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E por vezes - a mutabilidade dos afectos:

«por vezes lembramos que por vezes / ao


E por vezes as noites duram meses tomarmos o gosto aos oceanos/ só o sarro das
E por vezes os meses oceanos noites não dos meses / lá no fundo dos copos
E por vezes os braços que apertamos encontramos».
nunca mais são os mesmos E por vezes - a confusão emocional a que estamos
sujeitos:
encontramos de nós em poucos meses «E por vezes sorrimos ou choramos».
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos 3. Explica de que forma é sugerido o fim de
E por vezes lembramos que por vezes frase, neste texto sem pontuação.
O fim de frase a sugerido pela utilização da
ao tomarmos o gosto aos oceanos maiúscula a iniciar a palavra seguinte.
só o sarro das noites não dos meses
4. Apesar do seu tom repetitivo, o poema
lá no fundo dos copos encontramos
apresenta uma construção lógica muito
interessante.
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes 4.1. Mostra alguns mecanismos de
num segundo se evolam tantos anos. progressão textual utilizados.
Nos dois primeiros versos, uma espécie de retoma
David Mourão-Ferreira, Matura Idade (1972) da palavra «meses», em gradação («as noites duram
meses / E por vezes os meses oceanos»); na 2.ª
1. “E por vezes”, o título do poema, repete-se onze estrofe, um processo semelhante com as palavras
vezes, tornando-se assim, na expressão-chave. «meses» e «anos» e também a retoma da palavra
«lembramos».
1.1. Indica a ideia-chave que o título procura
transmitir. 4.2. Explica a solução encontrada
O título “E por vezes”, repetido exaustivamente no para o remate do texto.
poema, transmite a ideia de acaso associada à A rematar o poema, a conclusão iniciada pela tripla
impossibilidade de encontrar uma regra de fixação do utilização da expressão «por vezes» (intensificada
tempo. pela interjeição «ah») seguida pela expressão «num
segundo se evolam tantos anos», que sintetiza este
2. Procura, no poema, as expressões que poema sobre a impossibilidade de fixar o tempo.
melhor correspondam às seguintes linhas de
sentido: 5. Analisa a estrutura externa do poema:
- a dimensão psicológica do tempo: estrofes, esquema rimático, tipos de rima e
«por vezes as noites duram meses». tipo de composição.
Este poema é constituído por duas quadras e dois
- a impossibilidade de agarrar o tempo:
tercetos. A rima é interpolada e emparelhada nas
«por vezes os braços que apertamos / nunca mais
quadras; por seu lado, é cruzada e interpolada nos
são os mesmos»; «por vezes / num segundo se
tercetos, segundo o esquema rimático ABBA /
evolam tantos anos».
ABBA / BAB / BAB. A composição poética
- a mutabilidade e permeabilidade do ser apresenta, pois, ao nível formal, as características
humano: de um soneto.
«por vezes encontramos de nós em poucos meses /
o que a noite nos fez em muitos anos». 6. Faz a escansão do verso: «num segundo se
evolam tantos anos».
- o engano da memória: Num / se/gun/do/ se e/vo/lam / tan/tos / a/nos
«por vezes fingimos que lembramos». 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

6.1. Classifica-o quanto ao número de sílabas


métricas.
É um verso decassílabo.

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