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TOLKIEN”
André Luiz Rodriguez Modesto Pereira
Aula 9: 14/10/2010
Havia Eru, o Único, que em Arda é chamado de Ilúvatar. Ele criou primeiro
os Ainur, os Sagrados, gerados por seu pensamento, e eles lhe faziam companhia
antes que tudo o mais fosse criado. E ele lhes falou, propondo-lhes temas musicais;
e eles cantaram em sua presença, e ele se alegrou. Entretanto, durante muito tempo,
eles cantaram cada um sozinho ou apenas alguns juntos, enquanto os outros
escutavam, pois cada um compreendia apenas aquela parte da mente de Ilúvatar da
qual havia brotado e evoluía devagar na compreensão de seus irmãos . Não
obstante, de tanto escutar, chegaram a uma compreensão mais profunda, tornando-
se mais consonantes e harmoniosos.
Disse-lhes então Ilúvatar: - A partir do tema que lhes indiquei, desejo agora que
criem juntos, em harmonia, uma Música Magnífica. E, como eu os inspirei com a
Chama Imperecível, vocês vão demonstrar seus poderes ornamentando esse tema,
cada um com seus próprios pensamentos e recursos, se assim o desejar. Eu porém
me sentarei para escutar; e me alegrarei, pois, através de vocês, uma grande beleza
terá sido despertada em forma de melodia.
• Canção dos Ainur = subcriação. Surge a partir de um tema criado por Eru.
• Ideia de “imitação” transmitida por uma arte não mimética: a música. Som
significante. Significado não revelado imediatamente.
• Chama Imperecível (Imperishable Flame), que é o dom concedido por Eru para que
suas criações ganhem vida. Inicialmente, esse dom é concedido apenas aos Ainur.
Em um segundo momento, Ilúvatar envia a Chama Imperecível para a Terra, de
modo que assim ela finalmente exista.
• Prometeu ← Melkor → Prometeu Moderno. Busca pela chama, tentativa de criar por
si mesmo.
• Instrumentos: harpas, alaúdes, trombetas, órgãos e violas, quanto como grandes coros
que cantavam com palavras. Melodias entrelaçadas.
• Música que dará origem ao universo. Plano mítico/metafórico: música = universo.
• Música das Esferas:
[…] Um terceiro tema cresceu em meio à confusão, diferente dos outros. Pois, de
início parecia terno e doce, um singelo murmúrio de sons suaves em melodias
delicadas; mas ele não podia ser subjugado e acumulava poder e profundidade. E
afinal pareceu haver duas músicas evoluindo ao mesmo tempo diante do trono de
Ilúvatar, e elas eram totalmente díspares. Uma era profunda, vasta e bela, mas lenta
e mesclada a uma tristeza incomensurável, na qual sua beleza tivera principalmente
origem. A outra havia agora alcançado uma unidade própria; mas era alta, fútil e
infindavelmente repetitiva; tinha pouca harmonia, antes um som uníssono e
clamoroso como o de muitas trombetas soando apenas algumas notas. E procurava
abafar a outra música pela violência de sua voz, mas suas notas mais triunfais
pareciam ser adotadas pela outra e entremeadas em seu próprio arranjo solene.
Entretanto, quando eles entraram no Vazio, Ilúvatar lhes disse: - Contemplem sua
Música! - E lhes mostrou uma visão, dando-lhes uma imagem onde antes havia
somente o som E eles viram um novo Mundo tomar-se visível aos seus olhos; e ele
formava um globo no meio do Vazio, e se mantinha ali, mas não pertencia ao
Vazio, e enquanto contemplavam perplexos, esse Mundo começou a desenrolar sua
história, e a eles parecia que o Mundo tinha vida e crescia. E, depois que os Ainur
haviam olhado por algum tempo, calados, Ilúvatar voltou a dizer: - Contemplem
sua Música! Este é seu repertório. Cada um de vocês encontrará aí, em meio à
imagem que lhes apresento, tudo aquilo que pode parecer que ele próprio inventou
ou acrescentou. E tu, Melkor, descobrirás todos os pensamentos secretos de tua
mente e perceberás que eles são apenas uma parte do todo e subordinados à sua
glória.
• Visão termina antes que os Ainur pudessem contemplar o destino final do mundo.
Mistério ou perda de influência?
• Entrada no mundo: mudança de atividade de artistas (músicos – trabalho mais
intelectual e abstrato) para artesãos (usando seus poderes para moldar o mundo –
trabalho concreto, material). Transformação semelhante a de Niggle.
• (sub)Criação através das palavras e da música não é arbitrária. Habilidade dividida
com elfos e homens.
• Paralelo com a Bíblia, duas instâncias da criação: a primeira pelas palavras; a segunda pela
ação direta do criador:
Gênesis 2:1 ASSIM os céus, e a terra e todo o seu exército foram acabados.
2 E havendo Deus acabado no dia sétimo a sua obra, que tinha feito, descansou no
sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito.
3 E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a
sua obra, que Deus criara e fizera.
***
4 Estas são as origens (ou gerações) dos céus e da terra, quando foram criados: no
dia em que o SENHOR (transliterado JHVH, ou dito JEOVÁ) Deus fez a terra e os
céus,
5 E toda a planta do campo que ainda não estava na terra, e toda a erva do campo
que ainda não brotava; porque ainda o SENHOR Deus não tinha feito chover
sobre a terra, e não havia homem para lavrar a terra.
6 Um vapor, porém, subia da terra, e regava toda a face da terra.
7 E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o
fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente. (grifo nosso)
Genesis 1
Deus - MI¦D«Lª@ - Elohim
Homem (espécie humana) - M¡C¡@ - adam
Genesis 2
Deus - MI¦D«Lª@ D¡ED¥I – Jevah Elohim
homem (sexo masculino, depois nome próprio) - M¡C¡@ - adam
mulher - D¡y¦@ - ishah
Fui educado nos Clássicos, e descobri pela primeira vez a sensação do prazer
literário em Homero. Além disso, sendo um filólogo, obtendo uma grande parte de
qualquer prazer estético de que sou capaz da forma das palavras (e especialmente
da associação pura da forma da palavra com o sentido da palavra), sempre apreciei
da melhor maneira coisas em uma língua estrangeira ou em uma tão remota que dê
essa sensação (tal como o anglosaxão). Mas é o bastante para mim. (TOLKIEN,
2006, p. 167 – grifo do autor)
[…] A noção neoplatonista de que a música duplica o modelo dos céus e pode agir
com seu poderoso efeito sobre sobre o homem porque ele, também, é um
microcosmo do universo. […] cânone e contraponto duplo proveem uma visão
profunda nas estruturas misteriosas e ocultas do universo, desde que, por analogia
com o movimento das estrelas, esses tipos de peças alcançam a perfeição em sua
“inversão harmônica” (“Replica”) e portanto oferecem “um espelho da natureza e
da ordem divina.” (YEARSLEY, 1998, p. 211–212)
• Através dessa forma musical é possível se aproximar do conhecimento divino, criar por
regras semelhantes. Reflexão sobre nosso próprio mundo.
• Subcriação = criação que parte do mundo primário e volta a ele.
• Escolha da música, em especial a forma como ela é desenvolvida, como ferramenta de
criação não é arbitrária.