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Filhos do Leão 1
Créditos Agradecimentos Especiais Para:
Escrito por: Daniel Ferraresi Araújo Silva Para Hiande, amada esposa e meus filhos com amor,
Desenvolvido por: Daniel Ferraresi Araújo Silva fontes de minha maior felicidade e gratidão;

Editado e Diagramado por: Daniel Ferraresi Araújo Silva À minha saudosa mãe, que me inspirou o amor aos
livros desde a infância;

A um grande amigo de toda vida, André, pelo incen-


tivo constante para que o livro fosse colocado no
Vault, enfim seu pedido foi atendido e minha dívida
paga;

Aos grandes amigos da vida, André, Boros, Bruno,


Cláudio, Israel, Luiz, Rafael e Wellington entre ou-
tros pelas muitas horas jogadas e diversões sem fim;

A matilha de Paranapiacaba: Arthur; Bórgia; Caio;


João Batista; Raimundo; Rutger, O Velho e Miguel†
(morto bravamente em defesa do Caern);

Todos aqueles que me inspiraram com suas palavras


e histórias fantásticas.

2
Sumário

Introdução ............................................................................................ 8
CAPÍTULO I ..................................................................................... 10
Ato I – Baixas de Guerra.................................................................... 11
Ato II – Reflexões ............................................................................... 15
Ato III – Retirada ............................................................................... 18
Ato IV – Espera .................................................................................. 23
Ato V – Resignação ............................................................................ 28
CAPÍTULO II .................................................................................... 36

Filhos do Leão 3
Ato I – Bate-papo ............................................................................... 37
Ato II – Beltane .................................................................................. 44
Ato III – Discussão Acalorada ........................................................... 51
Ato IV – Umbra ................................................................................. 57
Ato V – Novos Convidados ............................................................... 63
CAPÍTULO III................................................................................... 70
Ato I – In Nomine Vermis................................................................. 71
Ato II – Divisão .................................................................................. 78
Ato III – Alfa e Beta ........................................................................... 85
CAPÍTULO IV................................................................................... 95
Ato I – Nação Garou.......................................................................... 96
Ato II – Conjunção .......................................................................... 104
Ato III – Encruzilhada ..................................................................... 109
CAPÍTULO V .................................................................................. 116
Ato I – Desencontro......................................................................... 117
Ato II – Viagem ................................................................................ 122
CAPÍTULO VI................................................................................. 129
Ato I – Castelo ................................................................................. 130
Ato II – Malditos .............................................................................. 137
Ato III – Observação ........................................................................ 143
CAPÍTULO VII ............................................................................... 153
Ato I – Conjuração .......................................................................... 154
Ato II – Ofensiva .............................................................................. 163
Ato III – Primeiro Contato .............................................................. 168
Ato IV – Conselho de Guerra ......................................................... 177
CAPÍTULO VIII .............................................................................. 184
4
Ato I – Novo Encontro .................................................................... 185
Ato II – Invasão ................................................................................ 189
Ato III – Limiar ................................................................................ 193
Ato IV – Guerra e Paz ...................................................................... 197
Ato V – Confronto .......................................................................... 207
Ato VI – Legião dos Malditos .......................................................... 211
CAPÍTULO IX ................................................................................. 214
Ato I – Batalha Campal ................................................................... 215
Ato II – Luas Crescentes .................................................................. 222
Ato III – Impuro .............................................................................. 226
Ato IV – Trovão da Wyrm ............................................................... 231
Ato V – Alfas e Ômegas ................................................................... 239
Ato VI – Aqueles que Julgam .......................................................... 247
Ato VII – Dívida de Sangue ............................................................. 251
Ato VIII – Ciclo ............................................................................... 257
Ato IX – Dor .................................................................................... 262
CAPÍTULO X .................................................................................. 267
Ato I – Execução .............................................................................. 268
Ato II – Juramento ........................................................................... 274
Ato III – Pacto .................................................................................. 278
Ato IV – Vingança ........................................................................... 290
PRÓLOGO ...................................................................................... 293
Ato Único – Réveillon ..................................................................... 294
EPÍLOGO ........................................................................................ 306
Ato Único – Reminiscências ........................................................... 307

Filhos do Leão 5
FICHAS DOS PROTAGONISTAS ............................................... 328
Crias de Fenris.................................................................................. 329
Fianna ............................................................................................... 341
Dançarinos da Espiral Negra ........................................................... 354
Uivadores Brancos ........................................................................... 370
Inspiração para os Protagonistas ...................................................... 373
Inspiração para Lugares & Objetos ................................................. 377
Capítulo I ......................................................................................... 377
Capítulo II ........................................................................................ 378
Capítulo III ....................................................................................... 379
Capítulo IV....................................................................................... 379
Capítulo V ........................................................................................ 380
Capítulo VI a IX ............................................................................... 381
Capítulo X ........................................................................................ 385
Prólogo.............................................................................................. 386
Epílogo .............................................................................................. 386

6
Filhos do Leão 7
Introdução

8
Filhos do Leão 9
10
Ato I – Baixas de Guerra

15/05/1991 – 11:30 p.m.

Newcastle upon Tyne, Northumberland County – Inglaterra

The Queen Golf Club – Sede do Clube

Havia sangue, mais do que ele se lembrava em muito tempo, até mais do que quando ofendeu o Jarl 1
da seita2 e sofrido as consequências em uma luta que o deixou de cama por dois dias inteiros, porém agora o
que preocupava Philip não era a vergonha por ter caído inconsciente durante a luta, e sim saber onde estavam
os outros membros da matilha3. Levantar era mais difícil do que ele poderia ter imaginado, a ferida em sua
perna ainda não estava curada e sem a Fúria4 para ajuda-lo Philip não se recuperaria a não ser que achasse sua
irmã.

“Irmã” – o pensamento correu por sua mente em um instante para sumir em seguida, embora a ideia
de chamar por alguém fosse tentadora ele não sabia nada sobre o que acontecera enquanto estivera desacor-
dado e não queria arriscar a atrair a atenção de seus inimigos nesse momento, não sem avaliar antes a situação.

O local onde se encontrava dentro do The Queen Golf Club era a sede do clube, mais precisamente
em uma sala de jogos para os associados, com mesas de sinuca e tênis de mesa, além de um par de alvos para
lançamento de dardos que ele não percebera até ser arremessado em direção a uma delas no meio da luta.

Olhando ao redor para achar uma saída daquela sala acabou notando que próximo ao banheiro para
deficientes havia um relógio de parede, onde podia ver os ponteiros marcando 11:33 da noite – “O relógio da
estação de Wylam estava marcando quase 11:00 quando desembarcamos, depois os bastardos correram para
cá em Hispo5 e devemos ter chegado aqui em no máximo cinco minutos, quando eles se separaram eu e a

1
Jarl - Uma expressão dos Crias de Fenris que designa um líder de seita.
2
Seita - Grupo de Garou que vivem e guardam um caern específico.
3
Matilha - Pequeno grupo de Garou ligados uns aos outros por laços de amizade e objetivos, tendo um totem como mentor.
4
Fúria - É uma parte da Besta primordial que existe em cada Garou. É ao mesmo tempo uma benção e uma maldição. Dizem ser
mais uma benção da Celestino Luna.
5
Hispo - A forma quase-lobo do Garou. O Hispo se assemelha a um lobo normal da mesma forma que um Glabro se assemelha a
um ser humano comum. Um lobisomem na forma Hispo parece com clássica imagem de um lobo selvagem pré-histórico. A cabeça
e as mandíbulas são enormes, ainda mais do que o Crinos, e a mordida de um Hispo causa dano extra. O Hispo pode ficar em pé
sobre as patas traseiras se necessário, mas se sente muito mais confortável nas quatro patas.

Filhos do Leão 11
Beth viemos nessa direção e devemos ter levado outros cinco minutos para chegar aqui. Então eu devo ter
ficado desacordado por o que? Dez minutos”? – Merda!

A raiva de Philip extravasou com um chute forte em uma das cadeiras semidestruídas a sua frente e
um suspiro longo que não deixava dúvidas quanto ao seu estado de espírito. Indo em seguida para o lado de
fora pôde ver o longo gramado verde a sua esquerda e na frente o estacionamento vazio, sem que conseguisse
achar nenhum de seus companheiros onde sua vista alcançava, o que só aumentava sua aflição.

“Beth devia estar por aqui droga”! – mas não só ele não vira sua amiga como nenhum dos dois inimigos
que os haviam emboscado e isso só o afligia ainda mais.

“Se ninguém está por perto o jeito vai ser ir até onde Malcolm e os outros foram, espero que Beth
esteja com eles” – mas, secretamente o que Philip temia era que seus inimigos tivessem ido atrás dos outros
membros de sua matilha com Elizabeth tentando detê-los enquanto ele, o líder da matilha estava inconsciente.

“Aquele maldito! Como ele foi aparecer do nada bem ao meu lado? Nós estávamos atrás deles, tínha-
mos a vantagem de tê-los pego de surpresa e os dois desgraçados se separaram, então como já tinha alguém
aqui nos esperando? Nós demos alguma mancada ou eles já estavam planejando se encontrar aqui desde o
começo”?

- PHILIP! – O grito que ouvia, vindo a sua esquerda era de seu companheiro de matilha Charles Bailey,
também conhecido como Aprende-a-Verdade6, um dos membros da matilha Sangue de Gaia, ele tinha vinte
e dois anos, sendo aproximadamente dez centímetros mais baixo do que Philip, Charles tinha um porte físico
mediano, era o típico cara que não se destacaria na multidão, não sendo particularmente muito atraente, com
um cabelo preto e curto que ele sempre fazia questão de deixar arrumado, e olhos castanhos claros, era a
pessoa que muitos diriam ser um “jovem de aspecto sério e respeitável”, mas na matilha Charles era um

6
“Aprende-a-Verdade” - Os Garou possuem nomes tribais, realçando seus feitos, características ou temperamentos e que são usados
e reconhecidos dentro da Nação Garou.

12
Philodox7, encarregado de garantir que eles não se desviassem dos preceitos de Gaia 8, normalmente um ho-
mem calmo e sereno, sempre parecera a Philip ser a encarnação ideal do augúrio 9 daqueles que tinham o
dever de garantir o cumprimento e o respeito pelas leis dos Garou10, agora ele parecia a Philip alguém próximo
do desespero, e as feridas e o sangue a cobrir todo seu peito e mãos não contribuíam em nada para ajudar a
desfazer essa impressão.

- O que diabos houve com você Charles? E onde estão Veronica e Malcolm?

Um leve arfar, seguindo de uma tosse foi tudo o que conseguiu em resposta, mas os olhos de Charles
não deixavam dúvidas de que algo terrível tinha acontecido e o pensamento de perder a sua irmã acabou com
a pouca paciência que restava em Philip Palmer.

- POR GAIA, ME RESPONDA HOMEM!

Recuperando a postura, mas com um semblante ainda mais pesado do que antes a resposta saiu seca
e curta, como era habitual de Charles quando se encontravam em alguma missão – Malcolm está morto e
Veronica viu os inimigos levarem Beth desacordada para a Umbra11.

- Malcolm....... morto? Impossível, aquele bastardo não ia cair tão fácil Charles!!! - se no começo a frase
soara incrédula, baixa e hesitante ela terminara quase como um grito de desespero, um desespero que ressoava
forte dentro de Philip como nunca antes desde que sofrera a Primeira Mudança12.

- Não se esqueça de Beth, se o que Veronica disse estiver certo isso significa que ela foi levada como
refém, portanto ainda podemos salvá-la se agirmos rápido.

Ouvindo essas palavras, Philip se sentiu estranhamente mais calmo, como se aquela sugestão, total-
mente natural vinda de Charles, trouxesse um pouco de normalidade a um cenário totalmente surreal.

7
Philodox - Apenas um meia lua é pego entre luz e sombra, assim também são os filhotes nascidos sob este augúrio. Lobisomens
são confrontados com muitos conflitos e contradições - a luta entre o homem e a natureza, o equilíbrio dos pensamentos e instintos
lupinos, a existência como uma criatura de carne e espírito ou mesmo o conflito entre o bem e o mal. Meias luas podem ver os dois
lados de qualquer questão, o que os torna mediadores especializados e juízes. Quando eles são preparados para os seus Rituais de
Passagem, eles aprendem os meandros da lei Garou. Esses são os Philodox.
8
Gaia - A Terra e Reinos relacionados, tanto em um sentido físico quanto espiritual, ou para alguns Garou, a totalidade do universo;
a Deusa Mãe.
9
Augúrio - A fase da lua na qual nasceu um Garou e que, acredita-se, determina a personalidade e as tendências do mesmo. Os
augúrios são: Ragabash (Lua Nova; Trapaceiro), Theurge (Lua Crescente; Vidente), Philodox (Meia-Lua; Juiz), Galliard (Lua Min-
guante; Dançarino da Lua), Ahroun (Lua Cheia; Guerreiro).
10
Garou - O termo que os lobisomens empregam para referirem a si mesmos.
11
Umbra - Também chamada de Mundo Espiritual, a Sombra, ou ainda, de Sombra de Veludo. É um reino que existe além, embora
de forma separada, do mundo material. Lar dos espíritos e Malditos.
12
Primeira Mudança - Quando o Garou, humano ou lupino, descobre ser um lobisomem. Geralmente, a primeira mudança é
causada por um momento de grande tensão no qual o indivíduo desperta a fera aprisionada em seu corpo e libera toda sua Fúria.

Filhos do Leão 13
- Onde está Veronica? Ela está com....

- Sim, ela está junto ao corpo de Malcolm perto do rio, ele estava muito a nossa frente lutando contra
um dos bastardos e acredito que foi morto pelo mesmo homem que derrubou Beth.

“Grande Fenris13, eu falhei em matar um inimigo e um amigo meu pagou com a vida” – o pensamento
não parava de atormentar Philip e até mesmo o ferimento em sua perna esquerda já não significava nada
comparado a isso.

- Vamos até onde Veronica está Phil, precisamos que ela cure essa sua perna e depois temos que sair
daqui antes que alguém apareça.

- Sim, você tem razão Charles, vamos fazer exatamente isso – respondeu Philip debilmente com um
leve balançar de cabeça, em seguida começaram a descer lentamente o estacionamento em direção a sua colega
de matilha.

Fim do Ato I

13
Grande Fenris - O totem espiritual da Tribo Crias de Fenris. Também chamado simplesmente de Fenris.

14
Ato II – Reflexões

15/05/1991 – 11:40 p.m.


Newcastle upon Tyne, Northumberland County – Inglaterra
The Queen Golf Club – Lado Noroeste, Keelman Way

Não fazia nem dois minutos que Charles a deixara sozinha para procurar por Philip e Veronica ainda
se achava sobressaltada, se virando para qualquer direção ao menor sinal de barulho.

Aos seus pés estava o corpo daquele que havia sido seu companheiro de matilha e melhor amigo,
porém ela não se permitia ajoelhar ou sentar na grama por receio de que alguém aparecesse, mesmo com o
medo e a tristeza tomando conta de seu ser Veronica tinha que ser forte, como era a obrigação de alguém de
sua tribo.

Não muito longe deles estava o corpo de um dos bastardos que Malcolm havia matado, o abjeto ho-
mem com um terceiro olho em sua testa, olho que estava semiescondido pelos fios de cabelo loiro que lhe
cobriam a fronte, dando um aspecto quase sereno à aquele homem, o que era algo que destoava totalmente
do resto do corpo retalhado da criatura, mas a visão daquele inimigo abatido tão perto de si de modo algum
servia de algum alento, muito pelo contrário, o fato de Malcolm tê-lo matado sozinho e depois ter sido morto
novamente sozinho era uma prova cabal do quanto haviam falhado com seu companheiro, do quanto Vero-
nica tinha falhado com ele.

“Se eu não tivesse sido pega de surpresa e Charles não tivesse que me ajudar, ele poderia ter sobrevi-
vido, ele IRIA ter sobrevivido” – e o pensamento de Veronica se voltou para seu companheiro de matilha.

- Charles onde você está? – a pergunta em voz alta acabou saindo por acaso, mas a cada segundo crescia
dentro dela o temor de que seu irmão também tivesse sido assassinado, afinal se apenas Beth fora levada pelos
Dançarinos da Espiral Negra14 porque estava viva isso só podia significar que Philip não fora levado porque
estava.........

14
Dançarinos da Espiral Negra - Aqueles Garou que se voltam para a Wyrm estão destinados a se juntarem às fileiras da Tribo dos
Dançarinos da Espiral Negra. Originalmente, os fundadores desta tribo eram membros da Tribo dos Uivadores Brancos, mas eles

Filhos do Leão 15
“Não! Não vou pensar nisso, é besteira, Charles ainda não voltou e Phil é forte o suficiente pra derrotar
qualquer um, com ou sem emboscada” – mas isso não fazia com que ela se sentisse mais relaxada, afinal se
seu irmão estava vivo porque ele não tinha aparecido ainda? Especialmente se ele é quem estava junto com
Elizabeth quando eles invadiram o local.

“Talvez ele esteja muito ferido e não tenha sido capaz de sair de onde esteja, droga, se for isso mesmo
que aconteceu era eu quem devia ter ido pra lá e não o Charlie” – mordendo a ponta de um dos polegares,
sinal claro de quem a conhecia de que Veronica estava apreensiva, por um momento ela teve a clara intenção
de sair dali para ir atrás deles, porém um pensamento a interrompeu.

“Malcolm” – ver o seu rosto com uma expressão serena era algo que ainda a deixava desconcertada,
pois se algo podia ser dito com absoluta certeza sobre Malcolm Buchanan era que ele não era um homem de
aspecto sereno, quase tão alto quanto seu irmão e de porte físico semelhante a ele, Malcolm se diferenciava
fisicamente tanto pelos seus longos cabelos loiros, que chegavam quase até os ombros, quanto pelos olhos
azuis e pelo jeito irreverente que empregava em quase tudo o que fazia ou falava, dando a ele um ar de “surfista
californiano saído da série Baywatch” como Beth descreveu ele uma vez, mas embora fosse um beta15 leal e fiel
aos seus deveres, ele era também alguém que sempre se colocava a frente em tudo o que fazia, mas enquanto
Philip fazia isso da maneira mais séria possível para um Ahroun16, Malcolm sempre se portava como esperado
de um Ragabash17, zombando do perigo, das hesitações e dos próprios companheiros, ele colocava a matilha
nos eixos de uma maneira que era totalmente oposta, mas ao mesmo tempo complementar ao do líder da
matilha, mesmo quando ambos pareciam estar quase na garganta um do outro.

“O que vamos fazer sem você agora”? – a pergunta e algumas lágrimas quase a fizeram perder o controle
novamente. “Não posso ficar assim, não agora! Você ia pegar no meu pé demais se me visse assim, não é?

foram iludidos e corrompidos por volta do ano 200 D.C e se viraram para a Wyrm, para então reemergirem como a tribo da Espiral
Negra.
15
Beta - O segundo em comando dentro de uma matilha após o alfa.
16
Ahroun - Quando um filhote nasce sob a lua cheia, ele cresce cheio de raiva e fúria. Quando seu augúrio se encontra suspenso
nos céus, ele está ansioso para desencadear sua ira e se entregar a glória da sede de sangue. Como o lobisomem da lenda, ele deleita-
se com a violência e frenesis selvagens, impondo punição com suas garras cruéis.
17
Ragabash - A criança nascida durante a lua nova está destinada a se tornar grandes trapaceiros. Luas Novas são mestres da dissi-
mulação e astúcia. Seu talento para o roubo é tão grande que muitas vezes eles gostam de zombar das formas ordeiras da sociedade
Garou, um traço que seus companheiros de matilha aceitam a contragosto. Com essa liberdade vem um desrespeito despreocupado
para com as leis da sociedade e um senso de humor perverso.

16
“Que Theurge18 é você pra se comportar como uma filhote chorona Veronica? Você deveria invocar espíritos
e não lágrimas agora garota”! Isso seria algo que você falaria, não é”? – um leve sorriso se abriu em seu rosto e
Veronica começou a imaginar como seria se eles fossem apenas pessoas normais, se a essas alturas eles dois
não seriam apenas mais um casal de jovens apaixonados, aproveitando bem a vida, se divertindo nas festas de
alguma universidade inglesa, se preparando para um futuro maravilhoso juntos, futuro esse que ela sabia que
eles nunca poderiam ter tido enquanto Garou, pois a Litania 19 sempre fora clara a esse respeito, “Não Te
Acasalarás Com Outro Garou” simplesmente era nada mais nada menos do que a primeira das leis, e ela mesma
já vira vários filhos proibidos ao longo dos últimos anos para saber o resultado dessas uniões, e o cadáver do
Dançarino da Espiral Negra, fruto de uma dessas uniões, que estava próximo a ela também era um lembrete
disso. No final das contas suprimir os sentimentos e se policiar constantemente foi o caminho que ela havia
escolhido, embora por parte de Malcolm sempre tenha sido mais difícil colocar seus sentimentos em cheque,
e apenas uma vez, em que ambos estavam um pouco alcoolizados é que eles deixaram os sentimentos virem à
tona, mas novamente foi Veronica quem colocou um ponto final naquilo, seu receio sobre quebrar a Litania,
o medo de dar a luz a uma criança marcada como amaldiçoada por Gaia e o impacto de tudo isso na amizade
de Philip e Malcolm a fizeram desistir dessa idéia, embora vez ou outra pensasse sobre isso, mas isso não
significava nada agora e pela primeira vez em muito tempo Veronica deixou seus sentimentos e pensamentos
fluírem sem medo ou culpa e foi então que ela viu algo que a fez prender a respiração.

Fim do Ato II

18
Theurge - Filhotes nascidos sob este augúrio têm uma disposição mística, geralmente fascinados pelo sobrenatural e o espiritual.
Muito antes do Ritual de Passagem de um Lua Crescente, o ancião ensina seu mito, folclore, os mistérios da cosmologia e os segredos
do ocultismo. São aqueles que melhor entendem os mistérios da Umbra e dos espíritos que o habitam.
19
Litania - Código de leis mantidas e obedecidas pela sociedade Garou.

Filhos do Leão 17
Ato III – Retirada

15/05/1991 – 11:55 p.m.


Newcastle upon Tyne, Northumberland County – Inglaterra
The Queen Golf Club – Lado Noroeste, Keelman Way

“Isso o abalou mais do que eu esperava” – esse pensamento passou pela mente de Charles Bailey
enquanto iam ao encontro de Veronica e por mais que dissesse a si mesmo que isso era compreensível na
atual circunstância ele se perguntava até que ponto o alfa 20 de sua matilha estava em condições de liderar
alguma coisa naquele exato momento.

“Veronica está quase tão mal quanto ele, então acho que sobrou pra mim manter todos focados antes
que alguém não suporte a pressão” – e conforme o Modi21 da matilha Sangue de Gaia andava lentamente a
sua frente ele se perguntava até quando ele próprio iria aguentar.

Durante todo o percurso Philip não fez nenhum comentário, nem mesmo sobre como estava sua irmã,
e isso preocupava Charles mais do que ele gostaria de admitir.

“Malcolm era seu melhor amigo e Elizabeth foi capturada enquanto estava junto dele e por mais que
não queira falar sobre o que aconteceu lá dentro tenho quase certeza de que Philip foi derrubado durante a
luta”.

Embora ficasse imaginando o que havia acontecido durante a luta de Philip e Elizabeth contra os
Espirais Negras, Charles também não conseguia deixar de lado suas impressões sobre a luta que ele próprio
tinha tido junto a Malcolm e Veronica.

20
Alfa - O líder de uma matilha, geralmente, mas nem sempre é um Ahroun.
21
Modi - Expressão dos Crias de Fenris para se referir a um Ahroun.

18
“Se eu não tivesse demorado tanto lutando contra o outro Espiral Negra......... talvez se eu tivesse
pedido pra Veronica ir atrás de Malcolm quando ele e o bastardo se afastaram de nós ela pudesse ter feito a
diferença”.

Embora isso pudesse ser verdade o fato era que Charles sabia que qualquer outra tragédia poderia ter
nascido dessa decisão, talvez ele viesse a morrer enfrentando o inimigo sozinho, ou pior, talvez Veronica viesse
a ser morta como Malcolm ou capturada como Elizabeth, de todo modo nada disso servia para deixa-lo mais
animado. O resto da descida transcorreu no mesmo clima frio e silencioso e só quando viram Veronica é que
Philip deixou escapar uma expressão de alívio enquanto ela ia correndo ao seu encontro.

- Phil! Graças a Deus que você está bem! Eu fiquei tão preocupada quando vi um deles carregando a
Beth e não te vi por perto, eu pensei...... – e nesse ponto a voz dela, já quase inaudível devido à emoção
começou a falhar e finalmente ela se pôs a chorar enquanto era abraçada por seu irmão.

- Eu sinto muito Ve, eu realmente tentei, mas...... eles eram..... – a frase incompleta era tanto fruto de
sua incapacidade de admitir o fracasso da investida da qual ele era o responsável quanto fruto da visão do
corpo inerte de Malcolm deitado na grama a poucos metros de distância.

Para Charles esse momento era o primeiro em que vira o líder de sua matilha expor um lado que não
fosse o típico “Ahroun nascido para a luta” em plena missão, algo que nunca havia acontecido nos dois anos
em que a matilha Sangue de Gaia fora criada por Philip e sua irmã.

Embora fossem irmãos de sangue, muitas coisas separavam Philip e Veronica Palmer, Philip era o mais
velho, tendo vinte e três anos na época, ele era mais alto, com quase um metro e noventa, enquanto Veronica
era um pouco mais baixa que Charles. No tocante a aparência dos dois, Veronica possuía uma beleza e um
carisma cativante, com seus claros olhos azuis e cabelos castanhos a lhe darem uma aparência e porte de miss,
por outro lado Philip parecia um militar, de porte físico forte, cabelo preto e rente e olhos castanhos escuros
ele era tão belo quanto à irmã, mas com um humor e um temperamento clássicos de um Ahroun, quase
sempre sério e preparado para uma boa briga.

“Precisamos pegar o corpo de Malcolm e leva-lo daqui agora, perdemos tempos demais aqui” – porém
havia a questão do cadáver do Espiral Negra, que jazia caído em sua forma natural, o que era uma quebra
clara e indiscutível da Litania.

Filhos do Leão 19
- Veronica cure seu irmão agora, nós vamos sair daqui pela Umbra, precisamos levar Malcolm até a
Seita Caçadores do Tyne e se eles deixarem passaremos lá a noite também antes de voltarmos para a Pousada
da Âncora22.

Foi Philip quem reagiu primeiro, esperando apenas que o Dom23 Toque da Mãe24 de Veronica fizesse
efeito nele ao regenerar os ferimentos, em especial o de sua perna, curando totalmente a ferida e possibilitando
que Philip pudesse andar normalmente novamente.

- Charles eles são Presas de Prata25 e do pior tipo você já sabe, se não fosse sua insistência em nos
apresentarmos pra eles não teríamos que ter ouvido toda aquela merda de sermão sobre “termos a obrigação
de avisá-los com MAIS antecedência” e principalmente aquele papo de “não façam nenhuma besteira por
aqui”, como se fossemos crianças! – e nesse ponto Philip já havia voltado a ser o bom e velho alfa que Charles
conhecia, temperamental e sempre preparado para uma briga ou discussão acalorada.

“Isso é bom, preciso dele agindo assim o máximo que for possível” – enquanto pegava no colo seu
falecido irmão de batalha Charles realmente sabia que os Presas não aceitariam facilmente a sugestão a pri-
meira vista, mas que opção eles teriam?

- Deixe que eu me entenda com eles quando chegarmos na Reserva Natural26 Phil, além disso não se
esqueça de que se não tivéssemos avisado eles que estávamos aqui a reação deles seria muito pior se aparecês-
semos do nada no meio da noite não concorda?

Nesse ponto até mesmo Veronica que havia acabado de curar suas feridas olhou para Philip procu-
rando saber qual seria sua resposta.

22
Pousada da Âncora - Uma estalagem do século XVIII, situada em Whittonstall, na fronteira entre o Condado de Northumberland
e o Condado de Durham.
23
Dom - A habilidade mágica ensinada pelos espíritos aos Garou, de acordo com um antigo pacto entre ambas as espécies. Dons
permitem aos lobisomens concentrarem a sua energia espiritual para afetar a realidade.
24
Dom Toque da Mãe - Dom que permite a um Garou curar os ferimentos de qualquer criatura viva simplesmente colocando as
mãos sobre a área atingida.
25
Presas de Prata - Outrora os governantes inquestionáveis da sociedade Garou, a Tribo dos Presas de Prata são descendentes de
alguns dos maiores lobisomens da história. Linhagem e ancestralidade são fundamentais para eles. Desde seus dias gloriosos na terra
natal Rússia, eles foram vítimas de falhas trágicas, muitas vezes caindo em uma espiral de desespero e loucura que ameaça o futuro
da tribo.
26
Reserva Natural Moor House-Upper Teesdale - Uma reserva natural que cobre uma área de 7400 hectares ao norte da Inglaterra.
Ela atravessa o Condado de Cumbria e o Condado de Durham. Foi designada uma reserva de biosfera da UNESCO em 1976.

20
Com um olhar de indisfarçado desgosto Philip sabia que naquela situação eles precisavam de um lugar
seguro para passar a noite, mas a ideia nem de longe parecia o agradar, especialmente quando sabia que não
gostaria nada do que ouviria dos anciões do lugar.

- Ok, vamos pra lá, mas EU falo com eles, afinal ainda sou o alfa desta matilha não sou? – perguntou
enquanto olhava intensamente para o Philodox.

- Ninguém questionou isso Phil, deixa disso e vamos sair daqui a sua perna está boa agora não está? –
perguntou Veronica, visivelmente aflita por ver seu irmão pela primeira vez em anos colocar o assunto da
liderança de forma tão clara e especialmente nessa situação.

- Minha perna ainda dói um pouco, mas está bem melhor Ve e eu ainda não ouvi sua resposta Charlie
– e dito isso deu dois passos pra frente sem que mancasse dessa vez.

“Ele vai realmente tocar nesse assunto agora”? – a reação de Charles sempre era a de colocar as coisas
em pratos limpos, mas ao ver a expressão de Veronica, praticamente implorando para que ele fosse menos
direto e seco agora o fez mudar de idéia.

- Não quis dizer nada com isso Phil, apenas achei que você não estivesse muito bem fisicamente pra
aguentar um provável interrogatório deles quando formos até lá.

- Eu aguento quantos Presas de Prata forem necessários pra nós ficarmos lá Charles, não se preocupa
comigo, agora vamos cair fora daqui logo.

- Ainda precisamos fazer uma coisa Phil – e se virando em direção ao Espiral Negra morto Philip
entendeu o que o Philodox estava dizendo.

- Era só o que me faltava! Agora temos que nos livrar desses animais também? – a simples idéia de
pegar ou carregar um deles parecia o enojar mais do que tudo.

- Você pode fazer isso Charles? Levá-lo pra algum lugar onde seja seguro, que ninguém veja? Como um
terreno baldio talvez – a pergunta e a sugestão de Veronica era sensata e objetiva, afinal levar esse outro corpo
ao caern estava fora de questão, porém foi Philip quem fez algo a respeito, para a surpresa dos dois.

Sem dizer palavra alguma ele foi até o cadáver e com um gesto chamou por Charles – Me ajude a jogar
esse lixo fora Charlie.

Filhos do Leão 21
Sem compreender direito o que se passava Charles e Veronica trocaram olhares de interrogação antes
que Philip viesse novamente a chama-lo.

- Charlie, não temos a merda da noite toda droga! Me ajude a pegar esse bastardo e jogá-lo no rio! – e
sua expressão de raiva voltou a tona.

- Phil, esse não é o melhor lugar para..........

- Para o que Veronica? Só Gaia deve saber quantos resíduos os humanos já jogaram e jogam nesse rio,
e se jogar uma porra de um Dançarino da Espiral Negra fosse suficiente pra contaminar rios eles já teriam
feito isso do rio Amazonas até o Nilo faz tempo! Agora alguém vai me ajudar ou vou ter que pedir de outra
maneira?

Sem dizer uma palavra Charles cuidadosamente colocou o corpo de Malcolm no chão e junto com
Philip levaram o cadáver até o rio, onde sem hesitação ou arrependimento arremessaram o corpo do inimigo
na água.

Logo em seguida, sem dizerem palavra alguma, enquanto Charles pegava o corpo de Malcolm nova-
mente, Veronica foi a primeira a entrar na Penumbra, no que foi seguida pelos seus dois colegas.

Fim do Ato III

22
Ato IV – Espera

16/05/1991 – 00:55 a.m.


Newcastle upon Tyne, Northumberland County – Inglaterra
Proximidades da Reserva Natural Moor House-Upper Teesdale – Residência

A espera se tornava cada vez mais intolerável para Philip, com sua irmã velando pelo corpo de Mal-
colm, restava apenas ele e Charles para discutirem com os anciões da Seita Caçadores do Tyne e embora a
chegada aos arredores do caern tivesse sido tão tranquila quanto eles supunham, a tensa recepção que tiveram
dos dois Guardiões27 não facilitaram as coisas e para piorar, ao menos para Philip, eles foram “convidados” a
ficarem em uma casa próxima ao caern pertencente a um casal de Parentes 28 enquanto os líderes da seita
deliberavam sobre o rumo a ser tomado.

- Quanto tempo ainda temos que esperar? – essa pergunta, que ele não esperava que fosse respondida
pelo Guardião que ficara a cargo de esperar junto a eles era mais um desabafo, e como frequentemente acon-
tecia, para irritação de Philip, Charles sempre achava que era seu dever dar alguma explicação para o ocorrido,
e foi o que ele fez.

- O Conselho de Anciões29 deve estar debatendo o que fazer nesse momento Phil, não é uma decisão
fácil de ser tomada, mas levando em conta que o Vigia 30 autorizou o outro Guardião a levar Veronica e Mal-
colm para dentro do caern isso por si só já é um bom sinal.

Philip e Malcolm sempre tiravam sarro de Charles (sem que ele o soubesse) por ele não ter, nas palavras
de Malcolm, “o fino humor dos súditos de sua Majestade”, e embora isso não o diminuísse em nada como
um Philodox Malcolm ia ainda mais longe e dizia que tinha certeza em certas horas de que Charles talvez não
fosse nem ao menos humano, pois não podia entender como alguém conseguia ser tão desprovido de ironia
para nem ao menos perceber quando os outros estavam sendo irônicos.

27
Guardiões - Garous que auxiliam os Vigias na defesa do Caern.
28
Parentes - Seres humanos e lobos que estão aparentados com os Garou e não são propensos ao Delírio, mas que não são realmente
lobisomens.
29
Conselho de Anciões - O grupo de Garou que governa uma seita.
30
Vigia - O chefe da guarda de um Caern, geralmente um Ahroun.

Filhos do Leão 23
“É como você disse uma vez Malcolm, Gaia sabe o que faz, se Charlie tivesse nascido na Lua Nova
como você, teria lugar garantido nos Registros Prateados31 como o pior Ragabash de que já se teve notícias” –
e ficou por alguns segundos encarando seu colega de matilha, embora no final das contas mexesse a cabeça
em sinal de concordância, pois não era com ele que pretendia ter alguma discussão, pelo menos não nesse dia
e não sob essas circunstâncias.

O pior de tudo era ver que o Guardião que ali estava nem ao menos se dera ao trabalho de lhe dar
alguma resposta, o que é claro, ele não faria depois da intervenção de Charles. Por isso, tudo que Philip pôde
fazer foi ficar vendo aquela sala bem mobiliada, uma casa típica de uma família de classe média britânica
padrão, e ao seu encontro vinha exatamente a “dona da casa”, andando cuidadosamente com uma bandeja
com duas xícaras de café para seus convidados.

- Por favor, sirvam-se, vocês dois parecem muito cansados – com essa frase e um sorriso que apesar do
cansaço e da situação em que se encontrava se mostrava honesto, Philip viu pela primeira vez um dos ocupan-
tes da residência.

- Muito obrigado senhora, mas eu não estou com sede agora – embora a resposta pudesse desagradar
alguém naquela situação, e Philip achava que havia feito exatamente isso, não foi esse o efeito provocado, pois
apenas terminou de falar e ela já se virava com a mesma boa vontade para Charles, que fosse por educação ou
por vontade mesmo de tomar uma boa xícara de café, já ia pegando o outro copo em mãos.

- Bom, eu não posso obriga-lo a tomar um café, mas também não quero me desfazer de um que preparei
com tanto cuidado, então acho que vou acompanhá-los um momento, isso é se me permitirem.

A impressão que Philip tinha dessa mulher, que aparentava ter os seus quarenta anos, era outra, se
antes achava que ela se portaria como uma versão Parente dos Presas de Prata e iria trata-los com indiferença
ou prepotência por serem os responsáveis por ocuparem sua casa no meio da noite isso não aconteceu, mas
parecia a ele cada vez mais que essa mulher esbelta, alta, de porte e maneiras elegantes e que mesmo com
alguns poucos sinais de ruga no rosto ainda conservava uma beleza digna de nota, se mostrava a pessoa mais
agradável naquele momento.

31
Registros Prateados - Uma coletânea de histórias, contos e poemas dos atos dos Garou, sejam trágicos, heroicos ou vergonhosos.
Servem como um guia e mapa para os Garou vislumbrarem as façanhas de seus antepassados.

24
- A residência é sua minha senhora, somos nós quem lamentamos todo o trabalho que você está tendo
– e olhando diretamente para o Guardião – se nos tivesse sido permitido conversar diretamente com os líderes
da seita eu asseguro que nada disso teria sido necessário.

O olhar tenso do Guardião para Philip e o silêncio que se seguiu só foi interrompido graças a Charles.

- Se me permite a pergunta senhora, onde está seu marido? Reparei que ele não estava na casa quando
chegamos e também não vejo sinal de nenhum dos seus filhos – e disse isso enquanto apontava para uma foto
da lareira onde se via a mulher, seu marido, uma garota na faixa dos vinte anos e um rapaz em plena adoles-
cência.

A expressão alegre dela, que Philip pensou poder se encerrar ali caso algum deles não estivesse mais
vivo, algo que Charles obviamente não levou em consideração quando fez a pergunta, devido aos perigos que
os Parentes que residem próximos a áreas de caerns enfrentam, aumentou ainda mais quando foi feita a
pergunta, e sentando em uma das cadeiras próximas ao sofá onde os dois aguardavam, se virou para a foto
enquanto tomava um gole de seu café.

- Meu marido trabalha em um dos hospitais da região, ele é cirurgião-geral, não é tão incomum que
fique fora durante uma noite inteira, especialmente quando acontece de termos alguma emergência na região,
quanto ao meu filho ele foi dormir na casa de um amigo de escola – e tão repentinamente quanto seu rosto
se iluminara ao ouvir falar de sua família, suas feições ficaram mais graves e sérias, e sem ao menos mencionar
a filha ela tomou mais um longo e demorado gole.

E dessa vez foi Philip quem não conseguiu se segurar e resolveu perguntar – Podemos saber o nome
da senhora?

Com um leve e passageiro sorriso e um olhar de quem devia desculpas por alguma coisa errada que
fizera ela lhe respondeu – Meu nome é Amanda Mitchell, me desculpem pela descortesia, estava tão preocu-
pada em fazer o café para vocês que não me atentei para algo tão básico – e embora se visse que ela realmente
estava um pouco consternada por não ter se apresentado antes apropriadamente, era óbvio qual era o motivo
de sua expressão preocupada.

- De modo algum tem algo do que se desculpar conosco – e com uma expressão franca que surpreendeu
até mesmo Charles, Philip conseguiu animar um pouco Amanda – Mas se não for muita intromissão a minha,
posso perguntar onde está sua filha? – e nesse momento ele sabia que havia feito uma decisão da qual poderia

Filhos do Leão 25
se arrepender, mas nessa noite Philip Palmer sabia também que não poderia tomar decisão pior do que a que
havia feito naquela mesma noite com sua matilha.

Com um olhar cansado Amanda se voltou para a foto novamente, porém se levantando e a pegando
em mãos – Minha querida Mary é alguém como vocês – e lançando um olhar para Philip e Charles, voltou a
se sentar, ainda com a foto em mãos – Ela está longe de nós agora.

O sentimento que se apossou de Philip foi o de vergonha, uma enorme vergonha por ter insistido
nesse assunto, como se mais uma vez tivesse tomado uma decisão da qual tivesse se arrependido amargamente,
porém foi Charles quem encerrou o incômodo silêncio – Sentimos muito pela sua perda Sra. Mitchell, não
queríamos parecer inoportunos ou insensíveis – Nessas horas Philip agradecia aos céus por ter Charles por
perto, pois a ele sempre faltavam palavras quando tinha que lidar com momentos como este, porém a reação
de Amanda foi muito diferente do esperado.

- Perdão rapazes – e ao dizer isso Amanda enxugava algumas pequenas lágrimas que surgiam no canto
de seus olhos – Mary está viva, porém ela foi para a América dois anos atrás e desde então vivemos sempre
esperando pela próxima ligação dela – e um triste sorriso se mostrou em seu rosto.

O alívio que isso produziu em Philip foi enorme, pois isso não representava só uma boa notícia para
Amanda, mas representava também um sinal de que ele podia consertar as coisas, de que nem tudo estava tão
ruim quanto parecia, e ao ouvir essas palavras, ele se pôs de joelhos perto de Amanda e colocou gentilmente
suas mãos junto às dela – Tenho certeza de que sua filha irá retornar são e salva, ela deve ser forte, vejo isso
pela mãe que tem – E ele mesmo se sentiu reconfortado por essas palavras – Quem tem algo e alguém por
quem lutar não cai tão facilmente, isso é verdade para nós Crias de Fenris e eu tenho certeza também é para
vocês.

Antes que houvesse qualquer resposta de Amanda a porta da sala se abriu e enquanto Philip se colo-
cava imediatamente de pé viu adentrar o outro Guardião, o que levara Veronica para o caern junto com o
corpo de Malcolm.

- Qual a resposta que você tem para nós Guardião? – e nesse momento Philip assumia novamente o
tom e a postura de alfa da matilha – Teremos ou não abrigo de vocês?

O olhar do Guardião não traiu em momento algum o que iria falar, embora demonstrasse uma irrita-
ção com o modo brusco com que Philip o questionara – O Conselho dos Anciões já tomou sua decisão Philip

26
"Rasga-a-Wyrm", venham, irei levá-los até onde sua companheira se encontra – E dito isso se virou, sendo
seguido por seu colega.

Philip apenas olhou para Amanda, mas o semblante dela e o leve acenar com a cabeça foram suficientes
para lhe dizer que estava tudo bem, e assim ele se foi, sem ao menos dizer alguma palavra de agradecimento
ou conforto, mas ambos sabiam bem o que cada um pensava e se despediram dessa maneira, enquanto Charles
lhe agradecia pela hospitalidade e seguia o seu alfa porta afora.

Fim do Ato IV

Filhos do Leão 27
Ato V – Resignação

16/05/1991 – 01:10 a.m.


Newcastle upon Tyne, Northumberland County – Inglaterra
Reserva Natural Moor House-Upper Teesdale – Cabana do Greg

Não se passara muito tempo desde que Charles e Philip esperavam dentro da cabana chamada Cabana
do Greg32, um local espartano, no qual eventuais visitantes da reserva podiam passar a noite, porém naquele
dia o local servia a outro propósito.

Philip olhava sem descanso de uma parte a outra da sala, lendo alguns dos informativos na parede, ou
vistoriando algumas das cadeiras rústicas que o lugar possuía, ele simplesmente andava de um lado para o
outro, o que era um sinal claro de como era pouca a sua paciência naquele momento.

Para Charles a situação também não era das mais fáceis, aquela noite, infernalmente caótica e fúnebre
já cobrava um preço alto deles, e a questão que o afligia agora era saber exatamente de quanto fora esse preço.

“Nós os subestimamos” – esse pensamento o atormentava e não era a primeira vez – “pensando que
estávamos na dianteira, que finalmente tínhamos achado os bastardos que estavam ajudando a provocar aque-
les atentados do IRA, para no final sermos nós quem estávamos indo para a armadilha”.

A visão de seu líder andando impacientemente de um lado para o outro, com um dos Anciões da seita
parado na frente deles o fitando com um olhar desaprovador não ajudava em nada no julgamento de Charles
sobre a conduta do alfa no dia anterior.

“Se ao menos ele e Malcolm tivessem sido mais cuidadosos e aceitado a proposta que eu fiz de unirmos
forças com essa seita para aí sim atacarmos os Espirais com força total não teríamos passado por isso”. – e
parou para olhar novamente para Philip que fizera um pequeno barulho ao “avaliar” a perna de uma cadeira
ao chutá-la duas vezes – “Mas como sempre foi a opinião minha, de Beth e de Veronica contra a do alfa e do
beta da nossa matilha, mas dessa vez infelizmente você viu o quanto eu tinha razão não é Phil”?

32
Cabana do Greg - Cabana (chamada de Greg's Hut em inglês), localizada na Reserva Natural Moor House-Upper Teesdale, serve
como abrigo para os viajantes, pastores e a Equipe de Resgate da Montanha Penrith.

28
“Veronica fez um excelente trabalho colocando aquele Lobo da Guerra33 para perseguir aqueles mal-
ditos Espirais Negras na Umbra, se não fosse por isso aquela informação valiosa que recebemos dos Roedores
de Ossos34 não teria servido de nada. O nosso grande erro foi termos nos separado, devíamos ter tentado
vasculhar o clube de golfe com mais cuidado do que pressa, se estivéssemos em cinco ao invés de três, ou cinco
ao invés de dois a emboscada que os dois grupos sofreram teria sido bem diferente”.

Olhando para o ancião e depois para Philip novamente, Charles emitiu um leve suspiro e se levantou
para pegar um copo de água que eles haviam tido a gentileza de deixar a disposição.

“Philip relatou o mesmo que nós, ao entrarem na sede do clube para pegar um dos Espirais eles foram
enganados por sombras que os levaram a serem emboscados por alguém que estava invisível, e esse alguém era
outro membro da matilha deles, provavelmente alguém que estava esperando a vinda dos outros dois”. – mas
nesse ponto Charles sentiu como se estivesse cometendo um grande engano – “Mas isso não explicaria porque
os outros dois atacantes já estavam separados em pontos propícios para nos emboscarem e nem porque os
dois que estávamos caçando resolveram se separar quando não havia motivo nenhum para isso, o fato é que
eles já sabiam que estavam sendo seguidos a um bom tempo, o fato de não terem entrado na Umbra e tomado
um atalho qualquer por lá para chegarem a seus companheiros mais rapidamente só mostra que eles sabiam
que estávamos contando com algum espírito para rastreá-los, nos deixando no plano físico e estando em cons-
tante movimento ficamos a mercê de nossas próprias decisões, cegos para qualquer outra coisa que não fosse
relacionada a eles, quando eles saíram correndo em Hispo não foi um ato de desespero como você disse
Malcolm, foi a parte final de um maldito plano no qual nós caímos como amadores.”

O pensamento de Charles se voltou para sua colega Elizabeth, ou Beth como eles a chamavam era a
Galliard35 da matilha, com vinte e um anos, só era mais velha do que Veronica, que foi quem a encontrou
primeiro e a convenceu a se juntar a uma matilha de Crias também jovens e desejosos de alcançar grande

33
Lobo da Guerra - Os Lobos da Guerra de Fenris existem há tanto tempo quanto o próprio Fenris. Eles compõem a vanguarda da
ninhada de Fenris e são os espíritos mais comuns para interagirem com os Garou. São espíritos de batalha, enviados para ajudar os
Crias quando eles se encontram sem ajuda ou em menor número, ou de alguma outra forma próximos de serem mortos sem terem
culpa. Outros espíritos e tribos temem esses furiosos e imperdoáveis espíritos.
34
Roedores de Ossos - Esta tribo urbana é ligada instintivamente para a vida nas ruas. Há muito tempo, eles começaram como
mendigos na Índia e na África do Norte. Agora eles se encontram sempre nos lugares onde os sem-teto e desesperados lutam para
sobreviver. Possui grandes contatos nas cidades, mas é vista com desprezo pelas outras tribos.
35
Galliard - Filhotes nascidos sob a lua minguante são conhecidos como Dançarinos da Lua. Embora alguns possam vê-los como
volúveis ou temperamentais, eles têm explosões terríveis de percepção artística. Quando a lua é brilhante, eles são muitas vezes
levados para a música ou história. Muitos desenvolvem memórias fenomenais, especialmente para as sagas e histórias de grandes
Garou. São os guardiões das tradições e da história da Nação Garou.

Filhos do Leão 29
Honra36 e Glória37 ao caçar e destruir todos os fomori38, sanguessugas39, Dançarinos e tudo mais que estivesse
sob as ordens da Wyrm40 ou da Weaver41. Elizabeth era um pouco mais baixa e magra do que Veronica e
embora não chegasse a ser tão bonita quanto sua colega, ainda assim era uma mulher atraente que chamava a
atenção com seus olhos verdes e traços finos, ela pareceu a Charles em um primeiro momento ser alguém que
não tinha muito interesse em responsabilidades ou em fazer o “trabalho pesado” quando a situação exigisse
como uma vez ele chegou a falar para Philip, porém a convivência mostrou que embora a Galliard agisse dessa
forma à primeira vista e em geral com estranhos fosse realmente assim, no final das contas ela era a primeira
a propor uma palavra amiga ou de ajuda quando a situação realmente pedia isso e embora o relacionamento
deles não tivesse sido dos melhores nos primeiros meses juntos, logo Elizabeth passou a ser alguém de grande
confiança para Charles e não tê-la agora junto com eles era um grande golpe que ele esperava poder suportar.

Por fim, após uma angustiante espera, a velha porta se abriu e dela surgiu um homem no final de seus
sessenta anos, embora tivesse um porte altivo que de modo algum traia qualquer sinal de desgaste pela idade
ou pelas muitas lutas que enfrentara em vida. Olhando em volta o homem fez um leve aceno de cabeça ao
outro ancião enquanto atrás de si vinha uma mulher de aproximadamente trinta e poucos anos, cuja expressão
mostrava a Charles que eles não teriam uma conversa muito amigável pela frente.

Depois de fechada a porta e dos dois novos ocupantes sentarem próximos ao ancião foi a vez de Philip
se manifestar.

36
Honra - Honra mede o sentido do dever e da história de um Garou. Ela representa a ética e moral do Garou, bem como seu senso
pessoal de orgulho.
37
Glória - Glória representa as proezas físicas do Garou: feitos de força, resistência e agilidade, como as que fizeram de Hercules
uma lenda. Ele também mede bravura, riscos e vitórias extremas na batalha.
38
Fomori - São seres humanos (e às vezes animais) possuídos por Malditos que se voltaram para a Wyrm e que extraem sua energia
a partir dele. Inimigos comuns do Garou. No singular são chamados de fomor e no plural de fomori.
39
Sanguessugas - Termo depreciativo usado pelos Garou para se referirem a vampiros.
40
Wyrm - Uma dos três membros da Tríade. Originalmente responsável por manter equilíbrio do universo juntamente com a Wyld
e a Weaver, acabou corrompida quando a Weaver ficou insana. A Wyrm é a inimiga dos lobisomens, uma poderosa fera mística,
representada pelos Garou com um desenho de uma Espiral, um símbolo simples de uma serpente enroscada. Os lobisomens acre-
ditam que a Wyrm desencadeará o fim do mundo, a destruição de Gaia, um evento chamado Apocalipse. A Wyrm é vista como
tudo que os Garou mais detestam sendo responsável pela corrupção, a violência e a decadência que assola o mundo. Simbolica-
mente, os Garou a apresentam com uma serpente, dragão ou monstro reptiliano alado que destrói todas as coisas. Em outras
culturas metamórficas, ela muitas vezes é representada como um verme ou um ser decompositor, em uma tentativa de refletir sua
natureza e papel primordial. De certo modo, talvez a aparência mais certa seja de uma hidra, pois como tal, ela tem várias cabeças.
41
Weaver - Uma dos três membros da Tríade. No principio, ela dava ordem ao universo, formulando leis e padrões. Em um dado
momento, algo aconteceu, levando ao fim desse equilíbrio. A teoria mais provável foi a loucura da Weaver, ocorrida quando ela
tentou padronizar a Wyld, o que se provou impossível. Como consequência dessa falha, a Weaver perdeu a razão e encobriu a
Wyrm com suas teias, levando-a se corromper em sua tentativa de se libertar. A Weaver é aquela que padroniza as criaturas criadas
pela Wyld em formas fixas. Normalmente é vista como uma aranha, tecendo suas teias-padrão sobre Gaia. Depois que a Wyrm se
descontrolou, Weaver também perdeu o senso e começou a tentar padronizar Gaia inteira.

30
- Eu acho que agora podemos finalmente saber a resposta que vocês tem para nos dar certo? Ou vamos
ter que sentar e esperar na casa de mais alguém antes disso? – a fria ironia de suas palavras mostrava a Charles
o quanto ele estava realmente irritado, mas antes que qualquer um dos anciões dissesse alguma coisa foi a
mulher quem se manifestou.

- Babaca.

O olhar de Philip se voltou para essa mulher, que vestindo uma roupa simples, calça jeans e uma
camiseta meio surrada, lhe dissera isso com um ar de enfado e uma expressão que não escondia a irritação
por estar ali – Do que foi que me chamou? – e dando dois passos à frente começou a ir em direção a ela.

- PHIL! – A palavra, que devia ter saído mais firme do que nervosa, foi a única coisa que Charles soube
dizer naquele momento – Nós estamos aqui como CONVIDADOS deles – e vendo que ele parara ao ouvi-lo
se voltou para seus anfitriões – Gostaria de solicitar a gentileza de me informar quem é a senhora, qual seu
Posto42 dentro da seita e por fim porque ofendeu a Philip dessa maneira sem motivo aparente.

A mulher, que até o momento se mantinha em uma atitude relaxada e displicente na cadeira se mos-
trou pela primeira vez mais focada neles e o tom de sua resposta confirmou isso.

- Meu nome é Susan “Caça-com-os-trovões” Sheppard, sou uma Ahroun dos Presas de Prata e meu
posto é Adren43, dentro da seita eu sou a Vigia e por último, o motivo pelo qual chamei seu amigo de babaca
foi pelo simples fato dele estar agindo como um.

- Depois do tratamento caloroso que tivemos de vocês pela SEGUNDA vez eu te pergunto Caça-com-
os-trovões o que você esperaria que eu fizesse? – e o olhar de Philip mostrava que a Fúria estava perigosamente
perto de sair do controle.

- Ela esperaria que você se colocasse na posição deles Philip – e quando falou Charles finalmente
percebeu o quanto a situação deles era delicada e o quanto eles haviam sido descuidados.

42
Posto - Como em qualquer força militar, posto é de extrema importância entre os Garou. Ele mostra respeito e determina status.
Quanto mais um Garou aumenta de posto, mais segredos da tribo são revelados, mas as expectativas são maiores. Ganhar posto é
a maneira de mostrar os membros da tribo seu compromisso e sua confiabilidade. Conforme um Garou sobe na hierarquia, ele está
autorizado a aprender Dons ainda mais poderosos, ganhando mais direitos, assim como um maior autocontrole, controlando me-
lhor sua Fúria.
43
Adren - Posto de nível 3 na sociedade Garou. Bem respeitados, os Adrens são pupilos de mentores, aprendendo grandes Dons!
Ocupam cargos de média importância em uma seita.

Filhos do Leão 31
Com um olhar de incredulidade em sua face Philip apenas se aproximou de seu colega – Ótimo par-
ceiro, me explique como diabos eu posso “me colocar na posição deles” segundo a sua opinião – e dito isso
deu um cutucão forte no peito de Philip.

“Se ele tiver que bater em alguém aqui que seja em mim” – e com esse pensamento em mente Charles
sabia que só restava dizer a verdade a seu alfa, e rezar para que ele tivesse o bom senso de saber compreendê-
lo.

- O ponto Phil é o seguinte, nós viemos até uma região que não conhecíamos atrás de nossos inimigos,
nós apanhamos feio – e vendo o olhar de raiva de Philip ele decidiu sublinhar isso ainda mais – sim, nós
apanhamos feio, pois os desgraçados nos emboscaram em dois pontos diferentes e temos um amigo morto e
outra sequestrada por conta disso, além disso, tudo que pudemos fazer foi fugir de lá e vir para um caern que
talvez os Espirais Negras nem tivessem notado AINDA, e eu digo ainda, pois nenhum de nós três pode dizer
com certeza se havia alguém seguindo a gente ou não.

- E o que ele ou eles fariam Charlie? Não vão vir aqui pra topar com uma dúzia de Garou, se por algum
milagre tinha um deles nos seguindo já deve ter ido embora ou no pior dos casos deve estar montando guarda
lá fora, ou seja, ele não pode fazer mal nenhum pra nós aqui dentro e com certeza não vai tentar nada quando
estivermos lá fora sozinho, afinal agora estamos mais atentos ao que eles podem fazer – e um sorriso de satis-
fação surgiu em seu rosto ao dizer isso ao Philodox.

- Philip, eles não estão lá fora agora, eles não têm motivo pra isso! – e Charles sentia a Fúria crescer
enquanto discutia com Philip – Pense, eles não tinham nenhum motivo para ficar aqui depois da luta, seja
qual for a base deles na região não teriam motivo nenhum para confiar em ficar nela agora, além disso, os
bastardos não sabem nada sobre nós, podíamos ser batedores de um grupo maior ou membros de uma seita
dos arredores que por um acaso os achou e que poderia chamar por reforços, além disso sabemos que eles
não são dessa área, ou seja, eles estão em movimento!

- Então qual o maldito ponto de todo esse sermão que ela e você estão me passando? – e nisso Philip
já se afastava de seu colega e se apoiava em uma das cadeiras restantes, em um sinal claro do quanto estava
cansado e desgastado por tudo que tinha acontecido nas últimas horas.

Embora isso despertasse simpatia por parte de Charles e tornasse mais difícil dizer aquelas palavras,
ele sabia que não podia parar agora – O ponto Phil é que se nós “entregamos” a posição deste caern ao virmos

32
para cá, cedo ou tarde uma ou mais matilhas de Espirais Negras podem vir pra cá e não só Garou, mas Parentes
como Amanda e a filha dela poderão morrer por não termos tido o bom sendo de pensar nisso antes.

A reação de seu amigo foi diferente de tudo que ele podia imaginar, um riso amargurado e seco, do
qual ele ainda pôde ver o rosto de Philip quase em lágrimas pela primeira vez desde que se conheceram – Eu
fodi tudo então não foi? – se virando para Charles e em seguida para Susan a procura de alguma resposta ou
talvez uma recriminação.

- Sim Philip "Rasga-a-Wyrm", você ferrou tudo ao avaliar a situação de vocês de uma maneira tão pre-
cária antes E depois da batalha, agora o que temos que nos perguntar é como vamos agir daqui em diante – e
dessa vez Susan não falava com nenhum sinal de escárnio ou irritação, mas sim de maneira séria e objetiva.

- Vocês têm alguma idéia de como chegar até esses Espirais Negras novamente? – a pergunta, feita em
um tom sereno e pausado partiu do ancião que já se encontrava na cabana, cujo nome Garou era Corre-como-
o-Vento, um Philodox até onde ambos sabiam.

- Nós podemos usar o Ritual da Pedra Caçadora44 que Veronica conhece para rastrearmos Elizabeth,
se ela ainda se encontra com eles como nós suspeitamos isso irá nos levar até o paradeiro deles – respondeu
Philip.

- Mas na hipótese de vocês a encontrarem, e isso precisa acontecer o mais rápido possível, como vocês
planejam enfrentar essa matilha novamente? Afinal, devemos lembrá-los de que pelos relatos que vocês mesmo
fizeram esse grupo tem ao menos quatro membros conhecidos e vocês estão reduzidos a três, além disso, sua
matilha estará indo de encontro a eles em um território que eles conhecem e sujeitos a se depararem com
mais inimigos, sejam Garou caídos ou fomori – essa afirmação, cujo conteúdo não deixou de abater tanto
Philip quanto Charles fora feita pelo segundo ancião, Espanta-os-Malditos, um Theurge da seita.

- A questão senhor é se nós vamos mesmo deixar uma amiga nossa ser capturada e morta sem ao menos
tentar fazer alguma coisa por ela – e dessa vez quem respondeu foi Charles, mas com um tom de voz que dava
a impressão mais de estar tentando se convencer do que convencer os outros sobre isso.

44
Ritual da Pedra Caçadora - Ritual que permite encontrar alguém ou alguma coisa desde que o Garou conheça o nome do objeto
ou do indivíduo. A dificuldade para realizar o ritual é reduzida se o ritualista tiver algum pedaço do objeto ou da pessoa (por
exemplo, um tufo de cabelos ou um pedaço de pano). O Garou precisa amarrar uma pedra ou uma agulha num barbante enquanto
se concentra no objeto ou na pessoa procurada.

Filhos do Leão 33
- O sentimento de vocês é louvável, mas ainda assim agir dessa maneira é praticamente uma sentença
de morte Aprende-a-Verdade e vocês sabem disso – respondeu Susan de modo incisivo.

- E o que podemos fazer droga? Vocês falam como se existisse outra opção em mãos, mas todos nós
sabemos que se não agirmos rápido a chance de acharmos Elizabeth viva e pegarmos esses bastardos de Gaia
vai desaparecer, e caso vocês não saibam esses malditos são perigosos, não são só uma matilha de insanos
retardados de baixa categoria a serviço da Wyrm, eles são um câncer e alguém tem que pará-los antes que
causem ainda mais mortes e destruição por aí – e se alguns minutos antes Philip se mostrara quase derrotado
e sem forças aos olhos de Charles, agora ele mostrava aquela energia e decisão que faziam dele o líder da
matilha Sangue de Gaia.

- A única opção que vocês têm caso queiram tentar achar sua amiga viva é ir atrás deles o quanto antes
– e nesse ponto Susan se levantava da cadeira – mas, já vamos avisando vocês, não podemos ajudá-los, temos
doze Garou vivendo aqui no caern, mas atualmente uma da matilhas está fora em uma missão e alguns outros
foram atender um chamado de socorro de um caern próximo, por isso ficamos reduzidos a cinco membros
apenas, eu, os dois anciões aqui presentes e os Guardiões que vocês encontraram.

- Então estamos sozinhos nisso – disse Philip.

- Infelizmente sim meu rapaz, não podemos deixar o caern exposto e vocês sabem disso – lhes falou
Corre-como-o-Vento.

- Ainda mais agora que não sabemos o quanto esse caern está em perigo – afirmou Espanta-os-Malditos.

- Nós sabemos disso senhor e jamais iríamos pedir que colocassem a segurança de um caern de Gaia
em risco por nossa causa, especialmente depois de tudo o que acabamos de falar – e embora Charles falasse a
verdade ele também sentia a esperança se esvaindo com a decisão que sabia que seria tomada.

- Nós não podemos ajudá-los diretamente, mas iremos tomar duas providências, velar pelo corpo de
seu amigo e cuidar para que ele seja levado para o local que vocês indicarem e iremos contatar alguns espíritos
para que auxiliem vocês nessa caçada, se isso estiver de acordo para vocês.

- Isso estará de bom tamanho, em nome da matilha Sangue de Gaia eu agradeço você Susan “Caça-
com-os-trovões” e a vocês anciões pela ajuda oferecida – e enquanto se virava para ir para fora da cabana Philip
sentiu a mão de Charles em seu ombro.

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- Nós vamos mesmo fazer isso Phil? – e a voz baixa de Charles demonstrava bem a preocupação que
ele sentia naquele momento - Se chamarmos alguns de nossos irmãos da seita ou conseguirmos convencer eles
a convocarem os Crias do Caern mais próximo podemos ir em maior número e garantir que esses assassinos
paguem pelo que fizeram.

O olhar de Philip, que poderia muito bem refletir sua raiva aparentava uma tranquilidade surpreen-
dente, assim como foi surpreendente o que Philip lhe disse em seguida – Me responda duas coisas Charlie, e
responda sem frescuras, com um sim ou não apenas. Você acha que temos alguma chance de achar Beth se
demorarmos todo esse tempo esperando por ajuda? E você realmente quer deixar ela um segundo a mais com
aqueles monstros?

A resposta, encabulada e quase como se tivesse sido arrancada a força de Charles foi um simples –
Não, claro que não Phil.

- Então vamos encontrar com minha irmã, nós temos uma colega para resgatar e outro para vingar.

Nesse momento Charles tinha absoluta certeza de que a matilha Sangue de Gaia lutaria até a morte
pelos seus e isso estranhamente o acalmou, o que viesse pela frente ele encararia com seus irmãos, para vencer
ou morrer, sem hesitação.

Fim do Ato V

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Uma grande caçada começa………
As matilhas das tribos do Cervo e de Fenris estão prestes a fechar o cerco a uma infame matilha
de Dançarinos da Espiral Negra. É nisso que essas duas matilhas completamente antagônicas se
encontram empenhadas, perseguindo um inimigo oculto e engenhoso, eles serão colocados a prova
de muitas maneiras e darão início a uma perseguição que mudará a vida de todos os envolvidos.

Filhos do Leão inclui:


• Mapas dos locais que inspiraram onde se passa a história;
• Rostos que inspiraram os personagens;
• Fichas dos personagens.

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