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2. (Unicamp 2021) “O vento da vida, por mais que cresça, nunca pode chegar a ser bonança; o
vento da fortuna pode chegar a ser tempestade, e tão grande tempestade, que se afogue nela
o mesmo vento da vida.”
(Antônio Vieira, “Sermão de quarta-feira de cinza do ano de 1672”, em A Arte de Morrer. São
Paulo: Nova Alexandria, 1994, p. 56.)
No sermão proferido na Igreja de Santo Antônio dos Portugueses, em Roma, Vieira recorre a
uma metáfora para chamar a atenção dos fiéis sobre a morte.
Assinale a alternativa que expressa a mensagem veiculada pela imagem do vento.
a) A vida dos fiéis é comparável à tranquilidade da brisa em alto-mar.
b) A fortuna dos fiéis é comparável à força das intempéries marítimas.
c) A fortuna dos fiéis é comparável à felicidade eterna.
d) A vida dos fiéis é comparável à ventura dos navegadores.
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3. (Fuvest 2021) Os últimos quatro versos do poema rompem com a série de contrapontos
entre a usina e o banguê, pois
a) negam haver diferença química entre o açúcar cristal e o açúcar mascavo.
b) esclarecem que a aparência do açúcar varia com a espécie de cana cultivada.
c) revelam que na base de toda empresa açucareira está o trabalhador rural.
d) denunciam a exploração do trabalho infantil nos canaviais nordestinos.
e) explicam que a estação do ano define em qualquer processo o tipo de açúcar.
ANDRADE, C. D. “Mãos dadas”. In: Antologia poética – Carlos Drummond de Andrade, 2015.
01) O eu poético propõe a união entre os homens. Apesar de a Segunda Guerra Mundial
continuar seus lastros de morte, o poeta não tece desesperanças, mostrando-se engajado
e pronto a se juntar a seus semelhantes: “Não nos afastemos muito, vamos de mãos
dadas”. Sua matéria é o hoje e, ao contrário do artista idealizador, procura vivenciar seu
tempo: “O presente é tão grande, não nos afastemos”.
02) Neste verso: “Entre eles, considero a enorme realidade”, o eu lírico mostra como os
homens perderam a motivação na vida, estão cabisbaixos e “taciturnos”, como ainda
comprova o verso: “Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças”. Assim, desiludidos,
os homens caminham para o tempo futuro e olham-no como um espaço de fuga onde
poderão andar de mãos dadas, como sugere o título do poema.
04) Na segunda estrofe, o eu lírico rechaça qualquer tipo de poesia que fale do tempo vindouro.
O advérbio de negação que antecede cada um dos verbos no futuro: “serei”, “direi”,
“distribuirei”, “fugirei” aponta para o compromisso com o tempo presente, evitando qualquer
tipo de alienação que possa ligar o eu lírico a outra realidade temporal que não seja o de
sua vivência atual. Nesse sentido, o eu lírico assume o compromisso de estar atento a tudo
que ocorre à sua volta e à vida presente.
08) O primeiro verso (“Não serei o poeta de um mundo caduco.”) representa, no contexto
estético de produção do poema, uma crítica aos poetas parnasianos, que cantavam musas
e temas clássicos, distantes da realidade econômica e social de seu tempo. O sintagma
“mundo caduco”, portanto, refere-se ao passado e, também, ao conteúdo e à forma
utilizados pelos poetas que se recusavam a vivenciar o olhar contemporâneo.
16) Há uma clara recusa de Drummond em cantar os temas cotidianos. Na época da
publicação de “Mãos dadas”, o poeta ainda se mostrava resistente à proposta poética do
Modernismo, adotando o rigor métrico.
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5. (Fuvest 2020) Hoje fizeram o enterro de Bela. Todos na Chácara se convenceram de que
ela estava morta, menos eu. Se eu pudesse não deixaria enterrá‐la ainda. Disse isso mesmo a
vovó, mas ela disse que não se pode fazer assim. Bela estava igualzinha à que ela era no dia
em que chegou da Formação, só um pouquinho mais magra.
Todos dizem que o sofrimento da morte é a luta da alma para se largar do corpo. Eu perguntei
a vovó: “Como é que a alma dela saiu sem o menor sofrimento, sem ela fazer uma caretinha
que fosse?”. Vovó disse que tudo isso é mistério, que nunca a gente pode saber essas coisas
com certeza. Uns sofrem muito quando a alma se despega do corpo, outros morrem de repente
sem sofrer.
Perguntas
6. (Uem 2020) Sobre o livro Quarto de despejo: diário de uma favelada (1960), de Carolina
Maria de Jesus, assinale o que for correto.
01) A narrativa, escrita em forma de diário, começa no dia do aniversário de Vera Eunice, filha
da autora, que recebe de presente um par de sapatos achado no lixo. Ao longo da obra, o
leitor percebe como a escritora, que sobrevive do lixo e de materiais recicláveis, encontra
sua resistência na escrita e nos livros.
02) A escritora descreve a dura realidade de uma mulher negra, moradora da favela, que
trabalhava como catadora de papel, faxineira e lavadeira para sustentar seus três filhos. O
livro apresenta os relatos dessa mulher que vivenciou as mazelas das camadas mais
marginalizadas da sociedade.
04) Apesar da linguagem simples, contudo original, Carolina Maria de Jesus se revela uma
escritora atenta à realidade social do Brasil. Questionadora, crítica da classe política, sua
escrita se impõe vigorosa por sua atualidade, ainda que passadas décadas de sua
publicação.
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08) Entre as situações abordadas na obra, há relatos de discriminação racial e social; há,
também, diálogos, descrições de encontros amorosos, de festas, de brigas e de outros
conflitos cotidianos. A fome, entretanto, é um dos assuntos mais abordados.
16) No diário, inúmeras são as passagens que informam que a escritora foi candidata ao cargo
de vereadora, em 1958, evidenciando sua grande participação no cenário político nacional
da época.
7. (Ufsc 2020) 25 de dezembro... O João entrou dizendo que estava com dor de barriga.
Percebi que foi por ele ter comido melancia 1deturpada. Hoje jogaram um caminhão de
melancia perto do rio.
Não sei porque é que estes comerciantes inconscientes vem jogar seus produtos 2deteriorados
aqui perto da favela, para as crianças ver e comer.
... Na minha opinião os atacadistas de São Paulo estão se divertindo com o povo igual os
Cesar quando torturava os cristãos. Só que o Cesar da atualidade supera o Cesar do passado.
Os outros era perseguido pela fé. E nós, pela fome!
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2018,
p. 146.
Com base no texto e na leitura integral de Quarto de despejo: diário de uma favelada, de
Carolina Maria de Jesus, publicada pela primeira vez em livro em 1960, no contexto sócio-
histórico e literário da obra e, ainda, de acordo com a obra O cemitério dos vivos, de Lima
Barreto, e com a variedade padrão da língua escrita, é correto afirmar que:
01) o sucesso de Quarto de despejo promoveu também o sucesso da autora, que saiu da
marginalidade para conquistar a cidade e se afirmar como escritora integrada à elite
econômica paulistana.
02) podemos observar, em Quarto de despejo, traços da estética realista, entre os quais o
registro minucioso do cotidiano, a linguagem simples e direta e a animalização de
personagens.
04) as obras Quarto de despejo e O cemitério dos vivos apresentam em comum o valor
documental, uma vez que ambas são depoimentos pessoais elaborados esteticamente por
autores que passaram por internação em hospital psiquiátrico.
08) os termos “deturpada” (referência 1) e “deteriorados” (referência 2) são formas nominais
cuja função é qualificar os nomes “melancia” e “produtos”, respectivamente.
16) a política de César conhecida como “Pão e Circo” consistia em promover espetáculos e
distribuir alimentos para manter a população de Roma sob controle, prática retomada por
autoridades políticas em São Paulo e condenada, no excerto, pela narradora.
32) de acordo com o excerto, para sobreviver ao César da atualidade, a fome, é necessário
deixar de amar a Cristo.
8. (G1 - cftmg 2020) Poesia, minha tia, ilumine as certezas dos homens e os tons de minhas
palavras. É que arrisco a prosa mesmo com balas atravessando os fonemas. É o verbo, aquele
que é maior que o seu tamanho, que diz, faz e acontece. Aqui ele cambaleia baleado. Dito por
bocas sem dentes e olhares cariados, nos conchavos de becos, nas decisões de morte. A areia
move-se no fundo dos mares. A ausência de sol escurece mesmo as matas. O líquido-morango
do sorvete mela as mãos. A palavra nasce no pensamento, desprende-se dos lábios adquirindo
alma nos ouvidos, e às vezes essa magia sonora não salta à boca porque é engolida a seco.
Massacrada no estômago com arroz e feijão a quase palavra é defecada ao invés de falada.
Paulo Lins. Fragmento de Cidade de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
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(...)
O mundo não tem sentido.
O mundo e suas canções
de timbre mais comovido
estão calados, e a fala
que de uma para outra sala
ouvimos em certo instante
é silêncio que faz eco
e que volta a ser silêncio
no negrume circundante.
Silêncio: que quer dizer?
Que diz a boca do mundo?
Meu bem, o mundo é fechado,
se não for antes vazio.
O mundo é talvez: e é só.
Em Claro Enigma, a ideia de engano surge sob a perspectiva do sujeito maduro, já afastado
das ilusões, como se lê no verso‐síntese “Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.”
(“Legado”). O excerto de “Cantiga de enganar” apresenta a relação do eu com o mundo
mediada
a) pela música, que ressoa em canções líricas.
b) pela cor, brilhante na claridade solar.
c) pela afirmação de valores sólidos.
d) pela memória, que corre fluida no tempo.
e) pelo despropósito de um faz‐de‐conta.
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(ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. 8. ed. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 45.)
12. (Ufrgs 2020) Um tema em Quarto de despejo é encontrado também no poema “O bicho”,
de Manuel Bandeira, transcrito a seguir.
O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
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Assinale a alternativa que identifica esse tema recorrente nas duas obras.
a) A revolta e a indignação daqueles que sofrem a miséria e a marginalização social.
b) O problema da fome, que avilta a dignidade humana.
c) A aceitação da pobreza, que se tornou uma condição inerente às sociedades modernas.
d) A esperança como forma de enfrentar o sofrimento da fome e de garantir a sobrevivência.
e) O ato de escrever funciona como modo de driblar a fome.
13. (Unifesp 2020) Leia o trecho do poema “Os sapos”, de Manuel Bandeira.
O sapo-tanoeiro
[...]
Diz: — “Meu cancioneiro
É bem martelado.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia
Mas há artes poéticas...”
14. (Ufrgs 2020) Considere o poema abaixo, de Oswald de Andrade, do livro Pau-Brasil, de
1925.
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RIQUEZAS NATURAIS
15. (G1 - cotuca 2020) Leia, a seguir, fragmentos do Manifesto da Antropofagia periférica,
escrito pelo poeta Sérgio Vaz, e responda.
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É TUDO NOSSO!
Disponível em http://colecionadordepedras/.blogspot.com/2010/08manifesto-da-antropofagia-
periferica.html?m=1. Acesso em 18/07/2019.
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Gabarito:
Resposta da questão 1:
[A]
Vieira comenta que, apesar de sabermos da inevitabilidade da morte, não podemos prever o
momento em que tal acontecerá, por mais que sejamos jovens, saudáveis e regrados:
”mas todas estas partes são tão duvidosas e tão incertas, que não há idade tão florente, nem
saúde tão robusta, nem vida tão bem regrada, que tenha um só momento seguro”. A anáfora
constituída pela repetição do advérbio de intensidade “tão” enfatiza essa característica e busca
sensibilizar os fiéis para o desengano da passagem do tempo, como transcrito em [A].
Resposta da questão 2:
[B]
Resposta da questão 3:
[C]
Resposta da questão 4:
01 + 04 + 08 = 13.
Resposta da questão 5:
[C]
Enquanto no texto I a personagem aborda a temática da morte como finitude da vida a partir da
perda de Bella, uma negra agregada, o texto II reflete filosófica e metafisicamente sobre o
mesmo tema, como transcrito em [C].
Resposta da questão 6:
01 + 02 + 04 + 08 = 15.
O item [16] é incorreto, pois, em nenhum momento da sua vida, a escritora teve participação no
cenário político nacional da época.
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Resposta da questão 7:
02 + 08 = 10.
Resposta da questão 8:
[A]
Sobretudo o trecho “Aqui ele cambaleia baleado. Dito por bocas sem dentes e olhares
cariados, nos conchavos de becos, nas decisões de morte” nos insere em uma realidade
marginalizada, ao mesmo tempo em que o texto trata da literatura, nas formas de poesia e
prosa. Assim, vemos a importância da literatura como forma de manifestação de grupos
marginalizados.
Resposta da questão 9:
[E]
O poema “Cantiga de enganar” faz parte da obra “Claro enigma”, publicada em 1951, momento
histórico em que o mundo vivia sob o temor da Guerra Fria, mergulhado na angústia de uma
possível guerra nuclear. Nesta sua 3ª fase, CDA volta-se para os temas metafísicos, refletindo
sobre o sentido do amor, da poesia e da própria existência produzindo uma poesia mais
complexa e erudita, voltada para o questionamento filosófico existencial. O excerto de “Cantiga
de enganar” revela um eu lírico desiludido, “O mundo não vale o mundo,/ meu bem”, que rejeita
certezas e crenças estabelecidas anteriormente para se relacionar com a realidade através da
concepção absurda de que tudo é uma fantasia, um “faz-de-conta”, mencionada duplamente no
final do excerto do enunciado: “Meu bem, façamos de conta”, “Façamos, meu bem, de conta”,
“que é tudo como se fosse,/ou que, se fora, não era”. Assim, é correta a opção [E].
[A] Correta. Ambas construções estabelecem uma relação opositiva entre o poeta e as
palavras.
[B] Incorreta. A forma verbal está corretamente empregada, uma vez que a questão do não
querer escrever persiste; caso fosse empregada no passado, indicaria uma ação finda,
superada.
[C] Correta. Uma poesia cujo tema é a dificuldade da criação de uma poesia configura a função
metalinguística do texto, no qual o código versa sobre o código.
[D] Correta. O termo “inunda” é hiperbolicamente ressaltado pela expressão “vida inteira”,
indicando o estado do poeta que, apesar de não conseguir escrever, não desiste de seu
objetivo.
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O poema metalinguístico “Os sapos” apresenta o que, para os modernistas, não deveria ser a
poesia. O sapo-boi, o sapo-tanoeiro, o sapo-pipa são personagens metafóricos representativos
de determinados poetas que defendem preceitos da poética parnasiana, em especial o sapo-
tanoeiro (parnasiano aguado), que passa a descrever o seu cancioneiro, a sua poética,
baseado na forma. Bandeira, através da paródia, critica a preocupação excessiva dos
parnasianos com a forma, em detrimento do conteúdo. Assim, é correta a opção [D].
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Legenda:
Q/Prova = número da questão na prova
Q/DB = número da questão no banco de dados do SuperPro®
1.............196697.....Média.............Português......Unicamp/2021......................Múltipla escolha
2.............196768.....Baixa.............Português......Unicamp/2021......................Múltipla escolha
3.............196913.....Elevada.........Português......Fuvest/2021.........................Múltipla escolha
4.............192742.....Média.............Português......Uem/2020.............................Somatória
5.............190052.....Média.............Português......Fuvest/2020.........................Múltipla escolha
6.............192741.....Média.............Português......Uem/2020.............................Somatória
7.............191488.....Elevada.........Português......Ufsc/2020.............................Somatória
9.............190038.....Média.............Português......Fuvest/2020.........................Múltipla escolha
12...........192284.....Média.............Português......Ufrgs/2020............................Múltipla escolha
13...........191287.....Baixa.............Português......Unifesp/2020........................Múltipla escolha
14...........192281.....Elevada.........Português......Ufrgs/2020............................Múltipla escolha
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