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Ela parecia pedir socorro contra o que de algum modo involuntariamente dissera. E ele com os
olhos miúdos quis que ela não fugisse e falou:
— Repita o que você disse, Lóri.
— Não sei mais.
— Mas eu sei, eu vou saber sempre. Você literalmente disse: um dia será o mundo com sua
impersonalidade soberba versus a minha extrema individualidade de pessoa, mas seremos um
só.
— Sim.
Lóri estava suavemente espantada. Então isso era a felicidade. De início se sentiu vazia.
Depois seus olhos ficaram úmidos: era felicidade, mas como sou mortal, como o amor pelo
mundo me transcende. O amor pela vida mortal a assassinava docemente, aos poucos. E o
que é que eu faço? Que faço da felicidade? Que faço dessa paz estranha e aguda, que já está
começando a me doer como uma angústia, como um grande silêncio de espaços? A quem dou
minha felicidade, que já está começando a me rasgar um pouco e me assusta? Não, não quero
ser feliz. Prefiro a mediocridade. Ah, milhares de pessoas não têm coragem de pelo menos
prolongar-se um pouco mais nessa coisa desconhecida que é sentir-se feliz e preferem a
mediocridade. Ela se despediu de Ulisses quase correndo: ele era o perigo.
LISPECTOR, C. Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
1990.
Quanto às mulheres de vida alegre, detestava-as; tinha gasto muito dinheiro, precisava casar,
mas casar com uma menina ingênua e pobre, porque é nas classes pobres que se encontra
mais vergonha e menos bandalheira. Ora, Maria do Carmo parecia-lhe uma criatura simples,
sem essa tendência fatal das mulheres modernas para o adultério, uma menina que até
chorava na aula simplesmente por não ter respondido a uma pergunta do professor! Uma
rapariga assim era um caso esporádico, uma verdadeira exceção no meio de uma sociedade
roída por quanto vício há no mundo. Ia concluir o curso, e, quando voltasse ao Ceará, pensaria
seriamente no caso. A Maria do Carmo estava mesmo a calhar: pobrezinha, mas inocente...
Dois parlamentos
MELO NETO, J. C. Serial e antes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento).
A lida do sertanejo com suas adversidades constitui um viés temático muito presente em João
Cabral de Melo Neto. No fragmento em destaque, essa abordagem ressalta o(a)
Apuram o passo, por entre campinas ricas, onde pastam ou ruminam outros mil e mais bois.
Mas os vaqueiros não esmorecem nos eias e cantigas, porque a boiada ainda tem passagens
inquietantes: alarga-se e recomprime-se, sem motivo, e mesmo dentro da multidão movediça
há giros estranhos, que não os deslocamentos normais do gado em marcha — quando sempre
alguns disputam a colocação na vanguarda, outros procuram o centro, e muitos se deixam
levar, empurrados, sobrenadando quase, com os mais fracos rolando para os lados e os mais
pesados tardando para trás, no coice da procissão.
As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas,
mugindo no meio, na massa embolada, com atritos de couros, estralos e guampas, estrondos e
baques, e o berro queixoso do gado junqueira, de chifres imensos, com muita tristeza, saudade
dos campos, querência dos pastos de lá do sertão...
Vai, vem, volta, vem na vara, vai não volta, vai varando...
Próximo do homem e do sertão mineiros, Guimarães Rosa criou um estilo que ressignifica
esses elementos. O fragmento expressa a peculiaridade desse estilo narrativo, pois
Quinze de Novembro
A poesia de Murilo Mendes dialoga com o ideário poético dos primeiros modernistas. No
poema, essa atitude manifesta-se na
Quem não se recorda de Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da corte como
brilhante meteoro e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que produzira seu
fulgor? Tinha ela dezoito anos quando apareceu a primeira vez na sociedade. Não a
conheciam; e logo buscaram todos com avidez informações acerca da grande novidade do dia.
Dizia-se muita coisa que não repetirei agora, pois a seu tempo saberemos a verdade, sem os
comentos malévolos de que usam vesti-la os noveleiros. Aurélia era órfã; tinha em sua
companhia uma velha parenta, viúva, D. Firmina Mascarenhas, que sempre a acompanhava na
sociedade. Mas essa parenta não passava de mãe de encomenda, para condescender com os
escrúpulos da sociedade brasileira, que naquele tempo não tinha admitido ainda certa
emancipação feminina. Guardando com a viúva as deferências devidas à idade, a moça não
declinava um instante do firme propósito de governar sua casa e dirigir suas ações como
entendesse. Constava também que Aurélia tinha um tutor; mas essa entidade era
desconhecida, a julgar pelo caráter da pupila, não devia exercer maior influência em sua
vontade, do que a velha parenta.
ALENCAR, J. Senhora. São Paulo: Ática, 2006.
Vei, a Sol
Ora o pássaro careceu de fazer necessidade, fez e o herói ficou escorrendo sujeira de urubu.
Já era de madrugadinha e o tempo estava inteiramente frio. Macunaíma acordou tremendo,
todo lambuzado. Assim mesmo examinou bem a pedra mirim da ilhota para vê si não havia
alguma cova com dinheiro enterrado. Não havia não. Nem a correntinha encantada de prata
que indica pro escolhido, tesouro de holandês. Havia só as formigas jaquitaguas ruivinhas.
Então passou Caiuanogue, a estrela da manhã. Macunaíma já meio enjoado de tanto viver
pediu pra ela que o carregasse pro céu.
Caiuanogue foi se chegando porém o herói fedia muito.
– Vá tomar banho! – ela fez. E foi-se embora.
Assim nasceu a expressão “Vá tomar banho” que os brasileiros empregam se referindo a
certos imigrantes europeus.
ANDRADE, M. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Rio de Janeiro: Agir, 2008.
O fragmento de texto faz parte do capítulo VII, intitulado “Vei, a Sol”, do livro Macunaíma, de
Mário de Andrade, pertencente à primeira fase do Modernismo brasileiro. Considerando a
linguagem empregada pelo narrador, é possível identificar
Confidência do itabirano
ANDRADE, C. D. Sentimento do mundo. São Paulo: Cia. das Letras, 2012 (fragmento).
O poeta pensa a região como lugar, pleno de afetos. A longa história da ocupação de Minas
Gerais, iniciada com a mineração, deixou marcas que se atualizam em Itabira, pequena cidade
onde nasceu o poeta. Nesse sentido, a evocação poética indica o(a)
Cena
O canivete voou
E o negro comprado na cadeia
Estatelou de costas
E bateu coa cabeça na pedra
O Modernismo representou uma ruptura com os padrões formais e temáticos até então
vigentes na literatura brasileira. Seguindo esses aspectos, o que caracteriza o poema Cena
como modernista é o(a)
Mãos dadas
Escrito em 1940, o poema Mãos dadas revela um eu lírico marcado pelo contexto de opressão
política no Brasil e da Segunda Guerra Mundial. Em face dessa realidade, o eu lírico
TEXTO I
TEXTO II
CDA (imitado)
FONTELA, O. Poesia reunida. São Paulo: Cosac Naify; Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.
Orides Fontela intitula seu poema “CDA”, sigla de Carlos Drummond de Andrade, e entre
parênteses indica “imitado” porque, como nos versos de Drummond,
O sonho da terra prometida revela-se como valor humano que faz parte do imaginário literário
brasileiro desde a chegada dos portugueses. Ao descrever a situação final das personagens
Milkau e Maria, Graça Aranha resgata esse desejo por meio de uma perspectiva
MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio Janeiro: Nova Aguilar, 1994 (fragmento).
Nesse fragmento, parte de um auto de Natal, o poeta retrata uma situação marcada pela
a) composição estática.
b) inovação tecnológica.
c) suspensão do tempo.
d) retomada do helenismo.
e) manutenção das tradições.
da sua memória
mil
e
mui
tos
out
ros
ros
tos
sol
tos
pou
coa
pou
coa
pag
amo
meu
Vida obscura
Com uma obra densa e expressiva no Simbolismo brasileiro, Cruz e Sousa transpôs para seu
lirismo uma sensibilidade em conflito com a realidade vivenciada. No soneto, essa percepção
traduz-se em
O mulato
Ana Rosa cresceu; aprendera de cor a gramática do Sotero dos Reis; lera alguma
coisa; sabia rudimentos de francês e tocava modinhas sentimentais ao violão e ao piano. Não
era estúpida; tinha a intuição perfeita da virtude, um modo bonito, e por vezes lamentara não
ser mais instruída. Conhecia muitos trabalhos de agulha; bordava como poucas, e dispunha de
uma gargantazinha de contralto que fazia gosto de ouvir.
Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos: “Mulato”. E crescia,
crescia, transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia
parasita, que estrangulava todas as outras ideias.
– Mulato!
Esta só palavra explicava-lhe agora todos os mesquinhos escrúpulos, que a sociedade
do Maranhão usara para com ele. Explicava tudo: a frieza de certas famílias a quem visitara; as
reticências dos que lhe falavam de seus antepassados; a reserva e a cautela dos que, em sua
presença, discutiam questões de raça e de sangue.
Evocação do Recife
Soneto
AZEVEDO, A. Lira dos vinte anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
Camelôs
Todos porém sabem mexer nos cordéis como o tino ingênuo de demiurgos de inutilidades.
E ensinam no tumulto das ruas os mitos heroicos da meninice...
E dão aos homens que passam preocupados ou tristes uma lição de infância.
Uma das diretrizes do Modernismo foi a percepção de elementos do cotidiano como matéria de
inspiração poética. O poema de Manuel Bandeira exemplifica essa tendência e alcança
expressividade porque
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GABARITO
1. D
2. D
3. C
4. E
5. C
6. E
7. A
8. D
9. E
10. D
11. E
12. D
13. C
14. E
15. D
16. B
17. B
18. D
19. A
20. A
21. D
22. E
23. C