem à palavra portuguesa riba, que significa "margem elevada
cia do teatro na sociedade contem- e um espírito latino-católico de sofrimento e
cais que inicialmente receberam esta
porânea.
de rio ou costa alta e escarpada". trabalho como via de salvação ... E eis que chega o dia em que os jovens designação se depa-em pontos
encontram-se
elevados que dominam o mar).
1.1. Refere outras palavras que tenham ram origemcomnoa realidade
mesmo étimo. dura e crua e param para refletir: fiz o investimento 2. Exemplo:
certo e
1.2. Analisa o significado das palavras 10 adequado
que indicaste à minha vida? O céu
considerando o seu eraprocesso
efetivamente de for-o único limite? Ou apenas ao gado, terra, cul-
a. Campo, plantação,
tivo, enxada, ete.
mação. alcance de alguns? Ver Etimologia, p. b. Parte externa do órgão do ouvido,
ouvido; ter orelhas de burro, fazer
178
Talvez o esforço tenha de ser distribuído pelas várias forças-pilar que impul-
orelhas moucas, levar nas orelhas, ter
59. Constrói: sionam a vida. Como diz o poeta épico Virgílio, "amor vincit omnia": as orelhas O que quando um burro
quentes,
60. um campo lexícal da palavra "lavrador"; acaba por ser uma boa verdade, já que o amor constitui um projetofala, queo outro baixa as orelhas ...
não é
3. a. Empréstimo (vocábulo com ori-
61. um campo semântico da palavra 15 (totalmente)
"orelhas". efémero. gem castelhana). b. Truncação (vocá-
bulo que resulta da supressão de
1. o amor vence tudo. parte da palavra "demónio').
62. Identifica os processos irregulares que originaram as palavras abaixo, fundamentando a
in http://p3.publico.pt/actualidade/sociedade [Consult. 06-12-2014, com supressõesJ
tua resposta. Sugere-se a consulta de um dicionário etimológico.
a. entonces (v. 43); b. demo (v. 194).
184 Vicente, Farsa de Inês 183
Pereira
• Variedade temática: luta entre forças opostas; relacionamento humano, familiar e amoroso;
oposição dos valores tradicionais e convencionais a valores individuais e pessoais; recurso
frequente ao equacionamento de um triângulo amoroso
• Personagens: reduzido número de personagens; abundância de tipos sociais característicos
Género literário da época
Farsa • Estrutura interna: delineamento de uma intriga com um nó, desenvolvimento e desenlace
• Estrutura externa: ausência de divisão em atos e de marcação de cenas
• Dimensão satírica: presença de sátira, fonte de cómico
• Outras características: despreocupação com as unidades de tempo e espaço; utilização de
poucos recursos cénicos
Inês solteira [pp. 152-170]
• Insatisfação de Inês com a sua vida de solteira
• Projeto de libertação de Inês: o casamento como forma de emancipação
• Recusa de casamento com o rústico Pêro Marques ~ recusa do modo de vida popular
• Antagonismo entre Inês e a Mãe (conflito intergeracional): oposição de interesses e
conceções de vida ~ marido ideal: homem "avisado'; com hábitos de corte (Inês) VS. homem
que garanta estabilidade económica (Mãe)
• Centralidade do encontro de Inês Pereira com Brás da Mata: ilusão de Inês (homem "avisado")
Enredo
~ anseio de promoção social (modo de vida cortês)
• Modo de vida popular (Pêro Marques) vs. modo de vida cortês (Escudeiro)
Representação • Cerimónia do casamento; conceções de vida e de casamento (Mãe e
o Saque de Roma deLianor
do quotidiano 1527, Johannes Lingelbach, século XVII
VS. Inês)
1
8
5
Auto da Feira
102.
vistos no Programa.
Johannes Lingelbach
(1622-1674)
· Pintor de origem alemã, recebeu pro-
vavelmente a sua formação artística
em Amesterdão
· Notabilizou-se pela pintura de gran·
des paisagens e cenários humanos
movimentados
· Principais obras: Batalha da ponte
Milvian, Cidade flamenga sitiada por
soldados espanhÓiS, entre outras
do poeta Gil Vicente nagens Mercúrio, o Tempo, o Diabo e Roma, exemplifica, por um lado, a vida baseada
perante a corrupção e na superstição e na astrologia de todas as classes sociais e, por outro lado, a existência
dissolução' dos dissoluta levada pelos Papas. A segunda parte - cujos protagonistas são dois campo-
costumes da Igreja de neses, Amâncio Vaz e Diniz Lourenço, com as respetivas mulheres, Branca Anes e
Roma, que se tinha 20 Marta Dias, assim como o Diabo e o Serafim - serve a Gil Vicente para exaltar a reli-
tornado uma grande giosidade a nível popular (vai ser inclusivamente Marta Dias quem consegue afugen-
potência temporal", De tar o Diabo). A terceira e última parte, com a intervenção do Serafim, das nove Moças
notável importância dos montes, dos três Mancebos e dos dois compradores Mateus e Vicente, assinala o
é também o interesse ideal de um modelo de vida a imitar: o bucólico, simples e agreste.
que a obra adquire em Valério Tranchida, "O Auto da Feira: Uma Leitura'; in Temas Vicentinos. Atas do Colóquio
relação ao momento em Torno da Obra de Gil Vicente, Lisboa, ICLP, 1992 [pp. 187-188]
histórico. No texto
l. dissolução: (fig.) perversão de costumes. 2. temporal: mundano, do mundo, da vida terrena; opõe-se a clerical. 3. cisma
luterano: "No século XVI, os cristãos do Velho Continente encontravam-se divididos entre católicos e protestantes. Este
rências ao acontecimento último grupo de cristãos surgira com a Reforma Protestante, desencadeada pela 'questão das indulgências: latente desde o
Grande Cisma. A Igreja Católica Apostólica Romana dava a possibilidade de o crente se redimir dos seus pecados mediante
que, mais do que o pagamento de um tributo, que esta aplicava para sustentar o mecenato artístico, na manutenção dos prazeres mundanos
qualquer outro no seu do alto clero. Martinho Lutero, um teólogo alemão, foi o primeiro grande reformador, que se manifestou contra a venda de
indulgências e contra a decadência da Igreja Romana, como ato de protesto, e a 31 de outubro de 1517 afixou nas portas de
tempo, terá impres- Winenberg as suas 95 teses contra as indulgências:' [in Infopédiai. 4. Saque de Roma: "O saque de Roma (1527) perpetrado
sionado a Europa católica pelo imperador, devido ao descontentamento motivado pela traição do Papa ao aliar-se ao seu inimigo Francisco I, acele-
rou o processo e precipitou a realização da Reforma. O saque de Roma foi considerado como castigo divino devido à má
do século XVI, ação do papada, demostrando ser necessária uma mudança e o fim dos excessos verificados durante o Renascimento," [in
luterano": o famoso
10 Saque de Roma" de 1.1. Elabora tópicos que sistematizem as ideias-chave do texto, organizando-os sequen-
1527. [ ... ] cialmente.
186
104.
103.
105.
Observa um excerto do Auto do Feira analisado. ELl4.2. Ler textos literários portu-
gueses de diferentes géneros, perten-
Representação Roma Eu venho à feira direita Assunto: Roma dirige-se centes aos séculos XII a XVI.
alegórica: à feira para comprar bens El14.3. Identificar [ ... ] ideias princi-
comprar paz, verdade e fé.
· Diabo: espirituais; o Diabo pais, [ ... ] e universos de referência,
personagem Diabo A verdade pera quê? desvaloriza os bens em justificando.
ELl4.4. Fazer inferências, fundamen-
que representa o mal Cousa que não aproveita, causa, realçando a sua
tando.
· Roma:
e aborrece, pera que é? falta de interesse e de ELl4.5. Analisar o ponto de vista das
personagem utilidade diferentes personagens.
que representa a Não trazeis bons fundamentos El14.11. Reconhecer e caracterizar
Igreja Católica pera o que haveis mister; Linguagem expressiva,
textos quanto ao género literário: [ .. ]
auto[ ... ].
Apostólica Romana e a segundo são os tempos, que reflete a dimensão
e, por extensão, religiosa e satírica
todos os seus
assim hão de ser os tentos
do auto: ~PPT
representantes pera saberdes viver. · Interrogações Gil Vicente, Auto da Feira - Texto ana-
(padres, frades, retóricas lisado
bispos, freiras, etc.) E pois agora à verdade · Antítese ("bondade"/
chamam Maria Peçonha, "ruindade")
Dimensão satírica:
· Hipérbole ("mentiras
· Crítica à e parvoíce à vergonha,
mil")
corrupção e e aviso I à ruindade, · Anáfora, integrada em
dissolução de
peitaí" a quem vo-la ponha,
costumes da Igreja e
a ruindade digo eu: construções paralelísticas
da sociedade em geral
(maldade, mentira) e aconselho-vos mui bem,
porque quem bondade tem
Dimensão religiosa:
· Reflexão sobre nunca o mundo será seu,
as e mil canseiras lhe vem.
noções de bem/mal,
vício/virtude
Vender-vos-ei nesta feira
mentiras vinta três mil,
todas de nova maneira,
cada uma tão subtil,
que não vivais em canseira:
mentiras pera senhores,
mentiras pera senhoras,
mentiras pera os amores,
mentiras, que a todas horas
vos nasçam delas favores.
106. aviso: prudência.
107. peitai: recornpensai:
pagai.
Gil Vicente, Auto da Feira, Porto, Porto Editora, 2014 [pp. 35-37]
187
109.
108.
- Auto da
Feira
ferentes domínios.
isso, a alegoria assume, muitas vezes, a forma de parábola, de fábula, de
El1.1. Escrever textos variados, res-
peitando as marcas do género: [ ... ] sermão, de
exposição sobre um tema [ ... ].
exemplo, de sátira, etc.
E12.1. Respeitar o tema.
E12.3. Redigir um texto estruturado, "Alegoria'; in http://www.infopedia.pt/apoio/artigos/131 06800?termo=alegoria [Consult. 28-11-
que reflita uma planificação, eviden- 5
2014]
ciando um bom domínio dos meca- 0
nismos de coesão textual com marca-
ção correta de parágrafos e utilização A alegoria colonizou o quotidiano do homem medieval como
adequada de conectores.
E12.4. Mobilizar adequadamente re-
componente da
cursos da língua: uso correto do regis- vida artística e, sobretudo, como operador prático no modo de pensar e de
to de língua, vocabulário adequado
ao tema, correção na acentuação, na encenar a
ortografia, na sintaxe e na pontuação. existência. Devido às suas particulares aptidões para a teatralização tornou-
04.1. Respeitar o princípio de corte-
sia: formas de tratamento e registos se um im-
de lingua.
portante ingrediente no teatro de intenção didática. [ ... ]
06.1. Produzir os seguintes géneros
de texto: síntese e apreciação crítica. Nada impede (e a retórica explora-o) que alegoria e parábola coexistam
num
auto, unidas em propósito moralizante. É o caso de Feira, em que a alegoria não
se
esgota na sua função e dinamiza o nível superior de uma parábola.
Maria João Almeida, Feira, Lisboa, Quimera, 2005 [p. 3, com
supressões]
AUTO DA FEIRA
A obra seguinte é chamada Auto da Feira. Foi representada ao mui excelente
Prín-
cipe EI Rei Dom João, o terceiro em Portugal deste nome, na sua nobre e sempre leal
ci-
dade de Lisboa, às matinas do Natal, na era do Senhor de M,D.XXVII.
45
diz que o céu é redondo, na moda. 5. lisonjeira: agradável a todos. 6. V. 17: o que o futuro reserva.
189
112.
7. têm por fé: acreditam piamente naquilo que sabem. 8. em cabo: ao fim e ao cabo. 9. v, 26: E cada um sabe o que lhe interessa.
10. Francisco de Meio: Matemático e astrólogo famoso do século XV. 11. compassados: controlados, 12. sinos: signos, 13. Sa-
_ turno: Deus da mitologia romana que representa o tempo, 14. contina: contínua. 15. v, 71: quanto à sua própria atividade. 16. E
~quanto à estrela Marte, espelho da guerra, e a Vénus, rainha da música, segundo Joannes Monteregio (astrónomo alemão),
v
~ 17. conteúdas: contidas, 18. desembargo: sentença,
•
Auto da Feira
190 32.s<
19. E quanto ao Touro e Carneiro, Caranguejo, Capricárnio colocados no céu. 20. v. 98: são tão difíceis de obter. 21. v. 99: que deter
quando alguém os põe a assar. 22. cos barretes fora: com humildade. 23. Piscis: Peixes. 24. Seguem-se os milagres de Iúpiter. rei
dos reis, senhor dos que reinam. 25. v. 129: que ainda que o mar não a queira engolir. 26. v. 131: não parta em viagem sem as tá- tingu
buas bem pregadas. 27. E quanto à duodécima casa do Zodíaco, segue-se a declaração da sua operação. 28. palhaças: feitas de
palha. 29. se desvelaram: se empenharam. 30. Lepus: Lebre (constelação). 31. que têm paixão: que se compadecem. emd
mep
doss
gico)
113.
4. Gil Vicente, Auto da Feira
32. sam: sou. 33. v. 164: e administrador do dinheiro. 34. tratos: negócios. 35. avenças: quantias pagas periodicamente por um
.dererminado serviço. 36. carestias: preços elevados. 37. praças d'Anuers e Medina: os mercados de Antuérpia e de Medina dis-
:tinguiam-se dos restantes pela qualidade de produtos que vendiam. 38. qu'houuerem mister: que vos fizerem falta. 39. v. 199: só
éem discussões doutrinárias. 40. soma: grande quantidade. 41. lograr: tirar proveito de. 42. v. 212: recomenda ao teu Anjo que
'me proteja. 43. v. 217: e os mesmos Diabos administram os seus interesses (negócios). 44. Papas adormidos: Papas esquecidos
do seus deveres. 45. v. 221: retornaí a vida simples dos primeiros cristãos. 46. império facundo: governo bem falante (demagó-
~gico).
114.
115.
Auto da
Feira
Entra um Diabo com uma tendinha diante eu, como cousa perdida",
de si, como bufarinheiro", e diz: nunca me tolhe ninguém
Diabo Eu bem me posso gabar, que não ganhe minha vida,
275
e cada vez que quiser, como quem vida não tem.
que na feira onde eu entrar Vendo dessa marmelada", 315
47. bufarinheiro: vendedor ambulante de bugigangas. 48. entendo: quero. 49. sisa: imposto. 50. v. 246: Quero começar a traba-
lhar. 51. com saluanor: com todo o respeito. 52. v. 256: o Diabo ridiculariza a boa educação do Tempo, modificando a expressão
que este usa ("com salvanor"). 53. ceitil: moeda de pouco valor da época de D. João 1. 54. v. 263: que são iguais a mim. 55. acudi:
expulsai. 56. cousa perdida: ser insignificante. 57. dessa marmelada: não se sabe ao certo se se trata do doce de marmelo, pois
a expressão também poderá designar algo que não foi bem confecionado, tendo, por isso, um aspeto desagradável. 58. v. 278:
isto não tem importância nenhuma. 59. quintalada: mercadoria. 60. sages: sensato, astuto. 61. borcado: tecido de seda adoro
nado com fios de ouro ou de prata. 62. Ianceis: afasteis. 63. à derradeira: no fim de contas.
192
116. EN
falsas manhas de viver,
m ·,to 'por sua ontaàe: ~
4. Gil Vicente, Auto da Feira
li5
senhor, que lh'hei de fazer?
Diabo
E se o que quer bispar
Ser. Venderás muito perigo, Entra Roma, cantando. há mister" hipocrisia, Roma
que tens nas trevas escuras. e com ela quer caçar, 375
Diabo Eu vendo perfumaduras", Roma "Sobre mi armavam guerra; tendo eu tanta em perfía,
que, pondo-as no embigo, ver quero eu quem a mi leva. J40 porque lh'a hei de negar?
315 se salvam as criaturas. Três amigos" que eu havia, E se uma doce freira Diabo
vem à feira
Às vezes vendo vírotes", 355 sobre mi armam porfia":
por comprar um inguento",
e trago d'Andaluzía ver quero eu quem a mi leva:'
com que voe do convento, 380
naipes com que os sacerdotes 345 senhor, inda que eu não queira,
arreneguem cada dia, Fala: lh'hei de dar aviamento." Roma
320 e joguem até os pelotes".
Ser. Não venderás tu aqui isso, Vejamos se nesta feira, Merc. Alto, Tempo, aparelhar, Diabo
que esta feira é dos céus: que Mercúrio aqui faz, porque Roma vem à feira. 385
ENCIOEP 13
193
117.
Auto da Feira
119.
120. 195
Auto da
Feira
três dias, e oito, e dez, 590 não diria "Mal fazês"
sem lhe lembrar o que fez, Mas antes s'assentaria
nem tão pouco o que fará. a olhar como eu bradava.
Todavia a mulher brava
Pera que t'heí de falar? é, compadre, a qu'eu queria. 630
560 dei-m'ê logo conta disso. Amân. Mas antes m'hás de tornar!",
Amân. Iuro-t'eu que mais vale isso 600 pois te dou mulher tão forte,
cinquenta vezes qu'ela. que te castigue de sorte
que não ouses de falar,
A minha te digo eu
nem no mato nem na corte!".
que se a visses assanhada, 640
570 não é cabra nem cabrito. diz que lhe dói a moleira.
610 Diniz Eu faria per maneira
Amân. A minha tinh'eu em guarda
que esperasse ela por mio
pera bem da minha prol,
cuidando que era ourínol'", Amân. Que lh'havias de fazer? 650
e tornou -se- me bombarda 111. Diniz Amâncio Vaz, eu o sei bem.
575 Folga tu que ess'outra tenhas, Amân. Diniz Lourenço, ei -las cá vêm! 1\
porque a minha é tal perigo, 615 Vamo-nos nós esconder, I
que por nada que lhe digo vejamos que vêm catar, 1\
logo me salta nas grenhas.l" qu'elas ambas vêm à feira. E
Mete-te nessa silveira, 655
1 106. por não dizer sape: para não enxotar. 107. demoninhada: possuída pelo demónio. 108. v. 567: Terá o demónio no
9 corpo. 1
109. v. 569: em determinada ocasião. UO. ourinol: paciente. l l I, bombarda: agressiva. U2. v. 578: arranca-me logo os
6 2
cabelos. di
U3. v. 580: então dá-me vários murros na cara. 114. v. 582: e ela continua a bater-me. US. coraçuda: valente, corajosa. s
116. rascão: gascão, natural da Gasconha (França); os naturais desta região metiam-se frequentemente em rixas. 117. Tanto fo
me r
farás: Tanto argumentarás. 118. v. 599: Recompensar-me-ás com algo mais. 119. corte: curral onde os animais passam a 1
noite. 3,
120. arada: lavoura. 121. a panela: comida com carne. 122. prima: amiga. 123. gamela: recipiente de madeira que serve
para 1
dar de comer aos porcos e a outros animais. 3'
1
4
~
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121.
Mateus
825 Gil. E que léguas haverá
Just, daqui à porta do Paraíso,
por tal, vendei de maneira onde São Pedro está?
840 Mateus
que não ofendais a Deus, Nabor Lá vêm ó redor das vinhas
roubando a gente estrangelfa . . 153 compradores a comprar
es. Responde-lhe, Leonarda, 830
Auto da Feira samica ovos e galinhas.
leren. tu Responde-lhe, Teodora,
Justina, ou Juliana. Dor. Não lhe hei de vender as minhas,
64. Mas porque creio que
responda-lhe a ti creia.
Giralda, que as trago pera dar.
es, Responda-lhe
Tesaura, ou Merenciana. Doroteia,
Vic. Vós fazeis de mi rascão. 905 Vic.
Vêm dous compradores,Senhora
um per minha
nomeIulíana, ~
pois que mora
Leo. Pação!" vos fizestes vós; peço-vos
Vicente e outro Mateus, e dizque me faleis
Mateus a ~
865 Juiz d'aldeia.
junto c'o Justina:
porém bem vos vimos nós discreta palaciana 168,
oro Moneca responderá,
guardar bois no Alqueidão. e dizei-me que vendeis.
que falou já com o Senhor. Vós rosa do amarelo,
Mateus Que vindes vender à feira, IuI. Vendo favas de Viana.
Ion. Responde-lhe tu, Nabor, 910mana, tendes i queijadas?
Teodora, alma minha, Vic. Tendes alguns laparínhos'"?
contigo s'entenderá. Tenho vosso avô marmelo!157
minha alma, minha canseira? IuI. Sim, de porca.
870 Conhecei-Io?
Trazeis alguma galinha?
Ou Dionísio, ou Gilberto, Vic. Nem coelhos?
l58
Aqui estão emborilhadas .
qualquer deTeo.
vós outrosSão vossa alma galinheira.
três, IuI. Quereis comprar dous francelhos'?", 950
Esta de rn.sora que o , d 159
e ma
e não vos embaraceis nemQue má154,
torveis ora cá viestes
pela vossa
pera caçardes ratinhos?
negra vida.polos Evangelhos!
porque é certo Vic. Quero,
pera quem vos pôs no paço! Menina, não hajais medo:
que bem vos entendereis. 915
Mateus Senhora, eu que vos faço, vósMateus Vós, Tesaura,
sois mais engrandeci da minha estrela,
.u Estas cachopas
875 não vêm
que vos agastais tão prestesj!" que Branca denão viríeis cá em vão.
Figueiredo.
à feira nego 155 a folgal~ Dizei-me vós, Teodora, Tes. Pois si, vossa estrela vos er'ela: 955
e trazem de merendar ovos, meus
Se trazeis como
trazeis vós tal cousa e tal aquiloolhos,
é de rascão!
nesses cestos que i têm. não Mateus
m'os vendais
deste jeito, muito embora? 845 Iusr, Masa ninguém.
como isso é de donzela!
Mas lá dessoutro metal Andar
920 em burra e ter bem:
Porém vá já como vai,
Mas pois
880
quanto ao que entendo, ouvide ora o rasca-piolhos
sois, samica 156, anjo denão falam à lavradora.
Deus; e casemo-nos, senhora.
I60
(azeiteTes.
no michoPois !161) emco'ele,
casai que vem!
casai. 960
quando partistes dos céus, Vic.
Vic. Senhora Moneca, trazeis Minha vida, Leonarda,
Casar ma ora, meu pai,
que ficava Ele fazendo? algum cabrito recente? 1
traz caça pera vender?
casar má hora.
ler. Ficava vendo o seu gado. 850 Leo.
Mon. Não bofé, senhor Vicente: Vossa vida negra e parda
Jil. Santa Maria! Gado há lá?quisera ora trazer três, 925
Mateus Porém trazeis algum pato?
não lhe abastará comer
Oh, Jesu! Como
885 o terá
de que vós foreis contente. Tes.
da vaca com da E quanto dareis por ele?
mostarda?
o Senhor gordoVic.
e guardado!
Juro à Santa Cruz de palha Hui! E ele revolve o fato: 965
Vic.
qu'hei de ver o que aqui está. E a mesa de meu
olho senhor
mau se meta nele.
E há lá boas ladeiras, irá semMateus
ave de pena
Mon. Não revolvais aramá, Não162?
trazeis vós o qu'eu cato.
como na serra d'Estrela? 855 Leo.
ier, Si. que não trago nernígalha'". Quem?
930 E vós soisMerenciana
Vic. comprador?deve ter
890 Vic. Não me façais descortês, Pois nem grande nem
nestepequena
cesto algum cabrito.
Gil. E a Virgem que faz ela?
não matou o caçador.
Ser. A Virgem olha as cordeiras, Vic. Meren.
Matais-me Não
vós logo m'haveis de revolver,
bem
e as cordeiras a ela.
nem queirais ser tão garrida. com dous olhinhos qu'eu digo. 970
Gil. E os Santos de saúde 860 Leo. senão, pardeus, que dê grito
Mais vos mata a vós o trigo,
Mon.
todos, a Deus louvores? Pola vossa negra vida, tamanho, que haveis de ver.
porque não vale a vintém,
Ser. Si. olhade como é cortês!
Oh! Que lhe saia má saída. e traz935
mau micho consigo.
Vic. Eu hei de ver que trazeis.
895
Mateus Giralda, eu achar-vos-ei Meren. Se vós no cesto bulís'" ...
". "",,,,,,im Q', vem de '0". " •. '0"'." P"~'b",.dous ",. de
pares ""'O "6.
"'CO"passarinhos? =0"' .. "'"n ",. v. Vic. 635 .. "060 o Di,bo
Senhora, que me fareis? 3
que
Gir.
5 carregue! 158. ell7borilhadas: embrulhadas. Irei
159. porquieto.
queda: eles 160.
aos micha.
ninhos, Meren.
mistura de fannhas unhzadas no fabnco do Um aqui-d'el-reí!", ouvis?
·0.161. azeite no micho': Deitem azeite a ferver em cima do rapaz! 162. ave de pena: alimento mais requlJ1tado do que a carne
vaca. entonces os venderei. Não sejais vós descortês.
940
Comereis vós estorninhos? Vic. Não quero senão amores,
Mateus Respondeis como mulher pois vosso, senhora, sou. 19
900
Meren. Amores de vosso avô, 9
muito de sua vontade. 166 o da ilha dos Açores.
Gir. Pois digo-vo-Ia verdade: Andar aramá vós só.
pássaros hei de vender? 1
Olhai aquela piedade!"? 945 Mateus Vamo-nos daqui, Vicente.
Vic. Bofá vamos.
163. Pação: Homem fino. 164. v. 875: que ficais logo zangada? 165. nemigalha: nem migalha, nada. 166. v. 901: senhora do seu nariz. 167. v. 904:
Vejam como ele é generoso! 168. v. 907: como alguém que sabe como agir. 169. laparinhos: filhos de coelha. 170. francelhos: aves de rapina.
171. v. 936: Não mexais nas minhas coisas. 172. Um aqui-d'el-rei: Um grito de socorro.
200
123.
Canti
ga.
I Coro "Blanca estais colora da, 4. Gil Vicente, Auto da Feira
em que Roma
se prepara 130. O tema da simonia está também presente na obra de Dante A Divina Comédia. Lê um ex-
para certo retirado da primeira parte desta obra, intitulada Inferno, em que o autor apresenta
os que são condenados pelos pecados cometidos em vida.
131.
132.
133.
Desejo dos Amâncio Motivos para Acordo a Motivo do
a venda: b. 4. Gil Vicente, Auto da Feira
lavradores: que chegam: cumprimento/
Motivos para d. não cumprimento
a. Diniz a venda: c. do acordo: e.
r _____ 00_ .~.
141. Com base na leitura da obra, redige uma exposição (entre 120 a 150 palavras) em
que
mostres a dimensão religiosa deste auto vicentino.
O teu texto deve apresentar as seguintes características:
· carácter demonstrativo;
· elucidação evidente do tema (fundamentação das ideias);
· concisão e objetividade;
· identificação das fontes utilizadas.
142. Na época de Gil Vicente, o teatro era bastante valorizado socialmente, cumprindo
uma
função lúdica, didática e moralizante. A tripla função desta manifestação artística
permanecerá atual? Propomos-te que reflitas, juntamente com os teus colegas, sobre a
importância do teatro na sociedade contemporânea.
144.
143.
145.
• Nome dado a qua
• Tema: assunto rel
Género literário da fé
Auto • Personagens: tipo
• Outras característ
Gil Vicente, Auto da Feira
sátira de costume
Superstição e imora
• Monólogo de Merc
• Realização de uma feira cujos vendedores são o Tempo, Serafim e o Diabo IEIpPT
Enredo - Roma: compradora de bens espirituais (simonia) Gil Vicente, Auto da Feira - Sín-
tese da unidade
"Toda esta • Denúncia da crise de valores da sociedade em geral e da imoralidade clerical
'moralidade' é 205
construída em Religiosidade popular [vv. 511-782]
torno duma ideia • Apresentação de cenas da vida quotidiana no contexto da feira:
central, que é a - Amâncio Vaz e Diniz Lourenço: queixas das mulheres; desejo de trocar de
do comércio.
Cenas de estilos cônjuges
muito diferentes
- Branca Anes: queixas do marido
desfilam ante os
olhos dos - Marta Dias: compradora de coisas materiais
espectadores, • Denúncia da degradação dos costumes e das dicotomias da religiosidade popular
reportando-se
todas elas a trocas Exaltação divina [vv.783-991]
comerciais, a atos
de compra e • Apresentação de cenas da vida quotidiana no contexto da feira:
venda. " - Moças do monte: devotas de Nossa Senhora, através do canto (entoação de
(Paul Teyssier, cantiga em honra de Cristo e da Virgem Maria) - cf. romaria medieval
Op. cit. [p. 59]) - Mancebos: acompanhantes das moças no canto
- Vicente e Mateus: compradores de amores (tentativa de compra de bens às
raparigas pelos mancebos)
• Exaltação das virtudes
146.
Texto B - Auto Teste
da Feiraformativo
Lê o excerto a seguir transcrito. 4. Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira I Auto da Feira
(100 PONTOS)
Vão-se ao Tempo e diz Marta Dias: 25 Ser.
Branca
Gil Vicente,Eu
Autoqueria
da Feira -uma pucarinha Inês que a morte a todos gasta. de que as almas são doentes. visitada por dois casais e em que as
1
Correção Marques. esposas dialogam com o Serafim. 5
do teste formativo
pequenina pera mel.
la o que
45
havedes de fazer?
E se hão de Inês
correger Andar! Pêro
2, Branca e Marta são mulheres sim-
Marques seja.que tentam comprar
pies e ingénuas
20 Ser.GRUPO I Esta feira é chamada
Casade-vos, filha minha. alguns objetos comuns do dia a dia
Texto A
das virtudes em seus tratos. quando for todo danado":Quero tomar por esposo na feira, não se apercebendo de que
1. O excerto apresentado situa-se na Inês Iesu! Iesu! Tão asinha! se trata de uma feira diferente.
Marta
última parte Das virtudes! E há aqui patos?
da obra e corresponde muito cedo se30há de ver;quem se tenha por ditoso
Isso me haveis de dizer? Branca, apesar da simplicidade e da
ao momento que sucede à chegada
Branca Quereis feirar a cevada que já ele não pode ser de cada vez que me veja. parece conhecer bem a
ingenuidade,
da notícia da morte do Escudeiro. De- Quem perdeu um tal marido, alma, o comportamento e o carácter
pois de o saber, Lianor Vaz visita Inês
quatro pares de sapatos? mais torto nem aleijado. Por usar de siso mero", humanos, porque, após perceber o
20
e volta a sugerir-lhe um encontro 1 tão discreto e tão sabido,
com Pêro Marques. 5 Vamo-nos, Marta, à carreira",asno que me leve que se comercializa naquela feira,
quero,
e tão amigo de minha vida? mostra a Serafim que a mercadoria
2. Inês "finge" que sofre pela morte que as moças do lugar e não cavalo folão". dele não terá compradores, pois na
do marido (v. 2); com o decorrer da Teste Lia. Dai isso por esquecido,
conversa, mostra que a ideia de um virão cá fazer35a feira, Antes lebre que leão,época em que vivem todos estão ma-
novo casamento não lhe desagrada
buscai outra guarida. culados e ninguém deseja virtudes.
que estes não sabem ganhar, 3, Branca e Marta esperavam encon-
(vv. 12-13). Depois da sugestão de antes lavrador que Nero.
trar outro tipo de feira e, perante a co-
Lianor, que volta a indicar-lhe Pêro nem têm causa que homem queira. mercialização de mercadorias que não
Marques, revela o quanto aprendeu
Gil Vicente, Farsa de Inês Pereira, Porto, Porto Editora, 2014querem adquirir, decidem sair. Branca
[pp. 63-66]
com a experiência do casamento Gil Vicente, Auto da Feira, Porto, Porto Editora, 2014 [pp. 59-62] dirige-se ao Serafim uma última vez
com Brás da Mata (vv. 22-24) e decide
l. canseira: desgraça. 2. casta: descendência. 3. siso mero: senso comum. 4.folão: fogoso. para lhe dizer que os homens não es-
aceitar Pêro Marques (vv. 28-34).
\. burel: tecido grosseiro de lã. 2. meirinha: gado lanígero. 3. pincéus: enigmas. 4. sigro: século. 5. danado: conde- tão interessados em obter virtudes.
Apesar de aconselhar Inês a aceitar a
nado. 6. à carreira: ao caminho. 4. Através destas mulheres, nomeada-
sua nova condição, Lianor Vaz mostra
mente Branca, é feita uma crítica à so-
a sua verdadeira natureza de alcovi- 1. Localiza o excerto na globalidade da obra a que pertence. ciedade: a "consciénaa",
(20 PONTOS) as "virtudes" e
teira, sugerindo que case com Pêro
o "amor de Deus" são bens que não in-
Marques(vv.11,17-19).
teressam aos homens e que ficarào
Assim, ambas se comportam de forma 70. Analisa, comparativamente, o comportamento de Inês e de Lianor neste por vender; a época em que vivem es-
falsa e hipócrita, acabando por revelar
tá repleta de(20pessoas desinteressadas
aquilo que efetivamente pensam. excerto, caracterizando estas personagens com exemplos do texto. PONTOS)
1. Localiza o excerto na globalidade da obra a que pertence. (20 PONTOS) na salvação e as suas "almas são doen-
3. Nestes versos está presente a iro-
tes" (v. 39); a sociedade está de tal for-
nia. Através dela realça-se o carácter
dissimulackrde Inês, que finge estar 71. Identifica o recurso estilístico presente nos versos "Quem perdeu um tal ma corrupta
marido, / que a correção dos vícios
2. Caracteriza Branca e Marta tendo em conta o excerto apresentado.
muito abalada cem a morte de Brás, (20 PONTOS) só ocorrerá perante a ameaça da con-
tão discreto e tão sabido, / e tão amigo de minha vida?" (vv. 14-16) e refere o seu denação.
salientando as boas qualidades que
5, A alegoria surge representada quer
ele supostamente tinha ("discreto", valor expressivo. (20 PONTOS)
3. Salienta a importância da fala final de Branca. nas personagens Serafim e Tempo
"sabido", "amigo'?, quando ela própria (20 PONTOS)
(entidades abstratas) quer na nature-
tinha experimentado o seu carácter
4. Salienta a importância do monólogo de Inês, após a saída de Lianor Vazo za da feira em
(20 que se baseia toda a
PONTOS)
tirano. Assim, oculta aquilo que ver-
ação dramática e que aqui surge con-
73.
dadeiramente viveu, evitando ser cri-
Mostra de que forma a crítica vicentina é veiculada através de Marta e de cretizada em expressões como: "Cons-
ticada pela decisão de ter casado com
ele. Branca, fundamentando 72.a tua Mostra
resposta comde
Lucinda que forma
elementos
Canelas do
(2006), estas
texto.
in duas personagens dão corpo à sátira
(20 PONTOS)e à
http://www.publico.pt/culturaipsilon/jornal/custodia-de-belem-gil-vicente-
ciência queteis comprar, / de que visuús
vossa alma?" (vv. 6-7) e "Esta feira é
crítica -me-fez-ha-500-anos-75386 [Consult. 30-11-2014, adaptado] (20 virtudes
chamada / das PONTOS) em seus tratos"
206 5. Explicita de que forma a alegoriafundamentando
vicentinas, surge representada nesta
a tua cena. com elementos do texto. (20 PONTOS)
resposta (vv.20-21).
formativo 207
(50 PONTOS)
Lê o texto seguinte.
A Custódia de Belém
147.
208 Conhecemos Gil Vicente como funda-
dor do teatro português ou o dramaturgo
que escreveu os Autos das Barcas e o Mo-
nólogo do Vaqueiro. Poucos sabem que foi
5 o ourives de D. Manuel e D. Leonor e o
criação.
Ouro, apresentara pela primeira vez o 40 ultramarina que cria um período de
cristal e Monólogo do Vaqueiro - concluísse a peça grande otimismo e prosperidade, explica
esmaltes que o rei deixou em testamento ao Mos- a conservadora, acrescentando que o
foram os teiro dos Ierónimos. ouro usado por Gil Vicente vinha de um
ma- "O mosteiro estava ainda em constru- tributo de vassalagem do rei de Quíloa
teriais 30 ção quando a encomenda é feita'; diz Leo- 45 (costa oriental africana) a D. Manuel,
usados por nor D'Orey, a conservadora para a ourive- pago durante a viagem de Vasco da Gama
Gil Vicente saria, "mas é nele que D. Manuel pensa à Índia e entregue pelo próprio navegador
para cons- quando pede a Gil Vicente que crie esta ao monarca português.
truir a maravilhosa custódia': "Ê uma peça de uma enorme comple-
Custódia de 35 A peça, explica D'Orey, tem cerca de 50 xidade e de um virtuosismo técnico ex-
Belém. A 6,5 quilos, a maioria dos quais em ouro. traordinário'; defende Leonor D'Orey, re-
custódia, O seu significado artístico e político está cordando a polémica que no século XIX
que intimamente ligado ao contexto da sua envolveu a sua autoria. A ligação ao dra-
20 é uma criação, dominado por uma expansão maturgo acabou por ser comprovada pela
peça 55 descoberta de umas notas à margem num
religiosa documento de 1513, em que D. Manuel
onde é nomeia Gil Vicente responsável pelas
guardada a obras de ourivesaria do Convento de
hóstia Cristo, dos Ierónimos e do Hospital de
sagrada, foi 60 Todos-os-Santos.
uma "No documento de 1513, Braamcamp
encomenda Freire identifica uma nota que diz que o
do rei Gil Vicente a que o texto se refere é trova-
D. Manuel I dor e mestre da balança [ourives da Casa
em 1503. 65 da Moeda]'; explica D'Orey. O nome do
Fora dramaturgo vem, aliás, associado à custó-
m dia no testamento de D. Manuel (1517). "Ê
precisos raríssimo termos dados escritos relativos
três anos a estas peças. No caso da custódia, sabe-
para que 70 mos quem a fez, quem a encomendou e a
o onde se destinava:'
ourives Gil Vícente, que era também o ence-
que viria nador das entradas régias, "conjuga nela
a as linguagens naturalista e arquitetónica
dedicar- 75 de forma muito coerente e com grande
se ao virtuosismo": "A Custódia de Belém é uma
teatro - peça de aparato com grande teatralidade
25 em 1502 e poder cenográfíco"
148.
, 1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.7., seleciona a opção correta. Escreve, no
teu caderno, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.
GRUPO li
1.1. A Custódia de Belém está ligada à expansão ultramarina porque 1.1. c.; 1.2. a.; 1.3. c.; 1.4. d.; 1.5. b.;
(5 PONTOS)
1.6. a.; 1.7. b.
74. foi encomendada pelo rei de Quíloa. 2.1. a. Oração subordinada adjetiva
75. foi levada até à índia porVasco da Gama. relativa restritiva. b. Oração subordi-
nada substantiva completiva. c. Ora-
76. foi feita com ouro da costa oriental africana. ção subordinada adverbial final.
1.2. As palavras "Museu" (I. 9), "Mosteiro" (li. 27-28) e "Convento" (I. 58) O tópico do 'mundo às avessas"
(5 PONTOS) remete para um mundo em que a or-
77. constituem um campo lexical. dem não é respeitada, um mundo
78. constituem um campo semântico. desarmonioso cujo sistema de valo-
res e principios se encontra virado do
79. estabelecem entre si uma relação de sinonímia. avesso. É. portanto, um mundo gera-
dor de cnticas e, até, alvo de paródia.
80. estabelecem entre si uma relação de antonímia. O "mundo às avessas" é visível nas
obras vicentinas estudadas, já que o
1.3. Em "a sua autoria" (I. 53), o determinante possessivo refere-se a dramaturgo apresenta situações que
(5 PONTOS)
81. "O seu significado artístico e político" (I. 37). c. "uma peça" (I. 49). desafiavam os costumes e os valores
instituídos.
82. "a maioria dos quais em ouro" (I. 36). d. "[0]0 contexto" (I. 38). [Hipótese Al
Na Farsa de Inês Pereira assistimos
1.4. A conjunção "mas" (I. 13) introduz
83. uma ideia equivalente. (5 PONTOS) à subversão do casamento: a rapari-
;Na obra de Gil Vicente que analisaste foca-se o tópico do "mundo às avessas". (Hipótese A: 223 palavras)
(Hipótese B: 240 palavras)
jRedige uma exposição sobre este tópico, fazendo referência não só à obra que leste, como
~ também à sociedade atual, mostrando até que ponto lhe pode ser associado. Escreve um
ftexto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras.
209
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