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Diretora de Produção
Dalvaci Neves
Conselho Editorial
Adélia Costa
Aluísio Azevedo Júnior
Dalvaci Neves
Francisco Ramos
João Andrade
José de Castro
Thiago Gonzaga
Maria Maria Gomes
Jornalista e compositor Roberto Homem Encarte Especial KUKUKAYA Poesias com
escreve a “Volta ao Mundo de Tico da Costa” - seleção de Poemas de Acadêmicos e Patronos
Foto sem identificação de autoria na fonte pesquisada. da Academia Curraisnovense de Artes e Letras
Disponível no sítio: open.spotify.com - ACAL Currais Novos RN - Imagem da logomarca
disponibilizada pela Direção da ACAL. Arte da
logomarca de Lourinaldo Batista.
KUKUKAYA Poesias - 04
KUKUKAYA Poesias – LITERATURA & ARTES POÉTICAS
Edição nº 5 – março, abril e maio de 2022
SUMÁRIO
KUKUKAYA Poesias - 05
KUKUKAYA Poesias – LITERATURA & ARTES POÉTICAS
SUMÁRIO (Continuação)
KUKUKAYA Poesias - 06
Literatura – Versos & Prosas de Poetas Encantados
OLAVO ATAÍDE MARIA JOSÉ MAMEDE NELSON PATRIOTA PEDRO GRILO NETO
José Pinto Júnior (Pinto Júnior) – Foto Maria José Mamede – Foto Reprodução
Reprodução (Facebook). Disponível no sítio:
(acervo da família). Disponível no sítio:
www.tribunadonorte.com.br
https://curraisnovos.rn.gov.br
Eduardo Gosson – Foto sem identificação de Pedro Grilo Neto – Foto sem identificação de
autoria na fonte pesquisada. Disponível no Blog autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal
Vale Verde – Lúcia Helena Pereira - sítio: Anote RN - sítio: http://www.anotern.com.br
http://letrasecanaviais.blogspot.com
Seleção:
Editoria da Revista KUKUKAYA Poesias – Literatura & Artes Poéticas:
José Ivam Pinheiro - Editor
abril/2022
KUKUKAYA Poesias - 07
JUNIOR DALBERTO * 30 /10/1959 + 27/10/2020
Uma mulher
Um livro
Um café.
Imagem rara:
Aroma de café.
Cheiro de livro
Perfume de mulher.
Fechou o livro.
Sorveu o café.
Alheia a olhares.
Partiu! Partida para livre livro - Imagem sem identificação de autoria na
Deixando o local fonte pesquisada. Disponível no sítio: br.pinterest.com, e no sítio:
www.wattpad.com
Uma catedral sem fé.
PINTO JÚNIOR
KUKUKAYA Poesias - 08
ERILEIDE ROCHA * 03/02/1957 + 19/06/2021
BREVIDADE
KUKUKAYA Poesias - 09
OLAVO ATAÍDE * 01 /06/1959 + 18/02/2022
UNS E OUTROS
OLAVO ATAÍDE
AOS AMIGOS
KUKUKAYA Poesias - 10
NELSON PATRIOTA * 04 /11/1949 + 06/01/2021
KUKUKAYA Poesias - 11
PEDRO GRILO NETO * 30 /09/1936 + 22/04/2022
TROVAS DE GRILO
Foguetório luminoso
a estrelejar-se, à distância,
faz recordar-me, saudoso, Pinturas da Natal Antiga vista por Pedro Grilo Borratela - Imagem
sem identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no Blog
o SÃO JOÃO da minha infância! VIVICULTURA - sítio: https://vivicultura.blogspot.com
No meu viver, diariamente, Este humilde poema, sem rima, sem beleza,
a náusea que me angustia Como pura explosão de alma,
é a fetidez graveolente Pelo aniversário de Pedro Grilo - festejado e louvado -
que exala da hipocrisia. Vem dizer da Poesia para o Poeta,
Que ele é nosso orgulho, brasão de honra potiguar!
Adoro a mulher ordeira,
amorosa e delicada. Salve! Ao poeta que faz e diz poesia,
Mas, se é megera e grosseira, Que chora, canta, brinca e não sai do tom,
distância desta danada... O tom poético que já mereceu prêmios,
Que fez belos manifestos na terra de MÁRIO QUINTANA,
A nostalgia me alcança Que chegou ao céu, à lua, ao sol, ao vento, aos mares
quando, branda, a tarde cai, Carregado por asas brancas de anjos - poetas!
cravando-me a aguda lança Parabéns, Pedro Grilo, poeta de fina estirpe,
da saudade do meu pai. De ricas mensagens, célebres canções,
Do mais erudito ao mais popular,
PEDRO GRILO NETO OH! Grilo, teu nome é POEMA!
Disponível no Blog Falando de Trova - sítio:
https://falandodetrova.com.br/pedrogrilo. LÚCIA HELENA PEREIRA ------------- Homenagem
Poema escrito em setembro/2010, e dedicado ao amigo Pedro Grilo Neto.
KUKUKAYA Poesias - 12
Por ROBERTO HOMEM*
No dia 13 de novembro de 2021, se ainda estivesse por aqui, Tico da Costa completado
70 anos. Em 29 de agosto próximo, transcorrerão 13 anos que ele partiu. Morreu leve, da mesma
forma como viveu. Pessoa de muita luz, espalhou otimismo, alegria, bondade, fé e esperança.
Cultivou amizades, caprichando no adubo da generosidade e do carinho. Usou a arte para
amplificar o alcance da sua mensagem de paz e amor. Seu veículo principal foi a música –
embora também tenha escrito contos e poesias, além de ter criado histórias infantis que contou
muito para seus filhos Daniel, Lucas e Gabriel. Compôs mais de 2 mil canções. A maior parte
delas permanece inédita. Nos 19 discos que lançou (seis na Itália, seis nos Estados Unidos,
seis no Brasil e um no Paraguai), foram registradas pouco mais de 200 de suas músicas. Deixou
uma caixa com mais de 150 rolos de fotografias, o equivalente a quase 4 mil fotos. Também
fazem parte do acervo 500 fitas – divididas entre cassetes e VHS –, além de partituras. Quem
comanda os esforços para preservar e difundir esse precioso legado é a eterna companheira,
mulher e guardiã da obra de Tico: Sara Beatriz Fracchia Figueiredo. Para isso, conta com o
apoio da família e o de diversos amigos.
Com esse suporte de pessoas afetivamente ligadas ao artista, a colaboração de algumas
instituições e empresas e – mais recentemente – os recursos que têm conseguido captar por
meio da aprovação de projetos em editais, Sara perenizou e até amplificou o nome e a obra de
Tico da Costa. Fez isso organizando tributos com a participação de artistas potiguares e de
outras partes do país e realizando exposições sobre Tico e sua obra. Sob sua coordenação,
também foram editados dois Song books com parte das composições de Tico: “Song book Tico
da Costa - Para filarmônicas” e “Song book Tico da Costa - Choro Suíte”. Em breve será lançado
o “Song book Tico da Costa para Orquestra – Cenas do Rosário”. Na sequência, ainda em fase
de elaboração, virão o “Song book Tico da Costa – Mar” e um outro apenas com músicas
infantis. Também foi filmado e já houve o pré-lançamento do documentário “Curta Tico!”,
dirigido por Heraldo Palmeira, reunindo diversos depoimentos a respeito da vida e da obra de
Tico. Um site para expor parte desse material está em fase de desenvolvimento. Ele ficará
hospedado no site: www.ticodacosta.com.br
KUKUKAYA Poesias - 13
Sara também tem concedido entrevistas para falar a respeito da vida e do legado deixado
por Tico da Costa. Em uma delas – em setembro de 2020, ao programa “Roda de Conversa”, da
TV Tropicana, da Paraíba – ela revelou ao apresentador Kleber Moreira muitos fatos da vida de
Tico. Neste texto, compartilharei algumas das informações que recolhi daquela conversa. Elas
se somarão a diálogos presenciais e por meio da internet que mantive com ele ao longo dos
anos e a fatos e histórias que contou a mim e ao jornalista Costa Júnior, recuperados da
gravação da entrevista que fizemos para o jornal Zona Sul, que antes de encerrar suas
atividades era distribuído em Ponta Negra. A entrevista ocorreu no começo de junho de 2005 e
sua transcrição está disponível no site: www.zonasulnatal.blogspot.com
No dia em que entrevistamos Tico da Costa, chovia forte em Natal, mas eu nem de longe
imaginava que aquele aguaceiro todo poderia ser um sinal da noite fértil que se avizinhava. Lá
do restaurante Veleiros, em Ponta Negra, do amigo Ricardo Menezes, dava para ver os carros
driblando as poças de água maiores, naquela noite de segunda-feira. Foi em um desses
automóveis, um da marca Toyota, que Tico da Costa chegou, esbanjando simpatia, magnetismo
e carisma. Ele usava um blazer por cima da camisa de algodão. Em pouco tempo, a história que
contou nos fez perder a noção de espaço e de tempo, tão saborosa quanto os pratos que saíam
da cozinha do Veleiros, que infelizmente fechou suas portas há alguns anos. Eu não conhecia
esse compositor talentoso e artista tão importante, o mais internacional da música potiguar.
My Name Is Tico – Foto que ilustra a entrevista do artista ao Jornalista Roberto Homem do
Jornal Zona Sul Natal, em 30 de junho de 2005. Foto sem identificação de autoria, estando a foto e
a entrevista supracitada disponível no sítio: zonasulnatal.blogspot.com
Naquela ocasião, eu estava de férias em Natal. Fazia sete anos que me mudara para
Brasília, cidade na qual vivo até hoje. Nossos destinos, até então, não haviam se cruzado.
Francisco das Chagas da Costa, o Tico da Costa, residiu em Natal entre os anos de 1966 e 1970.
Eu era criança, nesse tempo. Antes disso, na Areia Branca onde nasceu – naquele ambiente de
praia, pescaria, salinas, futebol e outras brincadeiras – seus colegas o tratavam por Titico de
Dijesu. Dijesu Paula era o pai, carteiro que gostava de tocar violão e narrar causos. Ele
entregava uma carta e contava uma piada. Certo dia, uma das oito irmãs de Tico, Dedezinha, foi
presenteada com um violão. Ela não se interessou. Mas os oito filhos homens de seu Dijesu –
que morreu em 1992 – passaram a fazer fila para tentar aprender a tirar som daquele
instrumento. O mais velho, Getúlio, se tornou aluno de um professor que estudava violão
clássico por correspondência.
KUKUKAYA Poesias - 14
Todos os filhos homens de Seu Dijesu e Dona Chaguinha – ela faleceu em 2010 –
aprenderam a tocar violão. Inclusive, cinco deles integraram um grupo que, apesar de ter
durado pouquíssimo tempo, fez shows em Natal e Pedro Velho. Os “Cinco da Costa Branca”
era formado por Tico da Costa, Paula Neto, Pedro Paulo, Antônio José e João Salinas. Chegou
a ser cogitada a possibilidade de gravação de um disco, mas a ideia não vingou. Mesmo assim,
ainda existem registros de algumas músicas em fita cassete. Uma das canções do repertório
dos cinco irmãos era “Pé de Cajarana”, que Tico compôs incorporando alguns versos de autoria
do seu pai: “Eu nessa vida já vi coisa engraçada/ Caranguejo com pescoço, muriçoca afinada/
Doce de sal, galinha com dor de dente/ Galo ciscando pra frente, bode velho usar loção/ Um
jacaré dormindo em cima de um poleiro/ Gago falando ligeiro, transmitindo o futebol”.
Família Costa, incluindo o seu pai e sua mãe, irmãs e Seu Dijesu e Dona Chaguinha, pais do artista Tico da
irmãos e Tico da Costa, sentado à esquerda com roupas Costa – Foto do acervo da família do artista, sem identificação
escuras e tênis branco – Foto do acervo da família do artista, de autoria na fonte pesquisada.
sem identificação de autoria na fonte pesquisada.
Quem também foi fonte de inspiração – junto com o pai e os irmãos – para Tico da Costa
aprender a tocar violão foi o ilustre compositor areia-branquense, hoje radicado em Natal,
Mirabô Dantas. Quando se mudou para a capital, com 15 anos de idade, para estudar na então
Escola Industrial Federal do Rio Grande do Norte (que depois virou ETFRN, CEFET-RN e hoje é
IFRN), Tico não raramente deixou os livros de lado para participar de festivais e se envolver
com a música. Ele já compunha desde os 13, quando conseguiu aprender seus quatro
primeiros acordes. Os estudos pouco a pouco foram ficando em segundo plano. Tico gostava
mesmo era de cantar. Em seu repertório, sucessos de Jerry Adriani, Roberto Carlos e muito iê-
iê-iê. Além de algumas autorais. Certa ocasião, quando foi acertar sua participação em um
programa da Rádio Cabugí – produzido por Jota Belmont e transmitido direto da Lagoa Manoel
Felipe – teve que trocar de nome para poder se apresentar. Belmont foi irredutível: “Titico? De
jeito nenhum. Seu nome vai ser Luís Augusto!”. Sim, naquela época Tico ainda era Titico.
Conto mais na frente como se deu a troca definitiva de nome. O fato é que durante algum tempo,
Tico adotou o nome artístico de Luís Augusto. Nenhum registro do “Tico Luís Augusto”
sobreviveu ao tempo. Nem cartazes de apresentações, textos de jornais, nada...”.
Na Escola Industrial, Tico conheceu a professora Maria de Lourdes Guilherme Filgueira,
responsável pela disciplina de canto orfeônico. Anos depois, em homenagem a ela, o coral da
ETFRN passou a se chamar Lourdes Guilherme. Quando ouviu algumas composições do jovem
talento, a professora conseguiu para ele uma bolsa na Escola de Música da UFRN. Detalhe: as
vagas para violão já estavam todas preenchidas, e lá foi Tico estudar contrabaixo, a
contragosto. Posteriormente, conseguiu transferência para Recife e foi estudar violão clássico
no Conservatório Pernambucano de Música. Lá, ele ingressou no conjunto Gen (geração nova)
Cântico Novo, do Movimento dos Focolares (inicialmente ligado à igreja católica, fundado em
1943, na Itália, mas que hoje é ecumênico) e fez shows em todo o Nordeste. Essa aproximação
se tornaria, futuramente, seu passaporte para ir à Europa.
KUKUKAYA Poesias - 15
CONQUISTANDO O MUNDO
KUKUKAYA Poesias - 16
Tico da Costa e sua amada esposa Sara Fracchia – Foto Álbuns de Tico da Costa – Foto do acervo da família do
do acervo da família do artista, sem identificação de autoria na artista, sem identificação de autoria na fonte pesquisada.
fonte pesquisada.
O argumento definitivo foi a profecia de que, após o casamento com Sara, ela corria o risco de
ser chamada de “senhora Titica”. Tico, a princípio resolveu trocar Titico por Chico da Costa.
Não vingou, porque seria ofuscado por outro Chico, o Buarque, que já estava fazendo sucesso.
Pensou, então, em Francisco da Costa, mas considerou muito clássico. Por fim, optou por
simplificar o Titico para Tico da Costa.
Já com o novo nome – embora não totalmente convicto de que tinha feito a melhor
escolha – Tico conheceu a cineasta italiana Lina Wertmüller, que depois de ter sido assistente
de direção de Fellini nos clássicos “A doce vida” (1960) e “Oito e Meio” (1963), dirigiu seus
próprios filmes. Lina, por sinal, recebeu, em 2019, um Oscar honorário por sua “excepcional
contribuição às artes e ciências cinematográficas”. Mas, naquela ocasião, ela havia adquirido
os direitos de levar para o cinema a obra “Tieta do Agreste”, de Jorge Amado. Cláudia Ohana
faria o papel da protagonista jovem, enquanto Sophia Loren estrelaria o filme. A convite de Lina,
Tico compôs a trilha sonora. Ele também faria uma ponta, representando um cantor tocando
em um bar, com a presença de Sophia Loren. Algumas locações foram realizadas na Itália e no
Brasil. Porém, em 1982, o Banco Ambrosiano, que financiaria o projeto, se envolveu em um
grande escândalo financeiro e faliu. O presidente da instituição, Roberto Calvi, que havia
negociado o acordo, foi encontrado enforcado. Sem o dinheiro previsto, o filme foi abandonado.
De volta à América – Se por um lado o projeto “Tieta” rendeu uma grande frustração a
Tico, por outro, a aproximação com Lina Wertmüller – sobretudo o convite para compor a trilha
sonora de um filme da cineasta – deu projeção ao potiguar e abriu portas no mercado norte-
americano. Devido a essa notoriedade, ele realizou sua primeira turnê de dois meses nos
Estados Unidos. Na bagagem, levou o seu segundo elepê – gravado na Itália, no Folk Studio,
em 1982 – “Brasil Jerimum”. O disco incluía “Ana Bandolim”, “Pé de cajarana”,
“Pernambucadíssimo” e “Um ponto embaixo, um ponto em cima”, entre outras. Mas o naufrágio
de “Tieta” apressou o retorno de Tico ao Brasil. Sara já havia decidido morar no Rio de Janeiro,
para cursar Letras na Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ). Tico foi ao seu encontro. Na
Cidade Maravilhosa, casaram e tiveram o primeiro filho, Daniel Fracchia da Costa. Em 1983, em
uma temporada em Natal, gravou o elepê “América Latente”, lançado pelo Projeto Memória, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O disco incluiu músicas como “Lagartixa”,
“Ridinha”, “Durango tango” e “Lua pheia”. Sediado no Rio, Tico continuou viajando para
apresentações na Europa e Estados Unidos.
KUKUKAYA Poesias - 17
Em uma das turnês norte-americanas, Tico da Costa foi apresentado pelo músico
argentino radicado em Nova York, Bernardo Palombo, a Pete Seeger, que é o esteio da música
folk. De sua obra, beberam, por exemplo, Bob Dylan e Joan Baez. Além de artista, ele era
ativista político, pacifista e ambientalista. Uma figura lendária nos Estados Unidos. Se
apaixonou tanto pela obra de Tico, que classificou a música “Ana Bandolim” como a mais
bonita do século XX e a incluiu em seu repertório. A letra foi adaptada para o inglês e o espanhol
por Bernardo Palombo e se transformou em uma canção pacifista: “Ana Ocarina”. Pete Seeger
e Tico dividiram o palco quatro vezes, sendo três nos Estados Unidos e uma no Paraguai.
Sobre Pete Seeger, é bom acrescentar que ele foi decisivo para solidificar a escolha do
nome Tico da Costa. Embora a decisão já tivesse sido tomada, Tico só teve a absoluta certeza
de que havia feito a opção certa no dia em que recebeu um cartão de Pete. Ele continha uma
imagem em preto e branco da Via Láctea, com um pontinho minúsculo e uma seta apontando a
terra e a frase: “We are here” (nós estamos aqui). Depois de observar bem, Tico concluiu: “a
terra não é mais do que a metade de um tico!”. Se a própria terra representa um cisco diante da
grandeza da Via Láctea, que, por sua vez, é apenas um pequeno ponto na imensidão do
universo, Tico compreendeu que nós também podemos ser grandes em nossas
individualidades e talentos, embora infinitamente pequenos em outras comparações.
Bernardo Palombo foi também quem colocou Tico em contato com Philip Glass. O
compositor norte-americano é uma das figuras mais influentes da segunda metade do século
passado. É considerado o papa do minimalismo. Foi três vezes indicado para receber o Oscar
de melhor trilha sonora original, mas não levou a estatueta para casa. Ele queria vir ao Brasil
fazer anotações e pesquisas para o próximo filme que iria musicar, Pawaqatsi. Palombo sugeriu
que Tico fosse o cicerone. Houve química entre os dois. Philip ficou impressionado com a
desenvoltura, a sofisticação e a simplicidade de Tico tocar violão e com a qualidade de suas
composições. Eles viajaram até o Amazonas, conheceram a floresta... Se comunicavam em
francês, pois até essa época, 1984, Tico sentia ojeriza pela língua inglesa. Na volta ao Rio, Philip
pediu para conhecer mais algumas canções de Tico. “Ana Bandolim” foi a que mais o deixou
encantado. Surgia aí uma sólida amizade. Tão grande que Tico tinha a chave da casa do
americano em Nova York e se hospedou lá todas as vezes em que esteve na cidade, durante 20
anos. Philip também dividiu várias vezes o palco com Tico e participou de seus discos
“Lagartixa” e “Mar”.
Um novo estágio na carreira de Tico se deu quando, em 1990, ele lançou nos Estados
Unidos o álbum “Brazil Encanto”, pela editora Music of the World. Faixas como “Puxa vida”,
“Vou na onda do mar” e “Pés no chão” tiveram ótima aceitação. Porém, o principal cartão de
visitas foi a regravação de “Ana Bandolim”, que já havia sido incluída no álbum italiano de 1982.
Em 1992, ele participou da coletânea “Musica de la Tierra”, também gravada pelo selo norte-
americano Music of the World. Tico canta duas músicas: “Ridinha” e “Puxa puxa”. No mesmo
ano, sua canção “Ana Bandolim” foi incluída na coletânea “Contemporary Global Voices”, da
mesma gravadora, e, em 1992, no disco “Relaxing World Music”, do selo World Rhythm.
KUKUKAYA Poesias - 18
Depois de oito anos sediado no Rio de Janeiro, incomodados com a violência que atingia
a cidade, surgiu a oportunidade de Tico se mudar com a família para Assunção. Os pais de Sara
haviam voltado para o Paraguai e ela conseguiu transferência para continuar exercendo na
capital paraguaia a consultoria que prestava para a Organização das Nações Unidas. De lá, Tico
continuou esquadrinhando o mundo para levar sua arte. Em 1996, ele se apresentou no Brazil
New York Jazz Festival, junto com artistas como João Bosco, Toninho Horta, Paquito D’Rivera,
John Patitucci e Arthur Maia. No ano seguinte, voltou ao Brasil para dar uma entrevista ao
programa Jô Soares Onze e Meia. Mesmo ano em que lançou, no Paraguai, um disco com o
popular saxofonista daquele país, Palito Miranda. “Com sabor a Brasil”, do selo Blue Caps,
reúne grandes sucessos da música brasileira, como “Chega de saudade” e “Brasileirinho”, mas
inclui também canções de Tico, entre elas “Estrelas, estrelas, estrelas” e “Flor, florzinha”.
Nos 12 anos em que moraram no Paraguai, Sara e Tico tiveram seus dois outros filhos:
Lucas da Costa Fracchia e Gabriel da Costa Fracchia. Tico nunca deixou de ir, sempre que
possível, a países europeus como Itália, Espanha, França e Alemanha, além dos Estados
Unidos, para fazer seus shows. Em 2000, gravou pela Basement Front Records, em Nova York,
um disco instrumental de chorinhos chamado “Choro Suite”, com a participação de Palito
Miranda e do maestro Olivier Glissant. Entre outras, inclui “Cabeça d’alho”, “Carrapato não tem
pai” e “Ela escondeu meu sax”. Em julho de 2001, Sara e Tico fizeram uma viagem para procurar
apartamento em Nova York. A ideia era providenciar a mudança no final daquele ano. Depois
de visitarem algumas opções para a futura moradia, Sara voltou para Assunção e Tico ficou em
NYC gravando as canções do disco “Lagartixa”. Foi quando chegou o 11 de setembro de 2001.
Do 22º andar do prédio onde ficava o estúdio no qual gravava seu disco, do outro lado
do Rio Hudson, Tico da Costa soube da notícia de um incêndio em uma das torres do World
Trade Center. Passaram a acompanhar pela janela a tragédia, quando o segundo avião se
chocou contra a Torre Norte. Todos ficaram chocados quando o complexo desabou. Aquele
atentado fez ruir também os planos que Tico tinha. O irônico é que, meses antes, ele tinha feito
um show no 105º andar do WTC. Ele também já havia se apresentado entre as torres, com Philip
Glass. As cartas que Philip tinha enviado para produtores de diversas partes do mundo, entre
eles Roberto Menescal, falando sobre o CD “Lagartixa”, perderam a força. O contrato com a
Sony Paris para distribuir o disco também perdeu a validade. Depois do 11 de setembro, todos
os negócios pararam. Se tornou inviável, também, a mudança da família de Assunção para Nova
York.
A ÚLTIMA MORADIA
Por fim, depois de quatro anos em Recife, nove em Roma, oito no Rio e 12 em Assunção,
Tico da Costa voltou a morar em Natal, em 2003. Antes, por sugestão do pianista costa-riquenho
Manuel Obregon, cogitou se mudar para a Costa Rica. Tudo parecia perfeito: banhado pelos
oceanos Atlântico e Pacífico, mais próximo da Europa e dos Estados Unidos, natureza
exuberante... Porém, quando Tico ouviu um barulho e soube que era uma erupção, e que o país
possuía sete vulcões ativos e mais de uma centena de inativos, e que em média há 6.500
pequenos tremores de terra por ano, ele desistiu da ideia. Em Natal, Tico não perdeu tempo.
Mal chegou, já entrou em estúdio e gravou o disco “Anjo das selvas”, que reúne alguns de seus
principais sucessos, como “Os cumprimentos”, “Mosquitinho”, “Puxa vida” e “Carrim baião”,
entre outros. Philip Glass toca piano em “Ana Bandolim”. Em 2005, lançou “Ideal 1” em Natal e
“Lagartixa”, nos Estados Unidos. “Ideal 1” é um trabalho no qual Tico trata de sua relação com
Deus. Tem lindas músicas, como “A tábua”, “Na dor te encontrei” e “Minha vida te dou”.
“Lagartixa”, que havia sido gravado em 2001, quando as torres gêmeas desabaram, além da
faixa-título, tem outras canções de destaque como “Carrim baião”, “Coragem” e uma
regravação de “Ana Bandolim”, com a participação de Philip Glass, que também toca piano em
“Rodando ciranda”.
KUKUKAYA Poesias - 19
Em 2006, Tico retornou a Nova York para um show na renomada casa de espetáculos
Blue Note Jazz Club. O espetáculo recebeu críticas favoráveis, inclusive do The New York
Times. Em 2008, gravou um show especial com canções autorais e sucessos de Bossa Nova
para a TV Senado, em Brasília. Em 2009, lançou, em Natal, o disco “Chiara”, que trouxe entre
as principais faixas “Se eu tivesse minha mãe”, “Pé de cajarana” e “Per Chiara”, que ele compôs
em homenagem a Chiara Lubich, a fundadora do Movimento dos Focolares. Antes de viajar para
lançar o disco “Mar” na Itália, ele deixou praticamente pronto “Canção de Natal e outras
cantigas” e “Cenas de Rosário”, este último com canções feitas a partir de poemas do jurista
Ives Gandra da Silva Martins.
No dia 28 de junho de 2009, Tico embarcou para a Itália. Seriam dois meses de turnê
divulgando o disco “Mar”, gravado em Trento, no Studio LOL Production. Seu primeiro show
estava agendado para o dia 3 de julho, justamente em Trento. Ao invés de ficar marcado como
o primeiro da turnê, se transformou no último da carreira de Tico. Ele e a banda se apresentaram
todos vestidos de branco. O concerto foi dedicado aos três trentinos que estavam entre os
passageiros do Airbus A330 da Air France, que havia caído poucos dias antes, durante viagem
do Rio de Janeiro para Paris. A próxima apresentação seria em Roma. No roteiro, entre outros,
shows na Sicília, Madri e Barcelona. Tico também participaria de pré-produção de um
documentário de 52 minutos que uma emissora de TV russa faria sobre ele. As filmagens seriam
em Natal, Areia Branca, Nova York, Rio de Janeiro, Recife, Assunção e Roma, as cidades onde
viveu. Os patrocinadores eram dos Estados Unidos.
No intervalo do primeiro para o segundo show da turnê, Tico da Costa foi para Padova.
Enquanto tocava violão, sozinho, sentiu um tremor grande em seu braço esquerdo. Lembrando
dos antecedentes cardíacos da família, procurou um hospital. Depois de muitos exames, os
médicos pediram uma tomografia do abdômen. O câncer já tinha tomado o pâncreas. Ele foi
transferido para Verona, onde sua cunhada residia com o marido. Sara foi avisada pela irmã.
Ficou sabendo que Tico estava com um problema de certa gravidade, que ela deveria ir para a
Itália. Somente quando chegou em Verona, tomou conhecimento da gravidade. Quando Tico
soube, pelos médicos, de sua situação, comportou-se com uma coragem e dignidade poucas
vezes vistas. “Seja o que Deus quiser. O que Deus quiser, me faz feliz de qualquer jeito. Se ele
quer que eu fique aqui na terra, ele vai operar um milagre. Se ele não quer que eu fique, ele me
leva, e eu também ficarei feliz”.
No voo de volta que o estava trazendo para Natal, Tico disse a Sara que quando chegasse
em casa, começaria a passar para partitura as músicas mais antigas que compôs, quando tinha
entre 12 e 13 anos. Não conseguiu completar a tarefa. Em menos de cinco dias, sentiu-se mal
e foi hospitalizado. A internação durou um mês. Estava prevista a sua volta para casa. Foi feita
uma reforma para adaptar um ambiente para que ele pudesse passar seus últimos momentos
cercado pelo amor da família. Porém, houve um problema na entrega de um equipamento de
oxigênio hospitalar. Seria em uma sexta-feira, foi adiada para a segunda. No sábado, dia 29 de
agosto de 2009 (data na qual estava previsto o seu retorno da turnê italiana) Tico da Costa
partiu. Os CDs “Canção de Natal e outras cantigas”, que tem algumas parcerias com Diógenes
da Cunha Lima e “Cenas de Rosário” foram lançados postumamente em 2009, por meio da
Academia Norte-Rio-Grandense de Letras. Em 2019, o produtor de Tico, Olivier Glissant,
relançou “Choro Suíte” com outra capa, substituindo alguns chorinhos da versão original por
quatro músicas cantadas. O maestro planeja relançar também o CD “Lagartixa” e lançar
“Travessa dos Calafates”, com várias gravações inéditas.
** Agradecimentos especiais a Sara Fracchia e família de Tico da Costa, pelo fornecimento de fotos do acervo da família, bem como informações relevantes
para a elaboração e ilustrações na edição do presente artigo.
KUKUKAYA Poesias - 21
CHORINHO DO MEU CORAÇÃO
KUKUKAYA Poesias - 22
RODANDO CIRANDA
KUKUKAYA Poesias - 23
FERMATA COMPLEXO DE CAVACO
KUKUKAYA Poesias - 24
Por Gutenberg Costa*
Dia desses meu amigo poeta e agitador cultural José Ivam Pinheiro – editor da revista
virtual “KUKUKAYA Poesias”, em conversas via áudio do zap, único meio de comunicação que
chega aqui no meu isolamento ou como alguns dizem, meu ‘paraíso’. E lá pras tantas, o referido
me sapeca a pergunta: “Amigo Gutenberg, você conheceu o artista Tico da Costa?”. Indagação
que respondi afirmativamente e lhe contei algumas passagens vividas, como parte dessa
amizade ‘ticostiana’, a qual, infelizmente, não durou como deveria durar as boas irmandades.
Amigo é aquele que não foi gerado no ventre de nossa genitora, mas a gente sente que veio
para o seio familiar mesmo. É uma escolha do coração livre, sem pressão, subserviência ou
interesses algum.
Tico da Costa me foi apresentado ou apadrinhado, como costumo me referir, pelo mestre
e amigo folclorista Deífilo Gurgel, com louvores de conterrâneo da cidade de Areia Branca:
“Gutenberg, este é o amigo Tico da Costa, um artista famoso além do Brasil....”. E dando
prosseguimento as conversas na área frontal da casa de Deífilo, vimos em pouco tempo que
morávamos na mesma região da Zona Sul de Natal, portanto, estavam facilitadas as futuras
visitas em minha casa, além de encontros em bares e restaurantes das proximidades.
A partir de então, ele chegava, mesmo sem agendar nada em minha morada, com seu
automóvel e o inseparável violão. Dizem que coisa muito acertada nem sempre vai dar certo!
Às vezes, chegava e ficava sentado em uma das cadeiras que já estavam em minha área à
espera de amigos e prosas. Pegava o violão e com plena liberdade, começava a cantarolar suas
próprias composições alegres e emotivas.
Não é pecado dizer que ali estava criado um clima de amizade e bebedeira, que ninguém
é de ferro e não se resiste a uma boa música e conversas culturais sobre tudo. Ele ia nos
intervalos musicais, contando suas aventuras quixotescas pelo mundo quase todo em que já
viajara, morara ou vivera artisticamente. Todo mundo lá de casa sabia que ali não haveria
vassoura atrás da porta e o ilustre visitante e famoso cantor/compositor, não tinha hora para
sair de minha casa. Dizem que tapera de amigo é continuidade de nosso chão. Aprendi com
minha mãe, dona Estela, a arte de bem conviver e prezar aqueles que também me recebem bem
em seus terreiros.
KUKUKAYA Poesias - 25
Algumas vezes, dizia-me com lágrimas nos olhos claros que voltaria para a Europa,
aonde era muitíssimo respeitado como artista-músico. Seu coração tão generoso estava
fincado entre Areia Branca e Natal, mas como todo irrequieto aciganado, tinha os pés no oco
do mundo. Uma noite, o mesmo aportou alegre com um presente para mim debaixo do braço.
Um disco vinil seu com uma gentil dedicatória. As boas surpresas são reservadas aos bons
amigos e amigas. Sempre aprontam uma, quase nos matando do coração. A arte divina do bem
querer, como afirmam os poetas e líricos.
O Tico era um tipo com cabelos alongados e claros, olhos pequenos e vibrantes. Sorriso
largo e fácil nas gargalhadas. Magro e de bom humor como um daqueles santos personagens
de romances medievais. Sinto que as pessoas especiais que nos rodeiam, como verdadeiros
amigos ou irmãos, até parecem que não são criaturas desse nosso mundo, tão cruel e
mercantilista, que só enxerga o dinheiro em tudo na vida...
Nossos bate papos iam da música popular brasileira aos tipos populares de rua da sua
Areia Branca, terra que eu conheci levado pelo mestre e saudoso amigo Deífilo. Não posso
mentir e dizer que a nossa amizade foi longa, até porque sua partida foi quase que repentina.
Parece que foi chamado antes da hora para desagrado de seus familiares e amigos. O amigo
Tico está vivo em nossas memórias e no verbete da magistral obra da música do RN, da amiga
pesquisadora Leide Câmara. Ficou para sempre, como devem ficar aqueles que só vieram para
espalhar bondades e amizades.
Na oportunidade de seu encantamento, lhe dediquei algumas palavras e enviei para o
vespertino ‘Jornal De Hoje’, no qual sempre publicava coisas alegres. Dessa vez,
lamentavelmente, fazia registro da viagem surpresa do ‘Tico’, meu amigo, para o reino do
paraíso, aonde uns dizem que se volta e outros não. Não vou discordar das duas opiniões,
apenas vou dizer que, com certeza, esse tal lugar tão florido nos recebe, com rede, alpendre,
sombra e fartura de conversas e amigos. Se não, nada nos valerá a pena!
Aqui deixo, todas as merecidas homenagens para o nosso grande Tico da Costa, o qual
veio ao chão do nosso RN, em 13 de novembro de 1954 e ‘zarpou’ em 29 de agosto de 2009!
Aplausos e mais aplausos, leitores, leitoras, amigos, amigas e familiares do genial Tico
da Costa!
Morada São Saruê, Nísia Floresta/RN.
KUKUKAYA Poesias - 26
Por: Diogo Gomes dos Santos*
Colaboração: Tetê Avelar*
KUKUKAYA Poesias - 27
A partir da década de 1950 em diante, as atividades dos cineclubes se tornaram mais
frequentes no país, foram criados vários cineclubes em diversos estados, influenciados pela
ação da igreja católica e das universidades. Ainda na década de 50, surge a primeira entidade
de representação dos cineclubes, marco do que hoje identificamos como Movimento
Cineclubista Brasileiro. Em 1959 é realizada a primeira “Jornada Nacional de Cineclubes”,
congresso que serviu e ainda serve para os cineclubes avaliarem as atividades do ano anterior,
e estabelecer novas diretrizes para o período seguinte.
Na década de 1960, os cineclubes vão se afastando das atividades voltadas para a
discussão estética do filme, se proliferam pelos movimentos sociais, passam a discutir a
sociedade por meio dos filmes. Quase toda a primeira geração do “Cinema Novo”, eram
oriundos dos cineclubes. Paulo César Sarraceni dizia que o cinema novo nasceu dentro do
cineclube da FAFI - Faculdade de Filosofia do Rio de Janeiro. Nesta mesma década, os
cineclubes são definidos pela Lei 5.536, de 27 de novembro de 1968, em 13 de dezembro do
mesmo ano, com a edição do AI-5, Ato Institucional nº 5, as atividades dos cineclubes foram
proibidas.
Reorganizados em 1974, os cineclubes retomaram suas atividades sob a Ditadura Civil
Militar em sua fase muito repressiva. Afeitos a militância política, posicionaram contra a
censura, se organizaram nas periferias, no campo, nas cidades, nos sindicatos, nas
comunidades eclesiais, nas associações recreativas e esportivas das universidades, criam a
Distribuidora Nacional de Filmes para cineclubes - Dinafilme. Filmes, projetores, telas, cartazes,
eram apreendidos, cineclubistas foram fichados no DOPs, como “Agitadores Comunistas”.
Alguns optaram pela guerrilha, sequestraram avião, foram exilados.
Por duas vezes a Dinafilme foi invadida pela Polícia Federal e apreenderam mais de 90%
dos filmes. Mesmo assim, os cineclubes criaram um circuito de exibição, lançaram filmes e
chegaram a pagar a produção de alguns deles. Participaram da campanha da Carestia, da
Anistia, Diretas-Já.
No final da década de 80, com o país retornando ao Regime Democrático, suas entidades
entraram num longo período de hibernação, se rearticularam em 2003. Em sua primeira fase, no
governo Lula, pela primeira vez o Estado acena para os cineclubes, políticas públicas voltadas
para o setor cultural, possibilitaram ao setor, acesso aos bens estatais e os cineclubes, como
pólvora, voltaram a cena cultural do país.
KUKUKAYA Poesias - 28
Cartaz da XXX Jornada Nacional de Cineclubes em Viçosa/MG – Imagem sem identificação de
autoria na fonte identificada. Acervo do CNC, e fornecida por Diogo Gomes dos Santos.
O cinema é a forma de entretenimento que mais faz falta durante a pandemia, segundo
pesquisa divulgada pelo movimento #JuntosPeloCinema, em 15 julho de 2020. Para 75% dos
entrevistados, o cinema será prioridade no retorno das atividades pós-quarentena.
As atividades virtuais dos cineclubes, similar ao período da ditadura no Brasil, vem
sofrendo ataques de hackers negacionista, fato que não nos afugenta.
O cineclubismo vem superando dificuldades ao longo do tempo e acreditamos: enquanto
houver filmes sendo realizados, haverá sempre um cineclube!
*Diogo Gomes dos Santos – Cineclubista, Historiador e Cineasta. Atualmente exerce o cargo de Diretor
Tesoureiro do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros.
*Tetê Avelar – Cineclubista, Professora e atualmente exerce o cargo de Presidenta do Conselho Nacional de
Cineclubes Brasileiros.
KUKUKAYA Poesias - 29
CINECLUBE
No tempo das diligências
Eu perdi minha inocência
E passei a te entender
A menina afamada
Que era a menina do lado
A quem quis enternecer
KUKUKAYA Poesias - 30
Música com Poesia ou Poesia com Música ...
Falar de música e poesia é falar no encontro de duas artes que em harmonia numa única
peça é capaz de produzir os mais variados sentimentos e mudar o nosso estado de espírito,
transformando tristeza em alegria, proporcionando alívio para nossas dores, conduzindo-nos a
viagens no tempoe no espaço para recordar pessoas, lugares e momentos vividos, envolvendo
corações e mentes num mesmo sentido.
O encontro de um belo poema com a melodia compõe uma obra de arte acessível que
pode chegar a multidões em curto espaço de tempo, especialmente nos dias atuais com o
advento da internet através das mídias sociais. Com essa incrível capacidade de proporcionar a
muitos conhecer e memorizar o texto de um poema a música eterniza épocas através do registro
de fatos históricos de uma forma lúdica e sensível.
Em sua origem atribuída poderes divinos e utilizada em rituais sagrados, na dança e em
óperas servia de entretenimento a reis e nobres, a música evoluiu e se diversificou amplamente,
traduzindo ao longo do tempo além de sentimentos, o mundo em que vivemos e os costumes,
as tradições, bem como a situação social, política e econômica de um povo, especialmente
quando as composições são capazes de proporcionar reflexões sobre a vida em seus vários
aspectos.
Bouguereau. A canção dos anjos. 1881 Dança e Música na Idade Média – Gravura: Saltarello Romano de Bartolomeo
Glendale, Forest Lawn Memorial. Disponível no Pinelli, 1815 Roma, Itália. Disponível no sítio: www.galleriatanca.com
sítio: www.atendanarocha.com
É assim que a poesia de Noel Rosa, através de músicas como “Com Que Roupa”,
composta em 1930, se popularizou eternizando a situação de uma época que reflete
semelhanças com os dias atuais. Ainda, a música “Construção”, de Chico Buarque, muito
utilizada nas aulas de português para facilitar a aprendizagem das palavras proparoxítonas,
traduz o cotidiano e o fim trágico da vida de um trabalhador da construção civil; A música
“Cálice”, do mesmo autor com Milton Nascimento, que mostra o sofrimento diante do silêncio
imposto pela ditadura militar no Brasil, assemelhando num jogo de palavras o substantivo
“cálice” com o verbo calar no imperativo “cale-se”, o vermelho do vinho com o sangue
derramado naquele período.
Também dessa época a música Geração Coca Cola, de Renato Russo, que marcou uma
geração que lutava por liberdade cultural e política, contra o consumismo imposto pelo sistema
capitalista, opondo-se à absorvição da cultura norte- americana, e previa o fim da opressão:
KUKUKAYA Poesias - 31
Música com Poesia ou Poesia com Música ... (continuação)
Ainda, o lirismo de “Eu Sei Que Vou Te Amar”, de Vinícius de Morais e Antônio Carlos
Jobim, há décadas interpretada por vários cantores e cantoras, mas sempre atual unindo o
amor e a paixão, a despedida e a saudade no mais profundo sentimento; e tantas outras
músicas cujas letras são poemas ricos que chegam aos nossos ouvidos ampliando nossos
conhecimentos e provocando sensações diversas: amor, paixão, saudade, revolta, tristeza,
alegria...
Há pessoas que preferem músicas eletrônicas, e curtem ouvir a harmonia do som dos
instrumentos, e há aquelas que escolhem suas músicas a partir da letra, priorizando o texto do
poema, somando a poesia escrita com a melodia, ouvindo e interpretando cada palavra,
associando a sua personalidade e à vida.
Clave de Sol & Vida nas Palavras: Arte Poética e Musical. Disponível no
Portal Pinterest Brasil - sítio: br.pinterest.com e no sítio:
estrambolicarte.blogspot.com
Assim, cabe registrar a importância do poema para a música, seja lírica, social, épica
ou qual seja o tipo, o teor é fundamental para enriquecer o contexto musical, registrar fatos,
transmitir e provocar bons sentimentos, alcançando diversos públicos, de diferentes faixas
etárias, nacionalidades e classes sociais, adequando-se a diversos estilos musicais: MPB,
samba, forró, rock, sertaneja, repente.
A Música e a Poesia, apesar de constituírem artes distintas, depois de unidas tornam-
se inseparáveis, e mesmo que apenas ouvindo a melodia ou recitando o poema, a integração
de ambas permanece em nossas mentes.
Assim como do alimento para o nosso corpo precisamos de música e poesia para
alimentar nosso ser.
*Dalvaci André da Silva Neves – Graduada em Pedagogia pela UFRN e em Direito pela UERN, é bancária aposentada da
Caixa Econômica Federal, e atualmente Advogada. Musicista integrante da Roda de Mulheres do Samba Potiguar, é Escritora
Colaboradora e Direto
KUKUKAYA Poesias - 32
ra de Produção das Edições KUKUKAYA, incluindo a revista KUKUKAYA Poesias – Literatura & Artes Poéticas.
Música com Poesia ou Poesia com Música ...
Apresentação
Além das belezas naturais que ultrapassam fronteiras atraindo turistas de todo o
mundo, o Rio Grande do Norte conta também com uma riqueza artística e cultural enorme,
especialmente na música, composta por cantores e cantoras, compositores e compositoras
que levam a nossa voz, os nossos costumes e os mais variados ritmos pelo Brasil e por todo
o planeta.
Muitos desses artistas residem atualmente em outros países onde encontram
melhores condições para exercer a sua arte, a exemplo da Família Pádua que criou e conduz
brilhantemente o Clube do Choro de Viena, na Áustria e se apresentam em shows no
continente europeu mostrando a arte do Rio Grande do Norte e do Brasil mundo afora.
Outros aqui resistem enfrentando dificuldades para produzir música e mostrar o seu
trabalho num lugar que carece de valorização dos artistas locais, onde os incentivos através
das políticas públicas são poucos, igualmente aos cachês que se elevam quando se trata de
artistas de outras regiões. Além disso, o público do RN não é acostumado a ouvir a música
potiguar, quando um dos principais canais de divulgação, as rádios, preferem tocar músicas
que estão nas “paradas de sucesso”, às vezes carregadas de misoginia, preconceitos e
violência, excluindo de sua programação a boa qualidade da música potiguar.
A revista Kukukaya Poesias – Literatura & Artes Poéticas, através de seu editor José
Ivam Pinheiro e de Andréa Mousinho, ambos compositores musicais e poetas, abordando a
temática Música e Poesia entrevistaram os artistas: Anna Fernandêz, Marieta Maia e William
Guedes, artistas que desenvolvem seus trabalhos nas terras potiguares, sobre o processo de
criar e transformar sentimentos em palavras, poesia em música, de revelar sensações, olhares
e vivências através de canções enriquecidas pela harmonização, melodia e letra/poema.
As cantoras e compositoras Anna Fernandêz e Marieta Maia dedicam a sua vida à
música e ao desenvolvimento de projetos culturais, numa trajetória que une desde grandes
nomes da música nacional a artistas anônimos do nosso Estado.
KUKUKAYA Poesias - 33
Música com Poesia ou Poesia com Música ...
Anna Fernandêz e seu violão - Foto sem Marieta Maia cantando - Foto de Monique Maia.
autoria na fonte pesquisada. Disponível na página Disponível na página da artista na rede social Facebook.
da artista na rede social Facebook.
KUKUKAYA Poesias - 34
Música com Poesia ou Poesia com Música ...
Como compositora já gravou com Caju e Castanha e Padre Omar no CD e DVD “Samba
de fé”, além de artistas do Rio Grande do Norte, como: Debinha Ramos, Andiara Freitas, Silvana
Martins e Marcos Souto, e teve composições classificadas entre os dez melhores sambas a
nível nacional no Expo Samba.
Marieta, sempre atuante na cultura potiguar, realizou o documentário lítero-musical
sobre Nísia Floresta/RN, é idealizadora e produtora da “Casa da Música Potiguar”, e nem mesmo
durante a pandemia da Covid-19 interrompeu o seu trabalho criativo, passando a realizar vários
projetos culturais com apresentações virtuais, como as lives da Roda de Mulheres do Samba
Potiguar e do RN Autoral do Samba ao Choro, onde em parceria com Anna Fernandêz mostra a
sua música e entrevista compositores, compositoras, e vários intérpretes da música brasileira,
inclusive aqueles que residem no exterior.
Anna Fernandêz e Marieta Maia são mulheres que merecem nossos aplausos e nossa
admiração, pelas suas poesias e canções, pelos seus brilhantes projetos e por revelarem a
música potiguar.
KP_1 - Como ocorre o processo de criação de um KP_4 - Quais as vantagens de se utilizar o poema
poema? versado na composição musical?
Anna Fernandêz - A rima por si só já é melódica.
Anna Fernandêz - Provém da inspiração. Vivências,
experiências, observações e aprendizado da sua KP_5 - Quais os seus principais parceir@s da poesia
própria existência e do quotidiano das pessoas. na sua música, e como se constrói essa identidade no
processo criativo?
KP_2 - Como se faz a transição do poema para a letra Anna Fernandêz - Atualmente Marieta Maia e Andréa
de uma composição musical? Mousinho. O processo criativo se dá pela interação
Anna Fernandêz - É necessário criatividade, entre as pessoas que compõem o momento existencial,
harmonização e coerência com o tema proposto pelo mágico do processo de elaboração da composição.
poema.
KP_6 - Você também entende como poesia, a
KP_3 - Na sua opinião, é mais comum escrever a letra composição musical instrumental? Por quê?
de uma composição musical junto com a melodia e Anna Fernandêz - Sim. Quando se trabalha a letra a
harmonia, ou é mais fácil musicar um poema? partir de uma composição puramente instrumental
Anna Fernandêz - Indubitavelmente, o conjunto. pré elaborada, pode-se sentir brotarem as palavras da
Melodia, letra e harmonia. harmonia do instrumental.
KUKUKAYA Poesias - 35
Música com Poesia ou Poesia com Música ...
KP_1 - Como ocorre o processo de criação de um Marieta Maia - A linha melódica, harmonia e tema em
poema? conjunto, sempre facilitam mais a criação de uma
composição musical.
Marieta Maia - Inspirar-se não é fácil. Contudo,
qualquer fato pode servir de inspiração. Uma mera KP_4 - Quais as vantagens de se utilizar o poema
observação de uma conversa de alguém. Ou versado na composição musical?
simplesmente imaginar o que se poderia sentir Marieta Maia - O exercício de ouvir é primordial. A
naquela determinada situação. rima , a poesia versada na própria leitura já traz em si
Para mim também é essencial a alteridade. Porque uma melodia intrínseca.
nem tudo o que se escreve é decorrente de seus KP_5 - Quais os seus principais parceir@s da poesia
próprios sentimentos e vivências, mas sobretudo do na sua música, e como se constrói essa identidade no
que eu sentiria no lugar do outro. Ou de como eu processo criativo?
imagino que o outro esteja sentindo. Marieta Maia - Atualmente Anna Fernandêz e Andréa
Faz-se necessário se locupletar de experiências, Mousinho. A arte do encontro humano de almas
sentimentos, sensações, contemplações, enfim, compõem o principal conteúdo das parcerias e
introjetar para poder exteriorizar. tricerias..
KP_2 - Como se faz a transição do poema para a letra KP_6 - Você também entende como poesia, a
de uma composição musical? composição musical instrumental? Por quê?
Marieta Maia - Quem nunca escutou uma música
Marieta Maia - Inicialmente obervar o tema da poesia. instrumental e não se emocionou?
Deve-se manter a ideia e sentimento do poeta. Sonate au Clair de Lune de Beethoven, para mim é
Entretanto, é imprescindível mudar palavras ou o uma dessas.
curso da poesia para haver a interação com a melodia. A letra emerge na medida em que os acordes, ritmos e
KP_3 - Na sua opinião, é mais comum escrever a letra participação de cada instrumento atiçam os
de uma composição musical junto com a melodia e sentimentos, emoções e imaginação.
harmonia, ou é mais fácil musicar um poema?
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Música com Poesia ou Poesia com Música ...
KUKUKAYA Poesias - 37
Música com Poesia ou Poesia com Música ...
ENTREVISTA: WILLIAM GUEDES
KP_1 - Como ocorre o processo de criação de um versado ou rimado facilita muito a vida do compositor,
poema? no meu caso, no poema versado a música tá ali, é só
William Guedes - No meu caso é puro sentimento, vou prestar atenção que num passo de mágica a canção sai,
escrevendo o que me vem na cabeça, não me considero é uma questão de tempo. Já na poesia concreta, é bem
poeta e sim um compositor. mais difícil de encaixar a melodia pela falta de rima,
mas já tive experiências assim que deu muito certo.
KP_2 - Como se faz a transição do poema para a letra
de uma composição musical? KP_5 - Quais os seus principais parceir@s da poesia
William Guedes - Normalmente eu procuro preservar na sua música, e como se constrói essa identidade no
o poema na sua originalidade, às vezes é necessário processo criativo?
mudar uma coisa ou outra, mas na maioria das vezes William Guedes - Meu principal parceiro musical, já
eu componho a letra como recebo, acho eu o poeta fica não está mais entre nós, chamava-se Franklin Mário,
mais feliz. a quem devo muito esse estória de ser compositor, mas
posso citar vários bons poetas com os quais fiz
KP_3 - Na sua opinião, é mais comum escrever a letra músicas, como: Antônio Ronaldo, Oreny Júnior, Kiko
de uma composição musical junto com a melodia e Azevedo, José Ivam Pinheiro, Dina Guedes, Rubens
harmonia, ou é mais fácil musicar um poema? Soares, Cibelle Guedes e recentemente George
William Guedes - Pra mim é mais fácil fazer letra, Câmara. Esse processo se dá de acordo com a
música, melodia e harmonia tudo ao mesmo tempo, identificação da poesia, já recebi alguns poemas que
aprendi a compor assim, mas com a insistência de um nunca viraram canções, por falta de identidade com os
parceiro musical que sempre me dava as letras, fui mesmos.
tomando gosto e hoje, já musiquei muitas poesias,
inclusive as desse parceiro que se chamava Franklin KP_6 - Você também entende como poesia, a
Mário. composição musical instrumental? Por quê?
William Guedes - Sim, porque apesar de não fazer
KP_4 - Quais as vantagens de se utilizar o poema música instrumental, acho que quem faz, tem uma
versado na composição musical? sensibilidade incrível, não consegue escrever e
William Guedes - Em minha modesta opinião, o poema transforma isso em belos instrumentais.
KUKUKAYA Poesias - 38
Organização e Seleção dos Poemas: .
Fonte de Livres Livros: Águas do Lago do Saber e do Rio da Arte no Sentir. Arte do artista Bjørn Richter. Disponível no
Portal Pinterest Brasil - sítio: br.pinterest.com
KUKUKAYA Poesias – 39
Amor & Tempo – Desenho de arte de Sara Riches. Disponível no
Portal Pinterest Brasil - sítio: br.pinterest.com e no sítio: saatchiart.com
KUKUKAYA Poesias – 40
Doce Solidão, 2017 – Na feira do Ver-O-Peso, em Belém do Pará,
Brasil - Foto: Naiara Jinkinss. Disponível no Portal Pinterest Brasil -
sítio: br.pinterest.com
KUKUKAYA Poesias – 41
ERILVA
Para a Poetisa Erilva Leite.
POESIAS
Para o Poeta Paulo Augusto, autor de Falo.
KUKUKAYA Poesias – 42
Imagem de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Macau/RN.
Foto de Rogério P. D. Luz. Disponível no Blog Crônicas Macaenses - sítio:
www.cronicasmacaenses.com
Ora, ora...
Já ontem me vi andando
Pelas ruas de Macau.
Eram ruas de hoje
E de outrora.
Os meus olhos
Queriam dizer adeus,
Enquanto os seus lábios
Emitiam sinais POÉTICA DA PRÁXIS
De um novo recomeço.
Uma andorinha ria,
Era tão lindinha Andei mundos.
Que me dava força Pensamentos larguei
Para afastar o silêncio. E me aportei vazio
Lembrava-me de Lucinha, Num cais que sonhei.
Todas as ruas onde andei, Inerte caí
Principalmente a Tenente Victor, E livre me vi
Rua da minha infância Na luz
E dos meus pais. Do teu olhar.
As ruas eram de paixão,
Onde os pardais cantavam
E as andorinhas dormiam.
O meu coração destemido,
Que perambulava altas horas,
Já não é mais aquele,
Derretido pelo calor do seu abraço
E pela brisa lenta que soprava
Suavemente vinda do mar.
KUKUKAYA Poesias – 43
LITURGIA DOS SAPOS – Quadro em técnica mista, pintura a óleo e têmpera de guache –
Arte: Aluísio Azevedo Júnior – Coleção: Liberdade de Opressão. Exposição: LUGAR DE
TATAHARI – Livraria Manimbu, Natal/RN.
KUKUKAYA Poesias – 44
Anita Malfatti e a sua obra de artes plásticas (pintura): A boba (1916) - Imagem
sem identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal Pinterest BR - sítio:
br.pinterest.com, e no sítio: www.ebiografia.com
KUKUKAYA Poesias – 45
ENLEVO
KUKUKAYA Poesias – 46
Amor, Luz no Ar – Imagem sem identificação de autoria na fonte
pesquisada, e disponível no sítio: afimdedeus.blogspot.com
KUKUKAYA Poesias – 47
Não se preocupe, seja feliz! – Imagem sem identificação de autoria na
fonte pesquisada. Disponível no sítio: boasnovasmg.com.br
ESCAMBO A QUATRO
KUKUKAYA Poesias – 48
POR FIM...
Nada restou…
No entanto, à meia-luz,
Espero te ver entrar
Vestida de Nua e a Lua – Imagem sem identificação de E no teu afago, agora, me apagar.
autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal Pinterest BR -
sítio: br.pinterest.com e no sítio: blog.udn.com
VESTIDA DE NUA
KUKUKAYA Poesias – 49
Sem Expectativas, Sem Decepções – Imagem sem identificação de autoria na fonte
pesquisada. Disponível no Portal Pinterest Tumblr - sítio: https://cinco-defevereiro.tumblr.com
EXPECTATIVAS
KUKUKAYA Poesias – 50
NEGRA
NEGRA
É a noite
De imensa escuridão!
É a luz
Senzala brasileira no século 19 – Fotografia sem identificação de autoria na fonte De intensa paixão!
pesquisada – crédito: Wikimedia Commons. Disponível no Portal AH Aventuras na História
- sítio: aventurasnahistoria.uol.com.br NEGRA é senhora
Em tetas majestosas
Parindo dia após dias
NEGROS.
Sorrisos cintilantes
SENZALA Olhos lacrimejantes
Tateando os espinhos
Esperando sob o Sol
Um lugar que te pertença
Lá fora choros Poesia.
E lamentos Ah, Natureza divina
Uma dor que ardia Afasta de nós tanta dor!
A pele doía Espalha sobre nós essa cor!
Lá dentro NEGRA.
A terra batida E ali à sombra do ébano
A fumaça aquecida Nos faz receber e dar
A lua da África
AMOR.
Desperto e ouço
Um grito
Dentro de mim
A liberdade!
Contida
Escondida
Chicoteada!
KUKUKAYA Poesias – 51
ATHENEU
Corredores vivos
De risos, gritos
Alegrias, estudos.
Dias efêmeros
Nem sabíamos
Brilhantes tempos.
COISAS DE SONHO
Um lugar, um nevoeiro
Um chuveiro aberto
Luz de meio dia
Outras, nem sei.
Entrei numa porta
Sai por outra
Uma janela me piscou
Quis pular sua arca.
Desconexas minhas lágrimas
Tropeçaram, e eu sabia...
Fiz besteira, voltei
Estou aqui, a um passo
De outros sonhos
Outras vidas...
Sou atriz!
KUKUKAYA Poesias – 52
DRUSA
DESAPEGO
Do destino ermo
Nada se leva
A morte no paraíso
Manga no chão, Supera dias de trevas
caju caído, coco seco,
um cacho de pitomba; Do sonho finito
menino faminto, Ao amor que renega
sobrevivendo à infância, A vida que passa
crescendo contra o tempo. Em nada se apega
KUKUKAYA Poesias – 53
Berço do Amor (Cradle of Love) - Imagem de pintura do artista Kolongi
(Barbados - África, 2014). Disponível no sítio: fineartamerica.com
A MÃE ÁFRICA
KUKUKAYA Poesias – 54
FACTUAL
No delírio de cercanias
impuras
cada esquina escura
cospe medo
em pura agonia
frente ao clarão dos faróis
meninos sozinhos
sem guarda
e sem teto
em pleno abandono
na contramão da vida
Meninos de Rua – Foto sem identificação de autoria na fonte pesquisada. vazios de sonhos
Crédito da foto: Osmar e Osmailson – Meninos de Ruas (Foto Clipe).
Disponível no YouTube – Canal de Osmar & Osmailson – sítio: iguais na sina
www.youtube.com/watch?v=skdWHwkvgkQ e na morte.
DEUSA NEGRA
KUKUKAYA Poesias – 55
Andorinha Voando – Imagem de TheOtherKev por Pixabay. Disponível no
sítio: https://pixabay.com
CANTIGA DE anDORINHA
Cantiga de anDorinha
É cantiga bem ligeira
Ela canta e sai voando
Naquela paz masseira
anDorinha fica comigo
Que’u te canto a tarde inteira.
GARATUJANDO
Garatujando,
o menino, a casa toda rabiscou
e, assim, garatujando,
um pedido o menino elevou,
pediu ao anjinho da guarda,
pediu à Vovó e ao Vovô
uma companheira para ajudá-lo nas rabiscadas. Desenho de garatuja infantil – Imagem identificada como
de autoria de Paula Léon. Disponível no Portal Pinterest Brasil
E não é que Papai do Céu mandou! - sítio: br.pinterest.com
KUKUKAYA Poesias – 56
EU QUERO
KUKUKAYA Poesias – 57
CENÁRIOS DO AMANHECER
ORAÇÃO À NATUREZA
Natureza mãe
Canção divina
Nascente do amor
Energia infinda
Plena de cor
Como agradecer
Tua seiva em mim
Teu ventre luz
De vida e prazer?
Cuidarei de ti
Oh mãe natureza
Serei teu poeta
De versos jardim
Que tua beleza
Brote em mim
KUKUKAYA Poesias – 58
O MAR
Amanhecer na Praia de Ponta Negra em Natal RN – Imagem sem Eu vi a água lamber o chão
identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal Pinterest
Brasil - sítio: br.pinterest.com, e no sítio: www.sesc-ce.com.br Dos meus loucos pensamentos
Devaneios...
Mistura de sentimentos.
PRECISO
KUKUKAYA Poesias – 59
O Poeta e o Mar da Praia de Cotovelo, o seu Paraíso - Foto sem
identificação de autoria na fonte pesquisada (acervo pessoal do Poeta).
Disponível na rede social Facebook do autor -Washington Ferreira Fontes.
MINHAS ALVORADAS
...
*Philofotopoeta: Ferreira Fontes O Poeta e sua musa amada - Foto sem identificação de autoria
na fonte pesquisada (acervo pessoal do Poeta). Disponível na
rede social Facebook do autor -Washington Ferreira Fontes.
KUKUKAYA Poesias – 60
VAZIO DA ALMA
Um Sonho do Amor Que Faz Falta – Imagem sem O ar que me falta deixa um lastro,
identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no
Portal Pinterest - sítio: br.pinterest.com, e no sítio:
um gosto de azedo em minha garganta
jedfpoemas.blogspot.com e o alento amarga as dores de tua falta.
AR AMARGO
Por um segundo
pensei ter te visto
nas visões turvas
de lágrimas presas. Lágrimas, Resto da Saudade do Amor Que Se Foi - Imagem
de Arte de Cyril Rolando (AQUASIXIO). Disponível no Portal
Pinterest - sítio: br.pinterest.com, e no sítio: inspi.com.br
KUKUKAYA Poesias – 61
MANIFESTO CONTRA A DESILUSÃO
KUKUKAYA Poesias – 62
MULHER
És pura, és Santa...
És encantadora e encantas.
Não pela beleza e pureza
Mas, pelos atos, gestos...
Ar de princesa.
És tudo, és sábia...
Intercessora, protetora...
És história.
Entre vitórias e fracassos,
Brilhas, triunfas.
És Mulher...
És glorias...
KUKUKAYA Poesias – 63
CARNAVAL
Cigarro acabando.
Último trago!
Trago comigo as dores de quem tentou.
De quem insistiu
Éramos bem mais que meros cisnes
decorando o lago.
- Corda e coração.
Trago comigo as chagas
de quem lançou
sobre o asfalto a face nua.
Por ti me despi.
- Despedacei minha moral
em mil pedaços
com total prejuízo de minha razão!
Cigarro acabando.
Queimaduras espalhadas
pelos meus dedos,
e eu nem me dou conta
que o tempo passou.
Por que não passou a dor.
- Foda-se! Você diria.
Pisando em meu sorriso amarelo
gargalhadas e drinks. É carnaval!
Carnaval – Pintura em arte naif de autoria de Carybé. Disponível
Uma vida inteira perdida no Portal Pinterest BR - sítio: br.pinterest.com
com outra vida inteira para reconstruir.
- Não, eu não consigo.
Se dizem que o tempo cura,
que cure então.
O ÚLTIMO GOLE
Vivo
Acho que beber vai ser meu fim
Sei de tudo hoje
Mas, não sei tanto assim
O Gole e o Porre de Bebida Alcoólica - Foto
Na verdade, nem se existo sem identificação de autoria na fonte pesquisada.
Não sei de nada Disponível no sítio: www.otempo.com.br
Não sei de mim
KUKUKAYA Poesias – 64
DE LONGE
E essa solidão,
é o fel amargo goela abaixo,
colocando-me de joelho
perante o jugo dos soberbos.
KUKUKAYA Poesias – 65
CRÍTICA AO INATISMO
Ei, Nietzsche.
Você falou que eu era uma tela em branco,
Mas, jogaram tinta preta em mim!
Ouça minha voz, sinta minha melanina,
A retroação que eu sofro é sina,
E eu sinto muito por ter nascido assim.
É utopia, é saudade,
Daquela falsa sensação de liberdade,
Pois hoje, a única coisa que corre solta
São as nossas lágrimas.
KUKUKAYA Poesias – 66
Pôr do Sol - Imagem sem identificação de autoria na fonte O Espelho - Imagem sem identificação de autoria na fonte
pesquisada. Quadro imagético e com poema de autoria do poeta pesquisada. Quadro imagético e com poema de autoria do poeta
Horácio Paiva. Horácio Paiva.
PONTOS CARDEAIS
norte:
a ursa maior
e o lunário perpétuo
sul:
cardumes de prata
leste:
a barca do sol
oeste:
o fogo de santelmo
Pontos Cardeais e o Mais Orientar no Rumo do Navegar -
ao lado: Imagem sem identificação de autoria na fonte pesquisada.
olhares primitivos Disponível no Portal Pinterest BR - sítio: br.pinterest.com
da noite
ao centro:
uma caverna incógnita
sob as estrelas
Comentário do poeta Horácio Paiva para o editor desta revista -
grilos José Ivam Pinheiro:
“O título desse meu poema me faz lembrar Gilberto*. Mas ele não
e chegou a conhecê-lo.... em vida. C’est à dire, nesta vida... “.
alguém *Nota do editor: Gilberto citado pelo poeta Horácio Paiva, trata-
se do saudoso amigo poeta - Gilberto Avelino de Macau/RN.
que sonha
KUKUKAYA Poesias – 67
...
turvos da barragem
e dos dias. Açude Dourado em Currais Novos/RN, com 81,02% da sua
capacidade (2020) - Foto: Anderson de Almeida – Portal G1 Globo.
Disponível no sítio: g1.globo.com
Todos sorrindo,
mainha sorrindo,
os vizinhos de banho
sorrindo,
entre farofas,
cachorros latindo AMANHECERÁ*
e uma areia
pedregulhosa e banal.
no fim, tudo morre.
Entrar no açude mas o fim ainda não chegou.
era um caminho natural.
“Uma maçã no escuro”
Mesmo sem nomes,
todos ali se conheciam: vejo a vida líquida,
o Dourado seria lírica. à espera de um aboio
um pai comum? que me amanheça
Não sei. como o sol.
https://www.youtube.com/watch?v=2kLq61YRvVE
KUKUKAYA Poesias – 68
MULHER, FLOR RARA
Dentro do livro sou a escrita Poesia- Imagem de arte com manipulação de fotografias
digitais feita pela artista alemã - Christine Ellger (1948). Disponível no Portal Pinterest BR
- sítio: br.pinterest.com, e no sítio: www.tuttartpitturasculturapoesiamusica.com
KUKUKAYA Poesias – 69
---
Se eu morresse agora,
não morreria em paz,
não estaria no cais,
não partiria feliz.
Fiz e me refiz
em cada rima,
em cada verso
que sobre a pele escrevi.
Fazer e refazer uni_versos – Imagem sem identificação de
autoria na fonte pesquisada. Arte do desenho ilustrativo fornecido Cada poema meu é uma cicatriz.
junto ao poema pelo poeta João Andrade.
---
Procuro
nos unos
a minha unidade.
Tudo em mim
está meio,
é cheio
de minhas metades.
---
Mito das Aves Chinesas: Hyoku no Tori - Imagem ilustrativa do pássaro
Hyoku, junção do masculino e feminino, símbolo do amor e fidelidade no
Japão antigo, com arte do desenho de Takeshi Yamada. Disponível no Portal Vazio,
Pinterest BR - sítio: br.pinterest.com, e no sítio: cacadoresdelendas.com.br trago abismos
para te ofertar.
Do ápice à base
tudo na vida
envereda.
Em troca
te peço pouco:
a queda.
KUKUKAYA Poesias – 70
DE CANTO, ENCANTO E ENCANTADOS
KUKUKAYA Poesias – 71
TER X SER
SER
A ROSA
KUKUKAYA Poesias – 72
CERTO SERTÃO
O meu pó é poesia,
A minha cara é carente, Paisagem com moradia sertaneja – Imagem de pintura do artista plástico
baiano - Antônio Carneiro Dourado (AKarneiro). Disponível no Portal Pinterest
A minha dor é dormente, Brasil, no sítio: br.pinterest.com, e no sítio: aartedomeupovo.blogspot.com.br
O meu ar é harmonia,
Meu fole é minha folia,
A minha gana é cigana,
Minha romã é romana,
A minha forca é forquilha,
O meu trilho é minha trilha,
E minha lua, luana.
KUKUKAYA Poesias – 73
melancólico pó pandemia
liberdade
a terra trincou-se
desabrochou um sonho
– apesar de tudo
KUKUKAYA Poesias – 74
Pássaro na Chuva – Foto de Emmanuel Fernandes Fotografias.
Disponível no Portal Pinterest BR - sítio: br.pinterest.com
Brinde Da nuvem,
molhado, o pingo
chuvarada jorrando
de repente gotas
garoa, - dádiva,
chuveiro, tanta água,
bátega, chuvada líquida oferta
trovão soa. divina chuva.
Pé-d'água, O olhar - a visão
o aguar já vindo, da aguada,
o rio, o frio, no roçado
banhos, projetar
açudes. meeiro,
Cio o milho
das águas, e feijão
correntezas. - safra boa.
KUKUKAYA Poesias – 75
DIA 13 – SEXTA FEIRA
Épica, conquistadora
Lírica, arrebatadora
Satírica, inquisidora
Camoniana
Machadiana
Drummoniana
KUKUKAYA Poesias – 76
No Clima do Desejo de Amar - Imagem sem identificação de
autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal Pinterest Brasil -
sítio: br.pinterest.com, e no sítio: www.artofit.org
FAHRENHEIT
Um calor obtuso
vandaliza meu corpo
em formas geométricas.
Circunscreve o desejo,
brasão tatuado na minha pele,
quando neva lá fora
um grau negativo.
Enquanto os homens
digladiam seus próprios
corações polares,
enfeitiçados pelo poder,
degelo no teu corpo.
Em teu corpo,
é sempre verão
com muitas águas termais...
KUKUKAYA Poesias – 77
BATENDO ASAS
Eu sou senhor
De minhas palavras
Da boca que cospe o fel
Eu sinto o sabor das águas.
Eu sou o senhor
De minhas palavras
No escudo de minha sintaxe
Neutralizo as tuas travas.
Eu sou o senhor
De minhas palavras
Desnudado em poesias
E ardendo em brasas.
O passarinho preso na gaiola - Foto do poeta e fotógrafo Ele canta para o homem
Marcos Cavalcanti. Disponível a partir da autorização e
anuência da imagem e do poema pelo autor para publicação Em seu castelo de palitos?
nesta revista. Insensatos não se enganem,
Os seus cantos, são seus gritos.
A liberdade de outrora
Foi substituída pela gaiola,
É por isso que o passarinho
Não canta... chora!
KUKUKAYA Poesias – 78
MEU ATO DE CONTRIÇÃO
...
O poeta criador,
É rico de fantasia,
Se alia e presta atenção
Nos personagens que cria,
Põe magia em cada história,
Vê razão na poesia.
Na ilustração é presente
com a inerente turminha:
Zé da Jia, vem na frente,
Junto a Maria Boquinha,
Que se mostra sorridente
Com a Formiguinha vizinha.
Risos e camaradagens.
KUKUKAYA Poesias – 79
Mulheres de Chico na música e o Bloco Mulheres de Chico no carnaval carioca – Foto de divulgação do show
do Bloco Mulheres de Chico no Teatro Rival em 30/11/2018 que celebrou 13 anos de carreira homenageando Chico
Buarque. Imagem sem identificação de autoria na fonte pesquisada, e disponível no sítio: www.teatrorivalrefit.com.br
AS MULHERES DE CHICO
KUKUKAYA Poesias – 80
O ABRAÇO DA CHUVA A ESFINGE E O LIVRO
Dou rasantes
e trino agudo!
Saudosismo?
Itinerários lúdicos.
KUKUKAYA Poesias – 81
CANTO PRAIANO
À noite, a lua
brilha na palha
E a espuma espalha
seu crochê branco
no imenso manto de areia alva.
KUKUKAYA Poesias – 82
MULHERES
Mulher no Espelho, arte em pintura de Pablo Picasso - Foto da pintura sem identificação
de autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal Pinterest Brasil - sítio: br.pinterest.com,
e no sítio: artrianon.com
KUKUKAYA Poesias – 83
CURVA DO VENTO
PRIMAVERE-SE
KUKUKAYA Poesias – 84
TERÇO
A vida se tece
Num sonho,
Em tecido delicado.
Entecendo dores, lágrimas
Silêncios, diálogos.
Por vezes gira em mãos ágeis,
Ora, quase se desfia nos dedos,
de tão delicada.
A vida num fio,
Afina, se torce em segredos,
Num terço, em muitos rosários.
Tece, entretece,
Desfaz-se, e de novo se tece
como terço sem fim.
Mas que não se descuide:
A vida é um triz!
E só bem sabe viver
Se do sofrer, ter a cicatriz
Um terço tecer – Imagem de autoria provável de Geuciene Almeida
Para não passar de mão em mão,
(@geuciene). Disponível no Portal Pinterest Brasil - sítio: Esse terço vão,
br.pinterest.com, e na página do Instagram @donnag.croche
De viver, sem tentar ser feliz.
ESPERANÇA
A ternura me visita
Com asas verdes
de esperança.
E paciente me explica
A necessidade da espera.
Cautelosamente se aguarda
O novo tempo,
Novos ventos,
Pra ver a vida se tecer
Mover, florir do nada,
Como um moinho ritmado
Tirando do poço mais profundo
O cheiro das águas. Esperança, ponte para um melhor futuro desejado - Foto da pintura sem
identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal Pinterest Brasil -
sítio: br.pinterest.com, e no sítio: gauchazh.clicrbs.com.br
KUKUKAYA Poesias – 85
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De todos os ângulos
A Terra da Poesia é bela,
Seja num círculo ou num retângulo,
Minha fortaleza, minha cidadela.
Vista parcial da bela cidade de Assú RN - Foto de Paulo Sérgio de Sá Leitão.
Imagem autorizada a disponibilização para ilustrar, nesta revista, poemas do
Poeta Paulo Sérgio de Sá Leitão que exaltam de forma poética a sua terra natal.
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KUKUKAYA Poesias – 86
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Peculiaridades de um coração,
Que equilibra razão com emoção,
Na resolução das tempestades...
Ela, A Musa Amada do Poeta - Foto: Ricardo
Morais. Disponível no Facebook e Instagram de
Ricardo Morais, respectivamente nos sítios:
www.facebook.com/imagemepoesia.br Poema: Ricardo Morais - @imagemepoesia
www.instagram.com/imagemepoesia
Foto e poema: Ricardo Morais - @imagemepoesia Foto e poema: Ricardo Morais - @imagemepoesia
KUKUKAYA Poesias – 87
E lá vem chuva e depois o cheiro da terra– Imagem
sem identificação de autoria na fonte pesquisada.
Disponível no Portal Pinterest Brasil - sítio:
br.pinterest.com, e no twitter.com - Cultura Caipira Blog:
@culturacaipira
CHEIRO DA TERRA
KUKUKAYA Poesias – 88
EXPRESSIONISMO
Ao artista plástico e poeta Alfredo Neves.
A imaginação se arremessa
na ausência do esboço,
no que, invisível, exalta o talento e o esforço. Expressionismo Abstrato – Pintura com arte de
Alfredo Neves. Foto do acervo pessoal do artista Alfredo
Neves que gentilmente forneceu a fotografia da sua
E as cores, em seus imóveis desertos, pintura para ilustrar o presente poema.
PEDRA
KUKUKAYA Poesias – 89
Valsa do Amor – Ilustração com arte de Pascal
Campion. Disponível no Portal Pinterest Brasil - sítio:
br.pinterest.com, e no sítio: gallerypascal.com
VALSA DO AMOR
ALMA NOBRE
KUKUKAYA Poesias – 90
SER POETISA É...
CHUVA
KUKUKAYA Poesias – 91
NATÁLIA*
https://youtu.be/lUEHbNyyTaY
KUKUKAYA Poesias – 92
A Musa do poema e filha amada - Anabele - Foto de Vilmaci
Viana (acervo da família. Disponibilização autorizada de
fotografia para ilustração do poema autoral “Bela”. Disponível na
rede social Instagram de: @anabelevs
BELA
Como é bela!
É sol que brilha
Após dias nublados,
É pomar que aflora
Após primavera ter chegado.
Assim é Anabele,
Com seus cabelos negros,
Realçando a sua pele clara
Como lua cheia,
Deixando a água do mar prateada.
É brisa,
É afável,
Bela, amada e amável
Sereia que encanta.
Anabele é assim:
É mar sem fim.
É rosa única de um mundo jardim!
KUKUKAYA Poesias – 93
Café Caipira – Foto com arte de Juarez Teixeira. Disponível no Portal Pinterest Brasil - sítio:
br.pinterest.com, e no Portal flickr - sítio: www.flickr.com
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lembro da voz
do meu pai
e do meu avô,
mais do que outras coisas.
eles conversando
animados
muito cedo
ao pé do fogão a lenha.
KUKUKAYA Poesias – 94
CARROSSEL
A máquina me empreguiça
Gosto das palavras que escorregam no céu da boca
E riscam o papel
Acho graça e choro
A palavra, mesmo que doída, é carrossel
A dor, mesmo que vazia, é véu
Meus dedos confusos, perdidos
Dançam no salão deste caderno preto
Que logo será esquecido
Lembrado apenas pelas traças pequenas
Que rastejam e mastigam o meu fel
Gosto da palavra viva
Mesmo que depois de morta
Desenterrada do cemitério da garganta
Eu, um poeta Babel
KUKUKAYA Poesias – 95
O novo renascer como uma Fênix – Imagem sem identificação
de autoria na fonte pesquisada. Disponível no sítio: br.pinterest.com,
e no sítio: www.wattpad.com
O NOVO
KUKUKAYA Poesias – 96
A Música dos Matutos dos Sertões do Brasil - Imagem sem
identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal
Pinterest Brasil – sítio: br.pinterest.com
Fui convidado pelo Poeta José Ivam Pinheiro, editor da revista KUKUKAYA Poesias, a
escrever algumas linhas sobre a inspiração poética matuta e devo confessar ter ficado muito
feliz. Dá muito gosto relembrar as coisas matutas e deixar que a palavra nos brinde com seu
frescor da aurora matinal, seu doce sorriso, o que só o casamento da palavra e o lampejo da
imaginação poética, salpicados por um desejo de amor sincero e inocência podem produzir. E
o Cuitelinho não gosta que o botão de rosa caia (...), esta frase lapidar do cancioneiro matuto é
um trecho da música “Cuitelinho”, da qual não se sabe o compositor. Música recolhida por
Paulo Vanzolini em suas andanças pelo Pantanal Mato-grossense. Poderia escrever teses e mais
teses sobre a delicadeza da alma e cairia prostrado ante a impotência de defini-la, mas ... o
matuto, em poucas palavras, mais que definir, exprimiu poeticamente a delicadeza da alma, e
“... o cuitelinho não gosta que o botão de rosa caia ...”, causando revolução, confusão de
moléculas em nosso pequeno corpo não acostumado a revoluções. Estrago maior ainda tem
estas singelas palavras “e o Cuitelinho não gosta que o botão de rosa caia” na voz dos pretos
velhos - Pena Branca e Xavantinho, pois dizer o que o matuto disse, carece de um matuto que o
diga. A palavra dita no atacado é como uma palavra a mais de tantas outras tantas ditas sem
sentido, mas a palavra dita com o bem querer do matuto tem coloração própria, única e
inconfundível, inenarrável, mesmo pelas próprias palavras, porque se consome no desejo do
seu bem querer, se volatiza no éter, se inscreve no coração, como moto contínuo que dá sentido
à vida.
A reportagem midiática quer o pecado de percorrer todos os caminhos, especular sobre
algo mais que tudo, mostrar o circo da via com seu show de horrores e deslumbre, mas o matuto
se contenta com a moenda da vida, com o ver o cuitelinho comunicando sentido, unindo ciência
e poesia. Se contenta com um dedinho de prosa que, sem pretensão de mais dizer, a tudo
comunica, a tudo ressoa. Diz o que sente e daí ao patamar da física holística, que tantos físicos
se debruçam sobre sua compreensão, mas o matuto quando diz sem lapso de descontinuidade
com o que sente é pura física, é o universo em movimento, é a força depurada da violência, é o
vibrar que dá sentido à existência, é o encontro de criador e criatura num ato de amor. A palavra,
sendo sagrada em sua nobre função de dar cor e voz à vida, não pode ser dita mesmo a esmo,
nem ser dita por quem não está presente. A palavra requer compromisso, requer alma
translúcida, que diga vibrando e vibre dizendo, requer alcançar a complexidade do todo através
da simplicidade do ser. Requer aceitar a moenda da vida, exprimir gratidão, não querer ser mais
do que se é, requer ter voz e ouvidos presentes, receptivos ao amor de Deus. Aquele Deus longe
do Deus maioral e acima de todos pintado pela Religião, mas simplesmente o Deus que tornou-
se Deus por não reservar nada para si, Deus de pura Doação, que plasmou a natureza como ato
de doação e o Matuto se regozija em receber esta natureza e inebriar-se com sua fragrância
divina.
KUKUKAYA Poesias - 97
Tentar dar definição ao que seja uma declaração de amor por outrem parece muito difícil,
até pesado como chumbo quando medimos o objeto pela impotência de atingi-lo. Carece mesmo
de um matuto que o diga, sem pretensão de dizer mais do que se diz: “Meu amor está doente,
eu não sei o que eu faço, dou um xarope de suspiro e um suador de abraço...”,e, “eu jurei matar
meu bem co´ uma bala perigosa, uma bala de suspiro, chumbo de botão de rosa ...”, são frases
de outra bela música de domínio popular “moreninha vem cá”, cujas palavras exprimem a
singeleza de um ato de amor, sem peso nem dor, sem arroubo de nada querer provar a ninguém.
Um dos heterônimos do magistral Poeta Fernando Pessoa, Alberto Caeiro é a
personagem que exprime a sabedoria matuta. Alberto Caeiro é filosofo e cientista, mas
arraigado à sua natureza, arraigado à simplicidade do viver, cuja dramaticidade do simples
existir o transforma em expectador e protagonista deste inenarrável milagre, orquestra de
imagens, sons e sentidos, refundindo na trama da vida. Diz-nos Caeiro1: “Eu não tenho filosofia:
tenho sentidos… se falo na natureza não é porque saiba o que ela é, mas porque quem ama
nunca sabe o que ama, nem sabe por que ama, nem o que é amar… amar é a eterna inocência,
e a única inocência não-pensar…”. Diz-nos, ainda, Caeiro2: “Quem me dera que a minha vida
fosse um carro de bois que vem a chiar, manhãzinha cedo, pela estrada, e que, para de onde
veio, volta depois quase à noitinha, pela mesma estrada”
Em minhas diminutas peregrinações pela poesia escrevi: O Cais da Alma..., pode o duro
cimento servir-lhe de recheio, o mais fiel destacamento perscrutar lhe o devaneio?!!!... O drama
da vida é mesmo único, é história que não manda recado, mas dá seu recado em sua própria
estória. Vivemos todos carentes da um ambicionado futuro promissor, carentes de mais
ciência, de mais vacina, de mais afetos, sem, contudo, perceber que somos nós os
protagonistas do milagre de existir. Tantos quantos sejam os seres, tantas quantas sejam as
estórias, cada qual com matiz único de cores e sentimentos, confluindo cada estória no mar, no
éter da vida em movimento, transformada em sintonia divina. Um emaranhado de estórias,
aparentemente sem sentido, mas cuja amálgama é o semblante do criador. Deliciem-se
assistindo o Filme “Narradores de Javé”, onde o carteiro Antônio Biá, interpretado pelo grande
ator José Dumont, procura escrever a história dos moradores de uma cidade sertaneja
submersa pelas águas de uma represa, através da recolha dos fragmentos trazidos pela
narração dos moradores, porém, paradoxalmente acaba por se embriagar por tantas estórias e
versões trazidas, por tantos sentimentos, e daí é tragado pela torrente do rio das paixões e
sentimentos, e descobre-se protagonista em meio a este aparente sem-fim da existência.
Ingenuamente, queriam um registro da cidade que se perdeu de baixo da água, mas o destino
encontra vivo este registro na caixa preta da alma. Povos indígenas, tribos inteiras, ancestrais
que partiram deste mundo. Estão vivos na ode, no panteísmo, no Deus vivo na natureza, na
história imorredoura, no culto aos nossos ancestrais, na história oral, na tradição, no dar-se as
mãos, no confidenciar sentimentos, no transmitir lendas, mitos, que libertam a imaginação do
peso da existência. Salve a sabedoria ancestral, salve o indígena, salve o matuto, salve o
caboclo, salve nossos Xamãs! Pajés! que nos curam de toda patologia de querer transformar a
vida numa caricatura, que nos libertam das maquinações de nos transformar em coisas,
expectadores, objetos.
KUKUKAYA Poesias - 98
Já me fogem as palavras, pois é a mim interditado dizer o que não se diz e a esta altura
socorro-me de uma Luz, de um Zé, de um Zé da Luz3:
BRASIL CABOCO
O qui é Brasí Caboco? Brasi caboco num inscreve; Brasi das briga de galo!
É um Brasi diferente munto má assina o nome do jogo de "sôco-tôco"!
do Brasí das capitá. pra votar pru mode os home É o Brasi dos caboco
É um Brasi brasilêro, Sê gunverno e diputado amansadô de cavalo!
sem mistura de instrangero,
um Brasi nacioná! Mas porém. Brasi caboco, É o Brasi dos cantadô,
é um Brasi brasileiro, desses caboco afamado,
É o Brasi qui não veste sem mistura de instrangero qui nos verso improvisado,
liforme de gazimira, Um Brasi nacioná! sirrindo, cantáro o amô;
camisa de peito duro, cantando choraro as mágua.
com butuadura de ouro... É o Brasi sertanejo
dos coco, das imbolada, Brasi de Pelino Guedes,
Brasi caboco só veste, dos samba, dos vialejo, de Inácio da Catingueira,
camisa grossa de lista, zabumba e caracaxá! de Umbelino do Texera
carça de brim da "polista" e Romano de Mãe-d'água!
gibão e chapéu de coro! É o Brasi das vaquejada,
do aboio dos vaquero, É o Brasi das caboca,
Brasi caboco num come do arranco das boiada qui de noite se dibruça,
assentado nos banquete, nos fechado ou tabulero! machucando o peito virge
misturado cum os home no batente das jinela...
de casaca e anelão... É o Brasi das caboca Vendo, os caboco pachola
qui tem os óio feiticero, qui geme, chora e soluça
Brasi caboco só come qui tem a boca incarnada, nas cordas de uma viola,
o bode seco, o feijão, como fruta de cardoro ruendo paxão pru ela!
e as veiz uma panelada, quando ela nasce alejada!
um pirão de carne verde, É esse o Brasi caboco.
nos dias da inleição É o Brasi das promessa Um Brasi bem brasilero,
quando vai servi de iscada nas noite de São João! sem mistura de instrangêro
prus home de posição. dos carro de boi cantano Um Brasía nacioná!
pela boca dos cocão.
Brasi caboco num sabe Brasi, qui foi, eu tô certo
falá ingrês nem francês, É o Brasi das caboca argum dia discuberto,
munto meno o português qui cum sabença gunverna, pru Pêdo Arves Cabrá.
qui os outros fala imprestado... vinte e cinco pá-de-birro
cum a munfada entre as perna!
*Marcelo Othon Pereira –Graduado em Música (Licenciatura) pela UFRN, estudou Viola Caipira na Universidade Livre de
Música Tom Jobim de São Paulo SP, e participou da Orquestra Paulistana de Viola Caipira. É Professor do Curso de Extensão
Universitária de Viola Sertaneja oferecido à comunidade gratuitamente no IFRN, Campus Cidade Alta, sendo que a partir desse
curso surgiu a Orquestra Potiguar de Viola. Compositor musical, em especial na viola caipira, fez a trilha sonora do filme
comunitário "TU SE ALEMBRA" do poeta cordelista Hailton Mangabeira, sendo que a sua música "Chuva Chegou" ganhou o 2º
lugar no Festival da Universitária FM - FMPB 2012 - categoria Instrumental. É um dos criadores do BANDO FABIÃO, atuando na
Coordenação Técnica Musical com os grupos: Folia de Reis, Samba de Roda e Prática de Viola.
KUKUKAYA Poesias - 99
Mulher sob o Sol – Arte de Fotografia de Federico Bebber
(elkoweb) e George RedHawk Motion Effects. Disponível no
Portal Pinterest Brasil – sítio: br.pinterest.com e no sítio:
blogger.googleusercontent.com
A casa onde moro ficou pequena, diminuta, mínima! Dentro, há uma luz cor de sol e eu
me inflamo: fogo vulcânico em terras de superfície quente ao extremo dos graus infernais. Uma
dor dantesca se abre em flor morta, morna. As paredes exalam uma espécie exótica de incenso
que se mistura com o cheiro do meu corpo agoniado.
Dias intensos seguidos de solidão!
Em três dias, uma presença doce ameniza, mas quando se apresenta, crítico e cínico, o
primeiro dia da semana seguinte; já estou exausta! Já não consigo respirar o mesmo ar que eu
respiro de mim mesma e, a minha solidão – expulsa por três luas – bate na porta com dedos
leves e silenciosos incomodando-me, mesmo com Marley tocando no som.
Na cozinha a comida se mistura e, em minha própria casa, meu santuário particular, sinto
o cheiro do Horto de Auta. Do dela brotavam poemas. O meu, incomparavelmente distinto,
germina prosa. Nos cantos da casa encolho-me e os centímetros, cada vez mais milimétricos,
provocam-me um forte desejo de gritar. Aquele grito de Munch; grito rouco que consegue
ultrapassar-me em notas dissonantes de voz que precisa calar. Precisa, mas não deve!
Sou tão covarde!
No quarto, o meu! Nele posso ficar na sombra leve que me transporta ou me reflete na
paz de uma montanha fria em outro continente, fora das Américas. Sou mesmo daqui?
Ficarei quando a morte chegar, nos tempos de pandemia viral?
O sol, como sempre, desde que entendi a sua forma de colocar-se no planeta, não me é
doce e lindo. É, excessivamente canário-avermelhado e eu mantenho péssimas relações com
ele, incordiáveis!
Dentro desta casa existencial, um gosto de zinabre e fel juntos se liquidificam. No fundo
não gosto de ser a fêmea que a sociedade me obriga a ser. Tenho voos, imensas asas! Tenho
o sonho como forma de ressignificação. A água chorosa, lacrimosa é engolida por essa
violência que sou levada a sofrer e a permitir a mim, mulher condicionada a uma cultura
machista e hipócrita.
O cercado está fechado!
Sons de vizinhos me cansam os ouvidos que foram educados pelo gosto pessoal de só
aceitar o que considero agradável e polido. Sou polida, e daí? Estou muito cansada!
*Crônica escrita em abril de 2020 – Isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19.
** Maria Maria Gomes - Poeta/Escritora de versos e crônicas em prosas poéticas, contos e romances, nasceu em Currais
Novos/RN, e é consulesa do Seridó, título conferido pelo movimento poético Poetas del Mundo, com sede no Chile.
É professora de língua portuguesa e língua inglesa, na rede pública de educação do estado do Rio Grande do Norte.
Já publicou mais de uma dezena de livros, e mantém um vídeo blog no You tube - “Maria Maria no Mundo das Palavras”,
espaço de abordagens literárias e de análises de livros e aconselhamento de leitura.
Não há fórmula ou escola para Walt Whitman. Vivendo em pleno século XIX, poderia ter
sido romântico, parnasiano ou simbolista. Mas, não. É um contemporâneo.
“Pioneers! O Pioneers!” é o título de um de seus famosos poemas contidos em “Leaves
of Grass” (“Folhas de Relva”). Ele que também foi um pioneiro, e, neste caso, das letras,
desbravando horizontes na arte poética. Aboliu métrica e rima e adotou o verso livre, longo,
bíblico.
Trabalhou durante toda a sua vida nesse livro. Reescreveu-o várias vezes e a cada
edição adicionava novos poemas. Afora a edição póstuma (a 10ª.) e definitiva, publicou-o em
1855, 1856, 1860, 1867, 1870-1871, 1876, 1880, 1889 e 1892 (ano de sua morte).
Nasceu em West Hills, Nova Iorque, em 31 de maio de 1819 e faleceu em Camden, Nova
Jérsei, em 26 de março de 1892.
Atualmente é reconhecido como um dos maiores poetas americanos (senão o maior,
para alguns), ocupando lugar de destaque na moderna poesia ocidental. Mas nem sempre foi
assim. Como observa Sérgio Milliet, no verbete sobre ele escrito e inserido em seu livro “Obras-
Primas da Poesia Universal”, “Esse seu livro de poemas (referindo-se a “Folhas de Relva”),
publicado pela primeira vez em 1855, foi hostilmente recebido pela crítica e pelo público do
país, o mesmo sucedendo às várias edições que, sempre acrescidas de novos poemas, depois
disso se publicaram. Nos últimos anos de vida, porém foi feita justiça à obra-prima de
Whitman.”
Além de poeta, Walt Whitman escreveu ensaios e exerceu o jornalismo. Do ponto de
vista moral, foi, sem dúvidas, um grande humanista, ativista dos direitos humanos, cantor da
fraternidade, da solidariedade e do amor entre os seres humanos, da natureza e da democracia.
Estes valores constituem verdadeiros ícones em seu plano estético-filosófico-literário, e muitos
o citam como o poeta da democracia. No seu livro em prosa, “Democratic Vistas”, adverte,
entretanto: “Temos escrito demasiadas vezes a palavra Democracia. Contudo, nunca será
demais eu repetir que essa é uma palavra da qual o conteúdo verdadeiro dorme ainda, longe
de ser despertado, não obstante a repercussão e as muitas tempestades iracundas, da língua
e da pena, com que suas sílabas têm sido articuladas. É uma grande palavra, cuja história
imagino que permanece por ser escrita, pois essa história ainda está para ser posta em prática.”
INCIDENTE
03 – É notável a influência de Walt Whitman em poetas, mesmo grandes poetas, posteriores à sua
geração. Há, por exemplo, na literatura de língua portuguesa, um longo poema, “Saudação a Walt
Whitman”, em que Fernando Pessoa, através de seu heterônimo Álvaro de Campos, lhe presta
homenagem.
*Horácio Paiva – Escritor de prosas e versos (contista, cronista, ensaísta e poeta), advogado e funcionário aposentado do Banco
do Brasil, professor de Direito Civil, Fundador da Comissão Pontifícia Justiça e Paz e ganhador do Prêmio de Direitos Humanos
“Emmanuel Bezerra dos Santos”. É um dos fundadores e atual primeiro presidente da Academia Macauense de Letras e Artes - AMLA.
Dentre os livros que publicou, podemos citar “Navio entre Espadas (2002)”, “A Torre Azul (2012)” e “Caderno do Imaginário (2016)”.
KUKUKAYA Poesias - 103
Vozes deste chão
Banham na pele dos séculos
Cheiros vestindo ventos
Ema Nzadi
BIOGRAFIA
Ema Nadi, pseudônimo de Emanuel Vieira Cambulo de nacionalidade Angolana, natural da Província
do Zaire - Angola, escritor Membro do Movimento Litteragris, obras publicadas - Pinturas dos Ecos, obra
vencedora do prémio António Jacinto 2019. Pesquisador de Teoria da Literatura e Literatura de
Expressão Portuguesa. Outras publicações: Antologia Nós e a Poesia, - Revista
amaitepoesias.blogspot.com – Coletânea Lusófona de Poesia e Prosa Poética (Delírio de Inverno),
Antologia Entre Palavras. – Revista Palavras & Arte – Jornal O País.
Instagram: @emanzadi10
Marcos Antonio Campos - brasileiro, graduado em Letras, Escritor poeta de versos e prosas
laureado em diversos certames no Brasil, tendo sido contemplado com dois Prêmios Barriguda no
Festival de Música e Poesia de Paranavaí - PR (FEMUP). Membro associado da União Brasileira de
Escritores do Rio Grande do Norte - UBE/RN (atualmente exerce a função de Tesoureiro dessa
instituição literária), Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN e da Sociedade
dos Poetas Vivos do Rio Grande do Norte – SPVA/RN. Autor das seguintes obras literárias (livros
publicados): “Um Bêbado Sonhador”, “Babel”, “Algodão Doce”, “Atropelando Papai Noel” e “Absinto”.
Instagram: @marcosantoniocampos89
Marcos Medeiros
* José Ivam Pinheiro, Escritor/Poeta, natural de Currais Novos/RN e residente em Natal/RN, é atualmente, Acadêmico Efetivo da
Academia Curraisnovense de Artes e Letras – ACAL, exercendo a Vice Presidência da mesma, é associado e Diretor de Representação
Regional da União Brasileira de Escritores do Rio Grande do Norte - UBE/RN, e exerce a função de Editor da Revista virtual
KUKUKAYA Poesias – Literatura & Artes Poéticas.
* Fátima Santos, Fotógrafa, natural de Caicó/RN e residente em Natal/RN, trabalha na Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio
Grande do Norte – EMPARN. Encara a fotografia como um agradável forma de lazer, distração e passatempo que com talento
recolhe fotos bastante belas e interessantes, além de através da arte fotográfica fazer boas amizades. Algumas das suas belas
fotografias já foram premiadas e bastantes elogiadas pela beleza captada pelas lentes das suas câmeras fotográficas.
AOS POTIGUARAS