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“Protagonismo e Resistência em prol da Literatura e Artes Poéticas” – Lei Aldir Blanc

Editor KUKUKAYA Poesias – Literatura & Artes Poéticas


José Ivam Pinheiro

Diretora de Produção
Dalvaci Neves

Diretor/Editor Fundador das Edições Kukukaya


Alfredo Neves

Conselho Editorial

Adélia Costa
Aluísio Azevedo Júnior
Dalvaci Neves
Francisco Ramos
João Andrade
José de Castro
Thiago Gonzaga
Maria Maria Gomes
Jornalista e compositor Roberto Homem Encarte Especial KUKUKAYA Poesias com
escreve a “Volta ao Mundo de Tico da Costa” - seleção de Poemas de Acadêmicos e Patronos
Foto sem identificação de autoria na fonte pesquisada. da Academia Curraisnovense de Artes e Letras
Disponível no sítio: open.spotify.com - ACAL Currais Novos RN - Imagem da logomarca
disponibilizada pela Direção da ACAL. Arte da
logomarca de Lourinaldo Batista.

Cineclubes, a tela privilegiando a sétima arte e o debate


democrático em salas ou até na praça ao ar livre - Foto de Thais
Albuquerque (BA) em que divulga a exibição de filmes em praça pública em
Lençóis (BA). Disponível no sítio: www.correio24horas.com.br

KUKUKAYA Poesias – página 2


KUKUKAYA Poesias:
Protagonismo e Resistência em prol da Literatura e Artes Poéticas.
E tal qual fênix renascida e advinda do resistir e protagonizar a difusão e fomento da Literatura e Artes Poéticas
nas bancas virtuais da internet, eis que fortalecida pela esperança de que a luz vencerá as trevas, a nossa querida
revista, projeto coletivo e democrático de divulgação das letras e artes com a luminosa poesia, agora, novamente
renasce com vontade de se estabelecer e buscar a tão sonhada periodicidade da revista, bem como, buscar se
aprimorar e dentro da sua linha editorial voltada para a publicação da Poesia, consolidar e inovar trazendo cada
vez mais inovações criativas e a qualidade inventiva dos nossos artistas e escritores que lidam em todas as
vertentes das linguagens culturais que absorvem e resolvem refletir e jogar para o público leitor a excelente
Literatura e as Artes Poéticas numa mistura e integração e inter-relação que resulta em excelentes obras criativas
e produtivas para todos os leitores da nossa revista virtual. A boa nova é que em pleno período de pandemia, em
julho de 2020, a nossa revista de nº 4 foi com muitas dificuldades publicada, ainda no Portal Virtual Cult, antigo
endereço eletrônico, que por vários fatores de dificuldades financeiras e de mobilização junto as Instituições
Literárias e Coletivos Culturais que colaboram conosco, então o endereço virtual foi desativado, restando então,
buscar formas para preservar os números da KUKUKAYA Poesias já publicados, e partir para batalhar por uma
nova fase com mais poesia na vida, pois, afinal perdemos muitos amig@s e entes familiares queridos, vítimas da
Covid-19 e de outras causas mortis durante esse período tão difícil e sofrido. E aí, a nossa revista trata de
merecidamente homenagear os nossos saudos@s Poetas que partiram do “Universo das Letras para o
Encantado Céu Eterno de Deus”, e assim, com poemas lembramos: Junior Dalberto, Pinto Júnior, Erileide Rocha
e Eduardo Gosson, vítimas da Covid-19. Também são homenageados: Olavo Ataíde, Maria José Mamede, Nelson
Patriota e Pedro Grilo Neto, vítimas de outras enfermidades fatais. Mas, ao homenagear os nossos encantados
poetas, a intenção e esperançar a luz na vida através da ousadia da poética no dia a dia, e aí, o nosso colaborador,
o jornalista potiguar de Currais Novos, e que reside em Brasília – Roberto Homem, nos brinda com o artigo
bibliográfico - “A Volta ao Mundo de Tico da Costa” que se junta a mais poesias e músicas (em hiperlinks) desse
grande artista/poeta, o mais internacional que se encantou, mas, deixou um legado poético formidável. E tem
mais coisas boas como por exemplo, os artigos: “Cineclubes; Telas Privilegiadas do Filme” por Diogo Gomes
dos Santos e Tetê Avelar, enquanto publicamos a colaboração da nossa Diretora da Kukukaya Poesias – Dalvaci
Nunes, que nos brindam com “Música & Poesia: A magia das palavras e sons no compor beleza e harmonia”,
junto com o excelente artigo apresentação para as entrevistas realizadas por José Ivam Pinheiro e Andréa
Mousinho com os compositores musicais – Marieta Maia, Anna Fernandêz e William Guedes. E a sétima arte na
forma de poemas e músicas traz a poesia e a beleza musical numa amostra do belíssimo “CD CINECLUBES de
Babal e Lívio Oliveira”. A prosa poética chega nas Crônicas: “A Voz do Matuto” de Marcelo Othon Pereira e
“Confissão Sob o Sol” de Maria Maria Gomes. O poeta Horácio Paiva nos apresenta o belo ensaio que é o
“Encontro com a Poesia: Walt Whitman”. E tem a estréia da seção Conexão Mundial Artes Poéticas com poemas
de Ema Nzadi e Marcos Antonio Campos, bem como a arte do desenho do “Salvador Daqui” - o artista Júlio
César Pinheiro do Carmo e a sempre belíssima poesia de cordel de Marcos Medeiros, isso no registro nominado
como “A arte do desenhar de Júlio César do Carmo Pinheiro e a poesia de Marcos Medeiros”. E tem poemas para
saudar na cultura popular a Alimentação na forma dos doces de groselhas, comum no Sertão Seridó do RN, e
com lindas fotos de Fátima Santos, o poeta José Ivam Pinheiro apresentam os “Poemas para as groselhas que
de azedas se doçuram cinderelas”. E tem os poemas: “O Livro” de Celso Cruz e “Fotografia” de Rizolete
Fernandes. A tradicional “Coletânea de Poemas de Poetas Vivos do Rio Grande do Norte” neste exemplar reúnem
poemas de 57 Poetas de diversas instituições literárias e coletivos culturais. E como resultado da parceria com
a Academia Curraisnovense de Artes e Letras - ACAL, os leitores virtuais serão brindados com encarte de
poemas de Acadêmicos efetivos e Patronos da ACAL, junto desta revista. Tem fotos com arte de corações –
marcado e de aparição divina em registro de Rosa Souza e soneto de José Ivam Pinheiro. A homenagem na capa
traseira é dedicada a resistência e luta dos “Indígenas do Brasil no dia 19/04/2022” e traz o poema “Aos
Potiguaras” de Eva Potiguara, com tradução para o tupi por Diego Akangaçu. Para finalizar, o celebrar a vitória
do microprojeto de protagonismo da “KUKUKAYA Poesia: Protagonismo e Resistência em prol da Literatura e
Artes Poéticas” que concorreu e foi selecionado no Edital 05/2020 - FJA com recursos da Lei Aldir Blanc -
Fundação José Augusto / Governo do RN; Secretaria de Cultura / Ministério do Turismo / Governo Federal.
Agradecemos à União Brasileira de Escritores do RN (UBE - RN), Academia Norte-rio-grandense de Literatura de
Cordel - ANLiC, Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte – SPVA/RN, Academia Patuense de
Letras e Artes – APLA Patu, Academia Ceará-mirinense de Letras e Artes Pedro Simões Neto – ACLA PSN, a
Academia Potengiense de Letras e Artes – APLA São Paulo do Potengi, a Academia Macauense de Letras e Artes
- AMLA, a Academia Assuense de Letras – AAL, a Academia Campo-grandense de Letras e Artes, a Academia
Apodiense de Letras – AAPOL, a Academia Norte Riograndense de Letras - ANRL, a “Estação do Cordel” e “Casa
do Cordel”, e a Academia Curraisnovense de Artes e Letras - ACAL Currais Novos/RN. Agradecimentos a todos
colaboradores, que fizeram ser possível a realização de mais esta edição da revista virtual KUKUKAYA Poesias.
As famílias dos encantados Poetas/Artistas, aqui homenageados, a nossa gratidão e muito obrigado.

José Ivam Pinheiro


Editor KUKUKAYA Poesias - Literatura e Artes Poéticas Alfredo Neves
Diretor / Editor Fundador das Edições Kukukaya
KUKUKAYA Poesias – página 3
O LIVRO
Celso Cruz

Aberto é um mestre que fala


Fechado, um amigo que espera
Que nunca se destempera
E se esquecido perdoa
O seu conhecimento doa
Se lido ou consultado
Triste se posto de lado
Menina síria de Damasco em inocente gesto de Se destruído ele chora
rendição diante da câmera fotográfica – Foto: Osman Por não ter posto pra fora
Sagirli e publicação no Twitter de Nadia Abu Shaban.
Disponível no sítio: www.nsctotal.com.br
O saber que lhe foi legado
O bom livro ele distrai
Afasta a solidão
Massageia o coração
FOTOGRAFIA Nos dotando de saber
Quem os tem e não os ler
Rizolete Fernandes E os deixa presos numa estante
Em atitude errante
Captada em Damasco Comete uma desventura
a fotografia em poucos segundos Quem não viaja na leitura
correu mundo, entrou em minha sala Não é um ser edificante

A inocente menininha síria Viaje pela leitura


ante a câmera fotográfica Sem rumo, sem direção
que confunde com uma arma Tenha sempre um livro á mão
ergue os braços a se dizer Cada livro é uma aventura
em estado de rendição Depositário de cultura
espera o pior, se cala Só nos faz engrandecer
Melhora nosso viver
Na Síria, a guerra insana Nos dando conhecimento
está ceifando vidas às crianças É o livro um alimento
crime duplo em larga escala É a essência do saber.
Antes que elas cheguem à adolescência In: Cruz, Celso. Força Poética: Poesias para Reflexões.
Natal, RN: OffSet Editora, 2015.
antes que aprendam a sonhar
antes que atinem para o significado
feio da palavra violência
antes até de as alvejar
com rajadas de bomba e bala
In: Coletânea de Poemas – UBE-RN 2015: Poemas de Rizolete
Fernandes: Natal, RN: OffSet Editora – UBE-RN, 2015.

Livro, Nave da Palavra – Imagem sem identificação de autoria


na fonte pesquisada. Disponível no Portal Pinterest BR – sítio:
br.pinterest.com, e no sítio: anarquivoo.blogspot.com

KUKUKAYA Poesias - 04
KUKUKAYA Poesias – LITERATURA & ARTES POÉTICAS
Edição nº 5 – março, abril e maio de 2022

SUMÁRIO

KUKUKAYA Poesias - 05
KUKUKAYA Poesias – LITERATURA & ARTES POÉTICAS
SUMÁRIO (Continuação)

KUKUKAYA Poesias - 06
Literatura – Versos & Prosas de Poetas Encantados

Espaço Trovador Kukukaya Poesias


JUNIOR DALBERTO JOSÉ PINTO JÚNIOR ERILEIDE ROCHA EDUARDO GOSSON

OLAVO ATAÍDE MARIA JOSÉ MAMEDE NELSON PATRIOTA PEDRO GRILO NETO

Créditos das Fotografias Créditos das Fotografias


Junior Dalberto – Foto Reprodução (acervo Olavo Ataíde – Foto do acervo da família,
da família), estando disponível no sítio:
estando disponível no Blog “O Alerta” de José
www.agorarn.com.br .
Alves Dedé - sítio: https://blogoalerta.com.br

José Pinto Júnior (Pinto Júnior) – Foto Maria José Mamede – Foto Reprodução
Reprodução (Facebook). Disponível no sítio:
(acervo da família). Disponível no sítio:
www.tribunadonorte.com.br
https://curraisnovos.rn.gov.br

Erileide Maria O. Rocha (Erileide Nelson Patriota – Foto sem identificação de


Rocha) – Foto do acervo da família e disponível autoria na fonte pesquisada. Disponível no sítio:
no sítio: www.moradadamemoria.com.br https://papocultura.com.br

Eduardo Gosson – Foto sem identificação de Pedro Grilo Neto – Foto sem identificação de
autoria na fonte pesquisada. Disponível no Blog autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal
Vale Verde – Lúcia Helena Pereira - sítio: Anote RN - sítio: http://www.anotern.com.br
http://letrasecanaviais.blogspot.com

Voar encantados para o céu – Desenho de arte de autoria


não identificada na fonte pesquisada. Disponível no Portal
Pinterest Brasil - sítio: br.pinterest.com

Seleção:
Editoria da Revista KUKUKAYA Poesias – Literatura & Artes Poéticas:
José Ivam Pinheiro - Editor
abril/2022
KUKUKAYA Poesias - 07
JUNIOR DALBERTO * 30 /10/1959 + 27/10/2020

TE LIBERTO SAUDADES ETERNAS DO AMIGO POETA


Ao saudoso Junior Dalberto (In Memoriam)
Na palavra escrita
Cheio de rimas
Subir aos céus numa pipa voada,
Tu me libertas
com o último Nephilin feito vento,
Entre vírgulas e indagações.
acima de brancas dunas, vencer
Exclamo!
dores, o eterno do encantamento.
Estou livre, posso voar
O Poeta viajou, foi lá no céu viver
Com uma lágrima
a áurea vida na dimensão amada.
Me coloca de volta
Ao solo
Leveza infinita lá no átrio celeste,
Me deixas assim
alma de ser eterno junto de Deus.
solto, desacompanhado
Amigo, o seu legado é flor mística,
A plenitude desse vazio
bela produção literária e artística.
É preencher-me de ti
Certamente é história inconteste,
somente
mesmo se encantando sem adeus.
Feito um poço sem fim
Com mentiras acompanhadas
Agora és estrela celestial e alegria
Feitos dois tão iguais
em divinas flores e poema pronto
Em mundo tão desigual
tal qual sonho feliz de amor no ar.
Não finjo que nada sinto
Na terra, fica cangaço e o carcará,
Tu continuas escrita
blattodea, a saga cariri que conto.
Como uma palavra em fuga
Peça ventre de ostra - pura poesia.
Na minha mente.
JOSÉ IVAM PINHEIRO ------- Homenagem
JUNIOR DALBERTO

PINTO JÚNIOR * 04 /04/1968 + 19/06/2021


PARTIDA

Uma mulher
Um livro
Um café.

Derramada entre linhas


Sorvendo conhecimento
Imóvel
Como em oração.

Imagem rara:
Aroma de café.
Cheiro de livro
Perfume de mulher.

Fechou o livro.
Sorveu o café.
Alheia a olhares.
Partiu! Partida para livre livro - Imagem sem identificação de autoria na
Deixando o local fonte pesquisada. Disponível no sítio: br.pinterest.com, e no sítio:
www.wattpad.com
Uma catedral sem fé.

PINTO JÚNIOR
KUKUKAYA Poesias - 08
ERILEIDE ROCHA * 03/02/1957 + 19/06/2021

BREVIDADE

O epicentro turbulento e quente


Hoje, une, congela
Amanhã, afasta
Nada é definitivo, tudo é finito
Bobagem negar
O jeito é recomeçar
A brevidade mágica do entardecer sempre virá
Com a Luz do Por do Sol - Imagem sem
identificação de autoria na fonte pesquisada.
ERILEIDE ROCHA Disponível no sítio: br.pinterest.com

EDUARDO GOSSON * 01 /06/1959 + 18 /02/2022

CANÇÃO DA BANDINHA DE CARAÚBAS

Canções sinfônicas LEVE


ao amanhecer:
a bandinha interiorana, Para Eduardo Gosson (In Memoriam)
composta de músicas do povo,
toca à janela
para os meus ouvidos O poeta leva as folhas,
cansados. os dias lavados em rascunhos,
os punhos atados às linhas
Toca, toca bandinha! multiformes da lida.
Vem me acordar O poeta leva a história
todas as manhãs dos dias dourados
Pra que eu possa e dos apenas duráveis,
Viver eternamente os pés da aurora no poente.
esse instante fugaz O poeta leva o pulso
da criança que chora
Toca, toca bandinha! sua miríade de sombras
A tua simplicidade, e emboras.
lembrando Carlitos, O poeta louva as luas,
Me comove amores lindos e findos
a par do azul infinito.
Toca, toca bandinha! O poeta e suas loas,
Samba, baião, Hino alma exposta nos saraus,
Nacional, dobrado corpo que transcende as ruas.
Toca, toca no meu coração. O poeta ultrapassa o tempo
e vai leve
EDUARDO GOSSON ao encontro do anjo,
ferido e livre dos anos.

Vá em paz, meu amigo.

ALEXANDRE ABRANTES ------- Homenagem

KUKUKAYA Poesias - 09
OLAVO ATAÍDE * 01 /06/1959 + 18/02/2022

UNS E OUTROS

Uns afastam o cálice,


outros bebem o vinho;
uns vão ao beco sem saída,
outros constroem estradas;
uns vertem tristezas,
outros gargalham nas janelas;
uns calam,
outros juntam palavras,
e jogam nas ruas;
uns vacilam;
outros escrevem nos muros do país;
uns se escondem,
outros viram faróis;
uns se aquietam,
outros dão cambalhotas;
uns separam,
outros amontoam corações;
uns resmungam,
outros fazem poesia;
uns se isolam,
outros batucam tambores;
uns pensam na morte, Viva a Luz da Poesia - Imagem sem identificação de autoria
outros nascem todos os dias. na fonte pesquisada. Disponível no sítio: br.pinterest.com

Somos tantos e tão poucos


para um mundo tão vasto...

OLAVO ATAÍDE

MARIA JOSÉ MAMEDE * 28/03/1932 + 28/07/2021

AOS AMIGOS

Amigos, tive muitos Os da infância, poucos se encontram


Uns que se foram Cantando nossa canção.
Outros ainda o são Outros comigo se abraçam
Os que se foram Corações em meu coração.
Guardei-os no coração Amigos, tenho muitos
Para sempre palpitando Para sempre serão.
Grande é a minha afeição. Guardo-os no baú da vida
Amigos, tenho muitos Com poemas, flores, canções
E para sempre serão. E ainda álbuns com fotos
Não os escolhi, chegaram Sonhos tecidos e afeição.
Envolveram-me em seus corações.
MARIA JOSÉ MAMEDE

KUKUKAYA Poesias - 10
NELSON PATRIOTA * 04 /11/1949 + 06/01/2021

ODE DOS ELEITOS DO AMOR Cadernos de Espantos

Máscara: Uso habitualmente uma


Prefiro pensar que o amor, máscara. Afeiçoei-me de tal modo a ela,
coirmão de ciganos, pândegos e que imago a dificuldade que teria se
saltimbancos tivesse de retirá-la sem mais poder
inclassificáveis, repô-la. Que rosto me esperaria por trás
é de natural infenso a correntes. dessa velha máscara?
Daí que o amor ria dos seus algozes
na imperícia de suas masmorras NELSON PATRIOTA
inexpugnáveis, por suposto, In: Cadernos de Espantos seguido de Vaticínios na
mas onde nunca o amor se demora. Língua do Não. 8 Editora: Natal, RN – Brasil, 2019.

Prefiro pensar que o amor é firme nau sobre a


procela, Vaticínios na Língua do Não
quiçá a mais segura e, como não, a mais rara,
tão rara que há mesmo quem dela duvide, 03. Contra o poema - É raro ouvir de
ou a veja como simples miragem. alguém que desgosta da poesia. Mas há
Aos incrédulos do amor ofereço o meu desdém. muitos leitores que trafegam pelos
Ouso dizer que são em escasso número os que campos elísios da poesia inscientes das
lhe têm acesso. nuanças das cores, dos perfumes e,
Nada obsta, porém, que o amor tenha os seus sobretudo, dos minúsculos seres que
eleitos. os habitam. A dureza da travessia não
Sei de um sobre quem recaiu, de há pouco, a lhes convém, ao que parece. Daí, com
suma graça. mais razão, a vertigem que os acomete.
A esse (e a outros porventura elevados ao seu E a certeza da aporia.
reino),
rendo o meu tributo. NELSON PATRIOTA
In: Cadernos de Espantos seguido de Vaticínios na
NELSON PATRIOTA Língua do Não. 8 Editora: Natal, RN – Brasil, 2019.
In: Livro das Odes. Sol Negro Edições: Natal, RN – Brasil, 2013.

Capa do “Livro das Odes” - Imagem sem


identificação de autoria na fonte pesquisada.
Disponível no Portal da livraria Saraiva - sítio:
https://www.saraiva.com.br

KUKUKAYA Poesias - 11
PEDRO GRILO NETO * 30 /09/1936 + 22/04/2022

TROVAS DE GRILO

No vasto salão do mar,


num perenal movimento,
as ondas de par em par,
bailam nos braços do vento...

Foguetório luminoso
a estrelejar-se, à distância,
faz recordar-me, saudoso, Pinturas da Natal Antiga vista por Pedro Grilo Borratela - Imagem
sem identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no Blog
o SÃO JOÃO da minha infância! VIVICULTURA - sítio: https://vivicultura.blogspot.com

A trova que sintetiza


em seus versos a poesia,
é fonte que se eterniza, DA POESIA PARA O POETA
jorrando sabedoria!

Lá no arcano da saudade, Pedro é nome forte da Bíblia - como pedra!


num refulgente estelar, É o poeta que sempre canta e decanta poesia!
há uma estrela de bondade: É sol luminoso sobre o imenso sombreiro
- É o meu Pai a cintilar! Ou simples boné e chapéu de cangaceiro.
É tênue luar sobre os montes!
Para o negro inda é penosa
a moderna escravidão, Da poesia para o poeta jorram sinfonias e versos lindos!
na senzala indecorosa É Pedro Grilo, com seu estilo único, voz inconfundível,
da soez segregação. Seus gestos displicentes, olhar inteligente e sorriso maroto
Fazendo festa em nossas emoções!
Trago n'alma juventude,
vigor e tagarelice, Fiz esse poemeto sem jeito, estrofes desajeitadas,
vivendo com plenitude Tímidas, sem a ressonância musical do poeta,
minha garrida velhice. Quando declama, canta, encanta, seduz e alumia!

No meu viver, diariamente, Este humilde poema, sem rima, sem beleza,
a náusea que me angustia Como pura explosão de alma,
é a fetidez graveolente Pelo aniversário de Pedro Grilo - festejado e louvado -
que exala da hipocrisia. Vem dizer da Poesia para o Poeta,
Que ele é nosso orgulho, brasão de honra potiguar!
Adoro a mulher ordeira,
amorosa e delicada. Salve! Ao poeta que faz e diz poesia,
Mas, se é megera e grosseira, Que chora, canta, brinca e não sai do tom,
distância desta danada... O tom poético que já mereceu prêmios,
Que fez belos manifestos na terra de MÁRIO QUINTANA,
A nostalgia me alcança Que chegou ao céu, à lua, ao sol, ao vento, aos mares
quando, branda, a tarde cai, Carregado por asas brancas de anjos - poetas!
cravando-me a aguda lança Parabéns, Pedro Grilo, poeta de fina estirpe,
da saudade do meu pai. De ricas mensagens, célebres canções,
Do mais erudito ao mais popular,
PEDRO GRILO NETO OH! Grilo, teu nome é POEMA!
Disponível no Blog Falando de Trova - sítio:
https://falandodetrova.com.br/pedrogrilo. LÚCIA HELENA PEREIRA ------------- Homenagem
Poema escrito em setembro/2010, e dedicado ao amigo Pedro Grilo Neto.

KUKUKAYA Poesias - 12
Por ROBERTO HOMEM*

Tico da Costa – A alegria da sua música no violão e na voz.


Foto de Giovanni Sérgio.

TICO DA COSTA, POTIGUAR E INTERNACIONAL

No dia 13 de novembro de 2021, se ainda estivesse por aqui, Tico da Costa completado
70 anos. Em 29 de agosto próximo, transcorrerão 13 anos que ele partiu. Morreu leve, da mesma
forma como viveu. Pessoa de muita luz, espalhou otimismo, alegria, bondade, fé e esperança.
Cultivou amizades, caprichando no adubo da generosidade e do carinho. Usou a arte para
amplificar o alcance da sua mensagem de paz e amor. Seu veículo principal foi a música –
embora também tenha escrito contos e poesias, além de ter criado histórias infantis que contou
muito para seus filhos Daniel, Lucas e Gabriel. Compôs mais de 2 mil canções. A maior parte
delas permanece inédita. Nos 19 discos que lançou (seis na Itália, seis nos Estados Unidos,
seis no Brasil e um no Paraguai), foram registradas pouco mais de 200 de suas músicas. Deixou
uma caixa com mais de 150 rolos de fotografias, o equivalente a quase 4 mil fotos. Também
fazem parte do acervo 500 fitas – divididas entre cassetes e VHS –, além de partituras. Quem
comanda os esforços para preservar e difundir esse precioso legado é a eterna companheira,
mulher e guardiã da obra de Tico: Sara Beatriz Fracchia Figueiredo. Para isso, conta com o
apoio da família e o de diversos amigos.
Com esse suporte de pessoas afetivamente ligadas ao artista, a colaboração de algumas
instituições e empresas e – mais recentemente – os recursos que têm conseguido captar por
meio da aprovação de projetos em editais, Sara perenizou e até amplificou o nome e a obra de
Tico da Costa. Fez isso organizando tributos com a participação de artistas potiguares e de
outras partes do país e realizando exposições sobre Tico e sua obra. Sob sua coordenação,
também foram editados dois Song books com parte das composições de Tico: “Song book Tico
da Costa - Para filarmônicas” e “Song book Tico da Costa - Choro Suíte”. Em breve será lançado
o “Song book Tico da Costa para Orquestra – Cenas do Rosário”. Na sequência, ainda em fase
de elaboração, virão o “Song book Tico da Costa – Mar” e um outro apenas com músicas
infantis. Também foi filmado e já houve o pré-lançamento do documentário “Curta Tico!”,
dirigido por Heraldo Palmeira, reunindo diversos depoimentos a respeito da vida e da obra de
Tico. Um site para expor parte desse material está em fase de desenvolvimento. Ele ficará
hospedado no site: www.ticodacosta.com.br

KUKUKAYA Poesias - 13
Sara também tem concedido entrevistas para falar a respeito da vida e do legado deixado
por Tico da Costa. Em uma delas – em setembro de 2020, ao programa “Roda de Conversa”, da
TV Tropicana, da Paraíba – ela revelou ao apresentador Kleber Moreira muitos fatos da vida de
Tico. Neste texto, compartilharei algumas das informações que recolhi daquela conversa. Elas
se somarão a diálogos presenciais e por meio da internet que mantive com ele ao longo dos
anos e a fatos e histórias que contou a mim e ao jornalista Costa Júnior, recuperados da
gravação da entrevista que fizemos para o jornal Zona Sul, que antes de encerrar suas
atividades era distribuído em Ponta Negra. A entrevista ocorreu no começo de junho de 2005 e
sua transcrição está disponível no site: www.zonasulnatal.blogspot.com
No dia em que entrevistamos Tico da Costa, chovia forte em Natal, mas eu nem de longe
imaginava que aquele aguaceiro todo poderia ser um sinal da noite fértil que se avizinhava. Lá
do restaurante Veleiros, em Ponta Negra, do amigo Ricardo Menezes, dava para ver os carros
driblando as poças de água maiores, naquela noite de segunda-feira. Foi em um desses
automóveis, um da marca Toyota, que Tico da Costa chegou, esbanjando simpatia, magnetismo
e carisma. Ele usava um blazer por cima da camisa de algodão. Em pouco tempo, a história que
contou nos fez perder a noção de espaço e de tempo, tão saborosa quanto os pratos que saíam
da cozinha do Veleiros, que infelizmente fechou suas portas há alguns anos. Eu não conhecia
esse compositor talentoso e artista tão importante, o mais internacional da música potiguar.

My Name Is Tico – Foto que ilustra a entrevista do artista ao Jornalista Roberto Homem do
Jornal Zona Sul Natal, em 30 de junho de 2005. Foto sem identificação de autoria, estando a foto e
a entrevista supracitada disponível no sítio: zonasulnatal.blogspot.com

Naquela ocasião, eu estava de férias em Natal. Fazia sete anos que me mudara para
Brasília, cidade na qual vivo até hoje. Nossos destinos, até então, não haviam se cruzado.
Francisco das Chagas da Costa, o Tico da Costa, residiu em Natal entre os anos de 1966 e 1970.
Eu era criança, nesse tempo. Antes disso, na Areia Branca onde nasceu – naquele ambiente de
praia, pescaria, salinas, futebol e outras brincadeiras – seus colegas o tratavam por Titico de
Dijesu. Dijesu Paula era o pai, carteiro que gostava de tocar violão e narrar causos. Ele
entregava uma carta e contava uma piada. Certo dia, uma das oito irmãs de Tico, Dedezinha, foi
presenteada com um violão. Ela não se interessou. Mas os oito filhos homens de seu Dijesu –
que morreu em 1992 – passaram a fazer fila para tentar aprender a tirar som daquele
instrumento. O mais velho, Getúlio, se tornou aluno de um professor que estudava violão
clássico por correspondência.

KUKUKAYA Poesias - 14
Todos os filhos homens de Seu Dijesu e Dona Chaguinha – ela faleceu em 2010 –
aprenderam a tocar violão. Inclusive, cinco deles integraram um grupo que, apesar de ter
durado pouquíssimo tempo, fez shows em Natal e Pedro Velho. Os “Cinco da Costa Branca”
era formado por Tico da Costa, Paula Neto, Pedro Paulo, Antônio José e João Salinas. Chegou
a ser cogitada a possibilidade de gravação de um disco, mas a ideia não vingou. Mesmo assim,
ainda existem registros de algumas músicas em fita cassete. Uma das canções do repertório
dos cinco irmãos era “Pé de Cajarana”, que Tico compôs incorporando alguns versos de autoria
do seu pai: “Eu nessa vida já vi coisa engraçada/ Caranguejo com pescoço, muriçoca afinada/
Doce de sal, galinha com dor de dente/ Galo ciscando pra frente, bode velho usar loção/ Um
jacaré dormindo em cima de um poleiro/ Gago falando ligeiro, transmitindo o futebol”.

Família Costa, incluindo o seu pai e sua mãe, irmãs e Seu Dijesu e Dona Chaguinha, pais do artista Tico da
irmãos e Tico da Costa, sentado à esquerda com roupas Costa – Foto do acervo da família do artista, sem identificação
escuras e tênis branco – Foto do acervo da família do artista, de autoria na fonte pesquisada.
sem identificação de autoria na fonte pesquisada.

Quem também foi fonte de inspiração – junto com o pai e os irmãos – para Tico da Costa
aprender a tocar violão foi o ilustre compositor areia-branquense, hoje radicado em Natal,
Mirabô Dantas. Quando se mudou para a capital, com 15 anos de idade, para estudar na então
Escola Industrial Federal do Rio Grande do Norte (que depois virou ETFRN, CEFET-RN e hoje é
IFRN), Tico não raramente deixou os livros de lado para participar de festivais e se envolver
com a música. Ele já compunha desde os 13, quando conseguiu aprender seus quatro
primeiros acordes. Os estudos pouco a pouco foram ficando em segundo plano. Tico gostava
mesmo era de cantar. Em seu repertório, sucessos de Jerry Adriani, Roberto Carlos e muito iê-
iê-iê. Além de algumas autorais. Certa ocasião, quando foi acertar sua participação em um
programa da Rádio Cabugí – produzido por Jota Belmont e transmitido direto da Lagoa Manoel
Felipe – teve que trocar de nome para poder se apresentar. Belmont foi irredutível: “Titico? De
jeito nenhum. Seu nome vai ser Luís Augusto!”. Sim, naquela época Tico ainda era Titico.
Conto mais na frente como se deu a troca definitiva de nome. O fato é que durante algum tempo,
Tico adotou o nome artístico de Luís Augusto. Nenhum registro do “Tico Luís Augusto”
sobreviveu ao tempo. Nem cartazes de apresentações, textos de jornais, nada...”.
Na Escola Industrial, Tico conheceu a professora Maria de Lourdes Guilherme Filgueira,
responsável pela disciplina de canto orfeônico. Anos depois, em homenagem a ela, o coral da
ETFRN passou a se chamar Lourdes Guilherme. Quando ouviu algumas composições do jovem
talento, a professora conseguiu para ele uma bolsa na Escola de Música da UFRN. Detalhe: as
vagas para violão já estavam todas preenchidas, e lá foi Tico estudar contrabaixo, a
contragosto. Posteriormente, conseguiu transferência para Recife e foi estudar violão clássico
no Conservatório Pernambucano de Música. Lá, ele ingressou no conjunto Gen (geração nova)
Cântico Novo, do Movimento dos Focolares (inicialmente ligado à igreja católica, fundado em
1943, na Itália, mas que hoje é ecumênico) e fez shows em todo o Nordeste. Essa aproximação
se tornaria, futuramente, seu passaporte para ir à Europa.

KUKUKAYA Poesias - 15
CONQUISTANDO O MUNDO

Porém, antes de preparar as malas para cruzar o Atlântico, outra experiência o


aproximou do Velho Mundo. Certa ocasião, um artista plástico italiano agendou uma exposição
em Recife. A mostra tinha 21 telas. Tico gostou e sugeriu ao pintor transformar o evento em
uma exposição-show. Cada pintura seria fotografada em slide e projetada na parede, enquanto
Tico cantava músicas específicas para cada obra. Jogada de marketing para facilitar as vendas
e, de quebra, divulgar o lado compositor do músico potiguar. O italiano aprovou e, na mesma
hora, coisa de sete da noite, Tico começou a trabalhar nas letras e melodias. Cerca de quatro
horas depois, as 21 canções estavam prontas. Foi um sucesso. Todos os quadros foram
vendidos, o que rendeu um convite a Tico para repetir a experiência em Milão, quando fosse à
Europa.
E a oportunidade não demorou a aparecer. Em 1972, Tico, aos 21 anos, foi a Roma
participar de um congresso internacional de jovens ligados ao Movimento Gen. A estadia
prevista de um mês foi se estendendo e ele permaneceu por quase meio ano. No período, cantou
e tocou muito, além de ter gravado três compactos por uma editora chamada Città Nuova:
“Cantico nuovo”, “Città colorata” e “I complimenti”. O repertório, autoral, foi traduzido pelo
produtor dos discos. Tico foi, inclusive, tema de reportagem de várias páginas da revista da
gravadora, com direito a fotografia e chamada na capa. Aquele menino de Areia Branca – cujo
primeiro show foi realizado em Grossos (RN) e o segundo registrou a incrível marca de zero
espectador – tinha conseguido, enfim, encontrar o seu caminho. Nessa primeira incursão na
Europa, Tico repetiu com o pintor italiano o sucesso das exposições de artes plásticas com
trilha sonora composta pelo potiguar.
Retornando a Recife, Tico foi aprovado no vestibular para Letras e ingressou na
Universidade Federal de Pernambuco. A intenção era a de estudar literatura e construir um
alicerce cultural que facilitasse desenvolver sua vocação de compositor. Porém, como ele não
pretendia ser professor, considerou o currículo fraco e paulatinamente foi perdendo o interesse
pelas aulas. Mesmo assim, ainda permaneceu durante dois anos. Em agosto de 1974, trancou
matrícula e aproveitou a oportunidade de voltar para a Itália. O plano era passar seis meses por
lá. Ficou quase dez anos. Continuou os estudos de violão no Conservatório Santa Cecília, em
Roma. Em 1976, gravou seu primeiro elepê – “Poesia... e samba” – reunindo canções autorais
em italiano e português. Estão nesse disco, também lançado pela editora Città Nuova, faixas
como “Coragem”, “Una canzone per te” e “A tábua”. O detalhe é que tanto nesse primeiro elepê,
como nos três compactos anteriores, ele utilizou o nome Titico.
De férias em Natal, em 1977, fez show no Teatro Alberto Maranhão. Dois de seus irmãos
participaram do espetáculo: Pedro Paulo e João Salinas, que tinha apenas nove anos de idade.
Além de fazer os vocais com Pedro Paulo, João tocou uma composição própria chamada
“Construção”. Foi a estreia do novo prodígio da família do seu Dijesu, o único que nasceu em
Natal. De volta a Roma, continuou sua maratona de apresentações. Paralelo aos shows, foi
convidado pela Embaixada Brasileira para ministrar aulas de violão, baseadas na MPB. Foi
quando conheceu Sara Fracchia, sua futura esposa. Ela já possuía em sua discoteca os três
compactos e o álbum que até então ele tinha gravado. Amigos comuns a haviam apresentando
à obra do potiguar. Nascida em Assunção, filha de mãe carioca de família de nordestinos e de
pai paraguaio descendente de italianos, Sara passou parte da infância no Paraguai, até todos
migrarem para a Itália. Começaram a namorar em 1980 e não se largaram mais. Tico a
considerava a melhor aluna que teve em sua vida. Na sua avaliação, Sara poderia ter exercido
qualquer função no mundo artístico: dançarina, violonista, cantora...
Ainda como namorados, fizeram uma viagem pela Itália acompanhados pelo casal Caribé
e Nancy. Tico, que ainda era Titico, conheceu o artista plástico baiano-argentino no Brasil.
Percorrendo terras italianas, visitaram muitos museus, em um verdadeiro banho de cultura.
Pouco tempo depois, Caribé escreveu uma carta, dizendo que tinha um assunto muito delicado
para tratar com Tico. Ele foi taxativo ao opinar que o nome artístico – Titico – não funcionaria.

KUKUKAYA Poesias - 16
Tico da Costa e sua amada esposa Sara Fracchia – Foto Álbuns de Tico da Costa – Foto do acervo da família do
do acervo da família do artista, sem identificação de autoria na artista, sem identificação de autoria na fonte pesquisada.
fonte pesquisada.

O argumento definitivo foi a profecia de que, após o casamento com Sara, ela corria o risco de
ser chamada de “senhora Titica”. Tico, a princípio resolveu trocar Titico por Chico da Costa.
Não vingou, porque seria ofuscado por outro Chico, o Buarque, que já estava fazendo sucesso.
Pensou, então, em Francisco da Costa, mas considerou muito clássico. Por fim, optou por
simplificar o Titico para Tico da Costa.
Já com o novo nome – embora não totalmente convicto de que tinha feito a melhor
escolha – Tico conheceu a cineasta italiana Lina Wertmüller, que depois de ter sido assistente
de direção de Fellini nos clássicos “A doce vida” (1960) e “Oito e Meio” (1963), dirigiu seus
próprios filmes. Lina, por sinal, recebeu, em 2019, um Oscar honorário por sua “excepcional
contribuição às artes e ciências cinematográficas”. Mas, naquela ocasião, ela havia adquirido
os direitos de levar para o cinema a obra “Tieta do Agreste”, de Jorge Amado. Cláudia Ohana
faria o papel da protagonista jovem, enquanto Sophia Loren estrelaria o filme. A convite de Lina,
Tico compôs a trilha sonora. Ele também faria uma ponta, representando um cantor tocando
em um bar, com a presença de Sophia Loren. Algumas locações foram realizadas na Itália e no
Brasil. Porém, em 1982, o Banco Ambrosiano, que financiaria o projeto, se envolveu em um
grande escândalo financeiro e faliu. O presidente da instituição, Roberto Calvi, que havia
negociado o acordo, foi encontrado enforcado. Sem o dinheiro previsto, o filme foi abandonado.
De volta à América – Se por um lado o projeto “Tieta” rendeu uma grande frustração a
Tico, por outro, a aproximação com Lina Wertmüller – sobretudo o convite para compor a trilha
sonora de um filme da cineasta – deu projeção ao potiguar e abriu portas no mercado norte-
americano. Devido a essa notoriedade, ele realizou sua primeira turnê de dois meses nos
Estados Unidos. Na bagagem, levou o seu segundo elepê – gravado na Itália, no Folk Studio,
em 1982 – “Brasil Jerimum”. O disco incluía “Ana Bandolim”, “Pé de cajarana”,
“Pernambucadíssimo” e “Um ponto embaixo, um ponto em cima”, entre outras. Mas o naufrágio
de “Tieta” apressou o retorno de Tico ao Brasil. Sara já havia decidido morar no Rio de Janeiro,
para cursar Letras na Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ). Tico foi ao seu encontro. Na
Cidade Maravilhosa, casaram e tiveram o primeiro filho, Daniel Fracchia da Costa. Em 1983, em
uma temporada em Natal, gravou o elepê “América Latente”, lançado pelo Projeto Memória, da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O disco incluiu músicas como “Lagartixa”,
“Ridinha”, “Durango tango” e “Lua pheia”. Sediado no Rio, Tico continuou viajando para
apresentações na Europa e Estados Unidos.

Cartazes de alguns dos shows de Tico da Costa – Fotos do acervo


da família do artista, sem identificação de autoria na fonte pesquisada.

KUKUKAYA Poesias - 17
Em uma das turnês norte-americanas, Tico da Costa foi apresentado pelo músico
argentino radicado em Nova York, Bernardo Palombo, a Pete Seeger, que é o esteio da música
folk. De sua obra, beberam, por exemplo, Bob Dylan e Joan Baez. Além de artista, ele era
ativista político, pacifista e ambientalista. Uma figura lendária nos Estados Unidos. Se
apaixonou tanto pela obra de Tico, que classificou a música “Ana Bandolim” como a mais
bonita do século XX e a incluiu em seu repertório. A letra foi adaptada para o inglês e o espanhol
por Bernardo Palombo e se transformou em uma canção pacifista: “Ana Ocarina”. Pete Seeger
e Tico dividiram o palco quatro vezes, sendo três nos Estados Unidos e uma no Paraguai.

Tico da Costa e Pete Seeger – A amizade e a parceria em shows


nos Estados Unidos e Paraguai. Foto do acervo pessoal da família
de Tico da Costa, disponível na rede social Facebook na página “TICO
DA COSTA” e na página “PETE SEEGER Appreciation Page.

Sobre Pete Seeger, é bom acrescentar que ele foi decisivo para solidificar a escolha do
nome Tico da Costa. Embora a decisão já tivesse sido tomada, Tico só teve a absoluta certeza
de que havia feito a opção certa no dia em que recebeu um cartão de Pete. Ele continha uma
imagem em preto e branco da Via Láctea, com um pontinho minúsculo e uma seta apontando a
terra e a frase: “We are here” (nós estamos aqui). Depois de observar bem, Tico concluiu: “a
terra não é mais do que a metade de um tico!”. Se a própria terra representa um cisco diante da
grandeza da Via Láctea, que, por sua vez, é apenas um pequeno ponto na imensidão do
universo, Tico compreendeu que nós também podemos ser grandes em nossas
individualidades e talentos, embora infinitamente pequenos em outras comparações.
Bernardo Palombo foi também quem colocou Tico em contato com Philip Glass. O
compositor norte-americano é uma das figuras mais influentes da segunda metade do século
passado. É considerado o papa do minimalismo. Foi três vezes indicado para receber o Oscar
de melhor trilha sonora original, mas não levou a estatueta para casa. Ele queria vir ao Brasil
fazer anotações e pesquisas para o próximo filme que iria musicar, Pawaqatsi. Palombo sugeriu
que Tico fosse o cicerone. Houve química entre os dois. Philip ficou impressionado com a
desenvoltura, a sofisticação e a simplicidade de Tico tocar violão e com a qualidade de suas
composições. Eles viajaram até o Amazonas, conheceram a floresta... Se comunicavam em
francês, pois até essa época, 1984, Tico sentia ojeriza pela língua inglesa. Na volta ao Rio, Philip
pediu para conhecer mais algumas canções de Tico. “Ana Bandolim” foi a que mais o deixou
encantado. Surgia aí uma sólida amizade. Tão grande que Tico tinha a chave da casa do
americano em Nova York e se hospedou lá todas as vezes em que esteve na cidade, durante 20
anos. Philip também dividiu várias vezes o palco com Tico e participou de seus discos
“Lagartixa” e “Mar”.
Um novo estágio na carreira de Tico se deu quando, em 1990, ele lançou nos Estados
Unidos o álbum “Brazil Encanto”, pela editora Music of the World. Faixas como “Puxa vida”,
“Vou na onda do mar” e “Pés no chão” tiveram ótima aceitação. Porém, o principal cartão de
visitas foi a regravação de “Ana Bandolim”, que já havia sido incluída no álbum italiano de 1982.
Em 1992, ele participou da coletânea “Musica de la Tierra”, também gravada pelo selo norte-
americano Music of the World. Tico canta duas músicas: “Ridinha” e “Puxa puxa”. No mesmo
ano, sua canção “Ana Bandolim” foi incluída na coletânea “Contemporary Global Voices”, da
mesma gravadora, e, em 1992, no disco “Relaxing World Music”, do selo World Rhythm.

KUKUKAYA Poesias - 18
Depois de oito anos sediado no Rio de Janeiro, incomodados com a violência que atingia
a cidade, surgiu a oportunidade de Tico se mudar com a família para Assunção. Os pais de Sara
haviam voltado para o Paraguai e ela conseguiu transferência para continuar exercendo na
capital paraguaia a consultoria que prestava para a Organização das Nações Unidas. De lá, Tico
continuou esquadrinhando o mundo para levar sua arte. Em 1996, ele se apresentou no Brazil
New York Jazz Festival, junto com artistas como João Bosco, Toninho Horta, Paquito D’Rivera,
John Patitucci e Arthur Maia. No ano seguinte, voltou ao Brasil para dar uma entrevista ao
programa Jô Soares Onze e Meia. Mesmo ano em que lançou, no Paraguai, um disco com o
popular saxofonista daquele país, Palito Miranda. “Com sabor a Brasil”, do selo Blue Caps,
reúne grandes sucessos da música brasileira, como “Chega de saudade” e “Brasileirinho”, mas
inclui também canções de Tico, entre elas “Estrelas, estrelas, estrelas” e “Flor, florzinha”.
Nos 12 anos em que moraram no Paraguai, Sara e Tico tiveram seus dois outros filhos:
Lucas da Costa Fracchia e Gabriel da Costa Fracchia. Tico nunca deixou de ir, sempre que
possível, a países europeus como Itália, Espanha, França e Alemanha, além dos Estados
Unidos, para fazer seus shows. Em 2000, gravou pela Basement Front Records, em Nova York,
um disco instrumental de chorinhos chamado “Choro Suite”, com a participação de Palito
Miranda e do maestro Olivier Glissant. Entre outras, inclui “Cabeça d’alho”, “Carrapato não tem
pai” e “Ela escondeu meu sax”. Em julho de 2001, Sara e Tico fizeram uma viagem para procurar
apartamento em Nova York. A ideia era providenciar a mudança no final daquele ano. Depois
de visitarem algumas opções para a futura moradia, Sara voltou para Assunção e Tico ficou em
NYC gravando as canções do disco “Lagartixa”. Foi quando chegou o 11 de setembro de 2001.
Do 22º andar do prédio onde ficava o estúdio no qual gravava seu disco, do outro lado
do Rio Hudson, Tico da Costa soube da notícia de um incêndio em uma das torres do World
Trade Center. Passaram a acompanhar pela janela a tragédia, quando o segundo avião se
chocou contra a Torre Norte. Todos ficaram chocados quando o complexo desabou. Aquele
atentado fez ruir também os planos que Tico tinha. O irônico é que, meses antes, ele tinha feito
um show no 105º andar do WTC. Ele também já havia se apresentado entre as torres, com Philip
Glass. As cartas que Philip tinha enviado para produtores de diversas partes do mundo, entre
eles Roberto Menescal, falando sobre o CD “Lagartixa”, perderam a força. O contrato com a
Sony Paris para distribuir o disco também perdeu a validade. Depois do 11 de setembro, todos
os negócios pararam. Se tornou inviável, também, a mudança da família de Assunção para Nova
York.

A ÚLTIMA MORADIA

Por fim, depois de quatro anos em Recife, nove em Roma, oito no Rio e 12 em Assunção,
Tico da Costa voltou a morar em Natal, em 2003. Antes, por sugestão do pianista costa-riquenho
Manuel Obregon, cogitou se mudar para a Costa Rica. Tudo parecia perfeito: banhado pelos
oceanos Atlântico e Pacífico, mais próximo da Europa e dos Estados Unidos, natureza
exuberante... Porém, quando Tico ouviu um barulho e soube que era uma erupção, e que o país
possuía sete vulcões ativos e mais de uma centena de inativos, e que em média há 6.500
pequenos tremores de terra por ano, ele desistiu da ideia. Em Natal, Tico não perdeu tempo.
Mal chegou, já entrou em estúdio e gravou o disco “Anjo das selvas”, que reúne alguns de seus
principais sucessos, como “Os cumprimentos”, “Mosquitinho”, “Puxa vida” e “Carrim baião”,
entre outros. Philip Glass toca piano em “Ana Bandolim”. Em 2005, lançou “Ideal 1” em Natal e
“Lagartixa”, nos Estados Unidos. “Ideal 1” é um trabalho no qual Tico trata de sua relação com
Deus. Tem lindas músicas, como “A tábua”, “Na dor te encontrei” e “Minha vida te dou”.
“Lagartixa”, que havia sido gravado em 2001, quando as torres gêmeas desabaram, além da
faixa-título, tem outras canções de destaque como “Carrim baião”, “Coragem” e uma
regravação de “Ana Bandolim”, com a participação de Philip Glass, que também toca piano em
“Rodando ciranda”.

KUKUKAYA Poesias - 19
Em 2006, Tico retornou a Nova York para um show na renomada casa de espetáculos
Blue Note Jazz Club. O espetáculo recebeu críticas favoráveis, inclusive do The New York
Times. Em 2008, gravou um show especial com canções autorais e sucessos de Bossa Nova
para a TV Senado, em Brasília. Em 2009, lançou, em Natal, o disco “Chiara”, que trouxe entre
as principais faixas “Se eu tivesse minha mãe”, “Pé de cajarana” e “Per Chiara”, que ele compôs
em homenagem a Chiara Lubich, a fundadora do Movimento dos Focolares. Antes de viajar para
lançar o disco “Mar” na Itália, ele deixou praticamente pronto “Canção de Natal e outras
cantigas” e “Cenas de Rosário”, este último com canções feitas a partir de poemas do jurista
Ives Gandra da Silva Martins.
No dia 28 de junho de 2009, Tico embarcou para a Itália. Seriam dois meses de turnê
divulgando o disco “Mar”, gravado em Trento, no Studio LOL Production. Seu primeiro show
estava agendado para o dia 3 de julho, justamente em Trento. Ao invés de ficar marcado como
o primeiro da turnê, se transformou no último da carreira de Tico. Ele e a banda se apresentaram
todos vestidos de branco. O concerto foi dedicado aos três trentinos que estavam entre os
passageiros do Airbus A330 da Air France, que havia caído poucos dias antes, durante viagem
do Rio de Janeiro para Paris. A próxima apresentação seria em Roma. No roteiro, entre outros,
shows na Sicília, Madri e Barcelona. Tico também participaria de pré-produção de um
documentário de 52 minutos que uma emissora de TV russa faria sobre ele. As filmagens seriam
em Natal, Areia Branca, Nova York, Rio de Janeiro, Recife, Assunção e Roma, as cidades onde
viveu. Os patrocinadores eram dos Estados Unidos.
No intervalo do primeiro para o segundo show da turnê, Tico da Costa foi para Padova.
Enquanto tocava violão, sozinho, sentiu um tremor grande em seu braço esquerdo. Lembrando
dos antecedentes cardíacos da família, procurou um hospital. Depois de muitos exames, os
médicos pediram uma tomografia do abdômen. O câncer já tinha tomado o pâncreas. Ele foi
transferido para Verona, onde sua cunhada residia com o marido. Sara foi avisada pela irmã.
Ficou sabendo que Tico estava com um problema de certa gravidade, que ela deveria ir para a
Itália. Somente quando chegou em Verona, tomou conhecimento da gravidade. Quando Tico
soube, pelos médicos, de sua situação, comportou-se com uma coragem e dignidade poucas
vezes vistas. “Seja o que Deus quiser. O que Deus quiser, me faz feliz de qualquer jeito. Se ele
quer que eu fique aqui na terra, ele vai operar um milagre. Se ele não quer que eu fique, ele me
leva, e eu também ficarei feliz”.
No voo de volta que o estava trazendo para Natal, Tico disse a Sara que quando chegasse
em casa, começaria a passar para partitura as músicas mais antigas que compôs, quando tinha
entre 12 e 13 anos. Não conseguiu completar a tarefa. Em menos de cinco dias, sentiu-se mal
e foi hospitalizado. A internação durou um mês. Estava prevista a sua volta para casa. Foi feita
uma reforma para adaptar um ambiente para que ele pudesse passar seus últimos momentos
cercado pelo amor da família. Porém, houve um problema na entrega de um equipamento de
oxigênio hospitalar. Seria em uma sexta-feira, foi adiada para a segunda. No sábado, dia 29 de
agosto de 2009 (data na qual estava previsto o seu retorno da turnê italiana) Tico da Costa
partiu. Os CDs “Canção de Natal e outras cantigas”, que tem algumas parcerias com Diógenes
da Cunha Lima e “Cenas de Rosário” foram lançados postumamente em 2009, por meio da
Academia Norte-Rio-Grandense de Letras. Em 2019, o produtor de Tico, Olivier Glissant,
relançou “Choro Suíte” com outra capa, substituindo alguns chorinhos da versão original por
quatro músicas cantadas. O maestro planeja relançar também o CD “Lagartixa” e lançar
“Travessa dos Calafates”, com várias gravações inéditas.

* O jornalista ROBERTO HOMEM nasceu em Currais Novos - RN, morou em Natal


- RN e há mais de vinte anos mora em Brasília. É Poeta, Cantor e Compositor
musical, sendo que também se registra, com muito talento, diga-se de
passagem, como produtor das palavras.

** Agradecimentos especiais a Sara Fracchia e família de Tico da Costa, pelo fornecimento de fotos do acervo da família, bem como informações relevantes
para a elaboração e ilustrações na edição do presente artigo.

KUKUKAYA Poesias -20


Seleção de poemas e músicas: José Ivam Pinheiro
Colaboração e sugestões: Sara Fracchia

Tico da Costa – A alegria da música e poesia, e violão como


companhia na sua volta ao mundo. Foto Kent H.

KUKUKAYA Poesias - 21
CHORINHO DO MEU CORAÇÃO

Meu Deus do céu, este vazio de tudo


Me enche de nada e me deixa mudo
Meu Deus do céu, por favor me livrai
Dos enlaces da morte e dos enfeixes que traz
Esta saudade de um amor já desfeito
Esta falta de ar sufocando meu peito
Porque já estava seguro de mim
E isto foi o meu fim antes de começar
Fui me encantando num feitiço infernal
Nas entranhas de um lobo muito mal

Este chorinho é pra chamar meu amor


Pra salvar dos espinhos minha flor
Cartaz do Show do Projeto Seis & Meia:
Este chorinho é pra estancar minha dor EDNARDO & TICO DA COSTA. Foto sem
Pra invocar o meu santo protetor identificação de autoria, e do acervo da família
de Tico da Costa.
Meu Deus do céu, não recuse este choro
Arremate esta angústia, este pranto em coro
Meu Deus do céu, me ajude a sanar
As feridas que abri com o meu desamar
Fiz um chorinho do meu coração
Pra servir de lição pra quem nunca aprendeu
Que nas andanças por mistérios da vida
A gente tem que lembrar de esquecer
De morrer pra viver, de não ser para ser
De cobrir pra poder crer

Que esta inconstância, constante aflição


Que o deserto infinito desse coração
Vai se afogar no mar de amor que a gente inflama
A gente enche, a gente chama, a gente ama pra valer

É quando então meu choro vira um sorriso


E o cavaquinho meu amigo vai mudar de profissão
Meu violão, meu violão vai cantar forte, sem problemas
De censura, de sistemas, de torturas, de paixão.

*Poema musicado por TICO DA COSTA.

Cartaz do Curta Tico: um tiquinho da


história de TICO DA COSTA – Filme de
Heraldo Palmeira e Produção de Sara
Fracchia. Foto sem identificação de autoria, e do
acervo da família de Tico da Costa.

KUKUKAYA Poesias - 22
RODANDO CIRANDA

Xinguelê xinguelê xinguelê xinguelê

Roda ciranda roda meu amor


Ciranda roda roda meu amor

Minha ciranda tem


Nos olhos dois brilhantes
Relampejando os olhos meus de
paixão
Rodando a saia rodando a praia
Eu fico tonto tonto tonto de paixão
Tico da Costa e o seu precioso violão no ombro.
Foto de Giovanni Sérgio.
Rodando a saia rodando a praia
Eu caio caio dentro do seu coração

PUXA VIDA Roda ciranda roda meu amor


Ciranda roda roda meu amor
Ciranda roda roda meu amor
Puxa vida, puxa vida, Cirandinha
Puxa vida, puxa vida Ciranda roda roda meu amor
Puxa vida, Coisa linda
Puxa... Ciranda roda roda meu amor
Ciranda roda roda meu amor
Por você
Faço até coisa que detesto: from Lagartixa, released October 7, 2017
Lavo prato, passo à ferro, Tico da Costa: lead vocal, acoustic guitar
Beijo o gato, desinfeto, Olivier Glissant: piano (in the style of Philp Glass),
Dou um jeito na tomada, accordion
Levo um choque, fico em casa Ana Taglianetti: backup vocals
Ali Bello: violin
Ainda por cima de tudo,
Nanny Assis: drums
Vou ao supermercado
Odeio carregar saco, que saco! .
Qual é meu pecado?
Me diga, me diga, me diga!
É te amar demais
Demais, sou feliz assim
Eu quero rosa com espinho
Por teu amor deixei de aMargarida,
Madalena, Aparecida,
Amor, deixei de aMargarida,
Madalena, amor deixei de amar...

from Lagartixa, released October 7, 2017


Tico da Costa: lead vocal, acoustic guitar
Olivier Glissant: piano, backup vocals
Ana Taglianetti: backup vocals
Nanny Assis: drums, backup vocals
Nilson Matta: bass
Capa do álbum LAGARTIXA de Tico da Costa*. Disponível
.
no sítio: ticodacosta.bandcamp.com/album/lagartixa. Foto
de Eleonora Alberto - Projeto de Design: Olivier Glissant.

KUKUKAYA Poesias - 23
FERMATA COMPLEXO DE CAVACO

Fui na janela Eu não sei por que diacho


E disse em lá bemol menor: Ninguém liga o cavaquinho
(Mas, assim tão em surdina, Se tem violão por perto
Que nem a aranha pequenina me escutou) Ninguém liga pro bichinho
- Vem cá,
Vem cá, Ele fica lá num canto
Vem cá, Meu Deus. Fica remoendo suas dores
E senti que Deus veio Violão, baixo e viola
Pra saber o que era. Cavaquinho cai num choro
Não era nada não.
Era só o prazer da companhia. Chegou a hora
O tempo ficou sem sentidos, E o cavaquinho se zangou
O mundo fora desmaiou Falou pro surdo
Só com o tom dessa conversa; Berimbau e agôgô
Meu espírito revoou Que são cobrões na capoeira
Além da janela e do mundo. E o anãozinho
Vaguei séculos num segundo Imaginou-se um cavacão
No amor Desafiou, desafiou
No amor Desafinando o violão
No amor.
Aí então,
Desceram todos pro terreiro
Rovereto (Itália), 20/abril/2006. O reco-reco com o pandeiro
*Poema não musicado. A fazer a marcação.
O cavaquinho,
O cavaquinho foi chorando já na praça
O violão sambou sem graça
E foi dizendo: amigão...
PEDRAS DO CAMINHO Mas, que é isso?
Mas, que é isso...
Que entre a gente não tem briga...
Hoje alguém falou de ti Eu preciso do seu choro
Com palavras tão lindas e eu redescobri: E você do meu bordão.
No teu silencio profundo
Eu quis fugir do mundo, pra me encontrar em ti. 1 - YOU TUBE – Canal TICO DA COSTA
Projeto CHORO DO CAÇUÁ – Choro Virtual -16/03/2021
A minh'alma almejava https://youtu.be/8HdHKGerb5I
Desejos infinitos, com sede de amor.
E assim eu fui vagando, 2 - from Lagartixa, released October 7, 2017
Na firme esperança de um dia te encontrar. Tico da Costa: lead vocal, acoustic guitar
De te encontrar, de te encontrar. Davi VIeira: tamborim, shaker
Carlos Rengifo: bass
Mas as pedras do caminho
Faziam-me parar, mesmo se eu te amava. PEDRAS DO CAMINHO por TICO DA COSTA
E o teu vento, dentro em mim, 1 - Ouça agora na #Deezer.
Soprava na minh'alma que eu devia andar. https://deezer.page.link/XDEMoKRQcWt5truA6
Devia andar, devia andar.
2 - Ouça agora na #Spotify.
Ô, ô… Ô, ô… eeein... eeein... Ô, ô… https://open.spotify.com/search/Tico%20da%20
Costa

KUKUKAYA Poesias - 24
Por Gutenberg Costa*

Tico da Costa, o mais internacional dos


artistas potiguares - Foto de Giovanni Sérgio.

Dia desses meu amigo poeta e agitador cultural José Ivam Pinheiro – editor da revista
virtual “KUKUKAYA Poesias”, em conversas via áudio do zap, único meio de comunicação que
chega aqui no meu isolamento ou como alguns dizem, meu ‘paraíso’. E lá pras tantas, o referido
me sapeca a pergunta: “Amigo Gutenberg, você conheceu o artista Tico da Costa?”. Indagação
que respondi afirmativamente e lhe contei algumas passagens vividas, como parte dessa
amizade ‘ticostiana’, a qual, infelizmente, não durou como deveria durar as boas irmandades.
Amigo é aquele que não foi gerado no ventre de nossa genitora, mas a gente sente que veio
para o seio familiar mesmo. É uma escolha do coração livre, sem pressão, subserviência ou
interesses algum.
Tico da Costa me foi apresentado ou apadrinhado, como costumo me referir, pelo mestre
e amigo folclorista Deífilo Gurgel, com louvores de conterrâneo da cidade de Areia Branca:
“Gutenberg, este é o amigo Tico da Costa, um artista famoso além do Brasil....”. E dando
prosseguimento as conversas na área frontal da casa de Deífilo, vimos em pouco tempo que
morávamos na mesma região da Zona Sul de Natal, portanto, estavam facilitadas as futuras
visitas em minha casa, além de encontros em bares e restaurantes das proximidades.
A partir de então, ele chegava, mesmo sem agendar nada em minha morada, com seu
automóvel e o inseparável violão. Dizem que coisa muito acertada nem sempre vai dar certo!
Às vezes, chegava e ficava sentado em uma das cadeiras que já estavam em minha área à
espera de amigos e prosas. Pegava o violão e com plena liberdade, começava a cantarolar suas
próprias composições alegres e emotivas.
Não é pecado dizer que ali estava criado um clima de amizade e bebedeira, que ninguém
é de ferro e não se resiste a uma boa música e conversas culturais sobre tudo. Ele ia nos
intervalos musicais, contando suas aventuras quixotescas pelo mundo quase todo em que já
viajara, morara ou vivera artisticamente. Todo mundo lá de casa sabia que ali não haveria
vassoura atrás da porta e o ilustre visitante e famoso cantor/compositor, não tinha hora para
sair de minha casa. Dizem que tapera de amigo é continuidade de nosso chão. Aprendi com
minha mãe, dona Estela, a arte de bem conviver e prezar aqueles que também me recebem bem
em seus terreiros.

KUKUKAYA Poesias - 25
Algumas vezes, dizia-me com lágrimas nos olhos claros que voltaria para a Europa,
aonde era muitíssimo respeitado como artista-músico. Seu coração tão generoso estava
fincado entre Areia Branca e Natal, mas como todo irrequieto aciganado, tinha os pés no oco
do mundo. Uma noite, o mesmo aportou alegre com um presente para mim debaixo do braço.
Um disco vinil seu com uma gentil dedicatória. As boas surpresas são reservadas aos bons
amigos e amigas. Sempre aprontam uma, quase nos matando do coração. A arte divina do bem
querer, como afirmam os poetas e líricos.

Tico da Costa e o violão junto do seu talento musical para


bem compor e cantar - Foto de Luis Fracchia.

O Tico era um tipo com cabelos alongados e claros, olhos pequenos e vibrantes. Sorriso
largo e fácil nas gargalhadas. Magro e de bom humor como um daqueles santos personagens
de romances medievais. Sinto que as pessoas especiais que nos rodeiam, como verdadeiros
amigos ou irmãos, até parecem que não são criaturas desse nosso mundo, tão cruel e
mercantilista, que só enxerga o dinheiro em tudo na vida...
Nossos bate papos iam da música popular brasileira aos tipos populares de rua da sua
Areia Branca, terra que eu conheci levado pelo mestre e saudoso amigo Deífilo. Não posso
mentir e dizer que a nossa amizade foi longa, até porque sua partida foi quase que repentina.
Parece que foi chamado antes da hora para desagrado de seus familiares e amigos. O amigo
Tico está vivo em nossas memórias e no verbete da magistral obra da música do RN, da amiga
pesquisadora Leide Câmara. Ficou para sempre, como devem ficar aqueles que só vieram para
espalhar bondades e amizades.
Na oportunidade de seu encantamento, lhe dediquei algumas palavras e enviei para o
vespertino ‘Jornal De Hoje’, no qual sempre publicava coisas alegres. Dessa vez,
lamentavelmente, fazia registro da viagem surpresa do ‘Tico’, meu amigo, para o reino do
paraíso, aonde uns dizem que se volta e outros não. Não vou discordar das duas opiniões,
apenas vou dizer que, com certeza, esse tal lugar tão florido nos recebe, com rede, alpendre,
sombra e fartura de conversas e amigos. Se não, nada nos valerá a pena!
Aqui deixo, todas as merecidas homenagens para o nosso grande Tico da Costa, o qual
veio ao chão do nosso RN, em 13 de novembro de 1954 e ‘zarpou’ em 29 de agosto de 2009!
Aplausos e mais aplausos, leitores, leitoras, amigos, amigas e familiares do genial Tico
da Costa!
Morada São Saruê, Nísia Floresta/RN.

*Gutenberg Costa - Pesquisador, escritor, historiador, folclorista e conferencista trilhando os caminhos da


Literatura de Cordel, do Cangaço, da História das Lutas Populares do Nordeste, do Folclore e da Religiosidade
Popular. Publicou vários livros e inúmeros artigos em vários jornais e revistas especializadas sobre esses temas.

KUKUKAYA Poesias - 26
Por: Diogo Gomes dos Santos*
Colaboração: Tetê Avelar*

Cinema em Cineclubes, a bela arte e o debate democrático – Foto sem


identificação de autoria na fonte identificada. Acervo de Diogo Gomes dos Santos - CNC

É inconcebível a existência do cineclubismo como atividade civilizatória, desassociada


da difusão da cultura cinematográfica e do audiovisual, da militância social, sem o filme como
instrumento do fazer cineclube, da prática do debate após sua exibição. É na tela dos
cineclubes que o filme ganha perenidade. Os cineclubes são organismos vivos da sociedade,
que compreendem o público como sujeito ativo e o filme como forma de expressão identitária
do povo, fonte de formação, informação e entretenimento. Cineclube é um lugar de criação, de
ver, ouvir, sentir e debater a sociedade através do filme.
O cineclubismo do século XXI, permanece com as características essenciais, desde o
seu surgimento na primeira década do século XX. No entanto, com o surgimento do cinema
digital, uma nova atribuição foi incorporada aos seus afazeres, a criação e produção
audiovisual.
Os cineclubes surgiram na França, antes mesmo do cinema se afirmar como linguagem,
capaz de contar uma história. Os esforços dos pesquisadores e intelectuais para determinarem
um marco referencial, tem exigido esforços bastante meticulosos dos interessados no tema.
Em 1913, uma organização filantrópica de tendência anarquista e de origem espanhola,
radicada na França, realizou o filme “A Comuna de Paris”. Eles anunciaram, exibiram, debatem
o filme com a presença dos realizadores e de participantes da comuna, que nominaram a
atividade de “Cineclube do Povo”. Seus propósitos eram contribuir com a formação da classe
operária. Recentemente a Federação Portuguesa, adotou o dia 14 de abril, como dia do
cineclubista de Portugal, em homenagem a criação do primeiro cineclube em Paris, em 1907,
por Edmond Benoit-Lévy, (https://bit.ly/3eIySBR, pg. 7), abrindo o primeiro capítulo da história
do movimento cineclubista, atividade fundamental na cultura do século XX.
A partir de então, os cineclubes ganharam espaço, primeiro na Europa e depois na
América Latina. No Brasil em 1917, no Rio de Janeiro, um grupo de amantes do cinema,
assistiram filmes nos Cines Íris e Pátria e depois se dirigiam a um lugar chamado “Paredão”,
para discutir o filme. No entanto a criação do “Chaplin Club”, também no Rio de Janeiro, em
1928, ganhou vulto, em função do registro de suas experiências.
Em 1940 é fundado o “Clube de Cinema de São Paulo”. Sua primeira atividade foi
proibida pelo Departamento de Imprensa e Propaganda, do Estado Novo. O clube voltou a
funcionar em 1946, e de suas atividades surgiu a atual Fundação Cinemateca Brasileira.

KUKUKAYA Poesias - 27
A partir da década de 1950 em diante, as atividades dos cineclubes se tornaram mais
frequentes no país, foram criados vários cineclubes em diversos estados, influenciados pela
ação da igreja católica e das universidades. Ainda na década de 50, surge a primeira entidade
de representação dos cineclubes, marco do que hoje identificamos como Movimento
Cineclubista Brasileiro. Em 1959 é realizada a primeira “Jornada Nacional de Cineclubes”,
congresso que serviu e ainda serve para os cineclubes avaliarem as atividades do ano anterior,
e estabelecer novas diretrizes para o período seguinte.
Na década de 1960, os cineclubes vão se afastando das atividades voltadas para a
discussão estética do filme, se proliferam pelos movimentos sociais, passam a discutir a
sociedade por meio dos filmes. Quase toda a primeira geração do “Cinema Novo”, eram
oriundos dos cineclubes. Paulo César Sarraceni dizia que o cinema novo nasceu dentro do
cineclube da FAFI - Faculdade de Filosofia do Rio de Janeiro. Nesta mesma década, os
cineclubes são definidos pela Lei 5.536, de 27 de novembro de 1968, em 13 de dezembro do
mesmo ano, com a edição do AI-5, Ato Institucional nº 5, as atividades dos cineclubes foram
proibidas.
Reorganizados em 1974, os cineclubes retomaram suas atividades sob a Ditadura Civil
Militar em sua fase muito repressiva. Afeitos a militância política, posicionaram contra a
censura, se organizaram nas periferias, no campo, nas cidades, nos sindicatos, nas
comunidades eclesiais, nas associações recreativas e esportivas das universidades, criam a
Distribuidora Nacional de Filmes para cineclubes - Dinafilme. Filmes, projetores, telas, cartazes,
eram apreendidos, cineclubistas foram fichados no DOPs, como “Agitadores Comunistas”.
Alguns optaram pela guerrilha, sequestraram avião, foram exilados.
Por duas vezes a Dinafilme foi invadida pela Polícia Federal e apreenderam mais de 90%
dos filmes. Mesmo assim, os cineclubes criaram um circuito de exibição, lançaram filmes e
chegaram a pagar a produção de alguns deles. Participaram da campanha da Carestia, da
Anistia, Diretas-Já.
No final da década de 80, com o país retornando ao Regime Democrático, suas entidades
entraram num longo período de hibernação, se rearticularam em 2003. Em sua primeira fase, no
governo Lula, pela primeira vez o Estado acena para os cineclubes, políticas públicas voltadas
para o setor cultural, possibilitaram ao setor, acesso aos bens estatais e os cineclubes, como
pólvora, voltaram a cena cultural do país.

Logomarca do Conselho Nacional de Cineclubes – Imagem sem identificação de


autoria na fonte identificada. Acervo do CNC, e fornecida por Diogo Gomes dos Santos.

Ironicamente, a partir do segundo governo Dilma Rousseff, apesar de sua formação


cineclubista, a liderança foi incapaz de aprumar o leme e o Movimento perdeu unicidade.

KUKUKAYA Poesias - 28
Cartaz da XXX Jornada Nacional de Cineclubes em Viçosa/MG – Imagem sem identificação de
autoria na fonte identificada. Acervo do CNC, e fornecida por Diogo Gomes dos Santos.

No final de 2019, durante a realização da 30ª Jornada Nacional de Cineclubes, em


Viçosa/MG, a Diretoria atual assumiu o comando do leme e mal tomou posse, o mundo foi sacudido
por uma pandemia, modificando o comportamento social planetário. No entanto à atividade
cineclubista permanece viva na memória do Cinema Brasileiro, com substantivos, adjetivos e
verbos que os qualificam e legitimam sua contribuição na cultura do país.
Vivemos tempos difíceis, mas poucas vezes o terreno foi tão propício como agora. O debate
é condição sine-qua-non na essência de um cineclube. Nunca se produziu tanto cinema como
atualmente e nunca o acesso ao filme foi tão favorável como agora. Um pendrive no bolso, uma
distribuidora na mão.
Os cineclubes estão na base piramidal da sociedade brasileira, conversam direto com o
público, aguçam no espectador sua reação crítica.
Desde que a pandemia, Covid19, se instalou e vem ganhando corpo, tem matando corpos
pelo país afora, setores da cultura interromperam suas atividades, parcial ou totalmente. Para os
cineclubes não foi diferente.
É um movimento que se reinventar com capacidade de reagir, recriar alternativas de
exibições online, vem se apropriando de outras formas de difusão e debates. Novas telas se abrem
em tempos virtuais e nos transportamos para um novo modo de cineclubar, adaptando,
respeitando o momento.

O cinema é a forma de entretenimento que mais faz falta durante a pandemia, segundo
pesquisa divulgada pelo movimento #JuntosPeloCinema, em 15 julho de 2020. Para 75% dos
entrevistados, o cinema será prioridade no retorno das atividades pós-quarentena.
As atividades virtuais dos cineclubes, similar ao período da ditadura no Brasil, vem
sofrendo ataques de hackers negacionista, fato que não nos afugenta.
O cineclubismo vem superando dificuldades ao longo do tempo e acreditamos: enquanto
houver filmes sendo realizados, haverá sempre um cineclube!

*Diogo Gomes dos Santos – Cineclubista, Historiador e Cineasta. Atualmente exerce o cargo de Diretor
Tesoureiro do Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros.

*Tetê Avelar – Cineclubista, Professora e atualmente exerce o cargo de Presidenta do Conselho Nacional de
Cineclubes Brasileiros.

KUKUKAYA Poesias - 29
CINECLUBE
No tempo das diligências
Eu perdi minha inocência
E passei a te entender
A menina afamada
Que era a menina do lado
A quem quis enternecer

Mas, hoje amor,


Sam já não toca mais
Casablanca está lá atrás
E o sonho é mais brando
E de teu último tango
Já não sou mais o ator.
Capa do CD CINECLUBE Babal & Lívio Oliveira (2009) - Foto
da capa: Teotônio Roque para projeto gráfico de Galvão Filho e Babal. E a cena lá na tela
Fez a vida bem mais bela
Logo depois do jantar
PERDÃO Quando nós dois no cinema
(Para Nelson Rodrigues)
No amor que era o tema
Que ajudava a acarinhar.

Peço perdão por meu vício Mas, hoje amor...


Perdão pelo início, por não mais te ter
Peço perdão pela briga O truque mais inocente
Perdão pela intriga, por te maldizer No meio de tanta gente
Bem, nessa minha história Era eu te bolinar
Perdão pela glória que julgou conhecer. E a cada teu sorriso
O cinema em Paradiso
E o pouco que sobejou
E a sessão me inflamar
Não desfez minha dor, o meu sonoro grito,
Do beijo que te roubei
Quer saber? nada sei, só sei que achei bonito
Tudo acontece na hora Babal & Lívio Oliveira – CD CINECLUBE (2009)
Quando a dor é agora, esse amor vira rito Canta: Babal
Arranjo e Direção de Estúdio: Maestro Joca
Resta a face acabada, o vestido e a grinalda Costa.
Que não mais me veste.
No meu álbum de família, ainda falta uma filha
SEM DESTINO* (Babal e Lívio Oliveira) -- Ouça
Que nunca me deste.
no soundcloud.com - Página de Joca Costa 1 -
Era uma canção vazia. link:
Por que eu não sabia dessa estranha festa? https://soundcloud.com/joca-costa-1/sem-
Senti tua mão tão fria destino-musica-de-babal-e-liivio-de-oliveira-
E no meu peito batia, tudo quanto me resta. do-disco-cineclube-com-direcao-musical-e-
Naquele sujo canteiro, arranjos-joca-costa
Feito aço certeiro, senti que o amor não presta
*SEM DESTINO - Para Denis Happer e Peter Fonda

Babal & Lívio Oliveira – CD CINECLUBE (2009) Canta: Liz Rosa


Arranjo e Direção de Estúdio: Maestro Joca Costa.
PERDÃO (Babal e Lívio Oliveira) -- Ouça no soundcloud.com - Página de Joca Costa 1 - link
https://soundcloud.com/joca-costa-1/perd-o-babal-e-l-vio-
oliveira?utm_source=clipboard&utm_medium=text&utm_campaign=social_sharing

KUKUKAYA Poesias - 30
Música com Poesia ou Poesia com Música ...

Por DALVACI NEVES*

Falar de música e poesia é falar no encontro de duas artes que em harmonia numa única
peça é capaz de produzir os mais variados sentimentos e mudar o nosso estado de espírito,
transformando tristeza em alegria, proporcionando alívio para nossas dores, conduzindo-nos a
viagens no tempoe no espaço para recordar pessoas, lugares e momentos vividos, envolvendo
corações e mentes num mesmo sentido.
O encontro de um belo poema com a melodia compõe uma obra de arte acessível que
pode chegar a multidões em curto espaço de tempo, especialmente nos dias atuais com o
advento da internet através das mídias sociais. Com essa incrível capacidade de proporcionar a
muitos conhecer e memorizar o texto de um poema a música eterniza épocas através do registro
de fatos históricos de uma forma lúdica e sensível.
Em sua origem atribuída poderes divinos e utilizada em rituais sagrados, na dança e em
óperas servia de entretenimento a reis e nobres, a música evoluiu e se diversificou amplamente,
traduzindo ao longo do tempo além de sentimentos, o mundo em que vivemos e os costumes,
as tradições, bem como a situação social, política e econômica de um povo, especialmente
quando as composições são capazes de proporcionar reflexões sobre a vida em seus vários
aspectos.

Bouguereau. A canção dos anjos. 1881 Dança e Música na Idade Média – Gravura: Saltarello Romano de Bartolomeo
Glendale, Forest Lawn Memorial. Disponível no Pinelli, 1815 Roma, Itália. Disponível no sítio: www.galleriatanca.com
sítio: www.atendanarocha.com

É assim que a poesia de Noel Rosa, através de músicas como “Com Que Roupa”,
composta em 1930, se popularizou eternizando a situação de uma época que reflete
semelhanças com os dias atuais. Ainda, a música “Construção”, de Chico Buarque, muito
utilizada nas aulas de português para facilitar a aprendizagem das palavras proparoxítonas,
traduz o cotidiano e o fim trágico da vida de um trabalhador da construção civil; A música
“Cálice”, do mesmo autor com Milton Nascimento, que mostra o sofrimento diante do silêncio
imposto pela ditadura militar no Brasil, assemelhando num jogo de palavras o substantivo
“cálice” com o verbo calar no imperativo “cale-se”, o vermelho do vinho com o sangue
derramado naquele período.
Também dessa época a música Geração Coca Cola, de Renato Russo, que marcou uma
geração que lutava por liberdade cultural e política, contra o consumismo imposto pelo sistema
capitalista, opondo-se à absorvição da cultura norte- americana, e previa o fim da opressão:

“Vamos fazer nosso dever de casa


E aí então, vocês vão ver
Suas crianças derrubando reis
Fazer comédia no cinema com as suas leis.”

KUKUKAYA Poesias - 31
Música com Poesia ou Poesia com Música ... (continuação)

Ainda, o lirismo de “Eu Sei Que Vou Te Amar”, de Vinícius de Morais e Antônio Carlos
Jobim, há décadas interpretada por vários cantores e cantoras, mas sempre atual unindo o
amor e a paixão, a despedida e a saudade no mais profundo sentimento; e tantas outras
músicas cujas letras são poemas ricos que chegam aos nossos ouvidos ampliando nossos
conhecimentos e provocando sensações diversas: amor, paixão, saudade, revolta, tristeza,
alegria...

Cartaz com Tom Jobim e Vinícius de Moraes para divulgação da


música “Eu Sei Que Vou te Amar“, composição musical de
ambos. Disponível no sítio: www.60maisfeliz.com.br

Há pessoas que preferem músicas eletrônicas, e curtem ouvir a harmonia do som dos
instrumentos, e há aquelas que escolhem suas músicas a partir da letra, priorizando o texto do
poema, somando a poesia escrita com a melodia, ouvindo e interpretando cada palavra,
associando a sua personalidade e à vida.

Clave de Sol & Vida nas Palavras: Arte Poética e Musical. Disponível no
Portal Pinterest Brasil - sítio: br.pinterest.com e no sítio:
estrambolicarte.blogspot.com

Assim, cabe registrar a importância do poema para a música, seja lírica, social, épica
ou qual seja o tipo, o teor é fundamental para enriquecer o contexto musical, registrar fatos,
transmitir e provocar bons sentimentos, alcançando diversos públicos, de diferentes faixas
etárias, nacionalidades e classes sociais, adequando-se a diversos estilos musicais: MPB,
samba, forró, rock, sertaneja, repente.
A Música e a Poesia, apesar de constituírem artes distintas, depois de unidas tornam-
se inseparáveis, e mesmo que apenas ouvindo a melodia ou recitando o poema, a integração
de ambas permanece em nossas mentes.
Assim como do alimento para o nosso corpo precisamos de música e poesia para
alimentar nosso ser.

*Dalvaci André da Silva Neves – Graduada em Pedagogia pela UFRN e em Direito pela UERN, é bancária aposentada da
Caixa Econômica Federal, e atualmente Advogada. Musicista integrante da Roda de Mulheres do Samba Potiguar, é Escritora
Colaboradora e Direto

KUKUKAYA Poesias - 32

ra de Produção das Edições KUKUKAYA, incluindo a revista KUKUKAYA Poesias – Literatura & Artes Poéticas.
Música com Poesia ou Poesia com Música ...

Entrevista com: ANNA FERNANDÊZ, MARIETA MAIA e WILLIAM GUEDES


Por DALVACI NEVES*
Entrevistadores: José Ivam Pinheiro e Andréa Mousinho

Microfone & Violão: Música na Mente e


Coração. Foto sem autoria na fonte pesquisada.
Disponível no Portal Pinterest Brasil – sítio:
br.pinterest.com e no sítio: tocarbem.com

Apresentação

Além das belezas naturais que ultrapassam fronteiras atraindo turistas de todo o
mundo, o Rio Grande do Norte conta também com uma riqueza artística e cultural enorme,
especialmente na música, composta por cantores e cantoras, compositores e compositoras
que levam a nossa voz, os nossos costumes e os mais variados ritmos pelo Brasil e por todo
o planeta.
Muitos desses artistas residem atualmente em outros países onde encontram
melhores condições para exercer a sua arte, a exemplo da Família Pádua que criou e conduz
brilhantemente o Clube do Choro de Viena, na Áustria e se apresentam em shows no
continente europeu mostrando a arte do Rio Grande do Norte e do Brasil mundo afora.
Outros aqui resistem enfrentando dificuldades para produzir música e mostrar o seu
trabalho num lugar que carece de valorização dos artistas locais, onde os incentivos através
das políticas públicas são poucos, igualmente aos cachês que se elevam quando se trata de
artistas de outras regiões. Além disso, o público do RN não é acostumado a ouvir a música
potiguar, quando um dos principais canais de divulgação, as rádios, preferem tocar músicas
que estão nas “paradas de sucesso”, às vezes carregadas de misoginia, preconceitos e
violência, excluindo de sua programação a boa qualidade da música potiguar.
A revista Kukukaya Poesias – Literatura & Artes Poéticas, através de seu editor José
Ivam Pinheiro e de Andréa Mousinho, ambos compositores musicais e poetas, abordando a
temática Música e Poesia entrevistaram os artistas: Anna Fernandêz, Marieta Maia e William
Guedes, artistas que desenvolvem seus trabalhos nas terras potiguares, sobre o processo de
criar e transformar sentimentos em palavras, poesia em música, de revelar sensações, olhares
e vivências através de canções enriquecidas pela harmonização, melodia e letra/poema.
As cantoras e compositoras Anna Fernandêz e Marieta Maia dedicam a sua vida à
música e ao desenvolvimento de projetos culturais, numa trajetória que une desde grandes
nomes da música nacional a artistas anônimos do nosso Estado.

KUKUKAYA Poesias - 33
Música com Poesia ou Poesia com Música ...

Anna Fernandêz e seu violão - Foto sem Marieta Maia cantando - Foto de Monique Maia.
autoria na fonte pesquisada. Disponível na página Disponível na página da artista na rede social Facebook.
da artista na rede social Facebook.

Anna Fernandêz, cantora e compositora nascida em Caicó/RN, tem uma trajetória


incrível, iniciada na década de 80 no projeto Noites Potiguares, quando foi classificada no
Pixinguinha local e Nacional junto com João Nogueira e Marília Medalha mostrando o seu
talento em vários Estados do Brasil. Quem a conhece logo se apaixona pelo seu jeito simples
e meigo, pela sua simpatia e pela ternura que reluz, ao tempo em que se mostra uma mulher
forte, sábia e determinada.
Vencedora do “Premio Sharp” - 6°Prêmio de Música Brasileira, como cantora revelação
em 1993, categoria “Canção popular”, e do prêmio de melhor música classificada por
aclamação popular no 1º Festival Cooperativista de Música de Natal, Julho/2010, Anna
Fernandêz já fez parceria e teve suas canções gravadas por grandes nomes da música
brasileira, como Elymar Santos, Roberta Miranda, Demônios da Garoa, Beth Carvalho,
Wanderley Cardoso, Padre Antônio Maria, Flávio José e Elba Ramalho, dentre outros.
Residiu durante 15 anos em São Paulo, onde participou da gravação do CD Clube da
Viola, vindo também a gravar o LP “Vem me Enlouquecer”, em 1992, o CD “Falando de Amor”,
em 2000, o CD “Simplesmente Anna Fernandêz, em 2002, o DVD “Coração Avoante” gravado
no Teatro Alberto Maranhão, em 2010, e o CD "Meu Brasil". Teve ainda, em 2007, 02 CDs
gravados em Portugal, onde morou. Suas composições também estiveram presentes na
abertura da festa do boi em Parintins com a música “Sou garantido, sou caprichoso” em
parceria com Elymar Santos, e na Europa nas apresentações da escola Imperatriz
Leopoldinense com a música “Sou feliz, sou Imperatriz”.
Anna Fernandêz revela sabedoria, fé e amor em suas canções, aportando
principalmente no samba as suas composições. Os seus vários shows como o “Alma
Brasileira” no Teatro de Cultura Popular da Fundação José Augusto – Governo do RN e o Show
“Coração avoante” no Teatro Alberto Maranhão em Natal/RN, ambos em 2010, e dentre muitos
outros, a abertura do show de Leila Pinheiro mostram a riqueza da sua música e a beleza da
sua interpretação.
Marieta Maia, nascida em Recife, mas natalense de coração, além de cantora e
compositora é também produtora, sempre dedicando a sua vida à poesia e à música.
Bancária aposentada, Marieta Maia é também psicóloga e pós-graduada em Direito
pela Universidade do Porto - Portugal, e dedica a sua vida atualmente às composições em
parceria com Anna Fernandêz e outros compositores, além da criação e do desenvolvimento
de projetos culturais, como “RN Autoral do Samba ao Choro”, “Samba na Calçada”, “Sambas
e Choros da terra do sol”, “Sementes Potiguares” e recentemente, “Roda de Mulheres do
Samba Potiguar”.

Roda de Mulheres do Samba Potiguar lideradas por Anna Fernandêz e


Marieta Maia - Foto sem autoria na fonte pesquisada. Disponível na página
Roda de Mulheres do Samba Potiguar na rede social Facebook.

KUKUKAYA Poesias - 34
Música com Poesia ou Poesia com Música ...

ENTREVISTA: ANNA FERNANDÊZ

Como compositora já gravou com Caju e Castanha e Padre Omar no CD e DVD “Samba
de fé”, além de artistas do Rio Grande do Norte, como: Debinha Ramos, Andiara Freitas, Silvana
Martins e Marcos Souto, e teve composições classificadas entre os dez melhores sambas a
nível nacional no Expo Samba.
Marieta, sempre atuante na cultura potiguar, realizou o documentário lítero-musical
sobre Nísia Floresta/RN, é idealizadora e produtora da “Casa da Música Potiguar”, e nem mesmo
durante a pandemia da Covid-19 interrompeu o seu trabalho criativo, passando a realizar vários
projetos culturais com apresentações virtuais, como as lives da Roda de Mulheres do Samba
Potiguar e do RN Autoral do Samba ao Choro, onde em parceria com Anna Fernandêz mostra a
sua música e entrevista compositores, compositoras, e vários intérpretes da música brasileira,
inclusive aqueles que residem no exterior.
Anna Fernandêz e Marieta Maia são mulheres que merecem nossos aplausos e nossa
admiração, pelas suas poesias e canções, pelos seus brilhantes projetos e por revelarem a
música potiguar.

ENTREVISTA: ANNA FERNANDÊZ


Perguntas - KUKUKAYA Poesias.
Música & Poemas = Poesia.

Anna Fermandêz. Foto sem autoria na


fonte pesquisada. Disponível na página da
artista na rede social Facebook.

KP_1 - Como ocorre o processo de criação de um KP_4 - Quais as vantagens de se utilizar o poema
poema? versado na composição musical?
Anna Fernandêz - A rima por si só já é melódica.
Anna Fernandêz - Provém da inspiração. Vivências,
experiências, observações e aprendizado da sua KP_5 - Quais os seus principais parceir@s da poesia
própria existência e do quotidiano das pessoas. na sua música, e como se constrói essa identidade no
processo criativo?
KP_2 - Como se faz a transição do poema para a letra Anna Fernandêz - Atualmente Marieta Maia e Andréa
de uma composição musical? Mousinho. O processo criativo se dá pela interação
Anna Fernandêz - É necessário criatividade, entre as pessoas que compõem o momento existencial,
harmonização e coerência com o tema proposto pelo mágico do processo de elaboração da composição.
poema.
KP_6 - Você também entende como poesia, a
KP_3 - Na sua opinião, é mais comum escrever a letra composição musical instrumental? Por quê?
de uma composição musical junto com a melodia e Anna Fernandêz - Sim. Quando se trabalha a letra a
harmonia, ou é mais fácil musicar um poema? partir de uma composição puramente instrumental
Anna Fernandêz - Indubitavelmente, o conjunto. pré elaborada, pode-se sentir brotarem as palavras da
Melodia, letra e harmonia. harmonia do instrumental.

KUKUKAYA Poesias - 35
Música com Poesia ou Poesia com Música ...

ENTREVISTA: MARIETA MAIA


Perguntas - KUKUKAYA Poesias.
Música & Poemas = Poesia.

Marieta Maia. Foto sem autoria na fonte


pesquisada. Disponível na página da
artista na rede social Facebook.

KP_1 - Como ocorre o processo de criação de um Marieta Maia - A linha melódica, harmonia e tema em
poema? conjunto, sempre facilitam mais a criação de uma
composição musical.
Marieta Maia - Inspirar-se não é fácil. Contudo,
qualquer fato pode servir de inspiração. Uma mera KP_4 - Quais as vantagens de se utilizar o poema
observação de uma conversa de alguém. Ou versado na composição musical?
simplesmente imaginar o que se poderia sentir Marieta Maia - O exercício de ouvir é primordial. A
naquela determinada situação. rima , a poesia versada na própria leitura já traz em si
Para mim também é essencial a alteridade. Porque uma melodia intrínseca.
nem tudo o que se escreve é decorrente de seus KP_5 - Quais os seus principais parceir@s da poesia
próprios sentimentos e vivências, mas sobretudo do na sua música, e como se constrói essa identidade no
que eu sentiria no lugar do outro. Ou de como eu processo criativo?
imagino que o outro esteja sentindo. Marieta Maia - Atualmente Anna Fernandêz e Andréa
Faz-se necessário se locupletar de experiências, Mousinho. A arte do encontro humano de almas
sentimentos, sensações, contemplações, enfim, compõem o principal conteúdo das parcerias e
introjetar para poder exteriorizar. tricerias..
KP_2 - Como se faz a transição do poema para a letra KP_6 - Você também entende como poesia, a
de uma composição musical? composição musical instrumental? Por quê?
Marieta Maia - Quem nunca escutou uma música
Marieta Maia - Inicialmente obervar o tema da poesia. instrumental e não se emocionou?
Deve-se manter a ideia e sentimento do poeta. Sonate au Clair de Lune de Beethoven, para mim é
Entretanto, é imprescindível mudar palavras ou o uma dessas.
curso da poesia para haver a interação com a melodia. A letra emerge na medida em que os acordes, ritmos e
KP_3 - Na sua opinião, é mais comum escrever a letra participação de cada instrumento atiçam os
de uma composição musical junto com a melodia e sentimentos, emoções e imaginação.
harmonia, ou é mais fácil musicar um poema?

O cantor, compositor e violonista William Guedes, que nasceu em Angicos/RN, e aos 08


anos de idade (1970) foi morar na cidade de Campina Grande/PB, tem a sua vida dedicada à
música desde a adolescência.

William Guedes e seu violão – Foto: Divulgação,


sem identificação de autoria na fonte pesquisada, e
disponível no sítio: www.potiguarnoticias.com.br

KUKUKAYA Poesias - 36
Música com Poesia ou Poesia com Música ...

Na entrevista destaca-se a sua facilidade em compor “letra, música, melodia e harmonia


tudo ao mesmo tempo”, e de transformar em música os poemas versados, traduzindo
sentimentos, emoções e poesia em canções.
William Guedes sempre se dedicou à música, conciliando o seu emprego na Petrobrás
com as composições, shows nos barzinhos de Natal e Mossoró e participação em vários
festivais.
Sua carreira musical teve início em 1978, aos 16 anos de idade, influenciado pelos
irmãos, Chico Guedes e Geraldo Carvalho. Em 1980 foi um dos fundadores do grupo “Pó da
Terra”, ao lado dos amigos Carlos Vale, Bob, Geovane, Kiko Azevedo e Jonas (formação inicial).
Em 2005, lançou o seu primeiro álbum, “Preso no Aquário”, com canções autorais e
parcerias com o compositor Franklin Mário e com o poeta Oreny Júnior.
Ainda em 2005 participou do “Projeto Seis e Meia”, ao lado da cantora paulista Ná Ozzetti,
seguindo-se várias participações em shows e festivais como o “Forraço”, o “Mpbeco”, ambos
realizados em Natal/RN, e o Festival das Marchinhas da Paraíba, em João Pessoa/PB, ganhando
destaque no Festival do SESI, em 2012, com a canção “Pé de Juazeiro”, em que ficou em
terceiro lugar, e no Festival da Musica Popular Brasileira – FMPB da Rádio FM Universitária da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, premiado em segundo lugar com a
música “Cadafalso”, composição sua em parceria com Franklin Mário, interpretada pela cantora
potiguar Antoanete Madureira.
William Guedes lançou o álbum “Cais”, produzido por Tony Gregório, apresentando
canções de sua autoria e em parceria com Franklin Mário, a quem considera seu principal
parceiro musical (In memoriam), e com Rubens Soares, Oreny Júnior, Antonio Ronaldo, Roberto
Homem e Kiko Azevedo.
Atualmente tem se dedicado exclusivamente à música, realizando shows virtuais e
disponibilizando o seu trabalho nas principais plataformas de músicas, bem como, vem
desenvolvendo parcerias musicais com os poetas: José Ivam Pinheiro, Andréa Mousinho, Maria
Maria Gomes, George Câmara e iniciando um primeiro trabalho em parceria com Celso Cruz
(Brocoió).

ENTREVISTA: WILLIAM GUEDES


Perguntas - KUKUKAYA Poesias.
Música & Poemas = Poesia.

William Guedes em Beco da Lama. Foto


disponível em pagina da poeta Amélia Freire na
rede social Facebook (15/09/2019).

KUKUKAYA Poesias - 37
Música com Poesia ou Poesia com Música ...
ENTREVISTA: WILLIAM GUEDES

KP_1 - Como ocorre o processo de criação de um versado ou rimado facilita muito a vida do compositor,
poema? no meu caso, no poema versado a música tá ali, é só
William Guedes - No meu caso é puro sentimento, vou prestar atenção que num passo de mágica a canção sai,
escrevendo o que me vem na cabeça, não me considero é uma questão de tempo. Já na poesia concreta, é bem
poeta e sim um compositor. mais difícil de encaixar a melodia pela falta de rima,
mas já tive experiências assim que deu muito certo.
KP_2 - Como se faz a transição do poema para a letra
de uma composição musical? KP_5 - Quais os seus principais parceir@s da poesia
William Guedes - Normalmente eu procuro preservar na sua música, e como se constrói essa identidade no
o poema na sua originalidade, às vezes é necessário processo criativo?
mudar uma coisa ou outra, mas na maioria das vezes William Guedes - Meu principal parceiro musical, já
eu componho a letra como recebo, acho eu o poeta fica não está mais entre nós, chamava-se Franklin Mário,
mais feliz. a quem devo muito esse estória de ser compositor, mas
posso citar vários bons poetas com os quais fiz
KP_3 - Na sua opinião, é mais comum escrever a letra músicas, como: Antônio Ronaldo, Oreny Júnior, Kiko
de uma composição musical junto com a melodia e Azevedo, José Ivam Pinheiro, Dina Guedes, Rubens
harmonia, ou é mais fácil musicar um poema? Soares, Cibelle Guedes e recentemente George
William Guedes - Pra mim é mais fácil fazer letra, Câmara. Esse processo se dá de acordo com a
música, melodia e harmonia tudo ao mesmo tempo, identificação da poesia, já recebi alguns poemas que
aprendi a compor assim, mas com a insistência de um nunca viraram canções, por falta de identidade com os
parceiro musical que sempre me dava as letras, fui mesmos.
tomando gosto e hoje, já musiquei muitas poesias,
inclusive as desse parceiro que se chamava Franklin KP_6 - Você também entende como poesia, a
Mário. composição musical instrumental? Por quê?
William Guedes - Sim, porque apesar de não fazer
KP_4 - Quais as vantagens de se utilizar o poema música instrumental, acho que quem faz, tem uma
versado na composição musical? sensibilidade incrível, não consegue escrever e
William Guedes - Em minha modesta opinião, o poema transforma isso em belos instrumentais.

NÍSIA FLORESTA BRASILEIRA AUGUSTA CAIS


Anna Fernandêz e Marieta Maia. William Guedes e Franklim Mário.

Ah! Quem é essa mulher? Cais, é um desenho na parede


Educadora e guerreira Tela onde eu morro de sede
Européia e brasileira Sem barcos pra navegar.
Quem é essa mulher?
Mais, mais que um milhão de vezes
Navegou por tantos mares Fuí peixe na sua rede,
Visitou tantos lugares Você devolveu ao mar.
Nossa história escreveu.
Contemporânea, poetisa Eu, de vez em quando, ainda te ouço
Fez ideais em sua vida No clamor do mar revolto
Sua luta não morreu. Que me furta o luar.

Ah! Quem é essa mulher? Feito um farol vivo sozinho,


Educadora e guerreira Sou a luz do teu caminho.
Européia e brasileira Não te deixo naufragar.
Quem é essa mulher?
Nós, mergulhados na parede,
Mãe, mulher, republicana Só por medo da verdade
Escritora tropicana Nísia Floresta Brasileira Augusta.
(Anna Fernandêz e Marieta Maia)
Nunca aprendi nadar.
Os escravos defendeu
Levantou sua bandeira Cantam: Anna Fernandêz, Ângela Cais, o olho inundado pede
Ergueu a alma brasileira Castro e Tiquinha Rodrigues
Vídeo:
Que esse pranto não transborde
Da mulher não esqueceu. DIÓGENES - MEMÓRIA CULTURAL Na cheia do meu amar.
Blog de Diógenes da Cunha Lima
Ah! Quem é essa mulher? CAIS (William Guedes e Franklim Mário) - William Guedes
Educadora e guerreira http://diogenesdcl.blogspot.com/20
Européia e brasileira Vídeo: YOUTUBE Canal WILLIAM GUEDES
21/03/nisia-floresta-brasileira-
Quem é essa mulher? augusta.html https://youtu.be/uInIer2b9MA

KUKUKAYA Poesias - 38
Organização e Seleção dos Poemas: .

Fonte de Livres Livros: Águas do Lago do Saber e do Rio da Arte no Sentir. Arte do artista Bjørn Richter. Disponível no
Portal Pinterest Brasil - sítio: br.pinterest.com

22 de março de 2022 – DIA MUNDIAL DA ÁGUA

KUKUKAYA Poesias – 39
Amor & Tempo – Desenho de arte de Sara Riches. Disponível no
Portal Pinterest Brasil - sítio: br.pinterest.com e no sítio: saatchiart.com

ATÉ QUE VOLTEMOS A SER PÓ

Beija-me com lábios fortes


Tira-me por minutos a razão
Leva-me ao sul e ao norte
Toca-me com tuas mãos.

Depois repetes o trecho


Que me fazes tua mulher.
Recitas poemas e textos,
Dizes-me que bem me quer.

Então ressoas baixinho


Meu nome no ápice do amor.
Tremo, em teus braços me aninho,
Sou néctar escorrendo em flor.

Somos gozo infindo finito,


Cópulas em um corpo só.
Somos um verso bonito
Até que voltemos a ser pó.

KUKUKAYA Poesias – 40
Doce Solidão, 2017 – Na feira do Ver-O-Peso, em Belém do Pará,
Brasil - Foto: Naiara Jinkinss. Disponível no Portal Pinterest Brasil -
sítio: br.pinterest.com

LAPIDAR SOU SAUDADE

Peguei palavras brutalizadas Já fui mata, floresta,


Por manuseios indevidos. Flores ...
E ausências de sentimentos... Fui nascente, cacimba,
Com o cinzel do amor Levada, riacho e rio.
As lapidei golpe a golpe, Fui ave de arribaçã,
Despindo-as de qualquer rancor. Passarinho,
Deixando em cada talhe Gavião...
Pétalas de amor Hoje sou cidade grande
Misturadas com perdão. - Solidão...
Para que por todo o sempre
Se dispam de qualquer ingratidão,
E sejam portadoras de bondade.
Nunca de solidão.

KUKUKAYA Poesias – 41
ERILVA
Para a Poetisa Erilva Leite.

A relva verde veste livre o vale,


A rosa vê nos montes negra grama,
A rosa relva que no monte flama,
A relva verde roseando regale,

A relva ri, libertos lábios resvale,


A sorrir rosa verdejante chama,
A relva flore grande lábio em chama,
A rosa relva o verdejante vale,
E a relva livre, Erilva, vela a rosa,
E o vale eleva Erilva, livre rosa.
E verdejante monte vê nos, deusa,
Poeta e Poema, Poetisa Erilva Leite – Imagem do acervo
pessoal da Poeta. Disponível na sua página pessoal da rede social
Druida Erilva, rega o monte aberto, Facebook.

Agora é o verdejar liberto,


De florescente monte, Vênus, deusa.

POESIAS
Para o Poeta Paulo Augusto, autor de Falo.

Falo de margens longas, retas


Ao inundar-me a corrente venosa que queima
E pulsa
E universos microscópicos morrem
Imersos na Via-Láctea
Que despenca ao ralo do banheiro e passa

Líquido midas inunda meu delta de vênus ilegítimo


Graal controverso do que foi pão e vinho
E os expulsa
Porém quando recebe teu jorro,
Vaso sanitário transubstanciado
Pernas pro ar, dourada fonte a jorrar
POETA PAULO AUGUSTO – Foto de autoria não
identificada na fonte pesquisada. Disponível no Portal
do Jornal NOMINUTO – sítio: nominuto.com
De tua exaustão bebo teu sudário
Em gotas de teus poros
Pulsam para fora
Mortalha líquida de sal
Suja e fétida de hormônios
União egoísta de afetos, escorre chuveiro abaixo e passa

Mas doce irmão, que que você quer mais?

KUKUKAYA Poesias – 42
Imagem de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Macau/RN.
Foto de Rogério P. D. Luz. Disponível no Blog Crônicas Macaenses - sítio:
www.cronicasmacaenses.com

RUAS DE TANTO ENCANTO

Ora, ora...
Já ontem me vi andando
Pelas ruas de Macau.
Eram ruas de hoje
E de outrora.
Os meus olhos
Queriam dizer adeus,
Enquanto os seus lábios
Emitiam sinais POÉTICA DA PRÁXIS
De um novo recomeço.
Uma andorinha ria,
Era tão lindinha Andei mundos.
Que me dava força Pensamentos larguei
Para afastar o silêncio. E me aportei vazio
Lembrava-me de Lucinha, Num cais que sonhei.
Todas as ruas onde andei, Inerte caí
Principalmente a Tenente Victor, E livre me vi
Rua da minha infância Na luz
E dos meus pais. Do teu olhar.
As ruas eram de paixão,
Onde os pardais cantavam
E as andorinhas dormiam.
O meu coração destemido,
Que perambulava altas horas,
Já não é mais aquele,
Derretido pelo calor do seu abraço
E pela brisa lenta que soprava
Suavemente vinda do mar.

KUKUKAYA Poesias – 43
LITURGIA DOS SAPOS – Quadro em técnica mista, pintura a óleo e têmpera de guache –
Arte: Aluísio Azevedo Júnior – Coleção: Liberdade de Opressão. Exposição: LUGAR DE
TATAHARI – Livraria Manimbu, Natal/RN.

LITURGIA DOS SAPOS

Bandeira que me vem


Bandeiras que voltam
Seus ódios amarelos
Farrapos encharcados de sangue
Entranhas de quem me esbraveja
Velhos-tempos que esmurram a mesa
Tempos dos relhos do medo
Chicotes ernestos castelos helenos
Medo medo medo medo...
Cantilena belchioriana dos medos
Meus medos morenos
Minhas lembranças de sapo
Lembranças de sapo aos sopapos
Preso pelas pernas
Sapo dos paus de arara
Sapo açoitado no cativeiro
Coaxo minhas inconveniências
De papo enfunado
Espero e desespero-me
Garroteiam-me os pés e as mãos
Meus vermelhos escorrem
Escorrem as minhas agonias
Dores verdes da garganta
Gritos-coaxos em asfixia
Dores tamponadas pelas mordaças
Esteio-decoro à liturgia.

* In: Azevedo Junior, Aluisio. Pedras de Amarração. Unilivreira


Editora e Gráfica Sul e Editora: Natal RN, 2021.

KUKUKAYA Poesias – 44
Anita Malfatti e a sua obra de artes plásticas (pintura): A boba (1916) - Imagem
sem identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal Pinterest BR - sítio:
br.pinterest.com, e no sítio: www.ebiografia.com

1992 GRAUS SERTÂNICAS

Um poema desfolha o Bandeira Na sequidão da noite,


e a semana geral se inicia minha paixão semiárida
movimento quebrando agonia será galope de açoite
cai o vício do antigo modelo nessa natureza cálida.
Virão canções pela rua;
Na noite oswaldiana tem versos e nossa complacente lua
escritos na tabuleta ariantimétrica será testemunha nua
colorido pelo pincel da história dessa robustez esquálida.
vez em que o poeta foi notado

Aranha tece o manifesto


viva a modernagem plantada
por trás das bananeiras e mistérios
nessa grande e louca basiléia

Nuca se viu tudo novo


(também nas telas daquela menina)
deslumbrando todos na história
noite em que o poema foi notado. Camarinha com mosquiteiro em quarto de casa sertanejo – Foto: João
Machado - Exposição fotográfica que retrata o sertão baiano. Disponível no
Portal Pinterest Brasil - sítio: pinterest.com, e no sítio: catracalivre.com.br

KUKUKAYA Poesias – 45
ENLEVO

Êxtase, talvez. Transcendência, certamente.


Essa coisa que fervilha na gente
Inquietante germinar.

O corpo obedece nervoso os comandos


Evocados da mente
E é um maravilhoso deleite
Como o de alguém a velejar.

As mãos percorrem agitadas


Outra hora, ternas e calmas
Um corpo despido e límpido
Como terra nova que necessita o arar.

Gozo mais que profundo


Gostoso sabor de fruto
Colhido num vasto pomar.

Por vezes se vê angustiado


Por não entender o recado
Que a alma tem pra dar.

É uma batalha entre dois mundos


Duas solidões se encontram num segundo
Pra poder regozijar

A noite parece infinita


Num turbilhão de frases Enlevo de Poesia em Flor no Livro Solo - Imagem sem identificação
de autoria, na fonte pesquisada. Disponível no Portal Pinterest Brasil -
Ditas, escritas, reescritas sítio: pinterest.com, e no sítio: livrariacantodolivro.blogspot.com
Caladas ou gritadas
Mas que sempre estarão vivas
Nesse leito feito pra amar

As sensações são várias como


Várias são as emoções
E, o dia raia sem se esperar

O cansaço adormece a mão


E o poeta, já não mais em fruição
Se deixa descansar

Orgasmos em tinta e papel


De linhas em folhas, agora já não mais em branco
E se do poeta se ouve o pranto
Não é de dor
É do gracioso prazer
De poder poetizar.

KUKUKAYA Poesias – 46
Amor, Luz no Ar – Imagem sem identificação de autoria na fonte
pesquisada, e disponível no sítio: afimdedeus.blogspot.com

ALMA DE MIM, PESSOA POESIA

Entre labirintos e heterônimos,


Minha alma pessoniana navega.
Nessa vida que o mar carrega,
Me inscrevo em tua pele clara.
Entre o sal e o mar distante,
O meu derradeiro verso cala.

E nós lábios salivados de maresia,


A saudade respira em pensamentos.
Doce vento que maneira a vida,
Sentimento que doura a poesia.
Como métrica forjada na calmaria,
Sob os raios que clamam ao meio dia.

KUKUKAYA Poesias – 47
Não se preocupe, seja feliz! – Imagem sem identificação de autoria na
fonte pesquisada. Disponível no sítio: boasnovasmg.com.br

ESCAMBO A QUATRO

Quanto vale, quanto custa


Essa tal felicidade
Proclamada arma quente?

Quanto custa, quanto vale


No mercado da cidade
Essa arma, minha gente?

Vai depender do cliente


Pagar no crédito ou no débito
Se não for inadimplente

Vai depender do doente


Ter convênio, plano ou SUS
Ou socorro de um parente

Na vida como na feira


O choro e o grito são livres
Mas a sorte é trapaceira

Deu no tango, deu no mambo


Parcelada é mais sofrida
Mas a vida a gente toca

E o resto vai no escambo


Cabe tudo que é proposta
Chega aí que a gente troca

KUKUKAYA Poesias – 48
POR FIM...

Por fim apaguei a luz…

Todo o anseio foi diluído


Todo o desejo foi desfeito
Todo o amor foi fugido
Toda a espera foi sumida.

Nada restou…

A não ser a noite fria


Sem ter nem um pouco de você.

Tudo foi juntado.

Uma outra noite virá?

Por nesse novo provável


Acenderei esse querer
Acenderei essa vontade.

No entanto, à meia-luz,
Espero te ver entrar
Vestida de Nua e a Lua – Imagem sem identificação de E no teu afago, agora, me apagar.
autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal Pinterest BR -
sítio: br.pinterest.com e no sítio: blog.udn.com

VESTIDA DE NUA

Vestida de nua se destacava tão bela


Dançava se não para mim
Se não para ele ou mesmo para ela
Vestida de nua, ela dançava na leveza do meu sim.

Na pele o desejo que tatua


Da lua a nua espelha beleza
No olhar me perco no corpo que insinua O amor e os amantes dormindo na cama – Imagem de autoria
atribuída a vectorpouch. Disponível no sítio: br.freepik.com/vectorpouch
Na dança nua de sua viveza.

No sorriso que mostra a luz


No suspiro que apaga a visão
Segue a dança que a nua extenua “A amizade é como um selo postal.
Distorcendo o meu pensar em ilusão. Uma vez colado no envelope do
respeito e da gratidão, viaja pelo
Dançava… tempo eterno”
Se não para ela, se não para mim
Vestida de nua, enfim. Carlos Alberto Josuá Costa

KUKUKAYA Poesias – 49
Sem Expectativas, Sem Decepções – Imagem sem identificação de autoria na fonte
pesquisada. Disponível no Portal Pinterest Tumblr - sítio: https://cinco-defevereiro.tumblr.com

EXPECTATIVAS

de mim, não espere mais


que uns versos agridoces
uns espasmos, sofismas
um oráculo, rancores
guerra e paz, flores e cismas
um disfarce, um véu
uma máscara; pierrot
arlequim sem carnaval
um bordado, um quase-amor
hortelã e pão de mel
não espere mais
que samba canção, um fado
as flores do mal
camuflagem e sétimo céu
gengibre e bom bocado
desejo e umbral

KUKUKAYA Poesias – 50
NEGRA

NEGRA
É a noite
De imensa escuridão!
É a luz
Senzala brasileira no século 19 – Fotografia sem identificação de autoria na fonte De intensa paixão!
pesquisada – crédito: Wikimedia Commons. Disponível no Portal AH Aventuras na História
- sítio: aventurasnahistoria.uol.com.br NEGRA é senhora
Em tetas majestosas
Parindo dia após dias
NEGROS.
Sorrisos cintilantes
SENZALA Olhos lacrimejantes
Tateando os espinhos
Esperando sob o Sol
Um lugar que te pertença
Lá fora choros Poesia.
E lamentos Ah, Natureza divina
Uma dor que ardia Afasta de nós tanta dor!
A pele doía Espalha sobre nós essa cor!
Lá dentro NEGRA.
A terra batida E ali à sombra do ébano
A fumaça aquecida Nos faz receber e dar
A lua da África
AMOR.
Desperto e ouço
Um grito
Dentro de mim
A liberdade!
Contida
Escondida
Chicoteada!

Mas nem por isso, menos


Desejada!

Mulheres Negras: Reconhecer e Pertencer – Foto: Tânia Rêgo –


Agência Brasil. Disponível no Portal GIFE: Pelo Impacto do
Investimento – sítio: gife.org.br

KUKUKAYA Poesias – 51
ATHENEU

Corredores vivos
De risos, gritos
Alegrias, estudos.

Dias efêmeros
Nem sabíamos
Brilhantes tempos.

Mil vezes refeitos


Em nossos sonhos
Adolescentes bravos.
ATHENEU NORTE-RIOGRANDENSE, a primeira escola pública do Brasil* – Imagem sem identificação
de autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal ABIME - sítio: www.abime.com.br Hoje restam rostos
* Inaugurado em 3 de fevereiro de 1834, pelo então presidente da província Basílio Quaresma
Rotos retratos
Torreão Levados aos ventos.

COISAS DE SONHO

Um lugar, um nevoeiro
Um chuveiro aberto
Luz de meio dia
Outras, nem sei.
Entrei numa porta
Sai por outra
Uma janela me piscou
Quis pular sua arca.
Desconexas minhas lágrimas
Tropeçaram, e eu sabia...
Fiz besteira, voltei
Estou aqui, a um passo
De outros sonhos
Outras vidas...
Sou atriz!

Além da Realidade, sonho pra viver e vivo pra sonhar -


Imagem digital com arte de Kristjan Jarv (Talin, Estônia). Disponível
no Portal Pinterest BR – sítio: br.pinterest.com, no Portal Tumblr -
sítio: cassiaviviani.tumblr.com e no sítio: www.behance.net

KUKUKAYA Poesias – 52
DRUSA

Nas fendas do reino mineral


Colhi a drusa de sal
Sob a lua antes do sol
O belo cristal que brotou
No seio da natureza
Da rocha bruta uma flor.

Assim foi o meu presente


Uma pedra preciosa
Para uma deusa imortal
Uma pérola valiosa
Na sedução dos teus olhos
Vi a noite esplendorosa.
Drusa de Ametista Coração – Foto sem
Caíste enfim em meus braços identificação de autoria na fonte pesquisada.
Fizemos loucuras mil Disponível no Portal Pinterest BR - sítio:
br.pinterest.com, e no sítio: www.etsy.com
Promessas e juras eternas
De um amor maior varonil
Até que o sonho acabou
De um jeito tão ignóbil
Quando uma voz me alertou:
Tua “flor” brutamente fugiu.

DESAPEGO

Do destino ermo
Nada se leva

Nos olhos translúcidos


INFÂNCIA A luz flui e cega

A morte no paraíso
Manga no chão, Supera dias de trevas
caju caído, coco seco,
um cacho de pitomba; Do sonho finito
menino faminto, Ao amor que renega
sobrevivendo à infância, A vida que passa
crescendo contra o tempo. Em nada se apega

De tudo que se possui


Nada se lega
Somente a alma
O Menino e os cocos secos – Foto sem Buscando o eterno
identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível
no Portal Pinterest BR - sítio: br.pinterest.com Geme leve.

KUKUKAYA Poesias – 53
Berço do Amor (Cradle of Love) - Imagem de pintura do artista Kolongi
(Barbados - África, 2014). Disponível no sítio: fineartamerica.com

A MÃE ÁFRICA

Gritam os inférteis pastos ao som que delira


A minguada água já morta na melodia da lira
De pináculos esvaziados degolados pela cinza
Dizimando gado e meus entes nutridos de brisa.

Comprimindo o viver da sofreguidão na injuria


Viandante, de pés e lábios rachados na penúria;
Só divisam a morte gargalhando a dor que conspira
Cavando amargura que cresce no peito e traz a ira.

Retratando nas caras negras engelhadas a situação


Da inanição voraz, no olhar já sem vida do irmão
Espargindo descaso semeado na barroca argila insólita
Devorando inda no ventre, natimortos filhos da Etiópia.

Esconsos pela angústia, não ouvem tinir o guizo da unção


Cegos e sedentos pelo ópio ferino, entregam-se ao destino
Nas mãos do carnífice viver subjugados ao desatino
Dilacerador de seus corpos arcados pela procriação.

Carcomidos que hiantes sangram do febril amargor


Dias que não amanhecem sem que anoiteçam na dor.
Um brado abissínio em homilia a este agreste tão vil
Na partitura dessa ópera sádica de composição ardil.

A sinfonia lamuriante da miséria que ouço desde criança


O morticínio entranhado no ventre da África sem esperança
Apiedam versos exangues a ribombar o vento, eu te bem digo
Oh! Mãe África, de ti escolhidos nascem purificando o abrigo!

KUKUKAYA Poesias – 54
FACTUAL

No delírio de cercanias
impuras
cada esquina escura
cospe medo
em pura agonia
frente ao clarão dos faróis
meninos sozinhos
sem guarda
e sem teto
em pleno abandono
na contramão da vida
Meninos de Rua – Foto sem identificação de autoria na fonte pesquisada. vazios de sonhos
Crédito da foto: Osmar e Osmailson – Meninos de Ruas (Foto Clipe).
Disponível no YouTube – Canal de Osmar & Osmailson – sítio: iguais na sina
www.youtube.com/watch?v=skdWHwkvgkQ e na morte.

DEUSA NEGRA

Diante daquela deusa cor de ébano.


Disfarçavam-se os preconceitos.
Havia algo em si,
que contagiava, fascinava e amedrontava.

Deusa Negra do Sol: Theresa Fractale - Foto de Lillian Liu com


maquiagem de Mary Dragon e vestes da estilista Linda Friesen Couture,
e Cabelos de DHair Paris. Disponível no Portal Pinterest BR - sítio:
br.pinterest.com

KUKUKAYA Poesias – 55
Andorinha Voando – Imagem de TheOtherKev por Pixabay. Disponível no
sítio: https://pixabay.com

CANTIGA DE anDORINHA

Cantiga de anDorinha
É cantiga bem ligeira
Ela canta e sai voando
Naquela paz masseira
anDorinha fica comigo
Que’u te canto a tarde inteira.

GARATUJANDO

Garatujando,
o menino, a casa toda rabiscou
e, assim, garatujando,
um pedido o menino elevou,
pediu ao anjinho da guarda,
pediu à Vovó e ao Vovô
uma companheira para ajudá-lo nas rabiscadas. Desenho de garatuja infantil – Imagem identificada como
de autoria de Paula Léon. Disponível no Portal Pinterest Brasil
E não é que Papai do Céu mandou! - sítio: br.pinterest.com

KUKUKAYA Poesias – 56
EU QUERO

Eu quero em minha vida


Paz, amor e harmonia.
E vivê-la intensamente,
Extravasando alegria.

Eu quero um mundo lindo


Onde o amor seja a lei.
Onde o mal jamais exista
E onde o bem tenha altivez.

Eu quero não ver meus filhos


Vagarem sem um destino.
Maltrapilhos, deslocados...
Em completo desatino.

Eu quero não ver os velhos


Sofrendo tantos maus-tratos.
Eu quero não ver crianças
Padecerem em orfanatos.

Eu quero dizer àqueles


Que não têm rumo na vida,
Que encontrem seus caminhos,
Que busquem suas guaridas.

Eu quero o meu País


Livre da corrupção,
Formando o bom cidadão!
Manhã de sol na beira-mar da vida - Imagem sem identificação de
Primeiro em educação!
autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal Pinterest Brasil - sítio:
br.pinterest.com, e no sítio: encontrodepoetasp.blogspot.com
Eu quero ver o meu povo
Gritarem por liberdade,
Combaterem a opressão...
Pulsando felicidade.

Eu quero! E por querer...


Meu querer tornar-se-á
Verdade mais verdadeira,
Meu sonho, meu caminhar!

KUKUKAYA Poesias – 57
CENÁRIOS DO AMANHECER

O enleio som das aves na manhã,


O aroma do arvoredo multicor,
O namoro entre a hortênsia e o beija flor,
Toda inefável luz da aurora sã.

O sereno bendito de Iansã,


A gardênia acordando ao bailar,
O desenho das folhas no avoar,
O besouro na tenra rosa irmã.

Florata das auroras matutinas,


Perfumes, luzes, cores, melodias,
Me adornaram as horas repentinas. Beija-flores, borboletas e flores – Imagem de Iva Castro em Portal Pixabay
- sítio: https://pixabay.com/pt/users/ivacastro-1208788

Heranças doces, vivas poesias,


São meus tesouros, plagas nordestinas,
Cenários verdejantes de alegrias.

ORAÇÃO À NATUREZA

Natureza mãe
Canção divina
Nascente do amor
Energia infinda
Plena de cor
Como agradecer
Tua seiva em mim
Teu ventre luz
De vida e prazer?
Cuidarei de ti
Oh mãe natureza
Serei teu poeta
De versos jardim
Que tua beleza
Brote em mim

Desenho em arte/pintura ilustrando indígenas brasileiros e a


diversidade da natureza – Foto sem identificação de autoria na fonte
pesquisada. Disponível no Portal Pinterest BR - sítio: br.pinterest.com

KUKUKAYA Poesias – 58
O MAR

Eu vejo a lua nascer do mar


Radiante, esplendorosa...
Beijando as ondas
Com magia no olhar, fogosa.

Eu escuto o vento cantar


São uivos de desejos
De unir meus lábios aos teus
Em doces e sedutores beijos.

Amanhecer na Praia de Ponta Negra em Natal RN – Imagem sem Eu vi a água lamber o chão
identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal Pinterest
Brasil - sítio: br.pinterest.com, e no sítio: www.sesc-ce.com.br Dos meus loucos pensamentos
Devaneios...
Mistura de sentimentos.

PRECISO

Preciso desengavetar as ideias


Abrir as frestas da minha memória
Varrer os meus pensamentos
E voltar a escrever a minha história.

Desejo voltar a ser a senhora


Do meu destino, como outrora
Tomar às rédeas da minha vida
Ser eu mesma, a todo instante e hora.

Necessito de tempo para escrever


Colocar o meu dentro para fora
Poetizar cada canto
Deste mundão afora.

Esta pausa de versos mudos


Que estão se concretizando agora
Foram anos de muita luta
Para a fundação da ACLAR em sua devida hora.
Trem da Memória e Estrada da Vida - Imagem de autoria do
artista Svetoslav Stoyanov. Disponível no Portal Pinterest Brasil -
Agora com o trem nos trilhos sítio: br.pinterest.com e no sítio: svstoyanov.weebly.com
Desabrocham novas possibilidades
Já sinto o perfume das flores
No chão árido e fértil de novas realidades.

KUKUKAYA Poesias – 59
O Poeta e o Mar da Praia de Cotovelo, o seu Paraíso - Foto sem
identificação de autoria na fonte pesquisada (acervo pessoal do Poeta).
Disponível na rede social Facebook do autor -Washington Ferreira Fontes.

MINHAS ALVORADAS

Todos os dias ao amanhecer,


falarei:

Hoje eu não fico sem filosofar.


Amanhã poderei até ficar no escuro… amanhã! Hoje não…
Hoje eu vou ficar iluminado!
E todos os dias, por mais cinzentos e nublados que amanhecerem, eu falarei:

Hoje eu não fico sem filosofar.


Amanhã poderei até ficar no escuro, hoje não…
Aí me levanto, olho o mar e começo a filosofar.

...

Num dia desses,


uma estrofe
sentou
ao meu lado,
NATURALMENTE,
e do nada
sorrimos
um para o outro.
Logo,
formamos
um lindo
verso de amor.

*Philofotopoeta: Ferreira Fontes O Poeta e sua musa amada - Foto sem identificação de autoria
na fonte pesquisada (acervo pessoal do Poeta). Disponível na
rede social Facebook do autor -Washington Ferreira Fontes.

KUKUKAYA Poesias – 60
VAZIO DA ALMA

Tem um vazio me tomando o fôlego,


tento puxar o ar, mas ele foge de mim,
ágil, célere, incolor e sorrateiramente.

Estou sufocada pelo peso do vazio


que ora me achega e me domina.
Não, eu não queria me sentir frágil
e, muito menos, sem motivação.

Preciso do ar que preenche meus vazios.


Não, não é isso que que queria dizer,
mas seria um erro dizer que preciso de você.

Mas, quantos erros eu já cometi?


Quantas inverdades já me disse
procurando encontrar os ares
que preenchem meus vazios?

Um Sonho do Amor Que Faz Falta – Imagem sem O ar que me falta deixa um lastro,
identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no
Portal Pinterest - sítio: br.pinterest.com, e no sítio:
um gosto de azedo em minha garganta
jedfpoemas.blogspot.com e o alento amarga as dores de tua falta.

Não, não poderia deixar


que você soubesse
o quanto a sua ausência
me silencia por falta do teu ar.

AR AMARGO

Eterno será meu passado,


cheio de presentes e futuros,
fincados nas lembranças
do que vivo e viverei... de você.

Não consigo chorar,


as lágrimas estão desenhadas na íris,
estagnadas pelo tempo que parou.

Por um segundo
pensei ter te visto
nas visões turvas
de lágrimas presas. Lágrimas, Resto da Saudade do Amor Que Se Foi - Imagem
de Arte de Cyril Rolando (AQUASIXIO). Disponível no Portal
Pinterest - sítio: br.pinterest.com, e no sítio: inspi.com.br

KUKUKAYA Poesias – 61
MANIFESTO CONTRA A DESILUSÃO

Estigmatizada a postura filosófica,


em desuso e dúvida posta
ética e moral de forma dramática,
no armário fechada a porta.

Vulgarizada a palavra amor


desgastada como coisa de fazer
sem o natural valor,
negócio fugaz de ter, trocar ou vender.

Banalizada qualquer forma de relação,


sobra a pessoa mal amada
ditando frases de apelo e frustração
em nome de uma alegria falsa e acamada.

Vamos fugir desta armadilha


construir uma tipologia do amor
caminhar juntos em nova trilha
ampliar o sentido da vida em nossa ilha.

Nela o prazer será eleito


o amor será cuidado dia-a-dia
será normal a confiança e o respeito
e da felicidade brotará boa energia.

Contemplados por amigos e amigas


deixaremo-nos conduzir pela euforia
da dadivosa lonjura das intrigas
construindo a coletiva via do amor com alegria.

Desilusão em coração perdido - Imagem sem identificação de


autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal Pinterest Brasil -
sítio: br.pinterest.com, e no sítio: canelaimiel.wordpress.com

O amor não é apenas expressão mímica,


nada menos e tudo o mais:
anseios, delírios, poesia e química.

KUKUKAYA Poesias – 62
MULHER

És pura, és Santa...
És encantadora e encantas.
Não pela beleza e pureza
Mas, pelos atos, gestos...
Ar de princesa.
És tudo, és sábia...
Intercessora, protetora...
És história.
Entre vitórias e fracassos,
Brilhas, triunfas.
És Mulher...
És glorias...

Mulher de Véu – Foto de Alejandra Sollet. Disponível no Portal Pinterest BR - sítio:


br.pinterest.com, e no sítio: www.solettphoto.com

KUKUKAYA Poesias – 63
CARNAVAL

Cigarro acabando.
Último trago!
Trago comigo as dores de quem tentou.
De quem insistiu
Éramos bem mais que meros cisnes
decorando o lago.
- Corda e coração.
Trago comigo as chagas
de quem lançou
sobre o asfalto a face nua.
Por ti me despi.
- Despedacei minha moral
em mil pedaços
com total prejuízo de minha razão!

Cigarro acabando.
Queimaduras espalhadas
pelos meus dedos,
e eu nem me dou conta
que o tempo passou.
Por que não passou a dor.
- Foda-se! Você diria.
Pisando em meu sorriso amarelo
gargalhadas e drinks. É carnaval!
Carnaval – Pintura em arte naif de autoria de Carybé. Disponível
Uma vida inteira perdida no Portal Pinterest BR - sítio: br.pinterest.com
com outra vida inteira para reconstruir.
- Não, eu não consigo.
Se dizem que o tempo cura,
que cure então.

Desfaça a tua memória


como o fogo passivo
desfaz o cigarro.
E no banheiro,
e no banheiro retocarei meu batom.
É carnaval. A festa não acabou!

O ÚLTIMO GOLE

Vivo
Acho que beber vai ser meu fim
Sei de tudo hoje
Mas, não sei tanto assim
O Gole e o Porre de Bebida Alcoólica - Foto
Na verdade, nem se existo sem identificação de autoria na fonte pesquisada.
Não sei de nada Disponível no sítio: www.otempo.com.br
Não sei de mim

KUKUKAYA Poesias – 64
DE LONGE

Eu que naveguei tão distante do porto,


só pra sentir-me mais vivo.
Que quando cheguei a certo ponto,
olhei pra trás e não vi ninguém.

Repudiando tudo de sagrado


que havia em mim.
Como é difícil viver entre os semideuses,
pois eles não erram, mas quando erram
a culpa nunca é deles.

E essa solidão,
é o fel amargo goela abaixo,
colocando-me de joelho
perante o jugo dos soberbos.

Sendo que de todas às lutas


que travei na vida,
as contra mim foram as mais difíceis,
e tenho que admitir,
nem sempre ganhei.

Logo eu que naveguei


para um pouco mais distante,
De Longe, Além do Infinito Céu – Imagem com arte de Rafal
para mais distante Olbiński. Disponível no Portal Pinterest BR - sítio: br.pinterest.com
do que já havia dito antes. e no sítio: www.tuttartpitturasculturapoesiamusica.com

Só pra compreender que o silêncio


também é uma resposta,
que há mais eloquência
em uma boca fechada,
do que em mil palavras faladas.

A distância vejo tudo,


a distância vejo o nada.
Ela não existe naqueles de alma compromissada.
E se para o porto não retornar,
esse EU jamais existirá.

KUKUKAYA Poesias – 65
CRÍTICA AO INATISMO

Ei, Nietzsche.
Você falou que eu era uma tela em branco,
Mas, jogaram tinta preta em mim!
Ouça minha voz, sinta minha melanina,
A retroação que eu sofro é sina,
E eu sinto muito por ter nascido assim.

Aceitei ser chamada de morena,


Pra esconder uma dor que é plena,
O Inatismo e a sua Crítica na Poesia e na Vida - Imagem
Pois nos becos meu filho corre
sem identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no E de noite minha alma nem dorme.
sítio: pedagogiaaopedaletra.com

Poderia eu ser mais uma latina da América?


Mas sou preta, pobre e periférica.
Há democracia, mas não há igualdade.
O branco faz direito, o preto faz arte.
A justiça é cega!
E no escuro você diz que só enxerga o brilho dos meus olhos.

É utopia, é saudade,
Daquela falsa sensação de liberdade,
Pois hoje, a única coisa que corre solta
São as nossas lágrimas.

DESDENHO DA MINHA AGRURA


Cada volta uma história, um problema;
Problemática, contraditória, poema;
Inspiro-me pelo medo de expirar, se vencer;

Se vencer, que vença.


Se invalide, que tempo perdi,
E o que farei é consequência
Do que me trouxe aqui.

Se belo, porque vão?


Se ires, por que veio?
És tão pura a acolhida
Que enterneço em demasia.

As triviais coisas que escrevo


Por vaidade ou por questão, O Descobrir da leitura e escrita, e ler livros - Imagem sem
identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal
É esperando que não caia a mim Pinterest BR - sítio: br.pinterest.com
A miserável e imodéstia tristeza
do esquecimento vão.

KUKUKAYA Poesias – 66
Pôr do Sol - Imagem sem identificação de autoria na fonte O Espelho - Imagem sem identificação de autoria na fonte
pesquisada. Quadro imagético e com poema de autoria do poeta pesquisada. Quadro imagético e com poema de autoria do poeta
Horácio Paiva. Horácio Paiva.

PONTOS CARDEAIS

norte:
a ursa maior
e o lunário perpétuo

sul:
cardumes de prata

leste:
a barca do sol

oeste:
o fogo de santelmo
Pontos Cardeais e o Mais Orientar no Rumo do Navegar -
ao lado: Imagem sem identificação de autoria na fonte pesquisada.
olhares primitivos Disponível no Portal Pinterest BR - sítio: br.pinterest.com

da noite

ao centro:
uma caverna incógnita
sob as estrelas
Comentário do poeta Horácio Paiva para o editor desta revista -
grilos José Ivam Pinheiro:

“O título desse meu poema me faz lembrar Gilberto*. Mas ele não
e chegou a conhecê-lo.... em vida. C’est à dire, nesta vida... “.

alguém *Nota do editor: Gilberto citado pelo poeta Horácio Paiva, trata-
se do saudoso amigo poeta - Gilberto Avelino de Macau/RN.
que sonha

KUKUKAYA Poesias – 67
...

Eu não lembro de,


na infância,
o Dourado sangrar.

Lembro das bóias de


pneu, e do meu pai
conduzindo as filhas
aos mistérios.

turvos da barragem
e dos dias. Açude Dourado em Currais Novos/RN, com 81,02% da sua
capacidade (2020) - Foto: Anderson de Almeida – Portal G1 Globo.
Disponível no sítio: g1.globo.com
Todos sorrindo,
mainha sorrindo,
os vizinhos de banho
sorrindo,
entre farofas,
cachorros latindo AMANHECERÁ*
e uma areia
pedregulhosa e banal.
no fim, tudo morre.
Entrar no açude mas o fim ainda não chegou.
era um caminho natural.
“Uma maçã no escuro”
Mesmo sem nomes,
todos ali se conheciam: vejo a vida líquida,
o Dourado seria lírica. à espera de um aboio
um pai comum? que me amanheça
Não sei. como o sol.

Não me lembro dele no tudo o fim morre.


sangrando na mas o tudo ainda não chegou.
minha infância.
“Uma maçã no escuro”
Eu tenho pra mim
que, quando chove, vejo a vida lírica,
o Dourado vira criança. líquida. à espera de um aboio
que me amanhecerá
E fica gargalhando como o sol.
enquanto escorre na
parede,
entre piabas,
sob o céu azul. AMANHECERÁ* – Composição poética musical de Iara Carvalho
e Wescley J. Gama - Participação de Milena Carvalho.
Álbum musical: Campos Grandes Reunidos – Wescley Gama
(2016).
Ouça no YouTube – canal de Wescley Gama

https://www.youtube.com/watch?v=2kLq61YRvVE

KUKUKAYA Poesias – 68
MULHER, FLOR RARA

Mulher que fala, que denuncia


Mulher que clama por melhores dias
Mulher que luta por educação
Para seus filhos e os filhos do povo
Mulher sem quaisquer discriminações
Faz acontecer dias melhores
Mesmo quando o sol não brilha
Mesmo quando vem a fome
Mesmo quando a violência
Rouba a vida aos seus filhos...

Mulher de lápis em punho


Com pá mexendo a massa do reboco Flor Mulher, Flor Rara- Imagem sem identificação de autoria na
fonte pesquisada. Disponível no Portal Pinterest BR - sítio:
Para edificar novos sonhos br.pinterest.com

Mulher tangendo o boi ao arar a terra que alimenta


Mulher policial ou juíza na prevenção ao crime
Mulher pregadora da palavra de Deus
Semeia o amor no seco terreno dos corações vazios
Mulher frágil, embora tão forte na força de seu sorriso
Mulher que escreve no céu esperança RECOMEÇO
Com a tinta prenhe da confiança e da fé

Mulheres unidas na alegria de saber A cada sol, amanheço


Que seus atos e atitudes são importantes para seus pupilos partícula de luz
Mulheres que choram na tristeza, na dor, na agressão carne ou papel?
Mas levantam-se mais uma vez e sempre até vencer A cada fracasso, recomeço
Mulheres que compreendem que a palavra retorno assim cansada
O verbo, o verso são tijolos da humanidade ao compasso.
Sou pássaro sem asas
Sou criança na alma
Sou o doce do fel
Sou alegria das ondas
no murmúrio à eternidade.
Levito com as folhas caídas
Acho-me dentro dos livros.

Dentro do livro sou a escrita Poesia- Imagem de arte com manipulação de fotografias
digitais feita pela artista alemã - Christine Ellger (1948). Disponível no Portal Pinterest BR
- sítio: br.pinterest.com, e no sítio: www.tuttartpitturasculturapoesiamusica.com

KUKUKAYA Poesias – 69
---

Faço e refaço o instante


em que me fiz,
deito-me nas brasas,
quebro minhas asas,
crio raiz.

Se eu morresse agora,
não morreria em paz,
não estaria no cais,
não partiria feliz.

Fiz e me refiz
em cada rima,
em cada verso
que sobre a pele escrevi.
Fazer e refazer uni_versos – Imagem sem identificação de
autoria na fonte pesquisada. Arte do desenho ilustrativo fornecido Cada poema meu é uma cicatriz.
junto ao poema pelo poeta João Andrade.

---

Procuro
nos unos
a minha unidade.

Tudo em mim
está meio,
é cheio
de minhas metades.

---
Mito das Aves Chinesas: Hyoku no Tori - Imagem ilustrativa do pássaro
Hyoku, junção do masculino e feminino, símbolo do amor e fidelidade no
Japão antigo, com arte do desenho de Takeshi Yamada. Disponível no Portal Vazio,
Pinterest BR - sítio: br.pinterest.com, e no sítio: cacadoresdelendas.com.br trago abismos
para te ofertar.

Do ápice à base
tudo na vida
envereda.

Em troca
te peço pouco:
a queda.

KUKUKAYA Poesias – 70
DE CANTO, ENCANTO E ENCANTADOS

Os que partem viram encantados.


Os que ficam vivem o encanto.
Os que estão por vir, de longe já escutam o canto.
O canto encantador dos Encantados.

Encantado, Encanto e Canto de Livre Livro – Imagem sem identificação de autoria


na fonte pesquisada. Disponível no Portal Pinterest BR - sítio: br.pinterest.com

KUKUKAYA Poesias – 71
TER X SER

Somos reflexos condicionados de valores


Personificados no paradigma pseudo atual
Que na compulsão obsessiva de querer
A concepção do certo é circunstancial.

A natureza do bom vislumbra conveniência


Da realização como meta individual
Onde o objeto é reflexo do egoísmo
D'um comportamento que estigmatiza o social

O bem - dito comum - é narcisista


Foto da vaidade na insígnia pessoal
Pois o ter pretere o ser na conduta do vivente
No gravame da consciência de ser racional

A realidade nua e crua é desumana


No alto da decisão (fig.1) Ser feliz, Ter razão (fig.2) - As Pois de tanta solução retórica torna-se banal
duas imagens não registram nas fontes pesquisadas as autorias.
Disponíveis no Portal Pinterest BR - sítio: br.pinterest.com Que na ganância de poder o homem é capaz de tudo
Renega a ética, fere o direito e desvanece a moral.

SER

Uma simples semente é um sinal de vida


Regue-a, adube-a, cultive-a.
No amanhã de primavera virá o florir
Os frutos? São os resultados da sua semeadura.

Mandacaru em Flor - Foto: George Barreto - Fazenda Belo Horizonte,


Mombaça - Serrinha/BA. Disponível no Portal Pinterest BR - sítio:
br.pinterest.com, e no sítio: serrinhanatureza.blogspot.com

A ROSA

Minha flor, meu botão de rosa


Bela, pura, a mais formosa
Entre todas do meu jardim
Teu perfume me enfeitiça
A Rosa Imagem sem identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível Nos meus sonhos, és encantada
no Portal Pinterest BR - sítio: br.pinterest.com, e no sítio: 500px.com Sem ti, minha vida perde o fim.

KUKUKAYA Poesias – 72
CERTO SERTÃO

Minha fome é meu fomento,


Meu verso é meu universo,
O meu inverso é diverso
O meu susto é meu sustento,
Meu alô é meu alento,
Meu olá é desolado,
O meu ser é seriado,
Meu arrimo é minha rima,
Meu animal me anima,
E meu segredo é sagrado.

O meu pó é poesia,
A minha cara é carente, Paisagem com moradia sertaneja – Imagem de pintura do artista plástico
baiano - Antônio Carneiro Dourado (AKarneiro). Disponível no Portal Pinterest
A minha dor é dormente, Brasil, no sítio: br.pinterest.com, e no sítio: aartedomeupovo.blogspot.com.br
O meu ar é harmonia,
Meu fole é minha folia,
A minha gana é cigana,
Minha romã é romana,
A minha forca é forquilha,
O meu trilho é minha trilha,
E minha lua, luana.

Meu destino é destino,


O meu porto é comportado,
O meu peito é respeitado,
O meu tino é nordestino,
O meu traquejo é traquino,
A minha trova é trovão,
Meu caminho é caminhão,
O meu choro é um chorinho,
Meu carão é meu carinho,
E o meu certo é sertão.

UM BOM DIA AMIGO

Bom dia meu nobre amigo.


Amizade verdadeira Amigos e crianças felizes brincando – Fotografia de
Rarindra Prakarsa (Indonésia). Disponível no Portal
É como uma coisa rara Pinterest Brasil, no sítio: br.pinterest.com, e no sítio:
Que mesmo sem estar perto www.constelandocomafonte.com.br
É forte, serena e clara
É como um tipo de amor
Que está sempre a seu dispor
E a distância não separa.

KUKUKAYA Poesias – 73
melancólico pó pandemia

olho triste águas de tristeza


lágrima seca lágrimas covid
vento soprou chora o país

Ilustração com desenho do vírus Covid-19 e sua variante a Omicron -


Imagem sem identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal
Pinterest BR - sítio: br.pinterest.com, e no sítio: www.life.hu

liberdade

a terra trincou-se
desabrochou um sonho
– apesar de tudo

Liberdade Criança numa Tarde de Domingo – Foto de Sako Tchilingirian (2014).


Disponível no Portal Pinterest BR - sítio: br.pinterest.com, e no sítio: www.flickr.com

KUKUKAYA Poesias – 74
Pássaro na Chuva – Foto de Emmanuel Fernandes Fotografias.
Disponível no Portal Pinterest BR - sítio: br.pinterest.com

CHUVA CAI, VEM O RENASCER


,
Jeito de estio, sol na curva
é riacho, lágrima e mágoa.
Preces aos céus clamando!
Chuva boa desça dos ares A claridade é raio a faiscar,
num véu de água já fluindo longe flash, sem problema,
lindo renascer vida - sertão. e caia água que sacia sede.

Brinde Da nuvem,
molhado, o pingo
chuvarada jorrando
de repente gotas
garoa, - dádiva,
chuveiro, tanta água,
bátega, chuvada líquida oferta
trovão soa. divina chuva.
Pé-d'água, O olhar - a visão
o aguar já vindo, da aguada,
o rio, o frio, no roçado
banhos, projetar
açudes. meeiro,
Cio o milho
das águas, e feijão
correntezas. - safra boa.

Sorrisos na face e coração A felicidade é o terno aguar


enlace de amor bem-vindo quando toca a seca jurema
em açude do olhar tão mel. que sente vida, e fica verde.
E beleza em invernais hinos
de gorjear e voares estrilos
de pássaros, feliz natureza.

KUKUKAYA Poesias – 75
DIA 13 – SEXTA FEIRA

Acordo para o dia e para o mundo


Mundo de labirintos e escadas
Mundo de gatos pretos e encruzilhadas
Nada temo, acordo.

Caminho através de becos sem saída


Piso firme o pé esquerdo
Sapatos furados e sandálias emborcadas
Nada temo, caminho.
Sexta feira não é dia de azar - Imagem sem identificação de autoria
na fonte pesquisada. Disponível no Portal Pinterest Brasil - sítio:
Cruzo com moribundos e ladrões br.pinterest.com, e no sítio: amaravilhosaesperanca.blogspot.com
Piso firme o pé direito
Perpasso a multidão ruidosa
Nada temo, avanço.

A noite cai sobre os assustados NOSSA LÍNGUA


Lua cheia e duendes
Uivos prolongados e gemidos distantes
Nada temo, adormeço. Nossa língua portuguesa
Nossa água brasileira
Dia 13 sexta-feira, um dia comum Nossa alma altaneira
– Para um homem de fé.
Joia rara, bela
Verde-amarela

Épica, conquistadora
Lírica, arrebatadora
Satírica, inquisidora

Nossa língua portuguesa


Nossa calma brasileira
Nossa praça hospitaleira

Estrela eterna, de anil


Nos céus do Brasil

Camoniana
Machadiana
Drummoniana

Museu da Língua Portuguesa na Estação da Luz em São Paulo/SP – Foto


Serrana
de divulgação, sem identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível em: Palaciana
rascunho - O JORNAL DE LITERATURA DO BRASIL, no sítio: rascunho.com.br Urbana

Nossa língua portuguesa


Nossa fala brasileira
Nossa liberdade a vida inteira.

KUKUKAYA Poesias – 76
No Clima do Desejo de Amar - Imagem sem identificação de
autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal Pinterest Brasil -
sítio: br.pinterest.com, e no sítio: www.artofit.org

FAHRENHEIT

Um calor obtuso
vandaliza meu corpo
em formas geométricas.
Circunscreve o desejo,
brasão tatuado na minha pele,
quando neva lá fora
um grau negativo.

Enquanto os homens
digladiam seus próprios
corações polares,
enfeitiçados pelo poder,
degelo no teu corpo.

Em teu corpo,
é sempre verão
com muitas águas termais...

KUKUKAYA Poesias – 77
BATENDO ASAS

Eu sou senhor
De minhas palavras
Da boca que cospe o fel
Eu sinto o sabor das águas.

Eu sou o senhor
De minhas palavras
No escudo de minha sintaxe
Neutralizo as tuas travas.

Eu sou o senhor
De minhas palavras
Desnudado em poesias
E ardendo em brasas.

Eu sou o senhor A Poesia na leitura de livres livros batem asas


– Desenho ilustrativo de autoria de Danilo Bramati
De minhas palavras Art and Illustration. Disponível no Portal Pinterest
E quando vier o eterno silêncio, Brasil - sítio: br.pinterest.com
Minhas poesias baterão asas.

O CHORO DOS PASSARINHOS

O passarinho bate as asas,


Salta, mas não voa,
O passarinho está preso
Numa boa!?

Não lhe falta água,


É abundante a comida,
Será que não falta nada
Em sua vida?

O passarinho preso na gaiola - Foto do poeta e fotógrafo Ele canta para o homem
Marcos Cavalcanti. Disponível a partir da autorização e
anuência da imagem e do poema pelo autor para publicação Em seu castelo de palitos?
nesta revista. Insensatos não se enganem,
Os seus cantos, são seus gritos.

A liberdade de outrora
Foi substituída pela gaiola,
É por isso que o passarinho
Não canta... chora!

KUKUKAYA Poesias – 78
MEU ATO DE CONTRIÇÃO

Muito além do que penso e do que digo


Vem comigo a razão pelo que faço.
Cada gesto é expressão do próprio traço
Com que passo a exaltar e dar abrigo.
Por ter plena noção, sei do perigo
Do castigo que vem por má atitude.
Salvação considero enquanto mude
Minha ação e também meu pensamento.
PEÇO A DEUS, PELO MEU PROCEDIMENTO, A fé em Deus na oração do Ato de Contrição - Imagem sem
identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal
QUE ME GUARDE, PROTEJA E A MIM AJUDE. Devocionais de Elbem César - sítio: www.elbemcesar.com

O SUPREMO ARQUITETO FEZ POESIA AO CRIAR A FLOR

Com tom suave e discreto


Nosso Supremo Arquiteto
Fez da flor um verso à parte.
Da natureza florida
Dispôs leveza na vida
A Orquídea flor Foto do poeta Marcos Medeiros (acervo
Para vivermos com arte...!!! pessoal). Disponível para esta revista a partir de
autorização e anuência de publicação e divulgação do
poema e desta foto por Marcos Medeiros.

...

O poeta criador,
É rico de fantasia,
Se alia e presta atenção
Nos personagens que cria,
Põe magia em cada história,
Vê razão na poesia.

Na ilustração é presente
com a inerente turminha:
Zé da Jia, vem na frente,
Junto a Maria Boquinha,
Que se mostra sorridente
Com a Formiguinha vizinha.

Essa é a boa desculpa


Para com textos e imagens,
O poeta dar BOM DIA
O poeta Marcos Medeiros e seus personagens - Desenho ilustrativo de autoria de
trazendo seus personagens xxxxxxxxxx. Disponível para esta revista a partir de autorização e anuência de
Pra dividir com os amigos publicação e divulgação de poema e desenho por Marcos Medeiros.

Risos e camaradagens.

KUKUKAYA Poesias – 79
Mulheres de Chico na música e o Bloco Mulheres de Chico no carnaval carioca – Foto de divulgação do show
do Bloco Mulheres de Chico no Teatro Rival em 30/11/2018 que celebrou 13 anos de carreira homenageando Chico
Buarque. Imagem sem identificação de autoria na fonte pesquisada, e disponível no sítio: www.teatrorivalrefit.com.br

AS MULHERES DE CHICO

A RITA levou meu sorriso, o tempo passou na janela e só CAROLINA


não viu.
Olhe BÁRBARA, nunca é tarde, nunca é demais. ANGÉLICA disse que
só queria embalar seu filho, e BEATRIZ me ensinou a andar com os pés
no chão.
Me escuta CECÍLIA, não jogue pedra na GENI, eu vou fazer uma canção
assim tão caudalosa para IOLANDA e para IRACEMA que tem saudade
do Ceará.
Enquanto toda gente homenageia JANUÁRIA na janela, JOANA
FRANCESA geme de loucura e de torpor.
LÍGIA toma um chopp gelado em Copacabana e LOLA chega assim
arrancando páginas dentro de mim.
Pra LUÍSA dormir em paz eu faço a lua, eu faço a brisa, pois, não é que
MADALENA foi pro mar e eu fiquei a ver navios!
NINA disse que fez meu mapa e MARIA partiu, e está toda nua, que a
lua chamou; enquanto isso RENATA MARIA saía do mar.
Será que CRISTINA volta? Será que fica por lá?
E SÍLVIA na dúvida, tanto faz, jaz, morre de amor que é capaz, e por
Deus nosso senhor, eu não olhei SINHÁ.
E TEREZINHA falou que ele chegou do nada e nem nada perguntou.
Dorme minha pequena HELENA, eu vou sair por aí afora porque
TERESA, essa tristeza não tem solução.
Faltou ANA, que foi para Amsterdã, faltou ROSA que trabalha de
plantonista e faltou MARIA de João que andava nua pelo seu país.

KUKUKAYA Poesias – 80
O ABRAÇO DA CHUVA A ESFINGE E O LIVRO

Mereço o abraço E a esfinge indagou ao livro:


da chuva! - Respondes-me ou devoro-te?
O livro respondeu:
Lá fora, me inverno - Devora-me,
e sou tempestade. eu não preciso de respostas!

Dou rasantes
e trino agudo!

Agudo-me quando me inverno.

Saudosismo?
Itinerários lúdicos.

O sol não me é saudoso,


é sonolento e desigual.

Tenho desejo de água,


fazendo barreira em mim.

Alargando-me tempos pluviais.


Ser de livro lendo livres livros - Imagem de pintura em
Sede de fonte crianceira realismo fantástico com arte de André Martins De Barros, 1942.
dançando na rua. Disponível no Portal Pinterest Brasil - sítio: br.pinterest.com, e
no sítio: www.tuttartpitturasculturapoesiamusica.com

De tudo o que penso agora:


é que mereço o abraço da chuva.

Dançando na Chuva - Imagem sem identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no


Portal Pinterest Brasil - sítio: br.pinterest.com, e no sítio: stockvault.net

KUKUKAYA Poesias – 81
CANTO PRAIANO

Minha alma jangada,


vela esticada, na ventania,
segue arredia a navegar
abrindo a porta morna do dia,
que dá pro mar.

Coqueiros ébrios, cambaleando


Com suas palhas me acenando
E o sol brilhando no olhar salgado
Vento cantando, ondas dançando
Céu se espelhando no chão molhado.

Moça morena que assa o peixe,


por favor deixe
que a brasa viva desse teu beijo
se apague um pouco
na água de coco do meu desejo.

Em teu encalço sigo eu descalço,


Pisando em falso e tu nem sentes
Que a areia quente me queima os pés
Lua crescendo, maré lançando
peixes brilhando nos jererés.

À noite, a lua
brilha na palha
E a espuma espalha
seu crochê branco
no imenso manto de areia alva.

E a vida bêbada cai bocejante


ao olhar distante da estrela d’alva.
O mundo é louco, não vale um coco,
um banho no rio, ou um samburá
Jangadeiros ao mar - Pintura com a arte de Damião Martins. Disponível velho e vazio
no sítio: damiaomartinspintor.blogspot.com, e no Portal Pinterest BR - sítio:
br.pinterest.com
De um dia morto, sem pescaria,
de calmaria, sem navegar.
Só pra mostrar minha valentia,
Juro, Maria, que qualquer dia
Eu bebo esse mar ...

KUKUKAYA Poesias – 82
MULHERES

Qual seu movimento?


De leituras
Escrituras
Pinturas
Revolução?
Psicanálise
Culinária
Agricultura
Aviação?
De corpo
Leito
Deleite
Marcha das Vadias em Copacabana, Rio de Janeiro/RJ - Foto: Fernando Frazão para Perdição?
a Agência Brasil em 09/08/2014. Disponível no sítio: www.poder360.com.br
Sacro
Santo
Reboliço
De sapatilhas
ESPELHO De coturnos
Com pés no chão?
Mulheres fortes
Se me anestesio é Destemidas
Pra te acordar. Por outra vida
Guardo minha fúria, minhas vontades, meus desejos. Sem prescrição.
Quase nem me vejo. Mulheres
Se olho no espelho, Lutam todos os dias
Atravesso Por uma nação.
O vidro, Revoltas,
Paro, Criam
De mim duvido. Desobedecem
Aqui de volta estou? Modelos de escravidão.
Não sei como, Juntam gente
Já que nem devota eu sou. Constroem revolução.

Mulher no Espelho, arte em pintura de Pablo Picasso - Foto da pintura sem identificação
de autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal Pinterest Brasil - sítio: br.pinterest.com,
e no sítio: artrianon.com

KUKUKAYA Poesias – 83
CURVA DO VENTO

O vento em nós vai e vem


soprando enigmas no além da mente.
Força momentânea que movem
vidas, as incontroláveis árvores.
Os nossos corpos e voos de pássaros,
também são mistérios indecifráveis.
Caro ar que agita o amar fortemente
feito as ondas do mar do bem.

Vento em meus cabelos que balança


e energiza o meu corpo inteiro,
me chamando para te amar, esperança,
iluminada pelo sol de janeiro.

E em minha pele, sinto-me arder


vontade de carinhos e beijos em flor,
trazendo a cada momento o ter
o que quero, e espero em nós, amor.

O que sinto no meu olhar,


sonhos e desejos de amar.
E que contemplem o ser eu e você,
Amor de nós na Curva do Vento - Foto de Tracie Taylor.
Disponível no Portal Pinterest Brasil - sítio: br.pinterest.com, e no a total felicidade na beleza do viver.
sítio: 500px.com

À espera do seu doce sorriso


iremos sentir instantes inesquecíveis.
O aroma do mar, areia sob os pés
a construir o nosso amor, mundo novo.
E se amando o vento faz curvas,
brisas sopram o que me pertence
quando estive em seus braços,
magia voluntária do amar e sonhar.

PRIMAVERE-SE

Primavere-se com a beleza do mar


Com a pureza de uma criança a encantar
Com a as asas dos pássaros a voar
Com o perfume das flores a exalar
Beleza de Primavera – Artes em pintura de Nancy
Com o mel e o néctar da abelha a doar
Medina (@nancymedina). Disponível no Portal Pinterest Com um sorriso no rosto e no olhar
Brasil - sítio: br.pinterest.com, e na página “Nancy Medina
Art Studio” - sítio: www.nancymedina.com
Com a beleza da vida a sonhar
Com a fé a esperançar
Com o coração a amar.

KUKUKAYA Poesias – 84
TERÇO

A vida se tece
Num sonho,
Em tecido delicado.
Entecendo dores, lágrimas
Silêncios, diálogos.
Por vezes gira em mãos ágeis,
Ora, quase se desfia nos dedos,
de tão delicada.
A vida num fio,
Afina, se torce em segredos,
Num terço, em muitos rosários.
Tece, entretece,
Desfaz-se, e de novo se tece
como terço sem fim.
Mas que não se descuide:
A vida é um triz!
E só bem sabe viver
Se do sofrer, ter a cicatriz
Um terço tecer – Imagem de autoria provável de Geuciene Almeida
Para não passar de mão em mão,
(@geuciene). Disponível no Portal Pinterest Brasil - sítio: Esse terço vão,
br.pinterest.com, e na página do Instagram @donnag.croche
De viver, sem tentar ser feliz.

ESPERANÇA

A ternura me visita
Com asas verdes
de esperança.
E paciente me explica
A necessidade da espera.
Cautelosamente se aguarda
O novo tempo,
Novos ventos,
Pra ver a vida se tecer
Mover, florir do nada,
Como um moinho ritmado
Tirando do poço mais profundo
O cheiro das águas. Esperança, ponte para um melhor futuro desejado - Foto da pintura sem
identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal Pinterest Brasil -
sítio: br.pinterest.com, e no sítio: gauchazh.clicrbs.com.br

KUKUKAYA Poesias – 85
---

De todos os ângulos
A Terra da Poesia é bela,
Seja num círculo ou num retângulo,
Minha fortaleza, minha cidadela.
Vista parcial da bela cidade de Assú RN - Foto de Paulo Sérgio de Sá Leitão.
Imagem autorizada a disponibilização para ilustrar, nesta revista, poemas do
Poeta Paulo Sérgio de Sá Leitão que exaltam de forma poética a sua terra natal.

---

Uma cidade vestida de Fé.


Do Rei Janduí, o bravo indígena Canindé.
Aldeia grande, por nós habitada,
Onde a Poesia fez sua morada.
Letreiro turístico que proclama o amor a cidade de Assú RN - Foto de
Paulo Sérgio de Sá Leitão. Imagem autorizada a disponibilização para ilustrar,
nesta revista, poemas do Poeta Paulo Sérgio de Sá Leitão que exaltam de forma
poética a sua terra natal.

---

Faça sempre uma prece.


Pode ser no terço, ou no coração, o seu sacrário.
Visite a nossa cidade, a rua, a quermesse,
Mas não esqueça da Praça do Rosário.

Praça do Rosário em Assú RN - Foto de Paulo


Sérgio de Sá Leitão. Imagem autorizada a
disponibilização para ilustrar, nesta revista,
poemas do Poeta Paulo Sérgio de Sá Leitão que
exaltam de forma poética a sua terra natal.

KUKUKAYA Poesias – 86
---

Ela passeia na linha do vento,


Com natureza em pertencimento,
Do momento de curtir liberdades,
Ao de refletir sobre suas verdades

Felicidades então lhe sopram,


De brisas a furacões formam,
E levam dela os problemas,
Sem rótulos, regras ou temas,

Apenas para a deixarem plena,


Como mulher leve feito pena,
Na cena de suas vontades,

Peculiaridades de um coração,
Que equilibra razão com emoção,
Na resolução das tempestades...
Ela, A Musa Amada do Poeta - Foto: Ricardo
Morais. Disponível no Facebook e Instagram de
Ricardo Morais, respectivamente nos sítios:
www.facebook.com/imagemepoesia.br Poema: Ricardo Morais - @imagemepoesia
www.instagram.com/imagemepoesia

Foto e poema: Ricardo Morais - @imagemepoesia Foto e poema: Ricardo Morais - @imagemepoesia

KUKUKAYA Poesias – 87
E lá vem chuva e depois o cheiro da terra– Imagem
sem identificação de autoria na fonte pesquisada.
Disponível no Portal Pinterest Brasil - sítio:
br.pinterest.com, e no twitter.com - Cultura Caipira Blog:
@culturacaipira

CHEIRO DA TERRA

Cheiro da terra é cheiro do prazer


De ver o chão rachado, ressecado,
Agora umedecido e preparado
Para um novo plantio receber.

O cheiro que se espalha a promover


Nova esperança ao homem do roçado,
Cuja seca deixou desesperado,
Vendo os filhos sem ter o que comer.

Cheiro da terra que traz novo alento,


Amenizando um pouco o sofrimento
Desse povo sofrido e esquecido.

É o cheiro do Amor do Pai querido,


Que parece do alto ter ouvido
O choro do seu povo em desalento.

KUKUKAYA Poesias – 88
EXPRESSIONISMO
Ao artista plástico e poeta Alfredo Neves.

O pincel dança a valsa das cores


com sua cabeleira de sereia;
matiza e lança sua pele de teia.

Da cabeça aos pés


uma linha cruza e se derrama
na lagoa que tem solta a imagem plana.

E nenhuma superfície é evitada,


se a mão aguarda adormecida
a expressão frenética do artista.

A imaginação se arremessa
na ausência do esboço,
no que, invisível, exalta o talento e o esforço. Expressionismo Abstrato – Pintura com arte de
Alfredo Neves. Foto do acervo pessoal do artista Alfredo
Neves que gentilmente forneceu a fotografia da sua
E as cores, em seus imóveis desertos, pintura para ilustrar o presente poema.

não se esquivam da sorte,


da arte que celebra a vida e nega a morte.

PEDRA

Quando sentir vontade de chorar,


Não tire da alma o direito de se lavar
Nem de você a esperança de ser livre.
Não esconda do mundo a força que tens
Por vergonha de ser humilde,
Para não alimentar um orgulho tão fútil.
Não esconda de você a riqueza de ser nobre,
Nem o luxo de ser simples, quando pode se tornar grande.
Permita que tua alma grite,
Para que todos possam te ouvir,
Mas não te vejam chorar.
É da luz que nasce a sombra,
É da dor que sai a alegria,
É por haver a dificuldade que existe a esperança. Escultura de Pedras em Equilíbrio - Fotos de
Michael Grab para o Projeto Gravity Glue. Disponível no
Portal Pinterest Brasil - sítio: br.pinterest.com, no Portal
Yahoo Notícias - sítio: br.noticias.yahoo.com, e na
página do Projeto Gravity Glue de Michael Grab - sítio:
gravityglue.com

KUKUKAYA Poesias – 89
Valsa do Amor – Ilustração com arte de Pascal
Campion. Disponível no Portal Pinterest Brasil - sítio:
br.pinterest.com, e no sítio: gallerypascal.com

VALSA DO AMOR

Lá, onde os olhos cintilam em seu marear,


Onde o coração palpita sem parar,
De tua imagem vestindo a saudade nua
Fazendo-me solver essa brandura tua,
É o templo onde as almas
Que se completam se encontram
A festejar em júbilo o amor.
Perene a galardoar-se em beijos
Numa girândola de sons e flores
Nesse painel onde os amores
Têm nome de eternidade.

ALMA NOBRE

Quando sentir vontade de chorar,


Não tire da alma o direito de se lavar
Nem de você a esperança de ser livre.
Não esconda do mundo a força que tens
Por vergonha de ser humilde,
Para não alimentar um orgulho tão fútil.
Não esconda de você a riqueza de ser nobre,
Nem o luxo de ser simples, quando pode se tornar grande.
Permita que tua alma grite,
Para que todos possam te ouvir,
Mas não te vejam chorar.
Alma nobre de luz e bem – Imagem sem identificação
É da luz que nasce a sombra, de autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal
É da dor que sai a alegria, Pinterest Brasil - sítio: br.pinterest.com
É por haver a dificuldade que existe a esperança.

KUKUKAYA Poesias – 90
SER POETISA É...

Ter a ousadia da Simone de Beauvoir!


E, como Clarice Lispector, viver a sonhar!
E, assim como Hilda Hilst, querer voar!

Ser realista como Maria de Jesus, a Carolina!


Ser como a rainha dos Reis, Maria Firmina!
Ser simples e leve como Cora Coralina!

Ser Ana Maria Machado, infanto-juvenil


Ser Elvira Vigna, afável e varonil.
Como Myriam Coeli, uma cabeça febril.
Casa é onde escolho estar / Morada é o caminho
(detalhe) – Desenho ilustrativo com arte de Carolina Itzá.
Disponível na página “Memorial de Maria Firmina dos Reis Não ser alegre nem ser triste como Meireles, a Cecília!
- Revista Firminas” no sítio: mariafirmina.org.br/trouxeste- Ser livre, na correria dos prados, como Adélia!
a-chave-ou-o-sorriso-de-carolina-fernanda-miranda
Sem nunca ter sido espancada, ser Florbela!

Chuva no Sertão do Piauí – Fotografia de André Pessoa na periferia do


Parque Nacional Serra das Confusões (PI). Disponível na página “wikiparques”
- sítio: https:www.wikiparques.org

CHUVA

Água pura cristalina


caiu no chão do sertão,
trazendo felicidade,
choro, riso e emoção.
Encheu açudes e rios,
transbordou meu coração.

KUKUKAYA Poesias – 91
NATÁLIA*

Meu canto corta a ribeira


Cidade nova de amor
Grito pelos igapós
Um desafio em flor.

Tempero a minha alma


Com um ramo de alecrim
O meu coração de rocas
Picado de maruim.

E a esperança que descansa


Numa redinha pequena
Capim macio do pátio
Mãe Luiza flor morena.

Dix sept botões rosados


Lagoa nova secou Natália, uma homenagem a cidade do Natal RN na poética musical evocando seus
O grande ponto dos sonhos bairros e lugares belos – Mosaico de fotografias da cidade do Natal: da esquerda para a direita –
foto 1) – Bairro da Ribeira com o Solar Bela Vista do SESC RN – Foto sem identificação de autoria, e
Candelária, virgem amor. disponível no sítio: www.tribunadonorte.com.br ; foto 2) – Bairro do Alecrim com o Relógio da Praça
Gentil Ferreira – Foto sem identificação de autoria, e disponível no sítio: www.tribunadonorte.com.br;
foto 3) – Bairro da Redinha com vista das Barracas da Praia da Redinha e ao fundo a “Ponte de
O forte da negra ponta Todos Escritor e Artista plástico Newton Navarro” - Foto sem identificação de autoria, e disponível
no sítio: www.praiasdenatal.com.br; foto 4) – Bairro da Cidade da Esperança apresentando uma das
Cantinho de Mirassol suas ruas principais - Foto sem identificação de autoria, e disponível no sítio:
www.tribunadonorte.com.br; foto 5) - O histórico Forte dos Reis Magos na Praia do Forte – Foto de
Brasília teimosa, reis Alexis Régis, estando disponível no sítio: www.tribunadonorte.com.br ; foto 6) – Bairro de Mãe Luiza com
Barreira d’água, Tirol. vista do Farol de Mãe Luiza e o mar ao fundo - Foto de Kaline Lucena, e disponível no twitter.com,
perfil da Prefeitura Municipal do Natal: @NatalPrefeitura; foto 7) - Bairro de Ponta Negra com vista da
Praia de Ponta Negra e o Morro do Careca - Foto sem identificação de autoria (foto reprodução), e
disponível no sítio: viagemeturismo.abril.com.br.com.br; foto 8) – Bairro de Morro Branco
O morro branco que guarda apresentando uma das suas ruas e ao fundo o morro dunar – Foto postada por Saul S., e disponível
no sítio: pt.foursquare.com;
A areia preta do mar foto 9) – Bairro da Cidade Alto apresentando o Centro Histórico do Natal na Praça Sete de Setembro
Cidade alta de mágoas com vista da Pinacoteca do Estado do Rio Grande do Norte (Espaço Cultural Palácio Potengi), Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Norte e o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, e oculta da foto, se
Bom pastor a vaquejar. localiza próximo ao local, o Palácio Felipe Camarão, sede da Prefeitura Municipal do Natal – Foto sem
identificação de autoria, e disponível no sítio: natalrn.com.br

E a esperança que descansa


Numa redinha pequena
*Poema musicado pelo compositor, cantor e musicista - Nagério.
Capim macio do pátio
Mãe Luiza flor morena.

“NATÁLIA*” - Composição poética musical de Tertuliano Aires e Nagério


Gravação de clipe musical para: SOM SEM PLUGS
Ouça no YouTube – canal do Som Sem Plugs.
Faixa Bônus: Tertuliano Aires
https://youtu.be/U584MphqXlo

Veja também: “Ideia pregada na parede”


Composição poética musical de Tertuliano Aires
Gravação de clipe musical para: SOM SEM PLUGS
Ouça no YouTube – canal do Som Sem Plugs.
Tertuliano Aires – Ideia pregada na parede – Composição: Tertuliano Aires

https://youtu.be/lUEHbNyyTaY

KUKUKAYA Poesias – 92
A Musa do poema e filha amada - Anabele - Foto de Vilmaci
Viana (acervo da família. Disponibilização autorizada de
fotografia para ilustração do poema autoral “Bela”. Disponível na
rede social Instagram de: @anabelevs

BELA

Como é bela!
É sol que brilha
Após dias nublados,
É pomar que aflora
Após primavera ter chegado.
Assim é Anabele,
Com seus cabelos negros,
Realçando a sua pele clara
Como lua cheia,
Deixando a água do mar prateada.
É brisa,
É afável,
Bela, amada e amável
Sereia que encanta.
Anabele é assim:
É mar sem fim.
É rosa única de um mundo jardim!

KUKUKAYA Poesias – 93
Café Caipira – Foto com arte de Juarez Teixeira. Disponível no Portal Pinterest Brasil - sítio:
br.pinterest.com, e no Portal flickr - sítio: www.flickr.com

---

lembro da voz
do meu pai
e do meu avô,
mais do que outras coisas.

eles conversando
animados
muito cedo
ao pé do fogão a lenha.

lembro que acordar assim


na casa antiga do sítio
era como uma pequena dádiva:

as frestas das telhas de barro transluzidas pela luz-girassol


deixavam o quarto todo atravessado
por espadas de samurais intergalácticos.

e eu tomava café com língua


e bolacha-seca-gostosa
e assistia o “sítio do pica-pau amarelo” em sua primeira versão,
em preto e branco,
na televisão grande encerrada numa grande caixa de madeira rajada.

viver bem é não ter que se perguntar pela vida


nem ver o tempo passar.

KUKUKAYA Poesias – 94
CARROSSEL

A máquina me empreguiça
Gosto das palavras que escorregam no céu da boca
E riscam o papel
Acho graça e choro
A palavra, mesmo que doída, é carrossel
A dor, mesmo que vazia, é véu
Meus dedos confusos, perdidos
Dançam no salão deste caderno preto
Que logo será esquecido
Lembrado apenas pelas traças pequenas
Que rastejam e mastigam o meu fel
Gosto da palavra viva
Mesmo que depois de morta
Desenterrada do cemitério da garganta
Eu, um poeta Babel

Torre de Babel no Reino Babilônico - Imagem de pintura do artista


Athanasius Kircher (1601 - 1680). Disponível no Portal Pinterest Brasil
- sítio: br.pinterest.com, e na página da Universidad Complutense
Madrid na Biblioteca Histórica Marqués de Valdecilla - sítio:
biblioteca.ucm.es

KUKUKAYA Poesias – 95
O novo renascer como uma Fênix – Imagem sem identificação
de autoria na fonte pesquisada. Disponível no sítio: br.pinterest.com,
e no sítio: www.wattpad.com

O NOVO

O novo não pode ser hipocrisia


Tem que revolucionar faceiramente
Ter o álibi discreto da democracia
Poeticamente livre e inteligente

Agradável como uma cerveja geladinha


Na suavizes do sol de um vento matinal
O novo tem que acordar de forma espiral
Renovando a ignorância na artimanha

O novo estar além desse falso amor


Nos escritos passionais de ébrios lunáticos
De pensamentos psicóticos retóricos

O novo é necessário e preciso, sem temor,


Da hipocrisia faça cinzas esvoaçadas,
Como fênix, voe distâncias nas ideias aladas.

KUKUKAYA Poesias – 96
A Música dos Matutos dos Sertões do Brasil - Imagem sem
identificação de autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal
Pinterest Brasil – sítio: br.pinterest.com

A VOZ DO MATUTO, A POÉTICA DA ALMA

Fui convidado pelo Poeta José Ivam Pinheiro, editor da revista KUKUKAYA Poesias, a
escrever algumas linhas sobre a inspiração poética matuta e devo confessar ter ficado muito
feliz. Dá muito gosto relembrar as coisas matutas e deixar que a palavra nos brinde com seu
frescor da aurora matinal, seu doce sorriso, o que só o casamento da palavra e o lampejo da
imaginação poética, salpicados por um desejo de amor sincero e inocência podem produzir. E
o Cuitelinho não gosta que o botão de rosa caia (...), esta frase lapidar do cancioneiro matuto é
um trecho da música “Cuitelinho”, da qual não se sabe o compositor. Música recolhida por
Paulo Vanzolini em suas andanças pelo Pantanal Mato-grossense. Poderia escrever teses e mais
teses sobre a delicadeza da alma e cairia prostrado ante a impotência de defini-la, mas ... o
matuto, em poucas palavras, mais que definir, exprimiu poeticamente a delicadeza da alma, e
“... o cuitelinho não gosta que o botão de rosa caia ...”, causando revolução, confusão de
moléculas em nosso pequeno corpo não acostumado a revoluções. Estrago maior ainda tem
estas singelas palavras “e o Cuitelinho não gosta que o botão de rosa caia” na voz dos pretos
velhos - Pena Branca e Xavantinho, pois dizer o que o matuto disse, carece de um matuto que o
diga. A palavra dita no atacado é como uma palavra a mais de tantas outras tantas ditas sem
sentido, mas a palavra dita com o bem querer do matuto tem coloração própria, única e
inconfundível, inenarrável, mesmo pelas próprias palavras, porque se consome no desejo do
seu bem querer, se volatiza no éter, se inscreve no coração, como moto contínuo que dá sentido
à vida.
A reportagem midiática quer o pecado de percorrer todos os caminhos, especular sobre
algo mais que tudo, mostrar o circo da via com seu show de horrores e deslumbre, mas o matuto
se contenta com a moenda da vida, com o ver o cuitelinho comunicando sentido, unindo ciência
e poesia. Se contenta com um dedinho de prosa que, sem pretensão de mais dizer, a tudo
comunica, a tudo ressoa. Diz o que sente e daí ao patamar da física holística, que tantos físicos
se debruçam sobre sua compreensão, mas o matuto quando diz sem lapso de descontinuidade
com o que sente é pura física, é o universo em movimento, é a força depurada da violência, é o
vibrar que dá sentido à existência, é o encontro de criador e criatura num ato de amor. A palavra,
sendo sagrada em sua nobre função de dar cor e voz à vida, não pode ser dita mesmo a esmo,
nem ser dita por quem não está presente. A palavra requer compromisso, requer alma
translúcida, que diga vibrando e vibre dizendo, requer alcançar a complexidade do todo através
da simplicidade do ser. Requer aceitar a moenda da vida, exprimir gratidão, não querer ser mais
do que se é, requer ter voz e ouvidos presentes, receptivos ao amor de Deus. Aquele Deus longe
do Deus maioral e acima de todos pintado pela Religião, mas simplesmente o Deus que tornou-
se Deus por não reservar nada para si, Deus de pura Doação, que plasmou a natureza como ato
de doação e o Matuto se regozija em receber esta natureza e inebriar-se com sua fragrância
divina.

KUKUKAYA Poesias - 97
Tentar dar definição ao que seja uma declaração de amor por outrem parece muito difícil,
até pesado como chumbo quando medimos o objeto pela impotência de atingi-lo. Carece mesmo
de um matuto que o diga, sem pretensão de dizer mais do que se diz: “Meu amor está doente,
eu não sei o que eu faço, dou um xarope de suspiro e um suador de abraço...”,e, “eu jurei matar
meu bem co´ uma bala perigosa, uma bala de suspiro, chumbo de botão de rosa ...”, são frases
de outra bela música de domínio popular “moreninha vem cá”, cujas palavras exprimem a
singeleza de um ato de amor, sem peso nem dor, sem arroubo de nada querer provar a ninguém.
Um dos heterônimos do magistral Poeta Fernando Pessoa, Alberto Caeiro é a
personagem que exprime a sabedoria matuta. Alberto Caeiro é filosofo e cientista, mas
arraigado à sua natureza, arraigado à simplicidade do viver, cuja dramaticidade do simples
existir o transforma em expectador e protagonista deste inenarrável milagre, orquestra de
imagens, sons e sentidos, refundindo na trama da vida. Diz-nos Caeiro1: “Eu não tenho filosofia:
tenho sentidos… se falo na natureza não é porque saiba o que ela é, mas porque quem ama
nunca sabe o que ama, nem sabe por que ama, nem o que é amar… amar é a eterna inocência,
e a única inocência não-pensar…”. Diz-nos, ainda, Caeiro2: “Quem me dera que a minha vida
fosse um carro de bois que vem a chiar, manhãzinha cedo, pela estrada, e que, para de onde
veio, volta depois quase à noitinha, pela mesma estrada”
Em minhas diminutas peregrinações pela poesia escrevi: O Cais da Alma..., pode o duro
cimento servir-lhe de recheio, o mais fiel destacamento perscrutar lhe o devaneio?!!!... O drama
da vida é mesmo único, é história que não manda recado, mas dá seu recado em sua própria
estória. Vivemos todos carentes da um ambicionado futuro promissor, carentes de mais
ciência, de mais vacina, de mais afetos, sem, contudo, perceber que somos nós os
protagonistas do milagre de existir. Tantos quantos sejam os seres, tantas quantas sejam as
estórias, cada qual com matiz único de cores e sentimentos, confluindo cada estória no mar, no
éter da vida em movimento, transformada em sintonia divina. Um emaranhado de estórias,
aparentemente sem sentido, mas cuja amálgama é o semblante do criador. Deliciem-se
assistindo o Filme “Narradores de Javé”, onde o carteiro Antônio Biá, interpretado pelo grande
ator José Dumont, procura escrever a história dos moradores de uma cidade sertaneja
submersa pelas águas de uma represa, através da recolha dos fragmentos trazidos pela
narração dos moradores, porém, paradoxalmente acaba por se embriagar por tantas estórias e
versões trazidas, por tantos sentimentos, e daí é tragado pela torrente do rio das paixões e
sentimentos, e descobre-se protagonista em meio a este aparente sem-fim da existência.
Ingenuamente, queriam um registro da cidade que se perdeu de baixo da água, mas o destino
encontra vivo este registro na caixa preta da alma. Povos indígenas, tribos inteiras, ancestrais
que partiram deste mundo. Estão vivos na ode, no panteísmo, no Deus vivo na natureza, na
história imorredoura, no culto aos nossos ancestrais, na história oral, na tradição, no dar-se as
mãos, no confidenciar sentimentos, no transmitir lendas, mitos, que libertam a imaginação do
peso da existência. Salve a sabedoria ancestral, salve o indígena, salve o matuto, salve o
caboclo, salve nossos Xamãs! Pajés! que nos curam de toda patologia de querer transformar a
vida numa caricatura, que nos libertam das maquinações de nos transformar em coisas,
expectadores, objetos.

Narradores de Javé, filme premiado em que o povo matuto faz o protagonismo e


contam as suas estórias e memórias – Foto sem identificação de autoria na fonte
pesquisada (divulgação do filme). Disponível no sítio: www.papodecinema.com.br

KUKUKAYA Poesias - 98
Já me fogem as palavras, pois é a mim interditado dizer o que não se diz e a esta altura
socorro-me de uma Luz, de um Zé, de um Zé da Luz3:
BRASIL CABOCO

O qui é Brasí Caboco? Brasi caboco num inscreve; Brasi das briga de galo!
É um Brasi diferente munto má assina o nome do jogo de "sôco-tôco"!
do Brasí das capitá. pra votar pru mode os home É o Brasi dos caboco
É um Brasi brasilêro, Sê gunverno e diputado amansadô de cavalo!
sem mistura de instrangero,
um Brasi nacioná! Mas porém. Brasi caboco, É o Brasi dos cantadô,
é um Brasi brasileiro, desses caboco afamado,
É o Brasi qui não veste sem mistura de instrangero qui nos verso improvisado,
liforme de gazimira, Um Brasi nacioná! sirrindo, cantáro o amô;
camisa de peito duro, cantando choraro as mágua.
com butuadura de ouro... É o Brasi sertanejo
dos coco, das imbolada, Brasi de Pelino Guedes,
Brasi caboco só veste, dos samba, dos vialejo, de Inácio da Catingueira,
camisa grossa de lista, zabumba e caracaxá! de Umbelino do Texera
carça de brim da "polista" e Romano de Mãe-d'água!
gibão e chapéu de coro! É o Brasi das vaquejada,
do aboio dos vaquero, É o Brasi das caboca,
Brasi caboco num come do arranco das boiada qui de noite se dibruça,
assentado nos banquete, nos fechado ou tabulero! machucando o peito virge
misturado cum os home no batente das jinela...
de casaca e anelão... É o Brasi das caboca Vendo, os caboco pachola
qui tem os óio feiticero, qui geme, chora e soluça
Brasi caboco só come qui tem a boca incarnada, nas cordas de uma viola,
o bode seco, o feijão, como fruta de cardoro ruendo paxão pru ela!
e as veiz uma panelada, quando ela nasce alejada!
um pirão de carne verde, É esse o Brasi caboco.
nos dias da inleição É o Brasi das promessa Um Brasi bem brasilero,
quando vai servi de iscada nas noite de São João! sem mistura de instrangêro
prus home de posição. dos carro de boi cantano Um Brasía nacioná!
pela boca dos cocão.
Brasi caboco num sabe Brasi, qui foi, eu tô certo
falá ingrês nem francês, É o Brasi das caboca argum dia discuberto,
munto meno o português qui cum sabença gunverna, pru Pêdo Arves Cabrá.
qui os outros fala imprestado... vinte e cinco pá-de-birro
cum a munfada entre as perna!

Depois de me refastelar com o regalo dessa preciosidade literária, timbrada no chão


sertanejo do Brasil Caboco, do brasileiro filho das várias etnias aborígenes, africanas,
ocidentais e orientais, do caboco, do boiadeiro, só me resta exprimir gratidão aos cabocos:
Zé da Luz, Patativa do Assaré e a todos os matutos que iluminam meu caminhar e o faço
entoando o aboio, cujas palavras singelas evocam um turbilhão de sentimentos e de
experiências afetivas e sensoriais, Ê ê ê ê Vaca Estrela, Ô ô ô ô Boi Fubá!

1 Acesso em 11/09/2020: http://arquivopessoa.net/textos/1463


2
Acesso em 11/09/2020: http://arquivopessoa.net/textos/598
3 Acesso em 11/09/2020: http://culturanordestina.blogspot.com/2009/07/poesias-de-ze-da-luz.html

*Marcelo Othon Pereira –Graduado em Música (Licenciatura) pela UFRN, estudou Viola Caipira na Universidade Livre de
Música Tom Jobim de São Paulo SP, e participou da Orquestra Paulistana de Viola Caipira. É Professor do Curso de Extensão
Universitária de Viola Sertaneja oferecido à comunidade gratuitamente no IFRN, Campus Cidade Alta, sendo que a partir desse
curso surgiu a Orquestra Potiguar de Viola. Compositor musical, em especial na viola caipira, fez a trilha sonora do filme
comunitário "TU SE ALEMBRA" do poeta cordelista Hailton Mangabeira, sendo que a sua música "Chuva Chegou" ganhou o 2º
lugar no Festival da Universitária FM - FMPB 2012 - categoria Instrumental. É um dos criadores do BANDO FABIÃO, atuando na
Coordenação Técnica Musical com os grupos: Folia de Reis, Samba de Roda e Prática de Viola.

KUKUKAYA Poesias - 99
Mulher sob o Sol – Arte de Fotografia de Federico Bebber
(elkoweb) e George RedHawk Motion Effects. Disponível no
Portal Pinterest Brasil – sítio: br.pinterest.com e no sítio:
blogger.googleusercontent.com

CONFISSÃO SOB O SOL*

A casa onde moro ficou pequena, diminuta, mínima! Dentro, há uma luz cor de sol e eu
me inflamo: fogo vulcânico em terras de superfície quente ao extremo dos graus infernais. Uma
dor dantesca se abre em flor morta, morna. As paredes exalam uma espécie exótica de incenso
que se mistura com o cheiro do meu corpo agoniado.
Dias intensos seguidos de solidão!
Em três dias, uma presença doce ameniza, mas quando se apresenta, crítico e cínico, o
primeiro dia da semana seguinte; já estou exausta! Já não consigo respirar o mesmo ar que eu
respiro de mim mesma e, a minha solidão – expulsa por três luas – bate na porta com dedos
leves e silenciosos incomodando-me, mesmo com Marley tocando no som.
Na cozinha a comida se mistura e, em minha própria casa, meu santuário particular, sinto
o cheiro do Horto de Auta. Do dela brotavam poemas. O meu, incomparavelmente distinto,
germina prosa. Nos cantos da casa encolho-me e os centímetros, cada vez mais milimétricos,
provocam-me um forte desejo de gritar. Aquele grito de Munch; grito rouco que consegue
ultrapassar-me em notas dissonantes de voz que precisa calar. Precisa, mas não deve!
Sou tão covarde!
No quarto, o meu! Nele posso ficar na sombra leve que me transporta ou me reflete na
paz de uma montanha fria em outro continente, fora das Américas. Sou mesmo daqui?
Ficarei quando a morte chegar, nos tempos de pandemia viral?
O sol, como sempre, desde que entendi a sua forma de colocar-se no planeta, não me é
doce e lindo. É, excessivamente canário-avermelhado e eu mantenho péssimas relações com
ele, incordiáveis!
Dentro desta casa existencial, um gosto de zinabre e fel juntos se liquidificam. No fundo
não gosto de ser a fêmea que a sociedade me obriga a ser. Tenho voos, imensas asas! Tenho
o sonho como forma de ressignificação. A água chorosa, lacrimosa é engolida por essa
violência que sou levada a sofrer e a permitir a mim, mulher condicionada a uma cultura
machista e hipócrita.
O cercado está fechado!
Sons de vizinhos me cansam os ouvidos que foram educados pelo gosto pessoal de só
aceitar o que considero agradável e polido. Sou polida, e daí? Estou muito cansada!

*Crônica escrita em abril de 2020 – Isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19.

** Maria Maria Gomes - Poeta/Escritora de versos e crônicas em prosas poéticas, contos e romances, nasceu em Currais
Novos/RN, e é consulesa do Seridó, título conferido pelo movimento poético Poetas del Mundo, com sede no Chile.
É professora de língua portuguesa e língua inglesa, na rede pública de educação do estado do Rio Grande do Norte.
Já publicou mais de uma dezena de livros, e mantém um vídeo blog no You tube - “Maria Maria no Mundo das Palavras”,
espaço de abordagens literárias e de análises de livros e aconselhamento de leitura.

KUKUKAYA Poesias - 100


Por: Horácio Paiva*

Walt Whitman, O Poeta da Democracia - Imagem sem


identificação de autoria. Disponível no sítio: brasiliarios.com

Não há fórmula ou escola para Walt Whitman. Vivendo em pleno século XIX, poderia ter
sido romântico, parnasiano ou simbolista. Mas, não. É um contemporâneo.
“Pioneers! O Pioneers!” é o título de um de seus famosos poemas contidos em “Leaves
of Grass” (“Folhas de Relva”). Ele que também foi um pioneiro, e, neste caso, das letras,
desbravando horizontes na arte poética. Aboliu métrica e rima e adotou o verso livre, longo,
bíblico.
Trabalhou durante toda a sua vida nesse livro. Reescreveu-o várias vezes e a cada
edição adicionava novos poemas. Afora a edição póstuma (a 10ª.) e definitiva, publicou-o em
1855, 1856, 1860, 1867, 1870-1871, 1876, 1880, 1889 e 1892 (ano de sua morte).
Nasceu em West Hills, Nova Iorque, em 31 de maio de 1819 e faleceu em Camden, Nova
Jérsei, em 26 de março de 1892.
Atualmente é reconhecido como um dos maiores poetas americanos (senão o maior,
para alguns), ocupando lugar de destaque na moderna poesia ocidental. Mas nem sempre foi
assim. Como observa Sérgio Milliet, no verbete sobre ele escrito e inserido em seu livro “Obras-
Primas da Poesia Universal”, “Esse seu livro de poemas (referindo-se a “Folhas de Relva”),
publicado pela primeira vez em 1855, foi hostilmente recebido pela crítica e pelo público do
país, o mesmo sucedendo às várias edições que, sempre acrescidas de novos poemas, depois
disso se publicaram. Nos últimos anos de vida, porém foi feita justiça à obra-prima de
Whitman.”
Além de poeta, Walt Whitman escreveu ensaios e exerceu o jornalismo. Do ponto de
vista moral, foi, sem dúvidas, um grande humanista, ativista dos direitos humanos, cantor da
fraternidade, da solidariedade e do amor entre os seres humanos, da natureza e da democracia.
Estes valores constituem verdadeiros ícones em seu plano estético-filosófico-literário, e muitos
o citam como o poeta da democracia. No seu livro em prosa, “Democratic Vistas”, adverte,
entretanto: “Temos escrito demasiadas vezes a palavra Democracia. Contudo, nunca será
demais eu repetir que essa é uma palavra da qual o conteúdo verdadeiro dorme ainda, longe
de ser despertado, não obstante a repercussão e as muitas tempestades iracundas, da língua
e da pena, com que suas sílabas têm sido articuladas. É uma grande palavra, cuja história
imagino que permanece por ser escrita, pois essa história ainda está para ser posta em prática.”

KUKUKAYA Poesias - 101


A propósito, observa, com lucidez, o poeta e tradutor Geir Campos: “Democracia,
segundo os versos e a prosa de Walt Whitman, haveria de ser um fabuloso regime social em
que se resolvessem definitivamente os possíveis conflitos entre o bem individual e o bem
coletivo: o que o poeta queria era “plantar o companheirismo denso como o arvoredo ao longo
de todos os rios, às margens dos grandes lagos e em todas as pradarias”. Só por essa
democracia ideal é que Walt Whitman confessava entoar os seus cantos.”
Defensor da igualdade de direitos entre negros e brancos, ou melhor, entre todos os
homens, insurgiu-se contra a escravidão, participando da guerra civil americana (a chamada
Guerra de Secessão), que se estendeu de 1861 a 1865, servindo como enfermeiro, e dela
saindo doente (adquiriu uma paralisia que o incapacitou até o fim de seus dias).

WALT WHITMAN (* 31/05/1819, West Hills; + 26/03/1892, Camden):

Amostra de Poemas de Walt Whitman:

UMA VEZ ATRAVESSEI UMA CIDADE POPULOSA

Uma vez atravessei uma cidade populosa ilustrando o meu


espírito, para proveito futuro, com suas suntuosidades,
arquitetura, costumes, tradições...
Mas, agora, de tudo dessa cidade, eu me lembro somente de
uma mulher que casualmente encontrei e que me
deteve por ter eu encontrado graça aos seus olhos.
Permanecemos juntos muitas noites e dias seguidos...
Tudo o mais para mim há muito caiu no esquecimento;
Eu me lembro só, na verdade, dessa mulher que apaixonadamente
se juntou a mim.
Ainda hoje andamos à toa, nos amamos e outra vez nos
separamos.
Às vezes ela me segura pela mão para que eu não parta,
E a pressinto juntinho de mim, os lábios mudos, aflitos e
trêmulos.

Tradução do poema: Oswaldino Marques.

ESCUTO A AMÉRICA CANTAR

Escuto a América a cantar, as várias canções que escuto;


O cantar dos mecânicos – cada um com sua canção, como deve ser, forte e contente;
O carpinteiro cantando a sua, enquanto mede a tábua ou viga,
O pedreiro cantando a sua, enquanto se prepara para o trabalho ou termina o trabalho;
O barqueiro cantando o que pertence a ele em seu barco – o assistente cantando no deque do navio a vapor;
O sapateiro cantando sentado em seu banco – o chapeleiro cantando de pé;
O cantar do lenhador – o jovem lavrador, em seu rumo pela manhã, ou no intervalo do almoço, ou ao pôr-do-sol;
O delicioso cantar da mãe – ou da jovem esposa ao trabalho – ou da menina costurando ou lavando – cada uma
cantando o que lhe pertence, e a ninguém mais;
O dia, ao que pertence ao dia – De noite, o grupo de jovens, robustos, amigáveis,
Cantando, de bocas abertas, suas fortes melodiosas canções.

Tradução do poema: Adriano Scandolara.

KUKUKAYA Poesias - 102


NOTAS:
01 - Um poeta negro americano, pouco conhecido e traduzido no Brasil, chamado Countee Cullen
(1903-1946), da mesma geração de Langston Hughes, integrante, como este, do importante movimento
cultural afro-americano, surgido na década de 1920 nos Estados Unidos, e denominado de Harlem
Renaissance (Renascimento do Harlem), escreveu o seguinte poema (também com tradução de
Oswaldino Marques) que, de certo modo, embora trate de incidente que envolve preconceito racial,
lembra, por evocar forte reminiscência, o de Whitman:

INCIDENTE

Um dia, quando eu perambulava pelas ruas da velha Baltimore,


O coração aos pulos, a cabeça transtornada de alegria,
Deparou-se-me um baltimoriano
A olhar insistentemente para mim.
Ora, eu tinha oito anos e era muito franzino,
Nosso tamanho, sem tirar nem pôr, era o mesmo;
E vai então e sorri, mas ele estendeu um palmo de língua
E xingou: - Negro!
De maio até dezembro
Vi a Baltimore inteira,
Mas de tudo que por lá aconteceu comigo
Essa é a única lembrança que conservo.

02 - Paulo Leminski comparava Walt Whitman a Maiakóvski, considerando-o o grande poeta da


revolução americana como este o fora da revolução russa. O seguinte poema de Whitman, homenagem
póstuma a Abraham Lincoln, aqui na tradução de Geir Campos, bem que pode ilustrar essa singular
comparação:

HOJE CALADOS FIQUEM OS ACAMPAMENTOS

Hoje calados fiquem os acampamentos,


e nós soldados enrolemos nossas armas afeitas à batalha,
e cada qual se retire com a alma ponderada a celebrar
a morte do nosso querido comandante.
Para ele não mais os tormentos conflitos da vida,
vitória nem derrota - não mais sombrios incidentes temporais
correndo como nuvens incessantes a cruzarem o céu.

Mas que o poeta cante em nosso nome,


cante o amor que tínhamos ao chefe - pois vós, que habitais
nos acampamentos, de verdade o sabeis.
Enquanto longe levam o caixão,
cante - ao fecharem sobre ele os portões da terra - um verso,
pelo peso que vai no coração dos soldados.

03 – É notável a influência de Walt Whitman em poetas, mesmo grandes poetas, posteriores à sua
geração. Há, por exemplo, na literatura de língua portuguesa, um longo poema, “Saudação a Walt
Whitman”, em que Fernando Pessoa, através de seu heterônimo Álvaro de Campos, lhe presta
homenagem.
*Horácio Paiva – Escritor de prosas e versos (contista, cronista, ensaísta e poeta), advogado e funcionário aposentado do Banco
do Brasil, professor de Direito Civil, Fundador da Comissão Pontifícia Justiça e Paz e ganhador do Prêmio de Direitos Humanos
“Emmanuel Bezerra dos Santos”. É um dos fundadores e atual primeiro presidente da Academia Macauense de Letras e Artes - AMLA.
Dentre os livros que publicou, podemos citar “Navio entre Espadas (2002)”, “A Torre Azul (2012)” e “Caderno do Imaginário (2016)”.
KUKUKAYA Poesias - 103
Vozes deste chão
Banham na pele dos séculos
Cheiros vestindo ventos

De volta trazem ilhas


Ecos das durezas

Pintar céu com sonhos


Luz vertida na carne
Madrugada rítmica o tempo
Relógio de estrada com alongados calos

Chão e sonhos na estação


Nenhum tempo abraça comboio
Locomovem com elos ocos
Loucos movem vozes seculares
Caminhos línguas cheias de mar

E saudades nas cartas do chão


São sombras são sombras
São só sombras nas mãos da madrugada.

Poeta angolano EMA NZADI – Imagem sem identificação


PINTURA DOS ECOS de autoria na fonte pesquisada. Disponível no Portal Mbenga
Artes & Reflexões - sítio: mbenga.co.mz
Ema Nzadi

Ema Nzadi
BIOGRAFIA

Ema Nadi, pseudônimo de Emanuel Vieira Cambulo de nacionalidade Angolana, natural da Província
do Zaire - Angola, escritor Membro do Movimento Litteragris, obras publicadas - Pinturas dos Ecos, obra
vencedora do prémio António Jacinto 2019. Pesquisador de Teoria da Literatura e Literatura de
Expressão Portuguesa. Outras publicações: Antologia Nós e a Poesia, - Revista
amaitepoesias.blogspot.com – Coletânea Lusófona de Poesia e Prosa Poética (Delírio de Inverno),
Antologia Entre Palavras. – Revista Palavras & Arte – Jornal O País.

Instagram: @emanzadi10

KUKUKAYA Poesias - 104


Marcos Antonio Campos
BIOGRAFIA

Marcos Antonio Campos - brasileiro, graduado em Letras, Escritor poeta de versos e prosas
laureado em diversos certames no Brasil, tendo sido contemplado com dois Prêmios Barriguda no
Festival de Música e Poesia de Paranavaí - PR (FEMUP). Membro associado da União Brasileira de
Escritores do Rio Grande do Norte - UBE/RN (atualmente exerce a função de Tesoureiro dessa
instituição literária), Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN e da Sociedade
dos Poetas Vivos do Rio Grande do Norte – SPVA/RN. Autor das seguintes obras literárias (livros
publicados): “Um Bêbado Sonhador”, “Babel”, “Algodão Doce”, “Atropelando Papai Noel” e “Absinto”.

Instagram: @marcosantoniocampos89

MISS IVA CHIMBINDA Poeta brasileiro Marcos Antonio Campos –


Imagem sem identificação de autoria na fonte
Marcos Antonio Campos pesquisada (acervo pessoal). Disponível na
página do autor na rede social Facebook – sítio:
www.facebook.com/photo/?fbid=128537626191
4439&set=a.1285376301914435
Lembro-me das cartas escritas
Espalhadas aos numerais pelo chão
Hoje, no silêncio dos cardinais esquecidas,
Que so li dificaram meu coração
Pern8 entre as lágrimas já choradas
100 as estrelas da paixão que me banharam na dureza
10fraldadas na bandeira, que hoje, voltam a fazer chãos.
Ouço a voz que o uni verso de le trás
1000 sombras de cada gota desse comboio (a)mar “longe
de mim não estás”
Há sonhos nas páginas dos trilhos azuis,
Lus3 iluminando os anéis de Saturno
Onde procuro vê nus “nas sendas encantadas que cobiço”
Espero que minha poesia re9
Esta minha alma numericamente vazia
Sonhando com 1 lápis
A contar-me saudades das doces aventuras,
Onde o falo fez feitiço na lama encantada dos versos
Das trilhas da “BR3” e da “Route 69” que a palavra clama
Para o bem ou para o mar da travessia
“Eu dividido, sou quociente” que fui
A fração mais ordinária. Onde foste à incógnita
Não decifrada dessas cartas enumeradas
Que hoje formam esse conjunto vazio.

*Poesia em conversa intertextual com a poema


“PINTURAS DOS ECOS de EMA NZADI”.

KUKUKAYA Poesias - 105


Arte: Júlio César Pinheiro do Carmo Arte: Júlio César Pinheiro do Carmo

A viola tendo a fonte Sem ter na boca um sorriso,


Na planta que já lhe invade No rosto mostra o prazer,
Faz com que quem toca conte Com seus olhos manda aviso
Que sua sonoridade Para quem quiser saber
Traz consigo estreita ponte Que nela não cabe guizo
Passarinhando a vontade Pois sabe se defender.

Marcos Medeiros Marcos Medeiros

Amante de sol e mar,


Com caju de prontidão,
Não pode deixar de amar
Quem ama a costa e o sertão,
Pois tem o chão potiguar
Dentro do seu coração!

Marcos Medeiros

Arte: Júlio César Pinheiro do Carmo

KUKUKAYA Poesias - 106


AZÊDO E DOCE FRUTIFICAR AMAR
José Ivam Pinheiro

Uns tantos de doçura e usufrutos,


uns brutos usos do fogo encanto.
As groselhas nos pés e nas mãos.
Mãos colhem em pés de groselha,
na concha frutas à juntar montão.

Esverdeado que logo avermelha,


e antes a molhar n'água por dias.
Os frutos, as panelas, fogo e ela
que se açucara no sabor ternura.
Doçura vida é do amor que atura
Frutas Azedas no Pé de Groselhas. Foto: Fátima Santos, 2020. azedo que passa, amarga célula,
feliz sabor se já vem feito magia,
é natural fulgor, luz que centelha.

Das groselhas se desfaça do travo,


tal qual no amar destravem beijos.
No afago de dengos em flor de luz,
desfrute o sentimento nos desejos.
Uns frutos, o doce amor que seduz.

Mãos de groselhas colhidas do pé. Foto: Fátima Santos, 2020.

KUKUKAYA Poesias - 107


Groselhas colhidas do pé, e ao centro, o Doce de Groselhas em espécie.
Foto: Fátima Santos, 2020.

MÃOS DE GROSELHAS QUE SE CINDERELAM


José Ivam Pinheiro

Groselhas de frutificar e ser a Cinderela


no baile doçura da boca, e azedo toque.
O amargo fica na árvore - lida dos dias,
do plantar, brotar, florar, fruto já colher.

Delas o ofertar doce e encarnado a bailar


no céu da boca, semente é cristal, veste
que se solta meia volta à degustar amor.
Lá na árvore lar é tão verde travo sonhar
do poder do ser gosto de geleia agreste.
A Cinderela groselha reina exótico sabor.

Groselhas tropicais que andas com amor


flertando luz nas mãos tão papa-jerimuns.
Colhidas e soltas do pé no chão potiguar,
livre dos galhos irás perder todo o travor.

* José Ivam Pinheiro, Escritor/Poeta, natural de Currais Novos/RN e residente em Natal/RN, é atualmente, Acadêmico Efetivo da
Academia Curraisnovense de Artes e Letras – ACAL, exercendo a Vice Presidência da mesma, é associado e Diretor de Representação
Regional da União Brasileira de Escritores do Rio Grande do Norte - UBE/RN, e exerce a função de Editor da Revista virtual
KUKUKAYA Poesias – Literatura & Artes Poéticas.

* Fátima Santos, Fotógrafa, natural de Caicó/RN e residente em Natal/RN, trabalha na Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio
Grande do Norte – EMPARN. Encara a fotografia como um agradável forma de lazer, distração e passatempo que com talento
recolhe fotos bastante belas e interessantes, além de através da arte fotográfica fazer boas amizades. Algumas das suas belas
fotografias já foram premiadas e bastantes elogiadas pela beleza captada pelas lentes das suas câmeras fotográficas.

KUKUKAYA Poesias - 108


Coração poético com artérias vivas no acaso do tempo e
ação de Deus - Foto: ROSA SOUZA

Coração poético para marcar amor - Foto:


ROSA SOUZA

Coração poema de artéria viva


proclama o amor fotografado afeto.
Musgo e água, divina arte cativa
de Deus pintando pedra e amor liberto.

Muito amor em coração plantado


Com marcas de benquerer tão visível.
É crível pensar que o sentir amado
traz na mente a luz do gostar incrível.

Dádivas de Deus na paz, vida e amor


São traços em recado e amar divino
riscando acaso e foto em Rosa - flor.

No tronco marcar coração e destino


Com serra ou lâmina no caule - a dor.
Ser ou não ser paixão, amor genuíno.

Poema: JOSÉ IVAM PINHEIRO


Fotografias: ROSA SOUZA

KUKUKAYA Poesias - 109


Indígenas remanescentes de aldeias Potiguaras
no município de Baía Formosa e na divisa com a
Representação dos povos indígenas do RN protestam em
Paraíba - Foto: Lara Paiva. Disponível no sítio:
Brasília DF contra o Projeto de Lei (PL) 191/2020. Foto: Mandato
brechando.com e no sítio:www.nataldasantigas.com.br
da Dep. Federal Natália Bonavides PT/RN. Disponível no Instagram:
@nataliabonavides

AOS POTIGUARAS

Rasgou-se o manto dos teus cabelos


osoro ne akarague ahoja

Ficaram expostas tuas queimaduras do tempo


Ojekuaa nde pirekaigue

Roubaram tua pureza e juventude


omonda hikuái ndehegui ne marã'ỹngue ha ne mitãngue

Prostituíram teu coração e cultura


oñembosarái hikuái ne ã ha nde rekoháre

Teu cocar venderam ao museu


oñemu hikuái ne akangatara rehe ha omoĩ hikuái museo-pe

Tuas artes são cinzas de taipa


nde jeguaka kusugue tanimbu ogaguiguare

Te restaram os tijolos como céu


hemby ndéve ogyke vore yvágaicha
Cacique Luiz Katu da aldeia
Potiguara Katu e o Cacique
Manoelzinho da aldeia
As histórias e lendas de papel
Potiguara Sagi Trabanda - marandeko ha mombe'upygua'u kuatiápe gua
Foto a partir de vídeo disponível
no Instagram: @luizkatu
Poema: EVA POTIGUARA
Tradução para o Tupi: Diego Akangaçu

LEI ALDIR BLANC - Microprojetos - Protagonismo


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